Cristianismo - Aula 4.
Cristianismo - Aula 4.
Cristianismo - Aula 4.
AULA 4
1
Estados Gerais: espécie de parlamento constituído pelas três ordens sociais superiores da
sociedade francesa: o clero, a nobreza e a burguesia.
2
Porém, surgiram dificuldades nas negociações, até que alguns membros
da Igreja se uniram aos burgueses a fim de declarar que a reunião seria uma
assembleia nacional com poderes de redigir uma nova Constituição para a
França. O rei concordou inicialmente com a ideia, no entanto o documento
votado pelos participantes não foi aceito pela Monarquia, pois fortalecia os
direitos do homem e do cidadão, o que deu início a conflitos que ocasionaram a
prisão da família real em Paris, ato fundamental da Revolução Francesa que deu
fim à Monarquia para estabelecer a República em território francês.
Foi um período em que a Igreja cristã vivenciou situações distintas: na
França, a Igreja Católica sofria oposição dos iluministas, que afirmavam que o
cristianismo se tornara um sistema de doutrinas ultrapassado e símbolo do
antigo sistema social. Enquanto isso, tanto na Inglaterra anglicana quanto na
Alemanha luterana os pensamentos iluministas não foram tão radicais, até pelo
fato de essas duas nações terem vivenciado valores do movimento cristão do
pietismo, que enfatizava as vivências experienciais e íntimas da fé. Tal fator
diminuiu a influência do racionalismo e das críticas iluministas que eram feitas à
religião (McGrath, 2005, p. 128).
Destacamos o modo pelo qual os valores do Iluminismo e as condições
econômicas da burguesia foram essenciais na Revolução Francesa, vindo a
influenciar os fatores estruturais e políticos das novas organizações liberais que
se desenvolveram na Europa e na América nos séculos 19 e 20. Estas se
tornaram sistemas preponderantes na sociedade tanto por meio do regime
capitalista quanto pelo estilo de governo democrático.
Um fato histórico digno de nota e que relaciona o novo contexto político
europeu e a religião foi a maneira como o cristianismo britânico influenciou o
parlamento inglês para votar a abolição do comércio de escravos no início do
século 19 (1807), por meio da atuação do político anglicano William Wilberforce.
O congressista foi aconselhado em sua empreitada pelo famoso pregador John
Newton, autor do hino Amazing Grace – que fora um comerciante de escravos
anteriormente – por meio das seguintes palavras: “Deus precisa de pessoas
como você no Parlamento. Talvez possamos abolir a escravatura” (Curtis; Lang;
Petersen, 2003, p. 162).
3
TEMA 2 – O POSITIVISMO E O SÉCULO 19
4
oportunizou que um grande número de protestantes buscasse responder às
críticas não com argumentos, mas procurando experiências mais fortes de fé: “A
fé era mais uma experiência do que um dogma. Esse cristianismo evangélico
espalhou-se rapidamente pelo poder da pregação. Muitos cristãos, então,
perceberam que o apoio do Estado não era mais essencial à sobrevivência do
cristianismo”.
O fato é que o século 19 pode ser entendido como transição para a religião
cristã, posto que as mudanças tecnológicas e políticas, científicas e econômicas
e suas consequentes transformações sociais acabaram gerando para a Igreja
uma realidade religiosa e institucional que requeria uma constante adequação
às novas situações estabelecidas nesse período da história da humanidade.
Uma das respostas do cristianismo a esse embate e debate diante do
cientificismo secular surgiu a partir de dois movimentos que podem ser
considerados preponderantes no desenvolvimento dessa religião no século 21,
conforme veremos no próximo tema.
5
grande avivamento carismático, surgido na Azuza Street Mission, localizada no
centro de Los Angeles, durante o período de 1906-1908 (McGrath, 2005, p. 162).
Outro marco significativo para o desenvolvimento do pentecostalismo foi
o movimento evangelical, de origem europeia e que, após passar pelos Estados
Unidos, chegou ao Brasil no século 20. O objetivo era unificar as muitas
denominações protestantes ao redor de alguns princípios doutrinários básicos
do cristianismo, com vistas a fortalecer atividades comuns e se contrapor à
expansão católica. Isso gerou a organização de um grande projeto missionário
unificado, que foi desenvolvido até o início da Primeira Guerra Mundial. Nas
palavras desse mesmo autor, “a autoidentificação de ‘evangélico’ era individual
e significava o compromisso da pessoa com aquele conjunto de princípios
doutrinários; antes de pertencer a esta ou aquela denominação, o indivíduo era
evangélico”.
Esses dois fatos históricos nortearam o grande desenvolvimento do
movimento pentecostal e o surgimento das igrejas evangélicas durante o século
20. No Brasil, todos os cristãos que não professavam a fé católica começaram a
se identificar como “evangélicos”, e o mesmo ocorreu com aquelas
denominações que também acabavam assumindo esse título em nosso país e
por todo o mundo.
