Tese Duque

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UNIVERSIDADE DA BEIRA INTERIOR

Ciências

Método dos Elementos Finitos para Problemas com


Fronteiras Livres

José Carlos Matos Duque

Tese para obtenção do Grau de Doutor em


Matemática
o
(3 ciclo de estudos)

Orientador: Prof. Doutor Stanislav Nikolaevich Antontsev


Co-orientador: Prof. Doutor Rui Manuel Pires Almeida

Covilhã, novembro de 2013


Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

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Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

Dedicado à minha lha Matilde.

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Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

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Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

Agradecimentos
Finda esta etapa, desejo manifestar o meu sincero agradecimento a todas as pessoas que,
de algum modo, contribuíram para a sua realização, nomeadamente:

- à minha esposa Ana e à minha lha Matilde pela compreensão das minhas ausências e tam-
bém por sempre me apoiarem e encorajarem, especialmente nos momentos mais difíceis;

- aos meus pais por me incentivarem a seguir esta área e por me terem dado condições para
iniciar os meus estudos académicos superiores;

- a todos os meus familiares pelo apoio que manifestaram, nomeadamente à Madalena


Gonçalves pelas correções de Português;

- ao meu co-orientador, Prof. Dr. Rui Almeida pela orientação, permanente disponibilidade
e pelos valiosos conselhos, críticas e correções;

- ao meu orientador, Prof. Dr. Stanislav Antontsev pela orientação, ensinamentos, enorme
disponibilidade e, principalmente, pela imensa paciência perante as minhas lacunas;

- a todos os meus colegas do Departamento de Matemática da Universidade da Beira Inte-


rior, especialmente ao meu colega Prof. Rui Robalo pelas longas conversas construtivas e
instrutivas e à Prof.a Dr. Isabel Mendes pelas inúmeras correções de Inglês;

- ao Prof. Dr. Sergey Shmarev, da Universidade de Oviedo, pelo tempo disponibilizado e


pelos importantes comentários e sugestões que permitiram melhorar o meu trabalho;

- ao Prof. Dr. Jorge Ferreira, da Universidade de Pernambuco, pela colaboração e por ter
dado um novo ânimo ao trabalho numa fase crítica.

A todos um Bem-Haja.

Este trabalho foi parcialmente suportado pelos projectos PEst-OE/MAT/UI0212/2011 e


PEst-PTDC/MAT/110613/2009, nanciados pelo FEDER através do - Programa Operacional Fac-
tores de Competitividade, FCT - Fundação para a Ciência e a Tecnologia.

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Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

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Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

Resumo
Neste trabalho pretende-se fazer um estudo sobre a aplicação do método dos elementos
nitos a diversos problemas de reação-difusão com fronteiras livres. Para se obter estimativas
do erro e simulações representativas é necessário obter alguns resultados teóricos sobre regu-
laridade e algumas propriedades físicas das soluções. Neste sentido, o outro objetivo deste
trabalho é o estabelecimento de resultados teóricos relativos a problemas em aberto.
O primeiro problema a ser estudado é a equação parabólica seguinte:

ut = div(|u|γ(x,t) ∇u) + f (x, t), x ∈ Ω ⊂ Rd , t ∈]0, T ].

Como o problema pode ser degenerado, utiliza-se um problema aproximado, regularizado atra-
vés da introdução de um parâmetro ε. Demonstra-se, sob algumas condições em γ e f que
a solução fraca do problema aproximado converge para a solução fraca do problema inicial,
quando o parâmetro ε tende para zero. São calculadas soluções discretas utilizando o método
dos elementos nitos contínuo no espaço e descontínuo no tempo e é provada a convergência
destas soluções para a solução fraca do problema inicial.
Estuda-se também a aplicação do método da malha móvel a esta equação considerando-a
R
num domínio livre em 2 . É desenvolvido um conjunto de subrotinas em Matlab que permitem
calcular e representar gra camente soluções aproximadas de vários problemas de reacção-difu-
são com fronteiras livres. A discretização espacial é de nida por uma partição do domínio em
triângulos. Em cada elemento nito, a solução é aproximada por uma função seccionalmente
polinomial de grau r ≥ 1 utilizando polinómios interpoladores de Lagrange em coordenadas de
área. Os vértices dos triângulos podem mover-se segundo um sistema de equações diferenciais
parciais que é adicionado ao problema. Posteriormente, deduz-se uma equação para mover os
vértices da fronteira. O sistema resultante é convertido num sistema de equações diferenciais
ordinárias no tempo, que é resolvido utilizando um integrador apropriado. Os integrais que
surgem são calculados utilizando a quadratura de Gauss. Finalmente, são apresentados alguns
resultados de aplicação.
O outro problema estudado é o sistema não linear da forma
(
ut = a1 (l1 (u), l2 (v))∆u + λ1 |u|p−2 u + f1 (x, t)
, x ∈ Ω ⊂ Rd , t ∈]0, T ],
vt = a2 (l1 (u), l2 (v))∆v + λ2 |v|p−2 v + f2 (x, t)

onde a1 e a2 são funções positivas e Lipschitz-contínuas, l1 e l2 são formas lineares contínuas,


λ1 , λ2 ≥ 0 e p ≥ 2. Prova-se a existência e unicidade de soluções fortes, assim como, algumas
propriedades de localização, nomeadamente a existência de tempo de espera e a localização
estável. Demonstra-se, impondo algumas condições em p e fi , que as soluções deste sistema
podem decair de forma exponencial ou polinomial ou até extinguirem-se em tempo nito. O
sistema é discretizado utilizando o método dos elementos nitos de Galerkin no espaço e um
método de Euler linearizado no tempo. Prova-se a convergência das soluções discretas e obtém-
-se a ordem de convergência em função dos parâmetros da discretização. No nal, o método é
implementado em ambiente Matlab e são apresentados alguns resultados numéricos.

Palavras-chave
Método dos elementos nitos, equação de meios porosos, expoente variável, malha móvel,
fronteira livre, termo difusivo não local, efeitos de localização, comportamento assintótico.

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Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

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Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

Abstract
The aim of this work is to study the application of the nite element method to various
reaction-diffusion problems with free boundaries. To obtain error estimates and representative
simulations, it is necessary to obtain some theoretical results on regularity and some physical
properties of the solutions. In this sense, the other goal of this work is to establish theoretical
results concerning open problems.
The rst problem to be studied is the following parabolic equation:

ut = div(|u|γ(x,t) ∇u) + f (x, t), x ∈ Ω ⊂ Rd , t ∈]0, T ].

Since the problem may be of degenerate type, an approximate problem is used, regularized by
introducing a parameter ε. It is proved, under certain conditions on γ and f , that the weak
solution of the approximate problem converges to the weak solution of the initial problem,
when the parameter ε tends to zero. Discrete solutions are built using the continuous in space
and discontinuous in time nite element method, and the convergence of these to the weak
solution of the initial problem is proved.
The application of the moving mesh method to this problem, considering it a free boundary
problem is also studied. A set of subroutines in Matlab, that can calculate and graphically
represent approximate solutions of various reaction-diffusion problems with free boundaries, is
developed. The spatial discretization is de ned by a triangulation of the domain. In each nite
element, the solution is approximated by a piecewise polynomial function of degree r ≥ 1,
using Lagrange interpolating polynomials in area coordinates. The vertices of the triangles
move according to a system of differential equations which is added to the equations of the
problem. The resulting system is converted into a system of ordinary differential equations in
time variable, which is solved using a suitable integrator. The integrals that arise in the system
of ordinary differential equations are calculated using the Gaussian quadrature. Finally, some
numerical results of application are presented.
The other problem to be studied is the nonlinear nonlocal reaction-diffusion coupled system
(
ut = a1 (l1 (u), l2 (v))∆u + λ1 |u|p−2 u + f1 (x, t)
, x ∈ Ω ⊂ Rd , t ∈]0, T ],
vt = a2 (l1 (u), l2 (v))∆v + λ2 |v|p−2 v + f2 (x, t)

where a1 and a2 are Lipschitz-continuous positive functions, l1 and l2 are continuous linear
forms, λ1 , λ2 ≥ 0 and p ≥ 2. The existence and uniqueness of weak and strong solutions to
these systems and localization properties of the solutions, including the waiting time effect
and stable localization, are proved. Moreover, important results on polynomial and exponential
decay and the vanishing of the solutions in nite time, are also presented. The convergence
of a linearized Euler-Galerkin nite element method is proved, and the optimal order of con-
vergence is obtained. Finally, the presented method is implemented and simulated in Matlab
environment.

Keywords
Finite element method, porous media equation, variable exponent, moving mesh, free boun-
dary, non local diffusion term, localization effects, asymptotic behavior.

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Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

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Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

Índice

1 Introdução 1

2 De nições e Teoremas Fundamentais 15


2.1 Desigualdades elementares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
2.2 De nições e conceitos básicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
2.3 Distribuições . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
2.4 Espaços de Lebesgue . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
2.5 Espaços de Sobolev . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
2.6 Imersões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
2.7 Espaços de Bochner . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
2.8 Teoremas fundamentais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
2.9 Discretização espacial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
2.10 Discretização temporal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
2.11 Cálculo das funções interpoladoras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
2.12 Cálculo dos integrais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32

3 Equação Em Meios Porosos Com Expoente Variável 35


3.1 Problema em domínio xo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
3.1.1 Regularização do problema . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
3.1.2 Convergência do problema regularizado . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
3.1.3 Aproximação discreta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
3.1.4 Aproximação numérica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
3.1.5 Resultados numéricos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
3.2 Problema em domínio livre . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
3.2.1 Formulação do problema . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
3.2.2 Construção da malha adaptável . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
3.2.3 Discretização espacial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
3.2.4 Movimento da fronteira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
3.2.5 Resultados numéricos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66

4 Sistema Não Linear Com Termo De Difusão Não Local 73


4.1 Formulação do problema . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
4.2 Existência e unicidade de soluções fortes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
4.3 Propriedades de localização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80
4.4 Comportamento assintótico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85
4.5 Solução semidiscreta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89
4.6 Solução totalmente discreta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92
4.7 Resultados numéricos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 96

5 Conclusão e Trabalho Futuro 105

Bibliogra a 107

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Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

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Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

Lista de Figuras

2.1 Elemento nito de referência e numeração local dos nós. . . . . . . . . . . . . 31


2.2 Função Φk . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33

3.1 Malha espacial para h = 0.1 usada no problema com o segundo membro arti cial. 56
3.2 Evolução no tempo da aproximação obtida no problema com o segundo membro
arti cial. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
3.3 Erro da aproximação obtida no problema com o segundo membro arti cial em
função de h e de δ. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
3.4 Erro da aproximação obtida no problema com o segundo membro arti cial em
função de ε. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
3.5 Evolução no tempo da aproximação obtida no problema com suporte não convexo. 58
3.6 Malha espacial para h = 1/15 usada no problema com absorção. . . . . . . . . . 59
3.7 Evolução no tempo da aproximação obtida no problema com absorção. . . . . . 59
3.8 Cálculo do vetor normal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
3.9 Domínio computacional e malha inicial usados no problema com expoente cons-
tante. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
3.10 Evolução no tempo da aproximação obtida no problema com expoente constante. 67
3.11 Evolução no tempo da malha obtida no problema com expoente constante. . . . 67
3.12 Erro das aproximações da solução e da fronteira, obtidas no problema com expo-
ente constante, em função do número de triângulos. . . . . . . . . . . . . . . . 68
3.13 Domínio computacional e malha inicial usados no problema com suporte não con-
vexo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
3.14 Evolução no tempo da aproximação obtida no problema com suporte não convexo. 69
3.15 Evolução no tempo da malha obtida no problema com suporte não convexo. . . . 69
3.16 Evolução no tempo da aproximação obtida no problema com absorção e expoente
constante. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70
3.17 Evolução no tempo da malha obtida no problema com absorção e expoente cons-
tante. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70
3.18 Erro das aproximações da solução e da fronteira, obtidas no problema com absor-
ção e expoente constante, em função do número de triângulos. . . . . . . . . . 70
3.19 Domínio computacional e malha inicial usados no problema com absorção e expo-
ente variável. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
3.20 Evolução no tempo da aproximação obtida no problema com absorção e expoente
variável. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
3.21 Evolução no tempo da malha obtida no problema com absorção e expoente variável. 72

4.1 Evolução no tempo da aproximação de u obtida no problema da localização da


solução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97
4.2 Evolução no tempo da aproximação de v obtida no problema da localização da
solução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 98
4.3 Malha espacial para h = 0.05 usada no problema da localização da solução. . . . 98
4.4 Função de energia b(t) no problema da localização da solução. . . . . . . . . . . 98
4.5 Evolução no tempo da aproximação de u obtida no problema com extinção em
tempo nito e decaimento polinomial. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99

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Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

4.6 Evolução no tempo da aproximação de v obtida no problema com extinção em


tempo nito e decaimento polinomial. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 100
4.7 Malha espacial para h = 0.025 no problema com extinção em tempo nito e
decaimento polinomial. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 100
4.8 Função de energia b(t) no problema com extinção em tempo nito e decaimento
polinomial. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 100
4.9 Evolução no tempo da aproximação de u obtida no problema com fontes externas
ilimitadas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 102
4.10 Evolução no tempo da aproximação de v obtida no problema com fontes externas
ilimitadas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103

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Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

Capítulo 1

Introdução

Nas últimas décadas, foram utilizadas várias equações para descrever alguns sistemas físicos,
químicos, biológicos e ecológicos. Uma das mais bem sucedidas e cruciais é a equação de
reação-difusão que é uma equação diferencial parcial parabólica do tipo:

∂u
− div(a∇u) − f = 0, (1.1)
∂t

onde f e a são funções possivelmente não lineares e dependentes de u chamadas termo de


reação e difusão, respetivamente.
As equações diferenciais são extremamente úteis em muitas áreas da ciência, mas a maioria
dos problemas reais envolve mais de uma função incógnita. Neste caso, tem-se o sistema de
reação-difusão
∂u
− div(a∇u) − f = 0, (1.2)
∂t
onde u = (u1 , . . . , une ) é o vetor das incógnitas, f uma função vetorial e a uma matriz ne × ne
de funções.
Em grande parte dos processos de difusão, é usual admitir que o uxo, J , num dado ponto,
x, é dada pela lei de Fick (ou lei de Darcy),

J = −a∇u(x),

onde u é, por exemplo, a temperatura ou a densidade da população e a é uma constante


dependente do meio onde o processo ocorre. A suposição de a ser constante é obviamente uma
aproximação da realidade, pois se as constantes são características do meio, é natural que elas
dependam do seu estado. Este trabalho debruça-se sobre alguns casos particulares onde a não
é constante.
Um dos objetivos deste trabalho é estudar a aplicação do método dos elementos nitos,
tanto em domínio xo como em domínio livre, a diversos problemas de reação-difusão com
fronteiras livres. As estimativas do erro para aproximações discretas geralmente dependem
da regularidade das soluções exatas. Assim, outro objetivo é o estabelecimento destes resul-
tados teóricos relativos a problemas em aberto. Para se obter simulações representativas, é
necessário conhecer algumas propriedades físicas das soluções.
O método dos elementos nitos de Galerkin (MEFG) é mais difícil de programar que os mé-
todos das diferenças nitas, mas, em alguns casos, obtém melhores resultados com menos
esforço computacional. Outra vantagem do método de Galerkin é a forma como os dados nais
são devolvidos. Na maior parte dos casos, a solução obtida é uma função regular polinomial
por partes. Isto resulta numa fácil representação dos dados e também permite integrar e deri-
var os resultados analiticamente. O MEFG aproxima o problema por outro problema, chamado
problema discreto, de nido num espaço de dimensão nita. Obtém-se então uma aproximação
discreta u(x, t) ≈ U (x, t). Se o problema é do tipo parabólico, a obtenção de U implica a reso-
lução de um sistema de equações diferenciais ordinárias. Para resolver este sistema, existem
numerosos integradores. O mais simples é o método de Euler que calcula U em alguns instantes

1
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

tn ∈]0, T ]. A solução nal obtida pode então ser Un (x) = U (x, tn ) ou a interpolação linear
t−tn−1
de nida, em cada intervalo de tempo ]tn−1 , tn ], por U (x, t) = tn −tn−1 Un (x) − t−tn
tn −tn−1 Un−1 (x).
No caso mais simples, todos os intervalos têm a mesma amplitude δ. Se a solução exata tiver
pouca regularidade em t, um método viável para integrar no tempo é o método dos elementos
nitos descontínuo que aproxima a solução em cada intervalo de tempo por um polinómio, mas
não obriga a que a solução seja contínua nos instantes tn ∈]0, T ]. Para problemas mais difí-
ceis recorre-se frequentemente a integradores mais e cientes. Geralmente, estes integradores
utilizam diversas fórmulas e intervalos de amplitude variável, para poderem controlar o erro
das estimativas, em cada instante tn . Um exemplo deste tipo de integradores é o ode15s ,
implementado em ambiente Matlab.

O primeiro problema de fronteira livre a tratar neste trabalho surge ao estudar o movi-
mento de um gás ideal barotrópico num meio poroso. Se se supuser que a pressão p depende
explicitamente da densidade u e da temperatura θ da forma

p = p(u, θ) = k̃|u|γ̃(θ(x,t)) ,

então, pela lei da conservação da massa e pela lei de Darcy, obtém-se uma equação do tipo
(1.1) com um termo de difusão
a = k|u|γ(x,t) .

Seja Ω ⊂ Rd um domínio com fronteira ∂Ω Lipschitz-contínua e ΩT = Ω×]0, T ] um cilindro


de altura T < ∞. Considere-se o seguinte problema de Cauchy: encontrar a função u que
satisfaça as condições:



∂u
∂t − div(|u|γ(x,t) ∇u) = f (x, t, u) em ΩT
u(x, t) = 0 em ΓT = ∂Ω×]0, T ] , (1.3)

u(x, 0) = u0 (x) em Ω

onde γ é uma função limitada de nida em ΩT , tal que:

− 1 < γ − ≤ γ(x, t) ≤ γ + < ∞, ∀(x, t) ∈ Ω̄×]0, T ], (1.4)

com γ − e γ + constantes conhecidas. O problema (1.3) é um problema de Cauchy para uma


equação diferencial parabólica não linear e degenerada com expoente de não linearidade de-
pendente de x e t.

O comportamento das equações da forma (1.3) pode ser bem diferente do caso não degene-
rado do tipo 


∂u
∂t = div(a(x, t, u)∇u) + f (x, t, u) em ΩT
u(x, t) = 0 em ΓT , (1.5)

u(x, 0) = u0 (x) em Ω

com
R.

− +
∂a ∂f
0 < a ≤ a ≤ a ≤ ∞, + ≤ C,
∂u ∂u ∀(x, t) ∈ Ω̄×]0, T ], ∀u ∈

Se os dados iniciais forem su cientemente regulares, então o problema (1.5) admite soluções
fracas únicas e estas mantêm-se regulares (ver [52]). É conhecido que dados iniciais em L2 ou
distribuições produzem soluções regulares.

Aplicando o MEFG a problemas do tipo (1.5) conseguem-se erros de ordem ótima. Em [72],

2
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

exigindo u ∈ H 2 (Ω) ∩ H01 (Ω), ut ∈ L2 (Ω) e usando o esquema numérico

1
(Un − Un−1 , χ) + (a(Un )∇Un , ∇χ) = (fn , χ), χ ∈ Sh
δ

prova-se que:
kUn − u(tn )kL2 (Ω) ≤ C(h2 + δ),
n ≥ 1.

(u, v) denota o produto interno em L2 (Ω) de nido por (u, v) = Ω uv dx.


R

Se γ é constante em (1.3) e se apenas se procuram soluções não negativas, então temos o


problema de Cauchy para a equação em meios porosos clássica, da forma



∂u
∂t = c∆(um ) + f em ΩT
u(x, t) = 0 em ΓT , (1.6)

u(x, 0) = u0 (x) ≥ 0 em Ω

com
1
c= e m = γ + 1.
γ+1
O coe ciente c não é essencial e, sem perda de generalidade, pode considerar-se c = 1. Se se
considerar f = f (x, t), o problema (1.6), em geral, não admite soluções clássicas. A existên-
cia e unicidade de soluções fracas para este tipo de problemas foi demonstrada em dimensão
um por Ole nik, Kala²inkov e ƒºou ([61]) e para dimensões superiores a um, por Lions ([55]).
Lions provou que se f ∈ L m+1 (ΩT ) e u0 ∈ L2 (Ω), então existe uma única solução do pro-
m
m−1
blema (1.6) pertencente a L∞ (0, T ; L2 (Ω)). Provou ainda que |u| 2 u ∈ L2 (0, T ; H01 (Ω)) e
−1, m+1
ut ∈ L m+1 (0, T ; W m (Ω)).
m

Uma diferença deste tipo de equações para as não degeneradas é que soluções iniciais
suaves, ou até mesmo analíticas, não produzem necessariamente soluções suaves. Foi demons-
trado em [46] que, para m ≥ 2, dados iniciais suaves e com suporte compacto nunca produzem
soluções em C 1 . A derivada espacial torna-se descontínua em algum instante nito.
Aronson ([6]) provou que se um−1
0 é Lipschitz-contínua em x, então um−1 também é Lips-
chitz-contínua e u Hölder-contínua em x com expoente min{1, m−1
1
} e em t com expoente
1
min{ 13 , 2m−1 }. Provou ainda que (um )x existe e é contínua em x e se 1 < m < 2, então ux
também existe e é contínua em x.
Ole nik, Kala²inkov e ƒºou provaram também que se u0 tem suporte compacto, então u tem
suporte compacto para qualquer tempo positivo. Esta propriedade é usualmente denotada por
propagação com velocidade nita ( nite speed of propagation ). Kala²inkov [46] estudou
então o caso em que u0 satisfaz as condições:

u0 > 0 em ]a1 , a2 [, u0 = 0 em R\]a1, a2[,


e provou que para m > 0 o conjunto

Ω(t) = {(x, t) ∈ ΩT : u(x, t) > 0}

é limitado por duas curvas x = Γ1 (t) e x = Γ2 (t), onde Γ1 (t) é contínua, monótona não crescente
e contém o ponto (a1 , 0) e Γ2 (t) é contínua, monótona não decrescente e contém o ponto (a2 , 0).
Às curvas Γ1 (t) e Γ2 (t), geralmente, chamamos interfaces ou fronteiras livres.
As questões interessantes sobre a regularidade aparecem junto à interface que é melhor

3
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

descrita em termos da função


m
ν(x, t) = − um−1 .
m−1
Ole nik, Kala²inkov e ƒºou provaram que:

|u|m ux ∈ L∞ (0, T ; L∞ (Ω)).

Em 1970, Aronson ([7]) demonstrou que:

|u|m−1 ux ∈ L∞ (0, T ; L∞ (Ω)).

Mais tarde, Knerr ([49]) provou que Γ1 e Γ2 são de Lipschitz e que a derivada lateral de Γi
existe e satisfaz
Γ0i (t) = −νx (Γi (t), t), t ∈ [0, T ]. (1.7)

A equação (1.7) deve ser entendida como o limite quando x → Γi (t). Knerr provou também que
se ν0 (x) ≥ (a2 − x)$ , para a2 −  ≤ x ≤ a2 com 0 <  < 1 e $ < 2, então ν(a2 , t) > 0, t > 0 e
que se ν0 (x) ≤ (x − a2 )2 , para a2 −  < x < a2 e  > 0, então existe uma constante tw tal que
Γ2 (t) = a2 , para 0 ≤ t ≤ tw . Este resultado cou conhecido por tempo de espera ( waiting time
effect ) e, grosso modo, indica que a interface pode começar instantaneamente a mover-se
ou pode haver um intervalo de tempo nito [0, tw ] no qual a fronteira permanece estacionária
e passado esse tempo começa a mover-se com velocidade nita.
Em 1987, Aronson e Vazquez ([8]) provaram que Γi é uma curva C ∞ no intervalo ]tw , +∞[.
No caso tw = 0, a interface é C ∞ ( R+). Se tw > 0, esta regularidade só não é veri cada em
t = tw , pois Γi (t) = ai , t ∈ [0, tw ].
Angenant ([2]) melhorou estes resultados mostrando que no intervalo ]tw , +∞[, Γi é uma
função analítica.
Para dimensões superiores a um, Caffarelli e Friedman ([14]) provaram que a superfície
Γ(t) = ∂Ω(t) é Hölder-contínua e Caffarelli e Wolanski ([15]) provaram que, impondo algumas
condições em ν, existe 0 < κ < 1 tal que Γ(t) é de classe C 1,κ .
Daskalopoulos e Hamilton ([23]) provaram que existe um intervalo ]0, T [ no qual Γ é uma
superfície de classe C ∞ , mas as condições são: ν0 , Dν0 e dD2 ν0 se puderem estender conti-
nuamente até à fronteira por funções Hölder-contínuas de classe C κ , κ > 0, Dν0 6= 0 em Γ e
ν0 > 0. d denota a distância à fronteira do domínio. A condição Dν0 6= 0 em Γ garante que a
interface começa a mover-se em t = 0.
Ko ([51]) estendeu este resultado para t > T no caso de a solução ter simetria radial.
Para f = f (u) e γ constante os casos em que f (u) = −up são os mais usuais, obtendo-se o
problema: 


∂u
∂t = c∆(um ) − up em ΩT
u(x, t) = 0 em ΓT . (1.8)

u(x, 0) = u0 (x) ≥ 0 em Ω

0 é Lipschitz-contí-
Kala²inkov ([47]) provou que existe solução fraca e que é única se p ≥ 1 e um
nua e que (um−1 )x é limitada para t > 0. Destes resultados, conclui-se que u é Hölder-contínua
em ΩT relativamente a x com expoente 1
m e, consequentemente, relativamente a t com expo-
ente 2m+1 .
1
Tal como no caso da PME, a solução tem as derivadas ut , ux e uxx , limitadas no
conjunto Ω(t), e as questões principais de regularidade surgem na fronteira desse conjunto.
Em [47], provou-se que no caso p > 1 a solução possui a propriedade de propagação com
velocidade nita. Se 1 < p < m, então Ω(t) é limitado para t ≥ 0 e no caso p > m, Ω(t) expande

4
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

in nitamente.
Knerr ([50]) provou que Ω(t) é um intervalo ]Γ1 (t), Γ2 (t)[ e que Γi (t) ∈ C 0 ([0, +∞[) ∩
C 0,1
(]0, +∞[), no caso m > 1 e p ≥ 1. Com base nestes resultados, Herrero e Vazquez ([42])
deram condições para a existência de tempo de espera tw e provaram que Γi (t) ∈ C 1 (]tw , +∞[).
Demonstraram também que Γi (t) satisfaz a equação (1.7), no caso p ≥ m. Shmarev e Vazquez
([69]) provaram que a equação (1.7) também é válida para 1 < p ≤ m.
Se 0 < p < 1, a equação (1.7) deixa de ser válida, pois o suporte da solução encolhe com
o tempo e a solução extingue-se num intervalo de tempo nito, ou seja, existe te > 0 tal que
Ω(t) 6= ∅, t < te e Ω(t) = ∅, t ≥ te . A esta propriedade chamamos extinção em tempo nito
( nite time extinction ). Em ([38]), provou-se que para p < 1 e m + p > 2, Γi (t) satisfaz (1.7)
quando o domínio expande e satisfaz a equação:

1−p
Γ0i (t) = , t ∈ [0, T ] (1.9)
(u1−p )x (Γi (t), t)

quando o domínio contrai. Provou-se também que Γi é Lipschitz-contínua.


No caso limite m + p = 2, em ([40]) provou-se que Γi satisfaz a equação:

1−p
Γ0i (t) = −νx (Γi (t), t) +
(u1−p )x (Γi (t), t)

e que o domínio expande até um determinado instante e depois contrai até se extinguir num
tempo nito. Neste caso, provou-se que a fronteira é analítica.
O caso mais curioso surge quando m > 1, 0 < p < 1 e 0 < m + p < 2 onde se prova ([39]) que
a fronteira segue a equação:

1   β
Γ0i (t) = (α − (u(m−p)/2 )x )1/β (Γi (t), t),
κ(1 + β) x

(u(m−p)/2 )x (Γi (t), t) = α

com as constantes
 2−m−p
(m − p)2

m−p m−p m−p
2−m−p
α= p , κ= α , β= .
2m(m + p) 2m(1 − p)(m + p + 2) 2m m−p

Para dimensões superiores a um, Shmarev ([67, 68]) provou que se m > 1, p > 0 e m + p ≥ 2,
a velocidade da fronteira Γ(t) é dada por
 
0 m m−1
ν = Γ (t) = lim − ∇u + ∇Υ ,
x→Γ m−1

onde Υ é solução do problema elíptico seguinte, com t como parâmetro:

div(u∇Υ) = up , Υ = 0 em Γ

e provou que u e Γ são funções analíticas em t e preservam a regularidade inicial nas variáveis
espaciais. A regularidade de ν em relação às variáveis espaciais é melhor que no instante
inicial.
A procura de soluções na forma explícita é uma área importante no estudo de equações
diferenciais. Em 1952, Barenblat ([13]) deduziu e estudou uma solução de (1.6), com c = 1 e

5
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

f = 0, que simula a libertação de calor partindo de um ponto. A solução tem a forma


h 1
i m−1
−2α
u(x, t) = t−α C − κkxk2 t d ,
+

onde as constantes são:


d α(m − 1)
α= ,κ= ,
d(m − 1) + 2 2md
k·k denota a norma euclidiana de Rd e [·]+ a parte positiva. Esta solução é usualmente rotulada
de solução do tipo fonte ( source-type solution ) pelo facto de utilizar como dados iniciais
a função de Dirac. O estudo desta função mostra muitas das propriedades de que temos estado
a falar. A solução tem suporte compacto em cada instante xo. A fronteira é analítica, dada
implicitamente pela equação:
t = ckxkd(m−1)+2

e move-se com velocidade nita.


Se zermos uma transformação adequada no tempo e no espaço em u, a nova função,
também denotada por u, ainda é solução do problema [73]. Deste modo, obtém-se uma solução
da forma h 1
i m−1
−2α
u(x, t) = (T − t)−α C + κkxk2 (T − t) d ,
+

com propriedades diferentes. Esta solução não é limitada, tende para in nito quando t → T − .
Para o problema (1.8) em dimensão um, Kersner ([48]) encontrou uma solução explícita para
m > 1, 0 < p < 1 e m + p = 2 da forma:
 1
 m−1
m−1 h 2
i
u(x, t) = Ct m+1 − (m + 1)2 t2 − x2 .
2m(m + 1)t +

Para dimensões superiores a um, e no caso m = 2, p = 1, é possível obter soluções explícitas


para o problema (1.8) da forma:
 21
kxk2

− 2
u(x, t) = 2 6(e2t − 1)et 3 − .
3(e2t − 1) +

Um problema do tipo (1.3) foi primeiro estudado por Antontsev e Shmarev [4], para γ depen-
dente das variáveis espaciais e do tempo. Nesse artigo foi tratado o problema com f = f (x, t)
e −1 < γ − ≤ γ(x, t) ≤ γ + < ∞. Provaram que se
Z T
ku0 kL∞ (Ω) + kf kL∞ (Ω) dt ≤ ∞,
0

então o problema (1.3) tem pelo menos uma solução pertencente a L∞ (0, T ; L∞ (Ω)) tal que
γ
|u| 2 ∇u ∈ L2 (0, T ; L2 (Ω)) e ut ∈ L2 (0, T ; H0−1 (Ω)). No caso γ − > 0, os autores conseguiram
provar que se supx∈Ω̄ |∇γ| ∈ L2 (]0, T ]), então a solução é única e no caso γ + ≤ 0, tem-se que
k∇ukL2 (ΩT ) ≤ C. Antontsev e Shmarev estudaram também as propriedade físicas das soluções
deste tipo de problemas. Concluíram que se γ é contínuo e positivo, então u possui a propri-
edade de propagação com velocidade nita. Estabeleceram ainda condições a impor a u0 e f
su cientes para que exista tempo de espera. Eles provaram que se γ + < 0, então u tem a
propriedade de extinção em tempo nito. Mais tarde, em [5], Antontsev e Shmarev demons-
traram a existência e unicidade de solução fraca para um problema mais geral considerando
f = b|u|γ(x,t)/2 ∇u − c|u|σ(x,t)−2 u + d.

6
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

Em 2006, Henriques e Urbano ([41]) provaram que as soluções de (1.3), com γ − > 0, são lo-
calmente contínuas demonstrando que é possível de nir uma sequência de cilindros encaixados
Qn e uma sequência wn convergente para zero tais que:

ess sup u − ess inf u ≤ wn ,


Qn Qn

o que implica a continuidade local.


Tomando por base o trabalho de Antontsev e Shmarev [4], Lian, Gao, Cao e Yuan ([54])
estudaram o problema (1.3) com f = g(x, t) − |u|σ(x,t)−1 u, −1 < γ − ≤ γ(x, t) ≤ γ + < ∞ e
0 < σ − ≤ σ(x, t) ≤ σ + < ∞ e provaram que, neste caso, se mantêm os resultados de existência,
unicidade e regularidade das soluções fracas obtidos em [4], mas só demonstraram a unicidade
no caso σ − > 1. Concluíram também que se σ + < 1, g = 0, u0 ≥ 0 e supΩ̄T |∇γ| ≤ C, então as
soluções têm a propriedade de extinção em tempo nito.
Para as equações do tipo degenerado, muitas das técnicas dos elementos nitos existentes
não funcionam bem. As estimativas do erro e da ordem de convergência são geralmente inferi-
ores ao ótimo e, muitas vezes, a ordem de convergência tende para zero para alguns valores de
certos parâmetros ( por exemplo m → ∞). Além disso, há discrepâncias entre a regularidade
exigida para se obter os majorantes e a regularidade máxima conhecida para os respectivos
dados iniciais.
A primeira estimativa do erro, para um esquema completamente discreto aplicado à PME

ut = div(|u|m ∇u), m ≥ 1,

foi obtida por Rose ([64]) que utilizou um esquema regularizado, substituindo o coe ciente de
difusão |u|m por um novo coe ciente da forma aε (u) que satisfaz as condições:

R


 aε (α) ∈ C 4 ( ), ε ∈]0, 1]

m
 aε (α) = |α| , α≥ε



aε (α) ≥ ε/2, α≥0 .

a0ε (α) ≥ 0, α≥0


R



aε (−α) = aε (α), α∈

Rose aplicou, ao problema regularizado, o método dos elementos nitos de Galerkin contínuo
com aproximações lineares no espaço e o método de Euler regressivo no tempo. Escolhendo
2
0 < ε ≤ Ch m+1 , conseguiu provar uma estimativa da forma
1
! m+2
X 1 κ 2
δ ku(tn ) − Un km+2
Lm+2 (Ω) ≤ C(δ m+1 + (ln(1/h)) (m+1)(m+2) h m+1 ),
n

para dimensões 1, 2 e 3, supondo que ut ∈ L m+2 (0, T ; L m+2 (Ω)) e que a triangulação é quase
m+1 m+1
uniforme. Para dimensão 1, κ = 0, para dimensão 2 e 3, κ = 1.
Nochetto e Verdi ([59]) estudaram a equação:

1
ut = ∆v, u ∈ k(v) = v m

e utilizaram um esquema regularizado totalmente discreto da forma

1
(Un − Un−1 , χ) + (∇Vn , ∇χ) = 0 χ ∈ Sh , n ≥ 1,
δ

7
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres


 min(s/ε, k(s)), s > 0

Un = Πh kε (Vn ), kε (s) = 0, s=0 .

max(s/ε, k(s)), s < 0

4m 2m−2
Para δ = Ch 3m−1 e ε = Ch 3m−1 provaram a estimativa:
4m
ku − U kLm+2 (ΩT ) ≤ Ch (m+1)(3m−1) ,

que é uma melhoria em relação ao trabalho de Rose.

