Aulas de Teoria

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Teoria da personalidade

Aulas online

DSM-5 manual de perturbações mentais.

Como é que são desenvolvidos os conhecimentos e as teorias da personalidade?

O processo ou método de construção do conhecimento sobre personalidade:

 Observações científicas – uso de amostras amplas e diversificadas; observações


objetivas (evitar preconceitos e estereótipos), detalhadas e sistemáticas; uso de
instrumentos especializados para medir processos de pensamento, reações
emocionais e sistemas biológicos que contribuem para funcionamento da
personalidade.
 Construção de teorias sistemáticas – procuram explicar de modo coerente e
integrado o que se observou empiricamente.

Porque é importante estudar a personalidade?

Nesta disciplina estuda-se a pessoa total, o todo integrado, coerente e único de cada
individuo.

 Não apenas a parte cognitiva, a dimensão emocional ou social de modo isolado,


mas também os processos biológicos e a interação entre estes aspetos.
 Vamos estudar teorias clássicas (teoria psicanalítica e humanista) e
contemporâneas (sociocognitiva e a teoria dos traços).

O campo da personalidade procura estudar três aspetos:

 I aspetos universais da personalidade – o que é comum a todos?


 II diferenças e semelhanças individuais entre as pessoas e as culturas?
 III aspetos únicos dos indivíduos, a essência única de cada pessoa?

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2º aula

Definição de personalidade – a personalidade tem sido definida e usada de múltiplas


formas, mas a sua definição mais consensual é:

É o conjunto de características psicológicas de um individuo que contribuem para


padrões duradouros e distintivos nos seus sentimentos, pensamentos e
comportamentos.

 Padrões duradouros porque as características de personalidade são consistentes


ao longo do tempo e ao longo de situações distintas.
Porém, podem mudar ao longo do tempo e comportar-se de modo diferente em
situações diferentes (e.g., introvertido ou extrovertido, depende situações).

 Por distintivo queremos dizer que as características psicológicas distinguem umas


pessoas das outras.
Não é distintivo dizer “fico triste quando coisas más acontecem e contente
quando coisas boas acontecem”, acontece à generalidade das pessoas.
Mas alguns gostam mais de experiências novas do que outros – é distintivo.

“Contribuem para” – significa que os psicólogos procuram os fatores que são as causas
das tendências distintivas e duradouras das pessoas.

 Fazem descrições exaustivas, mas para chegar à compreensão dos processos e


fatores psicológicos que estão subjacentes e causam os comportamentos
observados.

Sentimentos, pensamentos e comportamentos – Significa que a noção de personalidade


integra todos os aspetos das pessoas e traduz-se na manifestação das dimensões: vida
mental, experiências emocionais e comportamento social.

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A teoria da personalidade tem estudado:

O quê – quais são as características de personalidade e como se organizam na relação


umas com as outras.

Como – quais a são os determinantes (e.g. motivos, valores, processos genéticos ou


ambientais) da personalidade e como influenciam a personalidade das pessoas?

Porquê? – refere-se às causas e às razões por detrás do comportamento.

Como se tem estudado a personalidade?

1. Estrutura da personalidade – como é constituída, unidades básicas ou elementos


centrais da personalidade
2. Processos da personalidade – os aspetos dinâmicos da personalidade, incluindo
os motivos e valores
3. Desenvolvimento da personalidade – como nos desenvolvemos em indivíduos
únicos.
4. Mudança do comportamento – como é que as pessoas mudam, porque é que às
vezes resistem à mudança ou são incapazes de mudar.

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I. Estrutura da personalidade – unidades de analise
A. Traços de personalidade – é uma unidade de analise da personalidade –
geralmente refere-se a um estilo consistente de emoção ou comportamento que a
pessoa exibe ao longo de várias situações.
Por exemplo, alguém que consistentemente age de uma forma que chamamos
conscienciosa ou responsável, pode-se dizer que tem traço de conscienciosidade.
Os traços são dimensões continuas. As pessoas têm traços mais ou menos
acentuados. Sendo que a maioria das pessoas está algures no meio e algumas
pessoas podem estar nos extremos, mais ou menos.

B. Tipo de personalidade – podem ser outro tipo de unidades de analise.


Alguns autores estudaram a combinação de vários traços e definiram 3 tipos de
personalidade:
 Os que respondem de forma adaptativas e resilientes ao stress psicológico;
 Os que respondem ao stress da forma socialmente inibida ou emocionalmente
controlada;
 Pessoas que respondem de forma desinibida e emocionalmente descontrolada
(Asendorpf et al., 2002).

C. Personalidade como um sistema – um sistema é um conjunto de partes


altamente interligadas, cujo comportamento global reflete não apenas as partes
individuais, mas a sua organização.
Ou seja, num sistema “o todo é maior que a soma das partes” (e.g. a teoria da
gestalt).
Para além de existirem traços e tipos de personalidade, alguns autores sugerem
que a combinação das unidades entre si é relevante.
Assim, alguns autores defendem que existem sistemas de personalidade simples
ou complexos e sistemas de personalidade bem integrados ou em conflito.

Hierarquia – (teoria dos traços) uma segunda questão no estudo da personalidade


é se as unidades de analise estão organizadas em estruturas hierárquicas em que

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umas unidades tem níveis de importância superiores e controlam a função de
outras unidades em níveis inferiores.
Por exemplo, a teoria dos traços. Um conjunto de traços básicos organiza
tendências de personalidade de níveis inferiores.

No estudo do desenvolvimento das diferenças da personalidade, duas fações clássicas


referem causas inatas ou adquiridas.

 Considerando as influências genéticas hereditárias ou a influência das experiências


com a nossa família e sociedade. Quase podemos dizer: “se não gostamos da
nossa personalidade, podemos sempre culpar os nossos pais”
 Nas décadas passadas estudaram-se muito os fatores ambientais versus genéticos
que contribuem para a personalidade.

Mais recentemente, estuda-se a interação entre os fatores genéticos e


ambientais/contextuais.

 Um resultado critico é que as experiências contextuais ativam determinados


mecanismos genéticos, ligando ou designando a ação de genes específicos.
 Uma vez que os genes codificam proteínas que forma o material do nosso corpo,
isso significa que certos tipos de experiências podem alterar a biologia do
organismo (gottlieb, 1998; Rutter, 2012).

Determinantes genéticos – fatores genéticos contribuem para a personalidade e


diferenças individuais.

Os genes contribuem para o desenvolvimento dos sistemas cerebrais e estes para o


temperamento.

 Características temperais distinguem os indivíduos na forma como reagem a


situações desconhecidas e de medo, despoletando processos biológicos,
comportamentos e emoções diferentes (Fox & Reeb-Sutherland, 2010).

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O contexto também pode estimular sistematicamente determinadas ações e funções
neuronais, conduzindo a que uns sistemas de funcionamento podem ser incrementados
por influência do meio, em detrimento de outros.

 Assim, o ambiente também influencia o comportamento e emoções. Estudos


mostram que crianças com temperamentos tímidos, tornam-se menos tímidas
quando entram nos infantários e contactam com muitas crianças diariamente
(Schmidt & Fox, 2002; Kagan, 2011).
 Por outro lado, as teorias evolucionistas também pressupõem alguma influência
do meio na genética, uma vez que defendem que os humanos adotam certos
padrões de comportamentos porque eles foram adaptativos ao longo da história.
 A nossa personalidade reflete a estrutura e funcionamento do cérebro, que é
moldado não apenas pelas forças universais da evolução da espécie, mas também
pelas experiências pessoais durante o desenvolvimento (e.g., ratos).

Determinantes ambientais/contextuais – mesmo os mais orientados para genética,


reconhecem que a personalidade também é moldada pelo contexto.

Sem os fatores contextuais nem seriamos pessoas socializadas. Os nossos valores,


objetivos e motivações, o nosso conceito de self desenvolve-se num contexto social. Sem
eles seriamos outros seres.

Alguns fatores contextuais tornam-nos semelhantes, outros diferentes e outros únicos.


Os mais estudados tem sido a cultura, o grupo social, a família e os pares.

Cultura – cada cultura tem os seus padrões de comportamento instituídos e sancionados:


comportamentos, rituais e crenças.

As práticas culturais refletem crenças religiosas e filosóficas duradouras. Fornecem


convicções sobre questões importantes como a natureza do self, o seu papel na
sociedade e os valores e princípios mais importantes na vida.

 Assim, membros de uma cultura podem partilhar características de personalidade


– defenderem os seus direitos pessoais e competirem no mercado de trabalho por
mais dinheiro e estatuto social.

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 Em outras partes do mundo, culturas coletivistas podem colocar uma ênfase
maior em contribuir para o grupo em vez de para si próprias (Nisbett et al., 2001).
 Os valores culturais podem até influenciar a forma como as pessoas percecionam
o Self (a si próprias) na relação com os outros – mais ou menos independentes.

Assim, a cultura pode exercer uma influência que é subtil mais disseminada. A cultura em
que vivemos define as nossas necessidades e os meios de as satisfazermos.

Grupo social – enquanto alguns padrões de personalidade se desenvolvem na relação


com grupos culturais, outros desenvolvem-se na relação com grupos de classe social

 O grupo social – seja de estatuto social alto ou baixo – determina o valor social
dos indivíduos, os papeis que desempenham, os deveres a que estão vinculados e
os privilégios de que usufruem.
 Estes fatores influenciam a forma como os indivíduos se veem a si mesmos, como
veem aos indivíduos de outras classes sociais e também a forma como gastam o
seu dinheiro.
 A investigação indica que o estatuto socioeconómico influencia o
desenvolvimento cognitivo e emocional das pessoas (Bradley & Corwyn, 2002).

Família – um dos fatores contextuais mais importantes é a influência da família


(Pomerantz & Thompson, 2008).

 os pais podem ser calorosos e afetivos ou hostis e rejeitantes. Podem ser


superprotetores e possessivos ou conscientes das necessidades das suas crianças
de liberdade e autonomia.

Cada padrão de comportamento parental afeta o desenvolvimento da personalidade da


criança, em pelo menos três aspetos:

1. pelo seu próprio comportamento na relação filhos os pais apresentam situações


que desencadeiam certos comportamentos nos filhos (e.g. frustração gera
agressão).
2. Pais servem como modelos de identificação
3. Seletivamente recompensam comportamentos (reforço).

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As práticas familiares podem tornar os membros semelhantes, mas também podem criar
diferenças entre membros na família (e.g., homens e mulheres, filho primogénito), com
mais ou menos privilégios e oportunidades.

 Os pais podem expressar preferências subtis por determinados filhos, produzindo


diferenças entre irmãos (Keller & Zach, 2002). Os filhos que nascem primeiro
tendem a ser mais orientados para o sucesso e responsabilidade (Paulhus et al.,
1999).

Grupos de pares – influencias contextuais fora da família, grupo de indivíduos mesma


idade e equivalentes em estatuto social.

Alguns consideram a experiência das crianças como membros do seu grupo de pares mais
importantes que as experiências familiares (Harris, 1995).

As crianças socializam-se a aceitar novas regras de comportamento diferentes dos


familiares.

Estas experiências com pares, na infância e adolescência, podem afetar o


desenvolvimento da personalidade de formas duradouras.

Amizades de baixa qualidade (conflito, discussão) tendem a desenvolver estilos de


comportamento discordantes e antagonísticos (Berndt, 2002).

Temperamento vs personalidade

Temperamento é o antecedente da personalidade.

Sociedades individualistas vs sociedade coletivista.

Individualista as pessoas seguem os seus objetivos e interesse independentemente do


grupo. Porém numa sociedade coletivista as pessoas vivem consoante o benefício do
grupo e em função do mesmo, estando sempre grande maioria de acordo.

Narcisismo – é o amor de um individuo por si próprio ou pela sua própria imagem.

