Uso Racional Da Água
Uso Racional Da Água
Uso Racional Da Água
1
SUMÁRIO
NOSSA HISTÓRIA ...................................................................................................... 3
1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 4
2. A GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS E A CONSTRUÇÃO CIVIL .................. 7
2.1 ÁGUA COMO RECURSO NATURAL ................................................................... 7
2
NOSSA HISTÓRIA
3
1. INTRODUÇÃO
4
O Manual de Conservação e Reúso da Água em Edificações, elaborado pela
Agência Nacional de Águas (ANA), Federação das Indústrias do Estado de São Paulo
(FIESP) e Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo
(SindusCon-SP), apresenta alguns passos para a conservação da água pelo setor.
Nas edificações existentes, a partir da implantação de um sistema de medição e após
um período de monitoramento, deve-se realizar a auditoria do consumo. Esta etapa
apontará o histórico de consumo e um diagnóstico preliminar, revelará as
características físicas e funcionais do sistema hidráulico e as atividades desenvolvidas
no edifício, irá detectar os desperdícios, identificando se existem vazamentos ou
válvulas desreguladas e levantará os hábitos de consumo dos usuários.
Em seguida, a publicação recomenda um plano de intervenção para corrigir os
vazamentos detectados, reduzir as perdas, realizar campanhas de sensibilização e
educativas e instalar tecnologias economizadoras nos pontos de consumo, como o
uso de descargas inteligentes, ou seja, com duplo acionamento que é usado de acordo
com o volume de água necessário; a colocação de arejador na torneira, que diminui o
fluxo, mas mantém a sensação de volume e direciona o jato; e até mesmo a adoção
de torneiras automáticas, cujo sensor capta a presença do usuário e libera e encerra
a vazão.
Já nas novas construções, com base nos dados de entrada que caracterizam
a edificação, o Manual recomenda que se inicie com uma etapa de avaliação técnica
preliminar, na qual se analisa a demanda e oferta de água para proposição de
soluções viáveis técnicas e economicamente. Lembrando que devem ser verificadas
cuidadosamente as normas técnicas e legislações pertinentes. Edifícios já estão
sendo planejados com sistemas de aproveitamento e reúso que permitem a economia
dos recursos hídricos. Em fevereiro, o Boletim de Tendência da Construção Civil, uma
publicação do Sebrae Inteligência Setorial, apresentou este cenário como uma
oportunidade de negócio para o setor.
A água, quando tratada, pode ser utilizada na lavagem de calçadas e garagem,
para regar o jardim, na descarga em bacias sanitárias e para refrigeração e sistema
de ar condicionado, e os sistemas de aproveitamento e reúso podem atender tanto os
prédios residenciais quanto os comerciais. Outra recomendação é ao instalar sistema
5
de reúso, ter cuidado para que as tubulações e as torneiras estejam separadas das
de água potável, para evitar contaminação e problemas de saúde pública.
Algumas das fontes alternativas de captação de água são: a água cinza –
esgoto gerado pelo uso de máquinas de lavar roupa, banheiras, chuveiros e lavatórios;
a água de drenagem de terrenos – resultante do processo de drenagem de uma área
para a construção; e a água pluvial – água que provém diretamente da chuva, captada
após o escoamento por áreas de cobertura, telhados ou grandes superfícies
impermeáveis.
A água doce é um recurso natural limitado, essencial para todos os setores da
sociedade, principalmente para o bem-estar e sobrevivência de grande parcela das
espécies que habitam a Terra. Segundo WWAP (2015), a água está no centro do
desenvolvimento sustentável.
As preocupações sobre sua escassez são crescentes, desde a década de
1980, com a expansão da produção de bens e o crescimento demográfico, passouse
a demandar excessivos volumes desse recurso. Como reflexo várias ações vêm
sendo tomadas para sua conservação, no Brasil e no mundo, e tem envolvido os
meios técnico e acadêmico, empresas e prestadores de serviços com grande
abrangência (TAMAKI; GONÇALVES, 2004).
Entre as diversas possibilidades de uso, a água é necessária para a produção
de alimentos, higiene pessoal, lavagem de roupas e utensílios, manutenção e limpeza
das habitações, produção de energia elétrica, na limpeza das cidades, na construção
civil e no combate a incêndios.
