Uso Racional Da Água

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USO RACIONAL DA ÁGUA

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SUMÁRIO
NOSSA HISTÓRIA ...................................................................................................... 3
1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 4
2. A GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS E A CONSTRUÇÃO CIVIL .................. 7
2.1 ÁGUA COMO RECURSO NATURAL ................................................................... 7

2.2 DISPONIBILIDADE HÍDRICA NO PLANETA TERRA ........................................... 7

3. DISPONIBILIDADE HÍDRICA NO BRASIL.............................................................. 9


4. USO E CONSUMO DOS RECURSOS HÍDRICOS ............................................... 11
5. GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS NAS EDIFICAÇÕES ............................. 13
6. PROGRAMAS DE CONSERVAÇÃO EM INSTITUIÇÕES DE ENSINO ............... 13
7. PROGRAMAS DE CONSERVAÇÃO EM ESFERAS FEDERAIS E MUNICIPAIS 16
8. FONTES ALTERNATIVAS .................................................................................... 18
9. A INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL ............................................................. 22
10. PANORAMA DO SETOR CONSTRUTIVO BRASILEIRO ................................... 22
11. EDIFÍCIOS DE MÚLTIPLOS PAVIMENTOS NO BRASIL ................................... 25
12. DEMANDA POR ÁGUA NA CONSTRUÇÃO DE EDIFÍCIOS ............................. 27
13. USO E CONSUMO HUMANO ............................................................................. 27
14. USO E CONSUMO NA EXECUÇÃO DO EDIFÍCIO ............................................ 28
15. GESTÃO DA ÁGUA NO CANTEIRO DE OBRAS ............................................... 30
16. MEDIDAS DE CONSERVAÇÃO ......................................................................... 31
17. UTILIZAÇÃO DA ÁGUA PLUVIAL NO BRASIL .................................................. 33
18. REUSO INTERNACIONAL DE ÁGUA NA CONSTRUÇÃO CIVIL ...................... 35
19. REFERÊNCIAS ................................................................................................... 39

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NOSSA HISTÓRIA

A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em


atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com
isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível
superior.

A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de


conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no
desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de
promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem
patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras
normas de comunicação.

A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e


eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética.
Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de
cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do
serviço oferecido.

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1. INTRODUÇÃO

A estiagem em algumas regiões do país, com chuvas abaixo das médias


históricas, tem afetado os reservatórios, que passam a operar muito aquém de suas
capacidades máximas. “Na região nordeste, essa situação se repete pelo quarto ano
consecutivo, e no sudeste, pela primeira vez, foi necessário recorrer ao chamado
volume morto, água que fica localizada abaixo dos níveis operacionais, em
reservatórios do rio Paraíba do Sul e do Sistema Cantareira”, informa o Balanço das
Águas, publicação anual da Agência Nacional de Água (ANA). Em paralelo as
modificações climáticas, o uso não eficiente da água, entre outras questões, tem sua
parcela de responsabilidade na escassez de água. O colapso dos reservatórios de
água de São Paulo intensificou o debate sobre a questão da sustentabilidade na
construção civil.
A crise hídrica lança luz sobre três aspectos: a redução da demanda por água,
o controle do consumo e o uso de fontes alternativas. A boa gestão da água é
recomendada para nortear toda cadeia produtiva do setor de construção, desde a
extração da matéria-prima e fabricação de um produto, passando pela fase do projeto
imobiliário, a execução da obra, até o produto final, o que minimiza os impactos
ambientais, amplia a competitividade econômica das empresas e dá respostas às
demandas da sociedade.
Especialistas apontam que o caminho está na redução do consumo de água
potável, sem prejuízo do desempenho, na gestão da demanda, na redução do
desperdício e das perdas e em minimizar a geração de efluentes. Além de
investimentos em desenvolvimento tecnológico e na busca de soluções para aumentar
a disponibilidade hídrica, como, por exemplo, a utilização da água de reúso. Viabilizar
edificações em que o usuário possa ter uma prática econômica do consumo, empregar
materiais e sistemas construtivos mais sustentáveis, adotar medidas de consumo
consciente nos canteiros de obras e utilizar fontes alternativas de água são algumas
das boas práticas que garantem que a água seja utilizada de forma adequada pela
construção civil.

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O Manual de Conservação e Reúso da Água em Edificações, elaborado pela
Agência Nacional de Águas (ANA), Federação das Indústrias do Estado de São Paulo
(FIESP) e Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo
(SindusCon-SP), apresenta alguns passos para a conservação da água pelo setor.
Nas edificações existentes, a partir da implantação de um sistema de medição e após
um período de monitoramento, deve-se realizar a auditoria do consumo. Esta etapa
apontará o histórico de consumo e um diagnóstico preliminar, revelará as
características físicas e funcionais do sistema hidráulico e as atividades desenvolvidas
no edifício, irá detectar os desperdícios, identificando se existem vazamentos ou
válvulas desreguladas e levantará os hábitos de consumo dos usuários.
Em seguida, a publicação recomenda um plano de intervenção para corrigir os
vazamentos detectados, reduzir as perdas, realizar campanhas de sensibilização e
educativas e instalar tecnologias economizadoras nos pontos de consumo, como o
uso de descargas inteligentes, ou seja, com duplo acionamento que é usado de acordo
com o volume de água necessário; a colocação de arejador na torneira, que diminui o
fluxo, mas mantém a sensação de volume e direciona o jato; e até mesmo a adoção
de torneiras automáticas, cujo sensor capta a presença do usuário e libera e encerra
a vazão.
Já nas novas construções, com base nos dados de entrada que caracterizam
a edificação, o Manual recomenda que se inicie com uma etapa de avaliação técnica
preliminar, na qual se analisa a demanda e oferta de água para proposição de
soluções viáveis técnicas e economicamente. Lembrando que devem ser verificadas
cuidadosamente as normas técnicas e legislações pertinentes. Edifícios já estão
sendo planejados com sistemas de aproveitamento e reúso que permitem a economia
dos recursos hídricos. Em fevereiro, o Boletim de Tendência da Construção Civil, uma
publicação do Sebrae Inteligência Setorial, apresentou este cenário como uma
oportunidade de negócio para o setor.
A água, quando tratada, pode ser utilizada na lavagem de calçadas e garagem,
para regar o jardim, na descarga em bacias sanitárias e para refrigeração e sistema
de ar condicionado, e os sistemas de aproveitamento e reúso podem atender tanto os
prédios residenciais quanto os comerciais. Outra recomendação é ao instalar sistema

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de reúso, ter cuidado para que as tubulações e as torneiras estejam separadas das
de água potável, para evitar contaminação e problemas de saúde pública.
Algumas das fontes alternativas de captação de água são: a água cinza –
esgoto gerado pelo uso de máquinas de lavar roupa, banheiras, chuveiros e lavatórios;
a água de drenagem de terrenos – resultante do processo de drenagem de uma área
para a construção; e a água pluvial – água que provém diretamente da chuva, captada
após o escoamento por áreas de cobertura, telhados ou grandes superfícies
impermeáveis.
A água doce é um recurso natural limitado, essencial para todos os setores da
sociedade, principalmente para o bem-estar e sobrevivência de grande parcela das
espécies que habitam a Terra. Segundo WWAP (2015), a água está no centro do
desenvolvimento sustentável.
As preocupações sobre sua escassez são crescentes, desde a década de
1980, com a expansão da produção de bens e o crescimento demográfico, passouse
a demandar excessivos volumes desse recurso. Como reflexo várias ações vêm
sendo tomadas para sua conservação, no Brasil e no mundo, e tem envolvido os
meios técnico e acadêmico, empresas e prestadores de serviços com grande
abrangência (TAMAKI; GONÇALVES, 2004).
Entre as diversas possibilidades de uso, a água é necessária para a produção
de alimentos, higiene pessoal, lavagem de roupas e utensílios, manutenção e limpeza
das habitações, produção de energia elétrica, na limpeza das cidades, na construção
civil e no combate a incêndios.
Na construção civil, representa um dos componentes mais importantes na
produção de concretos e argamassas, imprescindível na umidificação do solo e na
compactação de aterros. É utilizada também como ferramenta nos trabalhos de
limpeza, resfriamento e cura do concreto (NETO, 2008).