O narcisismo foi introduzido na psiquiatria no final do século XIX e foi adotado no campo
da psicanalise por Havelock Ellis (1898), para descrever uma forma de sexualidade
baseada no próprio corpo do individuo.

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Como é que se define a personalidade?

Através de características, traços que estão relacionados e são testáveis, mas difere muito
de qual teoria ou autor que consideramos.

3ºaula

Mudança da Personalidade

Determinantes internos ou externos?

Para Freud, nós somos controlados por forças internas, impulsos inconscientes e emoções
que estão profundamente enraizadas nas nossas mentes.

Para Skinner, somos controlados por forças externas: recompensas e punições


contextuais que dirigem as nossas ações.

Duas visões muito distintas que pressupõem diferentes possibilidades de mudança.

 Os psicólogos contemporâneos reconhecem determinantes internos e externos


para a ação humana, porém, diferem na medida em que enfatizam uns ou outros:
Na teoria dos traços da personalidade, os componentes básicos são herdados
geneticamente e produzem padrões generalizados de comportamentos (McCrae
& Costa, 2008).
Na teoria sociocognitiva os componentes básicos são estruturas cognitivas e
processos de pensamento que são adquiridos através da interação com contexto
social e cultural (Bandura, 1999; Mischel & Shoda, 2008).

 Consistência ao longo de situações e do tempo

Cada perspetiva fornece visões diferentes sobre a consistência e a mudança da


personalidade e sobre capacidade de as pessoas alterarem o funcionamento da
sua personalidade ao longo do tempo.
A Consistência da personalidade pode dever-se a fatores estáveis como os
genético, como alguns autores acreditam, mas também se pode dever à
consistência dos contextos que os indivíduos integram ao longo dos anos.

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Para alguns teóricos, variações no comportamento são sinais de inconsistência da
personalidade.
Para outros pode ser um sinal de adaptação do comportamento às exigências das
situações sociais.
 A nossa personalidade é moldada por eventos passados, presentes ou aspirações
para o futuro?
Os teóricos concordam que o comportamento apenas pode ser influenciado por
fatores que operam no presente, é um princípio básico da casualidade.
Mas as experiências do passado ou os pensamentos sobre o futuro, próximos ou
distantes, podem influenciar o presente.
As pessoas variam na medida em que se preocupam com o passado e com o
futuro.
 Influencia do passado, presente, futuro
Os teóricos diferem na medida em que consideram mais os determinantes do
passado ou do futuro como influências do presente.
Os psicanalistas acreditam que as estruturas da personalidade são formadas
através de experiências na infância e que as dinâmicas estabelecidas persistem
ao longo da vida.
Os autores da teoria sociocognitiva sugerem que as pessoas têm maior
capacidade de explorar os sistemas social e psicológico, conferindo às pessoas a
capacidade de agência ao longo da vida (Bandura, 2006).

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4ºaula

Características indivíduos Características indivíduos

pontuações altas pontuações baixas

1 Neuroticismo Alto Neuroticismo Baixo

Preocupado, nervoso, emocional, Calmo, descontraído, não emocional,


inseguro, inadequado, hipocondríaco. forte, seguro, satisfeito.

Extroversão Baixa
2 Extroversão Alta Sociável
Reservado, sóbrio, não exuberante, à
activo, conversador, orientado para as
parte, orientado para as tarefas,
pessoas, optimista, gosta de se divertir.
retirado, quieto.
3 Abertura Alta
Abertura Baixa
Curioso, com interesses amplos, original,
Convencional, terra a terra, poucos
com imaginação, não tradicional.
interesses, não artístico, não analítico.
4 Amabilidade Alta
Amabilidade Baixa
Bom coração, natureza boa, confiável,
Cínico, rude, desconfiado, não
gosta de ajudar, desculpa com facilidade,
coopera, vingativo, implacável,
é facilmente enganável, franco.
irritável, manipulador.
5 Conscienciosidade Alta
Conscienciosidade Baixa
Organizado, confiável, trabalhador,
Sem objetivos, não confiável,
disciplinado, pontual, escrupuloso, limpo,
preguiçoso, descuidado, relaxado,
ambicioso, persistente.
negligente, pouco determinado,
hedonista.

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Neuroticismo - Mede o ajustamento versus o desajustamento emocional. Identifica os
indivíduos que são propensos à perturbação psicológica, ideias não realísticas, impulsos
de voracidade; e respostas de coping desadaptativas. Este traço está associado a
problemas.

Extroversão - Mede a quantidade e a intensidade de interações pessoais, nível de


atividade, necessidade de estimulação e capacidade de se divertir.

Abertura - Mede a procura proactiva e a vivência de novas experiências por si só,


tolerância, e exploração do não familiar.

Amabilidade - Mede a qualidade da orientação para as relações interpessoais, o nível de


compaixão ou antagonismo nos pensamentos, sentimentos e ações.

Conscienciosidade - Mede o nível de organização da pessoa a sua persistência e


motivação para objetivos – contrasta com pessoas desorganizadas e desinteressadas.
Comprimir regras, ser consciencioso nas opiniões, ser rigoroso, falar do que sabe.

Cotação NEO PI R

O questionário é considerado uma das medidas mais completas de personalidade


internacionalmente.
Mede os 5 grandes fatores e diferencia seis facetas dentro de cada fator – no total 30
facetas ou subescalas e 5 fatores ou dimensões.
 O valor mínimo – máximo para cada subescala: 0-32 (meio da escala 16)
 O valor mínimo – máximo para cada dimensão ACEAN: 0-192 (meio da escala 96)
 Valores médios para cada subescala e dimensão com base numa amostra
Portuguesa Nf= 890; e numa amostra Inglesa Nm = 353.

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Cotação NEO PI R – domínios e facetas da escala

Neuroticismo: identifica os indivíduos que têm a tendência para a perturbação


psicológica.

 N1 Ansiedade: nível de ansiedade flutuante.


 N2 Hostilidade: tendência a experienciar raiva e estados relacionados como a
frustração e a amargura.
 N3 Depressão: tendência a experienciar sentimentos de culpa, tristeza, desânimo
e solidão.
 N4 Preocupação consigo: timidez ou ansiedade social.
 N5 Impulsividade: tendência de agir em satisfação dos desejos e impulsos, em vez
de os gerir e adiar a gratificação.
 N6 Vulnerabilidade: Suscetibilidade geral ao stresse.

Extroversão: quantidade e intensidade da energia dirigida para o mundo social.

 E1 Calor: interesse e simpatia para com os outros.


 E2 Gregarismo: preferência pela companhia de outras pessoas.
 E3 Assertividade: ascendência social e contundência na expressão
 E4 Atividade: ritmo da vida
 E5 Procura de excitação: necessidade de estimulação ambiental
 E6 Emoções positivas: tendência a experimentar emoções positivas.

(O) Abertura à experiência: procura ativa e valorização de experiências para seu próprio
proveito.

 AE1 Fantasia: recetividade ao mundo interior da imaginação.


 AE2 Estética: apreciação da arte e beleza
 AE3 Sentimentos: abertura para sentimentos internos e emoções
 AE4 Ações: a abertura a novas experiências a um nível prático
 AE5 Ideias: curiosidade intelectual

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 AE6 Valores: disponibilidade para analisar os próprios valores e os de figuras de
autoridade

(A) Amabilidade: os tipos de interações que um individuo prefere da compaixão à


determinação.
 A1 Confiança: a crença na sinceridade e boas intenções dos outros
 A2 Retidão: fraqueza na expressão
 A3 Altruísmo: preocupação ativa com o bem-estar dos outros
 A4 Correspondência: resposta ao conflito interpessoal
 A5 Modéstia: tendência para minimizar as próprias realizações e ser humilde
 A6 Compaixão: atitude de simpatia pelos outros

C Conscienciosidade: grau de organização, persistência, controle e motivação para o


comportamento dirigido a objetivos.

 C1 Competência: a crença na autoeficácia própria


 C2 Ordem: organização pessoal
 C3 Sentido de dever: ênfase colocada na importância de cumprir obrigações
morais
 C4 realização pessoal: necessidade de realização pessoal e sentido de direção
 C5 Auto- Disciplina: capacidade de começar tarefas e seguir em direção à sua
completude, independentemente do aborrecimento ou distrações
 C6 Deliberação: tendência para pensar sobre as coisas antes de agir ou falar

N – Neuroticíssimo
E – Extroversão
O – Abertura à experiência
A – Amabilidade
C- conscienciosidade

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Uma amabilidade extrema pode colocar a própria pessoa em segundo plano, porque esta
sempre preocupada com os outros e nem sempre as pessoas são sinceras, é uma pessoa
muito modesta, altruísta, mas perto de alguns traços pode sofrer um pouco por não se
adaptar.

Conscienciosidade elevada pode levar profissionalmente longe uma pessoa, porque


quando tem objetivos concretiza-os. Negativamente a pessoa pode tornar-se obsessiva,
perfecionista e stressada em demasia.

5º aula

TEORIA DOS TRAÇOS DE PERSONALIDADE I


O principal enfoque da teoria dos traços é a medição objetiva e precisa de traços de
personalidade.
Contrasta com outras teorias – e.g., Freud e Rogers – que não se basearam em medidas
objetivas da personalidade, sendo por vezes consideradas especulativas.
Os teóricos dos traços procuram estudar a personalidade como um fenómeno natural da
mesma forma que as ciências da física, com objetividade e fidelidade.
Na teoria dos traços não existe uma figura principal como nas teorias psicodinâmica
(Freud) ou humanista (Rogers).
Três investigadores contribuíram para a teoria: Raymond Cattel, Hans Eysenck e Gordon
Allport.
A psicologia contemporânea usa particularmente o modelo dos 5 fatores da
personalidade na investigação e clínica, que partiu desses autores.
Cada um contribuiu de forma especifica para a teoria dos traços, porém, existem aspetos
comuns a todos, que caracterizam este campo de estudo.
A teoria dos traços é a mais recente e a mais utilizada porque é bastante precisa.

TEORIA DOS TRAÇOS DE PERSONALIDADE II


Já definimos traço como um padrão consistente na forma como os indivíduos se
comportam, sentem e pensam.

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Se dizemos que alguém é simpático, por exemplo, significa que a pessoa tende a ser
simpática ao longo do tempo e de situações. Que tende a ser pelo menos tão simpática
como a média das pessoas, se fosse menos que isso, não lhe chamaríamos simpática.

O conceito de traço tem por isso duas conotações:


Consistência – regularidade, frequência do padrão de comportamento. A pessoa parece
predisposta a agir de acordo com essa característica traço.
Traços disposicionais significam que as pessoas tendem a agir de determinada forma,
embora não sempre, nem em situações não propicias.
Distintividade – traços que permitem diferenciar umas pessoas das outras e não traços
que são comuns a todos nos, apesar da imensa variação de papéis e contextos, as pessoas
possuem características psicológicas que persistem no tempo e em situações.

TEORIA DOS TRAÇOS DE PERSONALIDADE III

Os teóricos dos traços usam conceitos (construtos) com 3 critérios científicos:


1. Descrição – descrevem características que definem cada traço, como um primeiro
passo, não apenas para cada pessoa individualmente, mas numa taxonomia
integrada (os traços não se sobrepõem uns aos outros) que faça sentido para
todas as pessoas. Uma vez que os traços são construtos/conceitos que se
referem a estilos consistentes de experiência e comportamento, uma taxonomia é
uma forma de classificar as pessoas de acordo com as suas características.
2. Predição – permitem prever o comportamento dos indivíduos de acordo com os
seus traços de personalidade. Se um individuo se classifica com características de
conscienciosidade, podemos esperar que venha a ser um profissional
responsável. Os testes de personalidade têm sido usados, por exemplo, para
predizer o desempenho profissional – psicotécnicos.
3. Explicação – para ser científica uma teoria deve ser explicativa, ou seja,
compreender o comportamento dos indivíduos com base em premissas causais.
Alguns teóricos dos traços limitaram-se a descrever e classificar, outros
preocuparam-se em compreender as causas para a estabilidade dos traços.