Na construção civil, representa um dos componentes mais importantes na
produção de concretos e argamassas, imprescindível na umidificação do solo e na
compactação de aterros. É utilizada também como ferramenta nos trabalhos de
limpeza, resfriamento e cura do concreto (NETO, 2008).
6
2. A GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS E A CONSTRUÇÃO CIVIL
7
Outras circunstâncias como: a seca, perdas na distribuição, danos às infraestruturas
hídricas, entre outros, contribuem para a crescente escassez de água doce.
A captação de água doce tem aumentado cerca de 1% ao ano mundialmente,
principalmente devido à crescente demanda dos países em desenvolvimento (WWAP,
2016a). As previsões são que até 2030 o planeta enfrentará um déficit de 40%, já para
2050, com a população mundial estimada em 9,3 bilhões de habitantes, haverá um
aumento da demanda hídrica de 55%, porém, os recursos hídricos não se
multiplicarão (WWAP, 2015). A distribuição mundial de água doce é apresentada na
tabela 1, na qual é possível verificar que além de haver pouca água doce disponível,
a mesma encontra-se mal distribuída entre os continentes
8
Mesmo em diferentes níveis de riscos, é visível que a escassez de água é um
problema que afeta todos os continentes. Até mesmo os países com recursos hídricos
abundantes, seja por efeitos climáticos ou por dificuldades logísticas para o
fornecimento de água.
9
Fica visível que essa vantagem quantitativa não representa uma segurança de
abastecimento à população, uma vez que essa distribuição é bastante desigual. Além
da má distribuição dos recursos hídricos nacionais, outro fator preocupante é a
ineficiência dos serviços de abastecimento de água e a seca.
Os dados do SNIS (2017) demonstram que o índice de perdas na distribuição
dos serviços de abastecimento de água, no ano de 2015, foi de 37%. A região Norte
apresenta a maior perda entre estados com 46,3%, o índice variou entre 62,6%
(Maranhão) e 30,1% (Goiás). Esses dados contabilizam toda a água fornecida ao
consumidor, mas não medida, além de vazamentos nos dutos de distribuição.
A seca afetou a Região Metropolitana de São Paulo, mais recentemente, nos
verões de 2013-2014 e 2014-2015, porém, a Região Sudeste do Brasil já
experimentou secas sazonais intensas em 1953, 1971 e 2001. Outras regiões ou
estados do Brasil, como o Nordeste, vivenciam esse fenômeno. Essa crise hídrica é
resultado da combinação de baixos índices pluviométricos, grande crescimento da
demanda de água, ausência de planejamento adequado para o gerenciamento dos
10
recursos hídricos e da ausência de consciência coletiva dos consumidores brasileiros
para o uso racional da água (MARENGO et al., 2015).
11
Estima-se que até 2050 esses consumos aumentarão de maneira significativa.
A agricultura precisará produzir globalmente 60% a mais de alimentos, e 100% a mais
nos países em desenvolvimento. Para a indústria manufatureira prevê-se um aumento
de 400% da demanda global de água, afetando todos os outros setores, com a maior
parte desse aumento em economias emergentes e em países em desenvolvimento
(WWAP, 2015).
No Brasil, segundo ANA (2016), a vazão efetivamente consumida foi de
1.209,64 m³/s em 2015. Na figura 5, demonstra-se a distribuição de consumo por
setor.
12
5. GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS NAS EDIFICAÇÕES
13
Ainda segundo Tamaki e Gonçalves (2004), o programa foi estruturado em seis
macro programas integrados, a fim de abranger a documentação técnica, laboratórios,
novas tecnologias, estudos em edifícios residenciais, programas de qualidade e
estudos de caso em diferentes tipos de edifícios. Dessa forma, utiliza-se a quantidade
mínima de água sem comprometer as atividades consumidoras (CBCS et al., 2014).
Com resultados expressivos, o PURA-USP tornou-se exemplo de programa
permanente e efetivo de gestão de demanda da água. O consumo de água em 1998
era de 137.881 m³/mês e passou para 78.821 m³/mês em 2013. Uma redução de 43%,
mesmo com o crescimento da população do campus em 13,3% e da área construída
em 16,3% 9 (CBCS et al., 2014).
