Critérios Contratos
Critérios Contratos
Critérios Contratos
Tópicos de correcção1
2) Distribuição de dividendos
1
Podem ser ponderados outros tópicos que tenham a devida cobertura normativa.
Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa
- Segundo o artigo 880º/1, a coisa deve ser entregue no estado em que se encontrava à
data da venda. Por seu lado, o n º 2 deste preceito legal especifica que a obrigação de
entrega compreende, inter alia, os frutos pendentes;
- Como a deliberação de distribuição de dividendos foi tomada em Março de 2009, isso
significa que no momento da venda das acções, em Abril, os dividendos eram frutos
civis que se encontravam pendentes, pelo que deviam ser abrangidos pela obrigação de
entrega da coisa mãe. Pronuncia-se neste sentido, MENEZES CORDEIRO, Tratado de
Direito Civil, Volume XI, p. 150 e, em sentido contrário, PIRES DE LIMA/ANTUNES
VARELA, Código Civil Anotado, Volume II, nota 3 ao artigo 213º/2, considerando que
o artigo 880º/2, quando dispõe sobre frutos pendentes, apenas se refere aos frutos
naturais, pelo que a partilha dos frutos civis se deve fazer pro rata temporis, nos termos
do disposto no artigo 213º/2.
- O locatário não pode aplicar a coisa a fim diverso daquele a que ela se destina (artigo
1038º, alínea c).
- Explicação completa e fundada dos contornos da resolução do contrato de
arrendamento e, em particular, que no âmbito da resolução deste contrato, há um plus
face à resolução dos contratos em geral, o qual se traduz no fundamento da resolução
que é dado pelo disposto no corpo do artigo 1083º/2 – não é qualquer incumprimento
que pode fundamentar a resolução mas apenas um incumprimento que, pela sua
gravidade ou consequências, torne inexigível a manutenção do arrendamento pela outra
parte.
- A prática de organizar sessões de jogos clandestinos a dinheiro, subsume-se ao campo
de aplicação do artigo 1083º/2, alínea b), na parte em que prevê a utilização do prédio
em contrariedade à lei como fundamento de resolução do contrato pelo senhorio (mais
forçadamente, pode admitir-se que se trata também de uma violação dos bons costumes)
e alínea c);
- Há ainda que avaliar se o comportamento só por si constitui fundamento bastante da
resolução ou se é necessário que preencha os requisitos constantes do corpo do artigo
1083º/2, consubstanciando um incumprimento que, pela sua gravidade ou
consequências, torne inexigível a manutenção do arrendamento.
2
A entrega da obra aconteceu em Novembro de 2013 e os defeitos foram denunciados em Maio de
2018.
Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa
- Segundo o artigo 1221º/1, o dono da obra pode exigir a eliminação dos defeitos, não se
justificando neste caso exigir nova construção, porque os defeitos podem ser
suprimidos. Se não o forem, pode ser exigida a redução do preço nos termos 1221º/1,
sem prejuízo da indemnização a que se refere o artigo 1225º/1, parte final, a qual deve
ser pedida no ano seguinte à denúncia (artigo 1225º/2);
- A propósito da natureza subjectiva ou objectiva da responsabilidade do empreiteiro
fixada no artigo 1225º, deve entender-se que se trata de uma verdadeira garantia legal,
apenas sendo possível ao empreiteiro evitar a responsabilidade, se provar que os
defeitos advieram de causas exteriores à sua actuação (neste sentido, MENEZES
CORDEIRO, Tratado de Direito Civil, Volume XI, pp. 975-976 e LUÍS MENEZES
LEITÃO, Direito das Obrigações, Volume III, pp. 547-548).
Tópicos de Correção
Em Junho de 2016, Dinis vendeu a Edilberto (conhecido ator, a residir em Los Angeles) uma
moradia em Cascais, com vista frontal do mar, por € 3.000.000, juntamente com um carro
da marca Austin Martin que acabara de chegar ao stand de automóveis usados de que Dinis
é proprietário, pelo preço de €180.000.
A moradia foi paga integralmente na mesma data. Quanto ao automóvel, Dinis reservou para
si a propriedade do mesmo até integral pagamento do preço. A cláusula de reserva de
propriedade foi registada.
b) O preço do Austin Martin deveria ser pago em duas prestações de igual valor, vencendo-
se a primeira no último dia de Outubro de 2016 e, a segunda no último dia de Março de
2017. Edilberto passou de imediato a conduzir o automóvel. Após o pagamento da
primeira prestação, Edilberto vendeu e entregou o automóvel a um colega de profissão
americano, Francis. Dinis, ao tomar conhecimento de tal facto, acha que Edilberto não
foi leal consigo e decide vender o automóvel a Gaspar, inimigo de longa data de
Edilberto, que o pretende reivindicar a Francis. Quid Juris? (3,5 valores)
- Explicação completa e fundada do sentido, função e natureza da cláusula de reserva de
propriedade. Implicações daqui resultantes para o caso em apreço. Em princípio, não se trata
de uma exceção ao princípio da transmissão da propriedade por efeito do contrato, mas
apenas de uma dilação dessa transmissão para momento posterior.
- Pode alienar-se a posição jurídica do comprador com reserva de propriedade (que era
relevante qualificar), que tem conteúdo patrimonial e não está abrangida por qualquer
proibição de disposição pelo seu titular. Pode também tratar-se o bem como bem
relativamente futuro (artigo 893.º do CC). Fora desses casos, parece que há venda de bens
alheios (artigo 892.º CC).
- Assim, in casu, depois da venda a Edilberto, Dinis não mantém a plenitude dos poderes
de um normal proprietário, nomeadamente os poderes de alienação. A reserva de
propriedade cumpre uma função de garantia, pelo que se deve entender que Dinis não tem
legitimidade para alienar a coisa. Consequentemente, tal hipótese deverá ser equiparada à
venda de coisa alheia como própria, sancionando-se tal venda com a nulidade.
c) Aquando da compra do Austin Martin, o Stand de que Dinis é proprietário fez saber a
Edilberto que o preço original de €200.000 seria apenas de €180.000, se Edilberto
assinasse um documento em que declarava comprar o automóvel “no estado em que se
encontrava”, o que veio efetivamente a acontecer. Algumas semanas depois o carro
começou a manifestar problemas no sistema elétrico. Edilberto prontamente se queixou
das avarias no Stand de automóveis de Dinis e pretende que o mesmo seja reparado.
Dinis declina qualquer responsabilidade e recorda a Edilberto a declaração que assinou
aquando da compra do carro. Quid Juris? (3 valores)
- O contrato de compra e venda em apreço está sujeito ao regime previsto no Decreto-
Lei n.º 67/2003, de 8 de Abril, com as alterações entretanto introduzidas, uma vez que foi
celebrado entre um particular e um profissional, o stand de automóveis. Assim, o vendedor
é responsável perante Edilberto por qualquer falta de conformidade que exista no momento
em que o bem lhe é entregue, presumindo-se essa falta se o vício se manifestar num prazo
de 2 anos (cfr. Artigo 3.º, n.º 2).
-No caso em análise Edilberto assinou um documento em que declarou aceitar o Austin
Martin estado em que se encontrava, o que leva o vendedor a declinar qualquer
responsabilidade quanto aos defeitos que, entretanto, se manifestaram. Todavia, a proteção
conferida pelo Decreto-Lei n.º 67/2003, de 8 de Abril, com as alterações entretanto sofridas,
é imperativa, sendo nulo o acordo ou cláusula contratual pelo qual, antes da denúncia da falta
de conformidade ao vendedor se excluam ou limitem os direitos do consumidor aí previstos
(artigo 10.º). A renúncia de Edilberto à proteção que lhe é conferida legalmente é, pois, nula.
Nos termos do disposto no n.º 2 e no n.º 3 do artigo 16.º da Lei n.º 24/96, de 31 de Julho
(Lei de Defesa do Consumidor), a nulidade apenas pode ser invocada pelo consumidor ou
seus representantes, e o consumidor pode optar pela manutenção do contrato quando
algumas das suas cláusulas forem nulas.