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Indivíduos com traços específicos diferem sistematicamente, em sistemas
neuronais e bioquímicos. Os teóricos dos traços diferem entre si nas explicações
dos traços, mas basearam-se muito em determinantes biológicos hereditários.

Pode sair no teste

TEORIA DOS TRAÇOS DE PERSONALIDADE V


Existe um conjunto de premissas comuns às teorias dos traços:
1. As pessoas possuem predisposições ou traços –
Que resultam numa tendência em responder de determinadas formas – os traços são
considerados pilares que definem a personalidade. Tendência forte de ser sociável e
amigável – extroversão
2. Correspondência direta entre o comportamento e o relato sobre o comportamento
Se a pessoa geralmente age de forma extrovertida ou relata que o faz, diz-se que tem
o traço de extroversão elevado. Ao contrário da psicanalise que sugere que alguém
pode agir de forma calma e não o ser.
3. O comportamento humano e a personalidade podem ser organizados em
categorias hierárquicas.
Ao nível mais simples, o comportamento pode ser considerado em termos de
respostas especificas. Algumas destas respostas estão ligadas e repetem-se, formando
hábitos. Grupos de hábitos que tendem a ocorrer juntos formam traços. Um conjunto
de traços podem formar traços de segunda ordem.

O MODELO DOS CINCO FATORES PERSONALIDADE


Criando uma taxonomia/classificação de traços de personalidade os psicólogos estudam
domínios/dimensões/grupos de traços específicos, em vez de estudarem milhares de
traços particulares.
Durante os últimos 25 anos organizaram milhares de traços numa taxonomia simples e
coerente – O modelo dos cinco grandes fatores ou “Big Five”.

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As diferenças de personalidade dos indivíduos podem ser organizadas em cinco amplas
dimensões bipolares (McCrae & Costa, 2008).
0O modelo dos cinco fatores é uma teoria dos traços que se construiu a partir da análise
fatorial de milhares traços num número reduzido de traços, tal como a de Cattel (3
traços) e a de Eysenck (6 traços
O modelo dos 5 fatores superou as teorias anteriores em evidência empírica, com base
em 3 tipos de dados:
1. Termos de traços em linguagem natural;
2. Investigação transcultural sustentando a universalidade dos traços;
3. A relação entre os questionários de traços de personalidade e outros
questionários de variáveis psicológicas.

O MODELO DOS CINCO GRANDE FATORES (GF) – LINGUAGEM NATURAL

1. Designação dos traços em linguagem natural e questionários:


As teorias anteriores definiam os conceitos usando termos científicos especializados:
como superego, inconsciente coletivo, motivação atualização.
O modelo dos 5 fatores usa termos da linguagem natural e quotidiana que as pessoas
usam para descrever a personalidade.
A partir das descrições das pessoas sobre a sua própria personalidade e a dos outros,
procedeu-se a uma análise fatorial. Apurar quais os termos que são semelhantes ou
próximos e os que não são, agrupando os termos em fatores de significado comum.
Os vários estudos realizados concluíram 5 grandes fatores de traços de personalidade,
que agrupam uma grande quantidade de traços específicos.
 Abertura (A), Conscienciosidade (C), Extroversão (E), Amabilidade (A) e
Neuroticismo (N) – ACEAN OU OCEAN.
 Em cada traço – fator continuo – os indivíduos podem ter uma pontuação alta ou
baixa.

O modelo dos cinco grandes fatores II


O Neuroticismo é oposto à estabilidade emocional com uma ampla quantidade de
sentimentos negativos, incluindo ansiedade, tristeza, irritabilidade e tensão nervosa.

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A extroversão e a Amabilidade são ambas interpessoais, têm a ver com a forma como as
pessoas se relacionam umas com as outras e como agem em relação às outras.
Finalmente, a conscienciosidade é oposta à falta de direção e descreve o comportamento
relacionado com as tarefas, os objetivos e o controlo dos impulsos requerido socialmente.
Abertura à experiência descreve a amplitude, profundidade e complexidade da vida
mental e experiencial de um individuo.

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6º aula

Os 5 grandes fatores pretendem reunir os traços que as pessoas consideram mais


importantes para definir a personalidade.

 Essas características especificas que distinguem as pessoas serão particularmente


importantes na interação entre as pessoas.
 Estes termos ou traços comunicam informação acerca de diferenças individuais
importantes para o nosso bem-estar.

São socialmente importantes porque servem propósitos de perdição e controlo sobre o


comportamento dos outros.

 Traços que pela sua importância social todos reconheceríamos – a existência de


termos universais ligada à perspetiva evolucionista.

Por outro lado, termos culturalmente específicos também deveriam existir, alguns traços
seriam importantes especificamente para certas culturas.
Os estudos indicam que os indivíduos variam em características individuais importantes
que não são expressas em termos de linguagem (como a necessidade de variedade nas
suas vidas e a tolerância à ambiguidade na tomada de decisões).

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Personalidade e o cérebro – Alguns psicólogos têm estudado e encontrado áreas do
cérebro maiores, associadas a traços de personalidade aumentados.
1. Este resultado pode significar que diferenças hereditárias no tamanho de áreas
especificas do cérebro resultam em determinadas disposições.
Ou
2. Também pode significar que disposições de personalidade podem causar o
aumento de algumas áreas do cérebro:
 As pessoas que se envolvem em determinadas experiências repetidamente podem
ver as áreas do cérebro responsáveis por essas experiências aumentadas
(Draganski et al, 2004).

Personalidade e Animais – Estudos em animais mostram que é possível classificar o


comportamento de 12 espécies (principalmente mamíferos, mas não só) em 3 grandes
fatores, semelhantes aos encontrados nos humanos: Extroversão, Neuroticismo e
Amabilidade (Gosling & John, 1998, 1999).

Muitos estudos procuram responder à questão sobre se os 5 grandes fatores são


universais? Características universais que distinguem os indivíduos?

Será de esperar que os mesmos traços sejam encontrados em todos os países em muitas
línguas diferentes?

Traduzir um questionário de personalidade de inglês para alemão ou japonês pode ser


difícil e enganoso.

Algumas palavras não são traduzíveis diretamente e outras podem ter sentidos diferentes
(excited em inglês; excitado em português).

Os estudos mostram que existem semelhança nos traços entre línguas relacionadas
como o inglês, o alemão e o holandês, com exceção para o traço de abertura.

Revisões de literatura mostram que fatores semelhantes aos 5 grandes fatores podem ser
encontrados na maior parte das línguas (Benet-Martinez & Oishi, 2008; John, Naumann,
& Soto, 2008):

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 Com base em resultados os autores da escala assumiram que os 5 grandes fatores
são universais.

Estes estudos usaram a tradução do questionário dos 5 grandes fatores (o NEO-PI-R) em


muitas línguas:

 Porém, se em vez de apresentar o questionário construído em inglês, se


recolherem os termos da língua original e realizar a análise fatorial com os termos
das línguas nativas, os resultados já não são tão concordantes (Saucier &
Goldberg, 1996).

Os resultados diferem se os termos forem impostos por questionário ou se forem


recolhidos na língua nativa das culturas (Di Blas & Forzi, 1999).

 Os fatores Extroversão, Amabilidade e Conscienciosidade parecem ser mais


replicáveis do que os outros (Saucier, 1997).
 O traço de Neuroticismo não foi encontrado na língua italiana (Di Blas & Forzi,
1999)
 De Raad e Peabody (2005) analisaram os termos dos traços em 11 línguas e
concluíram que os traços 5 grandes fatores – Extroversão, Amabilidade e
Conscienciosidade – são recorrentes nas 11 línguas, mas o modelo dos 5GF total é
questionável (Neuroticismo e abertura).

Há exemplos, como na china, em que existem fatores que apenas fazem sentido naquela
cultura como o fator “tradição chinesa” (Cheung et al., 1996), parece referir-se aos
valores e atitudes considerados importantes na sociedade tradicional chinesa.

A importância dos traços e a forma como são expressados também pode variar de
cultura para cultura, bem como dentro da mesma cultura ao longo do tempo.

A universalidade de alguns traços sugere uma base biológica em termos de genes e


evolução da espécie humana.

Porém, outros resultados sugerem que a cultura tem um papel importante em promover
a adaptação da personalidade a contextos específicos.

23
Autorrelatos e Relatos por informantes

Outro ponte forte do NEO-PI-R é que existem versões para autorrelato e relato de
informantes:

 Em vários estudos a comparação entre autorrelatos e relatos por pares e


conjugues (McCrae & Costa, 1990) mostrou bastante acordo em todos os 5
fatores.
 Se nós pensamos que somos conscienciosos, introvertidos e com elevado
Neuroticismo, os nossos amigos provavelmente também pensam o mesmo
(Connelly & Ones, 2010; McCrae & Costa, 1987).
 com os conjugues do que com colegas e amigos, talvez porque os conjugues se
conheçam melhor e discutam mais sobre a sua personalidade (Kenny,1994).

Uma revisão de literatura mostra que relatos de informantes sobre a personalidade são
melhores preditores do desempenho do que o autorrelato (Oh, Wang & Mount, 2011).

Os relatos dos outros em relação aos do próprio diferem principalmente em relação a


traços que não são tão visíveis.

O Neuroticismo (que envolve sentimentos de ansiedade), não são tão observáveis por
outros. São mais precisos quando medidos pelos próprios (Vazire, 2010)

Embora as pessoas desejem ver-se de uma forma positiva e o autorrelato possa ser mais
positivos do que o relato por informantes:

Um estudo com várias amostras alargadas mostrou que as pessoas geralmente


classificam-se com índices mais elevados em Neuroticismo e mais baixos em
Conscienciosidade, por comparação aos informantes (Allik et al, 2010).

24
7ºaula

Base teórica Modelo 5 Grandes Fatores II

Existem constructos (ou conceitos, variáveis) traços:

 Descritivos, descrevem a forma como as pessoas se comportam;


 E causais, referem-se a estruturas mentais ou processos que determinam o
comportamento das pessoas.
 Muitos psicólogos veem os 5 grandes como fatores meramente descritivos, como
classificações de diferenças individuais.

McCrae e Costa (1999, 2008) propõem perspetiva mais ousada – os 5 GF são tidos como
estruturas psicológicas / neuronais que existem em todos os indivíduos e que podem
variar em grau.

 Os traço são considerados como tendências disposicionais básicas.


 São estruturas que causam e influenciam o desenvolvimento psicológico dos
indivíduos.
 Todos os indivíduos possuem estas estruturas disposicionais em diferentes medidas
– são universais.
 Tem uma base biológica.

McCrae e Costa defendem que diferenças do comportamento ligadas aos 5 GF são


determinadas por influências genéticas, estruturas neuronais e diferenças químicas no
cérebro.

 Os traços, tal como o temperamento, são disposições genéticas que seguem


percursos de desenvolvimento intrínsecos, bastante independentes de influências
contextuais (McCrae et al., 2000).
 A biologia herdade (inata) determina a personalidade; enquanto a experiência
social (adquirida) tem menor impacto.
 Os traços são fatores causais que influenciam o curso de vida de cada indivíduo
(McCrae & Costa, 1996, p.66).

25
Assim, segundo estes autores, um traço como a amabilidade: não apenas descreve
diferenças individuais nas populações; também é a causa subjacente dos padrões
pensamentos, e sentimentos de cada pessoa.

