Antrpogeomorfologia

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Geographia Meridionalis - revista eletrônica do Programa de

Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de


Pelotas

http://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/Geographis/index
ISSN 2446-9165

GEOMORFOLOGIA ANTROPOGÊNICA E SUA INSERÇÃO EM PESQUISAS


BRASILEIRAS
ANTHROPOGENIC GEOMORPHOLOGY AND ITS INSERTION IN BRAZILIAN
RESEARCH

Letícia Giuliana Paschoal


Universidade Estadual Paulista
Instituto de Geociências e Ciências Exatas de Rio Claro
leticiagiulianapaschoal@gmail.com

Adriano Luís Heck Simon


Universidade Federal de Pelotas
Instituto de Ciências Humanas
adriano.simon@ufpel.edu.br

Cenira Maria Lupinacci da Cunha


Universidade Estadual Paulista
Instituto de Geociências e Ciências Exatas de Rio Claro
cenira@rc.unesp.br

RESUMO
A dinâmica de ocupação e uso da terra contribui para a organização de morfologias que adquirem
caráter antropogênico. Assim, este trabalho foi desenvolvido com o objetivo de realizar uma
revisão de literatura sobre os estudos do Homem enquanto agente geomorfológico, bem como
apresentar dois estudos de casos que retratam as transformações ocorridas em tempo histórico:
um deles em regiões agropastoris e outro em área vinculada a atividades de mineração. Estudos
atrelados à antropogeomorfologia podem contribuir para o planejamento ambiental dos sistemas
físico-ambientais, promovendo o mínimo impacto desencadeado pelo processo de ocupação sobre
as formas do relevo e rede de drenagem, a fim de evitar situações de risco para as diferentes
atividades antrópicas desenvolvidas.

Palavras-chave: Alterações geomorfológicas; uso da terra; ação antrópica.

ABSTRACT
Land use/cover dynamics contributes to the organization of anthropogenic morphologies. This
work aims to carrying out a literature review that enables the analysis of the evolution of man as
geomorphological agent and present two Brazilian case studies that depict transformations
occurred in historical time scale: in agricultural regions and mining activities areas. Studies linked
to anthropogenic geomorphology may contribute to the environmental planning of physical-
environmental systems, promoting minimal impact triggered by the spatial occupation over the
landforms and drainage net, to avoid risky situations for the different human activities developed.

Keywords: Geomorphological changes; land use; anthropic action.

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Geomorfologia Antropogênica e sua Inserção em Pesquisas Brasileiras
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1 - Introdução

A Geografia, e em especial a Geografia Física, sempre ocuparam papel de destaque entre


as ciências que abordam questões vinculadas à análise dos sistemas físico-ambientais,
bem como as consequências da intervenção antrópica sobre os elementos que compõe
estes sistemas, resultando na alteração dos seus atributos.

A evolução tecnológica do sistema socioeconômico promoveu transformações graduais e


intensas (em diferentes escalas e extensões espaciais) nos elementos dos sistemas físico-
ambientais que se encontram em contato direto com as atividades humanas como a
cobertura vegetal, as formas do relevo e a rede hidrográfica (CASSETI, 1994). Desta
forma, a transformação inicial da cobertura vegetal estabelece o start de outros fenômenos
verificados principalmente sobre as formas do relevo e sobre a hidrografia, alterando,
consequentemente, a morfodinâmica e a dinâmica fluvial (NIR, 1983; DREW, 1986;
CASSETI, 1994).

Christofoletti (1967) e Perez Filho et al. (2001) afirmam que a ação antrópica atribui
características artificiais aos sistemas geomorfológicos e hidrográficos a partir de
interferências na morfodinâmica e manifestam a necessidade em analisar as repercussões
que a atividade humana desencadeia sobre os processos geomorfológicos. Tais estudos
devem basear-se numa perspectiva histórica, ou seja, que se esforce em avaliar a evolução
da intervenção antrópica, procurando compreender de que modo essas contribuíram para
o controle da morfodinâmica, através da aceleração, estagnação ou eliminação de
determinados processos evidenciados na atualidade.

Suertegaray e Nunes (2001) manifestam a importância de análises geomorfológicas que


inserem o agente antrópico enquanto elemento ativo nas transformações do relevo,
procurando analisar as alterações com enfoques veiculados para além de uma escala de
tempo geológica, considerando, por conseguinte, a escala de tempo humana ou histórica,
assimilando o “tempo que se faz” e a velocidade deste fazer humano sobre as formas e
processos geomorfológicos.

Partindo destas considerações iniciais, este trabalho foi desenvolvido com o objetivo de
realizar uma revisão de literaturas que possibilite a análise da evolução dos estudos
atrelados a ação do Homem enquanto agente geomorfológico, bem como apresentar dois
estudos de caso, oriundos de pesquisas desenvolvidas pelos grupos “Geomorfologia e

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Planejamento Ambiental”, vinculado à UNESP de Rio Claro e “Geomorfologia e Meio


Ambiente”, da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Estes estudos de caso se
desvinculam das áreas fortemente urbanizadas – as quais, tradicionalmente, são estudadas
com esse viés científico em território brasileiro – e baseiam-se na utilização da cartografia
geomorfológica evolutiva para a análise do relevo antropogênico em áreas agropastoris e
com predomínio de atividades de mineração.

2 - A ação do Homem sobre sistemas geomorfológicos: Antropogeomorfologia

A ação do Homem sobre a natureza se iniciou a partir da organização dos grupos nômades
que conduziam práticas agrícolas incipientes, no médio Holoceno (ZALASIEWICZ et
al., 2008). Entretanto, a intensificação das técnicas de apropriação e transformação da
natureza pode ser considerada recente (ELORZA, 2007), com maior desenvolvimento a
partir da Revolução Industrial (GOUDIE, 1977; 1986; 1993) a partir do aumento das áreas
urbanas, da produção agrícola e da exploração dos recursos minerais que promoveram
alterações na cobertura vegetal original (SIMON et al., 2010; SIMON; TRENTIN, 2009).