Recentemente houve a unificação do PURA com o PURE (Programa
Permanente para o Uso Eficiente de Energia), a fim de otimizar equipes e ter ações
integradas dentro da instituição. Tal feito fez ressurgir de forma remodelada o
Programa Permanente para o Uso Eficiente dos Recursos Hídricos e Energéticos
(PUERHE), que prevê um conjunto de medidas para incentivar e promover a gestão
do uso da água e da energia elétrica em todas as instalações da Universidade
(FERREIRA, 2015).
O Programa de Conservação de Água da Universidade de Campinas
(Próágua/Unicamp) foi desenvolvido pela Faculdade de Engenharia Civil – FEC e teve
início em 1999. Tem como objetivo geral a implantação de medidas que induzam ao
uso racional da água nos edifícios da Cidade Universitária, inclusive por meio da
conscientização dos usuários sobre a importância de sua conservação (NACAGAWA,
2009). O programa divide-se em duas fases. A primeira contempla o levantamento
cadastral, a detecção e conserto de vazamentos, a implantação de telemedição, a
instalação de componentes economizadores e a avaliação do desempenho pelos
usuários. A segunda fase abrange a análise de tecnologias economizadoras para usos
específicos e implantação de sistema de gestão dos sistemas prediais no campus.
O Programa de Qualidade e Produtividade dos Sistemas de Medição
Individualizada de Água (ProAcqua) foi oficializado através do convênio entre a
Sabesp e Proacqua em 2007, em função da necessidade da medição individualizada
para o consumo racional de água. Tem como princípios a confiabilidade na medição;
14
segurança ao condomínio; qualidade, justiça social; e preservação do meio ambiente
(PROACQUA, 2018). Segundo Oliveira et al. (2008), a medição individualizada auxilia
na conscientização da importância em gerenciar o consumo de água, já a medição
coletiva, presente na maioria dos dos edifícios multifamiliares brasileiros, propicia
desperdício de água e cobrança injusta em função do rateio em partes iguais do
consumo mensal entre os condôminos.
O ÁGUAPURA teve início em 2001 na Universidade Federal da Bahia (UFBA).
Após a elaboração de um sistema informatizado, em 2004, passou a ser denominado
ÁGUAPURA Via Net, que permite a inserção dos dados de consumo obtidas nas
unidades da UFBA. Tem como principal objetivo reduzir o consumo de água nas
unidades da Universidade através de ações de minimização das perdas e
desperdícios, manutenção e aprimoramento da redução obtida. Além de difundir
conceitos sobre o uso racional da água, contribuir para a implantação de Tecnologias
Limpas, estendendo-se entre as instituições e pessoas o hábito de consumir água de
forma racional. A reestruturação e a revisão do programa inseriram novas ações, que
permitiram a inclusão de representantes nas unidades para realizarem a inserção das
leituras dos hidrômetros (NACAGAWA, 2009).
O ÁGUAPURA Via Net permite que todos os usuários de um edifício possam
acompanhar o seu consumo de água diariamente. Assim, podem identificar os
eventos que provocam desperdícios e perdas. O conhecimento do consumo é
essencial para o desenvolvimento sustentável, que constitui num importante fator para
a racionalização do seu uso, com ganhos ambientais e econômicos. Desde o início do
programa o consumo na Universidade foi reduzido de 42 para 18L/pessoa/dia
(AGUAPURA, 2018).
15
7. PROGRAMAS DE CONSERVAÇÃO EM ESFERAS FEDERAIS E
MUNICIPAIS
Diante do cenário cada dia mais preocupante de escassez de água, que deixou
de ser uma questão localizada ao alcançar grandes áreas do território nacional, o tema
torna-se passível de ser legislado por lei (PROJETO DE LEI, 2015).
O Programa Nacional de Combate ao Desperdício de Água (PNCDA) foi
instituído pela Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental do Ministério das
Cidades no ano 1997 em esfera federal, e tem por objetivo geral, promover o uso
racional da água de abastecimento público nas cidades brasileiras. Tem por objetivos
específicos definir e implementar um conjunto de ações e instrumentos tecnológicos,
normativos, econômicos e institucionais para a redução dos volumes demandados nas
áreas urbanas (PMSS, 2015).
