Julia Maria Cer Que Ira Soares
Julia Maria Cer Que Ira Soares
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Soares, Júlia Maria Cerqueira.
Mediação de leitura e escrita pelo viés do terror
psicológico: uma proposta de ampliação de repertório
literário a partir do universo de contos de Edgar Allan Poe /
Júlia Maria Cerqueira Soares. – Juiz de Fora: UFJF / FALE, FICHA TÉCNICA
2018.
xii, 184f.:il.; 2,0cm.
Orientador: Érika Kelmer Mathias Organizadores
Dissertação (mestrado) – UFJF / Faculdade de Letras / Denise Barros Weiss
Programa de Mestrado Profissional em Letras, Elza de Sá Nogueira
PROFLetras/UFJF, 2018. Érika Kelmer Mathias
Referências Bibliográficas: f.180-184.
Lucilene Hotz Bronzato
1. Letramento Literário. 2. Ampliação de Repertório. 3.
Mediação de Leitura. 4. Mediação de Escrita. 5. Edgar Allan Poe. Marco Aurélio de Sousa Mendes
Mathias, Érika Kelmer et al.. II. Universidade Federal de Juiz de Natália Sathler Sigiliano
Fora, Faculdade de Letras, Programa de Mestrado Profissional Neusa Salim Miranda
em Letras, PROFLetras. III Título. Thais Fernandes Sampaio
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APRESENTAÇÃO DA COLEÇÃO Ao inovar no formato do trabalho de conclusão dos mestres que está formando, o PROFLETRAS/UFJF
sinaliza duas preocupações importantes. Primeiro, desejamos que o conhecimento aqui produzido
A necessidade de se repensar a educação, como forma de alteração positiva de realidades, cria circule do modo mais fácil e democrático possível. A ambição é que, através da ampla divulgação
também uma exigência de se estabelecerem caminhos que reinventem o processo de formação desses trabalhos de conclusão, provoquemos mudanças não apenas na prática pedagógica dos
docente. Nesse contexto, o PROFLETRAS – Mestrado Profissional em Letras, erigido sob indução professores que formamos, mas que as ideias aqui plantadas possam gerar mudanças também
da CAPES – reúne hoje 49 (quarenta e nove) Instituições Associadas (IA) de todas as regiões do no ensino de Língua Portuguesa realizado diariamente em inúmeras salas de aula de todo o país.
país e tem cumprido uma agenda pedagógica relevante nos processos de formação continuada de Ademais, a criação de um Caderno Pedagógico Digital traz ainda a economia de milhares de folhas
professores e, de maneira especial, na mudança de realidade da educação brasileira. Isso porque de papel – uma boa lição a ser repassada por professores-pesquisadores da escola fundamental.
o programa tem o grande diferencial de ser voltado exclusivamente para professores de português
que estão efetivamente atuando na rede pública de ensino e, além disso, tem como Trabalho de Portanto, da mesma forma como a elaboração destes trabalhos exigiu ressignificação das práticas
Conclusão Final (TCFs) uma proposta de natureza necessariamente interventiva. de salas de aulas reais, esperamos que este caderno ofereça a você, leitor, novos olhares e novas
perspectivas para o ensino de língua portuguesa.
A Universidade Federal de Juiz de Fora (Faculdade de Letras em parceria com o Colégio de Aplicação
João XXIII) se constitui como uma IA nesse Programa e, buscando enfrentar o desafio de uma escola
contemporânea ao século XXI, propõe uma nova coleção de Cadernos Pedagógicos Digitais, por meio
dos quais são apresentados os TCFs de sua terceira turma. Na coleção aqui apresentada, cada um dos
doze Cadernos descreve o trabalho interventivo desenvolvido por um professor-pesquisador, sob
orientação de um docente do Programa. Cada Caderno se faz acompanhar ainda de um documento
com a fundamentação teórico-metodológica adotada e a análise da proposta desenvolvida.
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APRESENTAÇÃO DO PROJETO Nesse sentido, elaboramos uma proposta interventiva2 em uma turma de 9º ano, do Ensino
Fundamental, de uma escola pública estadual no município de Juiz de Fora – MG –, que tem como
Caro Professor,
objetivo principal ampliar o repertório literário, no sentido iseriano, especificamente no que diz
Nos últimos quinze anos, têm-se defendido que os professores de Literatura busquem vencer respeito ao narrador-personagem de primeira pessoa não confiável, com o qual os alunos também
a usual noção conteudística da disciplina, pautada principalmente em falar sobre a literatura, em lidam pouco. Para tal, selecionamos o universo do terror psicológico de contos de Edgar Allan Poe. A
prol de se focar em práticas de leitura do texto literário, em que o aspecto central desse tipo de escolha desse autor se deu não somente por ser um cânone no sistema literário e, particularmente,
texto, a saber, o estético, seja privilegiado. Os avanços dos estudos sobre o ensino de Literatura no universo da literatura fantástica, mas também por ser possível estabelecer um diálogo entre
apontam para a ideia de que a leitura, por ser uma prática social, precisa ser compartilhada para seus contos com apelo ao terror com o universo dos filmes e séries desse gênero com as quais os
que os sujeitos envolvidos construam sentidos dialogicamente. Assim, torna-se necessário repensar alunos já interagem. Todavia, a complexidade dos textos de Poe exige um leitor mais proficiente, o
estratégias de leitura que, de fato, proporcionem uma experiência de leitura que seja significativa que implica, justamente, o tipo de ampliação de repertório de que falamos acima.
para os discentes.
Já a escolha dos contos a serem lidos – “O coração delator” e “O gato preto” – foi motivada
Dentro dessa perspectiva do letramento literário, entendemos que os professores devam pelos aspectos aos quais queríamos enfatizar, dentro do universo de terror psicológico de Poe: o
conceber estratégias distintas para a prática da leitura de textos literários em sala de aula, visando narrador de 1ª pessoa não confiável, cuja personalidade – complexa e ambígua – coloca o leitor
não só ampliar o repertório do aluno, no sentido muito mais de complexificar seu nível de leitura, em uma posição de incertezas sobre os fatos narrados: se aconteceram, como aconteceram, o que
como também de ampliar seu leque de atuação leitora. Para que haja essa ampliação de repertório, acontece com os personagens após o fato narrado, entre outros aspectos “abertos” da obra. Para
é imprescindível conhecer a realidade na qual os alunos estão inseridos e saber em que nível de mediar a leitura dos contos selecionados para esta intervenção, elegemos como estratégia a leitura
competência leitora1 de textos literários estão, para, a partir daí, introduzir, gradualmente, leituras em suspense3.
cada vez mais complexas.
Além da ampliação do repertório discente, esta proposta interventiva tem por objetivo testar
Partindo dessa premissa, observando meus alunos do 9° ano, sobretudo em suas conversas se os alunos, ao final do processo, seriam capazes de criar narradores-personagens, com certa
paralelas em aula, percebo que adoram o universo do terror, do suspense macabro e do fantástico. profundidade psicológica, e interagir através deles pelo universo do terror. Para mediar os processos,
Percebo isso, principalmente, em função das séries que eles dizem assistir e indicam para os colegas. tanto da criação dos narradores-personagens quanto da história vivenciada por eles, utilizamos
Só para citar alguns nomes, já os ouvi falar dos filmes Annabelle, O grito, A órfã e O chamado e séries uma estratégia bastante comum nos jogos de Roleplaying Game (mais conhecidos como RPG): o
como American Horror Story e The Walking Dead. Todavia, a maioria deles só conhece esse universo preenchimento de fichas4.
por meio da linguagem cinematográfica de filmes e séries. Poucos são os que já leram textos em
que o fantástico e o terror e/ou medo, de fato, são elementos constituintes do texto, de modo a 2 Esta pesquisa, desenvolvida no âmbito do Mestrado Profissional em Letras, do Programa de Pós-graduação em Letras da UFJF, vincula-se a um projeto mais amplo:
Tecnologias Pedagógicas para o Ensino de Literatura: perspectivas práticas, desenvolvido pela professora pesquisadora Érika Kelmer Mathias, professora do Colégio de
configurá-lo como gênero. Aplicação João XXIII/UFJF e do Mestrado Profissional em Letras/PROFLETRAS/UFJF.