- Assim, Edilberto deve denunciar os defeitos ao vendedor no prazo de dois meses a
contar da data em que os detetar (artigo 5.º A, n.º 2), tendo direito à reparação pretendida no
prazo de trinta dias sem grave inconveniente para si (artigo 4.º, n.º 2).
- Note-se, por último, que o prazo de garantia para as coisas móveis é de dois anos a
contar da data da entrega do bem (artigo 5.º, n.º 1), ou seja prolonga-se até Junho de 2018.
Todavia, como estávamos perante a venda de um automóvel usado, o artigo 5.º, n.º 2 teria
permitido que o prazo de garantia, por acordo das partes, tivesse sido reduzido a um ano.
II
21 de janeiro 2022
TÓPICOS
a)
21 de janeiro 2022
profissional por qualquer falta de conformidade, o que veio a suceder [art. 12.º/1 do DL n.º
84/2021], sem prejuízo do disposto abaixo;
- Admite-se, porém, que ainda que A. tivesse, de facto, agendado o arranjo do seu carro a
C., mesmo podendo utilizar o carro, ficaria sempre temporariamente privado do seu uso
pleno. Com efeito, não podia fazer uso do mesmo de acordo com as suas configurações, mas
apenas de acordo com as configurações de origem. E tudo isto, poderia levar,
eventualmente, a responsabilidade de C.
b)
- Conforme visto na alínea a), o negócio jurídico em apreço é uma compra e venda de
bens de consumo DL n.º 84/2021, de 18 de outubro.
21 de janeiro 2022
- Assim, uma eventual de responsabilidade de T., a existir, só poderia ser por eventuais
atos de D., contando que preenchidos os pressupostos do artigo 800.º do CC.
c)
- Apesar de D. se obrigar para com A. a realizar uma obra, este nada pagou por a mesma.
Assim, atendo os elementos qualificadores do contrato de empreita (artigo 1207.º do
Código Civil), o contrato não pode qualificado com um contrato de empreitada mas como
uma prestação de serviços atípica, concretamente uma reparação a título gratuito.
21 de janeiro 2022
- Quanto à pretensão de A., ficou demonstrado que este, após contratar os serviços de D.,
teve de deslocar-se por quatro ocasiões às suas instalações e que apenas por ocasião da
última deslocação, a reparação contratada ficou executada com sucesso. Em face do
exposto, o serviço prestado por D., não estava em conformidade com o contrato (cf. art. 5.º
e al. d) do art. 7.º do DL n.º 84/2021). Não é expectável que a reparação de um veículo
contratada a um profissional só tenha sucesso após quatro deslocações às instalações do
profissional.
GRUPO II
21 de janeiro 2022
- Por fim, noutros casos ainda o regime aplicável a ambos os contratos é o mesmo. Assim
sucede nos bens de consumo, nos termos do disposto DL n.º 84/2021, de 18 de outubro,
quanto à compra e venda de bens de consumo e, igualmente, quanto à empreitada de bens
de consumo.
DIREITO DOS CONTRATOS I – TA
Exame de Coincidências
a)
contrato. Isto porque, o DL n.º 178-A/2004, de 28 de outubro, refere que o DUA agrega a
informação anteriormente constante do título de registo de propriedade e do livrete do
veículo. As despesas são a cargo do comprador, se não houver documentos, e, por ocasião
da conclusão do negócio, ainda não havia DUA.
b)
c)
d)
- S. obriga-se para com A. a realizar uma obra que, no silêncio da hipótese, se presume a
título oneroso. Análise dos elementos qualificadores do contrato de empreitada (art. 1207.º
do CC).
- S. não é profissional para efeitos de aplicação do DL n.º 84/2021, que atualmente regula
a matéria, [art. 2.º/g) e o) e 3.º/1/b)], faltando o elemento relacional (exercício com caráter
DIREITO DOS CONTRATOS I – TA
e)
Coincidência de Recurso
Exame
Afastar a aplicação do DL 84/2021, de 18 de outubro, por não estar preenchido o seu âmbito.
Análise do artigo 920 do Código Civil: norma que remete para regime subsidiário ou norma
que subtrai a compra e venda de animais do regime dos artigos 913 e seguintes do Código Civil?
Apesar da legislação especial ser antiga não se encontra revogada expressa ou tacitamente.
Discussão sobre a finalidade dessa legislação especial e o caso dos animais de companhia. De
qualquer forma, a falta de qualidades não se encontra prevista em legislação especial.
A enumeração na legislação especial é taxativa? Ponderar divergência.
Ainda que se admita como exemplificativa, deverá ponderar-se criticamente se a teleologia
normativa do diploma especial abrange falta de qualidades de animais de companhia.
Não existindo usos, e considerando que seria inadequado aplicar a legislação especial às faltas
de qualidades de animais de companhia, seria de defender a aplicação do regime dos artigos
913.º e seguintes.
Apresentar criticamente os direitos do comprador: anulação (para o regente: resolução),
direito a exigir a substituição ou possibilidade de redução do preço, eventual indemnização.
Apesar de Emília ser titular de uma expectativa real de aquisição, não é proprietária.
A compra e venda celebrada entre António e Emília é, portanto, uma compra e venda de bem
alheio.
Discussão crítica sobre a oponibilidade da reserva de propriedade, não sujeita a registo, a
terceiros.
Legitimidade para arguir a nulidade por terceiro proprietário: consequências e alternativas.
II
a. Quid iuris? (5 v)
b. (3 v.)
I
Em agosto/2016, Afonso, proprietário de um terreno composto por laranjeiras, vendeu as laranjas que
se colhessem naquele ano a Beatriz, proprietária de uma mercearia. Em outubro/2016, Afonso vendeu
a Carlos, agricultor, o mencionado terreno. Do contrato de compra e venda ficou a constar que o
terreno tinha uma área de 1000 m2.
(b) Em novembro/2017, Carlos começou a vangloria-se na aldeia de que o terreno comprado a Afonso
tem 1500 m2, de modo que havia feito um excelente negócio, pois pagou 1 e levou 1 e ½. Afonso,
surpreendido por esta informação, quer saber se, e como, pode reagir. (2 valores)
(c) Em junho/2017, Carlos comprou à Deer, S.A. um trator agrícola por €10.000, o qual lhe foi
entregue de imediato. Carlos obrigou-se a pagar o preço em 10 prestações mensais de igual valor. A
Deer, S.A. não reservou para si a propriedade. No contrato de compra e venda, foi estipulado que o
incumprimento de uma prestação conferia ao vendedor o direito a resolver o contrato. Aprecie a
validade desta cláusula. (4 valores)
(d) O trator comprado por Carlos avariou 6 vezes nos primeiros 8 meses. A vendedora tem-se
prontificado a repará-lo em todas essas ocasiões. Todavia, Carlos, aborrecido com o transtorno,
pretende que o veículo seja definitivamente substituído por um novo. Tem esse direito? (3 valores)
.
II
A Wood, S.A., que comercializa móveis usados, contratou com Alberto, carpinteiro, a restauração de
duas cómodas antigas. As cómodas foram devolvidas por Alberto, já restauradas, em 15 de
janeiro/2016.
(b) A Wood, SA nunca chegou a pagar o preço dos serviços prestados por Alberto. Em 19 de
janeiro/2018, Alberto ganhou coragem e interpelou a Wood, SA, através de carta, para pagar. Em
resposta, a Wood, SA informou que nada deve, dado que o crédito de Alberto já prescreveu. Considera
este argumento procedente? (4 valores)
DIREITO DOS CONTRATOS I
3.º Ano - 2017/2018
Exame (Época de Coincidência)
Duração: 120 minutos
Regência: Professor Doutor Pedro de Albuquerque
Tópicos de Correção
(a) Cumpriria debater se a transferência da propriedade sobre o terreno para Carlos havia afetado o
direito de Beatriz.
Nos termos do artigo 408.º/2 CC, quanto aos frutos pendentes, apesar da dilação temporal entre a data
da celebração da compra e venda e o efeito real, a causa deste é o contrato, e não a separação da árvore.
