QUINCAS BORBA (1891) A filosofia

O livro representa a filosofia inventada por Quincas

Machado de Assis (1839-1908) Borba, de que a vida é um campo de batalha onde só os mais
fortes sobrevivem e que fracos e ingênuos, como Rubião, são
o Fase romântica e fase realista; manipulados e aniquilados pelos superiores e espertos, como
o Realismo psicológico; Palha e Sofia, que no fim da obra terminam vivos e ricos.
o Linguagem gramaticalmente impecável e singularmente
objetiva; “Ao vencedor, as batatas!”
o Sutilezas e ironias;
- “Supõe-se em um capo de duas tribos famintas. As batatas
“O ponto mais alto e mais equilibrado da prosa realista apenas chegavam para alimentar uma das tribos, que assim
brasileira acha-se na ficção de Machado de Assis” (Alfredo Bosi). adquire forças para transpor a montanha e ir à outra vertente,
onde há batatas em abundância; mas se as duas tribos dividirem
Contexto histórico: Realismo, séc. XIX: em paz as batatas do campo, não chegam a nutrir-se
suficientemente e morrerão de inanição. A paz, neste caso, é a
“[...]. Depois da falência de todos os ideais, de todas as utopias, destruição; a guerra, é a esperança.
a tendência, agora, é manter-se dentro do campo dos fatos e de Uma das tribos extermina a outra e recolhe os despojos. Daí, a
nada mais do que dos fatos. As origens políticas do alegria da vitória, os hinos, as aclamações. Se a guerra não fosse
realismonaturalismo explicam, em particular, as suas isso, tais demonstrações não chegariam a dar-se. Ao vencido, o
características antiromânticas e morais: a recusa de fugir à ódio ou compaixão... Ao vencedor, as batatas!”.
realidade e a exigência de absoluta honestidade na descrição
dos fatos; o procurar uma atitude impessoal e impassível como Foco narrativo: um narrador genial
garantias de objetividade e de solidariedade social”.
(HAUSER, in: História social da literatura e da arte). O narrador de Quincas Borba, em terceira pessoa, é,
em certa medida, o próprio Machado de Assis. É importante
INTRODUÇÃO À ANÁLISE DO ROMANCE observar que não se deve confundir o narrador com o escritor.
Neste romance, porém, Machado de Assis assume a
Personagens: postura de escritor/narrador. A passagem a seguir, como outras
o Pedro Rubião de Alvarenga, que herda toda a fortuna outras da obra, quebra a objetividade do narrador em 3 pessoa:
de Quincas Borba; “Este Quincas Borba, se acaso me fizeste o favor de ler
o Quincas Borba, um filósofo muito rico, que morre de Memórias Póstumas de Brás Cubas, é aquele mesmo náufrago
infecção pulmonar; da existência, que ali aparece, mendigo, herdeiro inopinado e
o Cristiano de Almeida e Palha, um comerciante esperto inventor de uma filosofia. Aqui o tens agora, em Barbacena”.
e interesseiro; OBS: As narrativas de Memórias Póstumas de Brás
o Sophia, sua esposa, por quem Rubião se apaixona. Cubas e de Quincas Borba tocam-se no início do capítulo IV,
sendo uma espécie de continuação daquela. Mas a história de
Resumo: Quincas Borba é completamente outra.
Após a morte de Quincas Borba, narrada no livro Este romance mostra a caminhada de Rubião para a
Memórias póstumas de Brás Cubas, a fortuna herdada por ele loucura. De modo que o verdadeiro elo entre os romances é
foi deixada para seu amigo Rubião, professor de Barbacena, apenas o Humanitismo, filosofia com a qual Quincas Borba
cidade onde residia o filósofo. O dinheiro vem acompanhado do marcou sensivelmente Brás Cubas, mas da qual apesar de seus
compromisso de cuidar do cachorro, também chamado Quincas esforços, nada conseguiu transmitir a Rubião.
Borba.