3 Essa estratégia, desenvolvida pela orientadora desta pesquisa, Érika Kelmer Mathias, consiste em fragmentar os textos em unidades menores, que possuam uma
unidade significativa, isto é, de modo que cada fragmento possa ser lido como um “capítulo” do conto. Essas quebras devem ser feitas em momentos que possibilitem
a “formulação de hipóteses” sobre o que poderá acontecer no próximo fragmento. Para maiores informações sobre esta estratégia de leitura, consulte o capítulo X da
Dissertação que acompanha este Caderno Pedagógico.
1 Para maiores informações sobre este conceito, consultar o Capítulo X da Dissertação que acompanha este Caderno Pedagógico. 4 Todas as fichas utilizadas durante a aplicação do projeto foram criadas especificamente para este processo interventivo.
4
Assim, estruturamos nossa proposta em três etapas: I) Introdução do universo da narrativa do
terror psicológico de Edgar Allan Poe; II) Ampliação do universo de terror psicológico de Edgar Allan
Poe; e III) Elaboração de narrativas de terror psicológico, utilizando estratégias dos jogos de RPG,
com foco na construção dos narradores-personagens.
DISSERTAÇÃO
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SUMÁRIO
ETAPA I - pág. 7 ETAPA III - pág. 29
INTRODUÇÃO DO UNIVERSO DA NARRATIVA DO TERROR PSICOLÓGICO ELABORAÇÃO DE NARRATIVAS DE TERROR PSICOLÓGICO, UTILIZANDO
DE EDGAR ALLAN POE ESTRATÉGIAS DOS JOGOS DE RPG, COM FOCO NA CONSTRUÇÃO DOS
NARRADORES-PERSONAGENS
1° Momento: Motivação para a leitura do primeiro conto “O
coração delator”; - pág. 7 1° Momento: Apresentação/construção do cenário; - pág. 29
2° Momento: Leitura do conto “O coração delator”. - pág. 7 2° Momento: Construção dos narradores-personagens; - pág. 32
3° Momento: Elaboração das histórias; - pág. 35
ETAPA II - pág. 18 4° Momento: Compartilhamento das história com a turma.
AMPLIAÇÃO DO UNIVERSO DE TERROR PSICOLÓGICO DE EDGAR - pág. 37
ALLAN POE
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS - pág. 40
1° Momento: Motivação para a leitura do conto; - pág. 18
2° Momento: Leitura do conto “O gato preto”; - pág. 18
3° Momento: Apresentação do perfil recortado do autor. - pág. 28
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ETAPA I – INTRODUÇÃO DO UNIVERSO DA NARRATIVA DO TERROR PSICOLÓGICO DE EDGAR ALLAN POE 2° momento: Leitura em suspense do conto “O coração delator”
uma reflexão sobre as escolhas lexicais do autor. Neste momento ainda não levantamos as hipóteses 3. Quem está falando?
sobre o conteúdo do conto. Tal levantamento será feito somente após um primeiro contato com o
4. Com quem está falando?
texto do autor, isto é, após a leitura do Trecho 1 e da atividade de Leitura Cênica. No nosso caso,
fizemos as seguintes perguntas motivadoras: 5. Que doença será esta?
1. Vocês já ouviram falar em Edgar Allan Poe? 6. Vocês já viveram alguma situação como esta: vocês ou alguém que conhecem ficou
doente e, por causa disso, mudou o modo de ser de alguma maneira?
2. Vocês conhecem algum texto dele?
7. Em um momento ele diz que a doença exacerbou seus sentidos, sobretudo a audição.
3. O que significa a palavra “delator”?
Quais são os outros sentidos que temos?
4. O que seria um “coração delator”?
8. Vocês já imaginaram como seria sua vida sem um dos sentidos? Por exemplo, como
5 Por motivos de ordem técnica, concernentes à limitação do número de páginas, não colocaremos os trechos no corpo do texto. Os vinte e três trechos do conto “O coração delator” encontram-se no
Link 1.
7
seria sua vida sem o tato? Sem o paladar? Sem o olfato? Sem a audição? Sem a visão? emocional em que se encontra o narrador, no momento em que inicia sua história, o professor
deve realizar uma “leitura cênica” deste trecho. O propósito desta atividade é fazer com que o aluno
9. Qual sentido vocês mais usam?
tente encenar como este homem estaria se dirigindo ao seu interlocutor. Para isso, não é necessário
10. No texto, o narrador nos diz que sua audição ficou mais aguçada. Em quais situações
usar as mesmas palavras que estão no texto, mas é preciso respeitá-lo, sem muitos improvisos. É
nós, normalmente, ficamos com a audição mais aguçada?
interessante apresentar algumas regras da dinâmica para a turma. Em nosso caso, foram as seguintes:
11. Por que será que ele afirma ter ouvido todas as coisas do céu, da terra e até do
- os alunos iriam trabalhar em trios. Eles deveriam definir um aluno para ser o narrador e dois
inferno?
para serem ouvintes;
12. Vocês se lembram de alguma situação na qual o falante também exagerou ao
- eles poderiam utilizar apenas uma cadeira no cenário;
contar um fato?
- o espaço cênico, ou seja, onde as apresentações seriam realizadas, não poderia ficar vazio.
13. O personagem está calmo agora?
Desse modo, deveria haver um fluxo nas apresentações. Assim que um trio terminasse, outro deveria
ocupar o espaço;
Na etapa III desta intervenção, os alunos irão passar por um processo de construção de - antes de iniciar a cena, os alunos deveriam se virar de costas para o público, contar até três
narradores-personagens. Dessa forma, sugerimos que o professor oriente seus alunos a fazer um mentalmente e iniciar sua cena;
mapeamento da personalidade dos narradores-personagens dos contos lidos, antes de se passar à
- o aluno a fazer o narrador poderia ficar com o texto em mãos para consulta, caso sentisse
leitura do trecho subsequente. Acreditamos que esta atividade possa contribuir para a reflexão sobre
necessidade;
as escolhas lexicais do autor e sobre o processo de construção da complexidade dos narradores
- eles teriam cinco minutos para treinar a apresentação, pois a questão central não seria decorar
de Poe. No nosso caso, os alunos iam, conjuntamente, decidindo sobre as palavras e expressões
o texto, mas tentar vivenciar esse estado do narrador. Eles poderiam selecionar trechos a falar e/ou
referentes à personalidade do narrador e destacando no trecho lido tais termos (pode ser caneta
improvisar, desde que mantivessem o teor da fala e o tom do falante.
marca-texto ou colorida). No link abaixo, o professor poderá verificar o resultado da aplicação desta
atividade: Após esta “leitura cênica”, o professor deve passar à criação das hipóteses sobre o conteúdo
do conto. O professor deve retomar o título do conto, escrevendo-o no quadro, e perguntar aos
alunos o que esperam encontrar em um conto com este título. No nosso caso, fizemos as seguintes
Mapeamento da personalidade do narrador-personagem do conto “O coração delator”
perguntas:
8
perguntar sobre as hipóteses de leitura e anotá-las no quadro. É interessante fotografá-las para 2. No trecho lido, ele diz que tomou “a decisão de tirar a vida do velho e, com isso [se]
possíveis retomadas. Em nosso caso, as hipóteses foram: livrar do olho, para sempre”. Vocês acham que ele vai conseguir?
Foto do quadro – Hipóteses sobre a história 3. Como o personagem passou a agir depois que pensou em “se livrar do olho”?
Após conversarem sobre o Trecho 3, o professor deve propor a seguinte atividade para
estruturação das hipóteses dos alunos:
- Os alunos devem se organizar em grupos de acordo com suas hipóteses, dessa forma, não
há número pré-definido de participantes nos grupos;
- Como cada grupo irá defender uma hipótese diferente, as perguntas norteadoras serão
diferentes para cada grupo:
Grupo 2: Alunos que acham que ele vai tentar matar o velho, mas não vai conseguir
Trecho 2
Perguntas: Como ele vai tentar matar o velho?
1. Neste trecho, surgiu um personagem novo. Qual é a relação do narrador com o Por que ele não vai conseguir matar o velho?
velho?
2. Por este trecho, dá para saber qual é “a ideia que penetrou pela primeira vez” no Grupo 3: Alunos que acham que ele não vai nem tentar matar o velho, uma vez que ele apenas
cérebro do narrador? Que ideia vocês imaginam que foi essa? pensou nesta possibilidade, mas logo desistiu
Perguntas: O que passou pela cabeça do personagem para decidir matar o velho?
3. Pelo que lemos até agora, o velho seria rico ou pobre?
Por que ele desistiu de matar o velho?