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2. A GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS E A CONSTRUÇÃO CIVIL

2.1 Água Como Recurso Natural

A água forma os oceanos, os mares, os lagos, os rios e as águas subterrâneas


encontradas nas camadas superiores da crosta terrestre e da cobertura do solo, sendo
a substância mais difundida no ambiente natural. A sua mudança constante de fase
ocorre de maneira permanente, isso dificulta a avaliação do armazenamento total na
Terra de forma confiável (SHIKLOMANOV,1998). Nesse item, aborda-se a
disponibilidade da água no planeta e no Brasil, seus múltiplos usos e consumos.

2.2 Disponibilidade Hídrica no Planeta Terra

Shiklomanov (1998) estima que a quantidade da água na terra seja cerca de


1.386 bilhões de km³, dessa porção, 97,5% são águas salgadas e apenas 2,5% são
doces. Dos 2,5% da água doce, 68,7% está na forma de gelo e cobertura de neve,
29,9% existem como águas subterrâneas, 0,90% respondem pela umidade do solo e
pela água dos pântanos e apenas 0,26% estão concentradas em lagos, reservatórios
e sistemas fluviais onde são mais facilmente acessíveis. Na figura 1 ilustra-se a
distribuição de água na Terra.

A desigualdade na distribuição e o crescimento acelerado da população criam


cada vez mais problemas de disponibilidade e acessibilidade dos recursos hídricos.

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Outras circunstâncias como: a seca, perdas na distribuição, danos às infraestruturas
hídricas, entre outros, contribuem para a crescente escassez de água doce.
A captação de água doce tem aumentado cerca de 1% ao ano mundialmente,
principalmente devido à crescente demanda dos países em desenvolvimento (WWAP,
2016a). As previsões são que até 2030 o planeta enfrentará um déficit de 40%, já para
2050, com a população mundial estimada em 9,3 bilhões de habitantes, haverá um
aumento da demanda hídrica de 55%, porém, os recursos hídricos não se
multiplicarão (WWAP, 2015). A distribuição mundial de água doce é apresentada na
tabela 1, na qual é possível verificar que além de haver pouca água doce disponível,
a mesma encontra-se mal distribuída entre os continentes

Cerca de 500 milhões de pessoas vivem em áreas onde o consumo de água


excede duas vezes os recursos hídricos locais. Atualmente 2/3 da população mundial
vivem em áreas que experimentam escassez pelo menos uma vez por ano, sendo que
50% dessa população encontram-se na China e na Índia (WWAP, 2017). Na figura 2,
demonstra-se o risco da falta de água no mundo em diferentes níveis de escassez.

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Mesmo em diferentes níveis de riscos, é visível que a escassez de água é um
problema que afeta todos os continentes. Até mesmo os países com recursos hídricos
abundantes, seja por efeitos climáticos ou por dificuldades logísticas para o
fornecimento de água.

3. DISPONIBILIDADE HÍDRICA NO BRASIL

O Brasil possui a vantagem de pertencer ao grupo de países ricos e abundantes


em água doce, detém 13% dos recursos hídricos mundiais, entretanto, as regiões com
menor população apresentam disponibilidade hídrica muito superior às regiões com
grandes contingentes. A Região Hidrográfica Amazônica representa 81% da água
doce brasileira, onde encontra-se 5% do contingente populacional e a menor
demanda. Nas regiões hidrográficas banhadas pelo Oceano Atlântico estão
disponíveis apenas 2,7% dos recursos hídricos que concentram 45,5% da população
do país (ANA, 2017). No mapa da figura 3, ilustra-se o balanço entre disponibilidade
hídrica e demanda de água.

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Fica visível que essa vantagem quantitativa não representa uma segurança de
abastecimento à população, uma vez que essa distribuição é bastante desigual. Além
da má distribuição dos recursos hídricos nacionais, outro fator preocupante é a
ineficiência dos serviços de abastecimento de água e a seca.
Os dados do SNIS (2017) demonstram que o índice de perdas na distribuição
dos serviços de abastecimento de água, no ano de 2015, foi de 37%. A região Norte
apresenta a maior perda entre estados com 46,3%, o índice variou entre 62,6%
(Maranhão) e 30,1% (Goiás). Esses dados contabilizam toda a água fornecida ao
consumidor, mas não medida, além de vazamentos nos dutos de distribuição.
A seca afetou a Região Metropolitana de São Paulo, mais recentemente, nos
verões de 2013-2014 e 2014-2015, porém, a Região Sudeste do Brasil já
experimentou secas sazonais intensas em 1953, 1971 e 2001. Outras regiões ou
estados do Brasil, como o Nordeste, vivenciam esse fenômeno. Essa crise hídrica é
resultado da combinação de baixos índices pluviométricos, grande crescimento da
demanda de água, ausência de planejamento adequado para o gerenciamento dos

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recursos hídricos e da ausência de consciência coletiva dos consumidores brasileiros
para o uso racional da água (MARENGO et al., 2015).

4. USO E CONSUMO DOS RECURSOS HÍDRICOS

A água funciona como fator de desenvolvimento econômico, é utilizada em


diversas atividades, de várias maneiras, a fim de atender inúmeras necessidades,
sendo que a mais nobre e primordial é a dessedentação humana (TUNDISI, 2003).
Portanto, sua demanda global é fortemente influenciada pelo crescimento da
população, pela urbanização, pelas políticas de segurança alimentar e energética, e
pelos processos macroeconômicos (WWAP, 2015).
O uso dos recursos hídricos é dividido por Mota (1997) em consuntivos e não
consuntivos. O abastecimento doméstico e industrial, irrigação e a dessedentação de
animais são considerados consuntivos, a preservação da flora e da fauna, recreação
e lazer, pesca, harmonia paisagística, geração de energia elétrica, navegação e
diluição de despejos são considerados não consuntivos. O maior consumo de água
fica por conta dos usos consuntivos.
No consumo doméstico, além da ingestão, a água é utilizada para o preparo de
alimentos, lavagem de utensílios, higiene corporal, lavagem de roupas, afastamento
de dejetos e higiene do ambiente. Estima-se que cada indivíduo necessitaria de cerca
de 1 m³ de água, por ano, para dessedentação, e adicionais 100 m³ para propósitos
domésticos (MOTA, 1997).
Nas indústrias, grandes quantidades de água são utilizadas como matériaprima
na remoção de impurezas, na geração de vapor e na refrigeração. O setor agrícola é
responsável por 70% da extração de água para a irrigação em todo o mundo (WWAP,
2016b).
Seguido do setor agrícola, os principais usos são o industrial e abastecimento
doméstico. No gráfico da figura 4, ilustra-se de maneira mais detalhada as
porcentagens de retirada global de água.