Consequentemente, logo que os frutos se separassem da árvore (porque eram colhidos ou porque
haviam caído) a propriedade sobre os mesmos transferir-se-ia para Beatriz, que, em consequência,
poderia reivindicá-los de Carlos. Este poderia agir contra Afonso, designadamente com fundamento em
dolo, pedindo a anulação do contrato e/ou uma indemnização. Importaria ainda mencionar o artigo
880.º CC, nos termos do qual o vendedor fica obrigado a realizar as diligências necessárias para que o
comprador "adquira" os bens vendidos. Se o termo "adquira" puder ser entendido como "obter a
detenção material sobre a coisa vendida", então seria de sustentar que Beatriz poderia exigir a Afonso
que diligenciasse junto de Carlos no sentido de as laranjas lhe serem entregues.
(b) Nesta hipótese, seria valorizado o debate sobre o direito de Afonso à correção do preço.
Uma vez que a diferença entre a medida real do terreno e a declarada no contrato equivalia a ½, tem-se
por preenchido o requisito de relevância previsto no artigo 888.º/2 CC. Neste contexto, poderia
discutir-se se a correção proporcional do preço visaria a totalidade da diferença ou apenas a parte da
diferença que excedia 1/20. Justificar-se-ia ainda mencionar o direito de resolver o contrato pelo
comprador previsto no artigo 891.º/1 CC.
O direito de Afonso receber a diferença teria, todavia, caducado 1 ano após a entrega (artigo 890.º/1
CC), ou seja, antes de novembro/2017, data em que Afonso tomou conhecimento da discrepância.
(c) Nesta hipótese, depois de ser esclarecido se o artigo 934.º CC contém ou não uma norma
imperativa, caberia debater se, apesar de o preceito não ser aplicável, ao menos diretamente, dado que
não tinha havido reserva de propriedade, se justificaria estender o seu regime ao caso em apreço, com a
consequência de tornar a cláusula em causa inválida. Seria sobretudo valorizada a demonstração do
conhecimento deste debate na doutrina.
(d) Caberia debater se o legislador propôs uma hierarquia para os direitos que confere ao comprador de
bem defeituoso contra o vendedor (artigo 914.º CC). Resolvido esse debate no sentido positivo,
interessaria notar que essa hierarquia é, numa certa perspetiva, constituída a favor do vendedor, que
desse modo passa a ter o direito de escolher reparar em vez de substituir, o que será em princípio
menos oneroso. Caberia então colocar e responder às perguntas seguintes: (i) Se o vendedor, apesar de
se prestar a reparar os defeitos da coisa, evidencia incapacidade para realizar uma reparação eficaz, uma
que permita ao comprador utilizar o bem sem limitações, pode o comprador recusar a reparação e
exigir a substituição? (ii) As sucessivas reparações ineficazes tornam a substituição necessária?
Uma solução poderá passar por considerar que as reparações sucessivas e ineficazes demonstram a
incapacidade do vendedor para reparar o defeito, devendo, na sequência, ser a coisa substituída, o que
pode ser exigido pelo comprador. De acordo com este entendimento, Carlos teria direito à substituição.
II
(a) Nesta hipótese, está em causa decidir se a Wood é titular dos previstos nos artigos 1221.º-1223.º CC
contra Alberto.
DIREITO DOS CONTRATOS I
3.º Ano - 2017/2018
Exame (Época de Coincidência)
Duração: 120 minutos
Regência: Professor Doutor Pedro de Albuquerque
Neste sentido, e assentando que Wood não conhecia o defeito quando aceitou a obra, interessaria
começar por discutir se o defeito em causa deveria ser considerado oculto ou aparente. Seria valorizada
a distinção fundada entre estes dois conceitos.
Sendo o defeito oculto, a Wood não só havia cumprido o prazo de 30 dias para denunciar o defeito
(artigo 1220.º CC), como poderia propor ação para fazer valer os seus direitos até ao dia 14 de janeiro
de 2018.
Sendo o defeito considerado aparente, e tendo a obra sido aceite sem reservas, a Wood teria de ilidir a
presunção prevista no artigo 1219.º/2 CC, caso pretendesse exercer os seus direitos. Se não fosse bem-
-sucedida nesta diligência, não só estaríamos perante um caso de irresponsabilidade do empreiteiro
(artigo 1219.º/1 CC), como o prazo para denunciar o defeito já teria caducado (artigo 1220.º/1 CC).
(b) Na presente hipótese, interessaria debater se a presunção de cumprimento prevista no artigo 317.º,
b) CC aproveita ao dono de obra.
Depois de compreendido que a Wood não poderia alegar a prescrição, mas o cumprimento, dado que o
artigo 317.º CC não prevê qualquer efeito prescritivo, caberia debater se este regime é ou não aplicável
à empreitada, mobilizando as considerações doutrinárias e jurisprudenciais que se afigurassem
convenientes.
FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE DE LISBOA
DIREITO DOS CONTRATOS I
Época Especial
TÓPICOS DE CORREÇÃO
a)
- Análise dos efeitos da compra e venda. Concretamente da obrigação de entrega e do respetivo
devedor;
- No silêncio do contrato, sendo a obrigação de entrega do vendedor, caberá ao mesmo suportar
os custos com o cumprimento dessa obrigação;
- Contudo, na compra e venda, enquanto contrato, as partes estão adstritas, quer na sua
formação quer na sua execução, ao cumprimento de regras da boa-fé. Designadamente a deveres
de informação. O incumprimento das mesmas, poderá conferir uma pretensão indemnizatória à
parte contrária;
- Análise e discussão da eventual responsabilidade de A. por violação de deveres de
informação.
b)
- Tendo A. e B. celebrado uma compra e venda a prestações há que ter em conta o regime
especial do artigo 934.º do CC. Especial em relação à compra e venda (886.º), mas também em
relação ao regime geral das obrigações (781.º);
- Circunscrevendo a questão à resolução do contrato, por ter sido a pretensão exigida por B.,
estabelece o artigo 934.º que na compra e venda prestações com reserva de propriedade e entrega
da coisa o comprador não pode resolver o contrato em caso de incumprimento de uma prestação
que não exceda um oitavo do valor do preço;
- Contudo, no caso em análise, apesar da compra e venda a prestação, da entrega da coisa e de
a prestação incumprida não exceder um oitavo do valor do preço, não houve reserva de
propriedade. Assim, segundo faltando um pressuposto de aplicação do artigo 934.º, vale, em
princípio o disposto no artigo 886.º:
- Análise e discussão da posição na doutrina, em particular da regência, que defende nestes
casos a aplicação do artigo 934.º apesar da falta de reserva. Se assim for, B., com fundamento no
artigo 934.º do Código Civil não poderia resolver o contrato;
- Aplicando-se o artigo 886.º do Código Civil teríamos de concluir que B. não poderia resolver
o contrato: a propriedade transferiu-se, a coisa foi entrega e as partes não acordaram na resolução
do contrato por falta de pagamento do preço;
- Não podendo resolver, impõe-se analisar os direitos de B.: uma ação de cumprimento,
acrescida de uma pretensão indemnizatória por juros.
FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE DE LISBOA
DIREITO DOS CONTRATOS I
Época Especial
c)
- Sim. Neste caso poderíamos estava perante uma venda de coisa defeituosa. O aparelho
adquirido sofre de um vício que impede a realização de um dos fins a que se destina (913.º do CC);
- Provando o defeito e que o mesmo existia por ocasião da compra presume-se a culpa da B.
(799.º do CC);
- Em caso de venda de coisa defeituosa os direitos do comprador não se circunscrevem aos
previstos nos artigos 914.º e ss. Além dos previstos nos artigos 903.º por remissão do artigo 913.º,
temos os direitos gerais do credor no caso de incumprimento. No caso, atendendo à posição de A.,
à exceção do não cumprimento. In casu, a exceção do não cumprimento do contrato
defeituosamente cumprido, a que seria aplicável, com as devidas adaptações, o disposto no artigo
428.º do Código Civil.
