Nicodemos Araújo - Capitão Diogo Lopes (1978)
Nicodemos Araújo - Capitão Diogo Lopes (1978)
Nicodemos Araújo - Capitão Diogo Lopes (1978)
Capitão
Diogo Lopes
(NOTAS BIOGRÁFICAS)
ACARAÚ – CEARÁ
1978
TRABALHOS DO AUTOR
A SAIR:
A. Austregésilo
"Todos os que têm vontade e atividade, encontram
ocasião de fazer o bem. E o sacrifício em favor do próximo
é sempre sagrado."
Samuel Smiles
Romanos, 12-17
FALANDO AO LEITOR
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cuja existência foi uma grande lição de amor ao trabalho e de amor
no próximo, e que, por isto mesmo, representa um valioso legado
para a Posteridade.
O Capitão Diogo Lopes, não obstante as infrações que
cometeu contra a sacrossanta lei do matrimónio, pertenceu e
pertence ainda no número dos vultos eminentes de que nos fala o
poeta João Damasceno Vasconcelos, na biografia que escreveu e
em que magistralmente retratou nosso patrício Mário Domingues
Lousada, afirmando que "são eles, na verdade, os fatores decisivos,
os personagens centrais desse drama real e existencialista, vivido
por todas as gerações humanas, numa sucessão ininterrupta de
protagonistas, sob os quais se desenvolve, no cenário anguloso do
palco da vida, com a marca da liderança pessoal, o tecido dos
acontecimentos, de que é feita a História".
Significa, portanto, um precípuo dever de justiça tornar
mais conhecido o trabalho admirável e a obra grandiosa e utilíssima
desse homem que, mercê de sua inteligência privilegiada e de sua
força de vontade, soube projetar-se no cenário de seu mundo
contemporâneo. E que conseguiu, por causa disto, impor-se no
respeito e à gratidão de seus conterrâneos, deixando aos pósteros
um nome que vale uma glória para sua família e até para sua terra.
Tentando, portanto, com estes humildes apontamentos, tirar
esse acarauense ilustre da obscuridade a que injustamente tem sido
relegado, queremos e devemos render nossas homenagens ao seu
excepcional talento, e a nossa admiração, pelos inumeráveis
benefícios que prestou à coletividade, durante a decorrência de sua
vida, toda ela consagrada ao estudo e ao trabalho, pelo bem
comum.
NICODEMOS ARAÚJO
Acaraú, 1976
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1
O Homem
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INTELIGÊNCIA QUE DESPONTA
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Manoel da Fonseca Jaime
Cura do Acaraú"
(Livro 2, folha 23, verso)
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Efetivamente, ao que pudemos ler, em manuscritos antigos,
Diogo Lopes possuía a chamada percepção extra-sensorial, e tinha
nos olhos uma espécie de força radiográfica ou raio-X. Era dono de
uma estupenda acuidade visual que lhe possibilitava enxergar
claramente através das cores aludidas pelo escritor Mário Linhares.
Aliás, convém salientar que tal fato desgostava multo o
médico de Lagoa do Mato, o qual, segundo ainda fomos
informados, apesar da vida que levava, sempre possuiu apurado
senso de moral. Tanto assim que Diogo Lopes não recebia em seu
consultório nenhuma mulher vestida com essas cores.
ESGRIMISTA
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"NÃO É BOM QUE O HOMEM ESTEJA SÓ"
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ocuparam do assunto, certamente em virtude da escassez de fontes
de pesquisas, louvaram-se no que informara Antônio Bezerra sobre
o médico de Lagoa do Mato.
Aliás, o mesmo Antônio Bezerra, a quem "as pesquisas
históricas deram posição emérita em nosso Estado", como disse o
eminente historiador Raimundo Girão, admitiu isto, quando
informou: "Tratei de colher os dados precisos que tornassem mais
conhecida a Província, e, se não consegui, por aninhar-se qualquer
inexatidão no que está escrito, deve ser atribuído à falta, não a mim,
mas às pessoas a quem recorri, em tais casos."