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Estima-se que até 2050 esses consumos aumentarão de maneira significativa.
A agricultura precisará produzir globalmente 60% a mais de alimentos, e 100% a mais
nos países em desenvolvimento. Para a indústria manufatureira prevê-se um aumento
de 400% da demanda global de água, afetando todos os outros setores, com a maior
parte desse aumento em economias emergentes e em países em desenvolvimento
(WWAP, 2015).
No Brasil, segundo ANA (2016), a vazão efetivamente consumida foi de
1.209,64 m³/s em 2015. Na figura 5, demonstra-se a distribuição de consumo por
setor.

Da vazão consumida, o setor de irrigação foi responsável pela maior parcela


de retirada, seguido das vazões para fins de abastecimento humano urbano,
industrial, animal e abastecimento humano rural.

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5. GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS NAS EDIFICAÇÕES

A gestão dos recursos hídricos nas edificações consiste no planejamento de


ações para manter os indicadores de consumo em níveis adequados, seja na forma
de eliminação das perdas físicas, na utilização de novas tecnologias ou na revisão de
um processo que usa água (FLAVIO et al., 2015). Nesse item, aborda-se os
programas de gestão da água em instituições de ensino e em esferas federais e
municipais, além de apresentar fontes alternativas para a conservação da água
potável.

6. PROGRAMAS DE CONSERVAÇÃO EM INSTITUIÇÕES DE ENSINO

O Programa de Uso Racional de Água da Universidade de São Paulo (PURA-


USP) foi criado em 1995 através do convênio entre a Escola Politécnica da USP,
Sabesp e IPT. Em 1997 iniciaram-se as ações para a implantação de um estudo de
caso no campus da USP. Segundo Tamaki e Gonçalves (2004) o programa tem como
objetivos principais:

 Reduzir o consumo de água nas Unidades da USP, através de ações de caráter


tecnológico e comportamental, e manter o perfil de consumo reduzido ao longo do
tempo;
 Implantar um sistema estruturado de gestão da demanda da água;
 Desenvolver metodologia a ser aplicada futuramente em outros locais.

Para isso, criou-se uma estrutura de trabalho envolvendo os meios técnicos e


administrativos em diferentes níveis da Universidade, instituindo-se diversas
comissões de trabalho. Posteriormente, as ações foram organizadas em etapas
subseqüentes: diagnóstico geral; redução de perdas físicas; redução de consumo nos
equipamentos; caracterização de hábitos e racionalização das atividades que
consomem água; e campanhas educativas e treinamentos.

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Ainda segundo Tamaki e Gonçalves (2004), o programa foi estruturado em seis
macro programas integrados, a fim de abranger a documentação técnica, laboratórios,
novas tecnologias, estudos em edifícios residenciais, programas de qualidade e
estudos de caso em diferentes tipos de edifícios. Dessa forma, utiliza-se a quantidade
mínima de água sem comprometer as atividades consumidoras (CBCS et al., 2014).
Com resultados expressivos, o PURA-USP tornou-se exemplo de programa
permanente e efetivo de gestão de demanda da água. O consumo de água em 1998
era de 137.881 m³/mês e passou para 78.821 m³/mês em 2013. Uma redução de 43%,
mesmo com o crescimento da população do campus em 13,3% e da área construída
em 16,3% 9 (CBCS et al., 2014).
Recentemente houve a unificação do PURA com o PURE (Programa
Permanente para o Uso Eficiente de Energia), a fim de otimizar equipes e ter ações
integradas dentro da instituição. Tal feito fez ressurgir de forma remodelada o
Programa Permanente para o Uso Eficiente dos Recursos Hídricos e Energéticos
(PUERHE), que prevê um conjunto de medidas para incentivar e promover a gestão
do uso da água e da energia elétrica em todas as instalações da Universidade
(FERREIRA, 2015).
O Programa de Conservação de Água da Universidade de Campinas
(Próágua/Unicamp) foi desenvolvido pela Faculdade de Engenharia Civil – FEC e teve
início em 1999. Tem como objetivo geral a implantação de medidas que induzam ao
uso racional da água nos edifícios da Cidade Universitária, inclusive por meio da
conscientização dos usuários sobre a importância de sua conservação (NACAGAWA,
2009). O programa divide-se em duas fases. A primeira contempla o levantamento
cadastral, a detecção e conserto de vazamentos, a implantação de telemedição, a
instalação de componentes economizadores e a avaliação do desempenho pelos
usuários. A segunda fase abrange a análise de tecnologias economizadoras para usos
específicos e implantação de sistema de gestão dos sistemas prediais no campus.
O Programa de Qualidade e Produtividade dos Sistemas de Medição
Individualizada de Água (ProAcqua) foi oficializado através do convênio entre a
Sabesp e Proacqua em 2007, em função da necessidade da medição individualizada
para o consumo racional de água. Tem como princípios a confiabilidade na medição;

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segurança ao condomínio; qualidade, justiça social; e preservação do meio ambiente
(PROACQUA, 2018). Segundo Oliveira et al. (2008), a medição individualizada auxilia
na conscientização da importância em gerenciar o consumo de água, já a medição
coletiva, presente na maioria dos dos edifícios multifamiliares brasileiros, propicia
desperdício de água e cobrança injusta em função do rateio em partes iguais do
consumo mensal entre os condôminos.
O ÁGUAPURA teve início em 2001 na Universidade Federal da Bahia (UFBA).
Após a elaboração de um sistema informatizado, em 2004, passou a ser denominado
ÁGUAPURA Via Net, que permite a inserção dos dados de consumo obtidas nas
unidades da UFBA. Tem como principal objetivo reduzir o consumo de água nas
unidades da Universidade através de ações de minimização das perdas e
desperdícios, manutenção e aprimoramento da redução obtida. Além de difundir
conceitos sobre o uso racional da água, contribuir para a implantação de Tecnologias
Limpas, estendendo-se entre as instituições e pessoas o hábito de consumir água de
forma racional. A reestruturação e a revisão do programa inseriram novas ações, que
permitiram a inclusão de representantes nas unidades para realizarem a inserção das
leituras dos hidrômetros (NACAGAWA, 2009).
O ÁGUAPURA Via Net permite que todos os usuários de um edifício possam
acompanhar o seu consumo de água diariamente. Assim, podem identificar os
eventos que provocam desperdícios e perdas. O conhecimento do consumo é
essencial para o desenvolvimento sustentável, que constitui num importante fator para
a racionalização do seu uso, com ganhos ambientais e econômicos. Desde o início do
programa o consumo na Universidade foi reduzido de 42 para 18L/pessoa/dia
(AGUAPURA, 2018).