Segundo Nakagawa (2009) as medidas consideradas no PNDCA são:
campanhas de conscientização; levantamento do sistema hidráulico do edifício e dos
procedimentos dos usuários relacionados ao uso da água; diagnóstico do sistema,
sobretudo vazamentos; plano de intervenção, considerando campanhas educativas,
manutenção do sistema, alteração de procedimentos de uso da água, substituição de
componentes convencionais por eficientes, reaproveitamento da água; avaliação
econômica; avaliação do impacto da redução.
O Projeto de Lei n° 1.750 de 2015, dispõe sobre a construção de sistemas para
captação e armazenamento de água da chuva nas edificações residenciais,
comerciais e industriais, cuja dimensões a deverão ser definidas pelo poder público
municipal, e impõe como obrigação a instalação de sistemas para captação e
armazenamento de água da chuva nas edificações com área superior a 200m². As
edificações já existentes terão o prazo de três anos para se adequarem ao disposto
na Lei.
A Prefeitura Municipal de Curitiba-PR criou o Programa de Conservação e Uso
Racional da Água nas Edificações (PURAE) por meio da Lei 10.785 de 2003. O
Programa tem como objetivo instituir medidas que induzam à conservação, uso
16
racional e utilização de fontes alternativas para captação de água nas novas
edificações, bem como a conscientização dos usuários sobre a importância da
conservação da água.
Os aparelhos e dispositivos economizadores de água, tais como: bacias
sanitárias de volume reduzido de descarga; chuveiros e lavatórios de volumes fixos
de descarga; e torneiras dotadas de arejadores, são utilizados nas ações de uso
racional e conservação da água. Além disso, nas edificações em condomínio devem
ser instalados hidrômetros para medição individualizada do volume de água gasto por
unidade.
Para combater o desperdício quantitativo de água, tomou-se como medidas
ações voltadas à conscientização da população através de campanhas educativas,
abordagem do tema nas aulas da Rede Pública Municipal, palestras, entre outras, a
fim de abordar sobre o uso abusivo da água, métodos de conservação e uso racional.
O não cumprimento da lei implica na negativa de concessão do alvará de construção
para as novas edificações.
Em 2006, a Lei foi regulamentada por meio do decreto N° 293, que estabeleceu
a previsão de implantação de mecanismos de captação das águas pluviais no projeto
de instalações hidráulicas para o licenciamento das construções no Município. Tal
implantação é de responsabilidade do proprietário e do profissional responsável pela
execução da obra, devendo a mesma ser concluída antes de ocorrer a habitação da
edificação. Além disso, nos edifícios de habitação coletiva, com área total construída
igual ou superior a 250m² por unidade, e nas construções de habitações unifamiliares
em série e conjuntos habitacionais devem ser instalados hidrômetros para medição
individualizada do volume de água. O decreto ainda aborda os documentos
necessários para a aprovação dos projetos e o método de dimensionamento das
cisternas, que incluem edificações residências, industriais e comerciais.
Seguindo as principais premissas do PURAE, diversas Câmaras Municipais
também instituíram programas de conservação e racionalização da água através de
Leis, entre elas:
São Paulo-SP, Lei nº 14.018 de 2005;
Campinas-SP, Lei n° 12.474 de 2006;
17
Cascavel-PR, Lei n° 4.631 de 2007;
Maringá-PR, Lei complementar n° 685 de 2007.
8. FONTES ALTERNATIVAS
18
Esses sistemas de aproveitamento, em sua maioria, são simples e necessitam
de baixos investimentos, e quando planejados antes da execução da edificação
tornam-se menores ainda. Para sua implantação deve-se determinar a precipitação
média local, área de coleta, escoamento superficial, sistema de tratamento,
caracterizar a qualidade da água e dos usos previstos e realizar os projetos dos
reservatórios de descarte e armazenamento.
A qualidade da água pluvial coletada de um telhado é afetada pelas condições
ambientais do entorno (proximidade de áreas industriais, rodovias, presença de
pássaros ou roedores); condições meteorológicas (temperatura, períodos de seca,
intensidade da chuva); material da cobertura do telhado (concreto, cerâmico, metálico,
verde); condições de coleta e armazenamento (nível de sujeira, tempo de
armazenamento, material do reservatório); existência de tratamento no processo de
19
captação (dispositivo de descarte, filtros para folhas, processo de desinfecção)
(NETO, 2012).
