35682-Texto Do Artigo-41986-1-10-20120801
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ceção de bem poucos capítulos (2). Duas funções devia ela as-
sumir simultâneamente, no decorrer dos séculos e milênios: a de
constituir e conservar, com suas leis, prescrições e proibições, a
tribo judaica e seu convívio — função nacional — e a de ensinar
a manter vivas uma concepção da divindade e uma ética de ca-
ráter universal, como foram proclamadas pelos profetas clássicos,
cujas vozes de legisladores e de reformadores sociais ressoam atra-
vés dos tempos até nossos dias (3).
Nessa Bíblia, milhões de entes humanos encontraram em tôdas
as épocas reanimação, ensinamento, estímulo e nova alegria vitais.
O teólogo berlinense Adolf von Harnock, em caso algum suspeito
de filossemita declarou:
"A Bíblia é o livro da Antiguidade, o livro da Idade Média, e
mesmo que hoje em dia esteja à venda nas feiras públiças, é tam-
bém o livro da Época Moderna . O que significam, nesse sentido,
Homero, os Vedas, comparados com ela?"
Elaboremos, em poucos traços, quatro das características da
consciência ética dêsse hebraísmo clássico:
1 — O monoteísmo bíblico é pessoal, ético. Cultos as-
trais e ritos místicos da Antiguidade também tinham chegado à
concepção monoteista: suas divindades eram, todavia, indiferentes
às preocupações, às aspirações, às atitudes morais dos sêres huma-
nos, muitas vêzes nutrindo inveja da felicidade das criaturas. Êsse
Deus Único da Bíblia é a personalidade paterna que ama a bon-
dade, refuta a opressão, estabelece as normas positivas da conduta
dos homens no seu convívio, prega a justiça, a fidelidade, a moral.
Pensadores gregos e hindus talvez tivessem tido certo pressenti-
mento, mais ou menos desenvolvido, dessa verdade (4); no he-
braísmo, porém, proclama-se com voz alta pela primeira vez na
cultura mundial, que entre Deus e a criatura existe a mútua re-
lação do "Tu" (5).
2 — A unidade do gênero humano e a fraternidade dos ho-
mens são estabelecidas já na primeira página dêsse livro maravi-
lhoso. Sendo Deus o Criador Único do Universo, tôdas as cria-
turas são filhas do mesmo Pai Celestial. Podem existir diferen-
ciações entre as raças humanas, porém, jamais desqualificações
no seio da família humana, que é uma só. Conseqüentemente,
Hebraísmo e Helenismo
Hebraísmo e Cristianismo
Hebraísmo e Islão
(8) . — L. Ginzberg, Die Hagada und die Kirchenvaeter, Amsterdão, 1892, e Fe-
lix Pedes, Die Ertorschung des Nachbiblischen Judentums, revista Der Morgen, Berlim,
1926, pág. 348 em diante.
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O Hebraísmo Medieval
O Hebraísmo e a Mística
O Hebraísmo e o Renascimento
(20) . — E' interessante notar que Reuchln pregou em sua gramática hebraica, edi-
tada em 1506, que a sabedoria grega era dependente de fontes hebraicas, da maneira
como Filo, o Helenista, o afirmou. (W. Schwarz, The theory o! trensletions in the 16-th
century, Alemanha em The Modern Linguege Review, Londres, vol. XV, de outubro
de 1945) . Para os pormenores acima, veja Cedi Roth, pág. 60.
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(25) . — Deutschlaender, Goethe und dar Altes Testament, Frankfurt, 1923. Biel-
schowsky, Goethe, 2 vol., Munich, 1910.
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.— Refiro-me ao que disse no meu "O Caminho de Israel através dos Tem-
pos", no capítulo "Os Judeus nos Tempos Coloniais". Ao mesmo tempo reconheço, sin-
ceramente grato, as importantes sugestões que recebi do ilustre prof. dr. Silveira Bueno,
da Universidade de São Paulo.
. — Refiro-me ao artigo que publiquei, em conjunto com Júlio de Gouveia,
no "Estado de São Paulo", a 15 de fevereiro de 1945.
FREDERICO PINKUSS
Professor do Curso Livre de Hebraico da Fa-
culdade de Filosofia, Ciências e Letras da Uni-
versidade de São Paulo.
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Bibliografia Sumária