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7. PROGRAMAS DE CONSERVAÇÃO EM ESFERAS FEDERAIS E
MUNICIPAIS

Diante do cenário cada dia mais preocupante de escassez de água, que deixou
de ser uma questão localizada ao alcançar grandes áreas do território nacional, o tema
torna-se passível de ser legislado por lei (PROJETO DE LEI, 2015).
O Programa Nacional de Combate ao Desperdício de Água (PNCDA) foi
instituído pela Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental do Ministério das
Cidades no ano 1997 em esfera federal, e tem por objetivo geral, promover o uso
racional da água de abastecimento público nas cidades brasileiras. Tem por objetivos
específicos definir e implementar um conjunto de ações e instrumentos tecnológicos,
normativos, econômicos e institucionais para a redução dos volumes demandados nas
áreas urbanas (PMSS, 2015).
Segundo Nakagawa (2009) as medidas consideradas no PNDCA são:
campanhas de conscientização; levantamento do sistema hidráulico do edifício e dos
procedimentos dos usuários relacionados ao uso da água; diagnóstico do sistema,
sobretudo vazamentos; plano de intervenção, considerando campanhas educativas,
manutenção do sistema, alteração de procedimentos de uso da água, substituição de
componentes convencionais por eficientes, reaproveitamento da água; avaliação
econômica; avaliação do impacto da redução.
O Projeto de Lei n° 1.750 de 2015, dispõe sobre a construção de sistemas para
captação e armazenamento de água da chuva nas edificações residenciais,
comerciais e industriais, cuja dimensões a deverão ser definidas pelo poder público
municipal, e impõe como obrigação a instalação de sistemas para captação e
armazenamento de água da chuva nas edificações com área superior a 200m². As
edificações já existentes terão o prazo de três anos para se adequarem ao disposto
na Lei.
A Prefeitura Municipal de Curitiba-PR criou o Programa de Conservação e Uso
Racional da Água nas Edificações (PURAE) por meio da Lei 10.785 de 2003. O
Programa tem como objetivo instituir medidas que induzam à conservação, uso

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racional e utilização de fontes alternativas para captação de água nas novas
edificações, bem como a conscientização dos usuários sobre a importância da
conservação da água.
Os aparelhos e dispositivos economizadores de água, tais como: bacias
sanitárias de volume reduzido de descarga; chuveiros e lavatórios de volumes fixos
de descarga; e torneiras dotadas de arejadores, são utilizados nas ações de uso
racional e conservação da água. Além disso, nas edificações em condomínio devem
ser instalados hidrômetros para medição individualizada do volume de água gasto por
unidade.
Para combater o desperdício quantitativo de água, tomou-se como medidas
ações voltadas à conscientização da população através de campanhas educativas,
abordagem do tema nas aulas da Rede Pública Municipal, palestras, entre outras, a
fim de abordar sobre o uso abusivo da água, métodos de conservação e uso racional.
O não cumprimento da lei implica na negativa de concessão do alvará de construção
para as novas edificações.
Em 2006, a Lei foi regulamentada por meio do decreto N° 293, que estabeleceu
a previsão de implantação de mecanismos de captação das águas pluviais no projeto
de instalações hidráulicas para o licenciamento das construções no Município. Tal
implantação é de responsabilidade do proprietário e do profissional responsável pela
execução da obra, devendo a mesma ser concluída antes de ocorrer a habitação da
edificação. Além disso, nos edifícios de habitação coletiva, com área total construída
igual ou superior a 250m² por unidade, e nas construções de habitações unifamiliares
em série e conjuntos habitacionais devem ser instalados hidrômetros para medição
individualizada do volume de água. O decreto ainda aborda os documentos
necessários para a aprovação dos projetos e o método de dimensionamento das
cisternas, que incluem edificações residências, industriais e comerciais.
Seguindo as principais premissas do PURAE, diversas Câmaras Municipais
também instituíram programas de conservação e racionalização da água através de
Leis, entre elas:
 São Paulo-SP, Lei nº 14.018 de 2005;
 Campinas-SP, Lei n° 12.474 de 2006;

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 Cascavel-PR, Lei n° 4.631 de 2007;
 Maringá-PR, Lei complementar n° 685 de 2007.

Além das novas edificações, nos municípios de Campinas e Cascavel, os


demais imóveis tiveram que se adequar num prazo de 10 anos. Em Cascavel, os
imóveis enquadrados na Lei recebem desconto no Imposto Territorial e Predial Urbano
(IPTU).

8. FONTES ALTERNATIVAS

A utilização de água não proveniente dos tradicionais mananciais representa a


segunda linha de ação na conservação de água, mesmo em países que não sofrem
com a escassez, ainda pouco utilizadas no Brasil. Trata-se de águas não inseridas no
sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos, tais como água do solo,
águas subterrâneas, água de chuva e reúso das águas (HAFNER, 2007).
Com volumes expressivos e potencial de utilização em várias atividades,
principalmente nas não potáveis, a captação de água de chuva e o reúso de água são
as práticas mais promissoras para a conservação em edificações. As águas de fontes
não convencionais são, normalmente, aceitas e utilizadas em usos como: irrigação;
sistemas de ar condicionado; resfriamento de caldeiras; processos industriais; recarga
de aqüíferos; rega de jardins, parques e campos esportivos; lavagem de ruas, praças,
calçadas, pisos e veículos; descarga de bacias sanitárias; e tantas outras atividades
que não necessitam de água de excelente qualidade (HAFNER, 2007).
O aproveitamento de água pluvial é uma prática antiga, cujas técnicas de
captação foram aprimoradas e expandidas para as indústrias, instituições de ensino,
estabelecimentos comercias e residenciais. Sua utilização nas edificações
compreende atividades que não requeiram o uso de água tratada como: rega de
jardins e hortas; lavagem de roupa; lavagem de veículos; e lavagem de vidros,
calçadas e pisos. Na figura 6, ilustra-se o esquema de captação de águas pluviais.

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Esses sistemas de aproveitamento, em sua maioria, são simples e necessitam
de baixos investimentos, e quando planejados antes da execução da edificação
tornam-se menores ainda. Para sua implantação deve-se determinar a precipitação
média local, área de coleta, escoamento superficial, sistema de tratamento,
caracterizar a qualidade da água e dos usos previstos e realizar os projetos dos
reservatórios de descarte e armazenamento.
A qualidade da água pluvial coletada de um telhado é afetada pelas condições
ambientais do entorno (proximidade de áreas industriais, rodovias, presença de
pássaros ou roedores); condições meteorológicas (temperatura, períodos de seca,
intensidade da chuva); material da cobertura do telhado (concreto, cerâmico, metálico,
verde); condições de coleta e armazenamento (nível de sujeira, tempo de
armazenamento, material do reservatório); existência de tratamento no processo de

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captação (dispositivo de descarte, filtros para folhas, processo de desinfecção)
(NETO, 2012).
O tratamento dependerá das características da água coletada e de seu uso
previsto. Em atividades não potáveis, como a limpeza de pisos e a rega de jardins,
somente o descarte inicial da chuva e os filtros são suficientes, mas para a utilização
em descargas pode ser necessário um tratamento primário. Os reservatórios de
armazenamento devem ser protegidos do calor e da luz para evitar a proliferação de
bactérias e algas. (HAFNER, 2007).
Além de poupar o consumo de água potável, a coleta e o aproveitamento das
águas pluviais promovem a redução dos escoamentos superficiais, com consequente
redução da carga nos sistemas de coleta de águas pluviais e amortecimento dos picos
de enchentes.
Ainda segundo Hafner (2007), o reaproveitamento de águas cinzas é o mais
recomendável para a utilização interna nas edificações, por possuirem qualidade
superior aos esgotos comuns. As águas cinzas, são os efluentes provenientes do uso
de chuveiros, lavatórios, tanques e máquinas de lavar roupas, exclui-se os esgotos de
cozinha e as águas negras, que são os efluentes das descargas dos vasos sanitários.
Assim, as águas cinzas representam uma expressiva parcela, mais de 50% do
consumo médio diário de uma residência, o que reforça a potencialidade do seu uso.
As águas cinzas podem ser reaproveitadas com ou sem tratamento. Nas
edificações é utilizada sem tratamento para a irrigação de jardins, sem qualquer
contato da água com pessoas, através de sistemas de irrigação enterrados. Para fins
de descarga de bacias sanitárias e lavagem de pisos e automóveis, necessita-se de
tratamento.
Os sistemas de tratamento e distribuição das águas cinzas são mais
complexos. A água é recolhida separadamente dos esgotos e encaminhadas para
estações de tratamento para atender os padrões de qualidade aceitáveis, passam por
filtros, processos biológicos e desinfecção. Após o tratamento, é distribuída por redes
independentes até os pontos de utilização. O sistema exige dupla tubulação para o
abastecimento tanto dentro das edificações como fora delas, com conexões às

20
estações de tratamento, além da tubulação dupla para coleta do esgoto e das águas
cinzas. Na figura 7, ilustra-se o esquema de captação de águas cinzas.