O tratamento dependerá das características da água coletada e de seu uso
previsto. Em atividades não potáveis, como a limpeza de pisos e a rega de jardins,
somente o descarte inicial da chuva e os filtros são suficientes, mas para a utilização
em descargas pode ser necessário um tratamento primário. Os reservatórios de
armazenamento devem ser protegidos do calor e da luz para evitar a proliferação de
bactérias e algas. (HAFNER, 2007).
Além de poupar o consumo de água potável, a coleta e o aproveitamento das
águas pluviais promovem a redução dos escoamentos superficiais, com consequente
redução da carga nos sistemas de coleta de águas pluviais e amortecimento dos picos
de enchentes.
Ainda segundo Hafner (2007), o reaproveitamento de águas cinzas é o mais
recomendável para a utilização interna nas edificações, por possuirem qualidade
superior aos esgotos comuns. As águas cinzas, são os efluentes provenientes do uso
de chuveiros, lavatórios, tanques e máquinas de lavar roupas, exclui-se os esgotos de
cozinha e as águas negras, que são os efluentes das descargas dos vasos sanitários.
Assim, as águas cinzas representam uma expressiva parcela, mais de 50% do
consumo médio diário de uma residência, o que reforça a potencialidade do seu uso.
As águas cinzas podem ser reaproveitadas com ou sem tratamento. Nas
edificações é utilizada sem tratamento para a irrigação de jardins, sem qualquer
contato da água com pessoas, através de sistemas de irrigação enterrados. Para fins
de descarga de bacias sanitárias e lavagem de pisos e automóveis, necessita-se de
tratamento.
Os sistemas de tratamento e distribuição das águas cinzas são mais
complexos. A água é recolhida separadamente dos esgotos e encaminhadas para
estações de tratamento para atender os padrões de qualidade aceitáveis, passam por
filtros, processos biológicos e desinfecção. Após o tratamento, é distribuída por redes
independentes até os pontos de utilização. O sistema exige dupla tubulação para o
abastecimento tanto dentro das edificações como fora delas, com conexões às
20
estações de tratamento, além da tubulação dupla para coleta do esgoto e das águas
cinzas. Na figura 7, ilustra-se o esquema de captação de águas cinzas.
21
9. A INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL
22
Desperdícios, em média 56% de cimento, 44% de areia e 30% de gesso, 27%
dos condutores e 15% dos tubos de PVC e eletrodutos;
Extração de grandes volumes de recursos naturais. Até 75% são consumidos
pela construção e manutenção da infraestrutura, sendo a cadeia produtiva a maior
consumidora.
23
O setor também gera problemas sociais, como a baixa remuneração dos
trabalhadores, impacto na qualidade de vida da vizinhança e elevada taxa de
informalidade. Cattani (2001) caracteriza que o trabalho na construção civil exige
grande esforço físico de maneira insalubre e em ambiente adverso, instabilidade no
emprego, rotatividade, mobilidade física, baixa qualificação, necessidade de pouca
habilitação específica, baixo prestígio social, altos índices de acidente de trabalho,
entre outros. Pinheiro (2002) afirma que a baixa instrução da mão de obra dificulta a
aplicação de métodos mais modernos de construção, que poderiam levar a uma maior
produtividade e economia.
Apesar de todas as peculiaridades apresentadas, na economia, a construção
civil é responsável por uma significativa parcela do PIB nacional (8,32%), é um dos
setores mais importantes, pois desempenha um papel fundamental no
desenvolvimento do país. A Pesquisa Anual da Indústria da Construção (2015) revela
que as empresas de construção realizaram incorporações, obras e/ou serviços no
valor de R$ 354,4 bilhões. A receita operacional líquida atingiu o valor de R$ 323,9
bilhões (IBGE, 2017). A participação percentual do valor das incorporações, obras
e/ou serviços, segundo a atividade é ilustrada na figura 8.
24
de 46,7%. Seguido pelo segmento de obras de infraestrutura com 33,9% de
participação. Por fim, o setor de serviços especializados para construção apresentou
19,4% da participação (IBGE,2017).
25
O processo construtivo é composto então pelas etapas de montagem das
formas e armaduras, lançamento da pasta de concreto, e por fim, o processo de cura.
Os aços são empregados como armadura ou armação de componentes estruturais.