Rubião, então, parte para o Rio de Janeiro e, na Com a teoria da sobrevivência do mais forte, que
viagem, conhece o capitalista Cristiano de Almeida e Palha e Rubião só consegue compreender ao chegar ao limite
também Sofia que lhe dispensava olhares e delicadezas. Sofia da fraqueza, Machado de Assis aplica a lei da seleção
era mulher de Cristiano, mas Rubião se apaixonou por ela, natural - na época recém-formulada por Darwin - às
tendo em vista o modo em que os dois entraram em sua vida. relações sociais. Na sociedade, assim como na
O amor era tão grande que Rubião foi obrigado a natureza, a luta pela sobrevivência é voraz. Note-se
assumi-lo perante Sofia. Para o espanto, Sofia recusa seu amor, que o narrador de Machado, porém, é solidário à
mesmo tendo lhe dado esperanças tempos atrás, e conta o fato vítima do processo, que procura denunciar.
para Cristiano. Apesar de sua indignação, o capitalista continua
suas relações com Rubião pois queria obter os restos da fortuna
que ainda existia. LISTA DE EXERCÍCIOS
O amor de Sofia, não correspondido, aos poucos
começa a despertar a loucura em Rubião. Essa loucura o levou 1. Assinalar a alternativa que transcreve passagem do romance
à morte e foi comparada à mesma que causou o falecimento de Quincas Borba, de Machado de Assis:
Quincas Borba. Louco e explorado por várias pessoas, a) “Era o ‘Quincas Borba’, o gracioso menino de outro tempo, o
principalmente Palha e Sofia, Rubião morre na miséria e assim meu companheiro de colégio, tão inteligente e abastado.
se exemplifica a tese do humanitismo. Quincas Borba!”
b) “Saberia Rubião que o nosso Quincas Borba trazia aquele b) apela à sentimentalidade do leitor no último capítulo, em que
grãozinho de sandice, que um médico supôs achar-lhe? narra a morte de Rubião.
Seguramente, não; tinha-o por homem esquisito.” c) apresenta os acontecimentos na mesma ordem em que estes
c) “Era tarde para mandar o camarote a Escobar; saí, mas voltei se deram no tempo.
no fim do primeiro ato. Encontrei Escobar à porta do corredor.” d) narra a história em terceira pessoa, não participando das
d) “Sim, a lamparina ia morrendo, mas ainda podia dar luz ao ações como personagem.
regresso de Paulo. Quando Flora o viu entrar e ajoelhar-se outra
vez, ao pé do irmão, e ambos dividirem entre si as mãos dela, 6. Com base na obra Quincas Borba, de Machado de Assis,
mansos e cordatos, ficou longamente atônita.” assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as
e) “Tristão e Fidélia desceram hoje e Aguiar os foi buscar à afirmações a seguir.
Prainha. Dali vieram almoçar ao Flamengo, onde D. Carmo ( ) Ao declarar seu amor por Sofia na festa da casa de Palha,
esperava os recém-casados e os abraçou cheia de coração.” Rubião vive uma crise moral, oscilando entre a culpa e
a inocência.
2. No início de Quincas Borba, a personagem Rubião avalia sua ( ) Na tentativa de justificar sua atitude, Rubião atribui a Sofia a
trajetória, enquanto olha para o mar, para responsabilidade da declaração de amor, ao mesmo
os morros, para o céu, da janela de sua casa, em Botafogo. tempo que procura suavizar a culpa da mulher.
Passara de .......... a capitalista ao ........... . Mas, no final do ( ) Quando Sofia relata a Palha a declaração de amor que Rubião
romance, o personagem acaba morrendo na miséria. lhe fez, o marido reage violentamente e jura vingança.
As lacunas podem ser correta e respectivamente preenchidas ( ) Apesar do jogo de sedução, Sofia não comete adultério com
por: Quincas Borba, mas o faz com Carlos Maria, por quem
a) jornalista – receber um prêmio se apaixona perdidamente.
b) professor – receber uma herança ( ) O narrador, no último capítulo da obra, afirma a indiferença
c) enfermeiro – se tornar comerciante da natureza aos risos e às lágrimas humanos.
d) filósofo – investir em terras A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima
e) enfermeiro – se casar com Sofia para baixo, é:
a) F - V - F - V - V.
