Pacote Anticrime 6
Pacote Anticrime 6
Pacote Anticrime 6
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 4
REFERÊNCIAS......................................................................................................... 31
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NOSSA HISTÓRIA
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INTRODUÇÃO
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LEGÍTIMA DEFESA
Sabe-se que todo bem de mesma espécie detém o mesmo valor jurídico para
o estado, porém, existem momentos que esses bens juridicamente tutelados entram
em conflito, no entanto, cabe salientar que quando um bem age de forma agressiva
perante o outro, o estado tem o dever de reconhecer a defesa do ofendido como
conduta legal, mesmo que o ato venha a lesar um bem antes tutelado.
Com esta nova redação, o projeto visava corrigir uma suposta situação de
absoluta insegurança do policial ao atuar preventivamente, ou seja, quando houvesse
risco iminente a direito seu ou de outrem, segundo as palavras utilizadas na
justificativa do projeto.
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Entretanto, apenas o inciso II foi aprovado, passando o artigo 25 e parágrafo
único a dispor o seguinte:
Para que a sua configuração, porém, alguns requisitos devem ser observados.
Objetivamente (requisitos objetivos), o próprio caput do art. 25 determina que a
agressão deve ser injusta, atual ou iminente, devendo o agente se utilizar
moderadamente dos meios necessários para salvar direito próprio ou alheio. Entende-
se por agressão injusta a conduta humana (será humana mesmo quando o agente se
utilizar de animal como instrumento do crime – ex.: dono que manda cachorro atacar
seu desafeto), contrária ao direito, que lesa ou expõe a perigo o bem jurídico de
alguém. Atual ou iminente é o que está ocorrendo ou prestes a ocorrer. Por sua vez,
o uso moderado dos meios necessários são os meios menos lesivos à disposição do
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agredido no momento da agressão, porém, capazes de repelir o ataque com
eficiência.
O agente também deve ter consciência de que está agindo na defesa de seu
bem jurídico (requisito subjetivo), conforme bem anotam Eugênio Pacelli e André
Callegari (2020).
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Constituição Federal. Do mesmo modo, eventuais agentes públicos diversos e
particulares, também não encontram respaldo na norma, portanto, para eles não
poderia ser aplicado o art. 25, parágrafo único do CP. Nesse sentido, ensina Renato
Brasileiro de Lima (2020)
Pode-se dizer que a novidade legislativa pôs fim à discussão doutrinária quanto
à excludente de ilicitude que deveria ser aplicada diante da atuação letal de um agente
de segurança pública, se a legítima defesa ou o estrito cumprimento do dever legal.
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EXECUÇÃO DA PENA DE MULTA
Nos termos do artigo 32 do Código Penal, as penas dos delitos podem ser
restritivas de direito, privativas de liberdade ou de multa.
§ 1º - O valor do dia-multa será fixado pelo juiz não podendo ser inferior a um
trigésimo do maior salário mínimo mensal vigente ao tempo do fato, nem
superior a 5 (cinco) vezes esse salário.
Não houve grande mudança na redação desse artigo, porém vale salientar que
essa sujeição da pena pecuniária às normas da Fazenda gera consequências
práticas, como por exemplo o cálculo da prescrição, que não atenderá aos requisitos
da prescrição penal (artigo 107, inciso IV, e seguintes, do Código Penal), e sim, aos
requisitos da prescrição da dívida ativa.
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TEMPO MÁXIMO DE CUMPRIMENTO DE PENA
Por esta razão, a lei traz um limite de tempo de pena, nos termos do artigo 75
do Código Penal. Eram 30 anos; com o advento da Lei n.13.964, passam a ser 40
anos.
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LIVRAMENTO CONDICIONAL
Por falta de unidades próprias para o cumprimento das penas em regime aberto
(Casa de Albergado), aplica-se a analogia mais favorável ao sentenciado, portanto é
muito comum que o regime aberto seja cumprido domiciliarmente, o que se denomina
prisão albergue domiciliar (P.A.D).