Nesses componentes estruturais as armaduras têm como função principal resistir as
tensões de tração e cisalhamento e aumentar a capacidade resistente das peças ou
componentes comprimidos. Os fios e barras são cortados com talhadeira, tesourões
especiais, máquinas de corte (manuais ou mecânicas) e eventualmente discos de
corte. Após a liberação das peças cortadas dá-se o dobramento (BARROS;
MELHADO, 2006).
As fôrmas são as estruturas provisórias, geralmente de madeira, destinadas a
dar forma e suporte aos elementos de concreto até ao ganho de resistência. Sua
execução começa com a transferência dos eixos principais e do nível para a correta
locação dos pilares. Os pilares são locados através da fixação dos gastalhos na laje
e então os painéis de fôrmas serão encaixados formando o corpo do pilar. A armadura
do pilar é colocada juntamente com os espaçadores que irão garantir o cobrimento e
a dimensão correta do pilar. O último painel é fechado e as formas são alinhadas,
niveladas e travadas. As fôrmas de vigas são usualmente lançadas a partir das
cabeças dos pilares com apoios intermediários em garfos ou escoras. Em geral, os
painéis de fundo de viga são colocados primeiro, apoiando-se sobre a cabeça do pilar
ou sobre a borda da fôrma do mesmo. Após essa etapa, a armadura das vigas é
posicionada e a forma é travada e alinhada (CALÇADA, 2014).
A alvenaria de vedação é a associação de um conjunto de blocos cerâmicos ou
de concreto com argamassa de assentamento, sem função estrutural. Para sua
execução, realiza-se a marcação da primeira fiada, que determinará o esquadro e as
dimensões corretas dos ambientes. Os blocos são alinhados e recebem a argamassa
para o assentamento, tendo como referência uma linha presa ao escantilhão. Os
blocos das próximas fiadas são empilhados da mesma forma, recebendo argamassa
para o assentamento (CALÇADA, 2014).
Telles apud Santos (2008) atribui a hegemonia do sistema tradicional como a
alternativa mais fácil e econômica, pois dispensa a mão de obra especializada para a
sua execução, bem como utilizava grande parte de materiais nacionais. Há também a
26
facilidade no transporte dos materiais que compõe o concreto armado (cimento, areia
e brita).
Contudo, segundo Rocha (2017), diante da crescente demanda e da
disponibilidade técnica de alternativas, o setor da construção civil brasileira tem se
mostrado aberto ao emprego de soluções industrializadas ou de sistemas construtivos
racionalizados, os quais são elementos primordiais para se incrementar e aprimorar o
desempenho das atividades construtivas. A adoção por parte das construtoras de uma
estratégia voltada a racionalização do processo construtivo constitui um ponto
fundamental para que o setor construtivo evolua de maneira mais competitiva.
12. DEMANDA POR ÁGUA NA CONSTRUÇÃO DE EDIFÍCIOS
27
Neto (2008) estima que o consumo diário por operário não alojado chega a 45
litros/dia, sem incluir a refeição. Com a refeição preparada na obra, o consumo passa
para 65 litros/dia.
28
industrializadas. Porém pode-se produzi-las no próprio canteiro de obras, em ambos
os casos é necessário a dosagem com água na obra. As estimativas para alguns usos
são representadas na tabela 3.
29
A água também é utilizada na limpeza de ferramentas, superfícies, pneus de
veículos, caminhões betoneiras, entre outros. Essa etapa é necessária em todos os
processos, do início ao fim da execução da edificação, quando não realizada, os
resíduos podem danificar as ferramentas e manchar ou danificar as superfícies.
Portanto, é um consumo variável, difícil de ser estimado. Sandroline e Franzoni
(2000), estimam que um caminhão betoneira de 9 m³, quando lavado, utiliza 700 a
1.300 litros de água.
30
16. MEDIDAS DE CONSERVAÇÃO
31
da água cinza após a remoção dos sólidos e pela coleta de água não potável de fontes
como água da chuva, lagos, rios e lagoas para uso na construção.
A diminuição do consumo e o reuso de recursos hídricos são ações que vem
sendo tomadas por algumas construtoras para a redução do consumo de água potável
nos canteiros de obras. A água utilizada nas pias é reutilizada nos mictórios e, depois
de decantada, a das betoneiras para a limpeza dos próprios equipamentos. A água
pluvial coletada é utilizada para irrigação de jardins e limpeza do piso. Outra iniciativa,
é a inserção de garrafas pet, cheias de areia, na caixa acoplada dos vasos sanitários
das obras, com a economia 1,2 litros de água a cada descarga.