Trecho 3
1. No trecho lido, o narrador fala que “um de seus olhos parecia o de um abutre”. - Cada grupo deve eleger um aluno para apresentar a hipótese para a turma;
Vocês já viram um abutre? Conhecem o olho desta ave? - Após cada apresentação, os outros alunos opinam sobre a viabilidade das hipóteses criadas;
9
- Para que se organizem em relação ao tempo, os alunos terão: 5. E o inverso: você já teve a sensação de o tempo ter passado muito rápido? Conte
como foi isso.
• 3 minutos para criar uma hipótese comum ao grupo;
6. Geralmente, o tempo passa devagar em quais situações?
• 5 minutos para anotá-la;
7. E o tempo passa rápido em quais situações?
• 3 minutos para apresentá-la à turma;
8. No início desse trecho ele diz que “levava uma hora para passar a cabeça toda pela
• 5 minutos de discussão coletiva após a apresentação.
abertura”. Pensando no que discutimos sobre a noção da passagem do tempo até
agora e levando em consideração o estado emocional do narrador, será que a ação
Trecho 4 durou realmente uma hora?
1. O que o personagem fazia toda noite? 9. O “olho do abutre” estava aberto ou fechado?
2. Vocês sabem o que é uma lanterna furta-fogo? 10. Imaginem se o velho abrisse o olho neste momento? Como será que o homem
reagiria?
3. O personagem diz que tomava cuidado “para não perturbar o sono do velho”. Vamos
tentar imaginar essas ações passo a passo. Quanto tempo vocês acham que durava 11. Depois de ficar olhando para o olho do velho, o que o homem fazia?
a ação entre abrir a porta e colocar a cabeça dentro do quarto?
12. No trecho anterior, vimos que o homem diz que ia ao quarto do velho observá-lo
todas as noites. Durante quanto tempo vocês acham que ele fez isso?
Trecho 5
Deixar que os alunos se manifestem sobre suas hipóteses: quem acertou, quem errou etc. 1. Confirmaram-se ou não as hipóteses levantadas?
2. A cama estava longe ou perto da porta? 2. Qual trabalho era impossível fazer?
3. Vocês já foram a uma casa antiga, com portas de madeira enormes, dobradiças que 3. Por que era impossível fazê-lo?
rangem e assoalho de madeira, que faz barulho quando andarmos sobre ele? Ou já
4. O que poderia haver neste olho que o torna maligno?
viram essas casas em algum filme? Quais sentimentos essas casas provocam em
nós?
Trecho 7
4. Vocês já viveram alguma situação em que parecia que tinha passado muito tempo,
mas, na verdade, tinha passado pouco tempo? Conte como foi isso. 1. Confirmaram-se ou não as hipóteses levantadas?
10
2. Durante estes sete dias, como era a rotina do homem? contada já ocorreu. Quem não sabe?
3. E como era a rotina do velho? 6. E quem pode ser este “senhor” a quem o personagem se dirige?
5. Por que o homem afirma que “o ponteiro de minutos de um relógio se move mais Trecho 10
depressa do que então a minha mão”?
1. Confirmaram-se ou não as hipóteses levantadas?
6. Quais pensamentos secretos vocês imaginam que são estes?
2. Vocês acham que ele realmente ficou uma hora inteira imóvel?
Trecho 11
Trecho 9
1. Confirmaram-se ou não as hipóteses levantadas?
1. Confirmaram-se ou não as hipóteses levantadas?
2. Por que o homem afirma que foi tudo em vão? O que vocês acham que vai acontecer?
2. O que vocês acham que o homem vai fazer agora?
3. Temos certeza de que estas coisas que vocês disseram vão acontecer?
3. E o velho?
4. Mas temos certeza de que vai acontecer algo ruim?
4. O que vocês acham que o “senhor” que está ouvindo o homem contar essa história
5. Podemos confiar em tudo o que este narrador diz?
está pensando ou sentindo em relação a isso tudo?
6. Podemos afirmar que os pensamentos do velho descritos por ele são reais?
5. O velho e o homem já sabem o que aconteceu, porque essa história que está sendo
11
7. Então o que o velho poderia estar pensando? 4. Será que é nesta noite que ele vai matar o velho?
8. Como vocês acham que o velho está se sentindo? 5. Quem acha que ele vai matar o velho hoje? Por quê?
9. Como estava o narrador no primeiro trecho? Vamos ler novamente. 6. Quem acha que ele não vai matar o velho? Por quê?
10. E como ele está agora? 7. Lembra da ambiência/atmosfera de terror do trecho anterior? A atmosfera mudou
ou continua a mesma?
11. Neste momento na narrativa, no quarto, o velho já abriu o olho? O homem já viu
o olho do velho? 8. Quais são os termos que mostram que a atmosfera continua a mesma?
Neste momento, é interessante retomar o trecho anterior para que os alunos percebam, de 10. Como o homem abriu a luz da lanterna?
forma mais pontual, a formação de uma atmosfera de terror e a tensão do clima. Para tal, eles devem
11. Com o que o homem compara o raio de luz da lanterna?
se organizar em duplas e eleger, em cada uma delas, quem desempenhará o papel do narrador e
12. De acordo com o trecho, quando o raio de luz bateu no rosto do velho, o que
quem o do senhor que ouve a narrativa. A atividade consiste em o aluno que for fazer o narrador,
mostrou?
ler o trecho, tentando apreender o estado de espírito em que se encontra esse narrador. E o aluno
que será “o senhor” deve fazer o mesmo: ouvir o trecho da narrativa tentando apreender o estado
com que o senhor o faria. Em seguida, eles devem inverter os papéis. Logo após os dois integrantes
Em seguida, o professor deve solicitar aos alunos que pesquisem na internet imagens de olhos
da dupla vivenciarem os dois papéis – de narrador e ouvinte – eles devem conversar entre si sobre
estranhos, baseados no que o narrador fala sobre o olho do velho. É interessante que a turma seja
os dois “lugares” ocupados. O professor circula pela sala enquanto a atividade é realizada. Essa
organizada em grupos (de cinco ou seis alunos), para que discutam, entre si, sobre as imagens que
atividade é interessante porque pontua não somente o lugar do narrador, como o do leitor, que é o
trouxeram. Cada grupo vai eleger uma imagem para apresentar para a turma e justificar o porquê
mesmo do ouvinte-senhor da narrativa.
de sua escolha. Nessa discussão coletiva, as imagens apresentadas precisam ser justificadas com
elementos do texto, tanto em relação ao aspecto físico do olho, quanto em relação aos sentimentos
que ele provoca no narrador.
Trecho 12
3. Por que o homem ainda não tinha feito nada com o velho?
12
Imagens de olhos estranhos pesquisadas pelos alunos Trecho 13
Após a leitura do Trecho 13, os alunos devem verificar se alguma das imagens apresentadas se
“encaixam” nos aspectos novos da descrição do olho do velho.
10. Como será que está a expressão do senhor que está ouvindo a história?
12. Se o homem está nervoso na hora que está contando, imagina na hora que estava
dentro do quarto?
Em seguida, o professor deve solicitar aos alunos que pesquisem na internet imagens mais
próximas das novas descrições apresentadas do olho do velho: “todo de um azul fosco e coberto
por um véu medonho”. É importante não mencionar a palavra catarata, deixando que os próprios
Clique nas imagens para ampliá-las e baixá-las alunos cheguem a esta conclusão. Na turma em questão, uma aluna (Ro) chegou à conclusão de
que se tratava de catarata, pois afirmou que o seu falecido avô também tinha um dos olhos azul
13
e fosco devido à doença. Os outros alunos concordaram e chegaram à conclusão que o velho do Trecho 14
conto padecia da mesma doença do avô da colega de classe. Para esta atividade, é interessante
1. Confirmaram-se ou não as hipóteses levantadas?
que a turma seja organizada em grupos (de cinco ou seis alunos), para que discutam, entre si, sobre
2. Como o homem matou o velho?
as imagens que trouxeram. Cada grupo vai eleger uma imagem para apresentar para a turma e
justificar o porquê de sua escolha. 3. Vocês conseguem imaginar os minutos finais do velho?
4. Vocês conseguem imaginar o “senhor” que está ouvindo a história neste momento?
Novas imagens de olhos baseadas nas novas descrições do narrador: 5. O que vocês acham que vai acontecer agora?
Trecho 15
3. Vocês já conhecem esse narrador. O que seriam estas “sensatas precauções” que
ele tomou? E quais seriam?