MODELO TEÓRICO 5 GF – LIMITAÇÕES

O modelo deixa três questões importantes em aberto:

1. Não explica como é que as estruturas de personalidade estão ligadas aos processos
psicológicos.
 As setas “processos dinâmicos” não são descritas pela teoria (McCrae & Costa,
1999);
 Não é explicado como poderiam atuar, mesmo em termos gerais.
 Os mecanismo biológicos e psicológicos associados às estruturas de traços não
são especificados.
 Os traços são considerados como tendências, mas não é explicado como estas
funcionam.

2. Não reconhece a influencia dos fatores sociais nos traços de personalidade:


 Contraria dados empíricos de investigação que revelam mudanças em traços de
personalidade ocorridos durantes períodos de mudanças sociais e históricos.
 Estudos mostram que mudanças sociais nos U.S. séc. XX (e.g. aumento taxa
divórcios, taxa crimes, redução tamanho das famílias e menor contacto com a
família alargada), podem estar associadas às mudanças observadas na
personalidade americanos; aumento ansiedade e Neuroticismo, 50s a 90s.
 O aumento do individualismo e da assertividade – relacionados com mudanças
observadas num aumento na extroversão (Twenge, 2002).
 Mudanças históricas observadas indicam que os traços de personalidade podem
ser afetados por mudanças sociais (Twenge, 2002).

26
3. A terceira questão é que todos os indivíduos possuem estruturas de
personalidade que correspondem a cada um dos 5 fatores, podendo os indivíduos
variar no nível de cada traço.
 Os resultados ainda não demonstraram que todos os indivíduos possuem os 5
GF. Resultados populacionais e individuais envolvem análises diferentes, não
sendo conclusivos.
 A única forma de apurar que os 5 fatores existem em cada individuo é analisar
os indivíduos separadamente – e descrever os seus processos individuais
(Borsbomm et al., 2003).
 Poucos estudos reuniram dados ao nível dos processos individuais.
Apesar de ser um bom modelo descritivo, o modelo dos 5 GF falha em identificar os
processos e estruturas no funcionamento interno dos indivíduos que explicam as
suas experiências e comportamentos.

Diferenças personalidade longo da vida


Os traços de personalidade são estáveis ao longo da idade adulta ou mudam à medida
que envelhecemos?
 Apenas através de estudos longitudinais (medidas repetidas ao longo do tempo) é
possível responder a esta questão.
 Os resultados mostram estabilidade moderada nos traços (McCrae & Costa, 2008;
Roberts & Del Vecchio, 2000) – comparação entre longos períodos de tempo as
correlações entre medidas são significativas (Fraley & Roberts, 2005).
 Não significa que não existem mudanças na personalidade em geral e para alguns
indivíduos em particular – quer dizer que os traços medidos pelos questionários
são bastante estáveis ao longo do tempo para a maior parte das pessoas.

Os indivíduos extrovertidos aos 30, serão provavelmente extrovertidos aos 70, porém,
menos ativos e menos atraídos pela excitação (McCrae & Costa, 2008).

Apesar da estabilidade, algumas diferenças são observadas:

27
 Os adultos mais velhos pontuam significativamente menos em Neuroticismo,
extroversão e abertura e mais em amabilidade e conscienciosidade por
comparação a adolescentes (Costa & McCrae, 1994).
 Os adolescentes mostram mais ansiedade e preocupação com a aceitação e
autoestima (> Neuro) gastam mais tempo ao telefone e em atividade sociais com
os seus amigos (<extro), são mais abertos a todo o tipo de experiências (< Abert),
mas também mais críticos e exigentes com os outros (< Amab) e menos
conscienciosos e responsáveis (<Consc).

Algumas diferenças entre idades podem refletir não apenas diferenças devido à idade,
mas devido a viver diferentes períodos históricos (e.g períodos de guerra ou crises
económicas).

 Por exemplo, é possível que os adolescentes nos EUA hoje sejam menos
conscienciosos do que a geração dos seus pais.

8º aula

Diferenças personalidade longo da vida III

No entanto, note-se que os resultados encontrados são bastante consensuais no


padrão de mudança de personalidade ao longo da idade em diferentes culturas,
independentemente das diferentes conjunturas políticas, culturais e económicas.

Os autores da teoria dos traços argumentam que as diferenças nos traços encontradas
ao longo da idade se devem a fatores maturacionais intrínsecos, tal como outros
sistemas biológicos (e.g., McCrae, 2002).

Alguma investigação suporta esta perspetiva – mesmo diferenças individuais em


experiências contextuais não elimina a tendência observada nos 5 GF ao longo da
idade.

Porem, outros estudos mostram a influencia de fatores sociais em diferenças ao longo


da idade.

28
 Estudo com uma amostra de mulheres, que passaram pelas mudanças sociais ao
longo dos anos 60 a 90.
 Estas mulheres mostraram pontuações mais elevadas em variáveis relacionadas
com a conscienciosidade e a amabilidade. Variáveis relacionadas com a
extroversão diminuíram.
 Observou-se ainda um aumento do empowerment, assertividade, aceitação de si e
domínio sobre o meio, ao longo das décadas.

Alterações sociais como os novos papeis sociais femininos, movimentos em 60s e 70s,
podem estar na origem destas mudanças.

Srivastava, John, Gosling e Potter (2003) num inquérito longitudinal amplo,


observaram mudanças com a idade em cada um dos 5 grandes fatores, em homens e
mulheres,

 Amabilidade – aumento nos homens e mulheres entre os 31 e os 50 e volta a


decrescer (autores relacionam com a personalidade).
 Segundo estes autores, as mudanças ao longo da vida não se devem a maturação
biológica, mas são o resultado de experiências sociais e da vida.
 A personalidade desenvolve-se ao longo da vida como o resultado da adaptação a
interações individuais com o contexto social.

Embora os traços sejam bastante estáveis ao longo do tempo, podem mudar de uma
forma sistemática e significativa (Cramer, 2003).

Desenvolvimento personalidade infância e adolescência

Revimos estudos sobre as mudanças da personalidade na idade adulta – como será em


períodos precoces do desenvolvimento?

Estudos encontraram com alguma consistência que o temperamento na infância esta


relacionado com o modelo dos 5 GF da personalidade na idade adulta (Halverson,
Kohnstamm, & Martin, 1994).

29
Características de temperamento precoce, como sociabilidade, nível de atividade e de
emocionalidade (Buss & Plomin, 1984), desenvolvem-se e amadurecem com a idade
em dimensões como a extroversão e o Neuroticismo.

No entanto, as ligações exatas entre temperamento e personalidade e os processos


como isto ocorre, ainda não foram estudados objetivamente.

As diferenças encontradas em estudos personalidade, entre crianças e adultos, dizem


respeito à estrutura da personalidade, que parece ser menos complexa e menos
integrada na infância – em vez de 5 GF, nos estudos com crianças, emergem 7 fatores
(John et al., 1994).

 Em vez de um fator abrangente de extroversão, os investigadores encontraram a


sociabilidade e a atividade em separado;
 Em vez do Neuroticismo, encontraram o medo e a irritabilidade em separado.
 No adulto observa-se a integração destas dimensões, estas componentes fazerem
parte dos grandes traços no adulto.
 Estes resultados sugerem uma associação entre o temperamento herdado
geneticamente e os traços de personalidade (Buss & Plomin, 1984).

Estabilidade e mudança na personalidade

Vimos que existem diferentes pontos de vista acerca da estabilidade e evolução da


personalidade ao longo do ciclo de vida:

 I uma visão sugere que o desenvolvimento da personalidade é largamente


determinado biologicamente e continuo.

McCrae e Costa (2008) sublinham a falta de evidencias das influências contextuais:


como é possível que com anos de experiência, casamentos, divórcios, mudanças de
carreira, doenças cronicas e agudas, guerras e depressões possam ter tao pouco
impacto na personalidade dos indivíduos ao longo dos anos?

 II outra visão e que embora exista evidencia de consistência ao longo do curso de


vida, não é tao alta. Indica que a mudança existe em resultado do contexto.

30
Embora a estrutura geral dos 5 traços permaneça bastante estável, existem evidencias
de mudanças ao nível dos sub-traços.
Estudos mostram que as práticas parentais, por exemplo, têm um impacto sobre o
desenvolvimento da personalidade na infância, tal como, as experiências de trabalho
na idade jovem adulta.

Neste momento, com os dados existentes podemos com alguma segurança dizer o
seguinte:

(1)A personalidade é mais estável quando medida em pequenos períodos de tempo,


do que em longos.

(2) A personalidade é mais estável na idade adulta do que na infância – embora


existam evidencias de estabilidade geral dos traços, existem diferenças na estabilidade
ao longo do desenvolvimento.

(3)

(4) Embora existam evidencias de estabilidade longitudinal dos traços, os limites da


influência do contexto na mudança ao longo da infância e da idade adulta,
permanecem por determinar.

(5) Algumas das razoes para a estabilidade são genéticas e outras podem ser
contextuais, na medida em que alguns contextos podem ser estáveis e reforçar traços
específicos.

Por outro lado, algumas razoes para a mudança são alterações nas circunstâncias da
vida ou esforços ativos em direção à mudança como na psicoterapia.

Aplicação do modelo big five – 5 grandes fatores

Uma área de aplicação é a do bem-estar subjetivo (BES) – em que medida as pessoas


sentem e pensam que a sua vida é boa, presença de emoções positivas altas e de
emoções negativas baixas (Lucas & Diener, 2008).

31
 Embora a associação entre estes construtos tenda a ser estável e preditiva ao
longo do tempo, o BES das pessoas pode mudar, em virtude de mudanças nas
circunstâncias de vida e de mudanças na personalidade.

). Outra área de aplicação do modelo dos 5 GF é a da saúde. Um estudo longitudinal,


ao longo de 70 anos, revelou que as pessoas mais conscienciosas vivem mais tempo.

 Adultos que em crianças (11 anos) eram conscienciosos (classificação de pais e


professores) viveram significativamente mais tempo do que os outros.
 Mostraram correr menos riscos durante a vida e morrer menos de mortes
violentas, enquanto os menos conscienciosos corriam mais riscos que levaram a
acidentes.
 Menos provável fumarem e beberem fortemente, mais provável de terem
comportamentos saudáveis: exercício físico, dietas equilibradas, respeitar
prescrições médicas e evitar ambientes tóxicos.

Outros estudos longitudinais recentes mostraram a relação entre traços de


personalidade e comportamentos de saúde.

 Indivíduos mais extrovertidos em crianças revelaram-se mais envolvidos em


atividade físicas aos 40 anos e foi mais provável de serem fumadores,
comportamentos que predizem a saúde positiva e negativamente.

Os teóricos do modelo dos 5 grandes fatores acreditam que o seu modelo pode dar
informações sobre diagnostico clínico e tratamento.

 Muitos autores veem a psicopatologia como versões exageradas de traços de


personalidade normais.
 Por exemplo, a perturbação de personalidade compulsiva pode ser entendida
como uma expressão de extrema conscienciosidade e Neuroticismo; o
comportamento anti-social como extremamente baixo em amabilidade e em
conscienciosidade.
 Isto significa que o modelo dos 5 GF é um instrumento útil não só para a
diferenciação de pessoas, mas como uma aplicação clínica de diagnostico.

32
Por outro lado, conhecer os traços big five dos indivíduos pode ser útil para antecipar
o urso e planear os tratamentos psicológicos. Bem como escolher o melhor tipo de
terapia.

 Indivíduos com diferentes tipos de personalidade funcionam melhor em diferentes


vocações, também podem beneficiar mais de certos tipos de terapias.
 Por exemplo, indivíduos com elevada abertura à experiência podem beneficiar
mais de terapias que encorajam a exploração e a fantasia. Pode preferir a
exploração de sonhos como na psicanalise ou um enfase na auto-atualização
humanista.
 Os indivíduos com baixa abertura podem preferir formas mais diretivas de
terapia, incluindo o uso de medicação e a abordagem cognitivo-comportamental.

Em suma, o modelo dos 5 GF tem muitas aplicações em várias áreas da psicologia na


predição de diferenças individuais em resultados sociais e de saúde.