E alguns antepassados nossos afirmavam que Diogo Lopes
nem tivera tantas mulheres, nem tantos filhos, mormente os
falecidos. E que, já bem próximo de seu falecimento, o velho
Capitão consorciara-se com Maria Siciaca da Fonseca, sendo
assistente do casamento um missionário que então ali estivera, em
desobriga.
E, consoante um documento escrito a 17 de outubro de
1872, pelo seu filho, Major João de Araújo Costa, o velho Capitão
teria casado com essa senhora. Em mencionado documento, que é
uma relação dos filhos de João de Araújo Costa, com registro de
datas de nascimentos e batizados, lê-se as seguintes notas: "Em 12
de janeiro de 1833, nasceu meu filho Galdino, em um sábado, às 4
horas da tarde; foi batisado em Santa Cruz, pelo Padre Miguel
Francisco Mendes de Vasconcelos; foi padrinho meu finado pai
Diogo Lopes de Araújo Costa" etc. E mais adiante: "Em 30 de
janeiro de 1838, nasceu minha filha Belarmina, em uma terça-feira,
às 4 horas da tarde; foi batisada em Lagoa do Mato, pelo Padre
Bernardo (Bernardo da Cruz Oliveira); foi madrinha minha finada
mãe Maria Siciaca da Fonseca" etc.
Pois bem: sabemos que a Igreja Católica nunca permitiu e
nem aceita, para apadrinhar batizandos, as pessoas amasiadas ou
de vida conjugal irregular. Logo, se Diogo Lopes de Araújo Costa
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e Maria Siciaca da Fonseca puderam ser padrinhos, na capela de
Santa Cruz e na fazenda Lagoa do Mato, perante dois padres
católicos, é de admitir-se que estivessem casados pela mesma
Igreja, que sempre foi exigente e cuidadosa na observância deste
preceito.
Outro argumento: Quando o Padre Manoel Antônio da
Rocha, "Visitador Geral do Norte de Cima da Comarca do Ceará
Grande", visitou o Curato da Ribeira do Acaraú, em 28 de julho de
1777, deixou no livro competente a seguinte reclamação: "Porque
tem mostrado a experiência e o clamor dos Povos que se não acham
muitos assentos de Batismo, Mortes e Casamentos, em muitas
Freguesias, o que certamente procede da falta de assentos, por
virem eles para a Matriz das respectivas Capelas em cedulazinhas
que muito fácilmente se perdem". (História de Sobral, de Dom José
Tupinambá da Frota, 1.ª Ed. pág. 663).
Ora, se apesar das pesquisas feitas, até agora não se
conseguiu encontrar o termo de casamento de Diogo Lopes de
Araújo Costa com Maria Siciaca da Fonseca, é possível que o
mesmo houvesse sido extraviado, em uma dessas cedulazinhas a
que alude o Padre Manoel Antônio da Rocha.
E, no que concerne ao número de filhos mortos, nem se
compreende mesmo como Diogo Lopes, que exercia a arte de
curar, com tanta proficiência e felicidade, deixasse morrer, assim,
quinze filhos seus, sem que na localidade onde residiam ocorresse
qualquer surto de epidemia mortal.
Felizmente, o próprio Capitão Diogo como que veio
esclarecer, em parte, o assunto, em seu testamento, feito no
Primeiro Cartório de Sobral, em data de 22 de junho de 1833,
valiosa pesquisa que devemos ao meticuloso genealogista Luiz
Coelho de Vasconcelos, a quem muito sinceramente saberemos
agradecer. Em referido Testamento, Diogo Lopes de Araújo Costa
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reconheceu apenas 16 filhos de três mulheres, e que são os
seguintes:
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ratificar as razões desses nossos antanhos que diziam haver Diogo
Lopes casado um pouco antes de falecer. Ao contrário, apurando,
cuidadosamente, o quanto lemos a respeito do assunto, chegamos
à conclusão de que o saudoso Capitão preferiu viver solteiro. E, por
isto, teria falecido inupto, tal como informaram ao historiador
Antônio Bezerra.