- Desde a faculdade exercida por A. fosse proporcional ao cumprimento defeituoso da B. a
recusa daquele seria legítima.
d)
d.1)
- Qualificação do contrato celebrado entre A. e C. como empreitada;
- Nos termos gerais, o prazo de garantia do art. 1225.º (prazo de caducidade) é de cinco anos
contados da conclusão da obra;
- Análise e discussão sobre a admissibilidade do prazo legal se encurtado por acordo das partes.
Há quem defenda que sim porém de tal encurtamento não seja pode ser de tal monta que prive as
partes de exercerem os seus direitos (Romano Martinez). Por fim, há quem sustente que a
possibilidade de as partes alterarem o prazo só vale para a ampliação e não redução (Vaz Serra;
Pedro de Albuquerque);
- Concluindo-se que temos um cumprimento cujo defeito de manifestou no prazo de garantia.
Análise dos direitos de A. e de o prazo para os exercer, distinguindo a prazo para a denúncia, do
prazo para o exercício dos direitos;
- Distinção, quanto às pretensões de A., entre os danos extra rem e circa rem. Qualificação dos
danos no frigorifico como canos extra rem.
- Quanto a construção de móvel novo, análise da hierarquia dos mecanismos de reação do dono
da outra em caso de cumprimento defeituoso. Se a reparação do móvel que caiu fosse possível e
não fosse demasiado onerosa para devedor. A. não tinha direito a um móvel novo.
- Referência à questão de saber o regime aplicável à indemnização destes danos, considerando
que se trata da violação do direito de propriedade (situação jurídica absoluta). Designadamente
se o prazo dos 3 anos para a responsabilidade aquiliana
d.2.)
- Referência à discussão relativa à possibilidade de (em determinados casos) o dono da obra
poder substituir o empreiteiro por terceiro relativamente à eliminação dos defeitos, podendo
exigir as despesas ao empreiteiro.
Direito dos Contratos I – TA
Exame de Recurso
6/04/2021
Duração: 2 horas
1. (4 valores).
Qualificação como contrato de compra e venda a prestações, de acordo com os artigos
874.º e 934.º do CC, sem reserva de propriedade e com tradição da coisa. Indicação
dos efeitos essenciais: 879.º do CC.
Referência ao princípio da consensualidade estabelecido no artigo 408.º/1 do CC. A
constituição e transferência de direitos reais, na ordem jurídica portuguesa, dá-se por
mero efeito do contrato (sistema do título).
Será valorizada a referência, nos termos do artigo 934.º, 2ª parte, à inadmissibilidade
do vendedor exigir antecipadamente as prestações vincendas, por não exceder a
prestação em falta 1/8 do preço.
A pretensão do António, ao exigir a devolução do automóvel, consubstancia uma
declaração tácita de resolução do contrato.
Discussão quanto à aplicabilidade do artigo 934.º, 1.ª parte, à venda a prestações sem
reserva de propriedade. Identificar uma contradição valorativa na interpretação literal
da norma, não permitindo ao vendedor, ainda proprietário, que resolva o negócio, mas
admitindo caso o contrato não tenha sido celebrado com reserva.
Quando à resolução convencionada, referir que podia afastar o artigo 886.º do CC, no
entanto, a sua admissibilidade fica arredada por ser aplicável o artigo 934.º do CC.
Se a norma fosse dispositiva não ficaria assegurada a tutela da parte mais fraca. Pela
imperatividade (mínima) da norma ser controversa, é admitida resposta diversa
devidamente fundamentada.
Por fim, ainda que o incumprimento resulte, indiciariamente, do desemprego de Bento,
presume-se culposo, nos termos do art. 799.º, e atendendo ser uma obrigação
pecuniária não configura uma situação de impossibilidade.
2. (4 valores)
Identificar uma cláusula penal stricto sensu, permitindo ao vendedor exigir, em
alternativa ao preço, o montante acordado.
Recusar a aplicação do artigo 935.º do CC, por implicar uma contradição valorativa.
Devido à natureza da presente cláusula penal, se a indemnização fosse reduzida a
metade do preço, o vendedor ficava sem a coisa e recebia apenas metade do preço.
Referir de forma fundamentada, que esta argumentação só é procedente se a cláusula
penal visa acautelar o incumprimento definitivo do devedor.
Valoriza-se que o aluno considere que o tribunal pode reduzir a cláusula penal, nos
termos do artigo 812.º n.º 1 do CC, por ser manifestamente excessiva.
II
1. (3 valores)
Qualificação do negócio como uma compra e venda de bens de consumo: verificação
do âmbito objetivo e subjetivo do DL n.º 67/2003, de 8 de abril.
Dever de conformidade do bem com o contrato, ao abrigo do artigo 2.º do diploma.
Referência à presunção de falta de desconformidade, nos termos do artigo 3.º n.º 2, e
ao prazo de garantia, previsto no artigo 5.º n.º 1.
Análise dos direitos do comprador previstos no artigo 4.º n.º 1, referindo que prima
facie nada impede o comprador de resolver o contrato, sem antes suscitar a reparação
do bem.
Ponderar a aplicação do artigo 4.º n.º 5, por eventual contrariedade ao princípio da
boa fé. O comprador pretende resolver o contrato, quando se verifica um pequeno
defeito, facilmente reparável, na qual o vendedor se predispõe a reparar o bem
prontamente. Veja-se, por exemplo, o Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa,
processo 899/17.1YRLSB-8, de 6.07.2017.
2. (5 valores)
Qualificação como contrato de empreitada (artigo 1207.º do CC), modalidade típica
do contrato de prestação de serviços (artigo 1155.º do CC).
Identificação dos efeitos essenciais do contrato: realização de uma obra mediante o
pagamento de um preço.
Referir que realização de obra pode compreender, além da construção, a reparação,
demolição ou destruição de coisa móvel ou imóvel.
Enquadrar a recusa na entrega da obra no exercício do direito de retenção, nos termos
do artigo 754.º do CC.
Discussão em torno da admissibilidade do empreiteiro reter a obra do dono da obra:
Doutrina Tradicional: Preço não é um crédito por despesas, omissão de
referência ao empreiteiro no artigo 755.º do CC e a não integração expressa do
direito de retenção no Código Civil, apesar de constar do Anteprojeto de Vaz
Serra.
Doutrina e Jurisprudência maioritária: direito de retenção é enquadrável no
artigo 754.º do CC, uma vez que o empreiteiro incorre em despesas para
atribuir valor a uma coisa e ser pago por isso.
3. (4 valores)
Referência à regra geral quando ao tempo do pagamento do preço – artigo 1211.º n.º
2 do CC.
Identificar o problema da prescrição do direito crédito do empreiteiro ao preço.
Referência ao afastamento do artigo 317.º b) do CC (“execução de trabalhos”) pela
Jurisprudência, por considerar que se trata de dívida que costuma ser pagas em prazo
longos e não ser costume exigir quitação.
Afastamento desta corrente jurisprudencial, por ser, atualmente, habitual o
cumprimento da obrigação em prazo curto e sobre o empreiteiro pender um dever de
emitir fatura, para efeitos fiscais.
Será valorizada a indicação do fundamento da prescrição presuntiva e a sua aplicação
ao presente caso.
EXAME DE DIREITO DOS CONTRATOS I
22 de janeiro de 2021
I
[…]
II
[…]
⟼ Tópicos
- Qualificação do contrato celebrado como uma empreitada (1207.º)
- Análise do dever de F., enquanto empreiteiro, de comunicar os erros que tenha conhecimento
que possam prejudicar a aptidão da obra. Ainda que esses erros sejam provenientes de terceiro,
e, naturalmente, sem prejuízo da eventual responsabilidade do terceiro. Um dever integrado no
dever de cumprir pontualmente a obrigação e de executar uma obra isenta de vícios e que
corresponda ao interesse do dono da obra (1208.º e 762.º). Caso contrário, será F. responsável
por cumprimento defeituoso, eventualmente em concurso com o projetista.
- Análise do eventual direito de E., informado dos erros, de receber/exigir uma prestação
desconforme. Apesar de o ponto de partida ser o que o empreiteiro já não pode recusar-se a
cumprir o projeto, há que ter em consideração que, por um lado, as declarações de E. apenas
operam ao nível da responsabilidade contratual entre F. e E., e, por outro, que a execução da obra
em causa, a concretizar-se, poderia ruir. Neste caso, há que ponderar a possibilidade de F. impor
alterações à obra que, a não serem aceites por E., apenas poderiam fundamentar a desistência da
obra (1229.º). Não o cumprimento.
d) […]
Quid iuris?