A equação:
1
ut = ∆v + f, u ∈ k(v) = v m

foi estudada em [65], por Rulla e Walkington, onde se utilizou o esquema:

1
(Un − Un−1 , χ) + (∇Vn , ∇χ) = (f n/2 , χ) χ ∈ Sh ,
δ

Un = Πh kε (Vn ), n ≥ 1.

Nesse artigo, provou-se a estimativa:

ku − U kL∞ (0,T ;H −1 (Ω)) + kv − V kL2 (0,T ;L2 (Ω)) ≤ C(δ + (ln(1/h))α h).

Esta estimativa é ótima em relação a δ, mas a regularidade exigida é u ser Lipschitz-contínua.

Utilizando o mesmo esquema que Nochetto e Verdi e usando uma propriedade de não dege-
nerescência na fronteira, Ebmeyer [34] provou uma estimativa do tipo

m2 +6m+8
ku − U kL2 (0,T ;L2 (Ω)) ≤ Ch 6m2 +2m ,

5m2 +4m−1
escolhendo δ ≤ Ch 3m2 +m . É de salientar que esta estimativa é limitada inferiormente por 16 ,
ao contrário das anteriores que tendiam para zero quando m tendia para in nito.

Em [75], Wei e Lefton utilizaram o esquema totalmente discreto:

1 1
(Un − Un−1 , χ) + (∇(|Un |m−1 Un ), ∇χ) = (fn , χ) χ ∈ Sh , n ≥ 1,
δ m

para aproximar as soluções da equação

ut = div(|u|m−1 ∇u) + f, m≥0

e provaram para domínios espaciais de dimensão d, a estimativa:


 1 1
 m+1
m−1
ku − U kLm+1 (0,T ;Lm+1 (Ω)) ≤ C δ 2 + h + h m (d 2m+2 +1)
1
,

quando m ≥ 1.

Mais recentemente, Ebmeyer e Liu ([35]) de niram uma nova seminorma e utilizaram o
esquema:
1
(Un − Un−1 , χ) + (∇Vn , ∇χ) = 0 χ ∈ Sh , n ≥ 1.
δ

8
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

Fazendo uso de novos resultados sobre a regularidade, provaram que:


! 21 Z
Z T Z T
|u − U | |v − V | dxdt + v − V dt ≤ C(δ + h),

0 Ω 0
H 1 (Ω)

onde v = |u|m−1 u.
Contudo, ainda não se fez um estudo sobre a convergência, análise do erro e efeitos nu-
méricos para o método dos elementos nitos, quando aplicado a equações do tipo (1.3) com
expoente variável.
Antontsev e Shmarev [4] provaram que as soluções do problema (1.3) têm a propriedade de
propagação com velocidade nita. Se a solução inicial tiver suporte compacto, então origina-se
uma fronteira livre que delimita o suporte da solução. Assim, podemos tratar o problema como
um problema de fronteira livre. Surge então o problema de calcular o domínio Ω(t) e a função
u.
Para abordar o problema em domínio livre é necessário mover a fronteira de um modo
adequado. Desta forma, é particularmente útil utilizar um método onde a malha se possa
mover com a fronteira, mas também que se adapte à solução obtida no interior.
O Método dos Elementos Finitos com malha adaptativa é amplamente utilizado para resolver
equações diferenciais, em domínios xos, que têm soluções com grandes variações no domínio.
Ficou já evidente que podem ser obtidos resultados mais precisos se a malha concentrar pontos
em regiões onde a solução precisa de maior de nição. Se houver a garantia de que o número de
elementos nitos é su ciente para descrever bem as variações da solução e o movimento dos
nós é adequado, então obtém-se um método extremamente e ciente. A principal di culdade
reside na escolha do movimento dos nós de modo a que não ocorram singularidades.
O Método dos Elementos Finitos Móveis (MEFM) de Miller e Miller [58] é uma extensão natural
do método das linhas para malhas xas. O método foi aplicado a equações do tipo:

ut = L(u),

com L um operador onde apenas surgem as derivadas espaciais. A solução procurada é da forma
X
U = U (x(t), t) = Uj (t)ψj (x(t)),
j

onde x(t) é o interpolador linear da posição dos nós da malha {Xj (t)} e ψj é a função básica de
Lagrange de grau um associada ao nó Xj . A solução e a posição dos nós são obtidos através da
minimização da norma L2 (Ω) do resíduo

Λ = Ut − L(U ).

∂Uj ∂Xj
Após aplicar a regra da cadeia e da minimização em relação a ∂t e ∂t , resultam as
equações: Z   Z
∂U ∂X
ψi − · ∇U dx = ψi L(U ) dx
Ω ∂t ∂t Ω
e Z   Z
∂U ∂X
(ψi ∇U ) − · ∇U dx = ψi ∇U L(U ) dx.
Ω ∂t ∂t Ω

Estas equações formam um sistema de equações diferenciais ordinárias que tem de ser inte-
grado no tempo considerando como valores iniciais U (0) e a posição inicial da malha. Obtemos,

9
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

deste modo, em cada instante, a solução do problema e a posição da malha. Em princípio, este
método é ótimo na norma L2 , pois minimiza o resíduo. No entanto, o problema pode tornar-se
degenerado se alguma das componentes de ∇U for contínua em algum nó e também é possível
que a malha mude de topologia, pois a medida de algum dos elementos nitos pode tornar-se
zero ou negativa. Para evitar isto, é necessário adicionar um termo de penalização que vai
tornar o sistema de equações diferenciais ordinárias bastante rígido ( stiff ) e obrigar ao uso
de um integrador mais robusto para manter a e ciência.
Mais tarde, Carlson e Miller ([16, 17]) introduziram uma função peso da forma

1
W= ,
1 + |∇U |2

às equações do sistema diferencial ordinário, cando


Z   Z
∂U ∂X
ψi − · ∇U W dx = ψi L(U )W dx
Ω ∂t ∂t Ω

e Z   Z
∂U ∂X
(ψi ∇U ) − · ∇U W dx = ψi ∇U L(U )W dx,
Ω ∂t ∂t Ω

tornando o método mais robusto e versátil.


Em 2007, Wacher e Sobey ([74]) generalizaram este método para sistemas de equações
diferenciais parciais do tipo parabólico e denominaram-no string gradient weighted .
Outra variante deste método foi estudada por Coimbra, Sereno e Rodrigues ([26]) onde uti-
lizaram funções base de grau superior a um. Mais tarde, esta variante foi aplicada a problemas
com fronteiras móveis por Robalo, Coimbra e Rodrigues ([63]).
Cada uma das técnicas anteriores lida com a degenerescência através de uma penalização
diferente.
Em dimensão um, o método é, geralmente, e ciente devolvendo soluções numéricas preci-
sas, mas em dimensões maiores, o custo computacional pode retirar alguma e ciência.
O princípio de equidistributividade introduzido por de Boor [24] já demonstrou ser um bom
meio para deduzir equações para o movimento da malha. Este princípio implica selecionar os
pontos da malha de modo que uma determinada função, dependente da solução ( geralmente
uma medida do erro), seja igualmente distribuída por todos os elementos nitos.
O método da Malha Móvel para equações diferenciais parciais (MMPDE) deduzido por Huang,
Ren e Russell [43] utiliza este princípio para deduzir vários métodos, introduzindo uma função
monitor para de nir o movimento da malha em domínios com fronteira xa. Destes, destaca-se
o MMPDE5, onde o movimento da malha é calculado resolvendo a equação:
 
∂x 1 ∂ ∂x
= m , (1.10)
∂t τ ∂ξ ∂ξ

com condições iniciais e na fronteira adequadas. τ é um parâmetro positivo e m uma matriz


de nida positiva ou escalar positivo, geralmente dependente de u (chamada matriz ou função
monitor). Em 1999, Huang e Russel ([44]) estenderam o método a duas dimensões. Para isso,
utilizaram as equações de descida máxima resultantes da minimização do funcional
Z
1
F (x) = ∇xT m∇x + ∇y T m∇y dξ
2 Ωc

e consideram x como uma aplicação entre dois domínios. Os autores provaram que a solução

10
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

existe e é regular desde que os dados iniciais e a fronteira sejam regulares. A aplicação é não
singular, mas a malha pode tornar-se bastante distorcida ( skewed ). A solução do problema
inicial e a posição dos nós são calculados separadamente em cada intervalo ]tn−1 − tn ]. Foram
simulados diversos problemas com diferentes funções monitor, mas revelou-se difícil encontrar
uma função, no caso geral, que satisfaça todas as necessidade de adaptação.

O método de Baines, Hubbard e Jimack ([11, 10, 12]) utiliza a lei da conservação geomé-
trica, na sua forma integral, para calcular as velocidades. A malha é acoplada com a solução
e é movida, em cada instante, de forma a procurar conservar no tempo o integral de uma
função monitor igualmente distribuído pelos elementos nitos. A equação diferencial parcial é
utilizada com a versão euleriana da equação da conservação para gerar o campo de velocida-
des, que depois é usado para mover a malha na versão lagrangeana. Nos casos mais simples,
a solução da equação diferencial parcial pode ser reconstruída, à posteriori, através da ver-
são lagrangeana da lei de conservação. Nos casos mais complexos, pode-se utilizar a versão
lagrangeana da equação diferencial parcial. Este método foi aplicado com sucesso a equações
com fronteiras móveis e livres obtendo-se resultados precisos tanto para a solução como para
a posição da fronteira. Recentemente, Marlow, Hubbard e Jimack ([57]) aplicaram o método
a problemas com fronteira móvel e utilizaram, para mover os pontos na fronteira, uma função
monitor que podia ser diferente da função monitor utilizada para mover os pontos interiores.

Neste trabalho, estendem-se os resultados de Rose para o caso do expoente depender das
variáveis espaciais e os resultados de Baines, Hubbard e Jimack para o caso de problemas em
domínios com fronteira livre.

O segundo problema com fronteira livre a ser estudado aqui surge da biologia. Pretende-se
estudar a difusão de uma população (por exemplo de bactérias). Neste caso, é razoável supor
que a mobilidade no meio depende do quanto populoso ele está. Este problema pode ser
modelado pela equação (1.1) onde a depende do total da população nesse domínio Ω, isto é,
Z
a = a(l(u)), com l(u) = u(x, t) dx,

ou da população numa região especí ca Ω0 ⊂ Ω. Ou seja, os movimentos são guiados conside-


rando o estado global do meio. O problema é não local, no sentido em que o termo de difusão
é determinado por uma quantidade global.

Considere-se um sistema não linear do tipo reação-difusão, num domínio limitado e com
termos de difusão não lineares aplicados a funcionais lineares li , da forma
(
ut − a1 (l1 (u), l2 (v))∆u + λ1 |u|p−2 u = f1 (x, t) em Ω×]0, T ]
. (1.11)
vt − a2 (l1 (u), l2 (v))∆v + λ2 |v|p−2 v = f2 (x, t) em Ω×]0, T ]

Neste caso, u e v podem descrever a densidade de duas populações que interagem através das
funções a1 e a2 . Supõe-se que a taxa de mortalidade na espécie u é proporcional a |u|p−2 u com
o factor λ1 ≥ 0 e, na espécie v, é proporcional a |v|p−2 v com o fator λ2 ≥ 0. É assumido que
p ≥ 1. f1 e f2 representam as in uências por fontes externas.

Este tipo de termo de difusão foi proposto por Chipot e Rodrigues em 1992 [20] para pro-
blemas elípticos. Nesse trabalho os autores provaram a existência de soluções fracas e que a
unicidade não se veri ca no caso geral.

Mais tarde, Chipot e Lovat [18, 19] estudaram a existência e unicidade de soluções para

11
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

problemas não locais da forma



 ut − a(l(u))∆u = f (x, t)
 em ΩT
u(x, t) = 0 em ΓT , (1.12)

u(x, 0) = u0 (x) em Ω

onde Ω é um subconjunto, aberto e limitado, de Rd, d ≥ 1, com fronteira suave ∂Ω; T é um


instante de tempo arbitrário e a é uma função de R em ]0, +∞[. No problema (1.12), a e f são
funções contínuas, l : L2 (Ω) → R é uma forma linear contínua e a é Lipschitz-contínua. Chipot
e Lovat estudaram também o comportamento assintótico das soluções.

Em 2004, Corrêa, Menezes e Ferreira [22] estenderam os resultados obtidos por Chipot e
Lovat, considerando a = a(l(u)) e f = f (x, u) funções contínuas. De facto, em [22], os autores
melhoraram os resultados dos trabalhos [20, 18, 19] considerando tanto o caso estacionário
como o caso evolutivo onde a não linearidade aparece, não só no operador u → a(l(u))∆u, mas
também na função não linear f do segundo membro.

No caso dos sistemas, a maioria dos autores assume que a matriz a de difusão é diagonal,
cando o acoplamento entre as equações apenas no termo reativo f . No entanto, a difusão
cruzada pode existir, veja-se por exemplo Oliveira [25] e as respectivas referências. Oliveira
considerou um sistema de reação-difusão onde a é uma matriz real ne × ne não diagonizável e
f: Rne → Rne é uma função de classe C 2.
Raposo et al. [62], em 2008, estudaram o sistema de reação-difusão da forma
(
ut − a(l(u))∆u + f (u − v) = α(u − v) em Ω×]0, T ]
,
vt − a(l(v))∆v − f (u − v) = α(v − u) em Ω×]0, T ]

com a(l) > 0, f funções Lipschitz-contínuas, l uma forma linear contínua e α uma constante
positiva e provaram a existência, unicidade e decaimento exponencial das soluções fracas.

Recentemente, Simsen e Ferreira [71] estudaram o problema de reação-difusão da forma



p−2
 ut − a(l(u))∆u + |u| u = f (u)
 em Ω×]0, T ]
u(x, t) = 0 em ∂Ω×]0, T ] ,

u(x, 0) = u0 (x) em Ω

com p ≥ 2. Os autores investigaram a existência, unicidade e continuidade em relação aos dados


iniciais das soluções fracas e provaram a estabilidade exponencial, a continuidade conjunta
das soluções fracas e apresentaram um importante resultado sobre a existência de um atrator
global.

Há poucos estudos sobre a aproximação numérica de problemas não locais e os que existem
são bastante restritos a condições de fronteira não locais ou termos de reação não locais.

Yin e Xu [76] aplicaram o método dos volumes nitos para aproximar soluções de um pro-
blema não local em escoamentos reativos em meios porosos e deduziram ordens de convergên-
cia ótimas na norma L2 .

Sidi Ammi e Torres [70] propuseram a aplicação do método dos elementos nitos no espaço
e os métodos de Euler ou Crank Nickolson no tempo para uma discretização completa de um
problema não local resultante do estudo da temperatura num termistor. Os autores provaram
ordens de convergência ótimas na norma L2 .

12
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

Em 2000, Ackleh e Ke [1] estudaram o problema:



 ut =

 R 1
a( Ω u dx)
∆u + f (u) em Ω×]0, T ]
u(x, t) = 0 em ∂Ω×]0, T ] ,

em

 u(x, 0) = u (x)
0 Ω

com a(l) > 0 para todo l 6= 0, a(0) ≥ 0 e f Lipschitz-contínua satisfazendo f (0) = 0 e provaram
a existência e unicidade de soluções fracas. Deram também condições em u0 para a extinção
em tempo nito ou persistência no tempo e propuseram um esquema de diferenças nitas para
estudarem o comportamento das soluções.
Em [62], os autores também realizaram simulações numéricas para comparar o comporta-
mento das soluções do problema com coe ciente de difusão constante, com o comportamento
das soluções do problema não local, e este último com o de Ackleh e Ke [1]. Utilizaram um es-
quema implícito de diferenças nitas em dimensão um e de volumes nitos ([37]) em dimensão
dois, nas variáveis espaciais.
Até à data ainda não foi feito um estudo da convergência do método dos elementos nitos
de Euler-Galerkin quando aplicado ao sistema (1.11). Uma vez que o problema ainda não foi es-
tudado por outros autores, também não foram provadas a existência, unicidade e propriedades
físicas das soluções globais deste tipo de sistemas.
Os resultados apresentados neste trabalho estendem os de Chipot e Lovart, Corrêa, Menezes
e Ferreira, Raposo et al. e Simsen e Ferreira para sistemas não locais e provam novos resultados
sobre as propriedades das soluções.
Este trabalho está organizado da seguinte forma: no capítulo 2, são de nidos alguns con-
ceitos básicos e notações e enunciados alguns resultados conhecidos que irão ser utilizados nos
capítulos seguintes. É também relembrado o método dos elementos nitos de Galerkin e as suas
principais propriedades. No capítulo 3, estuda-se a equação em meios porosos com expoente
variável. Em domínio xo, de ne-se um problema regularizado introduzindo um parâmetro ε.
Demonstram-se estimativas para a solução do problema regularizado em função de ε e prova-se
a convergência deste para o problema inicial quando ε tende para zero. Neste capítulo, tam-
bém é deduzida a ordem de convergência do método dos elementos nitos de Galerkin quando
aplicado ao problema regularizado. São ainda apresentados exemplos de implementação, em
Matlab, do método. No domínio livre, o problema é abordado numa nova formulação onde
se deduz uma equação para o movimento da fronteira. Para a malha evoluir com o domínio,
constrói-se uma malha adaptável e discretizam-se a equação do problema e a equação do mo-
vimento da fronteira nessa malha. Para testar o método, são apresentados exemplos da sua
aplicação a problemas concretos. O sistema não linear com termo de difusão não local é tra-
tado no capítulo 4 onde se formula o problema e as hipóteses sobre os dados do problema; se
prova a existência e unicidade de soluções fortes globais no tempo; se estudam também as pro-
priedades de localização e comportamento assintótico das soluções; se discretiza o problema
no espaço e tempo e se provam estimativas do erro e ordem de convergência para as soluções
discretas. O capítulo termina com a apresentação de exemplos de implementação do método
em Matlab.
Alguns dos resultados obtidos, no estudo feito para a elaboração desta tese, foram apre-
sentados pelo autor em vários seminários e workshops na Universidade da Beira Interior e no
Centro de Matemática e Aplicações Fundamentais da Universidade de Lisboa. O autor partici-
pou também nos congressos internacionais: International Conference on Engineering UBI2011
que teve lugar na Covilhã, Portugal, em 2011; 6th Workshop on Statistics, Mathematics and

13
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

Computation realizado na Covilhã, Portugal, em 2012 e 5th International Conference on ap-


proximation Methods and Numerical Modeling in Environment and Natural Resources realizado
em Granada, Espanha, em 2013, onde fez apresentações orais, que posteriormente foram publi-
cadas nos respectivos livros de resumos [27, 28, 31]. Foram ainda submetidos para publicação
em revistas da área as pré-publicações [30, 29, 32, 33], sendo que [29] já foi aceite, após
revisão, e aguarda publicação na revista SIAM Journal on Numerical Analysis.

14
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

Capítulo 2

De nições e Teoremas Fundamentais

Neste capítulo introduzem-se as noções matemáticas e as notações usadas ao longo do traba-


lho. São incluídos resultados clássicos bem conhecidos da Análise. No entanto, ao enunciá-los
aqui, torna a leitura do trabalho mais confortável. Os resultados são apenas enunciados, pois as
demonstrações estão em grande parte dos manuais de Análise Matemática e Análise Funcional
(ver resumos em [36] e [60], por exemplo).
Apresentam-se, também, alguns dos aspetos mais relevantes do MEF e sua aplicação a uma
EDP colocada na formulação fraca sobre um espaço S. O MEF aproxima o problema por outro
problema, chamado problema discreto, de nido num espaço de dimensão nita Shr
δs
⊂ S. Neste
capítulo, constrói-se o espaço Shr
δs
e deduzem-se algumas propriedades dos elementos que o
compõem (ver [21] e [72] para mais detalhes).
Para nalizar, relembra-se a quadratura de Gauss-Legendre para triângulos, que vai ser
utilizada para calcular os integrais que surgem na implementação dos métodos.

2.1 Desigualdades elementares


De seguida, apresentam-se algumas desigualdades fundamentais que são muitas vezes usadas
nas demonstrações. Ao longo deste trabalho, denotam-se as constantes simplesmente por C,
independentemente do seu valor.

Lema 2.1 (Cauchy) Sejam a, b ≥ 0 e  > 0 números reais, então

a2 b2
ab ≤ + .
2 2

Lema 2.2 (Young) Sejam a, b ≥ 0, 1 < p, p0 < +∞ e  > 0 números reais, então
0 0
ap 1−p bp 1 1
ab ≤ + , + = 1.
p p0 p p0

Lema 2.3 Sejam a, b ∈ R, a 6= b e n > 0, então


|a|n a − |b|n b
≥ C|a − b|n ,
a−b

onde C depende apenas de n.

Demonstração
Suponha-se que a > b, então
a−b n Z a−b
Z a Z
η + a + b dη ≥ (n + 1)
2 2
|a|n a − |b|n b = (n + 1) |ξ|n dξ = (n + 1)

|η|n dη =
b − a−b
2
2 a−b
− 2

a−b
a − b n a − b
Z
2 n+1 n
= 2(n + 1) |η|n dη = 2(n + 1) = |a − b| (a − b).
0 2 2 2n

15
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

Para o caso b > a obtém-se

n+1 n
|a|n a − |b|n b ≤ |a − b| (a − b).
2n

Em ambos os casos, obtém-se o pretendido dividindo ambos os membros da desigualdade


por a − b. 

Lema 2.4 Sejam a, b ∈ R e p ≥ 2, então existe uma constante C > 0, apenas dependente de p,
tal que
p−2 p−2 p−2
|x| x − |y| y ≤ C (|x| + |y|) |x − y| .

Demonstração
Para p ≥ 2, a função g(z) = |z|p−2 z é contínua e diferenciável em R, com g0(z) = (p −
1)|z|p−2 . Pelo teorema do valor médio de Lagrange, existe ϑ entre a e b tal que

g(x) − g(y) = g 0 (ϑ)(x − y) ⇔ |x|p−2 x − |y|p−2 y = (p − 1)|ϑ|p−2 (x − y). (2.1)

Se se escrever ϑ = x + (y − x) com  ∈ [0, 1], então

|ϑ|p−2 ≤ (|x| + |y − x|)p−2 ≤ 2p−2 (|x| + |y|)p−2 .

Substituindo esta desigualdade no módulo de (2.1), obtém-se a estimativa desejada com


C = (p − 1)2p−2 > 0. 

2.2 De nições e conceitos básicos

Se A e B são dois conjuntos e f é uma função de nida em A, com valores em B, então


escreve-se f : A → B. Se M ⊂ A, f|M denota a restrição de f em M . A composição de funções
é representada por f ◦ g e de nida por (f ◦ g)(x) = f (g(x)).

De nição 2.5 (Conjunto limitado) Um conjunto M ⊂ X é limitado se existirem x ∈ X e r > 0


tais que M ⊂ Br (x)

De nição 2.6 (Sucessão limitada) Uma sucessão {xn }∞


n=1 ⊂ X é limitada se existir K > 0 tal
que kxn k ≤ K, ∀n ∈ N
De nição 2.7 (Interior) Um ponto a ∈ M é ponto interior se existir r > 0 tal que Br (a) ⊂ M .
O conjunto dos pontos interiores de M diz-se o interior de M e denota-se por int(M ).
O conjunto M é aberto se M = int(M ).

De nição 2.8 (Convergência forte) Uma sucessão {xk }∞


k=1 ⊂ X converge ( fortemente ) para
x ∈ X, quando k tende para ∞, se

lim kxk − xkX = 0.


k→∞

Neste caso, escreve-se


lim xk = x, ou simplesmente xk → x.
k→∞

16
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

De nição 2.9 (Fecho) O fecho do conjunto M ⊂ X é o conjunto M̄ de nido por:

M̄ = {x ∈ X : existe uma sucessão {xk } ⊂ M tal que xk → x}.

O conjunto M é fechado se M = M̄ .

De nição 2.10 (Fronteira) O conjunto

∂M = M̄ ∩ (X \ M )

é chamado a fronteira de M .

De nição 2.11 (Conjunto conexo) Um conjunto aberto Ω ∈ Rd é dito conexo se dois quaisquer
pontos de Ω poderem ser unidos por uma linha poligonal totalmente contida em Ω.

De nição 2.12 (Domínio) Um domínio é um conjunto aberto e conexo.

De nição 2.13 (Continuidade forte) Uma função f : X → Y é contínua em a ∈ X se para


qualquer ε > 0 existe δ > 0, tal que:

kx − akX < δ ⇒ kf (x) − f (a)kY < ε.

De nição 2.14 (Hölder-continuidade, Lipschitz-continuidade) Uma função f : X → Y , é Höl-


der-contínua com expoente µ ∈]0, 1] se existir uma constante C, tal que:

kf (a) − f (b)kY ≤ Cka − bkµX , a, b ∈ X.

Se µ = 1 diz-se que f é Lipschitz-contínua.


Se Ω ⊂ Rd é aberto, então C k,µ(Ω) denota o conjunto das funções de C k (Ω) cuja derivada
de ordem k é Hölder-contínua em Ω, com expoente µ.

De nição 2.15 (Derivada forte (clássica)) Seja f : Rn → R uma função contínua em x, então
de ne-se derivada parcial de f em relação à coordenada i:

∂f f (x + hei ) − f (x)
(x) = lim .
∂xi h→0 h

De nição 2.16 (C k (Ω)) Para k ∈ N e Ω ⊂ Rn, C k (Ω) representa o conjunto de todas as funções
de nidas em Ω e que têm todas as derivadas até à ordem k contínuas em Ω.

De nição 2.17 (Conjunto convexo) O conjunto M é dito convexo se dois quaisquer pontos do
conjunto poderem ser unidos por um segmento totalmente contido no conjunto, ou seja,

a, b ∈ M, λ ∈ [0, 1] ⇒ λa + (1 − λ)b ∈ M.

De nição 2.18 (Função convexa) Seja Ω um conjunto convexo, uma função f de nida em Ω é
dita convexa se

f (a + τ (b − a)) ≤ f (a) + τ (f (b) − f (a)), ∀a, b ∈ Ω, τ ∈ [0, 1]

e diz-se estritamente convexa se

f (a + τ (b − a)) < f (a) + τ (f (b) − f (a)), ∀a, b ∈ Ω, τ ∈ [0, 1].

17
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

Um funcional linear contínuo de nido num espaço linear normado X é uma aplicação linear
contínua f : X → X. Para denotar o valor de f em u ∈ X utiliza-se a notação f (u) ou hf, ui.

De nição 2.19 (Dual) O conjunto de todos os funcionais lineares contínuos em X é chamado


dual de X e denotado por X ∗ .

Proposição 2.20 O conjunto X ∗ , com a norma

|hf, ui|
kf kX ∗ = sup , f ∈ X ∗,
u∈X kukX
u6=0

é um espaço de Banach.

De nição 2.21 (Espaço re exivo) Um espaço de Banach X diz-se re exivo se (X ∗ )∗ = X.

De nição 2.22 (Convergência fraca) Seja X um espaço linear normado e {un } ∈ X, diz-se
que {un } converge fracamente para u ∈ X se

lim f (un ) = f (u), ∀f ∈ X ∗ .


n→∞

Neste caso, escreve-se un * u.

Teorema 2.23 Se un → u em X, então un * u em X.

Teorema 2.24 Se X é um espaço de Banach e {un } ∈ X converge fracamente para u ∈ X,


então {un } é limitada.

De nição 2.25 (Operador compacto) Um operador linear limitado A : X → Y é dito compacto


se para cada sucessão limitada {un }∞
n=1 ∈ X existe uma subsucessão {unk }k=1 ∈ {un }n=1 ∈ X,
∞ ∞

tal que {A(unk )} converge fortemente em Y .

Observação 2.26 Um operador compacto também pode ser denominado operador linear com-
pletamente contínuo.

De nição 2.27 (Convergência fraca *) Seja X um espaço linear normado, X ∗ o dual de X e



n=1 ⊂ X . Diz-se que fn converge fracamente-*, e escreve-se fn * f , se
{fn }∞ ∗

lim fn (u) = f (u), ∀u ∈ X.


n→∞

De nição 2.28 (Fronteira Lipschitz-contínua) Seja Ω ⊂ Rd um domínio limitado. A fronteira


de Ω, ∂Ω é dita Lipschitz-contínua se existirem constantes α > 0, β > 0, um número nito de
sistemas de coordenadas locais xk1 , . . . , xkd e funções Lipschitz-contínuas

gk : Mk = {x̂k = (xk2 , . . . , xkd ) ∈ Rd−1 : kx̂k k < α} → R, k = 1, . . . , K


tais que:
k=1 Λk ,
∂Ω = ∪K
Λk = {(xk1 , x̂k ) : xk1 = gk (x̂k ), kx̂k k < α},
{(xk1 , x̂k ) : gk (x̂k ) < xk1 < gk (x̂k ) + β, kx̂k k < α} ⊂ Ω, k = 1, . . . , K,
{(xk1 , x̂k ) : gk (x̂k ) − β < xk1 < gk (x̂k ), kx̂k k < α} ⊂ Rd \ Ω̄, k = 1, . . . , K.

Observação 2.29 Por vezes, refere-se um domínio com fronteira Lipschitz-contínua apenas
por domínio Lipschitz.
Se gk ∈ C ϑ , para todo k = 1, . . . , k, então diz-se que ∂Ω ∈ C ϑ .

18
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

2.3 Distribuições

Seja Ω um domínio de Rd.


De nição 2.30 (C0∞ (Ω)) De ne-se por C0∞ (Ω) o espaço linear das funções v ∈ C ∞ (Ω̄) cujo
suporte
supp v = {x : v(x) 6= 0}

é um conjunto compacto de Ω.

Denota-se por D0 (Ω) o dual de D(Ω) = C0∞ (Ω).

De nição 2.31 (Distribuição) Os elementos de D0 (Ω) são chamados funções generalizadas ou


distribuições.

Seja α= (α1 , . . . , αn ) ∈ Nn, considera-se |α| = Pni=1 αi.


De nição 2.32 (Derivada distributiva) Uma distribuição Dα f ∈ D0 (Ω) é dita derivada distri-
butiva ( ou generalizada ) de ordem α da distribuição f ∈ D0 (Ω) se

hDα f, vi = (−1)|α| hf, Dα vi, ∀v ∈ D(Ω).

Observação 2.33 Toda a distribuição tem derivada de qualquer ordem.

Observação 2.34 As derivadas distributivas, até à ordem k, de uma função f ∈ C k (Ω̄) são
iguais às derivadas clássicas de f , por isso denotar-se-á por

∂ |α| f
,
∂xα
1
1
. . . xα
n
n

tanto a derivada distributiva como a derivada clássica.

O estudo costuma ser feito num conjunto Ω(t) e num intervalo de tempo ]t0 , T ], T > t0 . A
função u está então de nida em

ΩT = {(x, t)|x ∈ Ω(t), t ∈]t0 , T ]} ⊂ Rd+1,


(se Ω(t) = Ω é independente do tempo, t, então ΩT = Ω×]t0 , T [).
Considere-se a função u = u(x, t) de nida no conjunto ΩT , então as derivadas parciais ( no
sentido clássico ou generalizado) de 1a ordem são denotadas por ∂u
∂xi e ∂u
∂t = ut . Se ∂u ∂u
∂x1 , . . . , ∂xd
são as derivadas parciais em relação às variáveis espaciais então, denota-se por

∂u ∂u
∇u = ( ,..., )
∂x1 ∂xd

o vetor gradiente e por  


∂ ∂
∇= ,...,
∂x1 ∂xd
o operador gradiente.

d
X ∂2f
∆u =
i=1
∂x2i

19
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

∂2f
denota o laplaciano de f , onde ∂x2i
é a derivada de segunda ordem de f em relação a xi .
Se f = (f1 , . . . , fd ), então o divergente de f é de nido por

d
X ∂fi
div f = .
i=1
∂xi

2.4 Espaços de Lebesgue

Seja A ⊆ Rd um conjunto mensurável à Lebesgue. Denota-se por |A| = meas(A) a medida


de Lebesgue de A.
Diz-se que duas funções, f1 e f2 , mensuráveis de nidas em A, são equivalentes se diferirem
num conjunto de medida nula. Neste caso, escreve-se f1 = f2 qtp ( quase em toda a parte ) em
A ou f1 (x) = f2 (x) pqt (para quase todo) x ∈ A.

De nição 2.35 (Espaço Lp ) Para p ∈ [1, +∞[, Lp (A) é o espaço linear de todas as ( classes de
equivalência das ) funções u mensuráveis em A para as quais
Z
|u|p dx < ∞.
A

Proposição 2.36 O espaço Lp (A) equipado com a norma

Z  p1
p
kukLp (A) = |u(x)| dx , 1 ≤ p < ∞,
A

é um espaço de Banach.

De nição 2.37 (Espaço L∞ ) L∞ (A) é o espaço linear de todas as (classes de equivalência das)
funções u mensuráveis em A para as quais:

ess sup(u) = inf{ sup |u(x)| : Z ⊂ A, meas(Z) = 0} < ∞.


x∈A\Z

Proposição 2.38 O espaço L∞ (A), equipado com a norma:

kukL∞ (A) = ess sup(u),

é um espaço de Banach.