Outra construtora, implantou um sistema de Lava Rodas, para minimizar a
poeira e a lama dispersada pelos caminhões nas vias públicas do entorno dos
empreendimentos. A água passa por um sistema de filtração e decantação e retorna
para a caixa d’água específica do sistema, podendo ser reutilizada para novas
lavagens de caminhões, na limpeza de pisos e garagens, na irrigação dos jardins,
entre outras finalidades. O percentual de reutilização desse processo é de 90%, o que
evita o consumo mensal de 23 m³ de água.
Os sistemas construtivos industrializados também surgem como alternativa
para a conservação dos recursos naturais, dentre eles a água, com baixos ou nenhum
consumo. O drywall, o light wood frame e o light steel frame, são exemplos desses
sistemas e podem receber financiamento da Caixa Econômica Federal, do Banco do
Brasil e de bancos credenciados no programa do Governo Federal “Minha Casa Minha
Vida” (GOMES; LACERDA, 2014).
32
17. UTILIZAÇÃO DA ÁGUA PLUVIAL NO BRASIL
33
Tabela 6: Teores máximos das substâncias químicas para água de amassamento.
34
fábricas de blocos de concreto não estrutural, em uma delas a água da chuva era
tratada e utilizada na confecção e hidratação dos blocos, enquanto que na outra não
havia esse aproveitamento. Os estudos foram concentrados apenas na fábrica A, e
os dados obtidos na fábrica B foram utilizados para fins comparativos. Com os dados
obtidos, constatou-se que a reutilização da água da chuva na produção de blocos de
concreto não estrutural é um processo eficaz e vantajoso, desde que haja um sistema
que elimine a primeira água e trate a água coletada. Essa medida, dependendo da do
clima e para a produção de aproximadamente 9.000 blocos, gera uma economia de
850 a 1700 litros de água/dia.
35
No Texas, Borger et al. (1993) estudou a resistência, tempo de pega,
trabalhabilidade e a resistência a sulfatos de argamassas produzidas com água de
lavagem de caminhões betoneiras adicionadas às 1, 2, 4, 8, 24 e 48 horas após terem
sido preparadas. As conclusões obtidas apontaram que a água de lavagem pode ser
utilizada na produção de concreto.
A idade da água de lavagem está diretamente ligada às resistências iniciais,
com aumento de até 20%, desde que com idades iguais ou inferiores a 8h. Tal
aumento, deu-se em razão da redução da relação água/cimento efetiva e no aumento
do teor do cimento na mistura. Em geral, a resistência ao sulfato foi aumentada, a
permeabilidade foi reduzida devido ao aumento do teor de cimento na mistura, os
tempos de pega foram acelerados ou retardados em até 25%, sendo menor para
águas com idades de até 8h devido ao maior teor de cimento, após esse tempo as
partículas se assentaram e passaram a apresentar consistência normal.
Na Itália, Sandrolini e Franzoni (2000) também investigaram o efeito da água
de lavagem de caminhões betoneiras no desempenho do concreto. As amostras foram
coletadas com idade de 1 hora e apresentaram um teor de sólidos de até 40 g/l. A
resistência à compressão das amostras de argamassas e concretos em idades iniciais
foram superiores a 96%, sendo superior ao mínimo exigido pela norma (90%). A
trabalhabilidade foi reduzida devido à adição de finos e a redução do teor real de água,
a permeabilidade também foi reduzida.
No Iraque, Ismail e Al-Hashmi (2010) reutilizaram águas residuais de resina na
produção de concreto. O estudo mostra que as misturas de concreto podem ser
preparadas com sucesso usando água residual de acetato de polivinila (PVAW). O
efeito de diferentes proporções PVAW/C na trabalhabilidade e nas propriedades
endurecidas de misturas de concreto foi estudado, bem como o teste de lixiviação de
resíduos. Com base nos resultados obtidos, verificou-se que:
Os valores de redução do slump das misturas de concreto PVAW foram
ligeiramente superiores com o aumento dos índices PVAW/C, no entanto, todos os
valores foram menores do que aos do slump das amostras de controle, mas ainda são
viáveis. Os valores de força foram ligeiramente reduzidos com o aumento das razões
PVAW/C, mas todos os valores foram próximos ou ligeiramente superiores aos das
36
amostras de controle. Os valores de densidade rígida foram aumentados com o
aumento das razões PVAW/C. O teste de lixiviação de materiais residuais não
evidenciou lixiviação dos constituintes tóxicos do PVAW, representados
principalmente pela medida de Demanda Química de Oxigênio (DQO).