⟼ Tópicos
- Análise, atento o disposto nos arts. 1208.º e 762.º, segundo uma boa-fé subjetiva ética, se F.
não deveria ter conhecido dos erros dos projetistas e, assim sucedendo, da eventual
responsabilidade por cumprimento defeituoso.
- Contudo, E., sabendo dos erros dos projetivas, deveria ter informado F. dos mesmos. Menção
à posição de VAZ SERRA e PEDRO ROMANO MARTINEZ no sentido de que haveria venire contra factum
proprium. Posição diversa de MENEZES LEITÃO atento o disposto no artigo 1209.º/2. Menção há
possibilidade de haver abuso de direito de E, mesmo perante o disposto no artigo 1209.º/2. Com
efeito, por força da boa-fé, tinha o encargo de prestar-lhe a colaboração necessária à boa execução
do projeto (762.º). Não o tendo feito, e, em resultado da sua omissão, ruido a obra sido realizada
segundo o projeto, continua obrigado a pagar o preço acordado. Quanto à responsabilização de F.,
apesar a presunção da culpa de F. pela derrocada, importa analisar se a omissão, culposa, de
colaboração de E. pode conduzir à atenuação, ou mesmo exclusão, da responsabilidade de F.
DIREITO DOS CONTRATOS I
3.º Ano - 2017/2018
Exame (Época Normal)
Duração: 120 minutos
Regência: Professor Doutor Pedro de Albuquerque
I
Ana, reformada e assídua espetadora de um programa de vendas na TV, encomenda um robot de
cozinha que é anunciado e explicado num desses programas pela BiTech, S.A.. O preço,
correspondente a €1.200, seria pago em vinte e quatro prestações mensais sem juros.
(a) Sete dias após ter recebido o robot de cozinha, não obstante o seu impecável funcionamento, Ana
acha que cometeu um excesso e pretende devolvê-lo. Quid iuris? (1 valores)
(b) Ana encontra-se em falta quanto ao pagamento de três prestações. Que direitos assistem à
vendedora, a BiTech, S.A.? (4 valores)
(c) Dois dias após a compra do robot à BiTech, S.A., Ana vendeu-o à sua vizinha Célia, por €1100, que
recebeu o bem, mas nunca chegou a pagar o preço. Supondo que a BiTech, S.A. reservou para si a
propriedade, que, 6 meses após a venda, resolveu validamente o negócio celebrado com Ana e que, na
sequência da resolução, lhe solicita a devolução do robot, de que modo pode Célia reagir quando Ana lhe
solicita a entrega do bem para devolvê-lo à BiTech, S.A.? (4 valores)
(d) A máquina tinha uma garantia de bom funcionamento de um ano. Ao cabo de oito meses, o motor
avariou. A BiTech, S.A. substituiu-o por um motor novo. Decorridos dois anos e três meses sobre a
compra, o motor do robot de cozinha avariou novamente. Que direitos assistem a Ana? (2 valores)
II
António contratou com Bento a construção de uma moradia, pelo valor de €150.000, num terreno que
pertencia a António. Acordaram que a construção teria de estar concluída no prazo de 12 meses e que o
preço seria pago da seguinte forma: €70.000 no prazo de 6 meses contados desde a celebração do
contrato e o valor remanescente aquando da aceitação da obra.
(a) Após o decurso de 7 meses de execução dos trabalhos, Bento apercebeu-se de que não conseguiria
concluir a obra no prazo acordado, pelo que contratou Carlos para proceder à instalação elétrica e das
canalizações no imóvel. A obra foi concluída dentro do prazo acordado e aceite por António sem
qualquer reserva. Sucede que, 2 meses após a aceitação, António comunicou a Bento que existia uma
infiltração na cozinha devido à deficiente colocação da canalização. Bento declinou qualquer
responsabilidade com o argumento de que havia sido Carlos a instalar as canalizações. Quid iuris? (5
valores)
(b) Na fase de acabamento, um sismo destruíra por completo a construção. António exige de Bento
nova construção; Bento recusa-se a reconstruir por tal estar completamente fora do que orçamentou
para a empreitada contratada. Quid iuris? (3 valores)
Tópicos de Correção
(a) Trata-se de um contrato celebrado a distância, supondo que Ana é consumidora e que a celebração
foi feita exclusivamente por uma técnica de comunicação a distância. (cf. artigo 3.º, n.º 1, al. f) do
Decreto-Lei n.º 24/2014 de 14.02). Ana tem direito à de livre resolução, dentro do prazo de 14 dias
subsequentes à entrega (artigo 10.º do Decreto-Lei n.º 24/2014 de 14.02). Seria valorizada a explicação
do fundamento e funcionamento deste direito.
(b) No pressuposto de que o equipamento já foi entregue, o vendedor não pode resolver (mediante
conversão da mora em incumprimento definitivo), porque não há reserva de propriedade nem cláusula
resolutiva (cf. artigo 886.º CC). A resolução seria todavia admissível se as partes tivessem
convencionado nesse sentido (cf. artigo 886.º CC).
Uma vez que estão em falta três prestações (artigo 934.º), o vendedor pode exigir a totalidade do preço
em falta: perda de benefício do prazo, discutindo-se se há vencimento antecipado ou exigibilidade
antecipada, sendo necessário, neste último caso, interpelação para que o comprador entre em mora
quanto à parte restante do preço.
Em alternativa, se se tratar de contrato de crédito ao consumo, aplicar-se-á o artigo 20.º do Decreto-Lei
n.º 133/2009 de 2.06. Todavia, de acordo com os dados da hipótese, e tendo em vista a exclusão
prevista no artigo 2.º/1, f) do referido diploma, este regime não seria aplicável.
(c) O problema colocado pela questão prende-se com o reconhecimento do direito de Célia recusar a
entrega do robot que Ana lhe solicita.
Afigura-se irrelevante a circunstância de Célia ainda não ter pago o preço, atenta a regra no artigo 886.º
CC. Mais pertinente é decidir se Ana transmitiu validamente a propriedade do bem a Célia, dado que a
BiTech, SA havia reservado para si a propriedade. Cumpria, neste contexto, discutir a eficácia da
cláusula de reserva de propriedade relativamente a terceiros. Seria valorizada a exposição detalhada do
debate doutrinário sobre este tema. O sentido da resposta à questão levantada pela hipótese estaria
assim dependente da posição assumida na querela sobre a eficácia da reserva de propriedade
relativamente a terceiros. Sendo ineficaz, então teria sido válida a venda do bem a Célia, esta ter-se-ia
tornado proprietária do mesmo, podendo por conseguinte recusar entregá-lo a Ana. Se a reserva de
propriedade fosse considerada eficaz relativamente a Célia, então caberia apreciar a validade da venda
celebrada entre esta e Ana. Seria, designadamente, ponderável aplicar o regime da venda de bens
alheios, diretamente ou por analogia, sendo por conseguinte a venda nula (artigo 892.º), com as
consequências previstas no artigo 289.º/1 CC. Todavia, caberia questionar se Ana poderia alegar a
nulidade do negócio contra Célia, atendendo às limitações previstas no artigo 892.º. Não estaria, porém,
a BiTech, S.A. impedida de pedir a Célia a restituição do bem, invocando a reserva de propriedade.
Outras soluções, desde que devidamente fundamentadas seriam ponderáveis.
(d) Tratando-se de uma venda a consumidor, era aplicável o DL n.º 67/2003, 08.04.
Poderia debater-se a diferença entre a garantia relativa a defeitos da coisa e a garantia de bom
funcionamento. Neste caso, porém, esta distinção conceptual não envolve consequências de regime
aplicável, atendendo ao disposto nos artigos 5.º/1 e 10.º do DL n.º 67/2003, 08.04.