E, segundo informações de outros nossos antepassados, em
1789, isto é, aos 28 anos de idade, Diogo Lopes passou a viver
maritalmente com a aludida Antônia Maria do Rosário, com a qual
conviveu apenas dois anos.
O tempo correu e decorreu, e, em 1798, tomou para sua
companheira a mulher Maria Rodrigues de Sousa (portuguesa),
com a qual conviveu onze anos. Entretanto, simultaneamente, isto
é, desde 1801, também se concubinara com Maria Siciaca da
Fonseca, com a qual viveu conjugalmente o resto de sua existência.
"PLANTANDO, DÁ"
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cultivo da mandioca, milho, feijão e outros produtos da nossa
lavoura, enquanto o rebanho aumentava, graças à abundante
pastagem ali existente. Nestas condições, dentro de pouco tempo,
o Capitão Diogo era um dos mais abastados proprietários do Baixo
Acaraú.
DATA DE SESMARIA
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"Manoel Inácio de Sampaio, fidalgo de Sua Majestade," Coronel
do Real Corpo de Engenheiros, Governador da Capitania do Ceará,
pelo Presidente da Junta da Real Fazenda etc.
REQUERIMENTO DO CAPITÃO
DIOGO LOPES
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sobreditos heréos confinantes, pegando dos providos do limite do
norte, pelo Riacho da Prata a cima, compreendendo as terras
devolutas e sobejas que houverem por uma e outra parte do
mencionado Riacho ou pela parte que realmente houverem sobras
entre todos os sobreditos heréos confinantes, até às testadas da
Lagoa do Mato do suplicante, tanto pelos benefícios de agricultura,
aproveitamento e posse pessoal em que esta ha tantos anos, como
pelo cômodo público que daí resulta, pois que tem o suplicante
feito estradas pelas caatingas desertas daquele sítio, para os
providos da Ribeira do Curuaru, Termo da Vila de Granja, fazendo
comerciados os povos do Acaraú com os da Granja, por aquela
parte até então incomunicável, portanto.
"Pede a V.ª Excia. se digne conceder-lhe as sobreditas
sobras por Sesmarias, para si e seus herdeiros ascendentes e
descendentes, debaixo das cláusulas expressadas nas Ordens
Régias tendentes a este negócio, e receba mercê
DESPACHO DO GOVERNADOR
DA CAPITANIA
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da Vila de Sobral, desta Capitania, para si e seus herdeiros
ascendentes e descendentes, quais logrará em todas as suas
testadas, matas, campos, águas, logradouros e mais úteis que nelas
houver, reservados os paus reais para construção de caminhos
livres no Conselho, para fontes, pontes e pedreiras; e pagará
dízimos dos frutos que delas houver.
"Assim também será obrigado a medí-las e demarcá-las e a
haver de S.ª Majestade, pelo Tribunal competente, a Régia
confirmação, na forma das Reais Ordens, e mais alvará de 25 de
janeiro de 1809. E havendo nas ditas terras rio navegável, ficará
livre de uma das margens que toca às terras do suplicante meia
légua, para uso e comodidade do público, pena de que faltando a
qualquer das cláusulas declaradas, se houverem por devolutas ditas
terras e darem a quem as pedir. Pelo que ordeno ao Juiz de
Sesmarias e mais justiça e pessoal a que tocar, que, na forma
requerida e condições confrontadas, cumpram e guardem, façam
cumprir e guardar esta minha Carta de Data de Sesmarias, como
nela se contém, em firmeza do que lhes mandei passar a presente
por mim assinada e selada, com o sinete das minhas armas, que
registrará na Secretaria deste Governo, Contadoria da Real
Fazenda, onde pertencer.
"Dada na Vila da Fortaleza, Capitania do Ceará, aos 18 de
junho de 1817.
"E eu, Vicente Ferreira de Castro e Silva, Oficial Secretário
do Governo, no impedimento do Secretário, a fiz escrever.