3. Assinale a alternativa correta em relação a Quincas Borba, de b) V - V - F - F - V.
Machado de Assis. c) F - F - V - V - F.
a) O título do livro, como esclarece o narrador, refere-se ao d) V - F - V - V - F.
filósofo Quincas Borba, criador do “Humanitismo”. e) F - V - F - F - V.
b) Quincas Borba é apenas um interiorano milionário explorado
por parasitas sociais como Palha e Camacho. 7.
c) Rubião é objeto de disputa amorosa entre a bela Sofia e Dona “Supõe tu um campo de batatas e duas tribos famintas. As
Tonica, filha do major Siqueira. batatas apenas chegam para alimentar uma das tribos, que
d) Rubião, sócio do marido de Sofia, comete adultério com ela assim adquire forças para transpor a montanha e ir à outra
sem levantar suspeitas. vertente, onde há batatas em abundância; mas, se as duas
e) Ao fugir do hospital, Rubião retorna com Quincas Borba à sua tribos dividem em paz as batatas do campo, não chegam a
cidade de origem, Barbacena. nutrir-se suficientemente e morrem de inanição. A paz, nesse
caso, é a destruição; a guerra é a conservação. Uma das tribos
4. Assinale a alternativa em que, no trecho transcrito de Quincas extermina a outra e recolhe os despojos. Daí a alegria da vitória,
Borba, se faz referência a Rubião. os hinos, aclamações, recompensas públicas e todos os demais
a) Assim, o contato de Sofia era para ele como a prosternação efeitos das ações bélicas. Se a guerra não fosse isso, tais
de uma devota. Não se admirava de nada. Se um dia acordasse demonstrações não chegariam a dar-se, pelo motivo real de que
imperador, só se admiraria da demora do ministério em vir o homem só comemora e ama o que lhe é aprazível ou
cumprimentá-lo. vantajoso, e pelo motivo racional de que nenhuma pessoa
b) Desde o paço imperial, vinha gesticulando e falando a alguém canoniza uma ação que virtualmente a destrói. Ao vencido, ódio
que supunha trazer pelo braço, e era a Imperatriz. ou compaixão; ao vencedor, as batatas.”
Eugênia ou Sofia? Ambas em uma só criatura, ou antes a Nessa passagem, quem fala é Quincas Borba, o filósofo. Suas
segunda com o nome da primeira. palavras são dirigidas a Rubião, ex-professor, futuro capitalista,
c) Era o caso do nosso homem. Tinha o aspecto baralhado à mas, no momento, apenas enfermeiro de Quincas Borba. É
primeira vista; mas atentando bem, por mais opostos que correto afirmar que a maneira como constrói esse discurso
fossem os matizes, lá se achava a unidade moral da pessoa. revela preocupação com:
d) Formado em direito em 1844, pela Faculdade do Recife, a) A clareza e a objetividade, uma vez que visa à compreensão
voltara para a província natal, onde começou a advogar; mas de Rubião da filosofia por ele criada, o Humanitismo.
a advocacia era um pretexto. b) A emotividade de suas palavras, dado objetivar despertar em
Rubião piedade pelos vencidos e ódio pelos vencedores.
5. Com base na leitura de Quincas Borba, de Machado de Assis, c) A informação a ser transmitida, pois Rubião, sendo seu
é CORRETO afirmar que o narrador do romance: herdeiro universal, deverá aperfeiçoar o Humanitismo.
a) adere ao ponto de vista do filósofo, pois professa a teoria do d) O envolvimento de Rubião com a filosofia por ele criada, o
Humanitismo. Humanitismo, dada a urgência em arregimentar novos
adeptos.
e) O estabelecimento de contato com Rubião, uma vez que o e) a linguagem empregada para descrever a morte de Quincas
mesmo possui carisma para perpetuar as novas ideias. Borba revela a tendência do narrador a dar mais importância ao
cão do que a Rubião.
8. Em 1891, Machado de Assis publicou o romance Quincas
Borba, no qual um dos temas centrais do Realismo, 10.
o triângulo amoroso (formado, a princípio, pelas personagens “– Mas, enfim, que pretendes fazer agora? perguntou-me
Palha-Sofia-Rubião), cede lugar a uma equação dramática mais Quincas Borba, indo pôr a xícara vazia no parapeito de uma das
complexa e com diversos desdobramentos. Isso se explica janelas.
porque: – Não sei; vou meter-me na Tijuca; fugir aos homens. Estou
a) O que levava Sofia a trair Palha era apenas o interesse na envergonhado, aborrecido. Tantos sonhos, meu caro Borba,
fortuna de Rubião, pois ela amava muito o marido. tantos sonhos, e não sou nada.
b) Palha sabia que Sofia era amante de Rubião, mas fingia não – Nada! interrompeu-me Quincas Borba com um gesto de
saber, pois dependia financeiramente dela. indignação.