Para essa questão, vale organizar a turma em grupos para discussão das hipóteses. Em nosso
caso, organizamos a turma em trios que deveriam pensar em como o homem iria ocultar o corpo.
Cada trio apresentou sua hipótese para a turma, sendo todas elas debatidas coletivamente, no
que diz respeito a sua possibilidade de execução no contexto na narrativa em questão. Para se
organizarem em relação ao tempo, os alunos tiveram a seguinte orientação:
14
Trecho 16 Depois dessa discussão, o professor deve retomar o texto com a seguinte questão:
1. Confirmaram-se ou não as hipóteses levantadas? 8. No final do trecho lido, o narrador diz que terminou o trabalho às quatro horas
da manhã e que, quando “o sino deu as horas, houve uma batida à porta da rua”.
2. O narrador disse anteriormente que tomou “sensatas precauções”. O que vocês
Quem vocês acham que bateu à porta?
acham que tem de sensato nisso?
3. Quanto tempo vocês acham ele demorou para cortar o corpo? 2. Por que a polícia foi até a casa do velho?
4. O que vocês acham que ele usou para cortar o velho? Após entregar e ler o trecho:
5. Vocês conseguem imaginar como é cortar uma pessoa em pedaços? Imaginem a 3. Que grito é esse que o vizinho ouviu?
cena!
4. Que traição seria essa?
6. Em quantas partes ele cortou o velho?
5. Quem será que apresentou a queixa?
7. Vocês conhecem algum caso de uma pessoa que tenha sido morta e separada em
6. Imaginem como foi esse grito. Vocês iriam dar queixa no meio da noite após ouvir
partes, esquartejada?
um grito?
7. O narrador disse que três policiais foram até a casa do velho. Como deve ter sido
Neste momento, aproveitando o ensejo da pergunta anterior, é interessante deixá-los falar esta queixa para deslocar três policiais tão rapidamente?
sobre crimes, divulgados pela mídia, em que houve esquartejamento. Em nosso caso, pontuaram
8. Será que foi só um grito mesmo que foi ouvido?
o caso de Elisa Samúdio (ex-namorada do goleiro Bruno); Elize Matsunaga (ex-esposa do dono da
9. O narrador está falando que foi tudo rápido, tranquilo. Será que foi assim mesmo?
Yoki) e Tim Lopes (repórter investigativo morto pelo tráfico). O professor também pode comentar
outros casos que conheça. 10. Como vocês acham que será a reação do homem diante dos policiais?
15
Trecho 19 Trecho 21
2. Como os policiais reagiram diante do comportamento do homem? 2. Imaginem a cena: Como o homem estava falando com os policiais neste momento?
3. O que vocês acham da reação do homem, de seu comportamento neste momento? 3. É possível ter quatro homens no quarto e só o narrador estar ouvindo o barulho?
4. Será que ele estava com uma expressão realmente serena? 4. Como vocês acham que os policiais estavam ao ver o homem nesse estado? De acordo
com o que nos conta o homem, os policiais “ainda conversavam animadamente, e
5. Como vocês acham que os policiais se sentiram ao observar a reação do homem?
sorriam.”. O que vocês acham disso?
5. O homem diz que “Era um som baixo, surdo, rápido — muito parecido com o som
Trecho 20
que faz um relógio quando envolto em algodão.” Em que outro momento ele faz
1. Confirmaram-se ou não as hipóteses levantadas? essa mesma comparação com o som de um relógio abafado?
2. O que vocês acham do fato dele dizer que estava à vontade, depois de tudo o que 6. Que som seria esse que o homem está ouvindo?
fez?
3. Pelo o que ele nos conta, vocês percebem alguma coisa estranha no comportamento
Trecho 22
dos policiais?
1. Que horror seria esse de que o homem fala?
4. Geralmente como é a postura dos policiais em uma investigação?
2. Tinha como os policiais saberem que o velho estava esquartejado embaixo do
5. Por que vocês acham que os policiais estariam falando de “coisas familiares”?
assoalho?
6. O que seria esse zumbido que o homem começa a escutar?
3. Como é o estado do homem agora?
7. O que mudou no comportamento do homem quando ele começou a ouvir o zumbido?
4. Como vocês acham que estão os policiais neste momento?
8. Ele está prestando atenção ao que os policiais estão falando?
5. E o senhor para quem o homem está contando isso tudo?
9. Que barulho seria esse que não está dentro dos ouvidos dele?
6. O homem diz que sentiu “que precisava gritar ou morrer!”. O que será que ele gritou?
10. Quem diz que eles estavam satisfeitos?
11. Dá para confiar em tudo o que esse homem diz? Por quê?
Trecho 23
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1. Confirmaram-se ou não as hipóteses levantadas?
Após a leitura, é importante que o professor promova uma Roda de Conversa para que os
alunos compartilhem suas impressões e opiniões sobre o conto. Neste momento, o professor deve
chamar a atenção para o aspecto da não confiabilidade no narrador. Para tal, é importante que
os alunos estejam com o Diário de Leitura, a fim de que o professor retome trechos em que essa
questão da não confiabilidade esteja presente. Esse momento é fundamental para que os aspectos
desse narrador sejam evidenciados e associados à construção do terror psicológico que compõe a
narrativa.
Para encerrar esta etapa, propus aos alunos a seguinte questão, a ser respondida no Diário de
Leitura:
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ETAPA II – AMPLIAÇÃO DO UNIVERSO DA NARRATIVA DO TERROR PSICOLÓGICO DE EDGAR ALLAN POE
Objetivos:
• Ampliar o universo da narrativa de terror psicológico de Edgar Allan Poe, através da leitura
do conto “O gato preto”;
O professor deve informar o título do segundo conto do autor que será lido pelos alunos e
perguntar sobre o que imaginam que será a história. No nosso caso, fizemos a seguinte pergunta:
1. Vocês já conhecem um pouco do estilo de Edgar Allan Poe. Quais são suas expectativas
para o conto “O gato preto”?
Clique nas imagens para ampliá-las e baixá-las 2º momento: Leitura em suspense do conto “O gato preto”
Optamos por utilizar a mesma estratégia de leitura utilizada no primeiro conto: a Leitura em
18
Suspense. No entanto, tendo em vista que os alunos já estavam inseridos no universo de terror de Hipóteses sobre os meros eventos domésticos:
Poe e para que a leitura fluísse mais, preferimos fragmentar menos o conto.
Para realizar a Leitura em suspense, o conto foi dividido em vinte e três trechos/unidades
significativas. Os trechos do conto a ser lido encontram-se disponíveis no link abaixo:
Trecho 1
1. No primeiro conto que lemos, o narrador queria contar uma história. Este diz que
quer contar o quê?
O professor deve chamar a atenção dos alunos para o título do conto e perguntar se seria
possível pensar que haja relação entre esses “eventos domésticos” e o título. O professor deve pedir Clique nas imagens para ampliá-las e baixá-las
aos alunos que anotem suas hipóteses no Diário de leitura.
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Assim como fizemos no primeiro conto, seria interessante que os alunos fizessem novamente O que o homem fala sobre sua esposa?
o mapeamento da personalidade deste narrador-personagem. No link abaixo, o professor poderá
Quais animais de estimação ele tinha?
verificar o resultado da aplicação desta atividade:
Trecho 2
O Grupo 5 recebeu apenas o 4° parágrafo do trecho e deveria apresentar a seguinte questão
A dinâmica de leitura deste trecho foi um pouco diferente. A fim de tornar a leitura mais aos colegas:
interativa, dividimos a turma em cinco grupos, que receberam diferentes partes do Trecho 2, que
Como era a relação do homem com Plutão?
deveriam ser apresentadas aos colegas.
O Grupo 1 recebeu apenas o 1° parágrafo do trecho e deveria apresentar as seguintes questões
aos colegas: Após as apresentações, o professor deve entregar o Trecho 2 completo a todos para ser
colado no Diário de Leituras e ler apenas o último parágrafo, a partir de “Nossa amizade durou (...)”.
Quais são as características do homem?
Não há necessidade de os outros parágrafos serem lidos, uma vez que os alunos já assistiram às
Destaque as palavras que se referem à personalidade do homem.
apresentações dos colegas:
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Trecho 3
2. O comportamento do homem começa a se alterar. Como podemos perceber isso no 1. Confirmaram-se ou não as hipóteses levantadas?
texto?