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Conseguida, assim, mencionada Data de Sesmaria, 6
Capitão Diogo Lopes teve consideravelmente aumentada sua
propriedade, com amplas vantagens para sua numerosa família, a
qual, em sua quase totalidade, vivia do cultivo do solo e do
pastoreio, bem como, para os agregados, a quem ele, todos os anos,
cedia terra de plantio, sem cobrar qualquer renda. Sim, porque o
Capitão de Lagoas do Mato entendia o Deuteronômio (15,11):
"Abre tua mão ao teu irmão necessitado ou pobre que vive em tua
terra."
LÍDER INCONTESTÁVEL
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Homem de rara fibra e lisura de caráter, Diogo Lopes era
dono de uma autoridade que ninguém ousava pôr em dúvida ou
menosprezar. Sua palavra valia por um documento legalmente
assinado. De tal maneira que sua orientação era sempre acatada
pelos que o procuravam. Educado na escola do trabalho, tendo
herdado, de seu ilustre pai, a serenidade ante as vicissitudes da vida
e o espírito de solidariedade para com os seus semelhantes, o
Capitão Diogo Lopes era, incontestavelmente, um homem, no
integral significado da palavra, e que, por isto mesmo, se tornou
indispensável à sua Comunidade.
E a ação de seu prestígio não se restringia somente às
localidades de Lagoa do Mato e Santa Cruz. Não. Daqui, da então
Barra do Acaraú, e até de outras povoações, muita gente acorria à
casa do velho Capitão, para expor situações e ouvir sua palavra
conciliadora e amiga, firmada no conhecimento e na experiência.
E, no exemplo de sua vida e de sua luta, ele deixou claro que
pensava com Samuel Smiles, que "os melhores homens não vivem
para gozar nem ganhar fama. O que os move é a esperança de serem
úteis a uma boa causa".
E no que alude aos interesses da Comunidade, – diziam
nossos maiores, – o Capitão muito fazia em benefício de seu
desenvolvimento.
Assim é que, no requerimento que, a 28 de abril de 1817,
dirigiu ao Cel. Manoel Inácio de Sampaio, então Governador da
Capitania do Ceará, pleiteando uma Carta de Data de Sesmaria, ele
informava: "que tem feito estradas pelas caatingas desertas daquele
sítio, para os providos da Ribeira do Coreaú, termo da Vila de
Granja, fazendo comunicados os povos do Acaraú com os da
Granja, por aquela parte até então incomunicáveis".
Pelo visto, esse trabalho foi feito entre o ocaso do século
dezoito e o amanhecer do século dezenove. É fácil, portanto,
avaliar-se o quanto foi preciso, então, de energia, de audácia e
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mesmo de dinheiro, para abrir uma estrada, ligando Acaraú a
Granja, numa extensão de quase cem quilômetros, com grandes
trechos em plena mata virgem, povoada de bichos silvestres,
inclusive onças, maracajás e outros animais perigosos.
Um serviço assim, de tão marcante significação no
importante setor do transporte e da comunicação, possibilitando o
relacionamento e o intercâmbio entre os habitantes dos dois então
futuros municípios, é capaz de pôr em destaque a personalidade do
Capitão Diogo Lopes de Araújo Costa, também como homem de
realizações em benefício da coletividade, sobretudo pelo seu
espírito pioneiro.
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transcorrendo, mais e mais ia sendo procurada, por doentes de
todas as classes sociais.
É que, para Diogo Lopes de Araújo Costa, servir ao
próximo constituía o primeiro dever do homem e a sua obrigação
maior. E o seu reconhecido espírito de concórdia, conforme
asseveravam antepassados nossos, conseguía manter em paz e
harmonia toda a Comunidade da qual fazia parte.
Sim, porque o velho Capitão, como fosse um nordestino
autêntico, integrando a "rocha viva de nossa nacionalidade", como
nos denominou Euclides da Cunha, possuía, em alta dose, a "calma
e a serenidade admiráveis", tão apreciadas pelo saudoso escritor
Gustavo Barroso.