Os principais elementos associados ao projeto de sistemas de reúso de águas


cinzas tratadas são: pontos de usos e pontos de coleta; determinação de vazões
disponíveis; dimensionamento do sistema de coleta e transporte das águas cinzas
brutas; determinação do volume de água a ser armazenado; estabelecimento dos
usos das águas cinzas tratadas; determinação dos parâmetros de qualidade da água
em função dos usos estabelecidos; tratamento da água; e dimensionamento do
sistema de distribuição de água tratada aos pontos de consumo. Portanto, o
dimensionamento do sistema será fundamentado por duas vazões distintas, a de água
cinza bruta (passíveis de serem aproveitados) e a de água cinza tratada (demanda de
água de reuso para as atividades estabelecidas).

21
9. A INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL

A indústria da construção civil agrega um conjunto de atividades com grande


importância para o desenvolvimento econômico, social e ambiental. Na mesma
proporção que a população cresce, aumenta-se também os serviços de construção,
como conseqüência, as interações com o ambiente natural (MATEUS, 2009). Nesse
item, aborda-se as peculiaridades da construção civil e as características construtivas
dos edifícios de múltiplos pavimentos no Brasil.

10. PANORAMA DO SETOR CONSTRUTIVO BRASILEIRO

O setor da construção civil é responsável pela criação de produtos únicos e não


seriados, apresenta grande inércia às alterações, falta de capacitação técnica, dentre
outros. Produz grandes volumes de resíduos derivados dos processos de construção
e demolição, utiliza grande parte dos recursos renováveis e não renováveis (ARAÚJO,
2002). Sua cadeia produtiva tem uma enorme contribuição para a deterioração
ambiental, como salienta Teixeira (2010) ao listar algumas atividades da construção
civil que mais causam impactos.

 Geração de elevadas quantidades de resíduos de construção e demolição, com


impactos no ambiente urbano e nas finanças municipais;
 Geração de grandes quantidades de poeira e ruído nos canteiros de obras;
 Diminuição da permeabilidade do solo, mudando o regime de drenagem;
 Extração de madeira ilegal, que compromete a preservação das florestas e
representa séria ameaça ao equilíbrio ecossistêmico;
 Contribuição para a poluição, inclusive na liberação de gases do efeito estufa,
como CO2;

22
 Desperdícios, em média 56% de cimento, 44% de areia e 30% de gesso, 27%
dos condutores e 15% dos tubos de PVC e eletrodutos;
 Extração de grandes volumes de recursos naturais. Até 75% são consumidos
pela construção e manutenção da infraestrutura, sendo a cadeia produtiva a maior
consumidora.

Dentre os recursos naturais, a água incorporada na construção civil inclui a


extração e processamento de matérias-primas, a fabricação de materiais e produtos
de construção e a construção em si (CRAWFORD; TRELOAR, 2005). Segundo
Pinheiro (2002), a parcela de consumo de água nos países industrializados para uso
na construção civil é de 25%, para Asadollahfardi et al. (2015), em nível mundial,
utiliza-se aproximadamente 17% do volume total de água, sendo o concreto o principal
consumidor. Cerca de 3,8 bilhões de m³ de concreto são utilizados por ano
globalmente (ISMAIL; AL-HASHMI, 2010). Somente a indústria do concreto consome
1 bilhão de m³ de água, além disso, grandes volumes de água potável são utilizados
para lavar os caminhões betoneiras, bombas de concreto, equipamentos, agregados
e para cura (GHRAIR et al., 2016).
Ao se tratar de edifícios, os impactos são mais representativos por
demandarem maiores volumes de recursos, especialmente devido à proporção das
obras e ao ciclo de produção longa, geralmente medido em anos. A interação do
edifício com o meio ambiente se dá em momentos distintos de sua existência, envolve
diferentes agentes da cadeia produtiva, que se refletem de diferentes formas, nas
diferentes fases do ciclo de vida (MATEUS, 2009; TEIXEIRA, 2010).
Na concepção/projeto, é onde são elaborados os projetos e suas
especificações, bem como a programação das atividades construtivas. A
construção/implantação, é a fase de construção do edifício, na qual os canteiros de
obras devem funcionar de acordo com o planejado na concepção/projeto. Já a etapa
de uso/operação, é a fase de operação e ocupação do empreendimento por seus
usuários. Por fim, a requalificação/demolição, etapa final do ciclo de vida do edifício,
fase em que o edifício passa por uma requalificação, para adequeção a um novo uso,
ou é demolido (TEIXEIRA, 2010).

23
O setor também gera problemas sociais, como a baixa remuneração dos
trabalhadores, impacto na qualidade de vida da vizinhança e elevada taxa de
informalidade. Cattani (2001) caracteriza que o trabalho na construção civil exige
grande esforço físico de maneira insalubre e em ambiente adverso, instabilidade no
emprego, rotatividade, mobilidade física, baixa qualificação, necessidade de pouca
habilitação específica, baixo prestígio social, altos índices de acidente de trabalho,
entre outros. Pinheiro (2002) afirma que a baixa instrução da mão de obra dificulta a
aplicação de métodos mais modernos de construção, que poderiam levar a uma maior
produtividade e economia.
Apesar de todas as peculiaridades apresentadas, na economia, a construção
civil é responsável por uma significativa parcela do PIB nacional (8,32%), é um dos
setores mais importantes, pois desempenha um papel fundamental no
desenvolvimento do país. A Pesquisa Anual da Indústria da Construção (2015) revela
que as empresas de construção realizaram incorporações, obras e/ou serviços no
valor de R$ 354,4 bilhões. A receita operacional líquida atingiu o valor de R$ 323,9
bilhões (IBGE, 2017). A participação percentual do valor das incorporações, obras
e/ou serviços, segundo a atividade é ilustrada na figura 8.

Com R$ 165,7 bilhões, a construção de edifícios foi a atividade que mais


contribuiu para o valor das incorporações, obras e/ou serviços, com participação total

24
de 46,7%. Seguido pelo segmento de obras de infraestrutura com 33,9% de
participação. Por fim, o setor de serviços especializados para construção apresentou
19,4% da participação (IBGE,2017).

11. EDIFÍCIOS DE MÚLTIPLOS PAVIMENTOS NO BRASIL

A classificação das estruturas dos edifícios, segundo Barros e Melhado (2006),


pode ser fundamentada na concepção estrutural, na intensidade de seu emprego ou
mesmo a partir dos materiais que constituem a estrutura, dentre outras. Em relação à
forma de transmissão dos esforços, as estruturas podem ser classificadas em:
reticulada, elementos planos e outras (cascas, especiais, pneumáticas, etc). Quanto
à frequência com que são empregadas, as estruturas podem ser classificadas em:
tradicionais e não tradicionais. Quanto ao local de produção, as estruturas podem ter
seus elementos classificados em: moldadas no local, pré-fabricadas (em usina) e pré-
moldadas (no canteiro).
Barros (2013) salienta que a essência do mercado de produção de edifícios de
múltiplos pavimentos é idêntica aos da década de 1970, com processos construtivos
em estrutura de concreto armado moldada no local, vedação de alvenaria de blocos
cerâmicos ou de concreto, revestimentos de argamassa, instalações
elétricas/hidráulicas embutidas nas alvenarias, acabamentos com pintura sobre
massa corrida ou gesso e revestimentos cerâmicos em paredes e pisos.
A autora ainda destaca os principais processos em utilização na produção
estruturas e vedações. Na produção de estruturas, a estrutura reticulada de concreto
armado moldado no local é a mais comumente utilizada. Posteriormente os vãos são
fechados com alvenaria de blocos cerâmicos.
Os processos construtivos citados por Barros (2013) são tratados por Sabbatini
(1989) como um sistema tradicional e caracterizado pela produção artesanal, uso
intensivo de mão de obra, baixa mecanização, elevados desperdícios de mão de obra,
material e tempo, entre outros. Assim, cabe enfatizar a produção de estrutura
reticulada, o material concreto armado, as fôrmas para sua modelagem e o sistema
de alvenaria de vedação em blocos cerâmicos.