A mudança do revestimento da terra, geralmente se estabelece como o ponto de partida


para a dinamização dos processos erosivos que ocorrem nas vertentes, pois intervém no
equilíbrio dos elementos naturais e concede novas características ao funcionamento dos
sistemas físico-ambientais que até então respeitavam lógicas naturais de manutenção do
equilíbrio dinâmico (BROWN, 1971; LAMBIM et al., 1999; ELORZA, 2007; PEREZ
FILHO; QUARESMA, 2011 ).

A interferência antrópica sobre as formas e processos do relevo pode ocorrer direta ou


indiretamente. O controle direto é localizado, a exemplo da construção de reservatórios,
das atividades de mineração, da retilinização ou canalização de cursos fluviais, construção
de estradas e da irrigação das lavouras. Ação antrópica indireta possui maior dimensão
areal e encontra-se atrelada à dinâmica de ocupação e uso das terras, que expõe as formas
do relevo à ação mais efetiva dos processos operantes (DREW, 1986; SIMON, 2007).

Os estudos sobre a ação humana no equilíbrio e funcionamento dos sistemas


geomorfológicos tiveram espaço coadjuvante nas pesquisas em geomorfologia
(BROWN, 1971; GOUDIE, 1993), pois as formas do relevo e os processos modeladores
foram, por muito tempo, compreendidos exclusivamente sob o ponto de vista da operação

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dos fatores naturais, desencadeados em uma escala de tempo geológica (BROWN, 1971;
SUERTEGARAY; NUNES, 2001; ROSSATO; SUERTEGARAY, 2000 ).

Entretanto, a constatação de que as condições de controle direto e indireto impostas pelas


atividades antrópicas poderiam conduzir a reorganização da morfodinâmica, originando
situações de degradação ambiental e risco para as atividades socioeconômicas,
possibilitou a ampliação de pesquisas que consideram o Homem enquanto agente
geomorfológico independente (SZABÓ, 2010). Este posicionamento permitiu a evolução
de um novo paradigma na geomorfologia: a Geomorfologia Antrópica ou
Antropogeomorfologia (NIR, 1983; SIMON, 2010; PASCHOAL, 2011).

Os primeiros trabalhos dedicados a esta temática foram de caráter ambientalista


(MARCH, 1894; STRAHLER, 1905) e não possuíam vínculo restrito com a
geomorfologia, enfatizando questões vinculadas à retirada da cobertura vegetal original e
aos desequilíbrios nos processos erosivos causados pelo aumento das áreas agrícolas
desprovidas de técnicas de proteção do solo. O trabalho de Sherlock (1922) foi
considerado como um esforço solitário na tentativa de admitir as influências da atividade
humana sobre as formas da Terra, considerando que havia um interesse maior da
geomorfologia no entendimento das estruturas do relevo (BROWN, 1971; GOUDIE,
1993).

Tricart (1956) e Brown (1971) procuraram definir as formas diretas e indiretas de


intervenção antrópica sobre o modelado terrestre e as consequências destas práticas sobre
os processos geomorfológicos. Embora de caráter empírico, os estudos destes autores
trazem exemplos de situações nas quais a interferência humana pode ter sido irreversível,
e questionam o fato destas possuírem maior amplitude e magnitude do que processos
comandados pelos elementos naturais como a água, o vento e o gelo.

As concepções levantadas até o momento foram definidas como pertencentes a um


período pioneiro no que tange as discussões sobre a antropogeomorfologia. Estes estudos
influenciaram o desenvolvimento de pesquisas realizadas nas décadas seguintes, quando
os trabalhos vinculados à geomorfologia antropogênica alcançam um patamar
considerado de desenvolvimento/consolidação (SIMON, 2010).

A obra mais importante deste período foi escrita por Dov Nir (1983) e já no título
evidencia a Geomorfologia Antrópica como o termo que caracteriza as distintas formas

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de intervenção do homem sobre o relevo. O trabalho de Nir (1983) continua uma


tendência anterior ao destacar as particularidades da ação humana em diferentes
ambientes (áreas rurais, urbanas, florestas, mineração, entre outros), entretanto, se
diferencia por apresentar um roteiro metodológico de análise destas intervenções, que
considera a dinâmica do sistema socioeconômico e a veiculação das alterações
morfológicas em uma escala de tempo histórica.

Nir (1983) propõe análises geomorfológicas que contemplem períodos pré e pós
significativa intervenção humana, destacando a necessidade de um cenário base para a
avaliação das derivações antrópicas sobre as formas do relevo. Assim, possibilita o
desenvolvimento de análises sistêmicas nos estudos vinculados à geomorfologia
antropogênica, pois conduz a compreensão da relação existente entre os elementos físico-
ambientais e socioeconômicos ao longo do tempo, bem como as consequentes
transformações espaciais decorrentes do controle humano sobre os processos naturais.

No início da década de 1990, Goudie (1993) destacou que as variações no clima atuam
na evolução dos diferentes domínios morfoclimáticos, sendo que o relevo responde por
alterações na cobertura vegetal, na precipitação e no escoamento superficial. Expôs ainda
a necessidade de estudos geomorfológicos a longo prazo e propôs a utilização de técnicas
de sensoriamento remoto e cartografia geomorfológica para identificar, mensurar e
compreender os processos decorrentes dessas mudanças em escala local, dentro dos
diferentes domínios morfoclimáticos globais.

Os estudos atuais atrelados à geomorfologia antropogênica evoluíram tanto no campo


teórico como no campo metodológico. Técnicas de análise permitiram a avaliação de
alterações espaciais na organização dos sistemas geomorfológicos bem como a
compreensão das mudanças na escala temporal de ocorrência das taxas de erosão e a
sedimentação.

No campo teórico, as discussões sobre a abrangência e consolidação deste novo


posicionamento metodológico adquiriram destaque juntamente com as diferentes
nomenclaturas derivadas da ação antrópica sobre o relevo (HAFF, 2001; CRUTZEN,
2002; LÓCZY, 2010; SLAYMAKER, 2009). Haff (2001) ressalta que as implicações
antrópicas envolvidas nas taxas de denudação e de deposição variam a partir das distintas
formas de organização das sociedades e estariam inseridas no escopo da

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Neogeomorfologia, equivalente aos termos Geomorfologia Antrópica (NIR, 1983) e


Antropogeomorfologia (GOUDIE, 1993).