A substituição do motor do robot oito meses depois da compra do mesmo era devida, nos termos dos
artigos 4.º/1 e 5.º/1 do DL n.º 67/2003, 08.04. O motor avariou novamente dois anos e 3 meses após a
DIREITO DOS CONTRATOS I
3.º Ano - 2017/2018
Exame (Época Normal)
Duração: 120 minutos
Regência: Professor Doutor Pedro de Albuquerque
compra, mas apenas 19 meses após ter sido substituído. Posto isto, importa discutir se, relativamente à
peça substituída, a garantia de dois anos (artigo 5.º/1 do DL n.º 67/2003, 08.04) se (re)iniciou na data
da substituição. A dúvida quanto à resposta a esta questão reside na redação do artigo 5.º/6 do DL n.º
67/2003, 08.04, que prescreve o reinício da garantia nos casos em que se verifique a substituição do
bem. Cumpre, então, questionar: no caso em apreço (e em hipóteses similares), releva a substituição do
motor do robot ou a reparação do robot através da substituição do motor? Seguindo o primeiro
entendimento, deve entender-se que, à data da segunda avaria, a garantia do motor subsistia; optando
pelo segundo, deve concluir-se que, na data da segunda avaria, a garantia do robot já havia expirado.
II
(a) Primeiramente, é necessário qualificar o contrato celebrado entre António e Bento como um
contrato de empreitada, nos termos do art. 1027.º do CC, e o contrato entre Bento e Carlos como um
contrato de subempreitada, de acordo com o art. 1213.º do CC.
A obra deve ser executada sem quaisquer vícios que excluam ou reduzam o seu valor (art. 1208.º do
CC), sendo que, antes da aceitação, o dono deve verificar se a obra corresponde ao convencionado com
o empreiteiro, não tendo qualquer defeito (art. 1218.º do CC). Neste âmbito, seria necessário qualificar
o tipo de defeito como oculto, não sendo conhecido pelo dono da obra aquando da aceitação, nem
tendo este a possibilidade de conhecer usando a diligência normal. Desta forma, não se aplica a
irresponsabilidade do empreiteiro, nos termos do art. 1219.º do CC.
O prazo de denúncia dos defeitos é de 30 dias após o descobrimento (art. 1220.º do CC), nos termos
gerais, sendo que no caso aplicar-se-ia o prazo de um ano (art. 1225.º, n.º 2 do CC), presumindo-se que
a comunicação dos defeitos pelo António a Bento foi realizada no prazo legal. Contudo, tratando-se de
um defeito relacionado com a execução da subempreitada, deve aplicar-se o disposto no art. 1226.º.
Denunciado o defeito, o dono da obra tem direito à sua eliminação, por ser possível (art. 1221.º do
CC). Caso os defeitos não sejam eliminados, o António teria direito à redução do preço ou à resolução
do contrato, no caso de os defeitos tornarem a obra inadequada ao fim a que o dono a pretende
destinar. A acrescer a estes direitos, o António pode ser indemnizado nos termos gerais (art. 1223.º do
CC).
Para o caso de imóvel destinado por sua natureza a longa duração, como no caso em apreço, o prazo
de garantia é de 5 anos, desde a entrega, sendo que os direitos devem ser exercidos no prazo de 1 ano
após a denúncia dos defeitos. Este contexto, seria importante referir a posição assumida pelo Prof.
Pedro de Albuquerque quanto ao designado “prazo de manifestação de defeitos”, e aos seus efeitos
práticos na contagem dos prazos.
O argumento do Bento é ineficaz, atendendo à eficácia interna das obrigações (artigo 406.º/2 CC). O
empreiteiro responde sempre perante o dono de obra pelos atos do subempreiteiro, designadamente
por via do artigo 800.º CC (v. também artigo 264.º/4 e 1213.º/2)
Concluir-se-ia que o Bento seria responsável perante o António quanto ao defeito denunciado, e o
Carlos poderia ter de assumir responsabilidade perante o Bento, nos termos do art. 1226.º do CC.
(direito de regresso de Bento contra Carlos).
Caso se considerasse que Bento era um profissional, tratar-se-ia de uma empreitada de consumo, sendo
aplicáveis os direitos e os prazos previstos nos artigos 4.º e ss. do DL 67/2003.
(b) No caso em apreço, a empreitada tinha como objeto um imóvel, cujo terreno pertencia a António,
dono da obra, razão pela qual aplica-se o art. 1212.º, n.º 2 do CC.
Atendendo a que o imóvel ficara totalmente destruído por caso fortuito, o sismo, e sendo António o
proprietário já do imóvel construído por se encontrarem incorporados os materiais fornecidos pelo
DIREITO DOS CONTRATOS I
3.º Ano - 2017/2018
Exame (Época Normal)
Duração: 120 minutos
Regência: Professor Doutor Pedro de Albuquerque
empreiteiro à medida que fora construindo a moradia, o risco corre por conta de António (artigo 1228.º
do CC).
Nesta medida, António terá de pagar o preço acordado a Bento, e caso queira nova construção, a
mesma constituirá nova empreitada, nos termos do art. 1207.º e seguintes do CC.
DIREITO DOS CONTRATOS I
Exame Escrito de Coincidências de Recurso
20 de fevereiro de 2020 - 90 minutos
Prof. Doutor Pedro de Albuquerque
TÓPICOS DE CORRECÇÃO
GRUPO I
2.Ponderação da eventual aplicação do regime dos bens de consumo, previsto no DL n.º 67/2003,
que não prevê hierarquia nos direitos atribuídos ao consumidor;
Nos termos gerais, a resolução do contrato é possível se os defeitos tornarem a obra inadequada
ao fim a que se destina (art. 1222.º, n.º 1, parte final), o que poderia ser o caso em análise.
Cf. PEDRO DE ALBUQUERQUE/MIGUEL ASSIS RAIMUNDO, Direito das Obrigações, Volume II, 2.ª ed.,
Almedina, 2013, pp. 433-437.
3. Identificação da situação como sendo uma alteração por exigência do dono da obra (art. 1216.º).
A alteração por exigência do dono da obra como derrogação do artigo 406.º. Limitações legais às
alterações que o dono da obra pretenda, discutindo neste caso se existia alteração da natureza da
obra ou o valor podia exceder a quinta parte do preço estipulado (art. 1216.º, n.º 1).
Indicação dos direitos do empreiteiro caso a alteração exigida pelo dono da obra fosse aceite por
aquele (art. 1216.º, n.ºs 2 e 3).
Cf. PEDRO DE ALBUQUERQUE/MIGUEL ASSIS RAIMUNDO, Direito das Obrigações, Volume II, 2.ª ed.,
Almedina, 2013, pp. 365-373.
4. Desistência do dono da obra e os seus efeitos jurídicos (art. 1229.º). A desistência do dono da
obra como derrogação do artigo 406.º.
Identificação do interesse contratual protegido pela norma, a favor do empreiteiro.
Cf. PEDRO DE ALBUQUERQUE/MIGUEL ASSIS RAIMUNDO, Direito das Obrigações, Volume II, 2.ª ed.,
Almedina, 2013, pp. 502-510.
DIREITO DOS CONTRATOS I
Exame Escrito de Coincidências de Recurso
20 de fevereiro de 2020 - 90 minutos
Prof. Doutor Pedro de Albuquerque
GRUPO II
14 de fevereiro de 2020
Prof. Doutor Pedro de Albuquerque
1)
Qualificação completa e fundada do contrato como contrato de empreitada (incluindo os seus elementos
caraterizadores essenciais e caraterísticas) e referência à empreitada de construção de coisa imóvel e respetivas
implicações;
Qualificação da empreitada como empreitada de consumo (por estar em causa uma relação de consumo, o
que ocorre sempre que o empreiteiro seja um profissional e o dono da obra um consumidor, visando a obra
para fins não profissionais – arts. 1.º A, n.º 1, e 1.º B a) do DL 67/2003, de 8 de Abril, com as alterações
entretanto sofridas (de ora em diante, DL 67/2003) e arts. 2.º, n.º 1 da Lei 24/96, de 31 de Julho, com as
alterações entretanto sofridas) e aplicação do regime específico da empreitada de bens de consumo instituído
pelo DL 67/2003. Referência ao disposto no artigo 1.º A, n.º 2, deste diploma legal que declara expressamente
a aplicação do diploma “com as necessárias adaptações, aos bens de consumo fornecidos no âmbito de um contrato de empreitada
ou outra prestação de serviços”, o que permite incluir a empreitada, seja ela de construção, reparação ou modificação.