Na Jordânia, Ghrair et al. (2016) avaliaram o potencial da Água Cinza Tratata
(TGW) e Bruta (RGW) na produção de concreto e argamassa. Os resultados da
qualidade da água cinza e os limites permitidos de mistura de água para concreto
mostram que o TGW é adequado para produção de concreto. No entanto, a RGW
deve ser pré-tratado para reduzir o teor de microrganismos antes de entrar em contato
direto com os seres humanos.
Os resultados para argamassas feitas com TGW no tempo de cura 7, 28, 120
e 200 dias não demonstraram nenhum efeito negativo sobre a resistência à
compressão da argamassa. No entanto, o uso de RGW levou a uma redução na
resistência à compressão de até 10%. Apesar da relativa redução na resistência à
compressão, há um desenvolvimento de resistência lenta, mas continuamente até 200
dias.
A resistência à compressão do concreto feita com TGW aos 28, 120 e 200 dias
de cura não é afetada negativamente quando comparada ao concreto feito com água
destilada. No entanto, o concreto que fez com RGW mostra redução na resistência à
compressão de até 13,9% em 120 dias.
O efeito da água cinzenta como mistura de água na absorção de água e
durabilidade do concreto não é significativo. A diluição de RGW em 50% de água
destilada leva a um aumento significativo da resistência à compressão do concreto
quando comparado ao uso de RGW não diluído. Dessa forma, o TGW e o RGW são
alternativas potenciais para a água doce na indústria de produção de concreto.
Na Índia, Razak e Babu (2015) também avaliaram a trabalhabilidade e o
comportamento de resistência à ruptura e à flexão do concreto produzido com água
cinza e concreto convencional em estado fresco e endurecido.
Ao comparar os resultados das amostras produzidas com água cinza, de
tratamento primário e secundário, com as amostras de água potável, houve uma
diminuição na trabalhabilidade do concreto produzido com água tratada primária
37
enquanto a água tratada secundária apresentou melhor trabalhabilidade. O valor de
resistência à compressão não apresentou diferença significativa entre os concretos
produzidos com água tratada primária, água tratada e água potável. A resistência à
tração do concreto feito com água tratada com esgoto foi menor do que a da água
potável.
Concretos feitos com água tratada com esgoto apresentaram boas
propriedades frescas e endurecidas. O concreto feito com água tratada com esgoto é
mais adequado para concreto simples, pois há possibilidade de corrosão da armadura
devido às impurezas orgânicas e inorgânicas presentes na água tratada em esgoto.
38
19. REFERÊNCIAS
BRITO, Luiza Teixeira de Lima; SILVA, Aderaldo de Souza; PORTO, Everaldo Rocha.
Disponibilidade de água e a gestão dos recursos hídricos. Embrapa SemiÁrido,
Petrolina, cap. 1, p. 15-32, nov. 2007.
39
CÂMARA DOS DEPUTADOS. Projeto de Lei Nº 1.750/2015. Disponível em: . Acesso
em: 13 fev. 2018.
CAMPOS, Patrícia Farrielo de. Light Steel Framing: Uso em construções habitacionais
empregando a modelagem virtual como processo de projeto e planejamento. 2014.
196 f. Dissertação (mestrado) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade de São Paulo, 2014.
FERREIRA, Ivanir. USP cria programa para gerir uso de água e energia elétrica.
FLAVIO, Isabella Barbosa; ESASIKA, Tatiana Sayuri Higuchi; SANTOS, Yolanda
Calderaro de Almeida. Gestão da demanda de água em canteiros de obras de
edifícios. São Paulo, 2015. 105p.Trabalho de Formatura – Escola Politécnica da
Universidade de São Paulo, EPUSP.
Sites
https://www.anicer.com.br/revista-anicer/revista-95/crise-hidrica/
http://repositorio.roca.utfpr.edu.br/jspui/bitstream/1/12573/1/consumoaguaconstrucao
civil.pdf
40