As discussões a respeito do grau de interferência antrópica sobre as formas do relevo e


sobre os processos modeladores também desencadearam novas proposições na Geologia.
Phillips (1997); Crutzen (2005) e Zalasiewicz et al. (2008) ao abordarem a rápida
evolução das paisagens sob a perspectiva de escalas de tempo influenciadas pela ação do
Homem, questionaram as possibilidades do estabelecimento de uma nova era geológica,
denominada de Antropoceno. Para os autores, o Antropoceno descreve o período mais
recente da história da Terra e tem início com o aparecimento do Homem, abrangendo
todas as alterações efetivadas pelo conjunto de técnicas antrópicas desenvolvidas ao
longo da história.

Oliveira (1994) e Pellogia (1997, 1998, 2005) consideram que a interferência antrópica
ocorre de forma significativa sobre as formas do relevo e o substrato geológico, a ponto
de atuar no desenvolvimento de depósitos construídos, induzidos ou modificados
(OLIVEIRA, 1994). Os autores citados explicam que a gênese antrópica e a velocidade
da formação destes depósitos seriam alheias ao tempo geológico, respeitando o tempo
histórico da ação das técnicas das sociedades. Assim, o conjunto de formas e processos
derivados da ação antrópica deveria ser classificado dentro de um novo período: o
Quinário ou Tecnógeno (PELLOGIA, 1998).

Questões a respeito do posicionamento teórico-metodológico da geomorfologia em face


da aceitação do Homem enquanto agente geomorfológico também foram incorporadas
pela Associação Internacional de Geomorfologia (IAG) a partir da criação do Grupo de
Trabalho “Human Impact on the Landscape” (LOCZY, 2010).

As pesquisas aplicadas (JEAN-PIERRE, 2004; HOOKE, 2006; LATOCHA, 2009a,


2009b; LENTZ; HAPKE, 2011; REMOND, 2005; BANNA; FRIHY, 2009; LÓCZY;
GYENIZSE, 2010) surgem como possibilidade de constatação das alterações
desencadeadas pela ação antrópica, alavancando o desenvolvimento de estudos que
possuem maior aceitabilidade pela ciência geomorfológica e desvinculam-se da excessiva
carga empírica (HOOKE, 2000; URBAN, 2002; JAMES, 2006).

No Brasil, estudos vinculados à antropogeomorfologia foram realizados por Rodrigues


(2005; 2007) e Silva (2005), na região metropolitana de São Paulo. Vieira e Cunha (2008)

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avaliaram as alterações temporais de canais fluviais inseridos no contexto da microrregião


serrana do Rio de Janeiro. Fujimoto (2002; 2005) e Penteado (2006) também inseriram
elementos da geomorfologia antropogênica em suas análises sobre alteração ambiental
urbana na cidade de Porto Alegre. Peloggia (1997; 2005), em estudos realizados no
município de São Paulo, constatou a modificação e a criação dos processos geomórficos
e de formas de relevo pelo Homem.

Perez Filho et al. (2001), Rodrigues (2006), Simon e Cunha (2008), Simon (2010), Perez
Filho e Quaresma (2011) realizaram análises históricas sobre o comportamento dos canais
de drenagem em bacias hidrográficas controladas pela alteração do nível de base
efetivado pela construção de reservatórios hidrelétricos e de captação de água e
verificaram modificações nas densidades de rios e de drenagem em áreas de nascentes.

Constatam-se duas características em comum na maior parte das pesquisas em


antropogeomorfologia realizadas no Brasil: a utilização da cartografia geomorfológica
evolutiva para a diagnose destes fenômenos e a execução de estudos em áreas densamente
urbanizadas. Em contrapartida, análises antropogeomorfológicas vinculadas à dinâmica
do uso da terra em regiões agropastoris, às atividades de mineração e atreladas à
interceptação de redes de drenagem por reservatórios de água são modestamente
verificadas na literatura. A fim de evidenciar os estudos que consideram a ação do
Homem sobre sistemas geomorfológicos desvinculados de áreas urbanizadas serão
apresentados os resultados de investigações realizadas por Simon (2010) e Paschoal
(2011) em áreas sob forte interferência da monocultura da cana-de-açúcar e com presença
de atividades de mineração.

3 - Antropogeomorfologia em áreas com predomínio de monoculturas da cana-de-


açúcar

A cana-de-açúcar possui grande importância para a economia brasileira. O estado de São


Paulo é um dos maiores produtores deste gênero agrícola sendo que o reaquecimento da
produção de cana se deu concomitante ao retrocesso do ciclo do café a partir da década
de 1930, segundo Bray (1998) e Sanchez (1969). O cultivo da cana-de-açúcar foi
estimulado pela campanha Pró-álcool instituída pelo Governo Federal, em 14 de
Novembro de 1975, após a crise do petróleo em 1973, o qual visava à substituição em
grande escala do uso de combustíveis derivados do petróleo. No ano de 2002, os subsídios

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à produção de álcool consolidaram esse programa energético, estimulando a expansão das


áreas produtoras de cana-de-açúcar no Brasil.

Bray (1998) evidencia que a organização espacial da produção de açúcar nas usinas do
estado de São Paulo teve um aumento considerável na região de Piracicaba, que hoje
concentra uma das maiores áreas de cultivo de cana-de-açúcar e pode ser considerada
como o vetor de expansão dessas lavouras.

O município de Santa Maria da Serra se localiza a 60 km de Piracicaba e está fortemente


atrelado a esse processo de expansão do plantio de cana-de-açúcar. As condições naturais
da área, onde ocorrem colinas alongadas e levemente convexas, com topos aplainados e
amplos desníveis topográficos variando de 20 a 50 metros (PENTEADO, 1976), também
facilitam a expansão desta monocultura que possui alto grau de mecanização.

A bacia hidrográfica do Ribeirão Bonito é a principal área de captação pluvial do


município de Santa Maria da Serra (Figura 1). Por este motivo foi escolhida para a
realização de uma análise sobre as alterações no sistema geomorfológico vinculadas à
dinâmica de ocupação e uso da terra marcada pela expansão significativa das áreas de
cana-de-açúcar (SIMON, 2010). A bacia também teve sua foz alagada pela construção do
reservatório de Barra Bonita no ano de 1963, situação que estabeleceu um novo nível de
base para o sistema de drenagem.