Explicação fundada de que estando em causa uma empreitada de bens de consumo, o regime dos artigos
1218.º e ss do Código Civil (de ora em diante “CC”) é substituído pela aplicação, com as necessárias adaptações
do regime do DL 67/2003 pelo que não será igualmente de aplicar o disposto no artigo 1225.º CC que
estabelece uma garantia suplementar no caso de empreitadas destinadas a longa duração. Daqui resulta que o
empreiteiro tem o dever de realizar a obra e de a entregar em conformidade com o contrato (artigo 2.º, n.º 1
do DL 67/2003) o que se presumirá não se verificar sempre que ocorra algum dos factos negativos referidos
no artigo 2.º, n.º 2 do DL 67/2003 – o aluno deverá explicar e fundamentar qual deste facto/os
ocorreu/ocorreram e articular esta desconformidade com o disposto no artigo 3.º, n.º 2 do mesmo diploma
legal que presume que a falta de conformidade que se verifique no prazo de 5 anos após a entrega, para os
imóveis, já existia nessa data.
Para além disso é relevante referir que o regime da empreitada de bens de consumo não impõe ao dono da
obra o dever de verificar, apenas irresponsabilizando o empreiteiro se o defeito for aparente, isto é, se o dono
da obra conhecia a falta de conformidade ou não podia razoavelmente ignorá-la ou se esta resultar dos materiais
por este fornecidos (artigo 2.º, n.º 3 do DL 67/2003). Ora, no caso sub judice era precisamente isso que sucedia
com a parte do pedido de substituição de todo o mobiliário de cozinha feito por Amélia (esta alega que o
mobiliário era de cor branca e havia sido convencionado, no contrato, que deveria ser de cor castanha) pois
trata-se de defeito aparente. Já o mesmo não sucede relativamente à pretensão de Amélia relativamente à
reparação do telhado já que se trata de defeito oculto.
Quanto à reparação do telhado, estando assente que se trata de uma falta de conformidade (nos termos do
disposto no artigo 2.º, n.º 2 do DL n.º 67/2003), caberia debater quais são os remédios ao dispor do consumidor
- dono da obra, bem como a existência ou inexistência de hierarquia entre eles (artigo 4.º, n.º 1 do DL n.º
67/2003). Mesmo sufragando a inexistência de hierarquia, de referir que sempre seria ser oponível a cláusula
geral prevista no artigo 4.º, n.º 5 Decreto-Lei n.º 67/2003.
No respeitante aos prazos, de referir ainda que a denúncia se pressupõe ter sido feita dentro do prazo, uma
vez que no enunciado da hipótese do exame se refere que Amélia notificou de imediato a empreiteira depois
de a desconformidade se manifestar (e nos termos do disposto no artigo 5.º-A, número 2 do Decreto-Lei n.º
67/2003), a dona da obra dispõe de um prazo de um ano para denunciar o defeito ao empreiteiro. Cumpriria
igualmente notar que a falta de conformidade se manifestou dentro do prazo (de garantia) de cinco anos
previsto no artigo 5.º, n.º 1 do Decreto-Lei n.º 67/2003, conforme acima referenciado. Posto isto, A. poderia
propor ação em tribunal pedindo o reconhecimento do seu direito (reparação ou resolução do contrato) no
prazo de 3 anos após a denúncia (nos termos do disposto no artigo 5.º-A, n.º 3 do DL n.º 67/2003).
Por último, seria necessário referir também que o prazo de 8 dias para a reparação do telhado que fora
conferido por A. ao empreiteiro não seria, muito provavelmente, um prazo razoável, nem atendível pelo
empreiteiro para efetuar e concluir a reparação em apreço, já que, de acordo com o disposto no artigo 4.º, n.º
2 do DL 67/2003, o legislador dispõe que “tratando-se de um bem imóvel, a reparação ou a substituição devem ser realizadas
dentro de um prazo razoável, tendo em conta a natureza do defeito” (…), “sem grave inconveniente para o consumidor”. Ora,
apesar de este preceito legal não fixar um prazo concreto para o caso da reparação dos imóveis, considerando,
por um lado (i) a natureza da desconformidade em apreço – reparação do telhado, e, por outro lado (ii) o facto
de o prazo para a reparação de um móvel, ser fixado no máximo de 30 dias, pelo que deveria ser aventada pelos
alunos a desrazoabilidade do prazo de 8 dias fixado por Amélia.
2)
- Qualificação completa e fundada do contrato como contrato de compra e venda que tem por objeto um
bem imóvel – um determinado terreno com 10.000 metros quadrados.
- Análise do problema da compra e venda de coisas sujeitas a contagem, pesagem e medição, isto é venda
de coisas determinadas, ainda que sujeitas a uma posterior operação de contagem, pesagem ou medição (cf.
arts. 887.º e ss do CC).
- No caso concreto coloca-se o problema da existência de uma discrepância entre a referência contratual e
o resultado da operação de medição do terreno. Uma vez que o terreno se trata de uma coisa determinada, a
venda considera-se concluída antes da operação de medição, logo com a celebração do contrato, adquirindo
assim Amélia imediatamente a propriedade do terreno vendido (artigo 408.º, n.º 1), suportando assim
consequentemente o risco pela sua perda ou deterioração (artigo 796.º, n.º 1), pelo que a discrepância apenas
pode ter reflexos para efeitos do apuramento do preço devido.
- Havia que distinguir a venda ad mensuram ou por medida da venda ad corpus ou a corpo. No caso concreto
o preço havia sido fixado para o terreno como um todo, pelo que parece resultar estarmos perante um caso de
venda ad corpus ou a corpo, já que se tratará de um caso em que as partes não terem indicado um preço unitário,
mas antes um preço global, pelo que deveria ser aplicado o regime previsto no art. 888.º do CC que determina
que a correção da discrepância entre a “quantidade das coisas vendidas” e a que é declarada no contrato seja
apenas corrigida se a discrepância for superior a 5% na venda a corpo ou ad corpus. No caso concreto o preço
deveria, pois, sofrer redução proporcional uma vez que tinha, de facto, menos 1000 metros quadrados.
3)
- Qualificação completa e fundada do contrato de como compra e venda como compra e venda fracionada ou
a prestações com reserva de propriedade (artigo 934.º do CC).
- Análise completa e fundada dos requisitos de aplicação do disposto no artigo 934.º do CC, quanto à primeira
parte (resolução) e quanto à segunda parte (exigibilidade antecipada das prestações vincendas) para aferir dos
direitos de A. em relação a C. (dar nota que apesar de a questão não se colocar no caso concreto, para o Senhor
Professor Pedro de Albuquerque, Professor Regente, entende que quanto à primeira parte do artigo 934.º, a
reserva de propriedade não é um verdadeiro e próprio requisito).
- Explicação completa e fundada do sentido, função e natureza da cláusula de reserva de propriedade.
Implicações daqui resultantes para o caso em apreço. Em princípio, não se trata de uma exceção ao princípio
da transmissão da propriedade por efeito do contrato, e, concomitantemente, ao Sistema do Título, mas apenas
de uma dilação dessa transmissão para um momento posterior.
- A. não poderia resolver o contrato, nem exigir as prestações ainda não vencidas, já que funcionava a tutela do
artigo 934.º do CC (1.ª e 2.ª parte deste preceito legal, respetivamente) mas poderia exigir o cumprimento
coercivo das prestações em falta ou a sua execução específica.
- Pode alienar-se a posição jurídica do comprador com reserva de propriedade (que era relevante qualificar),
que tem conteúdo patrimonial e não está abrangida por qualquer proibição de disposição pelo seu titular. Pode
também tratar-se o bem como bem relativamente futuro (artigo 893.º do CC). Fora desses casos, parece que há
venda de bens alheios (artigo 892.º CC). Assim, in casu, depois da venda a C., A. não mantém a plenitude dos
poderes de um normal proprietário, designadamente os poderes de alienação. A reserva de propriedade cumpre
uma função de garantia, pelo que se deve entender que Amélia não tem legitimidade para alienar a coisa a E..