Proposição 2.39 Os espaços Lp (X) têm as seguintes propriedades:

1. Se Ω ⊂ X é um domínio, então C0∞ (Ω) é denso em Lp (Ω), 1 ≤ p < ∞.

2. (Desigualdade de Minkowski)

ku + vkLp (X) ≤ kukLp (X) + kvkLp (X) , ∀u, v ∈ Lp (X), 1 ≤ p ≤ +∞.

3. (Desigualdade de Hölder)
Z
1 1
|u(x)v(x)| dx ≤ kukLp (X) kvkLp0 (X) , 1 ≤ p, p0 ≤ +∞, + = 1, ∀u ∈ Lp (X), v ∈ Lp0 (X).
G p p0

20
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

4. O espaço L2 (X) é um espaço de Hilbert com o produto escalar


Z
(u, v) = uv dx, u, v ∈ L2 (X).
X

5. Se meas(X) < ∞ e 1 ≤ p ≤ q ≤ ∞, então Lq (X) ⊂ Lp (X) e

1 1
kukLp (X) ≤ (meas(X)) p − q kukLq (X) , ∀u ∈ Lp (X).

6. Sejam 1 ≤ p ≤ r ≤ q ≤ +∞ e 1
r = α
p + q ,
1−α
0 ≤ α ≤ 1, e u ∈ Lp (X) ∩ Lq (X) então
u ∈ Lr (X) e
1−α
kukLr (X) ≤ kukα
Lp (X) kukLq (X) .

De nição 2.40 Diz-se que u ∈ Lloc


p (X) se u|A ∈ Lp (A) para todo o conjunto limitado A ⊂ X,
tal que Ā ⊂ X.

Teorema 2.41 Seja 1 ≤ p ≤ ∞. Se un → u em Lp (X), então existe uma subsucessão {unk }∞


k=1
tal que unk → u pqt x ∈ X.

Lema 2.42 Seja A um aberto limitado de Rd, gk e g funções de Lq (A), 1 < q < ∞ tais que:
kgk kLq (A) ≤ C, gk → g, qtp em A,

então gk * g em Lq (A).

2.5 Espaços de Sobolev


De nição 2.43 (W k,p (Ω)) Seja k ≥ 0 um inteiro e 1 ≤ p ≤ ∞. Denota-se por W k,p (Ω) o espaço
de todas as funções u ∈ Lp (Ω), tais que as suas derivadas distributivas até à ordem k são
também elementos de Lp (Ω), ou seja,

W k,p (Ω) = {u : Dα u ∈ Lp (Ω), |α| = 0, . . . , k}.

O espaço W k,p (Ω) pode ser equipado com a norma


  p1
k
X
kukW k,p (Ω) =  kDα ukpLp (Ω)  , para 1 ≤ p < ∞
|α|=0

e
k
X
kukW k,∞ (Ω) = ess sup |Dα u|.

|α|=0

De ne-se também em W k,p (Ω) a seminorma


  p1
X
|u|W k,p,j (Ω) =  kDα ukpLp (Ω)  , para 1 ≤ p < ∞, e 0 ≤ j ≤ k.
|α|=j

Proposição 2.44 Os espaços W k,p têm as seguintes propriedades:

1. Para 1 ≤ p ≤ ∞, W k,p (Ω) é um espaço de Banach.

21
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

2. O espaço H k (Ω) = W k,2 (Ω) é um espaço de Hilbert com o produto escalar

Z k
X
(u, v) = Dα uDα v dx.
Ω |α|=0

3. Para 1 ≤ p < ∞, C ∞ (Ω̄) é denso em W k,p (Ω).

De nição 2.45 (W0k,p (Ω))


W0k,p (Ω) = C0∞ (Ω) em W k,p (Ω).

Neste trabalho, interpreta-se W0k,p (Ω) como o conjunto das funções u ∈ W k,p (Ω) tais que
Dα u = 0 em ∂Ω para todo |α| ≤ k − 1. Denota-se também H0k (Ω) = W0k,2 (Ω)

Observação 2.46 |.|W k,p,k (Ω) é uma norma em W0k,p (Ω). Em particular, denota-se

Z  12
kukH01 (Ω) = |∇u|2 dx .

Observação 2.47
Lp (Ω) = W 0,p (Ω) ⊃ W 1,p (Ω) ⊃ W 2,p (Ω) ⊃ . . . .
0 0
De nição 2.48 (W −k,p (Ω)) Se 1 ≤ p < ∞, denota-se por W −k,p (Ω) o espaço dual de W0k,p (Ω),
1
p + 1
p0 = 1, e por H0−k (Ω) o dual de H k (Ω).

2.6 Imersões
De nição 2.49 Sejam X ⊂ Y dois espaços lineares normados, com as normas k · kX e k · kY
respetivamente. De ne-se o operador identidade por:

I:X → Y
.
u 7→ I(u) = u

De nição 2.50 (Imersão contínua) Se I é contínuo, então diz-se que é uma imersão contínua
de X em Y e escreve-se X ,→ Y.

Proposição 2.51 A continuidade da imersão I é equivalente à existência de uma constante


C > 0 tal que:
kukY ≤ CkukX , ∀u ∈ X.

De nição 2.52 (Imersão compacta) Se I é completamente contínuo, então diz-se que I é uma
imersão compacta e escreve-se X ,→,→ Y .

Teorema 2.53 Sejam X e Y dois espaços lineares normados, então

X ,→ Y ⇒ Y ∗ ,→ X ∗

e
X ,→,→ Y ⇒ Y ∗ ,→,→ X ∗ .

Teorema 2.54 Sejam k ≥ 0, 1 ≤ p ≤ ∞ e Ω um domínio de Lipschitz e limitado.

22
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

Se k < dp , então W k,p (Ω) ,→ Lq (Ω), onde 1


q = 1
p − kd .

Se k = dp , então W k,p (Ω) ,→ Lq (Ω) ∀q ∈ [1, ∞[.

Se d
p <k< d
p + 1, então W k,p (Ω) ,→ C 0,k−d/p (Ω̄).

Se k = d
p + 1, então W k,p (Ω) ,→ C 0,α (Ω̄) ∀α ∈]0, 1[.

Se k > d
p + 1, então W k,p (Ω) ,→ C 0,1 (Ω̄).

Teorema 2.55 Sejam k > 0, 1 ≤ p ≤ ∞ e Ω um domínio de Lipschitz e limitado.

Se k < dp , então W k,p (Ω) ,→,→ Lq (Ω) ∀q ∈ [1, p∗ [, onde 1


p∗ = 1
p − kd .

Se k = dp , então W k,p (Ω) ,→,→ Lq (Ω) ∀q ∈ [1, ∞[.

Se k > dp , então W k,p (Ω) ,→,→ C 0 (Ω̄).

Teorema 2.56 (Desigualdade de Poincaré) Se u ∈ H01 (Ω), então

kukL2 (Ω) ≤ Ck∇ukL2 (Ω) ,

onde C depende apenas de Ω.

2.7 Espaços de Bochner


As funções que descrevem problemas evolutivos são, geralmente, da forma u = u(x, t),
onde t > t0 é o tempo e x = (x1 , . . . , xd ) ∈ Rd é o espaço. Por vezes, é conveniente separar
as variáveis considerando u uma função que depende do tempo e tem valores num espaço de
Banach. Então, se u = u(x, t), considere-se a função u(t) = u(·, t) que a cada t faz corresponder
o valor u(t) que é uma função de x que pertence a um determinado espaço de funções.

De nição 2.57 (Lp (a, b; X)) Seja X um espaço de Banach. Para 1 ≤ p ≤ ∞ de ne-se Lp (a, b; X)
como sendo o espaço das funções u : [a, b] → X, tais que:
! p1
Z b
kukLp (a,b;X) = ku(t)kpX dt < ∞ para 1 ≤ p < ∞
a

e
kukL∞ (a,b;X) = ess sup ku(t)kX < ∞.
t∈[a,b]

Proposição 2.58 O espaço Lp (a, b; X) é um espaço de Banach.

De nição 2.59 Sejam a, b ∈ R, a < b e X um espaço de Banach com norma k · kX . Diz-se que a
função u : [a, b] → X é contínua num ponto t0 ∈ [a, b] se

lim ku(t) − u(t0 )kX = 0.


t→t0
t∈[a,b]

Denota-se por C 0 ([a, b], X) o conjunto de todas as funções contínuas no intervalo [a, b] e com
valores em X.

23
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

Proposição 2.60 O espaço C 0 ([a, b]; X), equipado com a norma

kukC 0 ([a,b];X) = max ku(t)kX ,


t∈[a,b]

é um espaço de Banach.

De nição 2.61 Diz-se que a função u : [a, b] → X é diferenciável no ponto t0 ∈ [a, b] se existir
w ∈ X tal que:
u(t0 + h) − u(t0 )
lim k − wkX = 0.
h→0 h
Neste caso, du
dt (t0 ) = ut (t0 ) é chamada derivada forte de u em t0 .

De nição 2.62 Uma função f ∈ L1 (a, b; X) tem derivada generalizada se existir uma função
g ∈ L1 (a, b, X) tal que:
Z b Z b

(t)f (t) dt = − ϕ(t)g(t) dt, ∀ϕ ∈ D(a, b).
a dt a

Neste caso, escreve-se df


dt = ft = g.

De nição 2.63 (W k,p (a, b; X)) Seja X um espaço de Banach. Para k = 1, 2, . . . e p ∈ [1, ∞],
de ne-se
dj f
W k,p (a, b; X) = {f ∈ Lp (a, b; X) : ∈ Lp (a, b; X), j = 1, . . . , k}.
dtj

Em W k,p (a, b; X) pode de nir-se a norma:


  p1
k j
X d f
kf kW k,p (a,b;X) = k j kpLp (a,b;X)  .
j=1
dt

Estes espaços têm as mesmas propriedades que foram enunciadas para os espaços Lp .
De uma forma semelhante, podem de nir-se os espaços C k ([a, b]; X) das funções contínuas
e diferenciáveis, em t, até à ordem k, no intervalo [a, b] e com valores em X.

De nição 2.64

dj f
C k ([a, b]; X) = {f ∈ C 0 ([a, b]; X) : ∈ C 0 ([a, b]; X), j = 1, . . . , k}.
dtj

Teorema 2.65 Se u ∈ L2 (0, T ; H01 (Ω)) e ut ∈ L2 (0, T ; H −1 (Ω)) então u ∈ C 0 ([0, T ]; L2 (Ω)).

2.8 Teoremas fundamentais

Nesta secção enunciam-se alguns teoremas que são necessários nas demonstrações, mas não
se enquadram nas secções anteriores.

Teorema 2.66 (Banach-Alaoglu) Seja X um espaço de Banach re exivo e suponha-se que a


sucessão {un }∞
n=1 ∈ X é limitada. Então existe uma subsucessão {unk }k=1 ∈ {un }n=1 ∈ X e
∞ ∞

u ∈ X tais que:
unk * u.

24
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

Teorema 2.67 (Banach-Alaoglu) Seja X um espaço de Banach re exivo e suponha-se que a


sucessão {fn }∞
n=1 ∈ X é limitada. Então existe uma subsucessão {fnk }k=1 ∈ {fn }n=1 ∈ X e
∗ ∞ ∞ ∗

f ∈ X ∗ tais que:

fnk * f.

Teorema 2.68 (Brouwer) Se f : Rd → Rd é contínua na bola fechada B%(x) e f (B%(x)) ⊂


B% (x), então existe x∗ ∈ B% (x) tal que: f (x∗ ) = x∗ .

Corolário 2.69 (Brouwer) Seja f : B% (x) → Rd contínua e (f (x), x) ≥ 0 ∀x ∈ ∂B%(x). Então,


f tem um zero.

O teorema seguinte é uma generalização do teorema de Brouwer.

Teorema 2.70 (Schauder) Seja X um espaço de Banach, M ⊂ X um conjunto não vazio, limi-
tado, fechado e convexo e seja F : M → M um operador compacto. Então existe, pelo menos,
um ponto xo u ∈ M de F .

Teorema 2.71 (Green) Seja Ω um conjunto conexo limitado com fronteira Lipschitz-contínua
e sejam u, v ∈ C 2 (Ω̄). Então
Z Z Z
v∆u dx = v∇u · n ds − ∇v · ∇u dx,
Ω ∂Ω Ω

onde n é o vetor normal unitário exterior à fronteira de Ω.

Teorema 2.72 (Gronwall) O teorema tem duas formas de ser apresentado.

Forma diferencial Suponha-se que h e r são integráveis em ]a, b[ e não negativas qtp em ]a, b[.
Se y ∈ C([a, b]), yt ∈ L1 (]a, b[) e a desigualdade seguinte é satisfeita:

yt (t) ≤ h(t) + r(t)y(t) pqt t ∈]a, b[,

então:  Z t Rs
 R
t
− r(τ ) dτ
y(t) ≤ y(a) + h(s)e a ds e a r(s) ds
.
a

Forma integral Suponha-se que h é contínua em [a, b], r integrável em ]a, b[ e h, r ≥ 0 q.t.p.
em ]a, b[. Se y é uma função contínua em [a, b] e satisfaz a inequação:
Z t
y(t) ≤ h(t) + r(s)y(s) ds, t ∈ [a, b],
a

então Z t Rt
r(τ ) dτ
y(t) ≤ h(t) + h(s)r(s)e s ds, t ∈ [a, b].
a

Lema 2.73 (Aubin-Lions) Sejam B0 , B e B1 três espaços de Banach tais que B0 e B1 são re e-
xivos de modo que B0 ,→,→ B ,→ B1 . Seja

W = {w : w ∈ Lp0 (0, T ; B0 ) e wt ∈ Lp1 (0, T ; B1 ))}

o espaço de Banach equipado com a norma

kwk = kwkLp (0,T ;B0 ) + kwt kLp (0,T ;B1 ) .


0 1

Se p0 , p1 < ∞, então W ,→,→ Lp0 (0, T ; B).

25
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

2.9 Discretização espacial


O primeiro aspeto a abordar é a construção da malha Th sobre o conjunto Ω ⊂ R2, ou
seja, o conjunto Ω é dividido num número nito de subconjuntos Tk , k = 1, . . . , nt, chamados
elementos nitos, de tal modo que as condições seguintes sejam satisfeitas:

• Ω = ∪nt
k=1 Tk ;

• int(Tk ) 6= ∅, ∀Tk ∈ Th ;
• int(Ti ) ∩ int(Tj ) = ∅, ∀Ti , Tj ∈ Th , j 6= i;
• cada lado de Tk ou pertence à fronteira de Ω ou é lado de outro Ti ∈ Th ;
• cada Tk tem fronteira Lipchitz-contínua .

Neste trabalho, utilizam-se malhas triangulares, ou seja, cada Tk é um triângulo.


Suponha-se que se tem uma malha Th sobre o conjunto Ω. Considere-se hk = diam(Tk ) =
max d(x1 , x2 ) = comprimento do maior lado de Tk e
x1 ,x2 ∈Tk

h = max{hk , k = 1, . . . , nt}.

Seja qk = sup{diam(B), B é uma bola contida em Tk }.

De nição 2.74 Uma família Th é dita regular se forem satisfeitas simultaneamente as duas
condições:

1. existir uma constante σ tal que hk


qk ≤ σ, ∀k ≥ 1,

2. h → 0.

Uma vez estabelecida a malha Th , de ne-se o espaço dos elementos nitos Shr .
Primeiro, de ne-se um espaço linear de dimensão nita Qkr da forma

Qkr = {vh |Tk : vh ∈ Shr }.

Neste trabalho, considera-se Qkr o conjunto dos polinómios de grau menor ou igual a r em x e
y e exige-se que vh seja contínua em Ω e se anule na fronteira de Ω. Resumindo, de ne-se

Shr = {w = wh (x) ∈ C00 (Ω̄)|wh|Tk é um polinómio de grau r ∀Tk ∈ Th }.

Teorema 2.75 Se Qkr ⊂ H 1 (Tk ), ∀Tk ∈ Th e Shr ⊂ C 0 (Ω̄), então

Shr ⊂ H01 (Ω).

Este teorema permite que, na resolução dos problemas, se possa considerar Shr , pois Shr ⊂ S.
A inclusão anterior não é veri cada no caso da fronteira de Ω ser uma curva que não pode ser
exatamente descrita por triângulos.
Finalmente, tem de se de encontrar um conjunto Σk de condições linearmente independen-
tes que permitam determinar, de forma unívoca, cada elemento de Qkr . Um polinómio de grau
menor ou igual a r em x e y ca perfeitamente de nido pelos valores em nk = (r + 1)(r + 2)/2
pontos distintos. Sejam a1 , . . . , ank pontos distintos igualmente espaçados em Tk , então pode-se

26
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

de nir pr ∈ Qkr pelos valores pr (ai ), i = 1, . . . , nk . De forma simbólica escreve-se:

Σkr = {pr (ai ), i = 1, . . . , nk}.

O espaço Shr descrito desta forma tem uma base canónica ϕ1 , . . . , ϕnk de nida por ϕj (ai ) = δij ,
sendo δij a função delta de Kronecker. Assim, cada elemento nito é de nido pelo terno
(Tk , Qkr , Σkr ).
Suponha-se que (Tk , Qkr , Σkr ) é um elemento nito onde Tk é um triângulo de vértices a1 ,
a2 e a3 e seja T̂k um outro triângulo de vértices â1 , â2 e â3 . Existe uma única aplicação a m:

Φk : T̂k → Tk
x̂ → x = Bk x̂ + bk ,

tal que Bk é uma matriz 2 × 2 invertível, bk um vetor de R2 e Φk (âi ) = ai . Pode então


construir-se:
Q∗kr = {pr : Tk → R| pr = p̂r ◦ Φ−1
k , p̂r ∈ Q̂kr }.

Como Φk é a m, Q∗kr = Qkr . Em particular, após, se necessário, uma renumeração, as funções


base satisfazem
ϕi = ϕ̂i ◦ Φ−1
k , i = 1, . . . , nk.

De nição 2.76 Dois elementos nitos (Tk , Qkr , Σkr ) e (T̂k , Q̂kr , Σ̂kr ) dizem-se a m-equivalen-
tes se existir uma aplicação a m invertível Φk , tal que:

Tk = Φk (T̂k ) (2.2)
Qkr = {pr : Tk → R| pr = p̂r ◦ Φ−1
k , p̂r ∈ Q̂kr } (2.3)
Σkr = {pr (Φk (âi ))}. (2.4)

Uma família Th de elementos nitos é dita família a m se todos os elementos nitos que
a constituem são a m-equivalentes a um único elemento nito, que se irá chamar elemento
nito de referência (TR , QRr , ΣRr ).

Proposição 2.77 Qualquer elemento de uma família a m Th , ou da sua imagem por uma apli-
cação a m invertível, pode ser escolhido como elemento de referência.

Pela proposição, pode veri car-se que TR não tem de pertencer à família e que até pode
ser escolhido de uma forma bastante livre. Neste trabalho, considera-se

TR = {(x, y) ∈ R2 | x + y ≤ 1 ∧ x ≥ 0 ∧ y ≥ 0}.
Seja ΠPr (Tk ) o operador interpolador que a cada função v de nida em Tk faz corresponder o
polinómio, pr , interpolador de Lagrange, de grau menor ou igual a r, que interpola v nos pontos
ai , i = 1, . . . , nk. É óbvio que pr ∈ Qkr e pela de nição da base ϕ1 , . . . , ϕnk pode de nir-se
ΠPr (Tk ) por
nk
ΠPr (Tk ) (v) =
X
ϕi v(ai ).
i=1

Sejam Ph e Eh o conjunto dos vértices e dos lados dos triângulos, respetivamente. Retirando
as repetições e introduzindo uma ordenação em Ph e Eh ca-se com Ph = {P1 , . . . , Pnv } e

27
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

Eh = {e1 , . . . , enl }.
Se ek ∈ ∂Ω, denota-se por ~nk o vetor normal exterior a ek .

De nição 2.78 Seja v ∈ L2 (Ω). ṽ ∈ Shr é a projeção ortogonal de v sobre Shr denotado por
ṽ = ΠShr v se satisfaz a condição
Z Z
ṽχ dx = vχ dx, ∀χ ∈ Shr .
Ω Ω

Lema 2.79 Se v ∈ W r+1,p (Ω), então

|ΠShr v − v|W mp0 (Ω) ≤ Chr+1−m |v|W r+1,p (Ω) ,

para 0 ≤ m ≤ r e 1
p + 1
p0 = 1.

O resultado anterior também é válido para ΠPr .

De nição 2.80 (Ordem de convergência) Suponha-se que limh→0+ vh = v. Diz-se que a ordem
de convergência é p > 0 se
kvh − vkX ≤ Chp , ∀h > 0, (2.5)

onde C é uma constante positiva que não depende de h. No caso de limn→∞ vn = v, diz-se que
a ordem de convergência é p > 0 se

kvn − vkX ≤ Cn−p , ∀n > 0, (2.6)

onde C é uma constante positiva que não depende de n.

Quanto maior for p, maior é a velocidade com que a aproximação converge para o valor exato.
Aplicando o logaritmo em (2.5), obtém-se

log(kvh − vkX ) ≤ log(C) + p log(h),

o que signi ca que se se representa gra camente log(kvh − vkX ) em função de log(h), o grá co
deverá estar abaixo da reta que passa por (0, log(C)) e tem declive p. Este processo revela-se
útil na estimação numérica da ordem de convergência. Para (2.6) o raciocínio é o mesmo.

Teorema 2.81 Se vh ∈ Shr , então

k∇vh kL2 (Ω) ≤ Ch−1 kvh kL2 (Ω) ,

onde C não depende de h e r.

De nição 2.82 No espaço Shr de ne-se o laplaciano discreto ∆h : Shr → Shr da forma
Z Z
(∆h u)χ dx = − ∇u · ∇χ dx, ∀u, χ ∈ Shr .
Ω Ω

De nição 2.83 (Projeção de Ritz com peso) A projeção de Ritz com peso ρh = Rh ρ ∈ Shr é
de nida por Z Z
A∇ρh · ∇χ dx = A∇ρ · ∇χ dx, ∀χ ∈ Shr .
Ω Ω

28
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

Lema 2.84 Se ρ ∈ H k (Ω) ∩ H01 (Ω), 1 ≤ k ≤ r + 1, então

kRh ρ − ρkL2 (Ω) + hk∇(Rh ρ − ρ)kL2 (Ω) ≤ Chk kρkH k (Ω) .

2.10 Discretização temporal

Para discretizar a equação no tempo existem numerosos métodos chamados de integradores.


O mais simples é o método de Euler que aproxima a derivada temporal ut (x, tn ) em cada instante
tn por uma diferença nita. Por exemplo, o método de Euler regressivo aproxima a derivada
ut (x, tn ) por
¯ u(x, tn ) − u(x, tn−1 )
∂u(x, tn ) = , tn = tn−1 + δ.
δ
A solução nal obtida pode então ser Un (x) = U (x, tn ) ou a interpolação linear de nida, em
t−tn−1
cada intervalo de tempo ]tn−1 , tn ], por U (x, t) = tn −tn−1 Un (x) − t−tn
tn −tn−1 Un−1 (x). Para simpli -
car, pode considerar-se que todos os intervalos têm a mesma amplitude δ. Por vezes, ao valor
δ chama-se passo do método. Considere-se δ > 0 e a partição

ni−1
[
]0, T ] = In , In =]tn , tn+1 ], tn+1 = tn + δ.
n=0

No caso da solução exata ter pouca regularidade em t, um método mais adequado é o método
dos elementos nitos descontínuo que aproxima a solução em cada intervalo de tempo por um
polinómio. Para isso, de ne-se o espaço das funções seccionalmente polinomiais em relação ao
tempo com coe cientes em Shr como sendo
s
X
S δs = {W : [0, +∞[→ H | W|In = tj χj , χj ∈ H}.
j=0

As funções de S δs podem ser descontínuas nos instantes tn , mas são contínuas à esquerda de
tn . Denota-se Wn = W (tn ) e Wn+ = limt→t+
n
W (t).
Para deduzir estimativas de erros, utilizam-se algumas projeções. De ne-se a projeção no
tempo ΠS δs . ṽ = ΠS δs v é obtido pelas condições:

ṽ(tn+1 ) = v(tn+1 ), n = 0, . . . , ni − 1,
Z
(ṽ − v, W ) dt = 0, ∀W ∈ S δs−1 , n = 0, . . . , ni − 1.
In

Para provar que está bem de nido, ver [72] na página 207. No caso H = Shr obtém-se o espaço
δs
Shr .
De ne-se também a projeção no espaço e tempo ΠShr
δs . Ṽ = ΠS δs v é solução de
hr

Z Z
Ṽ χ dx = ṽχ dx, ∀χ ∈ Shr , ∀t ∈ In ,
Ω Ω

ou seja, Ṽ = ΠShr (ΠS δs ) = ΠShr ṽ.


Pela forma como está de nida a projeção ΠShr
δs , pode deduzir-se imediatamente que:

Z Z
(Ṽ − v, W ) dt = (ṽ, W ) − (v, W ) dt = 0, δs−1
∀W ∈ Shr
In In

29
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

e
(Ṽ (tn ) − v(tn ), χ) = (ṽ(tn ), χ) − (v(tn ), χ) = 0, ∀χ ∈ Shr .

Teorema 2.85 Seja v ∈ W s+1;∞ (In ; L2 (Ω)) e ṽ a projeção de v em S δs , então

kv(t) − ṽ(t)kL2 (Ω) ≤ Cδ s+1 |v|W s+1,∞ (In ;L2 (Ω)) , ∀t ∈ In

e
|v(t) − ṽ(t)|H 1 (Ω) ≤ Cδ s+1 |v|W s+1,∞ (In ;H 1 (Ω)) , ∀t ∈ In .

Demonstração
Pelo teorema 12.1 em [72], tem-se que
Z
|v(t) − ṽ(t)|2H k (Ω) ≤ Cδ 2s+1 |v (s+1) (t)|2H k (Ω) dt, k = 0, 1.
In

Utilizando a desigualdade
Z
kv (s+1) (t)k2H k (Ω) dt ≤ δ|v|2W s+1,∞ (In ;H k (Ω)) ,
In

obtém-se o pretendido.


Teorema 2.86 Seja v ∈ L∞ (In ; H r+1 (Ω)) ∩ W s+1,∞ (In ; L2 (Ω)) e Ṽ a projeção de v em Shr
δs
,
então:
kv(t) − Ṽ (t)kL2 (Ω) ≤ Chr+1 |v|L∞ (In ;H r+1 (Ω)) + Cδ s+1 |v|W s+1,∞ (In ;L2 (Ω)) .

Demonstração
Pela desigualdade triangular, obtém-se

kv(t) − Ṽ (t)kL2 (Ω) ≤ kv(t) − ΠShr v(t)k + kΠShr v(t) − ΠShr ṽ(t)k

≤ Chr+1 |v|H r+1 (Ω) + kv(t) − ṽ(t)k

≤ Chr+1 |v|L∞ (In ;H r+1 (Ω)) + Cδ s+1 |v|W s+1,∞ (In ;L2 (Ω)) . 
Para problemas mais complicados, existem integradores mais robustos, por exemplo, o
ode15s [66] que é uma subrotina do Matlab e que aproxima numericamente a solução de equa-
ções e sistemas EDO da forma M (t, y)y 0 = F (t, y). Este integrador utiliza um método de ordem
variável (de 1 a 5) baseado nas fórmulas de diferenciação numérica (NDFs). Opcionalmente,
utiliza o método de Gear (BDFs). Começa no instante inicial e calcula a aproximação no instante
seguinte, usando um determinado passo. Se o erro da aproximação satis zer a tolerância dese-
jada, então é considerado um sucesso e passa para o instante seguinte, com o mesmo passo. Se
não satis zer a tolerância, é considerado um passo falhado e é calculada uma nova estimativa
com o tamanho do passo reduzido a metade. Este processo continua desta forma até conseguir
um sucesso ou o tamanho do passo ser muito pequeno.

30
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

2.11 Cálculo das funções interpoladoras

Nesta secção, calculam-se explicitamente as funções ϕ1 , . . . , ϕnk . Uma vez que as apro-
ximações pretendidas são polinómios de grau superior a 1 e os vértices do triângulos podem
mover-se, é vantajoso de nir as funções ϕ em cada Tk utilizando coordenadas triangulares.
Para se obter um polinómio interpolador de grau r em cada triângulo, é necessário de nir
nk pontos nesse triângulo. Segundo [9], estes pontos são de nidos criando uma malha uniforme
como mostra a gura 2.1. Seja Tk ∈ T um elemento qualquer. Considere-se que as coordenadas

Figura 2.1: Elemento nito de referência e numeração local dos nós.

dos vértices de Tk são (X1 , Y1 ), (X2 , Y2 ) e (X3 , Y3 ). As funções interpoladoras de Lagrange de


grau 1 associadas a estes pontos são, respetivamente,

X2 Y3 − X3 Y2 + (Y2 − Y3 )x + (X3 − X2 )y
ψ1 (x, y) = ,
24
X3 Y1 − X1 Y3 + (Y3 − Y1 )x + (X1 − X3 )y
ψ2 (x, y) = ,
24
X1 Y2 − X2 Y1 + (Y1 − Y2 )x + (X2 − X1 )y
ψ3 (x, y) = ,
24

onde
X1 (Y2 − Y3 ) + X2 (Y3 − Y1 ) + X3 (Y1 − Y2 )
4= .
2
Por vezes, às funções ψ chamam-se funções pirâmide, pois ψj é linear e toma valor 1 em
(Xj , Yj ) e zero nos outros pontos. Para a aproximação com polinómios de grau r, o polinómio
interpolador associado ao ponto Pi é construído à custa das funções interpoladoras de Lagrange
de grau 1 da forma:
ϕi (x, y) = f¯a (ψ1 (x, y))f¯b (ψ2 (x, y))f¯c (ψ3 (x, y)),

31
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

onde  k
 Y1
 (rψj − i + 1), 1 ≤ k ≤ r
f¯k (ψj ) = i=1
i


1, k=0

e os índices são da forma como mostra a gura 2.1.


É necessário também calcular as derivadas destas funções. As derivadas de ϕi são:

∂ϕi ∂ f¯a ∂ψ1 ¯ ¯ ∂ f¯b ∂ψ2 ¯ ∂ f¯c ∂ψ3


= fb fc + f¯a fc + f¯a f¯b ,
∂x ∂ψ1 ∂x ∂ψ2 ∂x ∂ψ3 ∂x
∂ϕi ∂ f¯a ∂ψ1 ¯ ¯ ∂ f¯b ∂ψ2 ¯ ∂ f¯c ∂ψ3
= fb fc + f¯a fc + f¯a f¯b ,
∂y ∂ψ1 ∂y ∂ψ2 ∂y ∂ψ3 ∂y
∂ϕi ∂ϕi
= −ψj ,
∂Xj ∂x
∂ϕi ∂ϕi
= −ψj ,
∂Yj ∂y

com 
k k
 X r Y 1
(rψj − i + 1), 2 ≤ k ≤ r



∂ f¯k


m=1
m i=1 i
= i6=m
∂ψj 
 r, k=1



 0, k=0

e
∂ψ1 Y2 − Y3 ∂ψ2 Y3 − Y1 ∂ψ3 Y1 − Y2
= , = , = ,
∂x 24 ∂x 24 ∂x 24
∂ψ1 X3 − X2 ∂ψ2 X1 − X3 ∂ψ3 X2 − X1
= , = , = .
∂y 24 ∂y 24 ∂y 24

2.12 Cálculo dos integrais

Embora os integrais envolvendo apenas as funções interpoladoras possam ser calculados exa-
tamente, não é prático o cálculo exato dos integrais que envolvem outras funções do problema,
possivelmente não lineares.
Neste trabalho, todos os integrais são calculados numericamente utilizando a quadratura
de Gauss-Legendre [56]. Os pontos e os pesos de quadratura são calculados num triângulo de
referência TR e considera-se Φk : TR → Tk onde cada elemento Tk da partição é imagem
do triângulo de referência TR . Sejam (α, β) as coordenadas locais no triângulo Tk e (x, y) as
coordenadas locais do triângulo TR , então
Z Z
I= h(α, β) dα dβ = (h ◦ Φk )(x, y)|JΦk | dx dy.
Tk TR

Se se considerar TR o triângulo de vértices (0, 0), (1, 0) e (0, 1), então pretende-se calcular
Z Z 1 Z 1−x
I= f (x, y) dx dy = f (x, y) dy dx.
TR 0 0

Fazendo a mudança de variável x = (1 + ξ)/2, y = (1 − ξ)(1 − η)/4, passa-se para o quadrado

32
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

[−1, 1]2 e obtém-se:

1 1   
1 + ξ (1 − ξ)(1 − η) 1−ξ
Z Z
I= f , dξ dη.
−1 −1 2 4 8

Aplicando a quadratura de Gauss-Legendre ca:

ni X
ni    
X 1 − ξi 1 + ξi (1 − ξi )(1 − ηj )
I≈ wi wj f , ,
i=1 j=1
8 2 4

onde ξk = ηk e wk , k = 1, . . . , ni são os nós e os respetivos pesos da quadratura de Gauss-Legen-


dre no intervalo [−1, 1]. Se Tk tem os vértices (X1 , Y1 ), (X2 , Y2 ) e (X3 , Y3 ), então Φk pode ser
representado na forma matricial por
" # " #" # " #
α X2 − X1 X3 − X1 x X1
= + .
β Y2 − Y1 Y3 − Y1 y Y1

Logo, " #
X2 − X1 X3 − X1
JΦk = e |JΦk | = 24.
Y2 − Y1 Y3 − Y1
 
(1−ξi )(1−ηj )
Sejam W xi = 1−ξi
8 wi , W yj = wj , Cxij = 1−ξi
2 e Cyij = 4 , i, j = 1 . . . m, então

m X
X m
I= W xi W yi (h ◦ Φk )(Cxij , Cyi,j ) 24.
i=1 j=1

Figura 2.2: Função Φk .