25
O processo construtivo é composto então pelas etapas de montagem das
formas e armaduras, lançamento da pasta de concreto, e por fim, o processo de cura.
Os aços são empregados como armadura ou armação de componentes estruturais.
Nesses componentes estruturais as armaduras têm como função principal resistir as
tensões de tração e cisalhamento e aumentar a capacidade resistente das peças ou
componentes comprimidos. Os fios e barras são cortados com talhadeira, tesourões
especiais, máquinas de corte (manuais ou mecânicas) e eventualmente discos de
corte. Após a liberação das peças cortadas dá-se o dobramento (BARROS;
MELHADO, 2006).
As fôrmas são as estruturas provisórias, geralmente de madeira, destinadas a
dar forma e suporte aos elementos de concreto até ao ganho de resistência. Sua
execução começa com a transferência dos eixos principais e do nível para a correta
locação dos pilares. Os pilares são locados através da fixação dos gastalhos na laje
e então os painéis de fôrmas serão encaixados formando o corpo do pilar. A armadura
do pilar é colocada juntamente com os espaçadores que irão garantir o cobrimento e
a dimensão correta do pilar. O último painel é fechado e as formas são alinhadas,
niveladas e travadas. As fôrmas de vigas são usualmente lançadas a partir das
cabeças dos pilares com apoios intermediários em garfos ou escoras. Em geral, os
painéis de fundo de viga são colocados primeiro, apoiando-se sobre a cabeça do pilar
ou sobre a borda da fôrma do mesmo. Após essa etapa, a armadura das vigas é
posicionada e a forma é travada e alinhada (CALÇADA, 2014).
A alvenaria de vedação é a associação de um conjunto de blocos cerâmicos ou
de concreto com argamassa de assentamento, sem função estrutural. Para sua
execução, realiza-se a marcação da primeira fiada, que determinará o esquadro e as
dimensões corretas dos ambientes. Os blocos são alinhados e recebem a argamassa
para o assentamento, tendo como referência uma linha presa ao escantilhão. Os
blocos das próximas fiadas são empilhados da mesma forma, recebendo argamassa
para o assentamento (CALÇADA, 2014).
Telles apud Santos (2008) atribui a hegemonia do sistema tradicional como a
alternativa mais fácil e econômica, pois dispensa a mão de obra especializada para a
sua execução, bem como utilizava grande parte de materiais nacionais. Há também a

26
facilidade no transporte dos materiais que compõe o concreto armado (cimento, areia
e brita).
Contudo, segundo Rocha (2017), diante da crescente demanda e da
disponibilidade técnica de alternativas, o setor da construção civil brasileira tem se
mostrado aberto ao emprego de soluções industrializadas ou de sistemas construtivos
racionalizados, os quais são elementos primordiais para se incrementar e aprimorar o
desempenho das atividades construtivas. A adoção por parte das construtoras de uma
estratégia voltada a racionalização do processo construtivo constitui um ponto
fundamental para que o setor construtivo evolua de maneira mais competitiva.
12. DEMANDA POR ÁGUA NA CONSTRUÇÃO DE EDIFÍCIOS

Nos serviços de engenharia a água pode ser utilizada como componente


ou ferramenta. Como componente, é fundamental na produção de concreto e
argamassa e na compactação de aterros. Como ferramenta, é utilizada nos serviços
de limpeza, resfriamento e cura do concreto (NETO, 2008). Além disso é essencial
para o consumo dos trabalhadores. Nesse item, aborda-se o uso e o consumo de
água para fins humanos e produtivos.

13. USO E CONSUMO HUMANO

A demanda humana está relacionada às necessidades essenciais dos


funcionários nos canteiros de obras, presentes do início ao fim da execução da
edificação. Tais necessidades são garantidas por meio da NR – 18 do Ministério do
Trabalho, que aborda as condições e meio ambiente de trabalho na indústria da
construção. Dos itens básicos estabelecidos, cabe ressaltar apenas os relacionados
com a utilização de água no canteiro de obra, que são as instalações sanitárias e
bebedouros. Quando houver trabalhadores alojados, lavanderia e alojamento, quando
houver preparo de refeições, cozinha. As instalações sanitárias devem conter
lavatório, vaso sanitário, mictório e chuveiro, a fim de atender as necessidades
higiênicas e fisiológicas (MTE, 2015).

27
Neto (2008) estima que o consumo diário por operário não alojado chega a 45
litros/dia, sem incluir a refeição. Com a refeição preparada na obra, o consumo passa
para 65 litros/dia.

14. USO E CONSUMO NA EXECUÇÃO DO EDIFÍCIO

Na fase dos serviços preliminares, a água é utilizada para a compactação de


aterros. Segundo Neto (2008), na compactação de 1 m³ de aterro o consumo pode
chegar a 300 litros de água.
Nas etapas de infra estrutura e superestrutura, é onde se constrói a
sustentação da edificação, como exposto anteriormente, mais comumente produzidas
em concreto armado. Na produção de 1 m³ de concreto utiliza-se em média de 160 a
200 litros de água (NETO, 2008).
Entre as etapas de infra estrutura e superestrutura realiza-se o processo de
cura do concreto. Esse processo é fundamental para que as reações químicas
ocorram de maneira adequada, pois compensa a evaporação de água, necessária à
hidratação do cimento, a fim de controlar o processo de pega e endurecimento e
conferir durabilidade e vida útil às estruturas. A cura do concreto pode ser obtida da
por meio da molhagem constante com mangueira; aspersão de água por sistemas de
irrigação de jardim; cobertura com lona plástica, saturação da umidade ou ventiladores
pressurizados (NEVILLE; BROOKS, 2013).
Para estimar o consumo de água no processo de cura do concreto Pessarello
(2008) utilizou dados empíricos obtidos por meio de dados levantados por
construtoras, tais dados são apresentados na tabela 2.

Na etapa de vedação, a estimativa para o consumo de água na produção de


argamassa baseou-se no estudo de Pessarello (2008), no qual o consumo de água é
obtido por meio das instruções de dosagem dos fabricantes de argamassas

28
industrializadas. Porém pode-se produzi-las no próprio canteiro de obras, em ambos
os casos é necessário a dosagem com água na obra. As estimativas para alguns usos
são representadas na tabela 3.