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quantidade de pena base e do tempo a ser cumprido para que o condenado tenha
direito de pedir o benefício, fator temporal. Os requisitos subjetivos, por sua vez, se
referem ao comportamento do agente durante o período que esteve privado da
liberdade, aqui observa-se os fatores pessoais e comportamentais do indivíduo.
Nota-se que havia um entrave entre a lei geral e a lei especial, o que se
uniformizou com a implantação da Lei 13.964/19, agora, o bom comportamento é
exigência expressa em ambas as normas.
Cabe ressaltar que, antes da atualização pelo pacote anticrime, apenas o porte
ou posse ilegal de arma de fogo de uso proibido era considerado crime hediondo pela
lei. Entretanto, com um aumento da presença de armamento proibido na mão de
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criminosos, outras condutas relacionadas à arma de fogo foram enquadradas como
hediondo, excluindo-se a arma de fogo de uso restrito:
Observa-se que os bens tidos como proveitos do crime, poderão ser tomados
do condenado por crime com pena máxima superior a seis anos de reclusão, quando
o montante de seus bens não corresponder aos rendimentos lícitos declarados.
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Ressalta-se que o novo dispositivo trata de assegurar ao sentenciado o
contraditório e a ampla defesa, destacando que este poderá demonstrar a inexistência
da incompatibilidade ou a procedência dos bens. Sendo dever da acusação
demonstrar a ocorrência do enriquecimento ilícito, não há que se falar em inversão do
ônus da prova.
Cabe ao Ministério Público requerer, expressamente, essa perda dos bens logo
que ofereça a denúncia referente ao crime apurado, indicando a diferença entre os
bens tidos como ilícitos e a renda declarada do acusado. Nucci (2020) ensina que “o
órgão acusatório promoveria ação penal, cumulada com o pleito da perda patrimonial,
indicando a diferença exigida pelo caput do art. 91-A”.
Entende-se que a regra não caracteriza um novo fato típico, mas sim o efeito
de uma condenação por crimes graves, tendo em vista a pena máxima a ser
observada, como é o caso do Peculato, Concussão, Corrupção Passiva e outros.
Busca o legislador alcançar a restituição dos valores adquiridos pelo agente no
cometimento do crime e impedir que este goze dos frutos financeiros derivados do
enriquecimento ilícito.
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prescrição (art. 116 do CP) a contagem do prazo fica suspensa, retomando-se, depois,
de onde parou. Nos casos de interrupção da prescrição (art. 117 do CP), a contagem
do prazo zera, voltando ao início, sendo desprezado o tempo anteriormente
computado.
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NOVAS MAJORANTES NO CRIME DE ROUBO
Art. 157
(...)
Art. 157
(...)
§ 2º-A A pena aumenta-se de 2/3 (dois terços): (Incluído pela Lei nº 13.654,
de 2018)
Impende-se registrar que a Lei Anticrime criou um novo parágrafo, qual seja, o
parágrafo 2º-B, instituindo uma nova causa de aumento de pena que neste caso será
dobrada. Nesse sentido, a pena será aplicada em DOBRO se o sujeito ativo do delito
de roubo subtrair coisa alheia móvel utilizando como meio executório arma de fogo de
uso RESTRITO OU PROIBIDO. Veja o que preconiza o artigo:
Art. 157.
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Por fim, saliente-se que como a lei 13.964 de 24 de dezembro de 2019 instituiu
novas causas de aumento de pena, está Lei não irá retroagir, pois estamos diante de
uma novatio legis in PEJUS (Lex Gravior).
Simples, a lei nº 13.654/18 irá ultragir para alcançar fatos quando cometidos
sob sua vigência. Logo, será aplicado o benefício da retirada da causa de aumento de
arma branca mesmo após a inclusão novamente da majorante.
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REPRESENTAÇÃO NO CRIME DE ESTELIONATO
Art. 171 – Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio,
induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer
outro meio fraudulento.
(...)