E com aquela calma e aquela serenidade que eram, na
maioria das vezes, o segredo de suas vitórias e do seu êxito, no
solucionamento dos problemas que freqüentemente lhe eram
apresentados, o Capitão Diogo Lopes de Araújo Costa, não
obstante o pesado ônus de seu labor, apesar de suas
responsabilidades perante os seus familiares e perante a sua
Comunidade, não se irritava nunca, e, por isto mesmo, era um
homem invariavelmente disponível, tranquilo e feliz.
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2
O Político
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VEREADOR PELA CÂMARA DE SOBRAL
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instalação da Vila Distinta e Real de Sobral, a 6 de julho de 1773,
quando foi nomeado Tesoureiro para os impostos do Porto de
Acaraú, pelo Dr. Joaquim da Costa Carneiro e Sá, então Ouvidor e
Corregedor da Comarca do Ceará (Cronologia Sobralense, págs.
302/307).
E em 1775/76 o Capitão José de Araújo Costa foi eleito
Vereador à Câmara de Sobral (Obra citada, págs. 274 e 276).
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casa do mesmo João Bento, então Juiz de Paz de Acaraú, a 17 de
janeiro de 1847, e teve decisiva, influência na cruzada cívica que
culminou com a criação do município de Acaraú, pela Lei n.º 480,
de 31 de julho de 1849, sancionada pelo Dr. Fausto Augusto de
Aguiar, então na Presidência da Província do Ceará.
Criado o município, e realizada a eleição para Vereadores
ao poder legislativo municipal, que então centralizava o executivo,
quatro filhos do Capitão Diogo Lopes foram votados para a sua
Primeira Câmara, que foram os seguintes: – "João Bento de Araújo
Costa, 760 votos; Manoel de Araújo Costa, 1008 votos; Simplício
de Araújo Costa, 1010 votos; e João de Araújo Costa, 769 votos."
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CAPITÃO DE ORDENANÇAS
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naturalmente tinha outros defeitos, como todos nós os temos,
dentro da fraqueza e das limitações da criatura humana. Uma
qualidade, porém, salientava-se em sua pessoa, segundo diziam os
que o conheceram de perto: era a sua disponibilidade, o seu espírito
de solidariedade humana, com preferência especial para aqueles
que mais precisavam de ajuda, em qualquer emergência.
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O Médico
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MÉDICO SEM DIPLOMA
AS PLANTAS CURAM
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recursos. Hipócrates só aconselhava medicamentos vegetais e dava
as suas consultas entre as plantas, ao ar livre".
Pensando de igual maneira, certamente, o Capitão Diogo
Lopes quase sempre ia colher na riquíssima flora brasileira os
elementos de que necessitava, para exercer a sua terapêutica.
Folhas, flores, sementes, cascas, resinas, raízes etc., eram
constantemente empregadas na clínica do ilustre patriarca de
Lagoa do Mato. E ele conhecia, como poucos, as qualidades
medicinais das plantas e suas aplicações no tratamento das
numerosas doenças que afetam o organismo humano.
Deste modo, as plantas eram responsáveis pela quase
totalidade de suas vitórias, na grande arte de curar. Vitórias que,
muitas vezes, representavam prodígios, tal como a tradição ainda
assevera.
Dizem, ainda, que Diogo Lopes estudava anatomia
continuamente, pelo que conhecia a complicada estrutura do corpo
humano, bem como a função específica e a capacidade normal de
funcionamento de vários órgãos, o que contribuía para o bom êxito
de sua profissão de médico, embora lhe faltassem o equipamento e
o instrumental necessários para exames e análises.
FATOS INCRÍVEIS
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pudesse desempenhar, como o fazia, a relevante missão que lhe
estava reservada, em benefício da humanidade sofredora.
O renomado historiador Antônio Bezerra, em Notas de
Viagem, pág. 371, informa: "Ainda hoje as pessoas que o
conheceram referem fatos incríveis a respeito da experiência e
conhecimento que tinha das moléstias, afirmando que foram
inúmeras as curas difíceis que conseguiu fazer, de sorte que o seu
hospital era ansiosamente procurado, pela certeza do pronto
restabelecimento."