33
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

34
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

Capítulo 3

Equação Em Meios Porosos Com Expoente Variável

3.1 Problema em domínio xo


Nesta secção, faz-se um estudo teórico da convergência do Método dos Elementos Finitos
(MEF) quando aplicado a um caso particular do problema (1.3), onde o expoente γ não depende
do tempo. Uma vez que o problema pode ser degenerado, utiliza-se um problema aproximado
regularizado, introduzindo um parâmetro ε. Demonstram-se alguns teoremas sobre a in uência
de ε na regularidade das soluções do problema regularizado. Prova-se, sobre algumas condições
em γ e f , que a solução fraca do problema aproximado converge para a solução fraca do
problema inicial, quando o parâmetro ε tende para zero. São construídas soluções discretas
utilizando o MEF e prova-se a convergência destas para a solução fraca do problema aproximado
e consequentemente para o problema original. No nal, são apresentados alguns resultados
numéricos da implementação, em Matlab, do método.
Considere-se então o problema de encontrar a função u que satisfaça as condições:



∂u
∂t − div(|u|γ(x) ∇u) = f (x, t) em ΩT
u=0 em ΓT , (3.1)

u(x, 0) = u0 (x) em Ω

onde γ é uma função limitada de nida em ΩT , tal que:

1 < γ − ≤ γ(x) ≤ γ + < ∞, ∀x ∈ Ω̄, (3.2)

com γ − e γ + constantes conhecidas.


Antes de mais, tem de se de nir o que se entende como solução fraca do problema.

De nição 3.1 (Solução fraca) Uma função u(x, t) é dita solução fraca do problema (3.1) se
γ
(i) u ∈ L∞ (0, T ; L∞ (Ω)), |u| 2 ∇u ∈ L2 (0, T ; L2 (Ω)), ut ∈ L2 (0, T ; W −1,2 (Ω)),

(ii) u = 0 em ΓT ,

(iii) para qualquer função de teste ζ(x, t) que satisfaz as condições

ζ ∈ L2 (0, T ; H01 (Ω)) ∩ L∞ (0, T ; L∞ (Ω)), ζt ∈ L2 (0, T ; L2 (Ω))

e para 0 ≤ t1 ≤ t2 ≤ T a seguinte identidade é verdadeira


Z t2 Z Z t2 Z Z t2 Z Z t2
γ

−u ζt dxdt + |u| ∇u · ∇ζ dxdt − f ζ dxdt = − u ζ dx ,
t1 Ω t1 Ω t1 Ω Ω t1

(iv) e u(x, 0) = u0 (x) em Ω.

Em [4], Antontsev e Shmarev provaram que o problema (3.1) tem solução fraca segundo a
de nição 3.1.

35
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

3.1.1 Regularização do problema


Uma das principais di culdades em obter estimativas de erro para problemas parabólicos
degenerados reside na regularidade das soluções. Para se obter um problema parabólico com
solução regular deve perturbar-se ligeiramente o problema (3.1). Esta regularização pode ser
feita de diversas formas. Neste trabalho, considera-se um problema da forma

 vt − div(aε (x, v)∇v) = f
 em ΩT
v=0 em ΓT , (3.3)

v(x, 0) = u0 (x) em Ω.

onde o termo difusivo é aproximado por

+ γ(x)
εγ ≤ aε (x, v) = (v 2 + ε2 ) 2 , 0 < ε < 1. (3.4)

A de nição de solução fraca deste problema é semelhante à do problema inicial.

De nição 3.2 (Solução fraca) Uma função v(x, t) é dita solução fraca do problema (3.3) se
1
(i) v ∈ L∞ (0, T ; L∞ (Ω)), aε (x, v) 2 ∇v ∈ L2 (0, T ; L2 (Ω)), vt ∈ L2 (0, T ; W −1,2 (Ω)),

(ii) v = 0 em ΓT ,

(iii) para qualquer função de teste ζ(x, t) que satisfaz as condições

ζ ∈ L2 (0, T ; H01 (Ω)) ∩ L∞ (0, T ; L∞ (Ω)), ζt ∈ L2 (0, T ; L2 (Ω))

e para 0 ≤ t1 ≤ t2 ≤ T a seguinte equação é verdadeira


Z t2 Z Z t2 Z Z t2 Z Z t2

−v ζt dxdt + aε (x, v)∇v · ∇ζ dxdt − f ζ dxdt = − v ζ dx ,
t1 Ω t1 Ω t1 Ω Ω t1

(iv) e v(x, 0) = u0 (x) em Ω.

Segundo a teoria clássica, para cada ε > 0, o problema (3.3) tem solução fraca que satisfaz
esta de nição e o sistema (3.3). Além disso, se ∇γ ∈ L2 (ΩT ), então vt , ∆v ∈ L2 (ΩT ).
Uma vez que a in uência do parâmetro ε na regularidade das soluções do problema regularizado
não é evidente, demonstram-se alguns resultados sobre a regularidade das soluções.
Começa-se por obter estimativas para as soluções do problema aproximado.

Teorema 3.3 Seja γ uma função mensurável em Ω que satisfaz a condição (3.2). Se
Z T
ku0 kL∞ (Ω) + kf kL∞ (Ω) dt < C, (3.5)
0

então a solução v do problema (3.3) satisfaz


Z T
kv(x, t)kL∞ (Ω) ≤ ku0 (x)kL∞ (Ω) + kf (x, t)kL∞ (Ω) dt < C, ∀t ∈]0, T ]. (3.6)
0

Demonstração
Multiplicando (3.3) por v 2k−1 e integrando em Ω, obtém-se
Z Z Z
vt v 2k−1 dx + div(aε (x, v)∇v)v 2k−1 dx = f v 2k−1 dx.
Ω Ω Ω

36
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

O que resulta em
Z
1 d
kvk2k
L2k (Ω) + (2k − 1) v 2k−2 aε (x, v)|∇v|2 dx ≤ kf kL2k (Ω) kvk2k−1
L2k (Ω) .
2k dt Ω

após aplicar o teorema de Green e a desigualdade de Hölder. Se se ignorar o termo do meio,


pois é não negativo, e se se simpli car o fator kvk2k−1
L2k (Ω) , obtém-se

d
kvkL2k (Ω) ≤ kf kL2k (Ω) .
dt

Integrando em t ca
Z T
kv(x, t)kL2k (Ω) ≤ kv(x, 0)kL2k (Ω) + kf kL2k (Ω) dt.
0

Se se zer k → ∞, obtém-se o pretendido. 


No resto deste capítulo, supõe-se que a condição (3.5) é satisfeita com C independente de
ε.

Lema 3.4 Se γ satisfaz (3.2) e a é de nido por (3.4) com v solução de (3.3), então

aε (x, v) ≤ C,

onde C não depende de ε.

Demonstração
Segue imediatamente de (3.4) e de (3.6). 

Teorema 3.5 Suponha-se que v é solução de (3.3), com γ ∈ H 1 (Ω) e a condição (3.5) é válida,
então Z T Z
+
|∇v|2 dxdt ≤ Cε−γ ,
0 Ω

onde C não depende de ε.

Demonstração
Da mesma forma como a demonstração anterior, multiplicando (3.3) por v e integrando em
Ω, obtém-se Z Z Z
vt v dx + div(aε (x, v)∇v)v dx = f v dx.
Ω Ω Ω

O que resulta em
Z
1 d
kvk2L2 (Ω) + aε (x, v)|∇v|2 dx ≤ kf kL2 (Ω) kvkL2 (Ω) ,
2 dt Ω

após aplicar o teorema de Green e a desigualdade de Hölder. Integrando em ordem a t, obtém-


-se
Z T Z Z T
1 1
kv(x, T )k2L2 (Ω) + aε (x, v)|∇v|2 dxdt ≤ kv(x, 0)k2L2 (Ω) + kf kL2 (Ω) kvkL2 (Ω) dt.
2 0 Ω 2 0

Por (3.6), conclui-se que


Z T Z
aε (x, v)|∇v|2 dxdt ≤ C.
0 Ω

37
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

Atendendo a (3.4), ca
Z T Z
+
|∇v|2 dxdt ≤ Cε−γ .
0 Ω

Lema 3.6 Se γ ∈ H 1 (Ω) satisfaz (3.2) e a é de nido por (3.4) com v solução de (3.3), então

+
k∇aε (x, v)kL2 (Ω) < Cε−γ ,

onde C não depende de ε.

Demonstração
Segue imediatamente do teorema anterior, de (3.6) e de

γ γ ∇γ
∇aε (x, v) = γv(v 2 + ε2 ) 2 −1 ∇v + (v 2 + ε2 ) 2 ln(v 2 + ε2 ).
2

Teorema 3.7 Suponha-se que u0 ∈ H 1 (Ω), γ ∈ H 2 (Ω) e a condição (3.5) é válida. Se v é solução
de (3.3), então
Z T Z
+
(∆v)2 dxdt ≤ Cε−8γ ,
0 Ω

onde C não depende de ε.

Demonstração
Considere-se a seguinte função:
Z v(x,t) Z v
γ(x)
w(x, t) = (ς 2 + ε2 ) 2 dς = aε (x, ς) dς,
0 0

então wt = aε (x, v)vt e


v v
∇γ 2
Z Z
γ γ
∇w = (v 2 + ε2 ) 2 ∇v + (ς + ε2 ) 2 ln(ς 2 + ε2 ) dς = aε (x, v)∇v + ∇aε (x, ς) dς,
0 2 0

ou seja, Z v
1
vt = wt e aε (x, v)∇v = ∇w − ∇aε (x, ς) dς.
aε (x, v) 0

Logo w satisfaz a equação


Z v
1
wt = div(∇w − ∇aε (x, ς) dς) + f,
aε (x, v) 0

ou de forma equivalente,
wt = aε (x, v)∆w − aε (x, v)g1 ,

com
v v
|∇γ|2
Z Z
∆γ
g1 = (∇aε (x, ς)|ς=v ) · ∇v + aε (x, ς) ln(ξ 2 + ε2 ) dς + aε (x, ς) ln2 (ς 2 + ε2 ) dς − f.
0 2 0 4

Multiplicando por ∆w e integrando em Ω, obtém-se


Z Z Z
wt ∆w dx = aε (x, v)(∆w)2 dx − aε (x, v)g1 ∆w dx.
Ω Ω Ω

38
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

Aplicando o teorema de Green no primeiro termo, ca-se com


Z Z Z
∇wt · ∇w dx + aε (x, v)(∆w)2 dx = aε (x, v)g1 ∆w dx.
Ω Ω Ω

Note-se que o primeiro termo é uma derivada então integrando em t, obtém-se


Z Z Z Z
1 2 12 2
|∇w(x, T )| dx + aε (x, v)(∆w) dxdt = |∇w(x, 0)| dx + aε (x, v)g1 ∆w dxdt.
2 Ω ΩT 2 Ω ΩT

Aplicando a desigualdade de Hölder, ca-se com


Z Z Z Z
2 2 2
|∇w(x, T )| dx + aε (x, v)(∆w) dxdt ≤ |∇w(x, 0)| dx + aε (x, v)g12 dxdt.
Ω ΩT Ω ΩT

Atendendo às estimativas de v e ∇v obtidas nos Teoremas 3.3 e 3.5, chega-se a


Z Z
+ +
|∇w(x, T )| dx + 2
aε (x, v)(∆w)2 dxdt ≤ C0 + C1 ε−γ ≤ Cε−γ .
Ω ΩT

Em particular,
Z Z
−γ + +
|∇w(x, T )| dx ≤ Cε 2
e (∆w)2 dxdt ≤ Cε−2γ .
Ω ΩT

Por outro lado ([53], lema 4.5, pág. 63) tem-se que:
Z Z
+
|∇w|4 dxdt ≤ C ess sup |w|2 (∆w)2 dxdt ≤ Cε−2γ .
ΩT (x,t)∈ΩT ΩT

Volte-se agora à função v. Como


Z v
aε (x, v)∇v = ∇w − ∇aε (x, ς) dς,
0

então
+
|∇v| ≤ Cε−γ (|∇w| + 1).

Também derivando w, obtém-se

γ
∆w = aε (x, v)∆v + aε (x, v) ln(v 2 + ε2 )∇γ · ∇v + γ(v 2 + ε2 ) 2 −1 v|∇v|2 + g2 ,

onde,
v v
|∇γ|2
Z Z
∆γ
g2 = aε (x, ς) ln(ς 2 + ε2 ) dς + aε (x, ς) ln2 (ς 2 + ε2 ) dς.
0 2 0 4
Finalmente, Z
+
|∇v|4 dxdt ≤ Cε−6γ
ΩT

e
Z Z Z  2
γ
(aε (x, v)∆v)2 dxdt ≤ (∆w)2 dxdt + γ(v 2 + ε2 ) 2 −1 v|∇v|2 dxdt+
ΩT ΩT ΩT
Z Z
+ a2ε (x, v) ln2 (v 2 2
+ ε )(∇γ · ∇v) dxdt + 2
g22 dxdt
ΩT ΩT
+ + + +
≤ Cε−2γ + Cε−6γ + Cε−γ + C ≤ Cε−6γ .

39
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

Logo, Z
+
(∆v)2 dxdt ≤ Cε−8γ .
ΩT

Teorema 3.8 Suponha-se que γ ∈ H 2 (Ω), u0 ∈ H 1 (Ω), v é solução de (3.3) e a condição (3.5) é
válida, então
Z T Z
+
vt2 dxdt ≤ Cε−2γ ,
0 Ω

onde C não depende de ε.

Demonstração
Da mesma forma que o teorema 3.7 seja
Z v
w= aε (x, ς) dς,
0

então Z v
∇w = aε (x, v)∇v + ∇aε (x, ς) dς
0
e
wt = aε (x, v)vt .

Multiplicando (3.3) por wt e integrando em Ω, obtém-se


Z Z Z Z Z v
vt wt dx + ∇w∇wt dx = f wt dx + ∇aε (x, ς) dς∇wt dx,
Ω Ω Ω Ω 0

ou seja,
Z Z Z Z Z v
1
(wt )2 dx + ∇w∇wt dx = wt f dx + ∇aε (x, ς) dς∇wt dx.
Ω aε (x, v) Ω Ω Ω 0

Integrando por partes o último termo, tem-se que


Z Z Z Z Z
1
(wt )2 dx + ∇w∇wt dx = f wt dx − wt (∇aε (x, ς)|ς=v ) · ∇v dx − wt g dx,
Ω aε (x, v) Ω Ω Ω Ω

onde: v v
|∇γ|2
Z Z
∆γ
g= aε (x, ς) ln(ς 2 + ε2 ) dς + aε (x, ς) ln2 (ς 2 + ε2 ) dς.
0 2 0 4
Integrando esta equação em t resulta
Z Z Z
1 1 1
(wt )2 dxdt + |∇w(x, T )| dx = 2
|∇w(x, 0)|2 dx+
ΩT aε (x, v) 2 Ω 2 Ω

Z Z Z
+ f wt dxdt − wt (∇aε (x, ς)|ς=v ) · ∇v dxdt − wt g dxdt.
ΩT ΩT ΩT

Aplicando a desigualdade de Cauchy veri ca-se que


Z Z Z Z
1 1 1 1
(wt )2 dxdt + |∇w(x, T )| dx ≤ 2
|∇w(x, 0)| dx + C 2
aε (x, v)f 2 dxdt+
2 ΩT aε (x, v) 2 Ω 2 Ω ΩT

Z Z
+C aε (x, v)|(∇aε (x, ς)|ς=v ) · ∇v|2 dxdt + C aε (x, v)g 2 dxdt.
ΩT ΩT

40
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

Atendendo às estimativas de v e ∇v, chega-se à desigualdade:


Z Z
1 + +
(wt )2 dxdt + |∇w(x, T )|2 dxdt ≤ C0 + C1 ε−γ ≤ Cε−γ .
ΩT aε (x, v) Ω

Como
1
|vt | = |wt |,
aε (x, v)
segue-se que Z Z
+ 1 +
(vt )2 dxdt ≤ ε−γ (wt )2 dxdt ≤ ε−2γ
ΩT ΩT aε (x, v)
e o resultado está provado. 

Lema 3.9 Se γ satisfaz (3.2) e a é de nido por (3.4) com v solução de (3.3), então

+
k(aε (x, v))t kL2 (Ω) < Cε−γ ,

onde C não depende de ε.

Demonstração
Segue imediatamente do teorema anterior e de:

γ
(aε (x, v))t = γvt (v 2 + ε2 ) 2 −1 .

3.1.2 Convergência do problema regularizado


Antes de se construir as soluções discretas, prova-se que as soluções do problema aproximado
convergem, num determinado sentido, para as soluções do problema inicial, quando ε tende
para zero. Antes de mais, precisa-se do lema seguinte.

Lema 3.10 Se γ satisfaz (3.2) e v é limitado, então para 0 < ε < 1 a desigualdade seguinte é
válida:
γ(x)
||v|γ(x) − (v 2 + ε2 ) 2 | ≤ Cε,

onde C não depende de ε.

Demonstração
γ
Aplica-se o teorema do valor médio de Lagrange à função g(y) = (v 2 + y 2 ) 2 no intervalo
[0, ε] e conclui-se que, para cada x ∈ Ω, existe c ∈ [0, ε] ⊂ [0, 1], tal que:

γ γ−1
g(ε) − g(0) = γc(v 2 + c2 ) 2 −1 ε ≤ γ(v 2 + c2 ) 2 ε,

logo
γ(x)
||v|γ(x) − (v 2 + ε2 ) 2 | ≤ Cε.


Para demonstrar a convergência, seguem-se as ideias da demonstração do teorema de unici-
dade em [4] e suas referências. Primeiro, prova-se que a diferença entre as soluções dos dois
problemas satisfaz um determinado problema de Cauchy. De seguida, obtêm-se estimativas
para as soluções do problema auxiliar. Finalmente, estas estimativas são usadas para concluir a
estimativa pretendida.

41
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

Lema 3.11 Seja u solução fraca de (3.1) e v solução fraca de (3.3). A função w = u − v satisfaz
a equação
Z Z
w(−ζt − A∆ζ + B∇ζ) dxdt = (F [v] − Fε [v])∆ζ + (G[v] − Gε [v])∇ζ dxdt (3.7)
ΩT ΩT

com
ζ ∈ L2 (0, T ; H01 (Ω)) ∩ L∞ (0, T ; L∞ (Ω)), ζt ∈ L2 (0, T ; L2 (Ω)), ζ(x, T ) = 0,
γ γ
1 u|u| − v|v|
A= , B = A∇ln(γ + 1) − D, (3.8)
γ+1 u−v
u|u|γ ln(u2 ) − v|v|γ ln(v 2 )
 
∇γ
D= ,
2(γ + 1) u−v
u|u|γ
F (x, t) = F [u(x, t)] = ,
γ+1
Z v
γ
Fε (x, t) = Fε [v(x, t)] = (ς 2 + ε2 ) 2 dς,
0

ln(u2 )
 
∇γ γ 1
G[v] = u|u| −
γ+1 2 γ+1
e v
∇γ 2
Z
γ
Gε [v] = (ς + ε2 ) 2 ln(ς 2 + ε2 ) dς.
0 2

Demonstração
As funções F e Fε satisfazem

ln(u2 )
 
γ ∇γ γ 1
∇F = |u| ∇u + u|u| −
γ+1 2 γ+1

e v
∇γ 2
Z
γ γ
2 2
∇Fε = (v + ε ) ∇v + 2 (ς + ε2 ) 2 ln(ς 2 + ε2 ) dς.
0 2

Logo,
ln(u2 )
 
γ ∇γ γ 1
|u| ∇u = ∇F [u] − u|u| − = ∇F [u] − G[u]
γ+1 2 γ+1
e v
∇γ 2
Z
γ γ
(v 2 + ε2 ) 2 ∇v = ∇Fε − (ς + ε2 ) 2 ln(ς 2 + ε2 ) dς = ∇Fε [v] − Gε [v].
0 2

Assim, pode reescrever-se as equações das de nições:


Z Z Z Z T
|u|γ ∇u · ∇ζ dxdt −

− uζt dxdt + f ζ dxdt = − uζ dx ,
ΩT ΩT ΩT Ω t=0

Z Z Z Z T

− vζt dxdt + aε (x, v)∇v · ∇ζ dxdt − f ζ dxdt = − vζ dx
ΩT ΩT ΩT Ω t=0

da forma
Z Z Z Z Z T

− uζt dxdt + ∇F [u]∇ζ dxdt − G[u]∇ζ dxdt − f ζ dxdt = − uζ dx ,
ΩT ΩT ΩT ΩT Ω t=0

Z Z Z Z Z T

− vζt dxdt + ∇Fε [v]∇ζ dxdt − Gε [v]∇ζ dxdt − f ζ dxdt = − vζ dx .
ΩT ΩT ΩT ΩT Ω t=0

42
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

Como u = v = 0 em ∂Ω, então F [u] = Fε [v] = 0 em ∂Ω. Aplicando o teorema de Green na


2a parcela do 1a membro, obtém-se
Z Z Z Z Z T

− uζt dxdt − F [u]∆ζ dxdt − G[u]∇ζ dxdt − f ζ dxdt = − uζ dx ,
ΩT ΩT ΩT ΩT Ω t=0

Z Z Z Z Z T

− vζt dxdt − Fε [v]∆ζ dxdt − Gε [v]∇ζ dxdt − f ζ dxdt = − vζ dx .
ΩT ΩT ΩT ΩT Ω t=0

Uma vez que ζ(x, T ) = 0, w = u − v satisfaz a equação

Z T Z Z T Z Z T Z
− wζt dxdt − (F [u] − Fε [v])∆ζ dxdt = (G[u] − Gε [v])∇ζ dxdt. (3.9)
0 Ω 0 Ω 0 Ω

Considere-se

F [u] − Fε [v] = (F [u] − F [v]) + (F [v] − Fε [v]) e G[u] − Gε [v] = (G[u] − G[v]) + (G[v] − Gε [v]).

Pode escrever-se F [u] − F [v] = Aw e G[u] − G[v] = −Bw, com A e B de nidos em (3.8). Então,
a equação (3.9) pode ser reescrita da forma (3.7), como pretendido. 

Lema 3.12 Seja η(x, t) a solução do seguinte problema parabólico:



 ηt − (A + )∆η + B∇η = φ
 em ΩT
η(x, 0) = 0 em Ω , (3.10)

η(x, t) = 0 em ΓT

onde  > 0 é um parâmetro pequeno, φ ∈ L2 (ΩT ) uma função arbitrária e A e B estão de nidas
em (3.8). Se
φ2
≤ C, (3.11)
A+
então Z Z tZ
2
|∇η| dx + (A + )(∆η)2 dxdt ≤ C.
Ω 0 Ω

Demonstração
Demonstra-se facilmente que

|B|2
0 ≤ A ≤ C, |D| ≤ C, |B| ≤ C, ≤ C,
A

com C dependente simplesmente de γ − , ∇γ, ess sup u e ess sup v.


Segundo [52], para qualquer  > 0 e φ ∈ L2 (ΩT ) o problema tem uma única solução forte
contínua η tal que ηt , ∆η ∈ L2 (ΩT ).
De seguida, encontram-se estimativas para η e respetivas derivadas.
Multiplicando (3.10) por ∆η e integrando em Ω, obtém-se
Z Z Z Z
2
ηt ∆η dx − (A + )(∆η) dx = − B∇η∆η dx + φ∆η dx.
Ω Ω Ω Ω

Se se aplicar o teorema de Green no primeiro termo e se se multiplicar por −1, conclui-se


que Z Z Z Z
∇ηt ∇η dx + (A + )(∆η)2 dx = B∇η∆η dx − φ∆η dx = I1 + I2 .
Ω Ω Ω Ω

43
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

Tem-se que
|B|2
Z Z
1
|I1 | ≤ (A + )(∆η)2 dx + |∇η|2 dx
4 Ω Ω A+
e
φ2
Z Z
1 2
|I2 | ≤ (A + )(∆η) dx + dx.
4 Ω Ω A+
Juntando as estimativas calculadas, obtém-se

|B|2 φ2
Z Z Z Z
1 d 1
|∇η|2 dx + (A + )(∆η)2 dx ≤ (∇η)2 dx + dx.
2 dt Ω 2 Ω Ω A+ Ω A+

Já se provou que
|B|2 |B|2
≤ ≤ C|∇γ|2 ≤ C.
A+ A
Pela hipótese (3.11) e pelo teorema de Gronwall, obtém-se o pretendido. 

Teorema 3.13 Seja u solução fraca de (3.1) e v solução fraca de (3.3). Se

0 < γ − ≤ γ(x) ≤ γ + em Ω̄ e sup |∇γ| ≤ C < ∞,


x∈Ω̄

então
γ+
+1 1
ku − vkL2 (ΩT ) ≤ Cε 2 ,
γ+
+1
2

onde C não depende de ε.

Demonstração
Seja w = u − v, então satisfaz a equação (3.7). Escolhendo ζ(x, t) = η(x, T − t) solução de
(3.10) vem que
Z Z
wφ dxdt = (w ∆η + (F [v] − Fε [v])∆η + (G[v] − Gε [v])∇η) dxdt =
ΩT ΩT

= I3 + I4 + I5 .

Tem-se que
v v v v
v|v|γ
Z Z Z Z
γ γ γ
F [v] − Fε [v] = − (ς 2 + ε2 ) 2 dς = |ς|γ dς − (ς 2 + ε2 ) 2 dς = |ς|γ − (ς 2 + ε2 ) 2 dς,
γ+1 0 0 0 0
então
|F [v] − Fε [v]| ≤ C sup |v|ε
e  Z v
ln(u2 )

∇γ
γ 1 ∇γ 2 γ
G[v] − Gε [v] = u|u| − − (ς + ε2 ) 2 ln(ς 2 + ε2 ) dς
Z v γ+1 2 Zγ v+ 1 0 2
γ ∇γ 2 2 γ2
= |ς| ∇γln(|ς|) dς − (ς + ε ) ln(ς 2 + ε2 ) dς
0
Z v 0 2
∇γ 2 γ
= |ς|γ ∇γln(|ς|) − (ς + ε2 ) 2 ln(ς 2 + ε2 ) dς,
0 2
logo
|G[v] − Gε [v]| ≤ C sup |v|ε.
Pela desigualdade de Schwarz e pelas estimativas calculadas no lema anterior, demonstra-se
que
Z  21
1 p 1
2
|I3 | ≤ sup(|w|) 2 T meas(Ω) (∆η) dxdt ≤ C 2 ,
ΩT
Z  21
− 12 1
p
|I4 | ≤ sup(|F [v] − Fε [v]|) T meas(Ω) 2
(∆η) dxdt ≤ Cε− 2
ΩT

44
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

e Z  21
p
|I5 | ≤ sup(|G[v] − Gε [v]|) T meas(Ω) (∇η)2 dxdt ≤ Cε.
ΩT

Logo, Z
1 1
wφ dxdt ≤ C( 2 + ε− 2 + ε).



ΩT

Se se considerar  = ε, então
Z
1

wφ dxdt ≤ Cε 2 .
ΩT

Ao considerar φ = |w|κ sign(w), com κ uma constante positiva, pode deduzir-se que

1 1

Lκ+1 (ΩT ) ≤ Cε , ou seja, ku − vkLκ+1 (ΩT ) ≤ Cε .


kwkκ+1 2
κ+1 2

De facto, se φ = |u − v|κ sign(u − v), então (3.11) é verdadeira, pois

φ2 φ2 |u − v|2κ
≤ = u|u|γ −v|v|γ ≤ C,
A+ A
(γ+1)(u−v)

desde que γ ≤ 2κ.


γ+
Considerando κ = 2 , obtém-se o pretendido. 

3.1.3 Aproximação discreta

Nesta secção, segue-se [72] e aplica-se o método de Galerkin, contínuo no espaço e descon-
tínuo no tempo, para obter soluções aproximadas do problema regularizado. Sempre que não
houver perigo de confusão, deixar-se-á de explicitar a dependência de a em relação a x.
Seja h > 0, Th uma partição de Ω e Shr o espaço de elementos nitos

Shr = {χ = χ(x) ∈ C00 (Ω̄)|χ|Tk é um polinómio de grau r ∀Tk ∈ Th }.

Considere-se δ > 0, a partição ]0, T ] = ∪ni−1


n=0 In , In =]tn , tn+1 ], tn+1 = tn + δ e o espaço

s
X
δs
Shr = {W = Whδ : [0, +∞[→ Sh | W|In = tn χn (x), χn ∈ Shr }.
n=0

Não se exige que W ∈ Shr


δs
seja contínua nos pontos tn , apenas que seja contínua à esquerda.
Denote-se por Wn e por Wn+ o valor de W e do limite de W à direita em tn , respetivamente. O
salto de W em tn será de nido por [W ]n = Wn+ − Wn .
Procura-se uma aproximação discreta v ≈ V ∈ Shr
δs
que satisfaça a de nição de solução
fraca. Então,
Z Z Z Z T

−V ζt dxdt + aε (x, V )∇V · ∇ζ dxdt = f ζ dxdt − V ζdx ,
ΩT ΩT ΩT Ω 0

ou seja,

ni−1
XZ Z ni−1
XZ Z ni−1
XZ Z Z T

−V ζt dxdt + aε (x, V )∇V · ∇ζ dxdt = f ζ dxdt − V ζdx .
n=0 In Ω n=0 In Ω n=0 In Ω Ω 0

45
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

Aplicando a integração por partes no primeiro termo, utilizando a continuidade de ζ no


tempo e supondo ζ(x, T ) = 0, obtém-se

ni−1
XZ Z ni−1
X Z tn+1 ni−1
XZ Z

Vt ζ dxdt − V ζ dx + aε (x, V )∇V · ∇ζ dxdt =
In Ω Ω + In Ω
n=0 n=0 tn n=0

ni−1
XZ Z Z
= f ζ dxdt + V0+ ζ0 dx,
n=0 In Ω Ω

onde Vt é o polinómio de grau s − 1 que interpola ∂V


∂t em In e t+
n representa o limite quando t
tende para tn por valores superiores. Considerando [V ]n = Vn+ − Vn , conclui-se que

ni−1
XZ Z ni−1
XZ ni−1
XZ Z ni−1
XZ Z
Vt ζ dxdt + [V ]n ζ dx + aε (x, V )∇V · ∇ζ dxdt = f ζ dxdt.
n=0 In Ω n=1 Ω n=0 In Ω n=0 In Ω

Escolhendo Shr
δs
para espaço das funções teste, obtém-se

ni−1
XZ Z ni−1
XZ ni−1
XZ Z
Vt W dxdt + [V ]n Wn dx + aε (x, V )∇V · ∇W dxdt =
n=0 In Ω n=1 Ω n=0 In Ω

ni−1
XZ Z
= f W dxdt. (3.12)
n=0 In Ω

De nição 3.14 Uma função V ∈ Shr


δs
é dita solução discreta do problema regularizado (3.3) se
V = 0 em ∂Ω e satis zer a equação (3.12) para todo W ∈ Shr
δs
.

Como W pode não ser contínuo nos ti , i = 0, . . . , ni pode escolher-se W de modo que se
anule fora de In , n = 0, . . . , ni − 1. Neste caso, a equação (3.12) transforma-se em ni equações,
uma para cada In . Assim, o problema discreto pode ser encontrar V ∈ Shr
δs
de modo que
Z Z Z Z Z
Vt W dxdt + +
Vn−1 Wn−1
+
dx + aε (x, V )∇V · ∇W dxdt =
In Ω Ω In Ω

Z Z Z
= f W dxdt + Vn−1 Wn−1
+
dx, (3.13)
In Ω Ω

δs
∀W ∈ Shr , ∀n ∈ {0, . . . , ni}.
Tem agora de se provar que este problema tem solução única. Note-se que para demonstrar
a existência e unicidade de solução para o problema (3.12), é su ciente provar que, em cada
intervalo In e com o valor de Vn−1 xo, existe uma única solução para a equação (3.13).

Teorema 3.15 Se Vn−1 ∈ L2 (Ω) e f ∈ L2 (Ω × In ), então o problema (3.13) tem uma solução V .

Demonstração
Z Seja n ≥ 1 xo. ParaZ cada
Z h, δ > 0, de Zne-se a aplicação contínua F : Shr → Shr da forma
δs δs
Z
F (V ) W dxdt = Vt W dxdt + +
Vn−1 Wn−1
+
dx+
In Ω In Ω Ω

Z Z Z Z Z
+ aε (x, V )∇V · ∇W dxdt − f W dxdt − Vn−1 Wn−1
+
dx, δs
∀W ∈ Shr .
In Ω In Ω Ω

escolhendo W = V ,

46
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

Z Z Z Z Z
+
F (V ) V dxdt = Vt V dxdt + (Vn−1 )2 dx+
In Ω In Ω Ω

Z Z Z Z Z
2 +
+ aε (x, V )|∇V | dxdt − f V dxdt − Vn−1 Vn−1 dx.
In Ω In Ω Ω

Utilizando a majoração inferior de a e aplicando a desigualdade de Hölder, obtém-se


Z Z Z
1d +
F (V ) V dxdt ≥ kV k2L2 (Ω) dt + kVn−1 k2L2 (Ω) +
In Ω 2
In dt
Z Z
+
+
+εγ k∇V k2L2 (Ω) dt − kf kL2 (Ω) kV kL2 (Ω) dt − kVn−1 kL2 (Ω) kVn−1 kL2 (Ω) .
In In

Integrando o primeiro termo em t e utilizando as desigualdades de Cauchy e Poincaré, che-


ga-se a
Z Z
1
F (V ) V dxdt ≥ kVn k2L2 (Ω) +
In Ω 2
Z Z
+ 1
+Cεγ kV k2L2 (Ω) dt − kf kL2 (Ω) kV kL2 (Ω) dt − kVn−1 k2L2 (Ω) .
In In 2

Aplicando de novo a desigualdade de Cauchy, conclui-se que


Z Z
1
F (V ) V dxdt ≥ kVn k2L2 (Ω) +
In Ω 2
+
Cεγ
Z Z
1 1
+ kV k2L2 (Ω) dt − kf k2L2 (Ω) dt − kVn−1 k2L2 (Ω) .
2 In 2Cεγ + In 2

Se V pertencer a B = {W ∈ Shr
δs
: kW kL2 (Ω×In ) ≤ ,  > Cε1γ + kVn−1 kL2 (Ω) + (Cεγ1+ )2 kfn kL2 (Ω×In ) },
então Ω F (V ) V dx ≥ 0, ∀V ∈ ∂B. O corolário do teorema de ponto xo de Brouwer implica a
R

existência de um V∗ ∈ B tal que F (V∗ ) = 0. O teorema está provado com V = V∗ . 


Se se utilizarem aproximações no tempo e grau zero, então a de nição de B não depende
de ε.
Prova-se de seguida que a solução é única.