A área em questão possui 92,3 km² e está situada, em sua maior parte, nas superfícies
pertencentes à Depressão Periférica Paulista onde ocorrem formas do relevo mais suaves
e passíveis de expansão de zonas agricultáveis. A bacia também possui extensões no setor
cuestiforme, demarcadas por elevado gradiente altimétrico, e no reverso cuestiforme,
onde as feições do relevo possuem características mais suavizadas.

Para avaliar a intensidade das alterações ocorridas na bacia do Ribeirão Bonito em face
dos mecanismos de controle operantes sobre o sistema geomorfológico foram
empregados os seguintes procedimentos metodológicos: 1) Mapeamento do uso da terra
da bacia hidrográfica do Ribeirão Bonito, em escala 1:50.000, em três cenários: 1962,
1972 (com base na interpretação de pares estereoscópicos de fotografias aéreas em escala
1:25.000) e 2007 (interpretação de imagens orbitais do sensor PRISM, componente do
sistema ALOS), utilizando o sistema de classificação proposto pelo IBGE (2006), a fim
de analisar a dinâmica de uso da terra, bem como os setores de maior expansão das

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lavouras de cana-de-açúcar; 2) Mapeamentos geomorfológicos da bacia hidrográfica do


Ribeirão Bonito nos anos de 1962, 1972 e 2007 (a partir da utilização dos mesmas fontes
de dados de sensores remotos empregados no desenvolvimento dos mapeamentos de uso
da terra) em escala 1:50.000, de acordo com as orientações de Tricart (1965); Verstappen;
Zuidan (1975) e Cunha (2001).

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Figura 1. Localização da bacia hidrográfica do Ribeirão Bonito – São Paulo – Brasil.

Fonte: Elaboração dos autores (2015).

A partir dos mapas geomorfológicos foram avaliadas as alterações nos índices de


densidade de rios (relação entre o número de canais de primeira ordem e a área da bacia)

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e a densidade de drenagem (relação entre o comprimento total dos canais fluviais e a área
da bacia). Estes dados possibilitaram análises sobre a alteração espacial dos canais
fluviais em função do reajuste destes às mudanças no nível de base e nas taxas de erosão
e sedimentação vinculadas às formas de uso da terra.

Também foram quantificadas as feições de origem denudativa correspondentes aos sulcos


erosivos, ravinas, colos erosivos, voçorocamentos e rupturas de declive. Compreende-se
que este conjunto de formas pode ter sua morfogênese e morfodinâmica potencializadas
em sistemas fortemente controlados pela ação antrópica e, portanto, são indicadores da
evolução de um relevo antropogênico.

A Figura 2 evidencia a evolução das classes de uso da terra na bacia do Ribeirão Bonito.
A expansão da cana-de-açúcar desencadeou a diminuição das áreas de pasto limpo e pasto
sujo que compõe o conjunto de coberturas vegetais primitivas destacadas por Troppmair
(1969). Da mesma forma, as áreas destinadas ao plantio de culturas alimentares (feijão,
milho, batata e hortaliças), passaram por grande retração, assinalando a intensificação das
atividades voltadas à monocultura canavieira e à obtenção de renda em detrimento de
gêneros agrícolas destinados à subsistência e comercialização local.

Figura 2 - Evolução espacial das classes de uso da terra na bacia do Ribeirão Bonito –
SP (Brasil). Área total da bacia do ribeirão Bonito 92,3 km².

Fonte: Elaboração dos autores (2015).

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As áreas de plantio de cana-de-açúcar também alteraram a configuração espacial das


florestas de galeria localizadas nas áreas de relevo mais suave da bacia do Ribeirão Bonito
(SIMON, 2010). Embora a Figura 2 aponte para o aumento do uso florestal, este ocorreu
no setor cuestiforme da área em estudo num processo de sucessão ecológica sobre áreas
de pasto sujo localizadas em terrenos de elevada declividade que não favorecem a
expansão de usos agropastoris e urbanos.

A diminuição das matas de galeria contribuiu efetivamente para o processo de redução


dos canais fluviais de primeira ordem, pois a conservação da vegetação ciliar condiciona
a maior interceptação das águas das chuvas e a manutenção das taxas de escoamento
subsuperficial que mantém os níveis do lençol freático.

Os mapeamentos geomorfológicos realizados na bacia do Ribeirão Bonito apontaram


para o aumento no número de formas de origem denudativa, principalmente dos
ravinamentos, colos e linhas de ruptura de declive (Tabela 1). A densidade de rupturas
topográficas (km/km²) foi destacada pois esta feição é um importante indicador da ação
dos processos erosivos na evolução das vertentes e o aumento da sua densidade espacial
decorre da organização dos processos geomorfológicos às alterações nos canais fluviais
e no escoamento superficial.

A diminuição do número de sulcos erosivos, no entanto, possui vínculo direto com o


aumento das áreas de cana-de-açúcar e com as técnicas de alteração morfohidrográficas
envolvidas no preparo dos terrenos para o plantio deste tipo de cultura, sobretudo o
revolvimento do solo, a suavização e homogeneização do micro-relevo das vertentes, que
transforma as superfícies a cada novo ciclo, maquiando a existência destas feições
erosivas aceleradas em estágio inicial de organização. Situação semelhante também foi
verificada por Paschoal (2011).

Tabela 1 - Formas de origem denudativa identificadas na bacia do ribeirão Bonito

Fonte: Elaboração dos autores (2015).

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A avaliação temporal da rede de drenagem da bacia do ribeirão Bonito indica uma


diminuição nas densidades de rios e de drenagem ao longo do período analisado, com
ligeiro aumento do cenário de 1962 para 1972 (Tabela 2). Cabe salientar que a bacia do
Ribeirão Bonito teve sua foz e trecho do curso final alagados pelo reservatório de Barra
Bonita e que a redução dos índices de densidade de rios e de drenagem pode estar
vinculada ao reajustamento da dinâmica fluvial diante das alterações positivas no nível
de base. Porém, as transformações intensas nos compartimentos de fundo de vale
decorrentes das práticas de uso da terra contribuíram para a alteração espacial dos canais
de drenagem de primeira ordem na bacia.

Tabela 2 - Alterações temporais nos índices de densidade de rios e densidade de


drenagem na bacia hidrográficas do Ribeirão Bonito.