E o escritor e poeta Mário Linhares, em seu trabalho
genealógico intitulado Os Linhares, 2.ª ed., pág. 21, adianta:
"Homem notável, pela sua perspicácia médica. Dele se contam
curas admiráveis. Era um verdadeiro discípulo de Hipócrates."
MEDICINA, UM SACERDÓCIO
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Barbosa, falando de Osvaldo Cruz: "Decididamente, uma espécie
de predestinação acompanha esta existência privilegiada."
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PARTEIRO
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Afirmamos, em período anterior, que a fama do Capitão
Diogo Lopes chegou a transpor fronteiras interprovinciais, como
disse A. Bezerra.
E, na verdade, doentes vindos até da Província do Piauí, vez
por outra, procuravam o hospital do médico de Lagoa do Mato. A
cavalo, em carros-de-boi, em liteiras, e muitos transportados em
redes, pela gravidade de seu estado de saúde, acorriam àquela
localidade. E naquele nosocômio de emergência recebiam o
tratamento de que estavam carecidos. E dali retornavam às suas
terras e aos seus lares, prontamente restabelecidos ou em vias de
recuperação.
E não só quando possuía sua vista, porém, mesmo depois
de perdê-la, o que jamais lhe foi motivo de queixa ou lamento,
Diogo Lopes nunca deixou de atender aos que precisavam de seus
serviços. A qualquer hora, sempre o encontravam disposto e bem
humorado, num impressionante exemplo de dedicação aos seus
semelhantes, tal como dizem as tradições.
O brilhante orador sacro, Padre Valdevino Nogueira, em
memorável discurso, afirmou: "Os homens imortalizam os séculos,
e as boas obras imortalizam os séculos e os homens." Assim, o
nome do Capitão Diogo Lopes ficou imortalizado, pelas boas obras
que praticou, em toda sua vida. Vida que pertenceu mais aos outros
do que a ele próprio. Vida de um homem que, na verdade, foi uma
figura humana insubstituível em seu meio ambiente.
ESPÍRITO DE DOAÇÃO
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tão munificentemente. E a muitos outros ajudando, defendendo e
orientando, pelo caminho certo.
Se tal como registramos no capítulo anterior, na vida
política e social de sua Comunidade, as atividades do Capitão
Diogo Lopes se fizeram sentir de maneira positiva e marcante, em
favor da coletividade, mais importante, porque mais humano e mais
útil, foi o seu trabalho na arte de curar.
Efetivamente, foi o seu serviço de médico, embora sem
diploma, que o tornou célebre, como afirmavam nossos ancestrais
e ainda rezam as tradições.
Ele constituiu, em sua existência e em seu trabalho, um
grande e nobre exemplo de caridade cristã, fiel, que sempre foi, ao
divino ensinamento do Evangelho: "Amarás a teu próximo como a
ti mesmo", (Marcos, 12-31), que é o segundo Mandamento do
Cristo.
Deixando a seu crédito tão larga folha de serviços prestados
aos seus semelhantes, portador, que era, de grande espírito de
doação, o Capitão Diogo, de Lagoa do Mato, certamente pensara e
falara, como George Elliot: "Não me dês, ó Deus, inteligência que
não me sirva para auxílio do próximo, nem forças que não
contribuam para o aperfeiçoamento do homem."
É de acreditar-se, portanto, que o seu labor e a sua
abnegação a serviço da Comunidade tenham contribuído para
aplainar os ângulos de sua vida social, conseguindo, tanto quanto
possível, indulgência para os delitos que ele praticou contra a
sagrada instituição da família, e expungindo, ao menos em parte, a
nódoa que macula o seu nome, ameaçando empanar a sua memória.
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de Sobral, relativos ao antigo Curato do Acaracu, não nos permitiu
localizar o termo referente ao falecimento do Capitão Diogo Lopes
de Araújo Costa. Foram baldados todos os nossos esforços neste
sentido, porque as folhas dos mencionados livros estão dilaceradas
e ilegível o que ali foi escrito, na época.