É uma teoria mais limitada para fornecer explicações sobre as dinâmicas causais da
psicopatologia. Descreve melhor do que explica.

Não apresenta métodos terapêuticos específicos para ajudar as pessoas para mudar as
suas características de personalidade desadaptativas.

A controvérsia da pessoa-contexto

Em relação à definição dos traços de personalidade falamos de consistência ou


continuidade ao longo do tempo e de situações.

 Existem evidencias mensuráveis sobre consistência longitudinal, pode ser medida


em vários graus.
 Porem, em que medida é que essa consistência existe em várias situações e com
várias pessoas diferentes?

Autores afirmaram que o comportamento das pessoas é inconsistente entre


situações diferentes.

33
 Essa inconsistência reflete a capacidade humana básica de discriminar e adaptar-
se a situações diferentes de acordo com as oportunidades, constrangimentos
regras e normas de cada situação.
 A adaptação dos indivíduos pode resultar numa menor possibilidade em prever
comportamentos.

Os críticos levantam questões sobre a consistência situacional:

 É mais difícil de medir. Tem que se ter em consideração várias situações e não se
espera que o individuo se comporte da mesma maneira em todas (e.g., é de
esperar que se observem menos evidencias de agressividade numa cerimonia
religiosa por comparação jogo de futebol).

9ºaula

(para o teste sai só até esta aula)

A controvérsia da pessoa-contexto II

Um estudo sobre a consistência de comportamentos de conscienciosidade (Mischel &


Peake, 1983), consistiu em pedir a estudantes universitários para identificar
comportamentos conscienciosos seus, em vários contextos e registar medidas:

Os resultados mostraram muita consistência longitudinal, mas menor consistência


situacional.

Os estudantes eram conscienciosos em alguns domínios (e.g. tirar boas notas nas
aulas) mas não em outros (e.g., quartos muito desarrumados).

A consistência entre situações foi muito inferior à longitudinal.

Embora, foi maior quando os mesmos tipos de comportamentos eram avaliados ou os


mesmos tipos de contextos (e.g., escola, casa ou trabalho) (Jackson & Paunonen,
1985).

Mesmo quando assumimos que há consistência nos comportamentos relacionados


com os traços, há sempre alguma variabilidade em torno da média.

34
De quanto será essa variabilidade à volta da média?

Os psicólogos desenvolveram métodos para medir essa variabilidade (Moskowitz &


Zuroff, 2005; Fleeson & Leicht, 2006

A controvérsia da pessoa-contexto III

Num estudo, pediram aos participantes que registassem os seus pensamentos e


sentimentos algumas vezes por dia, durante vários dias (experience sampling method),
por exemplo, durante a última hora.

Uma medida tradicional de extroversão é (e.g., “em que medida é uma pessoa
faladora?). Desta vez perguntaram: “durante a última hora, em que medida foi
“falador”?” (Fleeson, 2001).

Recolhendo esta informação durante vários dias obteve-se uma grande quantidade de
informação por pessoa, permitindo obter uma média, mas também variabilidade do
comportamento em situações diferentes.

Foi encontrada muita variabilidade nos comportamentos, consoante os contextos


(Fleeson,2001).

A controvérsia da pessoa-contexto IV

Nos fatores de Extroversão, conscienciosidade e Abertura intelectual, a variação foi


muito elevada, entre os níveis mais baixos e mais altos da escala (Fleeson, 2001),
revelando que os indivíduos variam muito em comportamentos.

Ainda, à medida que os indivíduos se adaptam aos diversos desafios do dia-a-dia, o seu
comportamento varia muito. Estas variações ainda não estão descritas nem explicadas
pelos teóricos dos traços.

Assim, existe mais evidencia de consistência dos traços dentro de domínios de


situações (e.g., casa, escola, trabalho, amigos, lazer) do que entre diferentes contextos.

35
Uma vez que as pessoas tendem a ser estudadas em contextos limitados, pode parecer
que existe maior consistência do que na verdade existe.

Analise critica da teoria dos 5 Grandes Fatores

 Pontos fortes da teoria dos traços:

Construiu uma classificação da personalidade validade empiricamente, em 5 grandes


fatores com características descritivas relacionadas.

Desenvolveu medidas de personalidade com validade e fidelidade em várias culturas,


permitindo distinguir os indivíduos numa ampla variedade de características
psicológicas (Barenbaum & Winter, 2008; McCrae & Costa, 2008)

O uso destas medidas como uma ferramenta permite prever o comportamento


humano, nas áreas educacional, clínica e organizacional e na investigação científica,
atesta a sua ampla utilidade.

Analisou a relação entre as características psicológicas de personalidade e os aspetos


de base biológica.

Limitações e críticas à teoria consistem:

Os métodos de analise fatorial usados para definir a taxonomia dos cinco grandes
fatores podem apresentar limitações;

Autores negligenciaram no seu modelo teórico a influencia de áreas importantes do


funcionamento psicológico como o SELF OU EU, as influências contextuais e as
possibilidades de mudança;

Os teóricos da personalidade procuram teorias que sejam úteis para a atividade clínica
(Westen, Gabbard, & Ortigo, 2008). Ao contrário das outras teorias, a teoria dos
traços não fornece técnicas terapêuticas baseadas na sua teoria;

36
Os teóricos das teorias da personalidade podem argumentar que a sua teoria apenas
tem o objetivo de identificar as diferenças individuais e a base biológica dessas
diferenças, não é uma teoria sobre a mudança da personalidade.

As restantes contribuições da teoria são consideradas relevantes.

10ºaula

Teoria sociocognitiva da personalidade

Esta teoria parte da fusão de duas teorias:

A teoria da aprendizagem social – que estudou a aquisição de novos padrões de


comportamento dos humanos na ação com o mundo social;

A teoria cognitiva – estudou a cognição, incluindo as estruturas cognitivas (conceitos)


que as pessoas usam para interpretar eventos.

Relação da teoria sociocognitiva com as teorias anteriores – tentou superar as


limitações das teorias anteriores.

1. Os psicanalistas enfatizam demasiado as forças inconscientes e a influencia das


experiências na infância;

A teoria sociocognitiva coloca mais enfase na autorreflexão consciente e argumentam


que os processos de desenvolvimento critico ocorrem não apenas na infância precoce,
mas ao longo da vida.

2. A teoria sociocognitiva questiona as premissas da teoria dos traços de que a


personalidade pode ser entendida em termos de médias de traços:

 Acreditam que a personalidade é revelada em comportamentos médios, mas


também em padrões de variabilidade na ação;

37
 Por exemplo, podemos ser tímidos com uns e não com outros; podemos estar
motivados em relação a algumas tarefas e não a outras.

3. A teoria sociocognitiva questiona as teorias evolucionistas na explicação da


personalidade uma vez que não conseguem explicar o impacto das grandes mudanças
na vida social, ao longo da história.

Há um século atrás explicavam, em termos de evolução da espécie, que as mulheres


estavam predispostas a ficar em casa.

Atualmente, as mulheres integraram massivamente o mercado de trabalho, assim, a


explicação de que existe uma predisposição natural feminina para ficar em casa já não
faz sentido.

4. A teoria sociocognitiva questiona as teorias comportamentais que referem que os


estímulos ambientais controlam o comportamento dos indivíduos, determinados pelo
processo estimulo-resposta.

 As pessoas têm a capacidade de autocontrolo do seu comportamento.


 As capacidades cognitivas das pessoas (o que pensam) habilitam-nas a mudar o
curso do seu próprio desenvolvimento.
 Permitem ainda aprender novas formas de comportamento por observação, ou
moldagem, mesmo sem esforço (Bandura, 2006)

Muitos teóricos da psicologia contribuíram para a teoria sociocognitiva.

Porém, Albert Bandura e Walter Mischel, nascidos nas décadas de 1920/30,


destacaram-se nos seus contributos.

Focaram-se em aspetos diferentes do funcionamento da personalidade, mas as suas


contribuições são complementares e contribuem para um corpo coerente da teoria e
investigação sociocognitiva.

Visão sobre as pessoas – Teoria Sociocognitiva

Três características das pessoas são únicas em relação às outras espécies:

38
 pensam sobre o mundo e usam linguagem (linguagem simbólica diferida);
 pensam sobre as circunstâncias do presente, do passado e do futuro;
 são capazes de refletir sobre si e sobre o seu pensamento – metacognição.

A teoria sociocognitiva é a única que foca as capacidades especificas dos humanos


para construir a sua teoria:

O ser humano é ativo e consistente na resolução de problemas, capaz de gerir um


conjunto amplo de experiências e capacidades cognitivas;

Possui um grande potencial para se adaptar às diversas situações.

É capaz de construir ativamente o seu mundo psicológico e de influências o contexto,


mas também é influenciado pelo contexto.

Na teoria sociocognitiva (TSC) a visão sobre as pessoas é diferente das perspetivas


anteriores:

 A teoria psicanalítica é muito baseada nos impulsos inconscientes da


personalidade;
 A teoria dos traços é muito baseada em traços estáveis da personalidade;
 As teorias comportamentais são muito baseadas nos processos automáticos
estimulo-resposta.

Na TSC, embora concordem com uma base temperamental para a personalidade,


defendem que “eu penso, logo tenho capacidade de mudar o que sou” (Mischel,
2014)

Teoria Sociocognitiva: visão sobre a ciência da personalidade

Os autores da TSC procuraram integrar os avanços científicos da psicologia e outras


ciências e desenhar um quadro integrativo e coerente da natureza humana (Cervone
& Mischel, 2002).

A TSC usa uma abordagem ideográfica e procura não apenas as semelhanças, mas o
que distingue os indivíduos.

Ainda, Bandura e Mischel procuraram aplicações práticas das suas teorias para
promover mudanças que beneficiam as pessoas.

39
Características distintivas da Teoria Sociocognitiva

A Teoria Sociocognitiva enfatiza:

1. As pessoas como agentes ativos da personalidade;


2. Os contributos sociais do comportamento;
3. Os contributos dos processos cognitivos;
4. Tanto as tendências medias do comportamento como a variabilidade do
comportamento;
5. A aprendizagem de padrões complexos, mesmo na ausência de recompensas ou
reforços.

Estruturas da Teoria Sociocognitiva

Para compreender a TSC é necessário as 4 estruturas cognitivas de que é composta:

1. Competências e habilidades – os saberes e as capacidades que as pessoas


adquirem podem influencias as suas tendências de comportamento.
2. Crenças – O conjunto de ideias que as pessoas têm acerca de como o mundo é; e
acerca de como as coisas virão provavelmente a ser no futuro, Expectativas –
quando as crenças são dirigidas ao futuro.
3. Certos pensamentos envolvem o que as pessoas querem atingir no futuro,
designados objetivos pessoais.
4. Outro tipo de pensamentos relaciona-se com juízos acerca de como as coisas
deveriam ser, aspetos morais. Estes pensamentos são padrões de avaliação, ou
seja, critérios para avaliar a virtude ou o valor moral dos eventos.

11ºaula

1. Competências e Habilidades

As diferenças de personalidade entre as pessoas podem não ser causadas por


diferenças emocionais ou impulsos motivacionais, mas sim pelas suas competências
em desenvolver certas ações.

40
Exemplo: alguns introvertidos podem sê-lo apenas por falta de competências de
extroversão. Outros podem ser conscienciosos porque aprenderam bem as
competências para corresponder às regras.

Segundo a teoria sociocognitiva a competência mais importante é a competência de


resolução de problemas e de como lidar com os desafios (Mischel & Shoda, 2008).

 Envolvem analisar os problemas e executar soluções para os resolver.

