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Justiça Federal da 6ª Região

PJe - Processo Judicial Eletrônico

13/12/2022

Número: 1000480-26.2020.4.01.3805
Classe: RECURSO INOMINADO CÍVEL
Órgão julgador colegiado: 1ª Turma Recursal da SJMG
Órgão julgador: 1ª Relatoria da 1ª Turma Recursal da SJMG
Última distribuição : 03/04/2021
Valor da causa: R$ 19.741,00
Processo referência: 1000480-26.2020.4.01.3805
Assuntos: Aposentadoria por Tempo de Contribuição (Art. 55/6)
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? SIM
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? SIM
Partes Procurador/Terceiro vinculado
INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL
(RECORRENTE)
DONIZETI BUENO DE REZENDE (RECORRIDO) SILVANA MARIA DOS SANTOS (ADVOGADO)
LUANA DE OLIVEIRA LIMA (ADVOGADO)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
25623 13/10/2022 18:33 Acórdão Acórdão
1652
JUSTIÇA FEDERAL

PROCESSO:
CLASSE:
POLO ATIVO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL
POLO PASSIVO:DONIZETI BUENO DE REZENDE
REPRESENTANTE(S) POLO PASSIVO: LUANA DE OLIVEIRA LIMA - MG199281-A e SILVANA MARIA DOS SANTOS
- MG166190-A
RELATOR(A):

EMENTA-VOTO

VOTO - VENCEDOR
RECURSO CONTRA SENTENÇA. PREVIDENCIÁRIO. CONVERSÃO TEMPO
ESPECIAL EM COMUM. RUÍDO. METODOLOGIA DE AFERIÇÃO.

1. O EXMO JUIZ FEDERAL EDISON GRILLO: trata-se de recurso contra a sentença


que extinguiu o processo sem resolução do mérito em relação ao pedido de
reconhecimento de tempo de serviço rural e reconheceu como tempo de serviço
especial (ruído) o período de 03/01/2011 a 17/07/2019; e condenou o INSS a averbá-
lo. Eis a sentença:

Na hipótese dos autos, o autor pretende comprovar que exerceu a


atividade especial como tratorista, no período de 03/01/2011 a 17/07/2019.

A parte autora juntou aos autos cópia de sua CTPS, na qual consta
anotação de que no período de 03/01/2011 a 17/07/2019 exerceu o cargo
de tratorista agrícola para José Tertuliano Duarte.

Para comprovar a exposição a agente nocivo, acima do limite de


tolerância, o autor juntou o PPP aos autos, demonstrando que exerceu a
atividade de tratorista, estando exposto ao agente nocivo ruído, no período
de 03/01/2011 a 17/07/2019 na intensidade de 86,3 dB(A).

As atividades desenvolvidas pelo autor eram as de preparar o solo para


plantio, produzir mudas, plantar, colher o fruto do café, beneficiar, trabalhar
no terreiro, acondicionar a colheita, realizar tratos culturais nas plantas,
aplicar defensivos organizar instalações, operar, ajustar e preparar
máquinas e equipamentos agrícolas.

Quanto à permanência, as atividades desenvolvidas pela parte autora, o


meio utilizado para desempenho das atribuições e as atribuições
propriamente ditas conduzem necessariamente à conclusão de que a

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exposição ao fator de risco ruído faz parte habitual do exercício de sua
atividade, já que relacionada diretamente à produção do bem ou prestação
do serviço.

Conclui-se, assim, que a parte autora logrou demonstrar que esteve


exposta ao agente nocivo ruído durante o período de 03/01/2011 a
17/07/2019 acima do limite de tolerância.

Reconhecido o exercício de trabalho em condições ambientais adversas,


assiste ao autor o direito à sua conversão em tempo de serviço comum,
observado o multiplicador 1,4, previsto no art. 70 do Decreto nº 3.048/99.

No caso dos autos, somando-se os períodos reconhecidos


administrativamente com o período ora reconhecido, conclui-se que a
parte autora possui 33 anos e 07 meses de contribuição, tempo
insuficiente para a concessão de aposentadoria por tempo de contribuição,
conforme cálculos em anexo que integram a presente sentença.

2. Pede o INSS a reforma da sentença para que o pedido inicial seja julgado
totalmente improcedente sustentando que (i) o PPP apresentado não informa o nome
do responsável técnico, (ii) o PPP não indica a metodologia adequada de aferição do
nível de ruído e (iii) o PPP foi emitido em 19/06/2019, não havendo comprovação de
tempo especial após 19/06/2019 até 17/07/2019, como reconheceu a sentença de
primeiro grau.

3. Foram apresentadas contrarrazões.

É a síntese do necessário.

VOTO

1. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça firmou-se no sentido de que,


independentemente da época, a exposição ao agente ruído não prescinde de laudo
técnico. Nesse sentido, o julgamento do Ag Rg no REsp 877.972 (Relator Des.
Convocado Haroldo Rodrigues, Sexta Turma Data do Julgamento 03/08/2010 - Data
da Publicação/Fonte DJe 30/08/2010). Veja:

AGRAVO REGIMENTAL. PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR


TEMPO DE SERVIÇO. CONVERSÃO DO PERÍODO LABORADO EM
CONDIÇÕES ESPECIAIS. LEI N.º 9.711/1998. EXPOSIÇÃO A AGENTES
NOCIVOS. LEIS N.ºS 9.032/1995 E 9.528/1997. OPERADOR DE
MÁQUINAS. RUÍDO E CALOR. NECESSIDADE DE LAUDO TÉCNICO.
COMPROVAÇÃO. REEXAME DE PROVAS. ENUNCIADO Nº 7/STJ.
DECISÃO MANTIDA POR SEUS PRÓPRIOS FUNDAMENTOS.