Entretanto, graças ao interesse do nosso prestimoso
conterrâneo José Maria Silveira, que, há quase meio século,
trabalhou vários anos no Primeiro Cartório da Comarca de Acaraú,
encontramos o resumo do inventário dos bens deixados pelo
saudoso Capitão. Inventário procedido aí pelos idos de 1840.
Pois bem: no referido documento, consta não somente o
registro do óbito de Diogo Lopes, ocorrido a 18 de setembro de
1838, mas também os nomes, com os respectivos anos de
nascimentos, de todos os 16 filhos que ele reconheceu como
legítimos, em seu Testamento datado de 22 de junho de 1833, no
1.º Cartório de Sobral, distribuídos exatamente pelas três mulheres
com as quais o grande Capitão conviveu maritalmente. E antigo
caderno, contendo notas de família, nos deu conta de que o cadáver
desse nosso eminente ancestral foi sepultado na Capela de Santa
Cruz.
Aliás, era costume, naquele tempo, utilizar-se as Capelas
para inumação dos cadáveres. E os mortos aqui na Barra do Acaraú
eram, em geral, sepultados na Capela de Santa Cruz. Tanto isto é
verdade que, quando, a 21 de outubro de 1849, aqui esteve, em
Visita Pastoral, o Padre Antônio Pinto de Mendonça, Cônego
Honorário da Capela Imperial do Rio de Janeiro, entre outras
recomendações, fez a seguinte, que se acha exarada no Livro de
Tombo da Matriz de Acaraú: "E, enquanto não se edifica a Igreja
Matriz, faça-se um Cemitério em que se possam sepultar os corpos
dos que morrerem, visto que na pequena Casa de Oração se não dá
jazigo algum, e muito incômodo é conduzir os corpos para a Capela
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de Santa Cruz, como tem sido costume, na distância de quatro
léguas."
Cumprida, portanto, sua missão entre os homens, cercado
do respeito e do reconhecimento de quantos conheciam a sua obra
de benemerência, o Capitão Diogo Lopes de Araújo Costa, tal
como já registramos, fechou os olhos para sempre, em sua sempre
bem amada fazenda Lagoa do Mato, a 18 de setembro do ano da
graça de 1838, legando à posteridade uma lembrança abençoada
pelo povo da sua Comunidade, do qual sempre foi um verdadeiro
amigo, de todos os instantes e de todas as circunstâncias.
Aos seus descendentes deixou um impressionante exemplo
de amor ao trabalho e amor ao próximo.
Se "os vivos são sempre governados pelos mortos", tal
como afirma um pensamento oriental de Lao-Tsé, citado pelo
saudoso escritor e poeta Mário Linhares, o Capitão Diogo Lopes
deve ter uma grande parcela de mando, entre os seus pósteros. Ele,
que encheu meio século de história da vasta região onde viveu e
trabalhou; ele que entendeu, muito bem, a recomendação de São
Paulo aos Gálatas (5-10): "Enquanto é tempo, façamos o bem a
todos os homens."
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JAZIGO MORTUÁRIO DOS ASCENDENTES
DO CAPITÃO DIOGO LOPES
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Pois bem: por uma coincidência talvez providencial, essas
cinco pessoas, representando quatro gerações e nascidas em quatro
localidades diferentes e distantes, mas tão estreitamente unidas
pelos laços do sangue, depois de mortas, foram reunir-se na capela
de Nossa Senhora da Conceição, no então povoado de Santa Cruz
(hoje cidade de Bela Cruz), onde foram sepultadas.
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Ascendentes e descendentes
do Capitão Diogo Lopes
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ASCENDENTES DO CAPITÃO DIOGO LOPES
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Portador de bons conhecimentos, José de Araújo Costa fez
boas amizades, ao longo da Ribeira do Acaraú até Sobral. Não
sabemos em que ano foi ele nomeado Capitão-mor.
Assim, já com sólida situação financeira, a 31 de julho de
1747, casou-se com d. Brites de Vasconcelos, filha do Capitão
Manoel Vaz Carrasco e Silva e de d. Maria Madalena de Sá e
Oliveira, tendo a cerimônia ocorrido na Fazenda Lagoa Seca,
propriedade de seu sogro, oficiada pelo Pe. Pedro de Albuquerque.