Exigem 2 tipos de competências, as que envolvem uma combinação de saberes de


procedimento e saberes declarativos:

Saber procedimental – capacidade cognitivas e comportamentais que temos, mas


sobre as quais não sabemos falar (como animar um amigo);

Saber declarativo – conhecimento sobre o qual somos capazes de falar por palavras
nossas (Cantor & Kihlstrom, 1987).

Competências – A especificidade do contexto

As competências podem ser revelantes para algumas situações ou contextos sociais


e ser irrelevante para outros:

 Contextos diferentes colocam desafios específicos que requerem


competências especificas, podemos ser competentes nuns e não noutros.
 A competência em gerir e resolver os problemas é muito importante (ter boas
competências de estudo é pouco útil quando queremos resolver uma discussão com
colegas.)

A importância dada à especificidade do contexto diferencia a teoria sociocognitiva


da teoria dos traços, que não consideraram o contexto.

 A competência de qualquer pessoa varia consideravelmente de um tipo de


situação para outro.

As competências são adquiridas através das interações sociais e da observação do


mundo social e podem mudar (Bandura, 1986).

41
 As pessoas podem mudar e adquirir competências em áreas especificas das
suas vidas.
 Estas ideias podem ser aplicadas diretamente à prática clínica.
A experiencia permite adquirir competências e a desenvolver quem somos.
2. Crenças e Expetativas II

A teoria sociocognitiva considera que um determinante essencial das nossas ações e


emoções são as nossas crenças e expetativas de futuro:

 Acerca do comportamento provável das outras pessoas;


 Acerca das recompensas ou punições que possam seguir um certo tipo de
comportamento;
 Ou a sua própria capacidade de lidar com o stress e com os desafios.

As crenças podem variar consideravelmente de uma situação para a outra.

Esperamos que a mesma ação possa despoletar diferentes reações em diferentes


situações (falar alto numa festa ou numa igreja).

Os investigadores da teoria sociocognitiva estudam as expetativas generalizadas das


pessoas, porém, a maior parte estuda as expetativas das pessoas em relação a
domínios específicos das suas vidas.

 Por causa das suas múltiplas capacidades cognitivas, os humanos fazem uma
variedade enorme de discriminações entre situações.

12ºaula

Crenças e expetativas III

Um ponto-chave na teoria sociocognitiva é que as pessoas quando formam expetativas


podem agrupar e separar as situações de modo muito particular.

 Podem agrupar situações escola versus vida social, em que numa a expetativa é
sistematicamente de descontração e na outra de ansiedade.
 As pessoas criam associações e separam naturalmente as situações na sua vida de
diferentes formas.

42
De acordo com a teoria sociocognitiva a essência da personalidade assenta nas
diferentes formas em que as pessoas percebem as situações, desenvolvem
expetativas acerca do futuro em cada circunstância e exibem padrões de
comportamentos distintos como o resultado das crenças e expetativas.

 Estudar as expetativas em vez de apenas os eventos dota a teoria sociocognitiva


de uma melhor capacidade de explicar porque é que duas pessoas podem reagir
de modo diferente a uma mesma situação contextual.
 Perante a mesma situação podem desenvolver diferentes expetativas acerca do
que é provável de acontecer no futuro.

O self e as crenças de autoeficácia

Expetativas sobre o self (eu/si) são particularmente importantes para o


funcionamento da personalidade (Bandura, 2001).

 As expetativas das pessoas acerca da sua própria capacidade ou desempenho são


uma peça importante para a realização humana e o bem-estar.

Perceção de autoeficácia (PAE) – refere-se à perceção das pessoas acerca das suas
próprias capacidades para a ação em situações futuras.

 É um aspeto importante porque influencia muitos comportamentos, necessários


para a realização humana.
 Para obter sucesso numa área (chegar à faculdade) é necessário ultrapassar um
conjunto de desafios.

O self/EU e as crenças de autoeficácia II

4 mecanismo de comportamento são influenciados pelas Perceções de Autoeficácia


(Bandura, 1997).

Pessoas com uma elevada perceção de eficácia pessoal, provavelmente,

(1) Decidem envolver.se mais em tarefas difíceis;


(2) Persistem nos seus esforços,
(3) Mantêm-se mais calmos em vez de ansiosos durante o desempenho das tarefas

43
(4) Organizam os seus pensamentos de uma forma mais analítica

Pelo contrário, pessoas que questionam as suas capacidades para realizar uma tarefa,
baixa a perceção de autoeficácia (PAE):

 Podem falhar em tentar realizar atividades de valor;


 Podem desistir quando as coisas se tornam difíceis;
 Tendem a ficar ansiosos durante a performance;
 Frequentemente ficam perturbados e falham em pensar de uma forma calma e
analítica (uma pessoa com baixo sentido de eficácia tende a bloquear em atividade
difíceis).

Perceção autoeficácia difere de autoestima (avaliação global que a pessoa faz do seu
valor pessoal).

A perceção de autoeficácia não é uma variável global, refere-se à avaliação das


pessoas sobre o que são capazes de realizar em cada contexto específico.

 As pessoas têm diferentes perceções do que são capazes de fazer em diferentes


situações (podemos ter uma autoestima elevada, mas uma perceção de
autoeficácia baixa em relação a um exame de física quântica.)
 Podemos sentir-nos ansiosos em relação a um exame mesmo que tenhamos uma
autoestima elevada.

Estudos mostram que a relação entre autoestima e desempenho é geralmente fraca


(Baumeister, et al, 2003),

 Porém, a relação entre a perceção de autoeficácia e desempenho é


frequentemente forte (Bandura & Locke, 2003; Stajkovic & Luthans, 1998).

Uma segunda distinção importante na teoria sociocognitiva diz respeito à diferença


entre expetativas de autoeficácia vs expetativas de resultados (Bandura,1977).

 Expetativas de resultados são crenças acerca de recompensas e punições que vão


ocorrer se uma pessoa desempenhar um comportamento específico

44
 Exemplo: podemos acreditar que ter uma licenciatura em psicologia nos vai trazer
recompensas no futuro (financeiras, desenvolvimento pessoal), temos expetativas
de resultados elevadas.

Expetativas de autoeficácia são crenças acerca de se somos capazes de desempenhar


o comportamento, terminar a licenciatura.

 Exemplo: podemos ter baixas expetativas de realizar o curso – baixas expetativas


de autoeficácia em relação a isso.

Estudos mostram que as expetativas de eficácia são mais importantes do que as de


resultados para determinar o comportamento.

 Podemos ter elevadas expetativas de resultados em relação a uma realização, mas


se não tivermos expetativas de eficácia em relação ao um objetivo de pouco vale,
tendemos a não o perseguir.

Bandura, em vez de medidas de perceção de desempenho globais, usou a


investigação microanalitica – medidas detalhadas de perceção de autoeficácia
recolhidas antes do desempenho em situações especificas:

 Perguntou às pessoas o grau de confiança em que achavam que iam conseguir


desempenhar determinada tarefa especifica, num contexto específico.
 Em vez de perguntar se considerava que era um bom futebolista, perguntava se
achava que ia conseguir marcar um golo naquela situação?
 A perceção de autoeficácia variaram num individuo de uma situação para outra.

Desempenho e perceção de autoeficácia

Uma premissa básica da teoria sociocognitiva é que as perceções de autoeficácia


influenciam o comportamento.

O nível de competência da pessoa pode influenciar tanto o comportamento como as


perceções de autoeficácia.

 Assim, contribui para a relação entre a perceção de autoeficácia e motivação para


a ação.

45
Investigadores conseguiram alterar/manipular experimentalmente a perceção de
autoeficácia, mesmo quando as competências das pessoas eram as mesmas.

Ao manipular as perceções de autoeficácia, podemos ver como elas influenciam o


comportamento.

 A estratégia usada foi a manipulação de ancoragem – os sujeitos eram


influenciados através de palpites aleatórios (Cervone & Peake, 1986).
 Antes de desempenhar uma tarefa, que incluía resolver uma serie de problemas,
foi pedido aos participantes que avaliassem se seriam capazes de resolver mais ou
menos do que 10, 5, ou 3 itens (valores ancoragem).
 Nas várias condições da experiência, este valor podia ser mais alto ou baixo,
porém, era escolhido aleatoriamente.

Desempenho e perceção de autoeficácia II

Quantos exercícios é capaz de resolver num total de 10? Mais do que (7) (5) ou (3)
exercícios?

 As pessoas, tendiam a responder próximo do valor de ancoragem


 Os participantes expostos a valores altos, mostraram perceção de autoeficácia
mais altas.
 Ou seja, o valore de ancoragem na pergunta influenciou a perceção de
autoeficácia na tarefa, ainda que as competências dos indivíduos fossem as
mesmas.

Devido à manipulação de ancoragem (valor que definidos que a pessoa é capaz de


alcançar), as pessoas diferiram na sua perceção de autoeficácia, ainda que
mantivessem as suas capacidades reais na tarefa.

No passo seguinte, os investigadores pediram à pessoa para executar a tarefa e


mediram a sua persistência (quanto tempo tentaram resolver a tarefa antes de
desistir).

46
 Os grupos que tiveram perceção de autoeficácia mais elevadas persistiram mais
nas tarefas por comparação aos que tinham perceção de autoeficácia mais baixas.
 Embora as diferenças de perceção de autoeficácia tenham sido influenciadas por
valores de ancoragem aleatórios.

Resultados mostram que a perceção subjetiva das pessoas acerca do seu desempenho
numa tarefa tem uma influência causal no seu comportamento e na persistência

 As perceções de autoeficácia podem afetar decisões e ações subsequentes.

13º Aula

Desempenho e perceção de autoeficácia IV

As crenças de perceção de autoeficácia também influenciam a forma como as pessoas


lidam com os desapontamentos e com o stress, na obtenção de objetivos de vida.

O funcionamento humano geral é facilitado por uma perceção pessoal de controlo, tal
como a perceção de autoeficácia (Schwarzer, 1992).

 Um estudo sobre mulheres antes de realizarem uma interrupção voluntária de


gravidez (IVG) mediu a personalidade (autoestima e otimismo) e a perceção de
autoeficácia- expetativa acerca de, após a interrupção voluntaria de gravidez, ser capaz
de estar com bebés e crianças confortavelmente e ter relações sexuais satisfatórias.

Após a interrupção de gravidez voluntária e 3 semanas mais tarde, foram recolhidas


medidas de humor e depressão.

 Os resultados suportaram claramente a hipótese de que a perceção de


autoeficácia foi uma chave determinante para o ajustamento das mulheres após a
interrupção voluntária de gravidez.

47
 As variáveis de personalidade (autoestima e otimismo) também estiveram
associadas ao ajustamento após a interrupção voluntaria da gravidez. Contudo, o seu
efeito contribuiu principalmente para a sua perceção de autoeficácia.

A autoestima não é uma variável que possamos alterar dum momento para o outro,
podemos sim questioná-la e perceber de que forma podemos melhor a nossa
autoestima para que não se torne nociva para nós.

Em suma, as perceções de autoeficácia têm mostrado efeitos diversos na experiência


e ação dos indivíduos:
 As perceções de autoeficácia influenciam a seleção dos objetivos dos
indivíduos (indivíduos com perceção de autoeficácia elevadas selecionam objetivos
mais difíceis e desafiantes).
 Influenciam o esforço e a persistência, indivíduos com perceção de autoeficácia
elevada revelam um desempenho relativo superior aos indivíduos com perceção de
autoeficácia baixa (Stajkowic & Luthans, 1998).
 Indivíduos com perceção de autoeficácia elevada abordam as tarefas com
humor menos negativo (menor ansiedade e depressão), lidam melhor com o stress e
desapontamentos do que os indivíduos com crenças de autoeficácia inferiores.
O desenvolvimento dos indivíduos está mais associado à persistência do que ao
pessimismo. A autoconfiança não garante necessariamente o sucesso, mas a
autodescrença, certamente, promove o falhanço.