2. O que o homem sentiu quando a razão voltou?
Após essa questão, o professor pode elencar no quadro, a partir da fala dos alunos, os seguintes
3. O que seriam esses os "vapores da orgia noturna"?
aspectos:
4. Esse sentimento “misto de horror e de remorso” o alterou?
Plutão Começa também a sofrer os efeitos do mau humor do homem 8. Será que o gato vai se recuperar totalmente?
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5. O que significa a "derrocada definitiva" do homem?
Quadro para construção do ato de perversidade
6. O que vocês sabem sobre perversidade? Criação do Ato de Perversidade Respostas
7. Vocês conhecem alguém perverso? (Pode ser um personagem de novela, filme, série Alvo da perversidade: (ser que vai sofrer)
etc)
Ato de perversidade (qual é a perversidade/o que
ele fez):
8. O que esta pessoa ou personagem fez para ser considerado perverso?
Momento do dia vai acontecer: (manhã, tarde,
O professor também pode citar personagens perversos que conheça. No nosso caso, noite)
relembramos o conto “Cidade de Deus”, de Rubem Fonseca, lido no início do ano. Ele narra a história Estado do personagem: (sóbrio, embriagado,
nervoso, o que bebeu)
de uma mulher que, para se vingar da atual de seu ex-namorado, pede o marido traficante para
Em que circunstância ele encontrou com o ser:
matar o filho do casal, uma criança de sete anos.
(como cruzou o caminho)
Depois dessa conversa, o professor deve retomar o texto com a seguinte questão: O que ele usou para cometer o ato:
9. O que vocês acham que ele vai fazer agora? Quanto tempo demorou o ato:
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No nosso caso, digitamos os textos elaborados pelos alunos para poder projetá-los. Fizemos Versão final após discussão coletiva e sugestões dos colegas:
a leitura e discutimos, conjuntamente, o que poderia ser melhorado. Os alunos refletiram sobre
escolhas lexicais, repetições lexicais e pronominais, pontuação, paragrafação e adequação dos CLIQUE AQUI PARA ACESSAR O ARQUIVO
títulos. Os resultados das escritas dos alunos podem ser conferidos nos links abaixo:
Trecho 7
Primeira versão das hipóteses do ato de perversidade do narrador:
1. Confirmaram-se ou não as hipóteses levantadas?
Trecho 8
3. Ele perdeu tudo. Como vocês acham que vai ser a vida dele agora?
Antes de passar ao trecho seguinte, o professor pode propor aos alunos que relembrem todas
as transformações ocorridas no modo de conduta do narrador até esse momento da leitura.
Trecho 9
Clique nas imagens para amplia-las e baixá-las
1. Confirmaram-se ou não as hipóteses levantadas?
23
3. Que parede é essa que não caiu? 1. Confirmaram-se ou não as hipóteses levantadas?
Professor, vale chamar a atenção para o fato de que as paredes estruturais da casa caíram e 2. Quem é a “vítima” da crueldade do homem?
esta parede divisória com outro cômodo, que nem era tão grossa, foi a única que resistiu ao incêndio.
3. Qual é a explicação que ele dá para a “aparição” na parede?
4. Por que será que justamente a parede da cabeceira da cama dele não caiu?
4. Essa explicação é totalmente absurda ou é plausível?
5. Que outras palavras e expressões, além de “estranho!” e “singular!”, as pessoas
É interessante que o professor proponha aos alunos voltar ao Trecho 9 e reler a primeira
poderiam estar falando?
frase: “Julgo-me acima da fraqueza de procurar estabelecer uma sequência de causa e efeito entre
6. O que será que as pessoas estavam vendo? o desastre e a atrocidade.” Em seguida, pedir para que os alunos observem que o narrador está
tentando não estabelecer uma relação entre o enforcamento do gato e o incêndio em sua casa, como
7. Já sabemos o que provocou o incêndio?
quando diz, no Trecho 11: “Mas, depois, a reflexão veio em meu auxílio.” Então, vale pontuar que o
8. Já sabemos como vai ser a vida dele após o incêndio?
homem está refletindo sobre os acontecimentos, tentando ser o mais racional possível. Dentro da
lógica criada pelo personagem, a explicação que ele dá para a marca na parede é possível, embora
pouco provável. Em seguida, propor as seguintes perguntas:
Trecho 10
5. Como teria surgido a marca na parede?
1. Confirmaram-se ou não as hipóteses levantadas?
6. Já aconteceu com vocês de olhar para uma superfície ou lugar, como as nuvens no
Pedir aos alunos que se imaginem no lugar do personagem principal do conto e concebam a
céu, por exemplo, e ver uma imagem e outras pessoas não conseguirem ver?
seguinte situação: você costumava ser uma pessoa tranquila, calma, que amava seus animais e sua
esposa. De repente, você começa a beber muito e a maltratá-los, chegando ao extremo de agredir 7. Será que havia realmente a marca de um gato na parede? Ou será que era somente
fisicamente a esposa. Você parece ficar possuído, pois arranca um dos olhos do seu animal predileto ele que estava vendo um gato parede?
e, não satisfeito, o enforca. Depois, sua casa inteira pega fogo, não restando nada – exceto uma
8. Tem como nós sabermos o que havia, de fato, na parede? Pelo o que está escrito no
parede. No dia seguinte, você volta às ruínas da casa e vê a imagem de um gato enforcado, em baixo
texto: há como provar que era a imagem de um gato?
relevo, na parede que restou...
9. Mas tem como provar que não era?
2. O que vocês fariam diante desta situação?
10. Tem como provar que o homem é louco?
3. E o que vocês acham que o homem vai fazer?
11. Mas tem como provar que não é louco?
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14. O que vocês acham desse homem? 3. Qual é a diferença entre este gato e Plutão?
15. Vocês ficariam perto deste homem para ouvir o final desta história? 4. Quem tem ou teve gato pode explicar o que é ronronar?
Neste ponto da leitura, é interessante pedir aos alunos que façam um levantamento das questões 5. Vocês sabem o que significa quando um gato se esfrega em uma pessoa?
que ainda não foram esclarecidas durante a leitura do conto. É provável que os alunos não apontem
6. É comum um gato de rua, estranho, que não conhece a pessoa, chegar fazendo
todas as perguntas, uma vez que essas questões são colocadas oralmente em sala. No caso de nossa
carinho?
intervenção, foram levantadas as seguintes questões: O que são os meros eventos domésticos?; O
7. Como era a relação do gato com a esposa do homem?
que causou o incêndio?; Por que uma única parede não desmoronou?; O que aconteceu com os
outros animais?; Por que havia a marca de um gato na parede?; Por que o homem vai morrer? 8. O homem afirma que “sentimentos de repulsa e irritação avolumaram-se no amargor
do ódio”. Algo semelhante a isso já ocorreu com o homem antes. Como foi?
9. Se vocês fossem este homem, vocês deixariam o gato ficar na casa depois de tudo o
Trecho 12
que você fez com Plutão?
1. Confirmaram-se ou não as hipóteses levantadas?
10. Por que vocês acham que o homem ficava irritado com o carinho que o gato sentia
2. Por que ele ficou pensando no gato o tempo todo?
por ele?
3. Será que se ele não tivesse matado o gato, ele teria enxergado um gato na parede?
11. Por que será que ele sentia terror e horror do animal?
4. A palavra remorso aciona qual outra palavra?
12. Este homem já havia falado que iria morrer no dia seguinte. Agora ele afirmou que
5. O que ele passou a fazer? Quais lugares ele frequenta? está numa cela de condenados. Que crime será que ele cometeu para ser condenado?
9. O que vocês acham que ele viu? 2. Que coisa horrenda será essa?
Trecho 13 Trecho 15
2. Qual são as semelhanças entre este gato e Plutão? 2. O homem já estava se sentindo culpado por ter matado o gato. Imagina depois de
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ver a imagem da forca em seu pescoço? Em seguida, o professor deve perguntar aos alunos:
3. O homem fala que acabou de morrer o último traço de bem que tinha nele. Como 11. O que vocês acham que vai acontecer?
vocês acham que vai ser a vida dele a partir de agora?