Teorema 3.16 Se Vn−1 ∈ L2 (Ω) e f ∈ L2 (Ω × In ), então o problema (3.13) tem uma única
solução V .

Demonstração
Sejam Vn−1 e f duas funções conhecidas e V1 e V2 duas soluções de (3.13), então, para
W ∈ Shr
δs
, tem-se que
Z Z Z Z Z
(V1 )t W dxdt + n−1 Wn−1 dx +
(V1 )+ +
aε (x, V1 )∇V1 · ∇W dxdt =
In Ω Ω In Ω

Z Z Z
= f W dxdt + Vn−1 Wn−1
+
dx
In Ω Ω

e Z Z Z Z Z
(V2 )t W dxdt + n−1 Wn−1 dx +
(V2 )+ +
aε (x, V2 )∇V2 · ∇W dxdt =
In Ω Ω In Ω
Z Z Z
= f W dxdt + Vn−1 Wn−1
+
dx.
In Ω Ω

47
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

Subtraindo estas duas igualdades e considerando V = V1 − V2 , obtém-se


Z Z Z Z Z
Vt W dxdt+ +
Vn−1 Wn−1
+
dx+ (aε (x, V1 )∇V1 −aε (x, V2 )∇V2 )·∇W dxdt = 0. (3.14)
In Ω Ω In Ω

Escrevendo
Z 1
d
aε (x, V1 )∇V1 − aε (x, V2 )∇V2 = (aε (x, ςV1 + (1 − ς)V2 )∇(ςV1 + (1 − ς)V2 )) dς =
0 dς
Z 1 Z 1
γ
= aε (x, ςV1 +(1−ς)V2 )∇V dς+ γ((ςV1 +(1−ς)V2 )2 +ε2 ) 2 −1 (ςV1 +(1−ς)V2 )(ς∇V1 +(1−ς)∇V2 )V dς
0 0

= A∇V + BV,

com Z 1
A= aε (x, ςV1 + (1 − ξ)V2 ) dς
0
e Z 1
γ
B= γ((ςV1 + (1 − ς)V2 )2 + ε2 ) 2 −1 (ςV1 + (1 − ς)V2 )(ς∇V1 + (1 − ς)∇V2 ) dς,
0

a igualdade (3.14) transforma-se em


Z Z Z Z Z
Vt W dxdt + +
Vn−1 Wn−1
+
dx + (A∇V + BV ) · ∇W dxdt = 0.
In Ω Ω In Ω

Integrando por partes o primeiro termo da última igualdade, ca-se com


Z Z Z Z Z
− V Wt dxdt + Vn Wn dx + (A∇V + BV ) · ∇W dxdt = 0. (3.15)
In Ω Ω In Ω

Seja W (x, t) = η(x, tn−1 + tn − t), com η a solução discreta do problema



 ηt − div(A∇η) + B∇η = φ
 em Ω × int(In )
η(x, tn−1 ) = 0 em Ω , (3.16)

η(x, t) = 0 em ∂Ω × int(In )

+
Neste problema φ é uma função arbitrária de L2 (Ω × int(In )). Uma vez que εγ ≤ A ≤ C e
+
|B| ≤ Cεγ , o problema tem uma solução fraca em Shr
δs
. Então a equação (3.15) transforma-se
em Z Z
V φ dxdt = 0, (3.17)
In Ω

pois Wn = W (x, tn ) = η(x, tn−1 ) = 0. Como (3.17) é válida para qualquer φ ∈ L2 (Ω × int(In )),
conclui-se que V = 0 e, consequentemente, a solução é única. 
O resto desta secção é dedicada à demonstração de uma estimativa do erro em termos
dos parâmetros da discretização para a solução totalmente discreta do problema (3.12). Esta
demonstração é muito semelhante à demonstração do teorema 3.13 e está também repartida
em dois lemas e um teorema.

Lema 3.17 Seja v solução fraca do problema aproximado e V a solução discreta, então a
função e = V − v satisfaz, para todo W ∈ Shr
δs
, a equação

Z Z ni−1
XZ Z
(−eWt + A∇e · ∇W + eB · ∇W ) dxdt = en [W ]n dx − eni Wni dx, ∀W ∈ Shr
δs
(3.18)
I Ω n=1 Ω Ω

48
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

com Z 1
A= aε (x, ςV + (1 − ξ)v) dς
0
e Z 1
γ
B= γ((ςV + (1 − ς)v)2 + ε2 ) 2 −1 (ςV + (1 − ς)v)(ς∇V + (1 − ς)∇v) dς.
0

Demonstração
A equação (3.12) pode ser reescrita da forma

ni−1
XZ Z ni−1
XZ ni−1
XZ Z
− V Wt dxdt − Vn [W ]n dx + aε (x, V )∇V · ∇W dxdt =
n=0 In Ω n=1 Ω n=0 In Ω

ni−1
XZ Z Z
= f W dxdt − Vni Wni dx.
n=0 In Ω Ω

Somando
Z Z ni−1
XZ Z Z Z Z Z
− V Wt dxdt− Vn [W ]n dx+ aε (x, V )∇V ·∇W dxdt = f W dxdt− Vni Wni dx.
I Ω n=1 Ω I Ω I Ω Ω

A solução fraca do problema satisfaz esta equação, ou seja,

Z Z ni−1
XZ Z Z Z Z Z
− vWt dxdt− vn [W ]n dx+ aε (x, v)∇v·∇W dxdt = f W dxdt− vni Wni dx.
I Ω n=1 Ω I Ω I Ω Ω

Subtraindo estas duas equações, obtém-se

Z Z ni−1
XZ Z Z Z
− eWt dxdt− en [W ]n dx+ (aε (x, V )∇V −aε (x, v)∇v)·∇W dxdt+ eni Wni dx = 0,
I Ω n=1 Ω I Ω Ω

onde e = V − v é o erro de V . Pode escrever-se


Z 1
d
aε (x, V )∇V − aε (x, v)∇v = (aε (x, ςV + (1 − ς)v)∇(ςV + (1 − ς)v)) dς =
0 dς
Z 1 Z 1
γ
= aε (x, ςV +(1−ς)v)∇e dς + γ((ςV +(1−ς)v)2 +ε2 ) 2 −1 (ςV +(1−ς)v)(ς∇V +(1−ς)∇v)e dς
0 0

= A∇e + Be.

Então,
Z Z ni−1
XZ Z Z Z Z Z
− eWt dxdt− en [W ]n dx+ A∇e·∇W dxdt+ eB·∇W dxdt+ eni Wni dx = 0.
I Ω n=1 Ω I Ω I Ω Ω

Reorganizando os termos, obtém-se o pretendido. 

Lema 3.18 Seja η(x, t) solução do problema parabólico seguinte:



 ηt − div(A∇η) + B∇η = φ
 em ΩT
η(x, 0) = 0 em Ω , (3.19)

η(x, t) = 0 em ΓT

49
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

com Z 1
A= aε (x, ςV + (1 − ς)v) dς,
0
e Z 1
γ
B= γ((ςV + (1 − ς)v)2 + ε2 ) 2 −1 (ςV + (1 − ς)v)(ς∇V + (1 − ς)∇v) dς.
0

Se
φ2
≤ C, (3.20)
A
então Z Z tZ
|∇η|2 dx + A(∆η)2 dxdt ≤ C. (3.21)
Ω 0 Ω

Demonstração
+ +
Tem-se que εγ ≤ A ≤ C e |B| ≤ Cεγ , logo pela teoria clássica [52], para qualquer ε > 0
e φ ∈ L2 (ΩT ) este problema tem uma única solução fraca contínua η tal que ηt , ∆η ∈ L2 (ΩT ).
A seguir encontram-se estimativas para η e respetivas derivadas.
Multiplicando (3.19) por ∆η e integrando, obtém-se
Z Z Z Z
ηt ∆η dx − A(∆η)2 dx = − B̃∇η∆η dx + φ∆η dx,
Ω Ω Ω Ω

com
1
∇γ
Z
B̃ = aε (x, ςV + (1 − ς)v) ln((ςV + (1 − ς)v)2 + ε2 ) dς.
0 2

Se se aplicar o teorema de Green no primeiro termo e se se multiplicar por −1, chega-se á


igualdade
Z Z Z Z
∇ηt ∇η dx + A(∆η)2 dx = B̃∇η∆η dx − φ∆η dx = I1 + I2 .
Ω Ω Ω Ω

Tem-se que
|B̃|2
Z Z
1
|I1 | ≤ A(∆η)2 dx + |∇η|2 dx
4 Ω Ω A
e
φ2
Z Z
1 2
|I2 | ≤ A(∆η) dx + dx.
4 Ω Ω A

Juntando as estimativas calculadas, obtém-se

|B̃|2 φ2
Z Z Z Z
1 d 1
|∇η|2 dx + A(∆η)2 dx ≤ |∇η|2 dx + dx.
2 dt Ω 2 Ω Ω A Ω A

É fácil veri car que


R 2
1 ∇γ
|B̃|2 0 2 ε
a (x, ςV + (1 − ς)v) ln((ςV + (1 − ς)v)2 + ε2 ) dς
≤ R1 ≤
A a (x, ςV + (1 − ς)v) dς
0 ε

R 2
1
C 0
aε (x, ςV + (1 − ς)v) dς
≤ R1 ≤ C.
0
aε (x, ςV + (1 − ς)v) dς

Pela hipótese (3.20) e pelo teorema de Gronwall, obtém-se a estimativa pretendida. 

50
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

Teorema 3.19 Seja v solução fraca do problema aproximado e V a solução discreta, então

γ+
+1 +
kV − vkL2 (ΩT ) ≤ Cε−γ (hr+1 kvkL∞ (I,H r+1 (Ω)) + δ s+1 |v (s+1) |W s+1,∞ (I,L2 (Ω)) ),
γ+
+1
2

onde C não depende de ε, h, r, δ nem de s.

Demonstração
Primeiro, de ne-se Ṽ ∈ Shr
δs
em cada In por
Z Z
Ṽ χ dx = ṽχ dx, ∀t ∈ In , χ ∈ Shr ,
Ω Ω

onde
ṽ(tn ) = v(tn ), n = 1, . . . , ni

e Z Z Z Z
δ,s−1
ṽW dxdt = vW dxdt, ∀W ∈ Shr .
In Ω In Ω

Para veri car que Ṽ está bem de nido, pode consultar-se [72].
Pode então escrever-se e = θ + ρ, onde θ = V − Ṽ e ρ = Ṽ − v.
Pelo teorema 2.86, obtêm-se as estimativas seguintes:

kρkL2 (Ω) ≤ C(hr+1 kvkL∞ (In ;H r+1 (Ω)) + δ s+1 |v|W s+1,∞ (In ;L2 (Ω)) ), ∀t ∈]0, T ].

Falta majorar θ. Para qualquer W ∈ Shr


δs
a igualdade seguinte é verdadeira.

Z Z ni−1
XZ Z Z Z Z Z
− θWt dxdt− θn [W ]n dx− A∇θ·∇W dxdt+ θB·∇W dxdt+ θni Wni dx =
I Ω n=1 Ω I Ω I Ω Ω

Z Z ni−1
XZ Z Z Z Z Z
= ρWt dxdt+ ρn [W ]n dx+ A∇ρ·∇W dxdt+ ρB ·∇W dxdt+ ρni Wni dx.
I Ω n=1 Ω I Ω I Ω Ω

Seja W a solução discreta do problema 3.19. A demonstração da existência desta solução é


semelhante à demonstração do teorema 3.15. Então,
Z Z Z Z Z Z
θφ dxdt = A∇ρ · ∇W dxdt − ρB · ∇W dxdt = I1 + I2 ,
I Ω I Ω I Ω

pois, devido à de nição de Ṽ ,

Z Z ni−1
XZ Z
ρWt dxdt = 0, ρn [W ]n dx = 0 e ρni Wni dx = 0.
I Ω n=1 Ω Ω

Pelas estimativas calculadas e pelas propriedades de Rh e ∆h , tem-se


Z Z

|I1 | = A∇Rh ρ · ∇W dxdt
I Ω
Z Z
ARh ρ · ∆h W dxdt

=
I Ω
Z Z  21 Z Z  21
≤ (Rh ρ) dxdt2
(A∆h W ) dxdt
2
I Ω I Ω

51
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

Z Z  12
−γ +
≤ Cε (hr+1
kvkL∞ (In ;H r+1 (Ω)) + δ s+1
|v|W s+1,∞ (In ;L2 (Ω)) ) A(∆h W ) dxdt2
I Ω

+
≤ Cε−γ (hr+1 kvkL∞ (In ;H r+1 (Ω)) + δ s+1 |v|W s+1,∞ (In ;L2 (Ω)) ),

Z Z  12 Z Z  21
2 2
|I2 | ≤ ρ dxdt (B · ∇W ) dxdt
I Ω I Ω
Z Z  21
r+1 s+1 −γ + 2
≤ C(h kvkL∞ (In ;H r+1 (Ω)) +δ |v|
W s+1,∞ (I n ;L2 (Ω))
)Cε (∇W ) dxdt
I Ω

+
≤ Cε−γ (hr+1 kvkL∞ (In ;H r+1 (Ω)) + δ s+1 |v|W s+1,∞ (In ;L2 (Ω)) ).

+
Considerando φ = |θ|γ /2
sign(θ), obtém-se o resultado pretendido. 
No caso de s = 0, as modi cações são evidentes.
Juntando este teorema com o teorema 3.13 e as estimativas para as derivadas de v, pode-se
estimar o erro entre u e V da forma
γ+
+1 + + 1
kV − ukL2 (ΩT ) ≤ Cε−αγ hr+1 + Cε−βγ δ s+1 + Cε 2 .
γ+
+1
2

Escolhendo de forma adequada r, s, h e δ, pode concluir-se que o erro se anula quando ε


tende para zero. Por exemplo, para r = 1 e s = 0, tem-se a estimativa

γ+
+1 1 + +
ku − V kL2 (ΩT ) ≤ C(ε 2 + h2 ε−9γ + δε−3γ ).
γ+
+1
2

1 9 + 1 +
Escolhendo h = ε 4 + 2 γ e δ = ε 2 +3γ , obtém-se

γ+
+1 1
ku − V kL2 (ΩT ) ≤ Cε 2 .
γ+
+1
2

3.1.4 Aproximação numérica

Devido às limitações de regularidade da solução, considera-se apenas polinómios de grau


zero no tempo. Neste caso, Vt = 0, Vn−1
+
= Vn e Wn−1
+
= Wn . Obtém-se então a equação
Z Z Z Z Z
Vn Wn dx + δ aε (x, Vn )∇Vn · ∇Wn dxdt = f dt Wn dx + Vn−1 Wn dx, (3.22)
Ω Ω Ω In Ω

, n ∈ {0, . . . , ni}. Denote-se gn (x) =


δ0
R
∀Wn ∈ Shr In
f dt.
A equação (3.22) traduz-se num sistema não linear de equações algébricas que tem de
ser resolvido em cada intervalo de tempo. Existem vários métodos possíveis de aplicar neste
problema, por exemplo, os métodos de Newton e de Newton linearizados mas, neste trabalho,
escolheu-se o método do ponto xo, devido à sua e ciência e facilidade de implementação e
análise. Descreve-se seguidamente a forma de calcular Vn dado Vn−1 .

Algoritmo 3.20 Dados Vn−1 ∈ Shr


δ0
e tol > 0, de ne-se k = 0 e W0 = Vn−1 .

52
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

1) Para k ≥ 1, Wk ∈ Shr
δ0
é calculado de modo que para todo W ∈ Shr
δ0

Z Z Z Z
Wk W dx + δ aε (x, Wk−1 )∇Wk · ∇W dx = gn W dx + W0 W dx, ∀W ∈ Shr .
Ω Ω Ω Ω
(3.23)

2) Se
kWk − Wk−1 kL2 (Ω) ≥ tol,

avança-se para o k seguinte voltando para 1).

3) Se
kWk − Wk−1 kL2 (Ω) < tol,

de ne-se Vn = Wk e termina.

Prova-se, antes de mais, que todas as estimativas obtidas pelo algoritmo são limitadas.

Lema 3.21 Supondo que kVn−1 kL2 (Ω) ≤ C, onde C não depende de n e que gn ∈ L2 (Ω), então
existe 0 < C 0 < ∞ tal que
kWk kL2 (Ω) ≤ C 0 , ∀k > 0,

onde C 0 não depende de k ou n.

Demonstração
Seja W = Wk em (3.23), então
Z Z Z Z
Wk2 dx + δ aε (x, Wk−1 )(∇Wk ) dx =
2
gn Wk dx + W0 Wk dx,
Ω Ω Ω Ω

ou seja,
Z Z Z
γ
kWk k2L2 (Ω) + δ 2
(Wk−1 + ε2 ) 2 ∇Wk · ∇Wk dx = gn Wk dx + W0 Wk dx.
Ω Ω Ω

γ
Como δ + ε2 ) 2 ∇Wk · ∇Wk dx é não negativo,
R 2

(Wk−1
Z Z
kWk k2L2 (Ω) ≤ gn Wk dx + W0 Wk dx.
Ω Ω

Aplicando a desigualdade de Hölder, obtém-se

kWk k2L2 (Ω) ≤ kgn kL2 (Ω) kWk kL2 (Ω) + kW0 kL2 (Ω) kWk kL2 (Ω) .

Simpli cando
kWk kL2 (Ω) ≤ kgn kL2 (Ω) + kW0 kL2 (Ω) .

O que prova o pretendido. 


De seguida, há que provar que o algoritmo converge.

Teorema 3.22 Seja tol > 0. Existe C > 0 tal que: δ < 1
C(h−2 ε−γ + +εγ + )
implica a existência de

k ∈ N de modo que
kWk − Wk−1 kL2 (Ω) ≤ tol, ∀k > k ∗ .

Demonstração

53
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

Para provar a convergência, demonstra-se que

kWk − Wk−1 kL2 (Ω) < C1 kWk−1 − Wk−2 kL2 (Ω) , C1 < 1, ∀k ≥ 2.

Aplicando (3.23) para k e k − 1, obtém-se


Z Z Z Z
Wk W dx + δ aε (x, Wk−1 )∇Wk · ∇W dx = gn W dx + W0 W dx (3.24)
Ω Ω Ω Ω

e
Z Z Z Z
Wk−1 W dx + δ aε (x, Wk−2 )∇Wk−1 · ∇W dx = gn W dx + W0 W dx. (3.25)
Ω Ω Ω Ω

Subtraindo (3.25) a (3.24) ca


Z Z
(Wk − Wk−1 ) W dx + δ (aε (x, Wk−1 )∇Wk − aε (x, Wk−2 )∇Wk−1 ) · ∇W dx = 0.
Ω Ω

Considere-se
Ek = Wk − Wk−1 ∈ Sh e W = Ek ,

então Z Z
Ek2 dx + δ (aε (x, Wk−1 )∇Wk − aε (x, Wk−2 )∇Wk−1 ) · ∇Ek dx = 0.
Ω Ω

Escreve-se
aε (x, Wk−1 )∇Wk − aε (x, Wk−2 )∇Wk−1 =
= aε (x, Wk−1 )∇Wk−1 − aε (x, Wk−1 )∇Wk−1 + aε (x, Wk−1 )∇Wk − aε (x, Wk−2 )∇Wk−2 +
+aε (x, Wk−2 )∇Wk−2 − aε (x, Wk−2 )∇Wk−1 =
= aε (x, Wk−1 )∇Ek + aε (x, Wk−1 )∇Wk−1 − aε (x, Wk−2 )∇Ek−1 − aε (x, Wk−2 )∇Wk−2 .

Logo,
Z Z Z
Ek2 dx + δ aε (x, Wk−1 )|∇Ek | dx + δ 2
(aε (x, Wk−1 )∇Wk−1 − aε (x, Wk−2 )∇Wk−2 ) · ∇Ek dx =
Ω Ω Ω
Z
=δ aε (x, Wk−2 )∇Ek−1 · ∇Ek dx.

Volta a escrever-se

aε (x, Wk−1 )∇Wk−1 − aε (x, Wk−2 )∇Wk−2 = A∇Ek−1 + BEk−1 ,

com Z 1
A= aε (x, ςWk−1 + (1 − ς)Wk−2 ) dς
0
e
Z 1
γ
B= γ((ςWk−1 + (1 − ς)Wk−2 )2 + ε2 ) 2 −1 (ςWk−1 + (1 − ς)Wk−2 )(ς∇Wk−1 + (1 − ς)∇Wk−2 ) dς.
0

+ +
Tem-se que εγ ≤ A ≤ C e |B| ≤ Cεγ . Então,
Z Z Z Z
Ek2 dx + δ aε (x, Wk−1 )|∇Ek |2 dx + δ A∇Ek−1 · ∇Ek dx + δ BEk−1 · ∇Ek dx =
Ω Ω Ω Ω

54
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

Z
=δ aε (x, Wk−2 )∇Ek−1 · ∇Ek dx,

ou seja,
Z Z Z Z
Ek2 dx+δ aε (x, Wk−1 )|∇Ek |2 dx = δ (aε (x, Wk−2 )−A)∇Ek−1 ·∇Ek dx−δ BEk−1 ·∇Ek dx.
Ω Ω Ω Ω

Pode então concluir-se que


Z Z
+
Ek2 dx + δ εγ |∇Ek |2 dx ≤
Ω Ω

+ + + +
ε−γ εγ εγ εγ
≤ δ(C k∇Ek−1 k2L2 (Ω) + k∇Ek k2L2 (Ω) ) + δ(C k∇Ek−1 k2L2 (Ω) + k∇Ek k2L2 (Ω) ).
2 2 2 2
Simpli cando,
+ +
Cδε−γ Cδεγ
Z
Ek2 dx ≤ k∇Ek−1 k2L2 (Ω) + kEk−1 k2L2 (Ω) .
Ω 2 2

Atendendo à desigualdade inversa k∇Ek−1 kL2 (Ω) ≤ ChkEk−1 kL2 (Ω) , obtém-se

+ +
kEk k2L2 (Ω) ≤ Cδ(h−2 ε−γ + εγ )kEk−1 k2L2 (Ω)

e aplicando a raiz quadrada, ca

+ + 1
kEk kL2 (Ω) ≤ (Cδ(h−2 ε−γ + εγ )) 2 kEk−1 kL2 (Ω) .

Se
1
δ< ,
C(h−2 ε−γ + + εγ + )
+ + 1
então obtém-se o pretendido, considerando C1 = (Cδ(h−2 ε−γ + εγ )) 2 < 1. 

3.1.5 Resultados numéricos

3.1.5.1 Segundo membro arti cial

Para testar o método, considera-se primeiro um problema com o segundo membro calculado
de modo que o problema tenha solução exata.
Seja ΩT =] − 1, 1[2 ×]0, T ] e considere-se o problema (3.1), onde
 x 2  y 2
γ =2− −
2 2

e as funções f e u0 são calculadas de modo que

u(x, y, t) = [(t + 0.1)2 − x2 − y 2 ]+

seja solução do problema. Utilizou-se uma malha estruturada como mostra a gura 3.1.
A tolerância usada foi tol = 10−10 . Para aproximar a solução, foram utilizados polinómios de
Lagrange de grau 1.
A gura 3.2, mostra a evolução da solução obtida com ε = 10−8 , δ = 10−3 e h = 0.1, em
alguns valores de t. Observa-se que o comportamento é idêntico ao da solução exata.

55
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

Figura 3.1: Malha espacial para h = 0.1 usada no problema com o segundo membro arti cial.

Figura 3.2: Evolução no tempo da aproximação obtida no problema com o segundo membro arti cial.

Com vista a analisar a convergência, zeram-se várias simulações para diversas combinações
de ε, h e δ. Na primeira imagem da gura 3.3, apresenta-se o logaritmo do erro da aproximação,
na norma de L2 (Ω), em função do logaritmo de h para alguns valores de δ. Conclui-se que o
erro diminui ao reduzir-se h e δ e que a ordem de convergência de h é aproximadamente 2.
A segunda imagem da gura 3.3 tem representado o logaritmo do erro da aproximação, na
norma de L2 (Ω), em função do logaritmo de δ para alguns valores de h. Pode observar-se que
o erro diminui ao reduzir-se h e δ e que a ordem de convergência de δ é aproximadamente 1.
A gura 3.4 tem representado o logaritmo do erro da aproximação, na norma de L2 (Ω), em
função do logaritmo de ε para alguns valores de h e com δ = 10−3 . O grá co evidencia que o
erro diminui ao reduzir-se ε e que a ordem de convergência é aproximadamente 1, melhor do
que é demonstrado no teorema 3.13.

56
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

Figura 3.3: Erro da aproximação obtida no problema com o segundo membro arti cial em função de h e
de δ.

Figura 3.4: Erro da aproximação obtida no problema com o segundo membro arti cial em função de ε.

3.1.5.2 Suporte não convexo

Considere-se agora um problema onde a solução inicial tem um buraco no suporte. Seja
ΩT =] − 1.5, 1.5[2 ×]0, T ] e um problema do tipo (3.1) com
 x 2  y 2
γ= + + 1.1.
2 2

A função f é considerada nula e u0 é de nida por


( p p
− sen(2 π x2 + y 2 ), 0.5 < x2 + y 2 < 1
u0 = .
0 , restante domínio

Utilizou-se o mesmo tipo de malha estruturada que no exemplo anterior.


Na gura 3.5, mostra-se a evolução da solução obtida no tempo. O buraco do suporte

57
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

desaparece ao m de um instante de tempo nito t∗ > 0. Após esse instante, o suporte torna-se
compacto e a solução comporta-se de um modo semelhante às soluções de Barenblat.

Figura 3.5: Evolução no tempo da aproximação obtida no problema com suporte não convexo.

3.1.5.3 Problema com absorção

Para terminar, simula-se um problema com um termo de absorção com expoente variável da
forma 


∂u
∂t = div(uγ(x,t) ∇u) − uσ(x,t) em ΩT
u=0 em ΓT .

u(x, 0) = u0 (x) em Ω

Não foi provada a convergência para este tipo de problemas, mas as modi cações não são
muito signi cativas. Considere-se então os expoentes como sendo

x2 + y 2
γ= e σ = x2 + y 2 + 1 + e−t .
t2 + 1

Os valores iniciais considerados são


( p p
cos(2 π x2 + y 2 ), x2 + y 2 < 0.5
u0 = .
0 , restante domínio

O domínio escolhido foi Ω =] − 1, 1[2 e usou-se uma malha estruturada composta por 3600
triângulos, como mostra a gura 3.6. A solução foi aproximada por polinómios de grau 1 no
espaço e grau zero no tempo. Terminou-se a simulação em T = 0.1. Na gura 3.7, está

58
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

Figura 3.6: Malha espacial para h = 1/15 usada no problema com absorção.

representada a evolução no tempo da solução obtida.

Figura 3.7: Evolução no tempo da aproximação obtida no problema com absorção.

3.2 Problema em domínio livre

O objetivo desta secção é implementar, em Matlab, um método que permita encontrar so-
luções aproximadas para o problema (3.1), em domínios espaciais livres de duas dimensões. A
técnica utiliza o método dos elementos nitos com uma malha móvel e aproximações de grau
maior que um. O uso de funções base seccionalmente polinomiais de grau r ≥ 1 vai permitir
a redução do número de elementos nitos mantendo a precisão. É aplicado um sistema de
EDP parabólicas que envolve a velocidade dos nós para mover a malha para certas regiões do
domínio. As equações da malha e do problema físico são resolvidas simultaneamente.

3.2.1 Formulação do problema

A abordagem do problema num domínio livre exige uma nova formulação que contemple o
movimento da fronteira. Nesta secção formula-se, de um modo exato, o problema num domínio
livre de R2 e de ne-se o que se entende por solução fraca neste contexto.
Seja Ω(t) ⊂ R2 e ]0, T ] um intervalo de tempo nito. Considere-se o seguinte problema:
encontrar a função u e o domínio Ω(t) que satisfaçam as condições



∂u
∂t − div(|u|γ(x,t) ∇u) = f (x, t, u) em Ω(t)×]0, T ]
u(x, t) = 0 em ∂Ω(t) × [0, T ] , (3.26)

u(x, 0) = u0 (x) em Ω(t)

59
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

onde γ é uma função limitada de nida em Ω(t)×]0, T ], tal que:

0 < γ − ≤ γ(x, t) ≤ γ + < ∞, ∀(x, t) ∈ Ω̄×]0, T ]. (3.27)

Para o problema car bem de nido, tem de se obter uma equação para a velocidade da fron-
teira, ν = ( ∂x ∂y
∂t , ∂t ).
Pela lei da conservação da massa,

∂u
+ div(ν · u) = 0, (3.28)
∂t

e pela equação (3.26), pode concluir-se que

ν = −sign(u)|u|γ−1 ∇u. (3.29)

A equação (3.29) indica a velocidade em cada x ∈ Ω(t). Uma vez que a solução tem a
propriedade de propagação com velocidade nita, é plausível assumir que limx→Γ ν existe e é
nito. Mesmo assim, a equação (3.29) não se adequa muito ao cálculo numérico da velocidade
da fronteira, pois na fronteira u = 0, logo, para que ela se mova, ∇u deve ser in nito, o que não
é viável em termos numéricos. Tem então de se procurar uma nova equação para a velocidade
normal da fronteira que se possa utilizar com o método dos elementos nitos. Como

∇|u|γ = sign(u)γ|u|γ−1 ∇u + |u|γ ∇γ ln(|u|),

então
∇|u|γ ∇γ γ
ν=− + |u| ln(|u|).
γ γ
Na fronteira, u = 0. Se γ > 1 e ∇γ é limitado em Ω, então u → 0 implica que

∇γ γ
|u| ln(|u|) → 0.
γ

Logo, a velocidade na fronteira pode ser dada por ν = − γ1 ∇|u|γ e a velocidade normal por

1 ∂|u|γ
νn = − . (3.30)
γ ∂n

Pelos mesmos argumentos, suponha-se que o limite existe e é nito.


Suponha-se que a fronteira de Ω(t) = {x ∈ R2 : u(x, t) > 0} é de nida pela condição
φ(x, t) = 0. O problema consiste em calcular a função u(x, t) > 0 e a posição da fronteira
φ(x, t) = 0 que satisfaçam as condições:




∂u γ
∂t = div(u ∇u) em Ω(t)×]0, T ]
em

 u(x, t) = 0 ∂Ω(t) × [0, T ]
. (3.31)
 u(x, 0) = u0 (x) > 0

 em Ω(0)
 ν = − 1 ∂uγ

em ∂Ω(t) × [0, T ]
n γ ∂n

De ne-se agora o que se entende por solução fraca para este problema. Seja ζ uma função
teste. Se se multiplicar a equação (3.31) por ζ e se for integrada em Ω(t), obtém-se
Z Z
∂u
ζ dx = div(uγ ∇u) ζ dx.
Ω(t) ∂t Ω(t)

60
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

Pelo teorema de Green e assumindo regularidade su ciente em ζ, chega-se a


Z Z Z
∂u ∂u
ζ dx = − uγ 5 u . 5 ζ dx + uγ ζ dx.
Ω(t) ∂t Ω(t) ∂Ω(t) ∂n

Escolhendo ζ de modo adequado, o último termo é nulo, pois na fronteira u = 0 e ν é


limitada logo Z Z
ζ uγ 5 u . n dx = ζ u ν . n dx = 0.
∂Ω(t) ∂Ω(t)

Então, obtém-se Z Z
∂u
ζ dx = − uγ 5 u . 5 ζ dx. (3.32)
Ω(t) ∂t Ω(t)

Considere-se o seguinte subespaço:

H u = {ζ(x, t) : ζ ∈ W 1,2 ( R2), ∀t > 0}.

De nição 3.23 Uma função u(x, t) é dita solução fraca do problema (3.31) se:
γ
(i) u ∈ L∞ (0, T ; L∞ (Ω(t))), u 2 ∇u ∈ L2 (0, T ; L2 (Ω(t))), ∂u
∂t ∈ L2 (0, T ; W −1,2 (Ω(t))),

(ii) u = 0 em ∂Ω(t),

(iii) para qualquer função de teste ζ ∈ H u e para todo 0 < t ≤ T , a equação (3.32) é válida,

(iv) u(x, 0) = u0 (x) em Ω(0),


γ
(v) νn = − γ1 ∂u
∂n em ∂Ω(t).

A condição (v) não é comum na de nição de solução fraca, pois surge implicitamente na equação
(3.32), mas não existe nenhuma demonstração exata de que (3.29) é válido na fronteira. Por
essa razão, decidiu-se impor (v) como uma condição na de nição.

3.2.2 Construção da malha adaptável


Nesta secção, vai criar-se uma malha que evolua com o domínio e que se adapte ao problema
concentrando-se em pontos onde a solução necessita de mais precisão. Para este m, escolheu-
-se o MMPDE [43], onde a adaptação da malha é vista como uma transformação de coordenadas
entre dois conjuntos.
Seja Ω ⊂ R2 o domínio onde o problema físico está de nido e seja Ωc ⊂ R2 um domínio arti-
cial que é utilizado para calcular a malha, em Ω, adaptada ao problema. De modo a distinguir
os dois domínios, denotam-se por Ωf o domínio do problema físico e Ωc o domínio computacio-
nal. Considere-se x = (x, y) e ξ= (ξ, η) as coordenadas locais de Ωf e Ωc respetivamente.
Como se pretende que a malha se adapte com o tempo, para se de nir a malha em Ωf basta
de nirem-se as aplicações x(ξ, η, t) e y(ξ, η, t) de Ωc para Ωf . Desta forma, a malha em Ωf , em
cada instante, é a imagem por estas aplicações de uma malha xa em Ωc .
A transformação de coordenadas, x, é determinada como sendo o minimizante de um fun-
cional F (x). Diferentes métodos, em geral, utilizam funcionais diferentes. Neste trabalho,
considera-se o funcional da forma
Z
1
F (x) = ∇xT m∇x + ∇y T m∇y dξ,
2 Ωc

61
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

onde m é uma matriz quadrada ou um escalar que será chamada função monitor que, geral-
mente, depende de u e que será de nida mais à frente.