Fonte: Elaboração dos autores (2015).

Para compreender as relações existentes entre as alterações morfohidrográficas e a


dinâmica de ocupação e uso das terras ocorrida na bacia do Ribeirão Bonito, foram
escolhidas amostras circulares que representam situações de aumento e diminuição nos
índices de densidade de rios e de drenagem, evidenciando que a resposta dos canais
fluviais pode se dar de forma diferenciada e complexa dentro de um sistema influenciado
por mecanismos de controle antrópico (Figura 3). Nessa figura são apresentados ainda os
dados de declividade da área da amostra – possibilitando relações das alterações ocorridas
com a geometria do relevo – bem como a evolução do percentual dos usos da terra com
maior significado espacial em cada amostra avaliada.

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Figura 3 - Amostras circulares representativas das alterações nas densidades de rios e


de drenagem na bacia do ribeirão Bonito – SP

Nota: A localização das amostras circulares na bacia do Ribeirão Bonito pode ser verificada na Figura 1.
Fonte: Elaboração dos autores (2015).

A amostra circular 1 representa a área do baixo curso da bacia do Ribeirão Bonito alagada
pelo reservatório de Barra Bonita (Figura 3). O avanço da cana ocorreu sobre superfícies
com declividades suaves, sendo limitado pela existência de rupturas no declive que
impediram a expansão até os compartimentos de fundo de vale. Entre os anos de 1962 e

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1972 houve uma redução no número de canais de primeira ordem e na densidade de


drenagem confirmando a teoria de que a elevação no nível de base causa uma diminuição
das atividades erosivas dos canais fluviais. Já entre os anos de 1972 e 2007 estes índices
aumentaram, atestando que os canais fluviais estão sofrendo retomadas erosivas em busca
do equilíbrio em relação ao novo nível de base imposto. A evolução dos colos erosivos
na área da amostra também comprova a dinamização nos processos erosivos
desencadeados pelo aumento no número e extensão dos canais fluviais.

Na amostra circular 2 houve uma redução de 100% nas densidades de rios e de drenagem
(Figura 3). Os canais fluviais verificados em 1962 consistiam em pequenos filetes
organizados em compartimentos de fundo de vale em “V”, margeados por uma faixa
restrita de pasto sujo. Em 2007 a cana-de-açúcar predomina na área de abrangência da
amostra, tendo desencadeado o seccionamento das vertentes a partir da construção de
terraços agrícolas. As estradas no interior das lavouras de cana-de-açúcar seguem o
sentido dos terraços e também foram construídas nos compartimentos de fundo de vale,
causando o aterramento dos canais fluviais principais. Nas encostas a ampliação da área
destinada ao cultivo de cana causou o soterramento dos cursos de água.

A amostra circular 3 apresentou um aumento nas densidades de rios e de drenagem


derivadas, sobretudo, do alargamento das linhas de voçorocamento entre os anos de 1972
e 2007, assim como da incisão de novas linhas que deram origem a um nicho de canais
de primeira ordem. Sulcos erosivos se organizaram nos prolongamentos das incisões
formadas pela voçoroca, tendendo ao desenvolvimento de ravinas. As áreas de cana-de-
açúcar se expandiram nos terrenos marginais à ocorrência do voçorocamento, em
superfícies com declive pouco acentuado, tendo contribuído para a dinamização do
escoamento superficial que opera no desenvolvimento desta feição erosiva.

A amostra circular 4 apresentou aumento nas densidades de rios e de drenagem


vinculadas, sobretudo, a ocorrência de superfícies com maior declive predominantes no
front cuestiforme e que impõem restrições ao avanço das lavouras de cana-de-açúcar,
atuando na conservação dos usos florestais com consequente preservação dos nichos de
nascentes. Cabe destacar que a amostra 4 localiza-se muito próxima do divisor de águas
leste da bacia do ribeirão Bonito (Figura 1), limitando o espaço de organização dos canais
fluviais a uma estreita faixa localizada entre amplitudes topográficas muito elevadas. As

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diferenciações litológicas vinculadas ao contato entre arenitos e basaltos originam


ressaltos topográficos caracterizados por elevadas declividades onde ocorre a ruptura na
continuidade do lençol freático, efetivando sua exposição à superfície e contribuindo para
a organização de novos canais fluviais em concavidades de vertentes.

As alterações diretas e indiretas provocadas pela evolução da monocultura da cana-de-


açúcar na bacia do Ribeirão Bonito podem ter atuado não somente na aceleração dos
processos erosivos, mas também na descaracterização dos mesmos, pois: (a) os ciclos das
lavouras de cana, ao mesmo tempo em que criam condições de estabelecimento de feições
erosivas lineares no período de solo exposto, também competem para a camuflagem e
extinção de algumas formas de origem denudativa, a partir de técnicas de revolvimento
do solo, manutenção das curvas de nível e aragem; (b) nos fundos de vale e nas
concavidades de vertentes, os contínuos soterramentos para a abertura de novas áreas de
plantio de cana-de-açúcar determinaram a extinção de canais fluviais de primeira ordem
e de linhas de escoamento dos canais pluviais, interferindo de forma significativa no
transporte de água e sedimentos.

4 - Geomorfologia antropogênica em áreas de mineração

Atividades de mineração a céu aberto estão diretamente relacionadas à alteração das


paisagens naturais (PASCHOAL, 2012a; 2012b). No Brasil, dos 24 principais bens
minerais não metálicos extraídos, apenas 4 são responsáveis por 89,9% do total de minas
existentes, sendo este montante composto por 792 minas de areia, 654 minas de rochas
britadas e cascalho, 462 minas de argila e 274 de calcário (BRASIL, 2007). A
concentração dessas minas (72,8%) ocorre nas regiões Sudeste e Sul, resultado do
processo histórico de mineração e que influenciou no desenvolvimento industrial do país,
sobretudo nessas áreas (BRASIL, 2007).

Paschoal (2011) realizou um estudo que evidenciou as alterações desencadeadas pela


dinâmica de uso da terra sobre a morfohidrografia da bacia hidrográfica do Ribeirão de
Santa Gertrudes, no intervalo de 44 anos (1962 e 2006). A bacia possui 27,87 km² e está
situada no interior do estado de São Paulo (Figura 4). Nesta área o uso da terra
predominantemente agrícola, e a evolução posterior das atividades minerárias de
explotação de argila, impuseram novos mecanismos de controle aos sistemas ambientais
físicos.