c) Sofia não era amante de Rubião, como pensava seu marido, Para distrair-me, convidou-me a sair; saímos para os lados do
mas sim de Carlos Maria, de quem Palha não tinha Engenho Velho. Íamos a pé, filosofando as coisas. Nunca me há
suspeita alguma. de esquecer o benefício desse passeio. A palavra daquele grande
d) Sofia não era amante de Rubião, mas se interessou por Carlos homem era o cordial da sabedoria. Disse-me ele que eu não
Maria, casado com uma prima de Sofia, e este por podia fugir ao combate; se me fechavam a tribuna, cumpria-me
Sofia. abrir um jornal. Chegou a usar uma expressão menos elevada,
e) Sofia não se envolvia efetivamente com Rubião, pois se sentia mostrando assim que a língua filosófica podia, uma ou outra
atraída por Carlos Maria, que a seduziu e depois a vez, retemperarse no calão do povo. Funda um jornal, disse-me
rejeitou. ele, e “desmancha toda esta igrejinha”.
– Magnífica idéia! Vou fundar um jornal, vou escachá-los, vou…
9. – Lutar. Podes escachá-los ou não; o essencial é que lutes.
Capítulo CC Vida é luta. Vida sem luta é um mar morto no centro do
Poucos dias depois, [Rubião] morreu... Não morreu súbdito nem organismo universal.
vencido. Antes de principiar a agonia, que foi curta, Daí a pouco demos com uma briga de cães; fato que aos olhos
pôs a coroa na cabeça, — uma coroa que não era, ao menos, de um homem vulgar não teria valor. Quincas Borba fez-me
um chapéu velho ou uma bacia, onde os espectadores parar e observar os cães. Eram dois. Notou que ao pé deles
palpassem a ilusão. Não, senhor; ele pegou em nada, levantou estava um osso, motivo da guerra, e não deixou de chamar a
nada e cingiu nada; só ele via a insígnia imperial, pesada minha atenção para a circunstância de que o osso não tinha
de ouro, rútila de brilhantes e outras pedras preciosas. O carne. Um simples osso nu.
esforço que fizera para erguer meio corpo não durou muito; o Os cães mordiam-se, rosnavam, com o furor nos olhos… Quincas
corpo caiu outra vez; o rosto conservou porventura uma Borba meteu a bengala debaixo do braço, e parecia em êxtase.”
expressão gloriosa. (Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas.)
— Guardem a minha coroa, murmurou. Ao vencedor...
A cara ficou séria porque a morte é séria; dous minutos de “Este Quincas Borba, se acaso me fizeste o favor de ler as
agonia, um trejeito horrível, e estava assinada a abdicação. Memórias póstumas de Brás Cubas, é aquele mesmo náufrago
da existência que ali aparece, mendigo, herdeiro inopinado, e
Capítulo CCI inventor de uma filosofia [Humanitas]. Aqui o tens agora em
Queria dizer aqui o fim do Quincas Borba, que adoeceu Barbacena. Logo que chegou, enamorou-se de uma viúva,
também, ganiu infinitamente, fugiu desvairado em busca do senhora de condição mediana e parcos meios de vida, mas, tão
dono, e amanheceu morto na rua, três dias depois. Mas, vendo acanhada, que os suspiros do namorado ficavam sem eco.
a morte do cão narrada em capítulo especial, é provável Chamava-se Maria da Piedade. Um irmão dela, que é o presente
que me perguntes se ele, se o seu defunto homônimo é que dá Rubião, fez todo o possível para casá-los. Piedade resistiu, um
título ao livro, e por que antes um que outro, — questão pleuris a levou.
prenhe de questões, que nos levariam longe... Eia! chora os Foi esse trechozinho de romance que ligou os dois homens. (…)
dous recentes mortos, se tens lágrimas. Se só tens riso, Rubião achou um rival no coração de Quincas Borba – um cão,
ri-te! É a mesma cousa. O Cruzeiro que a linda Sofia não quis um bonito cão, meio tamanho, pêlo cor de chumbo, malhado de
fitar, como lhe pedia Rubião, está assaz alto para não preto. Quincas Borba levava-o para toda parte, dormiam no
discernir os risos e as lágrimas dos homens. mesmo quarto. De manhã, era o cão que acordava o senhor,
Depreende-se do texto que: trepando ao leito, onde trocavam as primeiras saudações. Uma
a) ao narrar a agonia de Rubião, o narrador deixa implícito que das extravagâncias do dono foi dar-lhe o seu próprio nome; mas,
aquele merecia as honrarias de um rei. explicava-o por dois motivos, um doutrinário, outro particular.