As direções de descida máxima de F são dadas pelos simétricos das derivadas parciais,
então pode de nir-se
∂x ∂F ∂y ∂F
=− , =− .
∂t ∂x ∂t ∂y
Na prática, por vezes, é preferível utilizar direções descendentes diferentes da mais rápida, mas
que permitam ajustar a descida. Então, utilizar-se-á uma modi cação das equações anteriores

∂x 1 ∂E ∂y 1 ∂E
=− , =− ,
∂t τ ∂x ∂t τ ∂y

com τ > 0 (um parâmetro a de nir pelo utilizador), que permite ajustar a velocidade com que
a malha se ajusta. Desta forma, as aplicações x(ξ, η, t) e y(ξ, η, t) de Ωc para Ωf são calculadas
resolvendo as equações
∂x 1 ∂y 1
= div(m∇x), = div(m∇y).
∂t τ ∂t τ
Para m adequado é possível adicionar condições iniciais e na fronteira de modo a que exista
solução única.

Assim, obtém-se x = (x(ξ, η, t), y(ξ, η, t)) resolvendo o problema



∂x 1

 = div(m∇x) em Ωc ×]0, T ]
∂t τ





 ∂y
 1
= div(m∇y) em Ωc ×]0, T ] , (3.33)
 ∂t τ

em




 x(ξ, 0) = x0 (ξ) Ωc
x(ξ, t) = f x (ξ, t) em

 ∂Ωc

onde f x (ξ, t) está relacionada com o movimento da fronteira. Se a fronteira é xa, então
f (ξ, t) = x0 (ξ). Se a fronteira é móvel, então f (ξ, t) é de nida pela linha poligonal obtida
x x

pela solução do sistema formado pelas equações (3.40) e (3.41). τ é um parâmetro positivo e
m é a função monitor. Para o problema (3.33) ser do tipo parabólico, m deve ser uma função
escalar positiva ou matriz de funções de nida positiva. Foram realizadas diferentes simulações
com diferentes funções monitor e escolheu-se
s  2  2
∂u ∂u
m= 1 + 100 + 100 ,
∂x ∂y

pois é conhecida por concentrar pontos onde o gradiente de u é elevado e por saber-se que o
gradiente da solução é máximo próximo da fronteira, onde se quer mais de nição. Para que a
transformação x seja aplicável à geração da malha, têm de garantir-se algumas propriedades.
A existência, unicidade e invertibilidade são as indispensáveis, além disso, deve garantir-se
adaptabilidade e suavidade.

Adicionando condições de Dirichlet adequadas, x de ne uma aplicação harmónica de Ωc →


Ωf . Existência, unicidade e invertibilidade da aplicação harmónica são garantidas desde que a
fronteira de Ωf seja convexa [44]. A adaptabilidade depende da escolha de m e a suavidade
depende de τ .

Seja ζ uma função de teste. Multiplicando por ζ e integrando em Ωc a primeira equação de

62
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

(3.33), obtém-se Z Z
∂x 1
ζ dξ = div(m∇x) ζ dξ.
Ωc ∂t Ωc τ
Aplicando o teorema de Green e supondo que ζ se anula na fronteira e tem regularidade
su ciente, obtém-se
Z Z
∂x 1
ζ dξ = − m∇x · ∇ζ dξ.
Ωc ∂t τ Ωc

Para y a construção é semelhante, chegando à de nição seguinte.

De nição 3.24 Uma função x = (x(ξ, η, t), y(ξ, η, t)) é dita solução fraca do problema (3.33) se
√ √
(i) x, y ∈ L∞ (0, T ; W 1,2 (Ωc )), m∇x, m∇y ∈ L2 (0, T ; L2 (Ωc )), ∂x ∂y
∂t , ∂t ∈ L2 (0, T ; W −1,2 (Ωv )),

(ii) x = f x em ∂Ωc ,

(iii) para 0 < t ≤ T as seguintes equações são satisfeitas


Z Z
∂x 1
ζ dξ = − m∇x · ∇ζ dξ, ∀ζ ∈ H0x , (3.34)
Ωc ∂t τ Ωc

Z Z
∂y 1
ζ dξ = − m∇y · ∇ζ dξ, ∀ζ ∈ H0x , (3.35)
Ωc ∂t τ Ωc

(iv) x(ξ, 0) = x0 (ξ), em Ωc ,

H0x = {ζ(ξ, η, t) : ζ ∈ W 1,2 (Ωc ), ∀t > 0, ζ|Γc = 0},

3.2.3 Discretização espacial


Seja h > 0, Th uma partição em triângulos de Ωc , denota-se na mesma por Th a corres-
pondente partição de Ωf . Para permitir maior de nição na solução, é necessário de nir dois
espaços de elementos nitos, um para a solução constituído por polinómios de grau r e outro
para o movimento da malha formado por polinómios de grau 1,

u
Shr = {uh ∈ C00 (Ω̄)|uh|Tk é um polinómio de grau r ∀Tk ∈ Th }

e
Shx = {xh ∈ C00 (Ω̄)|xh|Tk é um polinómio de grau 1 ∀Tk ∈ Th }.

Como os vértices dos triângulos podem mover-se, considera-se a aproximação discreta U e


as funções teste pertencendo a Shr
u
da forma

np
X np
X
u≈U = Uj (t)ϕj , ζ= ζi (t)ϕj ,
j=1 i=1

com ϕj = ϕj (x, y, X1 (t), . . . , Xnv (t), Y1 (t), . . . , Ynv (t)),

onde (Xk , Yk ) = Pk são as coordenadas do vértice k. Alguns valores de Uj são utilizados para
satisfazer as condições da fronteira e os restantes valores são as incógnitas a determinar. Os
valores de χi são conhecidos ( arbitrários ).
Calculando a derivada em relação a t e aplicando a regra da cadeia obtemos, obtém-se

63
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

np nv nv
∂U X ∂Uj X ∂ϕj ∂Xk X ∂ϕj ∂Yk
= ( ϕj + Uj + Uj )
∂t j=1
∂t ∂Xk ∂t ∂Yk ∂t
k=1 k=1
np nv nv
X ∂Uj ∂ϕj X ∂Xk ∂ϕj X ∂Yk
= ( ϕj − Uj ψk − Uj ψk ),
j=1
∂t ∂x ∂t ∂y ∂t
k=1 k=1

onde ψk é o polinómio interpolador de Lagrange de grau 1 associado ao ponto k. A última


igualdade foi provada em [45].
Substituindo na equação (3.32), pode deduzir-se que

np np
Z nv nv
!
X ∂Uj ∂ϕj X ∂Xk ∂ϕj X ∂Yk X
ϕj − Uj ψk − Uj ψk ζi ϕi dx =
Ω(t) j=1 ∂t ∂x ∂t ∂y ∂t i=1
k=1 k=1
Z np
XX np
=− U γ Uj ζi ∇ϕj · ∇ϕi dx.
Ω(t) j=1 i=1

Uma vez que ζi são conhecidos ( arbitrários ), tem-se que


np Z nv nv
X ∂Uj ∂ϕj X ∂Xk ∂ϕj X ∂Yk
( ϕj − Uj ψk − Uj ψk )ϕi dx =
j=1 Ω(t)
∂t ∂x ∂t ∂y ∂t
k=1 k=1
Xnp Z
=− U γ Uj ∇ϕj · ∇ϕi dx, i = 1, . . . , np.
j=1 Ω(t)
Escrevendo de outra forma,

np Z nv Z nv Z
X ∂Uj X ∂U ∂Xk X ∂U ∂Yk
ϕj ϕi dx − ϕi ψk dx − ϕi ψk dx =
j=1 Ω(t) ∂t Ω(t) ∂x ∂t Ω(t) ∂y ∂t
k=1 k=1

np Z
X
=− U γ ∇ϕj · ∇ϕi dx Uj , i = 1, . . . , np. (3.36)
j=1 Ω(t)

De um modo semelhante, consideram-se as aproximações discretas X, Y e as funções teste


pertencentes ao espaço Shx da forma

nv
X nv
X nv
X
x≈X= Xj (t)ψj (ξ, η), y≈Y = Yj (t)ψj (ξ, η), ζ= ζi (t)ψi (ξ, η).
j=1 j=1 i=1

Substituindo nas equações (3.34), (3.35) e procedendo de modo análogo, obtém-se


nv Z nv Z
X ∂Xj 1X
ψj ψi dξ = − Xj m∇ψj · ∇ψi dξ , i = 1, . . . , nv (3.37)
j=1
∂t Ωc τ j=1 Ωc

e
nv Z nv Z
X ∂Yj 1X
ψj ψi dξ = − Yj m∇ψj · ∇ψi dξ , i = 1, . . . , nv. (3.38)
j=1
∂t Ωc τ j=1 Ωc

Juntando as equações (3.36), (3.37) e (3.38), tem-se o sistema ODE nal com as incógnitas
∂Uj ∂Xk
∂t , ∂t e ∂t . Este sistema pode ser escrito da forma matricial com
∂Yk

  ∂U
  
M 11 M 12 M 13 ∂t F1
M 22 ∂X (3.39)
  2 
0 0  =  F ,
 
  ∂t
∂Y
0 0 M 33 ∂t F3

onde

64
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

Z nt Z
X
11
Mij = ϕi ϕj dx = ϕi ϕj dx,
Ωf k=1 Tk∗
Z np nt Z np
12
X ∂ϕl X X ∂ϕl
Mij =− ϕi ψj Ul dx = − ϕi ψj Ul dx,
Ωf ∂x ∗ ∂x
l=1 k=1 Tk l=1
Z np nt Z np
13 ∂ϕl X X X ∂ϕl
Mij =− Ul dx = −
ϕi ψj ϕi ψj Ul dx,
Ωf ∂y Tk∗ ∂y
l=1 k=1 l=1
Z nt Z
X
22
Mij = ψi ψj dξ = ψi ψj dξ,
Ωc k=1 Tk
Z Xnt Z
33
Mij = ψi ψj dξ = ψi ψj dξ,
Ωc k=1 Tk
np
X Z Xnp Z
Fi1 = − Uj ( Ul ϕl )γ ∇ϕj · ∇ϕi dx + f ϕi dx =,
j=1 Ωf l=1 Ωf
 
nt
X np Z
X np
X Z
= − ( Ul ϕl )γ ∇ϕj · ∇ϕi dxUj + f ϕi dx,
k=1 j=1 Tk∗ l=1 Tk∗
 
nv Z nt nv Z
1 X 1 X X
Fi2 = − m∇ψj · ∇ψi dξXj = −  m∇ψj · ∇ψi dξXj ,
τ j=1 Ωc
τ j=1 Tk
k=1
 
nv Z nt nv Z
1 X 1 X X
Fi3 = − m∇ψj · ∇ψi dξYj = − m∇ψj · ∇ψi dξYj .
τ j=1 Ωc
τ j=1 T kk=1

De forma a satisfazer as condições especí cas do problema, alguns destes elementos devem
ser alterados. O sistema (3.39) vai ser resolvido utilizando o integrador ode15s [66], no intervalo
]0, T ].

3.2.4 Movimento da fronteira

Para aplicar o método dos elementos nitos é necessário discretizar a equação (3.30). A
fronteira é aproximada por uma linha poligonal. É necessário então calcular-se as derivadas
parciais de uγ e o vetor normal à curva φ(x, y, t) = 0 em cada ponto da malha que pertença
γ y 1 ∂uγ
à fronteira móvel. Para obter as aproximações νhx ≈ γ1 ∂u∂x e νh ≈ γ ∂y , primeiro obtém-se o
polinómio interpolador, Zh , de uγ no espaço Shr
u
. Então, pode escrever-se

np
X
Zh = Zj ϕj .
j=1

O valor das derivadas parciais espaciais em cada ponto vértice é o resultado da média
aritmética das derivadas em cada triângulo que contém este ponto, isto é,

∂ϕj 1 X ∂ϕj
(Pm ) = (Pm ),
∂x ]Im ∂x Ti
i∈Im

Im = { índices dos triângulos que têm Pm como vértice}.

Finalmente,
np np
1 X ∂ϕj 1 X ∂ϕj
νhx (Pm ) = − Zj (Pm ) e νhy (Pm ) = − Zj (Pm ).
γ j=1 ∂x γ j=1 ∂y

65
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

O vetor normal em cada ponto da fronteira é a soma normalizada dos dois vectores normais
aos dois segmentos que concorrem nesse ponto, como mostra a gura 3.8.
Suponha-se que no ponto Pm , pertencente à fronteira móvel, o vetor normal é n = (nx , ny ),

Figura 3.8: Cálculo do vetor normal

então a equação para a velocidade da fronteira em (3.31) pode ser discretizada da forma

∂Xm ∂Ym
nx + ny = νhx (Pm )nx + νhy (Pm )ny . (3.40)
∂t ∂t

Esta equação é adicionada às equações (3.36), (3.37) e (3.38) substituindo a equação relativa
ao ponto Xm .
Como é preciso mais uma equação para o movimento da fronteira, impõe-se que os pontos
fronteiros se movam segundo retas que passam na origem. Para o ponto Pm se mover segundo
uma recta que passa na origem tem de satisfazer a equação

∂Xm ∂Ym
Ym − Xm = 0. (3.41)
∂t ∂t

Esta equação também é adicionada às equações (3.36), (3.37) e (3.38) substituindo a equação
relativa ao ponto Ym .

3.2.5 Resultados numéricos

3.2.5.1 Expoente constante

Para testar o novo método, simula-se primeiro o caso em que γ é constante. Neste caso, são
conhecidas soluções exatas, o que permite medir o erro. No caso γ = 2 e f = 0 a solução do
problema (3.1) é
"  2 2 # 21
1 x + y2
u(x, y, t) = 2 1 − ,
ϑ %0 ϑ
+

onde  61
%20

t
ϑ= , t0 = .
t0 6
Iniciou-se a simulação com o raio inicial %0 = 0.5 e de niu-se o tempo t = t − t0 .
O domínio computacional é o suporte da solução inicial, ou seja, Ωc = Ω(0) = supp(u0 ) =
círculo de centro na origem e raio 0.5. Utilizaram-se aproximações de u de grau 3 e de x de
grau 1. O parâmetro de suavização foi τ = 0.1 A malha inicial é uma malha estruturada com
512 triângulos, como mostra a gura 3.9.

66
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

Figura 3.9: Domínio computacional e malha inicial usados no problema com expoente constante.

Na gura 3.10, está representada a solução obtida, para alguns valores de t. Pode observar-
-se que evolui da mesma forma que a solução exata.

Figura 3.10: Evolução no tempo da aproximação obtida no problema com expoente constante.

A gura 3.11 tem representada a malha em alguns instantes. A tracejado tem-se a posição
exata da fronteira no respetivo instante. Veri ca-se que a malha se adapta ao movimento da
fronteira.

Figura 3.11: Evolução no tempo da malha obtida no problema com expoente constante.

Foram realizadas várias simulações para malhas iniciais diferentes. Em cada simulação, o
número de triângulos foi dividido por quatro. Foi medido o erro da solução na norma L2 (Ω) e o
erro da fronteira na norma L∞ . Os resultados estão apresentados na gura 3.12.
A gura tem representado o logaritmo do erro em função do logaritmo do número de triân-
gulos. Pode observar-se que tanto a solução como a fronteira convergem, mas a convergência
é lenta.

67
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

Figura 3.12: Erro das aproximações da solução e da fronteira, obtidas no problema com expoente
constante, em função do número de triângulos.

3.2.5.2 Problema com suporte não convexo

Este exemplo é o mesmo do segundo exemplo simulado para a malha xa, ou seja, com
 x 2  y 2
γ= + + 1.1.
2 2

A função f é considerada nula e u0 é de nida por


( p p
−sin(2 π x2 + y 2 ), 0.5 < x2 + y 2 < 1
u0 = .
0 , restante domínio

Neste caso, o domínio computacional é Ωc = Ω(0) = supp(u0 ) = coroa circular de raios 0.5 e 1.
Utilizaram-se aproximações de u de grau 2 e de x de grau 1. O parâmetro de suavização é o
mesmo do exemplo anterior.
A malha inicial foi calculada utilizando o programa initmesh do Matlab, que utiliza a trian-
gulação de Delaunay e está representa na gura 3.13. A malha é composta por 212 triângulos.

Figura 3.13: Domínio computacional e malha inicial usados no problema com suporte não convexo.

Na gura 3.14, pode observar-se que a solução obtida evolui da mesma forma que a solução
obtida no caso de malha xa. Não é possível simular a solução após o desaparecimento do
buraco interior, pois, neste caso, todos os pontos da fronteira interior convergem para um
ponto e o método torna-se degenerado. Para evitar que isso aconteça, para-se o algoritmo
quando os pontos da fronteira estão muito próximos.
Na gura 3.15, está representada a evolução da malha. Nota-se que se adapta bem ao
movimento da fronteira da solução obtida.

68
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

Figura 3.14: Evolução no tempo da aproximação obtida no problema com suporte não convexo.

Figura 3.15: Evolução no tempo da malha obtida no problema com suporte não convexo.

3.2.5.3 Problema com absorção e expoente constante

Agora, simulam-se dois casos de problemas de equações em meios porosos mas com absor-
ção.
Considere-se, então, o problema



∂u
∂t = div(uγ(x,t) ∇u) − uσ(x,t) em ΩT
u=0 em ΓT .

u(x, 0) = u0 (x) em Ω

No caso de expoentes constantes, são conhecidas explicitamente algumas soluções exatas o


que permite analisar o erro. No caso limite de γ = 2, σ = 1, uma solução deste problema é
1
x2 + y 2 2

− 2
u(x, y, t) = 2 6(e2t − 1)et 3 − .
3(e2t − 1) +

Para estes valores dos expoentes, a velocidade da fronteira é conhecida e a expressão coincide
com a expressão para o caso sem absorção. Iniciou-se a simulação em t0 = 0.01 e normalizou-se
o tempo da forma t = t − t0 . O domínio computacional é o suporte da solução inicial, isto é,
Ωc = Ω(0) = supp(u0 ) = círculo centrado na origem de raio 0.7.
Utilizou-se aproximações de U de grau 4 no espaço e grau zero no tempo. A malha compu-
tacional usada foi uma malha estruturada como mostra a gura 3.11.
Na gura 3.16, mostra-se a evolução da solução obtida com uma malha de 512 triângulos.
Pode observar-se que o comportamento da solução aproximada é semelhante ao comportamento
da solução exata.
Na gura 3.17, estão representadas as malhas obtidas em alguns instantes. A posição exata
da fronteira é indicada por uma linha a tracejado. Observa-se que, mais uma vez, a malha se

69
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

Figura 3.16: Evolução no tempo da aproximação obtida no problema com absorção e expoente constante.

adapta bem ao movimento da fronteira.

Figura 3.17: Evolução no tempo da malha obtida no problema com absorção e expoente constante.

O problema foi simulado para diferentes malhas com diferente número de triângulos e cal-
culou-se o erro da solução e da fronteira em cada simulação. Os resultados obtidos do erro
na norma L2 (Ω) para a solução e na norma L∞ (Ω) na fronteira foram representados na gura
3.18. Para analisar a ordem de convergência, representou-se o logaritmo do erro em função do
logaritmo do número de triângulos. Os resultados indicam que existe convergência tanto para
solução como para a fronteira, mas essa convergência é lenta.

Figura 3.18: Erro das aproximações da solução e da fronteira, obtidas no problema com absorção e
expoente constante, em função do número de triângulos.

3.2.5.4 Problema com absorção e expoente variável

Por m, simula-se um problema com absorção onde ambos os expoentes são variáveis. Neste
caso, não existe nenhum resultado teórico que indique o movimento da fronteira. Para expo-
entes constantes e para σ ≥ 1 em dimensão um, o movimento da fronteira é dado pela mesma
equação que o problema sem absorção. Em dimensões superiores a um, surge um termo que

70
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

pensa-se não ter muita in uência para estes valores de σ e que pode ser desprezado. Neste
sentido, supõe-se que a mesma equação é válida para expoentes variáveis e domínios em R2.
Para se poder validar as suposições, testa-se o mesmo exemplo simulado para malha xa, ou
seja, com os expoentes
x2 + y 2
γ= e σ = x2 + y 2 + 1 + e−t ,
t2 + 1
e valores iniciais u0 de nidos por
( p p
cos(2 π x2 + y 2 ), x2 + y 2 < 0.5
u0 = .
0 , restante domínio

Como sempre, o domínio computacional é o suporte da solução inicial, ou seja, Ωc = Ω(0) =


supp(u0 ) = círculo centrado na origem e raio 0.5. Foram utilizadas aproximações de grau 2 e os
mesmos parâmetros de adaptação que no exemplo anterior. A malha inicial está representada
na gura 3.19 e é composta por 156 triângulos.

Figura 3.19: Domínio computacional e malha inicial usados no problema com absorção e expoente
variável.

Na gura 3.20, pode observar-se que a solução evolui da mesma forma que a solução obtida
em malha xa.

Figura 3.20: Evolução no tempo da aproximação obtida no problema com absorção e expoente variável.

Na gura 3.21, está representada a evolução da malha. Note-se que ela se comporta da
mesma forma que a malha obtida para o caso de expoentes constantes.

71
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

Figura 3.21: Evolução no tempo da malha obtida no problema com absorção e expoente variável.

72
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

Capítulo 4

Sistema Não Linear Com Termo De Difusão Não


Local

Neste capítulo, estuda-se um sistema de equações parabólicas do tipo reação-difusão num


domínio xo com os termos de difusão não locais atuando em formas lineares li . Considere-se
então o sistema
(
ut − a1 (l1 (u), l2 (v))∆u + λ1 |u|p−2 u = f1 (x, t) em Ω×]0, T ]
. (4.1)
vt − a2 (l1 (u), l2 (v))∆v + λ2 |v|p−2 v = f2 (x, t) em Ω×]0, T ]

As funções u e v podem descrever as densidades de duas populações que interagem através das
funções a1 e a2 .
Este capítulo, diz respeito à prova da existência, unicidade e propriedades físicas das so-
luções globais regulares do sistema (4.1). O outro objetivo é provar a convergência de uma
solução totalmente discreta com o método dos elementos nitos de Euler-Galerkin.
Na secção 1, formula-se o problema e as hipóteses sobre os dados. Na secção 2, prova-se a
existência e unicidade de soluções globais fortes. Na secção 3, investigam-se as propriedades de
localização de soluções locais. Na secção 4, apresenta-se um resultado sobre o comportamento
assintótico da solução global do sistema. Na secção 5, discretiza-se o problema no espaço e
prova-se a convergência da solução semidiscreta. A secção 6 é dedicada à discretização no
tempo e à prova de convergência da solução totalmente discreta. Por m, apresentam-se al-
guns exemplos da aplicação desta teoria, na secção 7.

4.1 Formulação do problema

De uma forma exata, seja Ω um domínio de Rd com fronteira regular ∂Ω. Considere-se o
seguinte problema: encontrar o par (u, v) que satisfaz as seguintes condições:



 ut − a1 (l1 (u), l2 (v))∆u + λ1 |u|p−2 u = f1 (x, t) em Ω×]0, T ]
 v − a (l (u), l (v))∆v + λ |v|p−2 v = f (x, t) em

t 2 1 2 2 2 Ω×]0, T ]
, (4.2)


 u(x, t) = v(x, t) = 0 em ∂Ω×]0, T ]
em

 u(x, 0) = u (x), v(x, 0) = v (x)
0 0 Ω

onde λ1 , λ2 são constantes não negativas e p > 1.


Durante este capítulo, supõe-se que se veri cam as seguintes hipóteses:

H1: v0 , u0 ∈ L2 (Ω),

H2: ai : R2 → R é limitada com 0 < a− ≤ ai(l1, l2) ≤ a+, l1, l2 ∈ R, i = 1, 2,


H3: ai : R2 → R é Lipschitz-contínua com |ai(s1, r1) − ai(s2, r2)| ≤ Ai|s1 − s2| + Bi|r1 − r2|,
s1 , s2 , r1 , r2 ∈ R, i = 1, 2,

73
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

H4: li : L2 (Ω) → R é uma forma linear contínua, isto é, existe gi ∈ L2(Ω), tal que:
Z
li (u) = lgi (u) = gi (x)u(x)dx, para todo u ∈ L2 (Ω), i = 1, 2,

H5: f1 , f2 ∈ L2 (0, T ; L2 (Ω)).

De nição 4.1 (Solução Fraca) Diz-se que o par (u, v) é uma solução fraca do problema (4.2) se

(i) u, v ∈ L2 (0, T ; H01 (Ω) ∩ Lp (Ω)) ∩ C([0, T ]; L2 (Ω)), ut , vt ∈ L2 (0, T ; H −1 (Ω)),

(ii) para todo ζ ∈ H01 (Ω), as seguintes igualdades em D0 (0, T ) são verdadeiras:
Z Z Z Z
d p−2
uζ dx + a1 (l1 (u), l2 (v)) ∇u.∇ζ dx + λ1 |u| uζ dx = f1 ζ dx, (4.3)
dt Ω Ω Ω Ω

e
Z Z Z Z
d p−2
vζ dx + a2 (l1 (u), l2 (v)) ∇v.∇ζ dx + λ2 |v| vζ dx = f2 ζ dx, (4.4)
dt Ω Ω Ω Ω

(iii) u(x, t) = v(x, t) = 0 em ∂Ω×]0, T ],

(iv) u(x, 0) = u0 (x), v(x, 0) = v0 (x) em Ω.

4.2 Existência e unicidade de soluções fortes


Esta secção é dedicada à prova da existência e unicidade de soluções fortes para o problema
(4.2). Deve destacar-se que as principais ferramentas para provar a existência e a unicidade de
solução para este sistema são o conhecido Método de Faedo-Galerkin e o Lema de Aubin-Lions.

Teorema 4.2 (Existência) Seja p > 1 e 0 < T < +∞. Se as hipóteses H1-H5 forem satisfeitas,
então existe uma solução fraca (u, v) do sistema (4.2) no sentido da de nição 4.1.

Demonstração
Sejam {χn (x)}n∈N a base Hilbertiana de H01 (Ω) e Sn o espaço gerado por χ1, χ2 , . . . , χn ,
n = 1, 2, . . . .
Considere-se
n
X n
X
un (x, t) = Uin (t)χi (x) e vn (x, t) = Vin (t)χi (x),
i=1 i=1

as soluções fracas do sistema aproximado correspondente a (4.2), onde Uin (t) e Vin (t) são as
soluções do sistema ODE, não linear, na variável t, seguinte:
Z Z Z Z
p−2
(un )t χ dx+a1 (l1 (un ), l2 (vn )) ∇un .∇χ dx+λ1 |u| uχ dx = f1 χ dx ∀χ ∈ Sn , (4.5)
Ω Ω Ω Ω
Z Z Z Z
p−2
(vn )t χ dx+a2 (l1 (un ), l2 (vn )) ∇vn .∇χ dx+λ2 |v| vχ dx = f2 χ dx ∀χ ∈ Sn , (4.6)
Ω Ω Ω Ω

com as condições iniciais


n
X
un (0) = u0n = U0in χi → u0 em L2 (Ω), (4.7)
i=1

74
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

n
X
vn (0) = v0n = V0in χi → v0 em L2 (Ω). (4.8)
i=1

Como é bem sabido, o sistema (4.5)-(4.8) tem uma solução local (un (t), vn (t)) em algum
intervalo [0, tn [, 0 < tn < T . Para provar que essa solução pode ser estendida a todo o intervalo
]0, T ], para qualquer T > 0, usa-se a primeira estimativa à priori calculada abaixo.
Fazendo χ = un (x, t) em (4.5), obtém-se
Z
1 d
kun k2L2 (Ω) + a1 (l1 (un ), l2 (vn ))kun k2H 1 (Ω) + λ1 kun kpLp (Ω) = f1 un dx. (4.9)
2 dt 0

Utilizando as desigualdades de Poincaré e Hölder, transforma-se o segundo membro para

a−
Z
|f1 un | dx ≤ Ckf1 k2L2 (Ω) + kun k2H 1 (Ω) .
Ω 2 0

Pela H2, pode escrever-se a inequação (4.9) da forma

1 d a−
kun k2L2 (Ω) + kun k2H 1 (Ω) + λ1 kun kpLp (Ω) ≤ Ckf1 k2L2 (Ω) .
2 dt 2 0

Então, tem-se que

d
kun k2L2 (Ω) + a− kun k2H 1 (Ω) + 2λ1 kun kpLp (Ω) ≤ Ckf1 k2L2 (Ω) . (4.10)
dt 0

Integrando (4.10) em [0, t] e usando o facto de un (0) → u0 fortemente em L2 (Ω), obtém-se


Z t Z t Z t
kun k2L2 (Ω) + a− kun k2H 1 (Ω) dt + 2λ1 kun kpLp (Ω) dt ≤ kun (x, 0)k2L2 (Ω) + C kf1 k2L2 (Ω) dt ≤ C,
0
0 0 0
(4.11)
onde C é uma constante que não depende de t e n.
Da mesma forma, fazendo χ = vn (x, t) em (4.6), tem-se
Z t Z t Z t
kvn k2L2 (Ω) + a− kvn k2H 1 (Ω) dt + 2λ2 kvn kpLp (Ω) dt ≤ kvn (x, 0)k2L2 (Ω) + C kf2 k2L2 (Ω) dt ≤ C,
0
0 0 0
(4.12)
com C uma constante que não depende de t e n.
Por (4.11) e (4.12), conclui-se que

(un ) e (vn ) são limitadas em L∞ (0, T ; L2 (Ω)), (4.13)

(un ) e (vn ) são limitadas em L2 (0, T ; H01 (Ω)), (4.14)

(un ) e (vn ) são limitadas em Lp (0, T ; Lp (Ω)). (4.15)

Então, pode estender-se a solução ao intervalo ]0, T ]. De seguida, passa-se ao limite quando
n → ∞. Tem-se que

p−2
(un )t = a1 (l1 (un ), l2 (vn ))∆un − λ1 |un | un + f1 ∈ H −1 (Ω).

Note-se que −a1 (l1 (un ), l2 (vn ))∆un de ne um elemento de H −1 (Ω), dado por
Z
h−a1 (l1 (un ), l2 (vn ))∆un , ζi = a1 (l1 (un ), l2 (vn )) ∇un · ∇ζdx, ∀ζ ∈ H01 (Ω).

75
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

Então,
(un )t e (vn )t são limitadas em L2 (0, T ; H −1 (Ω)). (4.16)

Devido ao corolário do teorema de Banach-Alouglu, de (4.13), (4.14) e (4.16) podem ex-


trair-se subsucessões (que são denotadas pelo mesmo símbolo) umk = um e vmk = vm tais
que
∗ ∗
un * u, vn * v em L∞ (0, T ; L2 (Ω)), (4.17)

un * u, vn * v em L2 (0, T ; H01 (Ω)), (4.18)

(un )t * ut , (vn )t * vt em L2 (0, T ; H −1 (Ω)). (4.19)

Por outro lado, H01 (Ω) ,→,→ L2 (Ω) ,→ H −1 (Ω). Juntando as convergências (4.18) e (4.19) e
o lema de compacidade de Aubin-Lions, obtém-se

un → u fortemente em L2 (0, T ; L2 (Ω)), (4.20)

logo, passando, se necessário a uma subsucessão, ainda denotada por (un ), tem-se

un → u qtp em Ω×]0, T ].

p−2
Uma vez que z 7→ |z| z é uma função contínua, deduz-se

p−2 p−2
|un | un → |u| u qtp em Ω×]0, T ]. (4.21)

De (4.15) e observando que p0 = p


p−1 > 1 é o conjugado de p > 1 conclui-se que

p−2
(|un | un ) é limitada em Lp0 (0, T ; Lp0 (Ω)). (4.22)

Além disso, de (4.21) e (4.22), infere-se que

p−2 p−2
|un | un * |u| u em Lp0 (0, T ; Lp0 (Ω)),

o que implica que


Z T Z Z T Z
p−2 p−2
|un | un χ dxdt → |u| uχ dxdt, ∀χ ∈ Lp (0, T ; Lp (Ω)).
0 Ω 0 Ω

Para concluir a demonstração só falta provar que


Z T Z Z T Z
a1 (l1 (un ), l2 (vn )) ∇un .∇χ dxdt → a1 (l1 (u), l2 (v)) ∇u.∇χ dxdt.
0 Ω 0 Ω

Para isso, é su ciente provar que

a1 (l1 (un ), l2 (vn )) → a1 (l1 (u), l2 (v)) em L2 (0, T ).

Como a é contínua, mostra-se apenas que

l1 (un ) → l1 (u) em L2 (0, T ).

76
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

De facto, tem-se que


Z T Z T Z T
2 2 2
|l1 (un ) − l1 (u)| dt = |l1 (un − u)| dt ≤ C kun − ukL2 (Ω) dt.
0 0 0

Este último resultado é consequência da convergência (4.20).

Para a segunda equação, procede-se de modo idêntico.

Seguidamente veri cam-se os dados iniciais. De facto, utilizando o resultado de regulari-


dade do teorema 2.65, tem-se que

u ∈ C 0 ([0, T ]; L2 (Ω)).

Deste modo, faz sentido calcular u(0). Seja ϑ ∈ C 1 (0, T ; R), com ϑ(0) = 1 e ϑ(T ) = 0.
Devido à convergência (4.19) tem-se que
Z T Z T
(u0n , ζ)ϑdt → (u0 , ζ)ϑdt, ζ ∈ L2 (Ω). (4.23)
0 0

Integrando por partes (4.23), resulta


Z T Z T
0
− (un (0), ζ) − (un , ζ)ϑ dt → −(u(0), ζ) − (u, ζ)ϑ0 dt. (4.24)
0 0

Utilizando a convergência (4.18) em (4.24), obtém-se que (un (0), ζ) → (u(0), ζ), para todo
ζ ∈ H01 (Ω). Mas un (0) converge fortemente para u0 em L2 (Ω), consequentemente, fracamente
em L2 (Ω). Além disso, (un (0), ζ) → (u0 , ζ), para todo ζ ∈ H01 (Ω). Pela unicidade do limite,
tem-se que (u(0), ζ) → (u0 , ζ), para todo ζ ∈ H01 (Ω). Logo u(0) = u0 . Da mesma forma,
conclui-se que v(0) = v0 . Então, o problema (4.2) tem uma solução. 

Neste momento, prova-se que a solução obtida é única.

Teorema 4.3 (Unicidade) Seja p > 1 e 0 < T < +∞. Se as hipóteses H1-H5 forem satisfeitas,
então o problema (4.2) tem, no máximo, uma solução.