Teste até aqui

Objetivos
O terceiro tipo de estrutura de personalidade na teoria sociocognitiva são os objetivos.
Objetivo é uma representação mental da finalidade de uma ação ou ações.
A capacidade cognitiva das pessoas para contemplar o futuro, habilita-as a definir
objetivos específicos para ação e motivar o seu comportamento.
Os objetivos contribuem para a capacidade humana de autocontrolo - guiam-nos a
estabelecer prioridades e a selecionar situações;

48
Capacidade de transcender as circunstâncias do presente e organizar o
comportamento em função de períodos de tempo futuros.
Os objetivos das pessoas estão organizados num sistema de objetivos.
Alguns objetivos são mais centrais ou importantes do que outros.
Objetivos em níveis mais elevados da hierarquia (ser aceite na universidade),
organizam objetivos de nível inferior (ter boas notas no 12ºano), que, por sua vez,
organizam níveis de objetivos inferiores (estudar para os exames).

Os sistemas de objetivos, contudo, não são rígidos ou fixos:


As pessoas podem gerir os vários objetivos, dependendo do que parecer mais
importante no momento, em função das oportunidades no contexto, e da sua
perceção de autoeficácia para atingir objetivos.
Os objetivos das pessoas numa tarefa podem diferir de várias formas (Locke & Latham,
1990, 2002,), quanto ao:
 Ao nível de desafio dos objetivos – por exemplo, numa aula algumas pessoas
podem ter o objetivo de apenas passar à disciplina, enquanto outras podem adotar
como objetivo ter nota alta.
 À proximidade do objetivo – uma pessoa pode definir um objetivo próximo
(que vai surgir em breve), outra pode definir objetivos distantes (para um futuro
distante).
 Por exemplo, se o objetivo de uma pessoa é perder peso, um objetivo próximo
pode ser perder 1kg numa semana, enquanto um objetivo distante pode ser perder
12kg nos próximos 3 meses.
Os objetivos próximos têm uma influência maior no comportamento presente do que
os objetivos distantes.
 Os objetivos distantes permitirem a uma pessoa protelar no presente.
 Por exemplo, uma pessoa que quer perder 12kgs em 3 meses, pode convencer-
se de que pode adiar a dieta uma semana e, ainda assim, cumprir o objetivo de longo
termo.
Por outro lado, os objetivos podem diferir no seu significado subjetivo:
 Algumas pessoas podem ter o objetivo de adquirir mais conhecimentos e
habilidade na tarefa;

49
 Outras podem estar mais preocupadas em não cometer erros ou envergonhar-
se perante os outros –
 Com diferentes objetivos de aprendizagem e desempenho (Dweck & Leggett,
1988).

A definição de objetivos está relacionada com as expetativas. Estas influenciam o


processo de definir objetivos.
 Pessoas com alta perceção de autoeficácia geralmente definem objetivos mais
elevados e permanecem mais vinculadas e persistentes em consegui-los.
Por outro lado, os objetivos podem influenciar as expetativas, à medida que as
pessoas trabalham nas tarefas e recebem feedback do seu desempenho (Grant &
Dweck, 1999).
 Exemplo: suponhamos que realizámos um exame e o nosso resultado foi igual
ao da média da turma.
 Se o nosso objetivo era apenas passar e apreender alguma coisa, podemos ficar
satisfeitos e reforçar as nossas expetativas de sucesso no futuro.
 Se o nosso objetivo era ter uma nota excecional, podemos ficar insatisfeitos e
desencorajados em prosseguir, especialmente se certas aspirações já não se podem
realizar (entrar na faculdade).

Padrões de avaliação
A quarta estrutura de personalidade na teoria sociocognitiva são os padrões de
avaliação – um padrão é um critério para julgar a virtude ou o valor de uma pessoa, de
uma coisa ou de um evento.
 A teoria sociocognitiva estuda a forma como as pessoas adquirem critérios
para avaliar eventos e em como estas avaliações influenciam as suas emoções e
ações.
 De importância particular na teoria sociocognitiva são os padrões de avaliação
relacionados com o próprio (padrões pessoais).
 São fundamentais para a motivação e desempenho humanos.
As pessoas geralmente avaliam o comportamento em curso de acordo com padrões
pessoais internalizados.

50
 Imagine que está a escrever um trabalho para uma cadeira. Pensa acerca do
conteúdo do trabalho e pensa acerca da qualidade da escrita.
 Tem em mente padrões (níveis) de avaliação que usa para julgar o valor do seu
próprio trabalho. Assim, vai alterando o trabalho de forma a ajustá-lo aos seus
padrões pessoais, até atingi-los.

14ºaula

Padrões de avaliação
Os padrões pessoais geralmente despoletam reações emocionais.
Reagimos com orgulho quando cumprimos os nossos critérios de desempenho e
ficamos insatisfeitos quando ficamos aquém – emoções designadas reações de
autoavaliação.
Constituem auto reforços (internos) e são importantes para manter comportamentos
durante longos períodos de tempo, particularmente na ausência de reforços externos.
Assim, através das respostas de autoavaliação como orgulho e culpa, somos capazes
de nos premiar se cumprimos os nossos padrões e de nos punir se os violamos.

 A teoria sociocognitiva enfatiza que os padrões de avaliação são centrais ao


comportamento que chamamos moral/imoral.
 Alguns dos padrões de avaliação que aprendemos envolvem princípios morais e
éticos relacionados com o tratamento das outras pessoas.
 Embora todas as pessoas numa sociedade possam estar familiarizadas com
esses princípios, às vezes as pessoas não os seguem para regular o seu
comportamento.
 Por exemplo, toda a gente sabe que é errado roubar numa loja ou plagiar um
trabalho escolar. Contudo, algumas pessoas fazem-no.
 As pessoas seletivamente desvinculam-se dos seus padrões morais, quando
isso é do seu interesse pessoal.

51
Para se poderem desvincular dos seus padrões morais, as pessoas muitas vezes, dizem

coisas a si mesmas que lhes permitem desconsiderar os próprios padrões (toda a

gente copia nos testes, por isso também vou copiar).

A teoria sociocognitiva opõe-se à perspetiva comportamentalistas porque:

 Os padrões de avaliação não são sempre postos por agentes exteriores;

 As pessoas tem os seus próprios padrões internos para o seu comportamento;

 O curso do comportamento é determinado por estes sistemas internos e por

reforços de contexto – mas não apenas por reforços externos, como defendem os

comportamentalistas.

As estruturas sociocognitivas da personalidade

Na teoria sociocognitiva, falamos sobre as 4 estruturas de personalidade:

Competências e habilidades, crenças e expetativas, objetivos e padrões de avaliação –

não são estruturas independentes.

São sistemas e subsistemas cognitivos (pensamento) em interação – dentro do

sistema global da personalidade.

Cada estrutura desempenha diferentes papéis na personalidade:

Competências – permitem às pessoas agir de uma forma inteligente e competente nas

várias situações e contexto; crenças, acerca de como o mundo é e expetativas de

52
como será o futuro; objetivos, o que nos propomos a realizar, padrões de avaliação,

como as coisas deveriam ser.

Face a esta visão da cognição e personalidade, a teoria sociocognitiva nunca atribuiria

a uma pessoa um valor médio para cada traço da personalidade.

 Embora possa haver padrões médios de comportamento, a variabilidade

situacional deve ser considerada.

 A personalidade é demasiado complexa para poder ser reduzida a médias.

Em vez disso, cada uma destas 4 estruturas da personalidade refere-se a um sistema

de cognição social complexo e dinâmico:

 As pessoas tem um conjunto de objetivos, crenças e padrões e uma diversidade

de competências;

 Diferentes estruturas de personalidade entram em ação em diferentes

situações sociais;

 Estudando este complexo sistema de estruturas sociocognitivas e a sua

interação com o mundo social, a teoria sociocognitiva tenta integrar a complexidade e

variabilidade nos indivíduos.

Teoria sociocognitiva do desenvolvimento personalidade

De acordo com a sua estrutura, a teoria sociocognitiva entende o desenvolvimento da

personalidade através de duas funções psicológicas principais:

1. Adquirir novo conhecimento e competências, particularmente pelos processos

de aprendizagem observacional;

53
2. Exercer controlo sobre ou autorregular as ações e experiências emocionais.

Os comportamentalistas acreditam que as pessoas adquirem conhecimento através de

processos de tentativa e erro – aproximação sucessiva.

 O reforço positivo e negativo, vai gradualmente moldando o padrão de

comportamentos.

Bandura forneceu uma explicação alternativa, quando os erros são muito onerosos

(condução).

 As pessoas aprendem, observando o comportamento de outros – modelação.

 As capacidades cognitivas das pessoas habilitam-nas a observar um modelo e

desempenhar comportamentos semelhantes.

Aquisição vs performance de comportamentos

Um padrão de comportamentos novo e complexo pode ser aprendido

independentemente do reforço.

 Porém, se o comportamento vai ou não ser reproduzido já depende das

recompensas e punições.

Resultados mostram que as crianças aprendem certas respostas emocionais em

empatia com um modelo, de forma vicariante, apenas observando o modelo –

designado, condicionamento vicariante.

 Estudos mostraram que a observação de consequências indiretas num modelo,

afetam a reprodução, mas não a aquisição do comportamento.

54
Estudo: macacos bebés observaram o medo de cobras nos seus pais.

O período de observação das reações emocionais dos pais foi muito breve.

Porem, uma vez ocorrido o condicionamento vicariante, o medo nas crias revelou-se

intenso, duradouro e presente em várias situações com cobras, diferentes das

situações observadas.

A aprendizagem observacional é um processo poderoso, porém, não devemos pensar

que é automático ou que estamos vinculados a seguir os passos dos outros.

 As crianças tem muitos modelos (pais, irmãos, professores, pares e tv)

 Ainda, aprendem com a sua própria experiência direta.

 Para alem disto, à medida que as crianças crescem, elas podem, ativamente,

selecionar que modelos vão observar e tentar reproduzir.

Assim, através da (1) experiência direta; (2) da observação; (3) das recompensas e

punições diretas; e do (4) condicionamento vicariante,

 Os indivíduos adquirem as 4 estruturas da personalidade: competências,

crenças e expetativas (de autoeficácia), objetivos e padrões de avaliação.

Através dos mesmos processos os indivíduos adquirem as capacidades de

autorregulação.

 Através do desenvolvimento de capacidades cognitivas e padrões internos, as

pessoas são capazes de antecipar as recompensas e punições futuras,

 Ou punir-se a elas próprias pelos progressos em atingir esses objetivos.

55
 Estes reforços produzidos pelos próprios são de particular importância para

manter o comportamento ao longo de períodos de tempo consideráveis, na ausência

de reforços externos imediatos.

02-06-2020

Teoria psicanalítica da personalidade

A visão da pessoa de Freud – a mente como um sistema de energia

A teoria da personalidade de Freud é uma teoria de como funciona a mente, um

modelo teórico das estruturas e processos mentais.

Freud considera a vida mental numa perspetiva biológica (Freud 1915/1970), uma vez

que a medicina era a sua formação de base.

Ele reconhece a mente como parte do corpo e gera princípios de funcionamento

mental, a partir de princípios de funcionamento fisiológico.

O corpo e a mente são sistemas de energia mecânicos. A mente recebe energias

mentais das energias físicas gerais do corpo.

A teoria psicodinâmica tenta explicar o que acontece à energia mental, como flui,

como é redirecionada e como é bloqueada.

A visão de Freud da energia mental inclui 3 ideias centrais:

56
1. Existe uma quantidade de energia limitada, se muita energia é usada de uma

forma, menos energia esta disponível para outros fins (a energia usada em objetivos

culturais, não esta disponível para objetivos sexuais e vice-versa.)

2. A energia pode ser bloqueada num canal de expressão, mas não desaparece, é

canalisada de outra forma, num caminho com menor resistência.