b) a ambiguidade no título do romance, Quincas Borba, justifica- – Desde que Humanitas, segundo a minha doutrina, é o
se pelo fato de o autor não conseguir definir-se por princípio da vida e reside em toda a parte, existe também no
homenagear o filósofo ou seu cão. cão, e este pode assim receber um nome de gente, seja cristão
c) a afirmação que encerra o Capítulo CC revela um traço ou muçulmano…
machadiano característico: a ironia. – Bem, mas por que não lhe deu antes o nome de Bernardo?
d) a declaração de que Sofia não quis fitar o Cruzeiro revela a disse Rubião com o pensamento em um rival político da
indiferença como matriz do estilo do autor. localidade.
– Esse agora é o motivo particular. Se eu morrer antes, como ___________________________________________________
presumo, sobreviverei no nome do meu bom cachorro. Ris-te, ___________________________________________________
não?
Rubião fez um gesto negativo. GABARITO
– Pois devias rir, meu querido. Porque a imortalidade é o 1b
meu lote ou o meu dote, ou como melhor nome haja. Viverei 2b
perpetuamente no meu grande livro. Os que, porém, não 3e
souberem ler, chamarão Quincas Borba ao cachorro, e… 4b
O cão, ouvindo o nome, correu à cama. Quincas Borba, 5d
comovido, olhou para Quincas Borba.” 6b
(Machado de Assis, Quincas Borba.)
7a
8d
a) Em Quincas Borba, a opção por um enunciador em terceira
9c
pessoa, que apenas relata os fatos, difere da solução
encontrada por Machado de Assis para Memórias póstumas de 10
Brás a) O gênero memorialístico, que Machado de Assis
Cubas, sua obra anterior, a qual marcara o início do Realismo mimetiza na ficção de Memórias póstumas,
no Brasil. Transcreva dois exemplos que caracterizam o tipo caracterizase por ser enunciado em primeira
de enunciador presente em Memórias póstumas, dando pessoa, como fica evidente no texto a partir do
explicações resumidas. primeiro pronome referente ao narrador:
___________________________________________________ “perguntou-me”. Este e diversos outros pronomes
___________________________________________________ de primeira pessoa, assim como duas formas
___________________________________________________ verbais, uma no singular (“...eu não podia...”) e
___________________________________________________ outra no plural (“...demos...”) não deixam dúvida a
___________________________________________________ respeito do ponto de vista narrativo adotado no
___________________________________________________ romance.
___________________________________________________ b) Ao relatar sua conversa com Quincas Borba, Brás
___________________________________________________
Cubas destaca o caráter “elevado” da linguagem de
___________________________________________________
seu interlocutor, ao observar que ele “chegou a
___________________________________________________
usar uma expressão menos elevada, mostrando
b) No trecho transcrito de Memórias póstumas de Brás Cubas, assim que a língua filosófica podia, uma ou outra
está estampada uma oposição entre o lugar ocupado por vez, retemperar-se no calão do povo”. Entende-se,
Quincas Borba, um filósofo e um “grande homem”, e as pessoas portanto, que Quincas Borba empregava
comuns. Comente dois exemplos extraídos do fragmento, pelos vocabulário erudito, possivelmente eivado de
quais fica evidente essa distinção, tanto no plano dos fatos jargão filosófico. No plano dos fatos, e não mais da
quanto no plano lingüístico. linguagem, Brás Cubas relata o comportamento
___________________________________________________ singular do “grande homem”, ao vislumbrar na
___________________________________________________ briga dos cães — “fato que aos olhos de um homem
___________________________________________________ vulgar não teria valor” — uma confirmação de suas
___________________________________________________ mais profundas especulações filosóficas.
___________________________________________________ c) Segundo o argumento de Quincas Borba, o cão,
___________________________________________________ como todo ser vivo, é uma expressão de Humanitas.
___________________________________________________ Assim, não seria descabido atribuir o mesmo nome
___________________________________________________ a duas manifestações semelhantes do mesmo
___________________________________________________
princípio — “seja cristão ou muçulmano” esse
___________________________________________________
nome, como acrescenta ironicamente o filósofo
___________________________________________________
incréu.
c) Em Quincas Borba, as razões para o protagonista dar seu
próprio nome ao cachorro de estimação se fundamentam em
dois argumentos – um doutrinário e outro particular. Explique
em que consiste a primeira razão, tendo em vista os dados
fornecidos pelo texto.
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________