Demonstração

Sejam (u1 , v1 ) e (u2 , v2 ) duas soluções fracas do sistema (4.2), então


Z Z Z Z
d

p−2


 dt u1 ζ dx + a 1 (l 1 (u1 ), l2 (v 1 )) ∇u1 .∇ζ dx + λ 1 |u 1 | u1 ζ dx = f1 ζ dx
ZΩ ZΩ ZΩ ZΩ ,
d p−2
∇v1 .∇ζ dx + λ2 |v1 |


 v1 ζ dx + a2 (l1 (u1 ), l2 (v1 )) v1 ζ dx = f2 ζ dx
dt Ω Ω Ω Ω

Z Z Z Z
d

p−2


 dt u2 ζ dx + a1 (l1 (u2 ), l2 (v2 )) ∇u2 .∇ζ dx + λ1 |u2 | u2 ζ dx = f1 ζ dx
ZΩ ZΩ ZΩ ZΩ .
 d p−2

 v2 ζ dx + a2 (l1 (u2 ), l2 (v2 )) ∇v2 .∇ζ dx + λ2 |v2 | v2 ζ dx = f2 ζ dx
dt Ω Ω Ω Ω

77
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

Subtraindo e escolhendo ζ1 = u1 − u2 na primeira equação e ζ2 = v1 − v2 na segunda,


obtém-se

1 d 2 2 p−2

 2 dt kζ1 kL2 (Ω) + a1 (l1 (u1 ), l2 (v1 ))kζ1 kH01 (Ω) + λ1 (|u1 | u1 − |u2 |p−2 u2 , u1 − u2 ) ≤

 R
 ≤ |a (l (u ), l (v )) − a (l (u ), l (v ))| ∇u · ∇ζ dx
1 1 2 2 2 1 1 1 2 1 2 1
1 d 2
.

 2 dt kζ2 kL2 (Ω) + a2 (l1 (u1 ), l2 (v1 ))kζ2 k2H 1 (Ω) + λ2 (|v1 |p−2 v1 − |v2 |p−2 v2 , v1 − v2 ) ≤

 0 R
≤ |a2 (l1 (u2 ), l2 (v2 )) − a2 (l1 (u1 ), l2 (v1 ))| ∇v2 · ∇ζ2 dx

Usou-se o facto de
Z Z
a1 (l1 (u1 ), l2 (v1 )) ∇u1 · ∇ζ1 dx − a1 (l1 (u2 ), l2 (v2 )) ∇u2 · ∇ζ1 dx =
Ω Ω
Z Z
= a1 (l1 (u1 ), l2 (v1 )) ∇u1 · ∇ζ1 dx − a1 (l1 (u2 ), l2 (v2 )) ∇u2 · ∇ζ1 dx+
Ω Ω
Z Z
+a1 (l1 (u1 ), l2 (v1 )) ∇u2 · ∇ζ1 dx − a1 (l1 (u1 ), l2 (v1 )) ∇u2 · ∇ζ1 dx =
Ω Ω
Z Z
= a1 (l1 (u1 ), l2 (v1 )) ∇ζ1 · ∇ζ1 dx − (a1 (l1 (u2 ), l2 (v2 )) − a1 (l1 (u1 ), l2 (v1 ))) ∇u2 · ∇ζ1 dx.
Ω Ω

Somando e usando o facto de (|u1 |p−2 u1 − |u2 |p−2 u2 , u1 − u2 ) ≥ 0 e (|v1 |p−2 v1 − |v2 |p−2 v2 , v1 − v2 ) ≥ 0,
deduz-se que

1 d
(kζ1 k2L2 (Ω) + kζ2 k2L2 (Ω) ) + a1 (l1 (u1 ), l2 (v1 ))kζ1 k2H 1 (Ω) + a2 (l1 (u1 ), l2 (v1 ))kζ2 k2H 1 (Ω) ≤
2 dt 0 0

Z
≤ |a1 (l1 (u2 ), l2 (v2 )) − a1 (l1 (u1 ), l2 (v1 ))| ∇u2 · ∇ζ1 dx+

Z
+|a2 (l1 (u2 ), l2 (v2 )) − a2 (l1 (u1 ), l2 (v1 ))| ∇v2 · ∇ζ2 dx.

Pelas propriedades de ai e li tem-se que

1 d
(kζ1 k2L2 (Ω) + kζ2 k2L2 (Ω) ) + a− (kζ1 k2H 1 (Ω) + kζ2 k2H 1 (Ω) ) ≤
2 dt 0 0

≤ (A1 |l1 (u2 ) − l1 (u1 )| + B1 |l2 (v2 ) − l2 (v1 )|)ku2 kH01 (Ω) kζ1 kH01 (Ω) +

+(A2 |l1 (u2 ) − l1 (u1 )| + B2 |l2 (v2 ) − l2 (v1 )|)kv2 kH01 (Ω) kζ2 kH01 (Ω)

≤ (A1 |l1 (u2 − u1 )| + B1 |l2 (v2 − v1 )|)ku2 kH01 (Ω) kζ1 kH01 (Ω) +

+(A2 |l1 (u2 − u1 )| + B2 |l2 (v2 − v1 )|)kv2 kH01 (Ω) kζ2 kH01 (Ω)

≤ C1 (ku2 − u1 kL2 (Ω) + kv2 − v1 kL2 (Ω) )ku2 kH01 (Ω) kζ1 kH01 (Ω) +

+C2 (ku2 − u1 kL2 (Ω) + kv2 − v1 kL2 (Ω) )kv2 kH01 (Ω) kζ2 kH01 (Ω) .

Logo,

1 d a− M (t)
(kζ1 k2L2 (Ω) + kζ2 k2L2 (Ω) ) + (kζ1 k2H 1 (Ω) + kζ2 k2H 1 (Ω) ) ≤ (kζ1 k2L2 (Ω) + kζ2 k2L2 (Ω) ),
2 dt 2 0 0 2

78
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

com
C12 C2
M (t) = −
ku2 k2H 1 (Ω) + 2− kv2 k2H 1 (Ω) ∈ L1 (0, T ).
4a 0 4a 0

De nindo z(t) = (kζ1 k2L2 (Ω) + kζ2 k2L2 (Ω) ), tem-se que

dz
≤ M (t)z, z(0) = 0.
dt

Logo z(t) = 0 e, consequentemente, u1 = u2 e v1 = v2 . 


A regularidade da solução (u, v) pode ser melhorada se se considerarem dados mais regula-
res.
Rt
Teorema 4.4 Se u0 , v0 ∈ L∞ (Ω) e 0
kf kL∞ (Ω) dt ≤ C, então a solução fraca (u, v) do sistema
(4.2) satisfaz
u, v ∈ L∞ (0, T ; L∞ (Ω)).

Demonstração
Seja k > 0, se se multiplicar a primeira equação do sistema (4.2) por u2k−1 e se for integrada
em Ω, obtém-se
Z Z Z Z
1 d 2k 2 2(k−1) p+2k−2
u dx + (2k − 1)a1 (l1 (u), l2 (v)) |∇u| u dx + λ1 |u| dx = f1 u2k−1 dx.
2k dt Ω Ω Ω Ω

Então,
1 d 2k−1
kuk2k
L2k (Ω) ≤ kf kL2k (Ω) kukL2k (Ω) ,
2k dt
ou, de modo equivalente,

d
kuk2k−1
L2k (Ω) kukL2k (Ω) ≤ kf kL2k (Ω) kuk2k−1
L2k (Ω) .
dt

Simpli cando o fator kuk2k−1


L2k (Ω) e integrando em t, vem

Z t
kukL2k (Ω) ≤ ku0 kL2k (Ω) + kf kL2k (Ω) dt.
0

Fazendo k → ∞ obtém-se a estimativa pretendida para u. Com o mesmo processo, prova-se


a estimativa para v. 
Na verdade, se as condições do último teorema forem válidas, então a solução é uma solução
forte, no sentido de ut , ∆u ∈ L2 (0, T ; L2 (Ω)).
RT
Teorema 4.5 Suponha-se que u0 , v0 ∈ L∞ (Ω) ∩ H01 (Ω) e 0
kf kL∞ (Ω) dt ≤ C, então o sistema
(4.2) admite uma solução forte (u, v).

Demonstração
Multiplicando a primeira equação do sistema (4.2) por ∆u e integrando em Ω, resulta
Z Z Z Z
ut ∆u dx − a1 (l1 (u), l2 (v))(∆u)2 dx + λ1 |u|p−2 u∆u dx = f1 ∆u dx.
Ω Ω Ω Ω

Aplicando o teorema de Green no primeiro e último termos do primeiro membro, obtém-se


Z Z Z Z
∇ut · ∇u dx + a1 (l1 (u), l2 (v))(∆u)2 dx + λ1 (p − 1) |u|p−2 |∇u|2 dx = − f1 ∆u dx,
Ω Ω Ω Ω

79
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

por isso,
Z Z Z Z
1 d
|∇u|2 dx + a1 (l1 (u), l2 (v))(∆u)2 dx + λ1 (p − 1) |u|p−2 |∇u|2 dx = − f1 ∆u dx.
2 dt Ω Ω Ω Ω

A integração em [0, T ] leva a


Z Z T Z
1
|∇u(x, T )|2 dx + a1 (l1 (u), l2 (v))(∆u)2 dxdt+
2 Ω 0 Ω
Z T Z Z Z T Z
p−2 2 1 2
+λ1 (p − 1) |u| |∇u| dxdt = |∇u0 | dx − f1 ∆u dxdt.
0 Ω 2 Ω 0 Ω

Pela desigualdade do Cauchy e pelo limite inferior de a1 , conclui-se que


Z Z T Z Z T Z
1 2 − 2
|∇u(x, T )| dx + a (∆u) dxdt + λ1 (p − 1) |u|p−2 |∇u|2 dxdt ≤
2 Ω 0 Ω 0 Ω
T T
a−
Z Z Z Z Z
1
≤ |∇u0 |2 dx + C f12 dxdt + (∆u)2 dxdt.
2 Ω 0 Ω 2 0 Ω

Simpli cando
!
Z Z T Z Z Z T Z
2 − 2 2
|∇u(x, T )| dx + a (∆u) dxdt ≤ C |∇u0 | dx + f12 dxdt .
Ω 0 Ω Ω 0 Ω

Com os mesmos argumentos, mas aplicados à segunda equação, obtém-se


!
Z Z T Z Z Z T Z
2 − 2 2
|∇v(x, T )| dx + a (∆v) dxdt ≤ C |∇v0 | dx + f22 dxdt .
Ω 0 Ω Ω 0 Ω

Utilizando a hipótese do teorema, prova-se que ∆u, ∆v ∈ L2 (0, T ; L2 (Ω)). Relembrando as


duas primeiras equações de (4.2), deduz-se que

ut = a1 (l1 (u), l2 (v))∆u − λ1 |u|p−2 u + f1 ∈ L2 (0, T ; L2 (Ω))

e
vt = a2 (l1 (u), l2 (v))∆v − λ2 |v|p−2 v + f2 ∈ L2 (0, T ; L2 (Ω)).

4.3 Propriedades de localização

De seguida, estudam-se alguns efeitos de localização das soluções deste tipo de sistemas.
No decorrer desta secção, supõe-se sempre que as hipóteses dos teoremas de existência e
unicidade são satisfeitas. Sejam x0 ∈ Ω e %0 ∈]0, dist(x0 , ∂Ω)], então de ne-se

B% ≡ B% (x0 ) = x ∈ Rd : |x − x0| < % ⊂ Ω, e

Γ% ≡ Γ% (x0 ) = ∂B% (x0 ).

A primeira propriedade que se quer estudar é a localização estável ( stable localization ).

80
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

Assume-se que
u(x, 0) = 0 e v(x, 0) = 0 qtp em B%0 . (4.25)

De nição 4.6 ([3],119) A função %(t) : [0, t∗ [→ [0, +∞[, %(0) ≤ %0 , é dita uma taxa no ponto
x0 se
∀t ∈ [0, t∗ [, u(x, t) = 0 qtp em B%(t) (x0 ) = {x : |x − x0 | < %(t)} ⊂ Ω.

De nição 4.7 ([3],120) Diz-se que a função u(x, t) possui a propriedade de localização estável
se para algum x0 ∈ Ω, existe uma taxa estritamente positiva %(t), no ponto x0 , de nida no
conjunto [0, ∞[ de tal modo que
lim inf %(t) > 0.
t→∞

Introduzem-se as funções de energia locais para u da forma

bu (%, t) = ||u(·, t)||2L2 (B% ) , bu (%) = sup bu (%, ς),


0≤ς≤T

Z tZ
Eu (%, t) = |∇u|2 dxdς, E u (%) = sup Eu (%, ς),
0 B% 0≤ς≤T
Z tZ
p
Du (%, t) = |u| dxdς, e Du (%) = sup Du (%, ς).
0 B% 0≤ς≤T

As funções de energia locais para v são de nidas de forma análoga. Por sup pretende dizer-se
ess sup.
De ne-se
b = bu + bv , E = Eu + Ev e D = Du + Dv .

Sem perda de generalidade, assume-se sempre que

bu (%) + E u (%) + Du (%) + bv (%) + E v (%) + Dv (%) ≤ C, % ≤ %0 , t ≤ T. (4.26)

Por (4.11) e (4.12) a constante C em (4.26) só depende de u0 , v0 , f1 e f2 e pode ser calculada


de uma forma construtiva. Alguns dos passos das demonstrações são semelhantes para ambas as
funções. Nesses casos, e se não houver perigo de confusão, apresenta-se apenas a teoria para
a função u e omite-se o índice u nas funções de energia. Uma vez que E e D são monótonas
não decrescentes em % e t, as seguintes derivadas existem no sentido fraco:
RtR RtR p
E% (%, t) = 0 Γ%
|∇u|2 dsdς, D% (%, t) = 0 Γ% |u| dsdς,
R R p
Et (%, t) = |∇u|2 dx, Dt (%, t) = B% |u| dx,
RB% R p
E%t (%, t) = Γ%
|∇u|2 ds, D%t (%, t) = Γ% |u| ds.

Teorema 4.8 (Localização estável) Seja (u, v) solução fraca de (4.2) com 1 < p < 2 em B%0 ×]0, T ],
(B%0 ⊂ Ω) e suponha-se que

u(x, 0) = 0, v(x, 0) = 0, f1 (x, 0) = 0, f2 (x, t) = 0, (x, t) ∈ B%0 × [0, T ]. (4.27)

Então,
u(x, t) = 0 e v(x, t) = 0 qtp em (x, t) ∈ B% × R+,
onde % é de nido pela equação (4.32).

81
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

Demonstração

Se se multiplicar a primeira equação de (4.2) por u e se se integrar em B% para % ≤ %0 ,


obtém-se Z Z Z
1 d
u2 dx + a1 |∇u|2 + λ1 |u|p dx = a1 u∇u · n ds.
2 dt B% B% Γ%

Integrando em [0, t] e como se assume (4.25), pode concluir-se que


Z Z tZ Z tZ Z tZ
1
u2 dx + a1 |∇u|2 dxdς + λ1 |u|p dxdς = a1 u∇u · n dsdς.
2 B% 0 B% 0 B% 0 Γ%

Mudando a notação, tem-se que

1
b(%) + a− E(%, t) + λ1 D(%, t) ≤ I. (4.28)
2

Agora, avalia-se I da seguinte forma

Z tZ
|I| ≤ a+ |∇u| |u| dsdς
0 Γ%
Z tZ ! 12 Z tZ ! 12
+ 2 2
≤ a |∇u| dsdς |u| dsdς
0 Γ% 0 Γ%

Z tZ ! 21
1
2
≤ a+ (E% ) 2
|u| dsdς . (4.29)
0 Γ%

Depois, aplica-se a seguinte desigualdade multiplicativa


ϑ 1−ϑ
kukL2 (Γ% ) ≤ C k∇ukL2 (B% ) + %−$ kukLq (B% ) × kukLq (B% ) , (4.30)

com  
d(2 − q) + q 2−q
ϑ= < 1, 1 < q < 2, $ = − 1 + d ,
d(2 − q) + 2q 2q
e usa-se o facto de
2(q−p) p(2−q) 2−p p 4
kukLq (B% ) ≤kukLq(2−p)
2 (B% )
kukLq(2−p)
p (B% )
= kukL22(B% ) kukL2 p (B% ) , p < q = < 2.
4−p

Na nossa notação, tem-se


2−p 1
kukLq (B% ) ≤ b 4 Dt2 ,

e (4.30) ca da forma
 1 2−p 1
ϑ  2−p 1 1−ϑ
kukL2 (Γ% ) ≤ C Et2 +%−$ b 4 Dt2 b 4 Dt2 . (4.31)

82
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

Voltando a (4.29) tem-se sucessivamente que

Z tZ ! 21
1
2
|I| ≤ a+ (E% ) 2
|u| dsdς
0 Γ%

1
Z t 
1 2−p
2ϑ  2−p 1 2(1−ϑ)  12
1
−$
≤ C (E% ) 2
Et +%
2
b 4 Dt 2
b 4 Dt2 dς
0
Z t  12
1 (2−p)(1−ϑ)
−$ϑ ϑ (1−ϑ)
≤ % K1 (E% ) 2
(b) 4 (Et +Dt ) (Dt ) dς
0
Z t  12
1 (2−p)(1−ϑ)
−$ϑ
≤ % K1 (E% ) 2
(b) 4 (Et + Dt ) dς
0
1 (2−p)(1−ϑ) 1
≤ %−$ϑ K1 (E% ) 2 ( b ) 4 (E+ D) 2
1  12 + (2−p)(1−ϑ)
≤ %−$ϑ K1 (E% ) 2 b+E+ D 4
,

(2−p)ϑ
com K1 = Cmax(1, ( b ) 4
0 ). Substituindo a última desigualdade em (4.28),
(%0 )) max(1, %$ϑ
obtém-se
 21  12 + (2−p)(1−ϑ)
b + E + D ≤ %−$ϑ K1 E % b+E + D 4
,

ou, de forma equivalente,

 12 − (2−p)(1−ϑ)  21
b+E+D 4
≤ %−$ϑ K1 E % .

Se se de nir
(2 − p)(1 − ϑ)
℘= < 1,
2
então tem-se que
( E )1−℘ ≤ %−2$ϑ K12 E % ,

ou, numa notação mais completa,

(E u )1−℘ ≤ %−2$ϑ K12 (E u )% .

De modo semelhante,
(E v )1−℘ ≤ %−2$ϑ K22 (E v )% .

Somando estas duas desigualdades, obtém-se

(E u + E v )1−℘ ≤ %−2$ϑ K3 (E u + E v )% ⇔ (E)1−℘ ≤ %−2$ϑ KE% .

Integrando esta desigualdade em ]%, %0 [ chega-se a


%ω ω
(E(%0 ))℘ − (E(%))℘ , ω = 1 + 2$ϑ.

0 −% ≤

Logo, (E(%))℘ = 0 se a função %(t) satis zer


%ω (t) = %ω
0 − (E(%0 ))℘ . (4.32)

Este resultado implica que se a energia global



bu (%0 ) + E u (%0 ) + Du (%0 ) + bu (%0 ) + E u (%0 ) + Du (%0 )

83
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

não for muito elevada, então %(t) > 0 e existe um cilindro B% × R+ onde u e v são nulas qtp.

Seguidamente, investiga-se o efeito de tempo de espera no sentido da de nição seguinte.

De nição 4.9 ([3],120) Dado x0 ∈ Ω, seja

%0 = sup{% > 0 : u(x, 0) = 0 qtp em B% (x0 ) ⊂ Ω}.

Diz-se que u(x, t) possui a propriedade de tempo de espera generalizada se para algum tw > 0,
a função %(t) ≡ %0 é uma taxa no ponto x0 no intervalo [0, tw ].

Assume-se que
Z Z
2 2
|u0 | dx = 0, |v0 | dx = 0, f1 (x, t) = 0, f2 (x, t) = 0, (x, t) ∈ B%0 × [0, T ], (4.33)
B%0 B% 0

0 < %0 < R e ainda que


!
Z Z Z T Z p Z T Z p 1
2 2 p−1 p−1
|u0 | dx + |v0 | dx + |f1 | dxdς + |f2 | dxdς ≤  [% − %0 ]+℘ ,
B% B% 0 B% 0 B%
(4.34)
onde ℘ é de nido como no teorema anterior.
Suponha-se que
!
Z Z T Z
2 2 2 2 p p
sup |u| + |v| dx + |∇u| + |∇v| + |u| + |v| dxdt ≤ CR < ∞ (4.35)
t∈[0,T ] BR 0 BR

e os parâmetros CR , ℘, R , %0 satisfazem
 1
 1−℘
CR ℘
− 1−℘ 1
G = CR − C5 (R − %0 ) − C6  (R − %0 ) ℘ = 0, (4.36)

onde C5 = C5 (b(R)) e C6 (p, d) é a constante do teorema de imersão.

Teorema 4.10 (Efeito de tempo de espera) Seja (u, v) solução fraca de 4.2 com 1 ≤ p < 2 em
BR ×]0, T ]. Se (4.33)-(4.36) são satisfeitas então

u(x, t) = 0 e v(x, t) = 0, (x, t) ∈ B%0 × [0, T ]. (4.37)

Demonstração
Repetindo os primeiros passos da demonstração do teorema 4.8 para %0 ≤ % ≤ R chega-se
às desigualdades
1 1
bu + Eu (%, t) + Du (%, t) ≤ C1 (Eu )%1−℘ + C2  [% − %0 ]+℘ (4.38)

e
1 1
bv + Ev (%, t) + Dv (%, t) ≤ C3 (Ev )%1−℘ + C4  [% − %0 ]+℘ . (4.39)

Somando estas duas desigualdades, obtém-se


1 1
b + E(%, t) + D(%, t) ≤ C5 E%1−℘ + C6  [% − %0 ]+℘ . (4.40)

84
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

Utilizando as propriedades
Z tZ
∇u + ∇v + |u|p + |v|p dxdς,
2 2 
E% ≤ Ψ% , Ψ=E+D=
0 B%

Z tZ !
∂ ∇u + ∇v + |u|p + |v|p dsdς
2 2 
sup Ψ% (%, ς) = sup =
ς∈[0,t] ∂% ς∈[0,t] 0 Γ%
! !
Z T Z
∇u + ∇v + |u| + |v| dsdt = ∂
p p
2 2 
= sup Ψ(%, ς) ,
0 Γ% ∂% ς∈[0,t]

pode rescrever-se (4.40) na forma (4.41)


1 1
Ξ(%) ≤ C5 Ξ%1−℘ + C6  [% − %0 ]+℘ , (4.41)

onde,
Z T Z
∇u + ∇v + |u|p + |v|p dxdς.
2 2
Ξ(%) = sup Ψ(%, t) =
t∈[0,T ] 0 B%

Considere-se o problema:
1 1
φ(%) = C5 φ%1−℘ + C6  [% − %0 ]+℘ , %0 ≤ % ≤ R. (4.42)

Este problema tem uma solução na forma


1 1
−℘
φ(%) = CR (R − %0 ) (% − %0 ) ℘ , (4.43)

se os parâmetros CR , ℘, R , %0 satis zerem


 1
 1−℘
CR ℘
− 1−℘ 1
G = CR − C5 (R − %0 ) − C6  (R − %0 ) ℘ = 0.

Para CR , ℘, %0 xos, basta escolher R su cientemente grande e  su cientemente pequeno.


É fácil veri car que φ(%) é um majorante de Ξ(ρ). Como φ(%0 ) = 0 e devido à monotonia
em % de Ξ, o teorema está provado. 

4.4 Comportamento assintótico

Nesta secção, estuda-se o comportamento assintótico das soluções quando t tende para
in nito. Introduz-se a função de energia global
Z
1
b(t) = u2 + v 2 dx,
2 Ω

com (u, v) solução de (4.2)

Teorema 4.11 (Decaimento exponencial) Se f1 ≡ f2 ≡ 0 e λ1 = λ2 = 0, então a função b


satisfaz
b(t) ≤ b(0)e−ϑt ,

com ϑ uma constante positiva, que apenas depende de a− e Ω.

85
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

Demonstração
Suponha-se que f1 ≡ f2 ≡ 0 e λ1 = λ2 = 0. Multiplicando a primeira equação do sistema
(4.2) por u, a segunda por v e integrando em Ω, obtém-se
Z Z
1 d
u2 dx + a1 (l1 (u), l2 (v))|∇u|2 dx = 0
2 dt Ω Ω

e Z Z
1 d
v 2 dx + a2 (l1 (u), l2 (v))|∇v|2 dx = 0.
2 dt Ω Ω

Adicionando estas duas equações, resulta


Z Z
d 2
b(t) + a1 (l1 (u), l2 (v))|∇u| dx + a2 (l1 (u), l2 (v))|∇v|2 dx = 0.
dt Ω Ω

Utilizando o limite inferior de ai e aplicando a desigualdade de Poincaré, conclui-se que

d
b(t) + 2Ca− b(t) ≤ 0
dt

e

b(t) ≤ b(0)e−2Ca t .

Logo, o teorema está provado com ϑ = 2Ca− > 0. 

Teorema 4.12 (Extinção em tempo nito) Suponha-se que 1 < p < 2 e (u, v) é solução de
(4.2).

i) Se fi ≡ 0, i = 1, 2, então (u, v) extingue-se num tempo nito, ou seja,

u(x, t) ≡ 0 e v(x, t) ≡ 0 em Ω para t > te ,

onde te depende apenas de ku0 kL2 (Ω) , kv0 kL2 (Ω) , p e Ω.

ii) Se f1 6≡ 0 ou f2 6≡ 0, então existem 0 > 0 e t0 > te , tais que

  2℘−1
t 2−2℘
kfi kL2 (Ω) ≤ 1− , i = 1, 2,
tf +

com tf ≥ t0 , ℘ de nidos por (4.45) e 0 <  < 0 , implica que (u, v) extingue-se num tempo
nito.

Demonstração
Multiplicando a primeira equação de (4.2) por u e integrando em Ω, obtém-se
Z Z Z Z
1 d
u2 dx + a1 (l1 (u), l2 (v))|∇u|2 dx + λ1 |u|p dx = f1 u dx,
2 dt Ω Ω Ω Ω

ou, de forma equivalente,


Z Z Z
1 d
u2 dx + C |∇u|2 + |u|p dx = f1 u dx. (4.44)
2 dt Ω Ω Ω

Pela desigualdade multiplicativa:

Z Z ϑ Z  2(1−ϑ)
p
2 2 p
u dx ≤ |∇u| dx |u| dx ≤
Ω Ω Ω

86
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

Z ϑ+ 2(1−ϑ)
p
2 p
≤ |∇u| + |u| dx , ϑ ∈]0, 1[,

pode concluir-se que Z Z ℘


2 p 2
|∇u| + |u| dx ≥ u dx ,
Ω Ω

onde,
p
℘= < 1. (4.45)
pϑ + 2(1 − ϑ)
Substituindo esta última desigualdade em (4.44), obtém-se
Z Z ℘ Z
1 d
u2 dx + C u2 dx ≤ f1 u dx. (4.46)
2 dt Ω Ω Ω

Da mesma forma, pode provar-se que


Z Z ℘ Z
1 d
v 2 dx + C v 2 dx ≤ f2 v dx. (4.47)
2 dt Ω Ω Ω

Se fi ≡ 0, i = 1, 2, e somando estas duas desigualdades, chega-se à seguinte desigualdade


diferencial para b,
b0 + Cb℘ ≤ 0.

Integrando em t, obtém-se

b1−℘ ≤ Ct(℘ − 1) + b(0)1−℘ .

Logo,
b(0)1−℘
b = 0 para t ≥ te = <∞
C(1 − ℘)
e o mesmo acontece para u e v.
Suponha-se agora que f1 6≡ 0 ou f2 6≡ 0. Neste caso, escreve-se (4.46) e (4.47) da forma
Z Z ℘ Z  21 Z  12
1 d 2
u dx + C 2
u dx ≤ f12 dx 2
u dx (4.48)
2 dt Ω Ω Ω Ω

e Z ℘ Z  21 Z  12
Z
1 d 2
v dx + C 2
v dx ≤ 2
f2 dx 2
v dx . (4.49)
2 dt Ω Ω Ω Ω

Somando (4.48) e (4.49), obtém-se a uma nova inequação diferencial para b,

1
b0 + C1 b℘ ≤ C2 (t)b 2 ,

1
onde C2 (t) = C max{kf1 kL2 (Ω) , kf2 kL2 (Ω) }. Introduzindo a função g(t) = b 2 , pode escrever-se
esta desigualdade da forma

  2℘−1
0 C1 2℘−1  t 2−2℘
g + g ≤ C2 (t) ≤ 1− .
2 2 tf +

Considere-se agora a seguinte equação diferencial ordinária:

  2℘−1
0 C1 2℘−1  t 2−2℘
h + h = 1− . (4.50)
2 2 tf +

87
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

As soluções desta equação são majorantes das funções g. Veri ca-se facilmente que se h(0), 
e tf satisfazem
C1 h(0) 
h(0)2℘−1 − − ≥ 0, (4.51)
2 2(1 − ℘)tf 2
então as funções
  1
t 2−2℘
h = h(0) 1 −
tf +

são solução de (4.50).


Para cada h(0) dada, podem sempre escolher-se  e tf tais que (4.51) é veri cado. Logo, o
teorema está provado. 

Teorema 4.13 (Decaimento polinomial) Suponha-se agora que p > 2 e (u, v) é solução do pro-
blema (4.2). Se f1 6≡ 0 ou f2 6≡ 0, então existem K > 0 e B > 0, dependentes de d, p e Ω, tais
que:
K
kfi kL2 (Ω) ≤ 2℘−1 , i = 1, 2, (4.52)
(Bt + 1) 2(℘−1)
implica que b satisfaça
b(0)
b(t) ≤ 1 .
(Bt + 1) ℘−1
Demonstração
Multiplicando a primeira equação de (4.2) por u, e integrando em Ω, obtém-se
Z Z Z Z
1 d
u2 dx + a1 (l1 (u), l2 (v))|∇u|2 dx + λ1 |u|p dx = f1 u dx. (4.53)
2 dt Ω Ω Ω Ω

Pelo teorema de imersão, vem


Z Z  p2
2 p
u dx ≤ C |u| dx .
Ω Ω

Então, Z Z ℘
p 2
|u| dx ≥ C u dx ,
Ω Ω

onde ℘ = p
2 > 1.
Substituindo esta desigualdade em (4.53) e ignorando o segundo termo resulta
Z Z ℘ Z
1 d 2 2
(4.54)

u dx + C u dx ≤ f1 u dx .

2 dt Ω Ω Ω

Com o mesmo raciocínio, conclui-se que


Z Z ℘ Z
1 d 2 2
(4.55)

v dx + C v dx ≤ f2 v dx .

2 dt Ω Ω Ω

Agora, aplica-se a desigualdade de Hölder e escreve-se (4.54) e (4.55) da forma (4.56) e


(4.57), respetivamente.
Z Z ℘ Z  12 Z  21
1 d 2
u dx + C 2
u dx ≤ f12 dx 2
u dx (4.56)
2 dt Ω Ω Ω Ω

e Z ℘ Z  21 Z  21
Z
1 d 2
v dx + C v dx2
≤ f22 dx 2
v dx . (4.57)
2 dt Ω Ω Ω Ω

88
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

Somando (4.56) e (4.57), obtém-se a inequação diferencial para b,

1
b0 + C1 b℘ ≤ C2 (t)b 2 ,

com C2 (t) = C max{kf1 kL2 (Ω) , kf2 kL2 (Ω) }.


1
Considerando mais uma vez a função g(t) = b 2 e utilizando a hipótese (4.52), pode escre-
ver-se a última inequação da forma

C1 2℘−1 K
g0 + g ≤ 2℘−1 .
2 (Bt + 1) 2(℘−1)

De seguida, estuda-se a equação diferencial ordinária

C1 2℘−1 K
h0 + h = 2℘−1 . (4.58)
2 (Bt + 1) 2(℘−1)

Se as constantes satisfazem

2℘−1 2℘−1 1
K < Cb(0) 2 , B = (b(0) 2 − K)(℘ − 1)b(0)− 2 ,

então 1
b02
h= 1
(Bt + 1) 2(℘−1)
são soluções desta equação e são majorantes das funções g. Voltando à função b, conclui-se a
estimativa desejada. 

4.5 Solução semidiscreta

Nesta secção, discretiza-se o problema no espaço e obtêm-se estimativas do erro para essa
discretização. Neste problema, considera-se apenas polinómios de grau 1. Então, Sh irá denotar
o conjunto das funções contínuas em Ω̄ que se anulam na fronteira ∂Ω e que são polinómio de
grau 1, em cada triângulo, ou seja,

Sh = {χ ∈ C00 (Ω̄)|χ|Tk é um polinómio de grau 1 ∀Tk ∈ Th }.

Seja {Pj }np


j=1 o conjunto dos vértices interiores de Th , então qualquer função de Sh é unica-
mente de nida pelos seu valor em cada ponto Pj . Seja ψj ∈ Sh a função pirâmide que toma
valor 1 no ponto Pj e que se anula em todos os outros vértices. {ψj }np
j=1 forma uma base de Sh ,
então pode representar-se cada função χ ∈ Sh da forma
np
X
χ= χj ψj .
j=1

O problema semidiscreto, baseado na de nição 4.1, consiste em calcular as funções uh , vh ,

89
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

pertencentes a Sh para t ≥ 0, tais que:


 Z Z Z Z
p−2


 (u h )t χ dx + a 1 (l 1 (uh ), l 2 (v h )) ∇u h · ∇χ dx + λ 1 |u h | u h χ dx = f1 χ dx, ∀χ ∈ Sh
Ω Ω Ω Ω






 Z Z Z Z
 (v )
h t χ dx + a (l
2 1 h (u ), l (v
2 h )) ∇v h · ∇χ dx + λ2 |v h | p−2
v h χ dx = f2 χ dx, ∀χ ∈ Sh .


 Ω Ω Ω Ω




uh (x, 0) = ΠP1 (Sh ) u0 , vh (x, 0) = ΠP1 (Sh ) v0


(4.59)

Utilizando a base {ψj }np


j=1 , o problema semidiscreto também pode ser formulado da seguinte
forma: calcular os coe cientes αj (t), βj (t) em

np
X np
X
uh (x, t) = αj (t)ψj (x) e vh (x, t) = βj (t)ψj (x),
j=1 j=1

tais que:
 np Z np np np Z
X X X X
0




 αj (t) ψi ψj dx + a1 (l1 ( αk ψk ), l2 ( βk ψk )) ∇ψi · ∇ψj dx αj =

 j=1 Ω j=1 k=1 k=1 Ω






 Xnp Z np
X Xnp Z
 p−2


 = −λ 1 | α j ψj | α j ψ j ψ i dx = ψi f1 dx, i = 1, . . . , np
Ω j=1 Ω

j=1 j=1






np np np np
(4.60)
Z Z
X
0
X X X .