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Figura 4 - Localização geográfica da bacia hidrográfica do ribeirão Santa Gertrudes/SP


(Brasil)

Fonte: Elaboração dos autores (2015).

As unidades geológicas que afloram dentro dos limites da bacia hidrográfica do Ribeirão
Santa Gertrudes/SP (Figura 7) correspondem às formações Corumbataí e Serra Geral. A
Formação Serra Geral situa-se por todo o rebordo Leste, Noroeste, Norte e Nordeste da
área de estudo, sendo formado por rochas intrusivas básicas. A Formação Corumbataí
preenche a área restante da bacia e corresponde a siltitos, folhelhos e argilitos com
intercalação de camadas carbonáticas e coquinhas. Os aluviões estão presentes em alguns
trechos que margeiam, principalmente, o baixo curso do Ribeirão Santa Gertrudes,
tratando-se de areias e argilas inconsolidadas com granulações variáveis.

A ocorrência de uma área de afloramento da Formação Corumbataí na bacia viabilizou a


explotação de argila destinada ao fabrico de pisos e revestimentos nas indústrias do Pólo
Cerâmico de Santa Gertrudes – reconhecido como o maior e mais importante das
Américas – fato que o torna relevante para o desenvolvimento socioeconômico da região.

Desta forma, foram elaboradas cartas temáticas de uso da terra e geomorfológicas,


referentes aos anos de 1962, 1988 e 2006, com base em pares de fotografias aéreas nas
escalas aproximadas de 1:25.000, 1:40.000 e 1:30.000, respectivamente, reambuladas
para a escala de detalhe 1:10.000.

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A interpretação das fotografias aéreas, na elaboração das cartas de uso da terra, ocorreu
de acordo com o estudo de Ceron e Diniz (1966), os quais utilizam a identificação dos
elementos de interpretação, tais como: cor, textura, forma da parcela, dimensão da área
cultivada, dimensão dos campos de cultivo, altura, espaçamento, restos de colheita e
arranjo espacial.

As classes de uso da terra foram estabelecidas de acordo com a proposta de Anderson et


al. (1979), que propõem uma estrutura de sistema de classificação do uso da terra baseada
em produtos de sensoriamento remoto: imagens de satélite e fotografias aéreas. Essa
proposta adapta-se às necessidades dessa pesquisa por se apresentar flexível e permitir,
sobretudo para dados de sensoriamento remoto tomados de altitudes médias e baixas, a
inserção de novas categorias de uso da terra em sua estrutura, além da exclusão de
categorias pré-definidas, de acordo com as necessidades específicas do usuário
(ANDERSON, et al. 1979).

As fotografias aéreas foram escaneadas em resolução de 300 dpi e georreferenciadas de


acordo com a carta topográfica executada pela Secretaria de Economia e Planejamento
do estado de São Paulo, no ano de 1979, na escala 1:10.000, o que permitiu gerar o
mosaico da área de estudo. O procedimento operacional adotado nesta classificação
constitui-se em identificar diretamente na tela do computador as classes de uso da terra
passíveis de serem assinaladas; posteriormente foram utilizados pares estereoscópicos de
fotografias aéreas para sanar eventuais dúvidas e realizados trabalhos de campo para
averiguação das dúvidas atreladas à fotointerpretação.

As cartas geomorfológicas de detalhe, responsáveis por fornecer subsídios para uma


análise minuciosa de todos os elementos que compõem o relevo, sejam esses naturais ou
derivados da ação antrópica, foram elaboradas de acordo com a proposta de Tricart
(1965), que afirma que esse tipo de mapeamento deve comportar quatro tipos de
informações de naturezas diferentes, a saber: morfometria, morfografia, morfogênese e
cronologia. Os dados morfométricos representam valores quantitativos e foram
compilados da base cartográfica e representados por meio das curvas de nível e cotas
altimétricas. As informações morfográficas foram obtidas a partir da interpretação de
pares estereoscópicos de fotografias aéreas dos anos de 1962, 1988 e 2006, possuindo a
finalidade de representar diferentes feições topográficas. Os elementos relacionados à

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morfogênese encontram-se associados aos símbolos utilizados na morfografia, que além


das formas indicam o agente responsável por sua origem. Informações referentes à
cronologia foram representadas por meio dos dados que compõem a carta geológica e se
remetem ao período em que se formaram as rochas que dão sustentação ao relevo.

As simbologias que compõem a legenda das cartas geomorfológicas se pautaram


principalmente na adaptação das propostas de Tricart (1965) e Verstappen e Zuidan
(1975). Com relação à utilização de símbolos para a representação das feições antrópicas
na área, recorreu-se a outras fontes como Simon (2007) e Paschoal et al. (2010).

A seleção de simbologias utilizadas por diferentes pesquisadores encontra respaldo nas


considerações de Cunha (2001) sobre o mapeamento geomorfológico, e possui o
propósito de facilitar a legibilidade das feições geomorfológicas mapeadas e contribuir
com a análise ambiental.

As informações geradas pela carta geomorfológica do ano de 1962 retratam a paisagem


da área em um cenário de pré-intervenção das atividades de mineração, anterior à
explotação de grandes quantidades de argila, e os cenários de 1988 e 2006 são
representativos de uma fase de perturbação ativa. A morfologia de pré-intervenção
também é conhecida como morfologia original e respalda-se na concepção de Rodrigues
(2005, p. 103), que relata que esta é uma “[...] morfologia cujos atributos como extensão,
declividades, rupturas e mudanças de declives, dentre outros, não sofreram alterações
significativas por intervenção antrópica direta ou indireta”. A fase de perturbação ativa,
representada por cenários dos anos de 1988 e 2006, retrata um cenário onde há
modificações expressivas e que implicam em alteração nas dimensões de elementos
passíveis de serem mensurados, permitindo configurá-lo como representativo da
geomorfologia antropogênica.

Os dados obtidos a partir do mapeamento de uso da terra para os anos de 1962, 1988 e
2006 são apresentados na Figura 5 e permitem a realização de considerações sobre a
dinâmica de uso da terra ocorrido na bacia hidrográfica do Ribeirão Santa Gertrudes.