Consequentemente, tal hipótese deverá ser equiparada à venda de coisa alheia como própria, sancionando-se
tal venda com a nulidade. Explicar fundadamente que tipo de nulidade estava em causa.
- Já no que respeita à alienação do carro por C., adquirente sob reserva, a D., haveria que distinguir e colocar
duas hipóteses (uma vez que o texto do enunciado do exame é omisso quanto a este ponto) e retirar daí as
devidas ilações, devidamente fundamentadas: (i) estando em causa uma de venda de bem alheio como bem
alheio, isso significará conforme acima referido, que esta venda será válida, sendo-lhe aplicável o disposto no
art. 880.º do CC, ex vi artigo 893.º do CC, tratando-se o bem como relativamente futuro; (ii) caso se trate da
venda de bem alheio como bem próprio, o contrato será nulo já que se tratará de uma compra e venda de um
bem alheio (artigo 892.º do Código Civil).
DIREITO DOS CONTRATOS I – TA
TÓPICOS
a)
- O negócio celebrado entre A. e D. é uma permuta. É elemento essencial da compra e venda
a existência de um preço (artigo 874.º do CC) e, interpretando as declarações negociais de A.
e T., não parece ter existido um preço ou, que o objeto do negócio não foi a transmissão do
direito de propriedade sobre uma coisa por um preço.
- Nos termos do disposto do artigo 939.º do CC, o negócio entre A. e D. segue o regime da
compra e venda, na medida em que seja conforme com a sua natureza e não esteja em
contradição com a permuta.
- Adicionalmente estamos, apesar de A. ser um consumidor e T. um profissional, não parece
que à permuta seja aplicável o disposto no DL n.º 84/2021, de 18 de outubro, tendo em
consideração o disposto no artigo 3.º. Contudo, perante a ausência de regime para estes casos,
poderá suscitar-se a questão da sua aplicação, por analogia.
b)
- Análise e recondução da hipótese a uma permuta de coisa defeituosa sujeita, por
remissão, do artigo 939.º do CC, aos artigos 913.º e ss. Com efeito, ainda que se pudesse
considerar abstratamente aplicável, por analogia, o DL n.º 84/2021, de 18 de outubro, estava
em causa o exercício de direitos do profissional perante o consumidor e não o inverso. Logo,
in casu, este regime não seria de aplicar.
- Estando no âmbito de responsabilidade obrigacional, vale a presunção de culpa prevista
no artigo 799.º do CC. Logo, se A. não tiver culpa, o que parece difícil de ocorrer, caberia a este
lidir tal presunção.
- Quanto à caducidade dos direitos de D., A. não tem razão. A denúncia do defeito, nos
termos do artigo 916.º do CC, conta-se da data da entrega e não da data da celebração do
contrato. Só então, o credor da prestação com defeitos está em condições, de querendo,
certificar-se do cumprimento integral, ou não, da prestação.
c)
- D., perante o cumprimento defeituoso de A., pretende manter o negócio reduzindo o
mesmo. O que, à luz do disposto no artigo 911.º do CC, com as devidas adaptações, por
remissão do 913.º do CC, por sua vez, por remissão do 939.º do CC, parece defensável.
- Pretendendo tal direito, há que analisar em que medida a caducidade prevista no artigo
917.º CC se aplica, ou não, aos demais remédios que a lei atribui ao adquirente de coisa
defeituosa. Designadamente, revelando conhecimento da posição da regência. Com efeito,
este artigo apenas fala da anulação por simples erro, o que parece induzir que os restantes
remédios estão sujeitos ao regime geral da repercussão do tempo nas relações jurídicas.
DIREITO DOS CONTRATOS I – TA
II
- Qualificação do contrato celebrado entre B. e C., analisando o conceito de obra, os seus
pressupostos e a problemática se a obra intelectual pode ser objeto de empreitada (1207.º do
CC). De todo o modo, ainda que se conclua pela existência de uma prestação de serviços
atípicos, há que ponderar, a aplicação, ao invés das regras do mandato (1156.º), da regra da
empreitada.
- Fornecendo o empreiteiro materiais alheios, mas (com reserva de propriedade), haveria
de discutir a possibilidade de estarmos perante uma empreitada onerada e o regime da
mesma.
- Uma vez concluída a obra, de acordo com o plano convencionado (1208.º do CC), as
pretensões de C. não têm fundamento. Não estamos perante uma alteração por iniciativa do
dono da obra, mas perante alteração após a entrega da coisa, sujeita ao regime do artigo
1217.º do CC.
- A recusa de C. em pagar o preço, não tem fundamento. Analise e discussão de um eventual
dever de C. aceitar a obra e efeitos de tal recusa. Designadamente em termos de risco e de
mora.
- Análise dos direitos do credor do preço (B.). B. poderia intentar ação de cumprimento,
acrescida de juros de mora (1207.º do CC, 817.º e 806.º). Eventualmente, tendo B. readquirido
o controlo material do quadro, haveria que analisar a possibilidade, discutida na doutrina, de
existir direito de retenção (754.º do CC).
- A execução da obra contratada, no prazo contratado, pressuponha, pelo seu objeto a
colaboração do credor (C.). Não tendo este colaborado por estar a viajar, o atrasado da obra
do prazo acordado não resultada de uma atuação culposa da B.
EXAME DE DIREITO DOS CONTRATOS I
22 de janeiro de 2021
I
[…]
II
[…]
⟼ Tópicos
- Qualificação do contrato celebrado como uma empreitada (1207.º)
- Análise do dever de F., enquanto empreiteiro, de comunicar os erros que tenha conhecimento
que possam prejudicar a aptidão da obra. Ainda que esses erros sejam provenientes de terceiro,
e, naturalmente, sem prejuízo da eventual responsabilidade do terceiro. Um dever integrado no
dever de cumprir pontualmente a obrigação e de executar uma obra isenta de vícios e que
corresponda ao interesse do dono da obra (1208.º e 762.º). Caso contrário, será F. responsável
por cumprimento defeituoso, eventualmente em concurso com o projetista.
- Análise do eventual direito de E., informado dos erros, de receber/exigir uma prestação
desconforme. Apesar de o ponto de partida ser o que o empreiteiro já não pode recusar-se a
cumprir o projeto, há que ter em consideração que, por um lado, as declarações de E. apenas
operam ao nível da responsabilidade contratual entre F. e E., e, por outro, que a execução da obra
em causa, a concretizar-se, poderia ruir. Neste caso, há que ponderar a possibilidade de F. impor
alterações à obra que, a não serem aceites por E., apenas poderiam fundamentar a desistência da
obra (1229.º). Não o cumprimento.
d) […]
Quid iuris?
⟼ Tópicos
- Análise, atento o disposto nos arts. 1208.º e 762.º, segundo uma boa-fé subjetiva ética, se F.
não deveria ter conhecido dos erros dos projetistas e, assim sucedendo, da eventual
responsabilidade por cumprimento defeituoso.
- Contudo, E., sabendo dos erros dos projetivas, deveria ter informado F. dos mesmos. Menção
à posição de VAZ SERRA e PEDRO ROMANO MARTINEZ no sentido de que haveria venire contra factum
proprium. Posição diversa de MENEZES LEITÃO atento o disposto no artigo 1209.º/2. Menção há
possibilidade de haver abuso de direito de E, mesmo perante o disposto no artigo 1209.º/2. Com
efeito, por força da boa-fé, tinha o encargo de prestar-lhe a colaboração necessária à boa execução
do projeto (762.º). Não o tendo feito, e, em resultado da sua omissão, ruido a obra sido realizada
segundo o projeto, continua obrigado a pagar o preço acordado. Quanto à responsabilização de F.,
apesar a presunção da culpa de F. pela derrocada, importa analisar se a omissão, culposa, de
colaboração de E. pode conduzir à atenuação, ou mesmo exclusão, da responsabilidade de F.