Ao analisar os dados contidos na tabela 5, observa-se que a quantidade de


água varia de acordo com o uso, fabricante e conteúdo da embalagem. Ao considerar
a argamassa produzida no próprio canteiro, a relação de consumo de litros por quilo
é maior devido à falta de controle na produção.
Além do consumo de água na produção de argamassa para assentamento de
peças cerâmicas, na fase dos acabamentos, a ABNT NBR 15575/3: 2013, Edificações
habitacionais - Desempenho, estabelece que os sistemas de pisos de áreas molhadas
não podem permitir o surgimento de umidade quando submetidos a uma lâmina
d’água de no mínimo 10 mm em seu ponto mais alto, durante 72 h. Assim, tal consumo
pode ser estimado em 0,01 m³/m².
Para pintura, pode-se utilizar tintas diluídas em água. As estimativas, contidas
na tabela 4, consideram as tintas látex acrílica e pva, são baseadas nos itens
09115.8.10 a 09115.8.15 da TCPO (2010), além de dados fornecidos pelos
fabricantes.

29
A água também é utilizada na limpeza de ferramentas, superfícies, pneus de
veículos, caminhões betoneiras, entre outros. Essa etapa é necessária em todos os
processos, do início ao fim da execução da edificação, quando não realizada, os
resíduos podem danificar as ferramentas e manchar ou danificar as superfícies.
Portanto, é um consumo variável, difícil de ser estimado. Sandroline e Franzoni
(2000), estimam que um caminhão betoneira de 9 m³, quando lavado, utiliza 700 a
1.300 litros de água.

15. GESTÃO DA ÁGUA NO CANTEIRO DE OBRAS

A gestão da utilização da água nos canteiros de obras minimiza os impactos


sobre sua escassez, tornando-se fundamental na preservação dos recursos hídricos
(ARAÚJO, 2009). Esse item, aborda-se as medidas sugeridas por alguns autores, com
enfoque na utilização de água pluvial, reuso de água de outas fontes alternativas e
nos sistemas construtivos a seco.

30
16. MEDIDAS DE CONSERVAÇÃO

Segundo Pessarello (2008) e Araújo (2009), nas instalações provisórias e em


outros pontos do canteiro, a redução do consumo de água potável pode ser obtida
pelas seguintes ações:
 Palestras para conscientização dos funcionários, com relação à fonte finita de
recursos naturais;
 Diminuição da vazão nos pontos de utilização, por meio da instalação de
válvulas redutoras de pressão;
 Limitação do consumo nos pontos de utilização, por meio do uso de
tecnologias e componentes economizadores (utilização de torneiras com acionamento
e desligamento automático e instalação de temporizadores nos chuveiros);
 Setorização da medição do consumo, por meio da instalação de medidores
individuais para as áreas de vivência e de produção, com acompanhamento mensal
dos consumos e medidas para redução dos mesmos, a fim de conhecer os diferentes
consumos e evitar desperdícios;
 Utilização de fontes alternativas para redução do consumo de água potável,
como a utilização de águas pluviais. Tal fonte pode ser utilizada para a limpeza do
canteiro de obras, descargas e finalidades não potáveis.
Tais ações devem ser empregadas ao longo de todo o período da obra, com a
possibilidade de reaproveitamento dos equipamentos.
Em relação às fontes alternativas, Naik (2004) afirma que a água da chuva e a
água de escoamento superficial podem ser utilizadas como um método de
conservação de água potável, por meio da reciclagem desses recursos hídricos na
construção. A água cinza deve ser reciclada e utilizada para irrigação de grama,
arbustos, plantas, árvores e jardins; bem como para a produção de concreto. A
utilização e a reciclagem podem ser obtidas pela reutilização da água no local, para
ciclos repetidos da mesma tarefa e para outros fins, desde que tratada, pela utilização

31
da água cinza após a remoção dos sólidos e pela coleta de água não potável de fontes
como água da chuva, lagos, rios e lagoas para uso na construção.
A diminuição do consumo e o reuso de recursos hídricos são ações que vem
sendo tomadas por algumas construtoras para a redução do consumo de água potável
nos canteiros de obras. A água utilizada nas pias é reutilizada nos mictórios e, depois
de decantada, a das betoneiras para a limpeza dos próprios equipamentos. A água
pluvial coletada é utilizada para irrigação de jardins e limpeza do piso. Outra iniciativa,
é a inserção de garrafas pet, cheias de areia, na caixa acoplada dos vasos sanitários
das obras, com a economia 1,2 litros de água a cada descarga.
Outra construtora, implantou um sistema de Lava Rodas, para minimizar a
poeira e a lama dispersada pelos caminhões nas vias públicas do entorno dos
empreendimentos. A água passa por um sistema de filtração e decantação e retorna
para a caixa d’água específica do sistema, podendo ser reutilizada para novas
lavagens de caminhões, na limpeza de pisos e garagens, na irrigação dos jardins,
entre outras finalidades. O percentual de reutilização desse processo é de 90%, o que
evita o consumo mensal de 23 m³ de água.
Os sistemas construtivos industrializados também surgem como alternativa
para a conservação dos recursos naturais, dentre eles a água, com baixos ou nenhum
consumo. O drywall, o light wood frame e o light steel frame, são exemplos desses
sistemas e podem receber financiamento da Caixa Econômica Federal, do Banco do
Brasil e de bancos credenciados no programa do Governo Federal “Minha Casa Minha
Vida” (GOMES; LACERDA, 2014).

32
17. UTILIZAÇÃO DA ÁGUA PLUVIAL NO BRASIL

A ABNT NBR 15900: 2009, especifica os requisitos para a água ser


considerada adequada ao preparo de concreto e descreve os procedimentos de
amostragem, bem como os métodos para sua avaliação. A água proveniente da
captação pluvial pode ser utilizada para uso no concreto, desde que ensaiada. Os
requisitos para inspeção preliminar de água de amassamento do concreto abordados
pela norma são apresentados na tabela 5.

Tabela 5: Requisitos para água de amassamento do concreto.

Fonte: ABNT NBR 15900:2009.


A utilização da água, que não estiver de acordo com uma ou mais das
exigências, dependerá dos tempos de início e fim de pega e da resistência média à
compressão. Nas amostras de pasta preparadas com a água em ensaio, os tempos
de início e fim de pega não devem diferir em mais de 25 % dos obtidos com amostras
de água destilada ou água deionizada. A resistência média à compressão aos 7 e 28
dias dos corpos-de-prova de concreto ou de argamassa, preparados com a água em
ensaio, deve alcançar pelo menos 90% da resistência à compressão dos preparados
com água destilada ou deionizada. Os teores máximos das substâncias químicas para
água de amassamento são apresentados na tabela 6.

33
Tabela 6: Teores máximos das substâncias químicas para água de amassamento.

Fonte: ABNT NBR 15900:2009.


A contaminação na água de amassamento do concreto por açúcares, fosfatos,
nitratos, chumbo e zinco podem alterar os tempos de pega e as resistências do
concreto.
Em estudo sobre a viabilidade técnica da água de chuva para uso nos
processos de preparo do concreto, Costa (2017) constatou que a água pluvial pode
ser utilizada como água de amassamento no concreto e que sua utilização não afeta
os tempos de início e fim de pega, portanto, os resultados satisfazem a ABNT NBR
15900: 2009 e a ABNT NBR 11581: 1991. A água pluvial foi coletada por meio de
telhados cerâmicos e metálicos da UTFPR-Campo Mourão, posteriormente
adicionada na mistura de concreto e argamassa, ensaiada e comparada aos ensaios
com água da torneira e destilada.
O tempo de início de pega foi superior a uma hora e o tempo de fim de pega foi
inferior a dez horas para o tipo de cimento analisado. As resistências dos corpos de
prova ensaiados ficaram acima dos 90% exigido pela norma, a água coletada do
telhado cerâmico apresentou resistência maior em comparação ao metálico (COSTA,
2017).
Já Oliveira et al. (2016), verificaram a viabilidade do aproveitamento da água
pluvial na produção de blocos de concreto não estrutural, para isso, visitaram duas

34
fábricas de blocos de concreto não estrutural, em uma delas a água da chuva era
tratada e utilizada na confecção e hidratação dos blocos, enquanto que na outra não
havia esse aproveitamento. Os estudos foram concentrados apenas na fábrica A, e
os dados obtidos na fábrica B foram utilizados para fins comparativos. Com os dados
obtidos, constatou-se que a reutilização da água da chuva na produção de blocos de
concreto não estrutural é um processo eficaz e vantajoso, desde que haja um sistema
que elimine a primeira água e trate a água coletada. Essa medida, dependendo da do
clima e para a produção de aproximadamente 9.000 blocos, gera uma economia de
850 a 1700 litros de água/dia.