Portanto, a razão para que todas as igrejas cristãs oriundas do
pentecostalismo viessem a ser chamadas evangélicas se origina desse
movimento histórico de distinção ao catolicismo e de aceitação dos princípios
doutrinários oriundos do fundamentalismo cristão do final do século 19 e início
do século 20, que era contrário ao liberalismo protestante, pois este valorizava
mais as concepções racionais da fé.
O pesquisador religioso C. Peter Wagner (citado por McGrath, 2005, p.
161) desenvolveu um estudo acerca dos movimentos carismáticos e
pentecostais originados e desenvolvidos no cristianismo durante o século 20. Ele
destacou
6
política pública e educacional brasileira precisa estar atualizada sobre o
desenvolvimento da religião do cristianismo em nosso país, segundo as
realidades dessa vertente protestante.
2
Ecumenismo é a busca de unidade entre todas as igrejas cristãs, em um processo de
entendimento que reconhece e respeita a diversidade entre elas.
7
atos de excomunhão dados no século 16. Ainda houve uma aproximação às
igrejas históricas protestantes, com líderes católicos vindo a participar da
Assembleia do Conselho das Igrejas, em 1983 (Greco, 2008, p. 157).
A partir dos movimentos dados após a Segunda Guerra Mundial e de
inúmeras conferências realizadas nas últimas décadas do século XX, o
movimento ecumênico cristão teve bom crescimento, alcançando a participação
de diversas denominações e lideranças religiosas. Essa é uma realidade que
podemos visualizar neste início de século XXI, marcado por atos recíprocos de
respeito e consideração entre as diferentes vertentes cristãs, ao mesmo tempo
que o diálogo inter-religioso e associações sociais conjuntas permanecem
ocorrendo com o passar dos anos.
3
Metanarrativas são aquelas grandes histórias ou narrativas abrangentes que visam explicar de
modo completo e absoluto todos os acontecimentos e perspectivas da história da humanidade.
A narrativa básica da modernidade orienta que a razão e a ciência são capazes de explicar e
ordenar a realidade por meio de modelos universais que devem reger o desenvolvimento da
civilização humana.
4
Relativismo: teoria segundo a qual a base para os julgamentos sobre o conhecimento, a cultura
ou a ética difere de acordo com as pessoas, com os eventos e com as situações.
9
cientistas religiosos. Observe que essas duas maiores religiões do mundo
carregam em suas doutrinas um grande número de verdades absolutas, as quais
são fundamentais para conduzir os adeptos em uma existência satisfatória neste
mundo, e na vida após a morte.
Portanto, o relativismo da pós-modernidade confronta gravemente esses
absolutos, o que obriga que as religiões islâmica e cristã busquem se comunicar
como o homem do século 21 em meio a esse embate existencial, pois precisam,
a qualquer custo, defender os fundamentos religiosos tradicionais de seus
conceitos absolutos. Nesse contexto, Shelley (2004, p. 539) entende a
globalização como uma oportunidade para os cristãos, pois, com a queda do
Muro de Berlim no final do século 20, a Rússia e os diversos governos a seu
redor deixaram de promover radicalmente os projetos de criar um Estado ateu e
contrário à religião dos homens.
O tema acerca de como a fé cristã tem atuado e irá se desenvolver em
uma sociedade pluralista tem sido abordado pelo cristianismo segundo o
entendimento de que há três formas de essa religião se posicionar perante as
outras religiões da humanidade: pelo particularismo, que destaca a salvação
religiosa somente dos cristãos; pelo inclusivismo, que valoriza a supremacia da
fé cristã sem negar a validade de outras religiões; e pelo pluralismo, que entende
afirmativamente que todas as crenças são capazes de “salvar” os homens
religiosamente (McGrath, 2005, p. 613).
Angelo Brelich (citado por Passos; Usarski, 2013, p. 221) anotou aspectos
desse entendimento, destacando que “a história das religiões se deveria fundar
na produção de um conhecimento de uma compreensão interpretativa de todas
as religiões desde o início da história até o presente, localizando cada uma delas
nos seus respectivos contextos sociais e culturais em que surgiram e se
desenvolveram. ”
Nessa perspectiva, nossa disciplina tem pontuado alguns fatos culturais
que consideramos importantes para o desenvolvimento técnico do estudante de
ciências da religião, quando relacionáveis à religião do cristianismo.
12
5.3 Geografia da religião
NA PRÁTICA
13
compartilhar dos debates e reflexões que interessam à sociedade neste século
21.
Mais especificamente acerca de nossa graduação em ciências da religião,
anotamos a maneira como a disciplina de geografia da religião nos auxilia no
entendimento de como ocorre um fenômeno religioso. Assim, compreendemos
como é importante observar a utilização do espaço religioso, a fim de que
possamos identificar o valor e o significado do sagrado em determinada religião
quando esta desenvolve suas atividades.
FINALIZANDO
14
REFERÊNCIAS
15
SHELLEY, B. L. História do cristianismo. Tradução de Vivian Nunes do
Amaral. São Paulo: Shedd Publicações, 2004.
16