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Figura 5 - Área ocupada por cada classe de uso da terra na bacia hidrográfica do
Ribeirão Santa Gertrudes no período de 1962, 1988 e 2006

Fonte: Elaboração dos autores (2015).

Constata-se que as classes de uso da terra que apresentaram aumento nos três cenários
foram a cana-de-açúcar, a cobertura herbácea em antigas áreas de mineração, os
reservatórios artificiais, as matas ciliares e florestas de encostas e a cultura anual. Face ao
crescimento das classes de uso da terra supracitadas, outras quatro registraram um
declínio: citricultura, silvicultura, pasto limpo e pasto sujo. Usos da terra referentes às
residências rurais e áreas industriais, minas a céu aberto e alagamento sazonal
apresentaram uma dinâmica temporal pouco significativa.

Os dados extraídos do cenário de 2006 (Figura 5) revelam uma alteração no perfil da área.
Embora a cultura da cana-de-açúcar predomine, as classes vinculadas à mineração
mostram-se proeminentes. Ao agrupar as classes de cobertura herbácea em antigas áreas
de mineração, minas a céu aberto e reservatórios artificiais, têm-se 19% da ocupação da
área vinculada a atividades de mineração.

As condições de uso da terra, expostas anteriormente, influenciaram na dinâmica dos


processos erosivos, de transporte e sedimentação dentro do sistema em questão e
resultaram em alterações hidrogeomorfológicas que são apresentados no Tabela 3.

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Tabela 3 - Elementos geomorfológicos representativos de um cenário de pré-


intervenção em relação às atividades de mineração (1962) e perturbação ativa (1988 e
2006)

Fonte: Elaboração dos autores (2015).

Os dados que compõem o Tabela 3, permitem constatar que a somatória das extensões
lineares das rupturas abruptas e suaves manteve-se praticamente constante entre os anos
de 1962, 1988 e 2006. O diferencial entre estes valores está na evolução da extensão das
rupturas suaves e recuo nas rupturas abruptas que se deram de forma progressiva. Outra
forma indicativa de processos erosivos a ser considerada constitui-se na extensão dos
sulcos erosivos, que apresentam pouca variação entre os cenários de 1962 e 1988 e uma
brusca diminuição no cenário de 2006.

O aumento em extensão de rupturas suaves no relevo e o declínio na presença de sulcos


erosivos encontram-se possivelmente relacionado ao emprego de técnicas de manejo ao
uso da terra, como é o caso da implantação de terraços e curvas de nível para o cultivo da
cana-de-açúcar.

Verifica-se o surgimento de patamares em cava de mineração no cenário de 2006,


resultantes da intensa explotação de minas a céu aberto na área. O aumento registrado na
área ocupada por represamentos artificiais é decorrente do abandono de cavas de
mineração cuja profundidade ultrapassou o nível de afloramento do lençol freático
(Tabela 3).

Para possibilitar uma melhor visualização das modificações que o uso da terra causou
sobre as feições geomorfológicas na constituição de formas antropogênicas, foi escolhido
um fragmento espacial inserido na bacia hidrográfica do Ribeirão Santa Gertrudes/SP. A
seleção desse fragmento, apresentado nas Figuras 6 e 7, permite evidenciar o controle
antrópico, por meio da representação dos usos da terra, inicialmente vinculados a

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atividades agropastoris e posteriormente à explotação da argila (Figura 6), sobre a


geomorfologia e rede de drenagem da área (Figura 7).

Figura 6 - Fragmento espacial da bacia hidrográfica do Ribeirão Santa Gertrudes/SP:


condições de uso da terra em setor de intensa atividade de mineração de argila e
monocultura de cana-de-açúcar

Fonte: Elaboração dos autores (2015).

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Figura 7 - Fragmento espacial da bacia hidrográfica do Ribeirão Santa Gertrudes/SP:


alterações morfohidrográficas em área de intensa atividade de mineração de argila e
monocultura de cana-de-açúcar.

Fonte: Elaboração dos autores (2015).

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Geomorfologia Antropogênica e sua Inserção em Pesquisas Brasileiras
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A análise dos fragmentos espaciais permite constatar que as informações geradas pelo
mapeamento geomorfológico do ano de 1962 (Figura 7), referem-se a um quadro com
pouca intervenção em relação às atividades de mineração, no qual é possível identificar
elementos da geomorfologia original da área. Os cenários de 1988 e 2006 (Figura 7)
apresentam muitos setores em que o relevo foi nitidamente alterado pela ação antrópica,
inicialmente vinculado às áreas de cultura da cana-de-açúcar e posteriormente à
mineração de argila. Estas alterações podem ser constatadas a partir de dados mensuráveis
de diversas feições do relevo (Tabela 3) e que diferem do cenário tido como representante
da geomorfologia original, o que permite configurá-los como representativos da
geomorfologia antropogênica.

O fragmento espacial apresentado na Figura 7 evidencia o surgimento de patamares em


cavas de mineração no cenário de 2006, fruto da ação antrópica que explotou grandes
quantidades de matéria-prima e descaracterizou um extenso interflúvio existente no setor
norte da bacia hidrográfica do Ribeirão Santa Gertrudes/SP. Neste caso é importante
salientar que os valores das curvas de nível e pontos cotados não correspondem mais a
realidade. Para uma leitura correta da carta em questão deve-se considerar a simbologia
geomorfológica, que aponta que tais áreas hoje se constituem em setores depressionários
do relevo, comprovando que as alterações já atingiram o nível de desenvolvimento de
uma geomorfologia antropogênica.

A análise do fragmento espacial representativo das feições geomorfológicas no ano de


2006 (Figura 7) permite constatar que os patamares gerados nas cavas de mineração e que
possuem ruptura suave, foram realizados de acordo com a orientação das curvas de nível,
enquanto os patamares em cava de mineração classificados como abruptos ocorrem no
geral no entorno das grandes cavas de mineração que atingiram e aprofundaram a
explotação abaixo do nível do lençol freático.