18. REUSO INTERNACIONAL DE ÁGUA NA CONSTRUÇÃO CIVIL

Tecnologias rentáveis estão disponíveis para reciclar a maior parte dos


resíduos sólidos, como substitutos parciais do agregado graúdo, em misturas de
concreto fresco. Da mesma forma, águas residuais industriais e não potáveis podem
ser substituídas por água municipal para misturar concreto, a menos que sejam
comprovadamente prejudiciais por testes (MEHTA, 2002).
A Alemanha tem se destacado pelo uso de água reciclada na produção de
concreto, desde aquela recolhida da limpeza dos caminhões betoneira até a água de
chuva, recolhida e tratada. As pesquisas europeias mostram que não há distinção na
qualidade e durabilidade entre a água potável e a reciclada (GRANDES
CONSTRUÇÕES, 2014).
Nos Estados Unidos utiliza-se água de esgoto para a produção de concreto,
para isso são submetidas à três fases de tratamento, a separação mecânica de
contaminantes, o ataque com uso de microorganismos que degradam o conteúdo
orgânico e a desinfecção com uso de aditivos químicos. Os procedimentos de
tratamento e outros parâmetros são descritos no Guia de Procedimentos para o uso
da água reciclada na indústria do concreto, fornecido pela Agência Americana de
Controle Ambiental. Os australianos também criaram uma legislação específica para
o uso de água tratada de esgoto na produção de concreto (GRANDES
CONSTRUÇÕES, 2014).

35
No Texas, Borger et al. (1993) estudou a resistência, tempo de pega,
trabalhabilidade e a resistência a sulfatos de argamassas produzidas com água de
lavagem de caminhões betoneiras adicionadas às 1, 2, 4, 8, 24 e 48 horas após terem
sido preparadas. As conclusões obtidas apontaram que a água de lavagem pode ser
utilizada na produção de concreto.
A idade da água de lavagem está diretamente ligada às resistências iniciais,
com aumento de até 20%, desde que com idades iguais ou inferiores a 8h. Tal
aumento, deu-se em razão da redução da relação água/cimento efetiva e no aumento
do teor do cimento na mistura. Em geral, a resistência ao sulfato foi aumentada, a
permeabilidade foi reduzida devido ao aumento do teor de cimento na mistura, os
tempos de pega foram acelerados ou retardados em até 25%, sendo menor para
águas com idades de até 8h devido ao maior teor de cimento, após esse tempo as
partículas se assentaram e passaram a apresentar consistência normal.
Na Itália, Sandrolini e Franzoni (2000) também investigaram o efeito da água
de lavagem de caminhões betoneiras no desempenho do concreto. As amostras foram
coletadas com idade de 1 hora e apresentaram um teor de sólidos de até 40 g/l. A
resistência à compressão das amostras de argamassas e concretos em idades iniciais
foram superiores a 96%, sendo superior ao mínimo exigido pela norma (90%). A
trabalhabilidade foi reduzida devido à adição de finos e a redução do teor real de água,
a permeabilidade também foi reduzida.
No Iraque, Ismail e Al-Hashmi (2010) reutilizaram águas residuais de resina na
produção de concreto. O estudo mostra que as misturas de concreto podem ser
preparadas com sucesso usando água residual de acetato de polivinila (PVAW). O
efeito de diferentes proporções PVAW/C na trabalhabilidade e nas propriedades
endurecidas de misturas de concreto foi estudado, bem como o teste de lixiviação de
resíduos. Com base nos resultados obtidos, verificou-se que:
Os valores de redução do slump das misturas de concreto PVAW foram
ligeiramente superiores com o aumento dos índices PVAW/C, no entanto, todos os
valores foram menores do que aos do slump das amostras de controle, mas ainda são
viáveis. Os valores de força foram ligeiramente reduzidos com o aumento das razões
PVAW/C, mas todos os valores foram próximos ou ligeiramente superiores aos das

36
amostras de controle. Os valores de densidade rígida foram aumentados com o
aumento das razões PVAW/C. O teste de lixiviação de materiais residuais não
evidenciou lixiviação dos constituintes tóxicos do PVAW, representados
principalmente pela medida de Demanda Química de Oxigênio (DQO).
Na Jordânia, Ghrair et al. (2016) avaliaram o potencial da Água Cinza Tratata
(TGW) e Bruta (RGW) na produção de concreto e argamassa. Os resultados da
qualidade da água cinza e os limites permitidos de mistura de água para concreto
mostram que o TGW é adequado para produção de concreto. No entanto, a RGW
deve ser pré-tratado para reduzir o teor de microrganismos antes de entrar em contato
direto com os seres humanos.
Os resultados para argamassas feitas com TGW no tempo de cura 7, 28, 120
e 200 dias não demonstraram nenhum efeito negativo sobre a resistência à
compressão da argamassa. No entanto, o uso de RGW levou a uma redução na
resistência à compressão de até 10%. Apesar da relativa redução na resistência à
compressão, há um desenvolvimento de resistência lenta, mas continuamente até 200
dias.
A resistência à compressão do concreto feita com TGW aos 28, 120 e 200 dias
de cura não é afetada negativamente quando comparada ao concreto feito com água
destilada. No entanto, o concreto que fez com RGW mostra redução na resistência à
compressão de até 13,9% em 120 dias.
O efeito da água cinzenta como mistura de água na absorção de água e
durabilidade do concreto não é significativo. A diluição de RGW em 50% de água
destilada leva a um aumento significativo da resistência à compressão do concreto
quando comparado ao uso de RGW não diluído. Dessa forma, o TGW e o RGW são
alternativas potenciais para a água doce na indústria de produção de concreto.
Na Índia, Razak e Babu (2015) também avaliaram a trabalhabilidade e o
comportamento de resistência à ruptura e à flexão do concreto produzido com água
cinza e concreto convencional em estado fresco e endurecido.
Ao comparar os resultados das amostras produzidas com água cinza, de
tratamento primário e secundário, com as amostras de água potável, houve uma
diminuição na trabalhabilidade do concreto produzido com água tratada primária

37
enquanto a água tratada secundária apresentou melhor trabalhabilidade. O valor de
resistência à compressão não apresentou diferença significativa entre os concretos
produzidos com água tratada primária, água tratada e água potável. A resistência à
tração do concreto feito com água tratada com esgoto foi menor do que a da água
potável.
Concretos feitos com água tratada com esgoto apresentaram boas
propriedades frescas e endurecidas. O concreto feito com água tratada com esgoto é
mais adequado para concreto simples, pois há possibilidade de corrosão da armadura
devido às impurezas orgânicas e inorgânicas presentes na água tratada em esgoto.

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19. REFERÊNCIAS

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informe 2016. Disponível em: . Acesso em: 13 ago. 2017.

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