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I – a Administração Pública, direta ou indireta;
II – criança ou adolescente;
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DESTINAÇÃO DE BENS APREENDIDOS
Não é raro que durante uma abordagem ou operação policial, objetos sejam
apreendidos. Esses podem ser úteis ao processo como meio de prova da ocorrência
de um crime e de sua autoria. Todavia, em algum momento esses bens perdem a
utilidade processual e podem ser restituídos a quem de direito, quando não há a quem
restituir a coisa, o Código de Processo Penal dá o adequado direcionamento aos
objetos.
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No entanto, é possível que ocorra o perdimento desses objetos. Nessa
hipótese, os bens utilizados para a prática de crimes ou que sejam produtos da
atividade ilícita podem ser perdidos em favor da união. O artigo 133 do Código de
Processo Penal destaca que após o trânsito em julgado da sentença condenatória,
será determinada “a avaliação e a venda dos bens em leilão público cujo perdimento
tenha sido decretado”.
Art. 122. Sem prejuízo do disposto no art. 120, as coisas apreendidas serão
alienadas nos termos do disposto no art. 133 deste Código.
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O supradito dispositivo tem por finalidade destinar determinados bens
apreendidos a locais apropriados. Desta forma, obras de arte ou de relevante valor
cultural ou artístico que forem apreendidos e perdidos serão encaminhados a museus
públicos, isso quando não existir uma vítima determinada.
Como dito, os bens que forem apreendidos podem ser restituídos a quem de
direito, perdidos para a união ou destinados a locais apropriados em casos
específicos. Quando perdidos em favor da União, os bens precisam ser destinados
para que tenha o melhor uso possível e sendo inviável essa utilização, os objetos
serão leiloados e transformados em valores pecuniários.
A Lei 13.964/19 alterou o texto do artigo 133 do Código de Processo Penal que
previa a determinação, de ofício ou a requerimento do interessado, de avaliação e
venda dos bens apreendidos em leilão público. Com isso, o valor apurado que não
coubesse à vítima ou terceiro interessado era recolhido ao Tesouro Nacional.
§ 1º Do dinheiro apurado, será recolhido aos cofres públicos o que não couber
ao lesado ou a terceiro de boa-fé.
Sobre isso Guilherme de Souza Nucci (2020) sinaliza que “está correta essa
destinação, pois esse Fundo é o que sustenta (ao menos deveria) a construção e
manutenção de presídios”.
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Após a reforma do disposto supradito, a Lei 13.964/19 trouxe novo dispositivo
a norma processual penal, o artigo 133-A, o qual dispõe que:
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AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA
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CÓDIGO DE PROCESSO PENAL: SISTEMA ACUSATÓRIO OU
INQUISITÓRIO?
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apesar de o indivíduo ser livre para falar o que bem entender, nossa Constituição veda
o anonimato.
A confissão era a prova máxima e a tortura era suficiente para que esta
confissão fosse feita. O interrogatório normalmente era a parte mais importante do
procedimento no sistema inquisitório. Não havia recurso e nem coisa julgada, pois o
poder era todo centralizado na figura de apenas uma pessoa que detinha o poder
máximo e soberano do Poder Estatal ou da Igreja naquele momento. Ora, se o Estado
e a Igreja não podiam ser contestados, naturalmente não teria como haver recurso.
Sendo a principal característica deste sistema aquele que concentrava o poder
absoluto. Quando o inquérito acaba tendo características inquisitórias, é exatamente
aí que determinado indivíduo tem poder absoluto para investigar, e este inquérito
acabará servindo para formular indícios que não são provas, ou seja, em regra, não
deveria entrar no sistema penal, inclusive. Muitos autores defendem que o inquérito
nem mesmo deveria ir para o processo, e sim que o promotor deveria separar as
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partes investigativas que achasse importante, mas que o inquérito não poderia fazer
parte do processo.
O sistema que passa a ser acusatório também possui características que são
como lógica, ou seja, se há algo dentro do Código de Processo Penal anterior ao
Pacote Anticrime no que tange a este sistema, provavelmente estará contrário à esta
lógica; automaticamente é possível que tenha havido uma revogação tácita de tal
situação, como por exemplo, a liberdade da produção de provas que ainda acontece
no Código de Processo Penal.