 β j (t) ψ ψ
i j dx + a (l
2 1 ( α ψ
k k ), l2 ( β ψ
k k )) ∇ψi · ∇ψj dx βj =
Ω Ω



 j=1 j=1 k=1 k=1



 np Z np np Z

 X X X
p−2
= −λ2 | βj ψj | βj ψj ψi dx = ψi f2 dx, i = 1, . . . , np




j=1 Ω j=1 Ω



 j=1



 α (0) = α0 = u (P ), β (0) = β 0 = v (P ), j = 1, . . . , np

j j 0 j j j 0 j

O sistema (4.60) pode ser escrito na forma matricial como

Mω 0 + A(ω)ω = F(ω), ω(0) = ω0 , (4.61)

com ω = (α1 , . . . , αnp , β1 , . . . , βnp ), ω0 = (α10 , . . . , αnp


0
, β10 , . . . , βnp
0
),
" # Z
M 0
M= , M = [Mij ], Mij = ψi ψj dx,
0 M Ω

" Pnp Pnp #


a1 (l1 ( k=1 αk ψk ), l2 ( k=1 βk ψk ))A 0
A= Pnp Pnp ,
0 a2 (l1 ( k=1 αk ψk ), l2 ( k=1 βk ψk ))A
Z
Aij = ∇ψi · ∇ψj dx,

Z np
X np
X Z
F = (F u , F v ), Fiu = −λ1 | αj ψj |p−2 αj ψj ψi dx + ψi f1 dx,
Ω j=1 j=1 Ω

Z np
X np
X Z
Fiv = −λ2 | βj ψj |p−2 βj ψj ψi dx + ψi f2 dx.
Ω j=1 j=1 Ω

90
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

(4.61) é um sistema de equações diferenciais ordinárias de primeira ordem. A demonstração de


existência de solução para este sistema resulta do teorema de Carathéodory. A demonstração
da unicidade é semelhante à demonstração do teorema 4.3.

Teorema 4.14 Seja p ≥ 2. Se (u, v) é solução do problema (4.2) e (uh , vh ) é solução do pro-
blema (4.59), supondo que u e v são su cientemente regulares, então

kuh − uk2L2 (Ω) + kvh − vk2L2 (Ω) ≤ Ch4 , t ∈]0, T ],

onde C não depende de h.

Demonstração
Antes de mais, saliente-se que a solução (u, v) de (4.2) também satisfaz (4.59).
Escrevendo uh − u = uh − Rh u + Rh u − u = θ + η e vh − v = vh − Rh v + Rh v − v = ρ + µ e
pelo lema 2.84, pode concluir-se que

kηkL2 (Ω) ≤ Ch2 |u|H 2 (Ω) e kµkL2 (Ω) ≤ Ch2 |v|H 2 (Ω) .

Então, só é preciso estimar θ e ρ.


Por simplicidade, denota-se a1h = a1 (l1 (uh ), l2 (vh )) e a1 = a1 (l1 (u), l2 (v)).
Z Tem-se que Z
θt χ dx + a1h ∇θ · ∇χ dx =
Ω Ω
Z Z Z Z
= (uh )t χ dx + a1h ∇uh · ∇χ dx − (Rh u)t χ dx − a1h ∇Rh u · ∇χ dx =
Ω Ω Ω Ω
Z Z Z Z Z
p−2
= −λ1 |uh | uh χ dx + χf1 dx − ut χ dx − a1 ∇Rh u · ∇χ dx − ηt χ dx+
Ω Ω Ω Ω Ω
Z
+(a1 − a1h ) ∇Rh u · ∇χ dx =

Z Z Z Z Z
p−2
= −λ1 |uh | uh χ dx + χf1 dx − ut χ dx − a1 ∇u · ∇χ dx − ηt χ dx+
Ω Ω Ω Ω Ω
Z
+(a1 − a1h ) ∇Rh u · ∇χ dx =

Z Z Z
= λ1 (|uh |p−2 uh − |u|p−2 u)χ dx − ηt χ dx + (a1 − a1h ) ∇Rh u · ∇χ dx.
Ω Ω Ω

Se se considerar χ = θ, se utilizar o lema 2.4 e o facto de u e uh serem limitadas, então


Z Z Z
1 d
kθk2L2 (Ω) +a− k∇θk2L2 (Ω) ≤ C |uh −u| |θ| dx+ |ηt | |θ| dx+|a1 −a1h | |∇Rh u| |∇θ| dx
2 dt Ω Ω Ω

≤ C(kθk2L2 (Ω) +kηk2L2 (Ω) )+Ckθk2L2 (Ω) +Ckηt k2L2 (Ω) +Ckθk2L2 (Ω) +

+C(kθk2L2 (Ω) +kηk2L2 (Ω) + kρk2L2 (Ω) +kµk2L2 (Ω) ) + a− k∇θk2L2 (Ω) .

Na última desigualdade, usam-se os resultados

k∇Rh ukL∞ (Ω) ≤ Clh kukL∞ (Ω) , lh = max{1, log(1/h)}

e
|a1 − a1h | ≤ A1 |l1 (u) − l1 (uh )| + B1 |l2 (v) − l2 (vh )| = A1 |l1 (u − uh )| + B1 |l2 (v − vh )|

91
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

≤ C1 ku − uh kL2 (Ω) + C2 kv − vh kL2 (Ω) .

Simpli cando, obtém-se

d
kθk2L2 (Ω) ≤ C(kθk2L2 (Ω) + kηk2L2 (Ω) + kηt k2L2 (Ω) + kρk2L2 (Ω) + kµk2L2 (Ω) ).
dt

Utilizando os mesmos argumentos para ρ, pode concluir-se que

d
kρk2L2 (Ω) ≤ C(kρk2L2 (Ω) + kµk2L2 (Ω) + kµt k2L2 (Ω) + kθk2L2 (Ω) + kηk2L2 (Ω) ).
dt

Somando estas duas desigualdades, vem que

d
(kθk2L2 (Ω) + kρk2L2 (Ω) ) ≤ C(kθk2L2 (Ω) + kρk2L2 (Ω) + kηk2L2 (Ω) + kµk2L2 (Ω) + kηt k2L2 (Ω) + kµt k2L2 (Ω) ).
dt

Integrando em t no intervalo [0, T ], obtém-se

kθ(x, T )k2L2 (Ω) + kρ(x, T )k2L2 (Ω) ≤

Z T
≤ kθ(x, 0)k2L2 (Ω) + kρ(x, 0)k2L2 (Ω) +C kηk2L2 (Ω) + kµk2L2 (Ω) + kηt k2L2 (Ω) + kµt k2L2 (Ω) dt.
0

Pelo Lema 2.79, tem-se que kθ(x, 0)kL2 (Ω) ≤ Ch2 |u0 |H 2 (Ω) e kρ(x, 0)kL2 (Ω) ≤ Ch2 |v0 |H 2 (Ω) .

Recordando as estimativas de η e µ e como kηt kL2 (Ω) = kΠSh ut − ut kL2 (Ω) ≤ Ch2 |ut |H 2 (Ω) e
kµt kL2 (Ω) = kRh vt − vt kL2 (Ω) ≤ Ch2 |vt |H 2 , pode inferir-se que

kθk2L2 (Ω) + kρk2L2 (Ω) ≤ Ch4 ,

o que termina a demonstração. 

4.6 Solução totalmente discreta

Para nalizar o estudo teórico do problema, discretiza-se o mesmo também no tempo e


procuram-se estimativas do erro para essa discretização.

Como se considera que não há possibilidade de confusão, para simpli car a notação, omi-
te-se a dependência de h nesta secção. Seja δ > 0 e considere-se a partição ]0, T ] = ∪ni
n=1 In ,
In =]tn−1 , tn ], com tn = tn−1 + δ. A discretização no tempo é feita utilizando o método de Euler
regressivo. Neste método, a derivada temporal, ut (x, tn ), é aproximada em cada instante tn
pela diferença nita
¯ u(x, tn ) − u(x, tn−1 )
∂u(x, tn ) = .
δ

Sejam Un (x) a aproximação de u(x, tn ) e Vn (x) a aproximação de v(x, tn ), no espaço Sh .


Então, o problema totalmente discreto será, neste caso, calcular as funções Un e Vn , perten-

92
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

centes a Sh , tais que se anulem na fronteira de Ω e satisfaçam


 Z Z Z


 ¯ n χ dx + a1 (l1 (Un ), l2 (Vn ))
∂U ∇U n · ∇χ dx + λ 1 |Un |p−2 Un χ dx =


 Ω Ω Ω





 Z



 = f1 (x, tn )χ dx, ∀χ ∈ Sh , n = 1, . . . , ni







 Z Z Z
¯ n χ dx + a2 (l1 (Un ), l2 (Vn ))
∂V ∇V · ∇χ dx + λ |Vn |p−2 Vn χ dx = . (4.62)
 n 2


 Ω Ω Ω



 Z


= f2 (x, tn )χ dx, ∀χ ∈ Sh , n = 1, . . . , ni





 Ω




P1 (Sh ) u0 , V0 = ΠP1 (Sh ) v0


 U =Π
0

Pnp Pnp
Utilizando outra vez a base {ψj }np
j=1 e de nindo Un = j=1 αjn ψj e Vn = j=1 βjn ψj , o
sistema (4.62) pode ser escrito em forma matricial como

Mωn + δA(ωn )ωn = δF(ωn ) + Mωn−1 , n = 1, . . . , ni, (4.63)

com ωn = (α1n , . . . , αnp


n
, β1n , . . . , βnp
n
), n = 0, . . . , ni.

O sistema de equações algébricas (4.63) é não linear e tem de ser resolvido em cada passo
no tempo. A não linearidade está na presença de ωn nos termos A(ωn ) e F(ωn ). Para se evitar
a aplicação de um método iterativo, e consequente aumento do custo computacional e do erro,
considera-se uma linearização do sistema substituindo ωn por ωn−1 , nesses dois termos. Então,
o problema totalmente discreto é calcular Un e Vn , tais que:
 Z Z Z


 ¯
∂Un χ dx + a1 (l1 (Un−1 ), l2 (Vn−1 )) ∇Un · ∇χ dx + λ1 |Un−1 |p−2 Un−1 χ dx =


 Ω Ω Ω





 Z



 = f1 (x, tn )χ dx, ∀χ ∈ Sh , n = 1, . . . , ni







 Z Z Z

¯
∂Vn χ dx + a2 (l1 (Un−1 ), l2 (Vn−1 )) ∇Vn · ∇χ dx + λ2 |Vn−1 |p−2 Vn−1 χ dx = ,


 Ω Ω Ω



 Z


= f2 (x, tn )χ dx, ∀χ ∈ Sh , n = 1, . . . , ni





 Ω




P1 (Sh ) u0 , V0 = ΠP1 (Sh ) v0


 U =Π
0
(4.64)
o que é equivalente a calcular o vetor ωn = (α1 , . . . , αnp , β1 , . . . , βnp ) solução do seguinte sis-
n n n n

tema linear:
(M + δA(ωn−1 ))ωn = δF(ωn−1 ) + Mωn−1 , n = 1, . . . , ni. (4.65)

Este sistema possui sempre solução, uma vez que M + δA(ωn−1 ) é de nida positiva. Esta
secção termina com a estimativa do erro para a aproximação totalmente discreta da solução do
problema inicial.

Teorema 4.15 Seja p ≥ 2. Se (u, v) é solução do problema (4.2) e (Un , Vn ) solução de (4.64),

93
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

supondo que u e v são su cientemente regulares, então

kUn (x) − u(x, tn )k2L2 (Ω) + kVn (x) − v(x, tn )k2L2 (Ω) ≤ C(h2 + δ)2 , n = 1, . . . , ni,

onde C não depende de h nem de δ.

Demonstração
Denote-se por un = u(x, tn ) e vn = v(x, tn ). Da mesma forma como anteriormente, escreve-
-se
Un − un = (Un − Rh un ) + (Rh un − un ) = θn + ηn

e
Vn − vn = (Vn − Rh vn ) + (Rh vn − vn ) = ρn + µn .

De seguida, estima-se θn e ρn .
Aplicando as propriedades de Rh , tem-se sucessivamente
Z Z
¯ n χ dx + a1 (l1 (Un−1 ), l2 (Vn−1 ))
∂θ ∇θn · ∇χ dx =
Ω Ω
Z Z
= ¯ n χ dx + a1 (l1 (Un−1 ), l2 (Vn−1 ))
∂U ∇Un · ∇χ dx−
Ω Ω
Z Z
− ¯ h un χ dx − a1 (l1 (Un−1 ), l2 (Vn−1 ))
∂R ∇Rh un · ∇χ dx =
Ω Ω
Z Z Z
p−2
= −λ1 |Un−1 | Un−1 χ dx + f1 (x, tn )χ dx − a1 (l1 (un ), l2 (vn )) ∇Rh un · ∇χ dx−
Ω Ω Ω
Z Z
− (un )t χ dx + (a1 (l1 (Un−1 ), l2 (Vn−1 )) − a1 (l1 (un ), l2 (vn ))) ∇Rh un · ∇χ dx−
Ω Ω
Z
− ¯ h un − (un )t ) χ dx =
(∂R

Z Z Z
= λ1 (|un |p−2 un − |Un−1 |p−2 Un−1 ) χ dx − ¯ n χ dx −
∂η ¯ n − (un )t ) χ dx+
(∂u
Ω Ω Ω
Z
+(a1 (l1 (Un−1 ), l2 (Vn−1 )) − a1 (l1 (un ), l2 (vn ))) ∇Rh un · ∇χ dx.

Fazendo χ = θn e usando o lema 2.4, obtém-se


Z

∂kθn k2L2 (Ω) + a− k∇θn k2L2 (Ω) ≤ C |Un−1 − un | |θn | dx + C(kUn−1 − un kL2 (Ω) +
2 Ω
Z
+kVn−1 − vn kL2 (Ω) ) ¯ n kL (Ω) + k∂u
|∇θn | dx + (k∂η ¯ n − (un )t kL (Ω) )kθn kL (Ω)
2 2 2

¯ n kL (Ω) + kρn−1 kL (Ω) + kµn−1 kL (Ω) + δk∂v


≤ C(kθn−1 kL2 (Ω) + kηn−1 kL2 (Ω) + δk∂u ¯ n kL (Ω) +
2 2 2 2

¯ n kL (Ω) + k∂u
+k∂η ¯ n − (un )t kL (Ω) )k∇θn kL (Ω) .
2 2 2

Na desigualdade acima, usa-se a desigualdade de Poincaré kθn kL2 (Ω) ≤ Ck∇θn kL2 (Ω) e as duas
desigualdades seguintes:

¯ n kL (Ω) ),
kUn−1 − un kL2 (Ω) ≤ C(kθn−1 kL2 (Ω) + kηn−1 kL2 (Ω) + δk∂u 2

¯ n kL (Ω) ).
kVn−1 − vn kL2 (Ω) ≤ C(kρn−1 kL2 (Ω) + kµn−1 kL2 (Ω) + δk∂v 2

94
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

Então, após simpli car o termo a− k∇θn k2L2 (Ω) com a desigualdade de Cauchy, chega-se a

¯ n k2 2 ¯
∂kθ L2 (Ω) ≤ Ckθn−1 kL2 (Ω) + C(kηn−1 kL2 (Ω) + δk∂un kL2 (Ω) + kρn−1 kL2 (Ω) + kµn−1 kL2 (Ω) +

¯ n kL (Ω) + k∂η
+δk∂v ¯ n kL (Ω) + k∂u
¯ n − (un )t kL (Ω) )2 .
2 2 2

Utilizando o lema 2.79, conclui-se que kηn kL2 (Ω) ≤ C(u)h2 e kµn kL2 (Ω) ≤ C(v)h2 . Tem-se
também que
Z tj
¯ −1
k∂ηn kL2 (Ω) = δ (η(x, ς))t dς

≤ C(u)h2
tj−1
L2 (Ω)

e Z tj

¯ −1
k∂µn kL2 (Ω) = δ (µ(x, ς))t dς

≤ C(v)h2 .
tj−1
L2 (Ω)

Por outro lado,


Z tj

¯ −1
k∂un − (un )t kL2 (Ω) = δ (s − tj−1 )utt (ς) dς

≤ C(u)δ
tj−1
L2 (Ω)

e Z tj

¯ −1
k∂vn − (vn )t kL2 (Ω) = δ (s − tj−1 )vtt (ς) dς

≤ C(v)δ.
tj−1
L2 (Ω)

Então, obtém-se
¯ n k2 2 2 2
∂kθ L2 (Ω) ≤ Ckθn−1 kL2 (Ω) + C(h + δ) .

Da mesma forma, pode provar-se que

¯ n k2 2 2 2
∂kρ L2 (Ω) ≤ Ckρn−1 kL2 (Ω) + C(h + δ) .

Somando os resultados, vem

¯ n k2 2 2 2 2 2
∂(kθ L2 (Ω) + kρn kL2 (Ω) ) ≤ C(kθn−1 kL2 (Ω) + kρn−1 kL2 (Ω) ) + C(h + δ) .

Mostrou-se que

kθn k2L2 (Ω) + kρn k2L2 (Ω) ≤ (1 + Cδ)(kθn−1 k2L2 (Ω) + kρn−1 k2L2 (Ω) ) + Cδ(h2 + δ)2 .

Iterando sucessivamente, chega-se a

kθn k2L2 (Ω) + kρn k2L2 (Ω) ≤ C(kθ0 k2L2 (Ω) + kρ0 k2L2 (Ω) ) + C(h2 + δ)2 .

Pelo Lema 2.79, conclui-se que

kθn k2L2 (Ω) + kρn k2L2 (Ω) ≤ C(u, v)(h2 + δ)2 .

Adicionado as estimativas de kηn kL2 (Ω) e kµn kL2 (Ω) , termina-se a demonstração. 

95
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

4.7 Resultados numéricos


Para exempli car e con rmar a teoria exposta anteriormente, apresentam-se exemplos da
implementação, em Matlab, da solução do problema totalmente discreto. Uma vez que não
conhecemos soluções explícitas para o problema em estudo, não é possível fazer um estudo
numérico da convergência.

4.7.0.5 Localização da solução

Para testar o algoritmo numérico, simula-se um exemplo em que a solução inicial está
localizada apenas em parte do domínio. Considere-se o sistema (4.2) em Ω =]0, 1[2 com p = 3 e

a1 (l1 , l2 ) = 3 + sen(l1 ) + cos(l2 ), a2 (l1 , l2 ) = 5 + sen(l2 ) − cos(l1 ).

A hipótese H2 é satisfeita com a− = 1 e a+ = 7 e a hipótese H3 também é válida. Como


antes, considera-se l1 (w) = l2 (w) = Ω w dx. As condições iniciais são
R

u0 = 20(0.1 − (x − 0.2)2 − (y − 0.2)2 ) e v0 = 20(0.1 − (x − 0.8)2 − (y − 0.8)2 ).

Os coe cientes λ1 e λ2 são ambos iguais a um. As fontes externas são dadas por
   
1 −x−y 1
f1 (x, y, t) = 0.1 e e f2 (x, y, t) = 0.1(x − y) .
(t + 1)10 (t + 1)7

Os parâmetros do método dos elementos nitos são h = 0.05, δ = 10−3 e a malha está
representada na gura 4.3.
Na gura 4.1, mostra-se a evolução no tempo para estimativa de u obtida e, na gura 4.2,
mostra-se a evolução no tempo para a estimativa de v. A solução expande-se a todo o domínio
e tende para zero. O decaimento é mais evidente na gura 4.4 onde se representa a função
b(t).

96
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

Figura 4.1: Evolução no tempo da aproximação de u obtida no problema da localização da solução.

97
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

Figura 4.2: Evolução no tempo da aproximação de v obtida no problema da localização da solução.

Figura 4.3: Malha espacial para h = 0.05 usada no Figura 4.4: Função de energia b(t) no problema da
problema da localização da solução. localização da solução.

98
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

4.7.0.6 Extinção em tempo nito e decaimento polinomial

Numa secção anterior, foi demonstrado que as soluções do sistema (4.2) com 1 < p < 2 têm
a propriedade da extinção em tempo nito se as funções fi satis zerem algumas condições e
têm a propriedade de decaimento polinomial se p ≥ 2 e fi decaírem de forma adequada. No
sentido de estudar estas propriedades, simula-se um exemplo com p = 1.6 e depois com p = 3
mantendo iguais todos os outros parâmetros. Embora não tenha sido provada a convergência
para p = 1.6, os resultados estão de acordo com a teoria.
Considere-se o sistema (4.2) em Ω =]0, 1[2 com

a1 (l1 , l2 ) = 3 + sen(l1 ) + cos(l2 ), a2 (l1 , l2 ) = 5 + sen(l2 ) − cos(l1 ).

A hipótese H2 é satisfeita com a− = 1 e a+ = 7. H3 é válida para Ai , Bi ≥ 2. Considere-se


l1 (w) = l2 (w) = Ω w dx que satisfaz H4 com gi = 1. As condições iniciais são
R

u0 = 2(x − 1)(y − 1)xy e v0 = 0.5(x − 1)(y − 1)xy.

Então, H1 também está satisfeita.


Os coe cientes λ1 e λ2 são ambos iguais a um. As fontes externas são dadas por

f1 = 0.01 ln(x + y + 1)[0.1 − t]6+ e f2 = 0.01 sen(xy)[0.1 − t]4+ .

Os parâmetros do método dos elementos nitos são δ = 10−5 e h = 0.025. O domínio é


discretizado usando uma malha estruturada como mostra a gura 4.7.

Figura 4.5: Evolução no tempo da aproximação de u obtida no problema com extinção em tempo nito e
decaimento polinomial.

Na gura 4.5, mostra-se a evolução no tempo para a estimativa de u e na gura 4.6 mostra-se
a evolução no tempo para a estimativa de v obtidas para p = 1.6. Como era de esperar, as
funções u e v são zero para t ≥ 0.065. O comportamento da solução para p = 3 é semelhante ao
comportamento da solução com p = 1.6, excepto o facto de o valor de u e v ser pequeno para
t ≥ 0.065, mas não ser zero.
De forma a veri car o comportamento assintótico, representou-se na gura 4.8 a função
de energia b, com uma escala logarítmica no eixo das ordenadas. Pela observação da gura
torna-se evidente que b se extingue em t ≈ 0.065 para p = 1.6 e, no caso p = 3, b tende para
zero mas não se extingue.

99
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

Figura 4.6: Evolução no tempo da aproximação de v obtida no problema com extinção em tempo nito e
decaimento polinomial.

Figura 4.7: Malha espacial para h = 0.025 no Figura 4.8: Função de energia b(t) no problema com
problema com extinção em tempo nito e extinção em tempo nito e decaimento polinomial.
decaimento polinomial.

100
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

4.7.0.7 Fontes externas ilimitadas

Para último exemplo, considere-se o sistema (4.2) em Ω =] − 1, 1[2 com p = 3, mas, neste
caso, os termos de difusão são da forma

1 1 2 1
a1 (l1 , l2 ) = 2 + − , a2 (l1 , l2 ) = 3 + − .
1 + l22 1 + l12 1 + l12 1 + l22

A hipótese H2 é satisfeita com a− = 1 e a+ = 5 e a hipótese H3 também é válida. Conside-


ra-se da mesma forma l1 (w) = l2 (w) = Ω w dx. As condições iniciais são
R

u0 = 2(x2 − 1)(y 2 − 1) e v0 = 3(0.04 − (x − 0.5)2 − (y − 0.5)2 )+ .

Então, a hipótese H1 também é satisfeita. Os coe cientes λ1 e λ2 são 0.5 e 2, respetiva-


mente.
Neste exemplo, consideram-se fontes externas da forma

f1 (x, y, t) = x2 + y 2 + t e f2 (x, y, t) = (x + 1)2 + (y + 1)2 + 5t.

Estas funções não satisfazem as condições dos teoremas, mas é interessante ver o comporta-
mento das soluções. Os parâmetros do método dos elementos nitos e malha são os mesmos do
exemplo anterior.
Da mesma forma e como no exemplo anterior, na gura 4.9, mostra-se a evolução, no
tempo, da estimativa obtida para u e, na gura 4.10, mostra-se a evolução da estimativa
obtida para v nos mesmos instantes. Veri ca-se que a solução u decresce e, uma vez que já
estava inicialmente de nida em todo o domínio, não se veri ca nenhuma expansão. A solução v
tem um comportamento completamente diferente. Inicialmente, expande-se a todo o domínio
e decresce, mas, a partir de certo instante, começa a crescer inde nidamente. Este facto
pode ser justi cado pela expressão de f2 que é crescente no tempo e o seu efeito começa ser
dominante a partir de certo instante.

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Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

Figura 4.9: Evolução no tempo da aproximação de u obtida no problema com fontes externas ilimitadas.

102
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

Figura 4.10: Evolução no tempo da aproximação de v obtida no problema com fontes externas ilimitadas.

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Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

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Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

Capítulo 5

Conclusão e Trabalho Futuro

Com este trabalho, foi demonstrada a convergência do método de elementos nitos de


Galerkin para a equação de meios porosos com expoente γ dependente da variável espacial num
domínio xo. Os resultados numéricos apresentados estão em linha com a exposição teórica.
Ainda estão em estudo, os casos em que γ também depende do tempo e onde γ é inferior a 1.
Foi também apresentado um método dos elementos nitos para resolver o problema, com
γ dependente da variável espacial e temporal, num domínio com fronteiras livres. O programa
resultante da implementação deste método, em Matlab, foi testado em alguns problemas.
O estudo efetuado evidencia que o método permite estimar e cientemente a fronteira e a
solução. O aumento do grau do polinómio interpolador permite obter melhores estimativas
utilizando menos elementos nitos.
Nos exemplos simulados, o movimento da fronteira esteve de acordo com as suposições
feitas nas deduções das respetivas equações. A demonstração exata dessas equações parece
ser um problema aliciante para estudos futuros. Outro problema interessante de estudar, em
trabalho futuro, é a obtenção de estimativas do erro e de ordens de convergência para as
aproximações obtidas em domínios com fronteira livre.
No trabalho, demonstrou-se ainda a existência e unicidade de soluções fortes para um sis-
tema de reação-difusão com coe ciente de difusão não local. Estabeleceram-se condições para
a existência de tempo de espera e localização estável das soluções. Estudou-se o comporta-
mento assintótico das soluções fracas obtendo-se condições para a extinção em tempo nito
e decaimento polinomial ou exponencial. Provou-se a ordem de convergência ótima para um
método de elementos nitos de Euler-Galerkin linearizado. Os resultados da implementação,
em Matlab, do método estão em linha com os resultados teóricos.
A aplicação do método dos elementos nitos em domínios com fronteiras livres para o sis-
tema não local está em fase de conclusão. Está também em estudo um sistema não local
degenerado, considerando o caso em que uma das espécies se extingue tornando o termo difu-
sivo nulo. Um problema de bastante interesse é o estudo numérico de equações e sistemas não
locais onde o termo difusivo depende do integral do gradiente da solução.

105
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

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Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

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112
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

Índice de notações

Geral
n denota o vetor normal unitário exterior à fronteira

,→ denota uma imersão contínua

,→,→ denota uma imersão compacta

→ indica uma convergência

* denota uma convergência fraca


* denota uma convergência fraca estrela

[g]+ = max{g, 0} representa a parte positiva de g

[g]n = lim g(t) − lim g(t) denota o salto de g em tn


t→tn ,t>tn t→tn ,t<tn

ess sup(u) = inf{ sup |u(x)| : Z ⊂ A, meas(Z) = 0}


x∈A x∈A\Z

supp v = {x : v(x) 6= 0} é o suporte de v

p0 = p
p−1 é o conjugado de p > 1

|α| =
Pn
i=1 αi para α= (α1 , . . . , αn ) ∈ Nn
sign(a) denota o sinal de a (sign(a) = 1, se a > 0 e sign(a) = −1, se a < 0).

Acrónimos

UBI Universidade da Beira Interior

MEF Método dos Elementos Finitos

MEFG Método dos Elementos Finitos de Galerkin

MMPDE Método da Malha Móvel para Equação Diferencial Parcial

EDO Equação Diferencial Ordinária

113
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

EDP Equação Diferencial com Derivadas Parciais

PME Equação de Meios Porosos

Conjuntos

|Ω| = meas(Ω) = medida de Lebesgue de Ω

]A indica o número de elementos do conjunto A

TR = {(x, y) ∈ R2 | x + y ≤ 1 ∧ x ≥ 0 ∧ y ≥ 0} é o triângulo de referência

int(Ω) denota o interior de Ω

Ω̄ denota o fecho de Ω

ΩT = Ω×]0, T ]

Γ = ∂Ω denota a fronteira de Ω

ΓT = ∂Ω × [0, T ]

B% (x0 ) = {x : |x − x0 | < %(t)} é a bola de centro x0 e raio %

g|A denota a restrição de g ao conjunto A

Operadores

Dα u denota a derivada fraca de ordem α de u

d
X ∂ui
div u = é o divergente de u
i=1
∂xi
 
∂u ∂u
∇u = ,..., denota o vetor gradiente de u
∂x1 ∂xd
d
X ∂2u
∆u = é o laplaciano de u
i=1
∂x2i

∆h u denota o laplaciano discreto de u

∂u
ut = denota a derivada ( fraca ou forte ) de u em relação à variável temporal
∂t

114
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

∂ |α| u
denota a derivada forte de ordem α de u
∂xα
1
1
. . . xα
n
n

¯ u(x, tn ) − u(x, tn−1 )


∂u(x, tn ) = é a derivada temporal discreta
δ

Rh u é a projeção de Ritz de u

ΠS u denota a projeção ortogonal de u sobre S

hf, ui aplicação do funcional f à função u

Normas e seminormas

|x| denota o módulo de x ∈ R


kxk denota a norma euclidiana de x ∈ Rd
R  p1
kukLp (Ω) = Ω
|u(x)|p dx , 1≤p<∞

kukL∞ (Ω) = ess sup |u|


x∈Ω

  p1
k
X
kukW k,p (Ω) =  kDα ukpLp (Ω)  , para 1 ≤ p < ∞
|α|=0

k
X
kukW k,∞ (Ω) = ess sup |Dα u|

|α|=0
  p1
X
|u|W k,p,j (Ω) =  kDα ukpLp (Ω)  , para 1 ≤ p < ∞ e 0 ≤ j ≤ k.
|α|=j

kukC 0 ([a,b],X) = max ku(t)kX


t∈[a,b]

R  p1
b
kukLp (a,b;X) = a
ku(t)kpX dt < ∞, para 1 ≤ p < ∞

kukL∞ (a,b;X) = ess sup ku(t)kX < ∞


t∈[a,b]

  p1
k j
X d u
kukW k,p (a,b;X) = k j kLp (a,b;X) 
j=1
dt

Espaços de funções

Lp (Ω) = {u : Ω → R| u é mensurável e RΩ |u|p dx < ∞}

115
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

L∞ (Ω) = {u : Ω → R| u é mensurável e ess sup |u| < ∞}


W k,p (Ω) = {u : Ω → R| Dαu ∈ Lp(Ω), 0 ≤ α ≤ k}
H k (Ω) = W k,2 (Ω)

W0k,p (Ω) = C0∞ (Ω)

H0k (Ω) = W0k,2 (Ω)

C k (Ω) = {u : Ω → R| u é k-vezes continuamente diferenciável}


C k,µ (Ω) = {u : Ω → R| u ∈ C k (Ω) e Dk u é Hölder contínua com expoente µ}
C0∞ (Ω) = {v ∈ C ∞ (Ω̄)| supp v é um conjunto compacto}

Rb
Lp (a, b; X) = {u :]a, b[→ X| u é mensurável e a
kukpX dt < ∞}

Rb
W k,p (a, b; X) = {u ∈ W k,p (Ω)| u é mensurável e a
kukpX dt < ∞}

C k ([a, b]; X) = {u : [a, b] → X| u é k-vezes continuamente diferenciável}

0
W −k,p (Ω) é o espaço dual de W0k,p (Ω)

D(Ω) = C0∞ (Ω)

Sh = {w ∈ C00 (Ω̄)|w|Tk é um polinómio de grau 1 ∀Tk ∈ Th }

Shr = {w ∈ C00 (Ω̄)|w|Tk é um polinómio de grau r ∀Tk ∈ Th }

s
X
δs
Shr = {W : [0, +∞[→ Shr | W|In = tj χj , χj ∈ Shr }
j=0

Pr é o conjunto dos polinómios de grau menor ou igual a r.

116
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

Índice Remissivo

convergência método
forte, 16 dos elementos nitos de Galerkin, 1
fraca, 18 elementos nitos descontínuo, 29
fraca estrela, 18 Euler, 29
corolário Euler regressivo, 92
Brouwer, 25 Faedo-Galerkin, 74
ponto xo, 52
desigualdade malha, 26
Cauchy, 15 regular, 26
Gronwall, 25
Hölder, 20 ordem de convergência, 28
inversa, 55
projeção
Minkowski, 20
de Ritz, 28
multiplicativa, 82, 86
no espaço e tempo, 29
Poincaré, 23
no tempo, 29
Young, 15
ortogonal, 28
domínio, 17
propriedade
equação de extinção em tempo nito, 5
em meios porosos, 3 de localização estável, 81
reação-difusão, 1 de propagação com velocidade nita, 3
espaço de tempo de espera, 4
de Bochner, 23
sistema
de elementos nitos, 26, 45, 63
não local, 11
de Lebesgue, 20
reação-difusão, 1
de Sobolev, 21
solução
dual, 18
forte, 79
fronteira fraca, 35, 36, 61, 63, 74
Lipschitz-contínua, 18 semidiscreta, 89
livre, 3 totalmente discreta, 46, 92
função
taxa, 81
de energia global, 85
teorema
de energia local, 81
Banach-Alaoglu, 24
Hölder-contínua, 17
Brouwer, 25
Lipschitz-contínua, 17
do valor médio, 41
monitor, 62
Green, 25
integrador, 29 Gronwall, 25
interface, 3
velocidade
laplaciano, 20 normal, 60
discreto, 28 vetor normal, 28
lema
Aubin-Lions, 25

117
Método dos Elementos Finitos para problemas com Fronteiras Livres

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