Trecho 17
Trecho 16
1. Confirmaram-se ou não as hipóteses levantadas?
1. Confirmaram-se ou não as hipóteses levantadas?
2. O que vocês acham que vai acontecer agora?
2. Ele voltou a ficar irritado. Qual era a principal vítima dele neste momento?
3. Se vocês fossem o homem, o que vocês fariam de imediato?
3. Onde ele está morando?
4. Segundo o narrador, sua esposa “caiu morta no ato, sem um gemido”. No entando,
4. Por que ele está morando nesta casa velha? ele afirma, no início de sua narrativa, que já está preso. Como será que ele foi parar
na cadeia?
5. Por que o gato quase o derrubou?
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2. Vamos pensar por que ele recusou os projetos anteriores. Cortar os pedaços do 3. A mulher desse homem morreu há quatro dias e ele fala que a felicidade dele está
corpo e atirar ao fogo geraria que tipo de problema? completa. O que vocês acham disso?
3. Cavar o chão no porão geraria que tipo de problema? 4. Por que os policiais foram à casa dele várias vezes?
4. Jogar o corpo no poço geraria que tipo de problema? 5. Ele afirma que algumas perguntas foram feitas e prontamente respondidas. Que
tipo de pergunta pode ter sido feita?
5. Colocar em uma caixa para alguém levar geraria que tipo de problema?
6. Há um momento em que o narrador diz que o seu “coração batia calmamente como
6. Como vocês acham que ele realizou a tarefa de emparedar o corpo da mulher?
o de alguém que dorme na inocência”. Mas logo em seguida, ele diz que “A alegria
em meu coração era intensa demais para ser contida”. O que vocês acham disso?
Trecho 20
Durante a conversa sobre essa questão, o professor deve chamar a atenção, caso nenhum
1. Confirmaram-se ou não as hipóteses levantadas? aluno o faça, para o estado do narrador do conto anterior no momento em que os policiais estão
na casa. Neste momento, seria interessante uma leitura comparativa do estado eufórico dos dois
2. Vocês conseguem imaginar o estado de espírito deste homem enquanto ele
narradores.
executava o emparedamento de sua esposa?
7. Que voz vocês acham que é essa que “provinha da tumba”?
No momento dessa discussão, se os alunos não fizerem paralelo com o momento em que o
narrador do conto anterior decide esquartejar o corpo do velho e escondê-lo sob o assoalho, vale o
professor promover uma leitura comparativa nesse sentido, pontuando os pontos de semelhanças
Trecho 22
e de diferenças entre os dois narradores.
1. Confirmaram-se ou não as hipóteses levantadas?
3. Quanto tempo vocês imaginam que ele demorou para ocultar o corpo?
2. Nós sabemos como foi o grito. Mas nós sabemos de quem é? De quem vocês acham
4. Vocês acham que ele fez muito barulho ao ocultar o corpo?
que é este grito?
5. Vocês acham que o plano dele deu certo?
3. O que vocês acham que os policiais vão fazer?
6. Onde vocês acham que está o gato?
Trecho 23
Trecho 21
1. Confirmaram-se ou não as hipóteses levantadas?
1. Confirmaram-se ou não as hipóteses levantadas?
2. Vocês conseguem imaginar a visão que os policiais tiveram do corpo da mulher,
2. “O meu algoz não apareceu.” Quem seria o algoz do homem? emparedado e em decomposição há quatro dias?
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3. O homem colocou a culpa em quem pelo assassinato? Quem fez o som dentro da
parede?
Após a leitura, assim como feito no conto anterior, é importante o professor promover uma
estrutura de conversa para que os alunos compartilhem suas impressões e opiniões sobre o conto.
Neste momento, o professor deve reforçar o aspecto da não confiabilidade deste outro narrador,
retomando trechos em que essa questão apareça. É interessante também o professor retomar
as perguntas que não tinham sido respondidas ainda e pontuar, juntamente com os alunos, suas
resoluções com o término da leitura. Neste momento, cabe também estabelecer uma comparação
Clique nas imagens para ampliá-las e baixá-las
entre os dois contos lidos.
Para encerrar esta etapa, propus aos alunos a seguinte questão, a ser respondida no Diário de
Leitura: 3° Momento: Apresentação do perfil recortado do autor
4. O que vocês acharam desse segundo conto de Edgar Allan Poe? Neste momento, o professor deve selecionar fotos, imagens, memes, ilustrações etc. de Edgar
Allan Poe para mostrar aos alunos. É interessante também apresentar alguns fatos e curiosidades
sobre a vida do autor. No nosso caso, levamos os alunos para a Sala de Vídeo e projetamos as imagens
Comentários dos alunos sobre o conto “O gato preto”
do link abaixo, enquanto contávamos alguns fatos da vida do autor: local e ano de nascimento e
morte, a morte precoce da mãe, o sumiço do pai, a adoção, a viuvez e morte precoces, dentre outros.
Optamos por apresentar o autor somente após a leitura dos textos, subvertendo a usual
apresentação do autor e de seu contexto histórico a priori da leitura dos textos, uma vez que
defendemos que o foco das aulas de literatura deve ser o texto literário, de modo que o falar sobre
a literatura não se sobressaia à leitura dos textos propriamente ditos.
28
Além de apresentar um perfil do autor, montamos uma pequena exposição com alguns livros ETAPA III – ELABORAÇÃO DE NARRATIVAS DE TERROR PSICOLÓGICO, UTILIZANDO ESTRATÉGIAS DOS
e imagens do autor: JOGOS DE RPG, COM FOCO NA CONSTRUÇÃO DOS NARRADORES-PERSONAGENS
O professor deve sondar com os alunos se algum deles conhece ou já ouviu falar de RPG. Se
algum aluno já conhecer, pedir a esse aluno que comente com a turma o que sabe. Se ninguém
conhecer, o professor deve explicar, de modo geral, do que se trata6. Em seguida, o professor deve
informar aos alunos que todos participarão da construção de uma narrativa aproximada de um jogo
6 Para explicação do que seja RPG e sob qual enfoque trabalhamos neste projeto, ver Cap. X da Dissertação que acompanha este Caderno Pedagógico.
29
de RPG, mas que eles a farão com o universo do terror psicológico que estudaram com a leitura Lógica discursiva A lógica discursiva do narrador não A explicação elaborada pelo narrador de
dos contos de Edgar Allan Poe. Para tal, seria importante eles apontarem os principais aspectos que dialoga com o padrão lógico dos como se deu a marca do gato na parede
acham válidos de comentar dos contos que leram. eventos. que resistiu ao incêndio da casa. (O gato
Este momento é fundamental no processo interventivo, já que o professor poderá sistematizar preto)
os aspectos narrativos que pretendeu trabalhar e ampliar com a leitura dos contos, no caso de nossa Mecanismos de defesa O narrador defende-se constantemente A insistência do narrador em afirmar
intervenção: 1) a utilização do recurso de “retardamento” da ação para que o “clima” de suspense de uma possível acusação. que não é louco. (O coração delator)
psicológico surja conjugado com 2) o aspecto não confiável desse narrador de primeira pessoa,
cuja narrativa, ao final, não temos como ter certeza se foi fruto de sua mente “alterada”; o que de Tendência para a Não se pode afirmar que os narradores A ambivalência afetiva que ambos os
tudo aquilo realmente aconteceu; o que é um exagero por conta do seu estado de espírito seja no loucura sejam, de fato, loucos, embora seu narradores sentem em relação ao velho
momento em que tenha vivenciado a cena seja no momento em que a narra; se aquilo que narra discurso tenda para a loucura. e à esposa, respectivamente.
aconteceu, de fato, como narra; se há algo (e no caso o que) de estranho no sentido lógico para o que Narrativa estendida Acontece um “retardamento” das As cenas em que o narrador descreve
narra; enfim, os aspectos de como esse narrador percebe o mundo e de como conta o que percebe. sequências temporais, ou seja, um como fazia para entrar no quarto do
Nessa etapa, o professor pode elaborar um material para ser entregue aos alunos no qual haja alargamento do tempo. velho sem fazer barulho. (O coração
uma breve explicação elementos que deseja pontuar. Seria interessante, ao explicar os aspectos, delator)
relacioná-los a exemplos concretos dos textos lidos. Pode-se pedir que os alunos busquem outros
Final aberto Além de o leitor não conseguir se A ausência de informações sobre o que
exemplos. No nosso caso , destacamos os seguintes elementos das narrativas:
7
posicionar sobre a veracidade do que se sucedeu, após a descoberta do crime
foi narrado e de como foi narrado, pela polícia. (O coração delator)
Não confiabilidade O leitor não sabe o que realmente A conclusão de que havia, realmente, Construção São narradas poucas ações, A frieza com que ambos os narradores
aconteceu nem como aconteceu; a imagem de um gato com uma corda psicológica do terror enfatizando não a ação em si, mas os descrevem os assassinatos e a ocultação
não dá para confiar em tudo o que o no pescoço na parede que restou do sentimentos e o estado emocional e dos corpos.
narrador diz ter acontecido nem para incêndio. (O gato preto) psíquico do narrador.
afirmar que tudo é mentira.