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visão daquelas provas apresentadas por cada uma das partes (que seriam
equivalentes) e julgar a partir dali.
Apesar de caminharmos para este modelo, não é assim que funciona ainda. As
partes devem ter os mesmos poderes, assim sendo, se o Ministério Público possui a
possibilidade de fazer algo, a defesa também tem que ter a possibilidade de fazer o
mesmo.
Portanto, não é algo que acontece de forma posterior; acontece antes e deve
ser respeitado no sistema acusatório. Tendo em vista que o juiz possui a possibilidade
de lhes ser apresentadas as provas de imediato e julgar a partir dali, ele passará a ter
uma desnecessidade de justificar tanto a sua decisão, podendo resolver a lide com
base naquilo que lhe foi apresentado; não há a necessidade de “grampear”
justificativas em um processo, passando a ter mais força por seu livre convencimento,
desde que seja um juiz imparcial, claro.
A coisa julgada passa a ter um poder maior; a absolvição é uma regra e se por
acaso ela acontece, não poderá ser alterada (exceto se for algum dos tipos específicos
de absolvição, mas que também tende a acabar). Uma última característica, mas não
menos importante, é o duplo grau de jurisdição: a possibilidade de o acusado recorrer
para um Órgão superior para que haja uma revisão de seu processo. Mesmo com um
juiz imparcial e não precisando justificar tanto a sua decisão, não significa que o
indivíduo não possa recorrer e discutir tal sentença, entendendo que por tais motivos,
ela não deveria inteirar o processo.
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Com a Lei 13.964/2019, de 24.12.2019 – o denominado “pacote anticrime” –,
diversas modificações ocorreram nas esferas penal, processual penal e de execução
penal.
A lei nova insere o art. 3-A, no CPP, afirmando uma suposta estrutura
acusatória do processo penal brasileiro:
Não se pode negar que a inserção do art. 3-A, no CPP, é um avanço em termos
de democracia processual penal, mormente a se considerar que, a partir da vigência
da lei nova, o agora juiz de garantias (art. 3-B a 3-F, da Lei 13.964/2019) não terá
qualquer iniciativa probatória de ofício.
A nosso ver, houve, nesse aspecto, revogação tácita da regra do art. 156, I, do
CPP, com redação dada pela Lei 11.690/2008, que facultava ao juiz, de ofício,
“ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal (sic) [ou seja, na investigação
preliminar], a produção antecipada de provas consideradas urgentes e relevantes,
observando a necessidade, adequação e proporcionalidade da medida.”
Ademais, a previsão de que o juiz que atuará na fase processual não poderá
se substituir na atuação probatória do órgão de acusação implica em reconhecer que
o magistrado da fase de conhecimento não terá iniciativa probatória que prejudique o
acusado.
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MATERIAL COMPLEMENTAR
A Escola Superior da Defensoria Pública do Estado de Goiás, com o apoio da
Associação Goiana das Defensoras e Defensores Públicos, trouxe um webinário
especial com o autor, jurista e doutor em Direito Processual Penal na Universidad
Complutense de Madrid Aury Lopes Junior e o doutor em Direito pela UFPR,
professor, autor e juiz de direito de Santa Catarina Alexandre Morais da Rosa,
abordando o tema Pacote Anticrime: Principais Aspectos Processuais Penais.
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REFERÊNCIAS
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal: parte geral, 1. 16. ed. São
Paulo: Saraiva, 2011.
PACELLI, Eugênio; CALLEGARI, André. Manual de Direito Penal. 5. ed. São Paulo:
Atlas, 2019.
HOLANDA, Sergio Buarque de. Raízes do Brasil. Rio de Janeiro: Jose Olympio,
1982.
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MORAES, Miriam. Política: como decifrar o que significa política e não ser
passado para trás: um guia politicamente correto para entender o sistema de
poder no Brasil, opinar e debater a respeito. São Paulo: Geração Editorial, 2014.
REGA, Lourenço Stelio. Dando um jeito no jeitinho. Ed. WC: Rio de Janeiro, 2000.
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