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1. A tese de que não foram preenchidos os pressupostos de
admissibilidade do recurso especial resta afastada, em razão do
dispositivo legal apontado como violado.

2. Até o advento da Lei n.º 9.032/1995 é possível o reconhecimento do


tempo de serviço especial em face do enquadramento na categoria
profissional do trabalhador. A partir dessa lei, a comprovação da atividade
especial se dá através dos formulários SB-40 e DSS-8030, expedidos pelo
INSS e preenchidos pelo empregador, situação modificada com a Lei n.º
9.528/1997, que passou a exigir laudo técnico.

3. Contudo, para comprovação da exposição a agentes insalubres (ruído e


calor) sempre foi necessário aferição por laudo técnico, o que não se
verificou nos presentes autos.

4. A irresignação que busca desconstituir os pressupostos fáticos adotados


pelo acórdão recorrido encontra óbice na Súmula nº 7 desta Corte.

5. Agravo regimental a que se nega provimento.

2. Nesse contexto, sobreveio a tese fixada pela TNU no Tema 174 (Pedilef
05056148320174058300), segundo a qual “(a) A partir de 19 de novembro de 2003,
para a aferição de ruído contínuo ou intermitente, é obrigatória a utilização das
metodologias contidas na NHO-01 da FUNDACENTRO ou na NR-15, que reflitam a
medição de exposição durante toda a jornada de trabalho, vedada a medição pontual,
devendo constar do Perfil Profissiográfico Previdenciário (PPP) a técnica utilizada e a
respectiva norma; (b) Em caso de omissão ou dúvida quanto à indicação da
metodologia empregada para aferição da exposição nociva ao agente ruído, o PPP
não deve ser admitido como prova da especialidade, devendo ser apresentado o
respectivo laudo técnico (LTCAT), para fins de demonstrar a técnica utilizada na
medição, bem como a respectiva norma.”.

3. É necessário esclarecer que a NR-15 contém apenas e tão somente a tabela de


limites de tolerância para cálculo da dose, normalmente utilizada para a aferição, na
forma ali estabelecida, da insalubridade para fins trabalhistas (maior, igual ou menor
que a unidade). A metodologia de cálculo do nível de pressão sonora, para fins
previdenciários, somente é encontrada nas NHT (Normas de Higiene do Trabalho)
criadas pela Coordenação de Higiene do Trabalho da Fundacentro, na década de
1980, hoje designadas Normas de Higiene Ocupacional – NHO -, as quais podem ser
adaptadas ao se utilizar a NR-15 [1]. Dessa forma, o precedente da TNU deve ser
interpretado como sendo mera repetição do que já consta do inciso IV do art. 280 da
IN 77/2015; isto é:

A partir de 01 de janeiro de 2004, será efetuado o enquadramento quando


o Nível de Exposição Normalizado - NEN se situar acima de 85 (oitenta e
cinco) dB (A) ou for ultrapassada a dose unitária, conforme NHO 1 da
FUNDACENTRO, sendo facultado à empresa a sua utilização a partir de
19 de novembro de 2003, data da publicação do Decreto nº 4.882, de

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2003, aplicando:

a) os limites de tolerância definidos no Quadro do Anexo I da NR-15 do


MTE; e

b) as metodologias e os procedimentos definidos nas NHO-01 da


FUNDACENTRO.

4. No que toca à comprovação da atividade especial no período de 03/01/2011 a


17/07/2019, o referente PPP (Id 2° Grau: Num. 107964729 - Pág. 1-2), conquanto
tenha responsável técnico, é imprestável, pois não informa a técnica utilizada para
medir o nível de pressão sonora aferida, limitando-se à expressão “Avaliação
Qualitativa”, que pode significar qualquer coisa, inclusive apuração do nível de ruído
por meio de critério subjetivo não previsto em norma alguma.

5. Não se sabe qual foi a tabela de limite de tolerância utilizada. Não se sabe qual foi a
fórmula utilizada para o cálculo do nível de exposição. Não se sabe quais níveis de
ruído foram descartados — se abaixo de 85 dB(A) ou se abaixo de 80 dB(A).

6. O que deveria ter sido medido era o NEN, nível de exposição convertido para uma
jornada padrão de 8 horas, com base nos limites de tolerância da NHO-01 (q=3 e
NLI=80) ou da NR-15 (q=5 e NLI=80), sendo, em qualquer caso, o critério de
referência igual a 85 dB(A) para uma exposição de 8 horas.[2]

7. Nesse sentido, o Tema 1083/STJ: “O reconhecimento do exercício de atividade sob


condições especiais pela exposição ao agente nocivo ruído, quando constatados
diferentes níveis de efeitos sonoros, deve ser aferido por meio do Nível de Exposição
Normalizado (NEN).”.

8. Assim, não é devido o reconhecimento do período de 03/01/2011 a 17/07/2019


como tempo especial.

9. Ante o exposto, DOU PROVIMENTO ao recurso, reformo a sentença e julgo


improcedente o pedido inicial do autor, salvo a extinção do processo sem resolução do
mérito em relação ao pedido de reconhecimento de tempo de serviço rural que fica
mantida. Sem honorários advocatícios, regra do art. 55 da lei n. 9099/95. Custas sob
isenção.

Juiz Federal EDISON GRILLO

1ª Relatoria da 1ª Turma Recursal da SJMG

[1] Pode também ser utilizada a ACGIH na hipótese prevista no item 3.3.5.1 ‘c’ da NR-9

[2] q = Fator de dobra; NLI = Nível Limiar de Integração.

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DEMAIS VOTOS

ACÓRDÃO: RESOLVE A TURMA DAR PROVIMENTO AO RECURSO.

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