7 Este quadro é uma adaptação, elaborado para esta intervenção, a partir da leitura de textos teóricos de Tzvetan Todorov, Wayne Booth e William Riggan.
30
Nesse sentido, defendemos a inversão de apresentação do aspecto esquemático-conceitual selecione várias imagens possíveis do cenário para que os próprios alunos escolham com as quais
para depois de o aluno ter vivenciado a experiência de leitura do texto estético, pois acreditamos desejam trabalhar (o ideal é que sejam, no máximo, oito imagens). No nosso caso, projetamos as
que, assim, impede-se o movimento de somente reconhecimento do conceito no texto literário. imagens na Sala de Vídeo.
No nosso caso, primeiramente, lemos o texto de modo a promover a vivência do aspecto do terror
O professor, pode, na aula seguinte à seleção das imagens, coletivamente decididas, trazê-
psicológico do texto pelos alunos, com suas implicações para, somente depois apresentá-la.
las impressas para que os alunos se recordem do que foi decidido. No nosso caso, entregamos as
Em seguida, o professor deve conversar com seus alunos sobre a importância do “mestre” seguintes imagens:
em uma narrativa de RPG, o qual é responsável por apresentar o cenário da narrativa e conduzir
a história. Apesar de os jogadores terem certa autonomia para tomar decisões, muitas vezes, sua
Fotos da Casa de Repouso Champs-Élysées
“sorte” é definida pelos dados ou julgada pelo mestre. No nosso caso, pelo fato de se tratar de uma
história curta, sem muitas ações – como os próprios contos de Poe – optamos por não usar dados.
Para que todos os alunos desempenhassem a mesma função na narrativa, também optamos por
ser a professora a pessoa que iria “conduzir” a narrativa – uma espécie de “mestre” da história.
O professor deve instruir os alunos sobre como se dará o processo de construção da narrativa:
se os alunos trabalharão individualmente ou em grupos; quantos integrantes terão os grupos etc.
No nosso caso, optamos por trabalhar com cinco grupos, dada a inviabilidade de se construir uma
história com vinte e sete personagens. Além disso, para nossa história, especificamente, cinco
Casa de Repouso
personagens seria um número interessante de personagens. Neste momento, é importante ressaltar Champs-Élysées
que o mesmo princípio de discussão com o qual trabalharam no processo de leitura, seria adotado Conheça nossas instalações!
Clique na imagem para ampliá-la e baixá-la (32) 3903 - 1809
no processo de criação dos narradores-personagens e na criação da história, com as regras de
votação em caso de impasse.
Após explicadas as regras de construção da história, baseadas nas regras de RPG, o professor
deve dar início à história, apresentando o cenário inicial. No nosso caso, optamos por uma casa de
repouso para idosos, denominada Casa de Repouso Champs-Élysées. Informamos aos alunos que
nesta casa de repouso, havia cinco moradores e um morador novo estava para chegar. Cada grupo
representaria um idoso morador da casa.
É comum que os mestres de RPG selecionem imagens da época em que se passará a história
para ajudar os jogadores na construção de seus personagens, por isso, é interessante que o professor
31
Além dessa apresentação por imagens, é necessário que o professor passe informações 2° Momento: Construção dos narradores-personagens
adicionais sobre o cenário, para criar a ambientação da história. No nosso caso, passamos as
Geralmente nos jogos de RPG, a construção dos personagens se dá por meio de fichas
seguintes informações para os alunos:
em que os jogadores vão escolhendo as principais características dos personagens, como: força,
inteligência, destreza, entre outras, como se pode ver nos anexos abaixo:
A Casa de Repouso Champs-Élysées foi construída para abrigar idosos de classe média alta; o valor das
mensalidades, portanto, é bem alto.
Fichas de Criação de personagens de jogos de RPG:
Instalações: a casa possui 10 suítes, salão de jogos (sinuca, xadrez, dama, etc.), refeitório, posto de
enfermagem, consultório médico, lavanderia, cozinha, jardim, sala de fisioterapia, piscina e vestiários.
Suítes: as suítes possuem TV a cabo, wi-fi, frigobar, uma cama de casal, um criado-mudo e um guarda-
roupa. As roupas de cama são trocadas todos os dias. O prédio possui com dois elevadores: um social e
um de serviço.
Saúde: Os pacientes têm à disposição médicos e enfermeiros 24 horas por dia.
Segurança: Todas as áreas comuns, incluindo os corredores, são equipadas com câmeras para a
segurança dos pacientes. Há também porteiros 24 horas.
Profissionais: médicos, psicólogos, enfermeiros, fisioterapeutas, nutricionista, professor de
hidroginástica, cozinheiro, faxineiro, porteiro, administrador.
Após a apresentação do cenário inicial, o professor pode solicitar aos alunos que decidam
sobre outros elementos da história como, por exemplo, o ano em que se passará a história; a cidade
onde se passará a história; se a cidade está localizada na zona urbana ou na zona rural etc. No nosso
caso, após discussão e votação, os alunos chegaram ao seguinte resultado: a história se passaria na
zona rural da cidade de Chernobyl, no ano de 2067.
Após a definição do quando e onde se passará a história, é preciso definir quem serão os
personagens que irão interagir neste cenário. Neste momento, o professor deve iniciar o processo
de mediação da construção dos narradores-personagens.
32
No nosso caso, optamos por elaborar nossas próprias fichas de criação de personagens, haja Para o preenchimento desta ficha, o professor pode, em vez de entregá-la em branco para
vista a peculiaridade do nosso projeto: como o foco da história a ser criada não é nas ações dos os alunos preencherem, fazer as perguntas e dar um tempo para os alunos pensarem. No nosso
personagens, características ou atributos físicos tornam-se irrelevantes. Dessa forma, primeiramente, caso, demos dois minutos para cada pergunta. Antes de passar à pergunta seguinte, cada grupo
criamos uma ficha inicial, denominada Ficha 1, em que os alunos fazem um perfil inicial dos narradores- compartilhava com os colegas suas respostas. Levando em conta o perfil dos alunos desta turma,
personagens: os quais respondem mecanicamente aos comandos das questões, sem refletir sobre o que está
sendo pedido, optamos por esta estratégia de mediação. É importante que o professor vá anotando
as respostas dadas pelos alunos. No nosso caso, anotamos as respostas dos grupos nas próprias
Ficha 1 – Criação dos narradores-personagens
fichas para entregá-las preenchidas para os alunos. Além disso, o professor pode fazer um Quadro
Geral Dos Personagens, que serve tanto para se ter uma visão geral quanto para consultar, de maneira
rápida e fácil, as informações sobre os personagens.
33
Após preenchida a Ficha 18, na qual os alunos criaram um “contorno” dos perfis dos narradores-
personagens, o professor deve orientar os alunos a preencher a Ficha 2, que foi criada com o
objetivo de inserir os personagens no cenário, motivando os alunos a pensarem mais informações
sobre os personagens, dando-lhes profundidade psíquica e emocional: há quanto tempo estavam
na casa de repouso, como se sentiam, os motivos que o levaram a ir para lá, se recebem visitas etc.
Tais informações estabelecem um vínculo temporal9 entre o passado e o presente dos narradores-
personagens e consolidam a relação de causa e efeito entre eles. Dessa forma, há um motivo para
eles estarem onde estão, ao mesmo tempo em que há uma relação com as pessoas citadas na
Ficha 1, pois ao pensar se eles recebem visitas, estamos retomando o universo familiar, tão caro aos
narradores-personagens na hora da criação da história.
Após o preenchimento das Fichas 1 e 2, o professor deve solicitar aos grupos que elejam um
aluno para “representar” o narrador-personagem, criado por eles, e se apresentar para a turma. É
importante, estabelecer tempo para um melhor direcionamento e organização da turma. No nosso
caso, estabelecemos cinco minutos para a organização da apresentação.