3. A mente funciona para atingir um estado de quiescência. As necessidades

corporais criam um estado de tensão. A pessoa procura reduzir essa tensão para

retornar a um estado interno de quietude (fome-tensão, alimentação-redução da

tensão, satisfação, quiescência)

O objetivo último do comportamento é o prazer que resulta da redução da tensão ou

da libertação de energias.

Estrutura – modelos conceptuais

A teoria de Freud da personalidade é, basicamente, um modelo detalhado das

estruturas e processos da personalidade que são responsáveis por esta fluência

dinâmica da energia mental:

Freud forneceu 2 modelos conceptuais da mente, que se complementam:

 Um define 3 níveis de consciência – inconsciente, pré-consciente e consciente.

 O outro define 3 sistemas funcionais na mente – id, ego e superego,

Modelo I – níveis de consciência e o conceito de inconsciente

Freud propõe 3 níveis de consciência, variações no grau em que estamos conscientes

dos fenómenos naturais.

57
1. O nível consciente – inclui os pensamentos de que estamos consciente em qualquer

momento.

2. O nível pré-consciente – inclui conteúdos mentais, que podemos facilmente tornar

conscientes se lhes dirigirmos a atenção (recordar um acontecimento do passado)

Ao focar a atenção em certos conteúdos da memoria acessível, estamos a trazer a

informação do pré-consciente para o consciente.

3. O nível inconsciente

 Conteúdos mentais inconscientes são parte da mente, em relação aos quais

não temos nem podemos vir a ter consciência, exceto sob circunstâncias especiais.

 Isto acontece, de acordo com Freud, porque eles provocam ansiedade.

 Nós possuímos pensamentos e desejos tão traumáticos ou socialmente

inaceitáveis que pensai conscientemente acerca deles provoca ansiedade.

 O desejo de nos protegermos da ansiedade que estes pensamentos geram,

força-os a manterem-se fora da consciência, no inconsciente.

Os princípios motivacionais do inconsciente acontecem em 2 processos:

Primeiro, os conteúdos mentais entram no inconsciente por razões motivacionais.

 O inconsciente arquiva ideias que são tão traumáticas que, se se mantivessem

conscientes, iriam causar dor psicológica.

 Pode incluir memorias de eventos de vida traumáticos, sentimentos de inveja,

hostilidade, um desejo sexual proibido ou o desejo de agredir alguém amado.

 Para manter o prazer e evitar a dor, motivados a banir esses pensamentos.

58
Segundo, os pensamentos no inconsciente influenciam a experiência que decorre no

consciente.

 As experiências psicológicas conscientes, pensamentos, sentimentos e ações,

são muito determinadas por conteúdos mentais do inconsciente.

 Atos falhados, sonhos, experiência de ansiedade súbita, sentimentos fortes de

atração ou repulsa em relação a alguém que acabamos de conhecer, sentimentos de

culpa em relação a coisas que não conseguimos explicar racionalmente.

04-06-2020

Modelo II Estruturas: ID, EGO e SUPER EGO

O 2ºModelo da mente/tópica (freud, 1923)

O modelo do id,ego e super ego – Distinção entre 3 estruturas.

Cada estrutura representa um sistema mental distinto que desenvolve uma função

psicológica especifica.

O Id é fonte de toda a energia dos impulsos, a reserva das energias mentais.

59
A função psicológica do Id na gestão das energias é simples: o Id procura o alívio da

tensão ou excitação, a redução da tensão para regressar a um estado de quiescência

interna.

O Id opera segundo o princípio do prazer, procura o prazer e evita a dor:

 Despreocupado com as normas e regras sociais. Não tolera a frustração e é

livre de inibições.

 Age como uma criança mimada, quer o que quer e quando quer.

 O ID procura a satisfação através da ação ou através da imaginação de que

conseguiu o que queria.

 A fantasia da gratificação pode ser tão boa como a gratificação em si mesma.

O superego surge em contraste com o ID. A sua função envolve os aspetos morais e do

comportamento dentro das normas sociais.

 O superego contém ideais que tentamos perseguir e padrões éticos que nos

fazem sentir culpa se violados.

 É uma representação interna das regras morais do mundo social externo e

procura controlar o comportamento de acordo com as regras.

 Oferece recompensas (orgulho, amor-próprio) pelo bom comportamento e

castigos (culpa, sentimentos de inferioridade) pelo mau comportamento.

O superego pode ter a tendência de funcionar de modo desligado da realidade, não se

adaptando às circunstâncias. Mas também pode ser compreensivo e flexível.

 As pessoas podem ser capazes de desculpar-se a si mesmas e aos outros se for

claro que um erro ou aconteceu devido a stress severo.

60
O ego é a 3º estrutura psicanalítica – o ID procura o prazer, o superego procura a

perfeição, o EGO procura a realidade.

 O ego opera segundo o princípio da realidade. A gratificação dos impulsos é

retardada até ao momento mais oportuno na realidade.

 Tenta maximizar o prazer e minimizar as consequências negativas (sentir-se

atraído por alguém, mas retardar o impulso, correspondido).

 O ego pode bloquear, redirecionar ou libertar gradualmente as energias do ID

em função das exigências da realidade e do superego. Não se opõe ao princípio do

prazer, mas pode tentar a sua suspensão temporária.

 Ao contrário do id, o ego muda ao longo do tempo com funções mais

complexas que se desenvolvem durante a infância.

 Ego pode parecer o gestor executivo da personalidade, mas Freud utilizou a

metáfora “o homem no dorso de um cavalo (id), que fornece toda a energia, tenta

direcioná-lo, mas o animal, mais forte, pode decidir ir para onde quer”.

Processos personalidade psicanalítica

Os processos da personalidade na teoria psicanalítica estao correlacionados com as

dinâmicas motivacionais.

Um impulso é uma fonte de energia que pode motivar ações especificas, dependendo

das oportunidades e limitações apresentadas pelo contexto.

Na base dos processos dinâmicos da personalidade estao 2 impulsos básicos que

motivam toda a ação humana: o impulso de vida e o impulso de morte.

61
 O impulso de vida inclui impulsos relacionados com o sexo, desejo, etc.

impelem as pessoas para a reprodução e preservação do organismo – chamado a

libido.

 O impulso de morte é o oposto, envolve os objetivos do organismo de morrer,

retomar a um estado inorgânico e procurar um estado de calma.

 É consistente com algumas observações da condição humana – pessoas tentam

escapar a problemas psicológicos pelo suicido, ou por comportamentos

autodestrutivos – manifestações do impulso de morte.

 O impulso de morte pode ser desviado da própria pessoa e dirigido aos outros

em atos de agressividade.

As dinâmicas de funcionamento psicanalítica

Os 2 impulsos podem manifestar-se de muitas formas diferentes e subtis:

 O afeto pode ser uma versão modificada do impulso sexual e

 O sarcasmo uma versão modificada do impulso agressivo.

 Futebol, por exemplo, pode gratificar ambos os impulsos, o sexual e o

agressivo.

Todos os processos na teoria psicanalítica podem ser descritos em termos de gasto ou

inibição de energia num objeto. A interação entre a inibição e a expressão dos

impulsos forma os processos dinâmicos da teoria psicanalítica.

Um aspeto- chave na teoria psicanalítica é o conceito de ansiedade:

 Uma experiência emocional dolorosa que representa uma ameaça ou perigo

para a pessoa

62
 A ansiedade é uma função do ego que o alerta para o perigo, de modo a que

ele possa agir.

Em alguns momentos da experiência biográfica, ao longo do desenvolvimento, pode

ocorrer um trauma, um incidente que a fere e magoa.

A ansiedade representa uma repetição de experiências de trauma precoces, numa

versão mais reduzida:

 A ansiedade no presente esta relacionada com perigos sentidos na infância –

por exemplo, uma criança pode ser punida severamente por um comportamento

agressivo ou sexual.

 Em adulto pode experienciar ansiedade associada com a inclinação para

realizar um tipo semelhante de comportamento agressivo ou sexual.

O anterior castigo (trauma) pode ou não ser lembrado. Em termos estruturais, a

ansiedade desenvolve-se através dum conflito entre os impulsos do id e a ameaça de

castigo do superego.

É como se o id dissesse “eu quero”, o superego dissesse “que horror” e o ego dissesse

“tenho medo”.

Estágios psicossexuais do desenvolvimento

No 2º estágio do Desenvolvimento, a fase anal (2 ou 3 anos), existe uma excitação no

ânus e no movimento das fezes pelo canal anal. A expulsão das fezes traz alívio da

tensão e prazer.

 Existe conflito entre o prazer da libertação e o prazer da retenção, ou seja, o

prazer na libertação e as exigências do mundo externo para as reter (treino bacio).

63
Este representa o primeiro conflito entre o individuo e a sociedade.

 Os pais podem ser rígidos ou recompensadores no controlo dos esfíncteres,

trazendo diferentes reações e desenvolvimento da personalidade.

 A criança pode vir a associar os impulsos intestinais à perda de alguma coisa

importante, conduzindo à retenção e rigidez personalidade, relacionado com a

obsessão pela ordem, ou desordenada e resistente à ordem.

 Pode ainda associar o controlo dos esfíncteres à gratificação dos outros,

criando sentimentos de controlo sobre o meio.

Na fase fálica (4-5anos), a excitação e a tensão são focadas nos genitais.

 A diferenciação biológica dos sexos conduz a uma diferenciação psicológica.

 A nova zona erógena conduz ao interesse aumentado nos genitais por parte do

menino e à consciência que falta um pénis (símbolo de poder) à menina.

O menino percebe que vai ser homem e quer o que os adultos do mesmo sexo têm.

 Manifesta o desejo de casar com a mãe e de ocupar o lugar do pai. O pai é

tornado rival, em relação ao afeto e atenção da mãe, o alvo de hostilidade.

 Vive a angústia de ser descoberto e castigado (ansiedade da castração) e a

culpa pelos seus sentimentos negativos.

 O complexo de édipo pode ser reforçado por comportamentos sedutores reais

por parte da mãe e por ameaças reais por parte do pai.

 Isto aumenta a ansiedade de castração, ou seja, o medo de ser castigado.

A menina percebe que lhe falta o pénis e culpa a mãe (inveja do penis), o seu objeto

de amor original.

64
 A menina escolhe o pai como objeto de amor. As manifestações de vinculação à

mãe diminuem, o sentimento de querer estar perto substitui-se por querer ser igual,

competitividade.

 Tal como no rapaz, o conflito neste período em alguns casos é acentuado pela

sedução do pai em relação à menina.

 Tal como o menino, sente medo de ser descoberta na sua rivalidade e de

perder o amor da mãe.

Meninos e meninas testam os limites entre o seu desejo pessoal e o comportamento

social aceite.

O conflito é resolvido mantendo o pai do sexo oposto como objeto de amor, mas

conquistando-o não por rivalidade com a figura parental do mesmo sexo mas por

identificação (integração) do pai do mesmo sexo, imitando-o.

Esta identificação da figura parental do mesmo sexo é crucial para a fase fálica e para o

desenvolvimento psicológico:

 As crianças integram as qualidade do pai do mesmo sexo no seu funcionamento

(personalidade) – assumem os mesmos valores morais;

 Desta forma, forma-se o superego, sendo considerado o herdeiro da resolução

do complexo de édipo.

Estudos empíricos- usando relatos dos pais sobre as interações com os seus filhos, e

respostas de crianças a histórias envolvendo interações entre pais e filhos – confirmam

a observação (4 anos), interesse preferencial das crianças pai de sexo oposto e um

antagonismo em relação ao pai do mesmo sexo.

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 Estes comportamentos diminuem por volta dos 5 ou 6 anos.

 Embora os investigadores orientação teórica diferentes, concordam com a

perspetiva psicanalítica sobre comportamentos edipianos entre pais e filhos.

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