Outro dado obtido por meio do mapeamento geomorfológico e que permite comprovar a
existência de uma geomorfologia antropogênica vincula-se as áreas de acumulação fluvial
(Figura 7), que apresentaram crescimento expressivo entre os cenários de 1962, 1988 e
2006 (Tabela 3). No ano de 1962, o acúmulo de sedimentos nos fundos de vale
possivelmente relaciona-se à busca pelo perfil de equilíbrio da drenagem, configurando-
se em um fenômeno natural que ocorre em áreas restritas e em escala de tempo geológico.

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Porém, a partir do ano de 1962 foi possível constatar um significativo aumento das áreas
de acumulação de sedimentos na bacia hidrográfica do Ribeirão Santa Gertrudes (Tabela
3 e Figuras 7), devido às grandes quantidades de sedimentos depositados nos fundos de
vale – principalmente no baixo e médio curso da bacia – provenientes da explotação das
minas de argila e da erosão laminar das vertentes devido ao uso da terra fortemente
atrelado à cana-de-açúcar. Este fato evidencia uma brusca interferência de ações
realizadas pelo homem no sistema em questão e que tem dado origem a novas formas no
relevo passíveis de serem mapeadas em escala de tempo histórica.

5 - Considerações finais

Os estudos da Antropogeomorfologia se mostram atuais e significativos diante do intenso


processo de ocupação e uso das terras em áreas agropastoris, urbano-industriais e de
mineração. As questões abordadas permitem evidenciar o Homem enquanto agente
geomorfológico independente, capaz de criar novas feições e alterar as camadas
superficiais e subsuperficiais da crosta terrestre, contribuindo para a alteração da
paisagem geográfica.

A geomorfologia é uma especialidade que contribui de forma efetiva para o planejamento


da ocupação do espaço geográfico e não pode se manter alheia às alterações
desencadeadas em função da ação antrópica, que promove a reorganização da
morfodinâmica dentro da escala de tempo histórica.

A alteração das feições geomorfológicas é realizada para a organização das atividades do


sistema socioeconômico, no entanto, é preciso compreender a dinâmica natural dos
sistemas físico-ambientais para que a intervenção sobre os elementos que estão em
contato direto com o processo de ocupação, em especial geomorfologia e hidrografia,
ocorra de forma a promover o mínimo impacto, não se convertendo em situações de
degradação ambiental e risco para as diferentes atividades antrópicas desenvolvidas.
Além do mais, algumas formas de origem antrópica como terraços agrícolas e patamares
em cortes podem ser consideradas como medidas conservacionistas que evitam a perda
de solos e contribuem para a manutenção das taxas de erosão/sedimentação. Neste ponto
a antropogeomorfologia pode estar aliada ao planejamento ambiental.

Assim, as investigações vinculadas à abordagem antropogemorfológica lançam mão de


um conjunto de técnicas já empregadas pela geomorfologia tradicional, mas atuam no

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sentido de promover sua integração com situações de ordem prática que envolvem a
relação entre o sistema socioeconômico com o sistema físico-ambiental e que podem
contribuir para o planejamento do processo de ocupação e uso da terra. Entretanto, alguns
desafios e potencialidades teórico-metodológicas são apontados para os estudos futuros a
ser desenvolvidos no escopo desta temática:

(1) A cartografia geomorfologia apresenta-se como principal técnica utilizada nos estudos
vinculados à antropogeomorfologia, pois, quando aplicada em intervalos de tempo sobre
um mesmo fragmento espacial concede respaldo a análise das formas e, por dedução, aos
processos que atuam sobre determinado sistema subordinado aos mecanismos de controle
antrópico. Os dados espaciais obtidos a partir dos mapeamentos geomorfológicos
retrospectivos devem subsidiar a escolha de pontos adequados para a aplicação de outras
técnicas que possibilitem a avaliação do relevo antropogênico, como por exemplo, a
datação de sedimentos e a aplicação de experimentos em campo, auxiliando assim no
aprofundamento das considerações sobre a complexa intervenção do homem em sistemas
geomorfológicos.

(2) Análises sobre a dinâmica do uso da terra devem ser correlacionadas com as técnicas
de cartográfica geomorfológica retrospectiva, pois fornecem subsidio para a avaliação da
evolução do relevo antropogênico. Entretanto, considera-se importante o
desenvolvimento de estudos experimentais que compreendam como as formas e
processos do relevo respondem às distintas técnicas empregadas na consolidação dos
padrões de uso da terra.

(3) Os mapeamentos de uso da terra e geomorfológicos vinculados à análise da evolução


do relevo antropogênico devem abranger o maior número de cenários possível, sendo
ideal sua distribuição a cada década do período total de análise.

(4) A abordagem antropogemorfológica encontra significativo respaldo na utilização dos


geoindicadores para a definição do grau de intervenção antrópica sobre a
morfohidrografia. O COGEOENVIRONMENT (1994) define uma lista de 27
geoindicadores dos quais dois (erosão dos solos e sedimentos e morfologia dos canais
fluviais) podem ser obtidos por meio de mapeamentos geomorfológicos. Assim, a
evolução de rupturas de declive, sulcos erosivos, ravinas, voçorocas, colos erosivos, bem

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como de áreas de deposição e terraços podem ser considerados como geoindicadores da


dinamização dos processos de erosão dos solos e de sedimentação.

Dados sobre a densidade de rios, densidade de drenagem e variações nas características


espaciais dos compartimentos de fundo de vale compõem o conjunto de geoindicadores
vinculados à morfologia dos canais fluviais. Cabe salientar que outros geoindicadores,
como extensão de cortes e aterros para a organização de obras de engenharia e ampliação
de áreas urbanas, patamares em cavas de mineração, colinas residuais derivadas de
atividades minerárias e segmentos retilinizados de canais fluviais, podem ser obtidos por
meio da cartografia geomorfológica e podem variar de acordo com a especificidade do
processo de ocupação de cada área.

(5) Por fim, cabe salientar que embora exista uma gama de simbologias que podem ser
utilizadas no desenvolvimento de mapeamentos geomorfológicos, surge a necessidade de
discussão e desenvolvimento de uma simbologia específica para a identificação de feições
antropogênicas. Soma-se a esta questão o fato de algumas morfologias de origem
antrópica serem peculiares a determinados padrões de uso da terra e a contextos
litomorfológicos específicos, o que dificulta a organização de uma legenda de caráter
universal.

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