Para contextualizar a atividade, informamos aos alunos que eles receberiam a visita do futuro
morador da casa de repouso – o Senhor Érico Jacinto que estava conhecendo as casas de repouso
da cidade para então se decidir para qual iria. Na aula seguinte, os alunos foram informados que
ficariam sabendo a resposta do Senhor Érico: se iria ou não morar na Champs-Élysées. Para isso,
Clique nas imagens para ampliá-las e baixá-las teriam que ler a carta enviada por ele ao diretor da casa de repouso:
8 Nesta ficha, os alunos tinham dois minutos para pensar nas seguintes perguntas: “Você é homem ou mulher?”; “Quantos anos você tem?”; “Qual é o seu estado civil?”; “Qual é o nome do seu côn-
juge?”; “Você tem filhos?”; “Quantos?”; “Quais são os nomes dos seus filhos?”; “Os filhos estão vivos?”; “Qual é o seu nome?”; “Qual é o seu sobrenome?”; “Quais são suas principais qualidades?” e Carta do Senhor Érico Jacinto ao Diretor da Champs-Élysées
“Quais são seus principais defeitos?”. Em seguida, as respostas eram compartilhadas com a turma.
9 Nesta etapa de criação das Fichas 1 e 2, os alunos começaram a ir além da tarefa solicitada e criar detalhes das vidas dos narradores-personagens que não haviam sido pedidos nas fichas. Para exem-
plificar, citamos o Grupo 1 disse que o personagem Edward Cullen havia assumido há quatro anos que era homossexual, aos cinquenta e seis de idade, após se separar da sua esposa. Já o Grupo 2 dis-
se que a personagem Cecília Bertelli havia ficado viúva porque seu marido falecera de câncer de próstata e que ela guardava um segredo: o filho, na verdade, não era do marido, como todos pensavam,
mas de um ex-aluno de dança por quem fora apaixonada. CLIQUE AQUI PARA ACESSAR O ARQUIVO
34
Após a leitura da carta, o professor pode refletir sobre o grau de formalidade empregado
pelo autor da carta. Em seguida, deve sanar as dúvidas acerca do vocabulário, de modo a garantir
que os alunos entendam o conteúdo da carta.
Em seguida, os alunos devem ser informados que irão construir uma pequena história de terror
psicológico. Visto que os alunos já estão transitando neste universo, via Poe, acreditamos que, após
todo este trabalho sistematizado de leitura e estudo de algumas estratégias utilizadas pelo autor,
os alunos teriam condições de criar suas próprias histórias de terror psicológico. No nosso caso,
propomos aos alunos construir uma história que deixasse o futuro morador com medo – uma
espécie de “trote”, realizado na primeira noite dos novatos na casa.
Antes de começar a construir a história, é necessário que cada grupo defina o tema central
que irá permear o enredo. Essa definição é essencial para que o professor possa mediar a escrita
Clique nas imagens para ampliá-las e baixá-las
dos alunos, pois em função dos temas escolhidos, o professor terá condições de criar as perguntas
norteadoras da história. No nosso caso, todos os grupos optaram pelo tema morte – o que facilitou
Esta Ficha 3 foi criada para esta intervenção de modo a mediar o processo de criação dos alunos.
bastante o nosso trabalho, uma vez que pudemos elaborar uma ficha padronizada para todos os
Além de guiá-los sobre as perguntas básicas que envolvem o enredo de um assassinato, como: “Quem
grupos. Se os alunos escolhessem temas diferentes, teríamos que montar fichas diferentes. Além
morreu?”; “Quem matou?” e “Onde morreu?”, pensamos em relacionar o fato ocorrido com a vida dos
de terem escolhido o mesmo tema central, todos os grupos optaram por construir uma história
narradores-personagens, de modo a lhes dar mais profundidade. Além disso, pretendíamos que os
envolvendo um assassinato, como podemos ver nas fotos abaixo:
alunos estabelecessem um diálogo com seus interlocutores, de modo a acentuar seu aspecto não
confiável. Por este motivo, criamos a última etapa da ficha em que os alunos tinham que pensar em
Ficha 3 – Criação da história uma frase para ser o início da história, que prendesse a atenção do ouvinte, de modo a aguçar sua
curiosidade para ouvir a história – estratégia utilizada por Poe nos dois contos lidos. Esta frase, mais
tarde, funcionaria como um “bordão” dos narradores-personagens, bem como o do personagem do
conto “O coração delator” que repetia incessantemente que não era louco.
Terminado o preenchimento da Ficha 3, o professor deve solicitar aos alunos que preencham
o Roteiro 1, que foi elaborado para esta intervenção, com o objetivo de não só criar a ambiência de
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terror – “onde você estava?”; “com quem você estava?” e “período do dia” – , mas também ressaltar Após o preenchimento do Roteiro 1, o professor deve solicitar aos alunos que preencham o
as sensações que eles sentiram antes e no momento do fato. Roteiro 2, elaborado para esta intervenção, o qual introduz elementos que tornam o fato estranho e
permitem reforçar a não confiabilidade do discurso desse narrador. Além disso, este roteiro auxilia
Em seguida, o professor deve solicitar aos alunos que comecem a elaborar a apresentação oral
os alunos a fazer a delimitação temporal dos acontecimentos, ou seja, a decidir se as circunstâncias
do caso que irão contar para o senhor Érico e informar que o Roteiro 1, localizado na parte inferior
que tornam o fato estranho aconteceram antes ou depois do fato propriamente dito. Seguindo os
da folha, pode auxiliá-los nesta tarefa, pois sistematiza as principais informações criadas da história
moldes do Roteiro 1, o Roteiro 2 também traz um esquema dos elementos da narrativa trabalhados
até o momento.
para que fique mais fácil para os alunos montar sua história.
Roteiro 1 Roteiro 2
O caso
Roteiro 1
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Após o preenchimento dos Roteiros 1 e 2, o professor deve entregar aos alunos o Roteiro Final, 4° Momento: Compartilhamento do caso com a turma
elaborado a partir da junção dos Roteiros 1 e 2, para que os alunos conseguissem ter uma visão
A etapa final de toda a intervenção deve ser a apresentação das histórias contadas pelos
geral de toda a sequência da história. Com este roteiro em mãos, é necessário estipular um tempo
narradores-personagens não confiáveis. É interessante notar como as etapas de todo o processo
para que os alunos organizem suas falas e apresentem a história criada por eles para os colegas. No
interventivo se cruzam nesta apresentação: as leituras de Poe, introduzindo os alunos no universo
nosso caso, estipulamos dez minutos para a organização das falas e a montagem da apresentação.
do terror psicológico, bem como a construção dos personagens e das histórias vivenciadas por eles
culminam neste momento. No nosso caso, primeiro os alunos elegeram um aluno para representar
o personagem e apresentaram as histórias para a turma.
Roteiro Final
Em seguida, optamos por dar um “final”10 para a nossa história na qual os personagens dos
alunos estavam inseridos: o senhor Érico disse ter sido fuzilado na Revolução Russa, em 1917. Em
Roteiro Final
uma roda de conversa, os alunos se disseram surpresos com o final e, a partir daí, conversamos sobre
algumas possibilidades de continuação da história: 1) o Senhor Érico poderia estar “caducando”, isto
é, acreditar que participou de Revolução Russa quando não era nem nascido; 2) o Sr. Érico estar
morto e ser um espírito habitando a Champs-Élysées; 3) todos que moram na casa estão mortos e
não sabem; dentre inúmeras outras possibilidades. Se houvesse a continuação, a narrativa poderia
ter um viés mais racional, explicado pelas leis físicas – como dito na primeira possibilidade – ou
ter um viés fantástico – como na segunda e terceira possibilidades, de acordo com o comando do
mestre da narrativa.
Em seguida, retomamos alguns conceitos trabalhados nos dois contos de Poe, relacionando-os
à história que vivenciaram: o final aberto e a não confiabilidade do discurso do senhor Érico.
Na aula seguinte, perguntei se os alunos permitiriam que fizéssemos um vídeo em que contariam
as histórias, vivenciadas por seus personagens e criadas por eles. Todos os grupos assentiram. Os
vídeos gravados podem ser vistos nos links abaixo:
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Vídeos dos alunos contando o caso estranho para o Sr. Érico Jacinto
10 Nos jogos de RPG os finais costumam sempre terminar com um “gancho” para uma possível continuação da história. No nosso caso, também optamos por um final aberto, dando margem para uma
possível continuação.
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Grupo 1 Grupo 3
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Grupo 2 Grupo 4
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Grupo 5
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