Por força de sua posição, ingressou na política, chegando a
ser escolhido Vereador, pela Câmara de Sobral, nos anos de
1775/76, como dissemos anteriormente.
Destarte, figura marcante dos poderes públicos do Baixo
Acaraú, o Capitão José de Araújo Costa, tal como já aludimos,
integrou uma das Comissões dos festejos da criação da Vila de
Sobral, a 5 de julho de 1773. Abra-se História de Sobral, de D. José
Tupinambá da Frota, 1.ª ed., pág. 303, e lá encontraremos o nome
de José de Araújo Costa, entre os promotores da memorável festa
histórica da hoje Princesa do Norte.
E na mesma data foi ele nomeado, pelo Ouvidor João da
Costa Carneiro e Sá, para controlar a venda de gado e cobrar o
respectivo imposto, no porto de Acaraú. Isto naquele tempo em que
o comércio de gado vacum aqui acusava um grande movimento,
em conseqüência das charqueadas.
Foi assim que o Capitão José de Araújo Costa, depois de
bem criar a sua família, constituída de 3 homens e 8 mulheres,
fechou os olhos para sempre, a 4 de agosto de 1791, em sua
Fazenda Lagoa Grande, e foi sepultado na capela de Santa Cruz.
Dona Brites de Vasconcelos, sua companheira de todas as horas,
faleceu a 10 de fevereiro de 1814, na mesma Fazenda, e sepultou-
se em Santa Cruz (hoje cidade de Bela Cruz).
***
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No que concerne à família de d. Brites de Vasconcelos, mãe
do Capitão Diogo Lopes, a história é mais ou menos idêntica.
No ano de 1073 residia em Ipojuca, Pernambuco, o casal
Capitão Francisco Vaz Carrasco e d. Inez Vasconcelos, "tronco de
inumerável descendência em toda a Ribeira do Acaraú", tal como
informa o Cônego Francisco Sadoc de Araújo.
Pois bem: nesse mesmo ano e desse mesmo casal nasceu
Manoel Vaz de Carrasco e Silva, o qual consoante Cronologia
Sobralense, 1.º v., pág. 32; "emigrou para o Ceará, fixando
residência na Fazenda Lagoa Seca, perto do local onde hoje se
encontra a cidade de Bela Cruz". Adianta citada obra, que "Manoel
Vaz Carrasco e Silva é o pai das Sete Irmãs, de cuja fecundidade
maternal provém grande parte da família sobralense, como aliás de
toda a Ribeira do Acaraú".
Não sabemos qual a profissão usada por Carrasco.
Provavelmente, como proprietário de terra, ocupou-se ele da
criação e da agricultura.
Aí pelos idos de 1712, Manoel Vaz Carrasco contraiu
núpcias, com d. Luíza de Sousa. Esta faleceu anos depois. E
Carrasco casou-se novamente com d. Maria Madalena de Sá e
Oliveira. Desse matrimônio houve 7 filhos, e entre estes, d. Brites
de Vasconcelos.
Vaz Carrasco, que tinha patente de Capitão, desfrutava de
conceito, nesta Ribeira. E depois de 80 anos de vida, faleceu, em
sua Fazenda Lagoa Seca, a 23 de novembro de 1753, sendo
sepultado na capela de Santa Cruz. Dona Maria Madalena de Sá e
Oliveira, faleceu a 14 de julho de 1758, e ali sepultada também.
Para corroboração e ampliação destas notas, vamos
transcrever, de História de Sobral, de D. José Tupinambá da Frota,
1.ª ed., págs. 87/88, o seguinte:
61
– "Manoel Vaz Carrasco, filho de Francisco Vas Carrasco
e d. Inez de Vasconcelos, veio, nos começos do século 18, para a
ribeira do Acaraú, onde era geralmente conhecido pelo Pai das Sete
Irmãs, das quais procedem muitas famílias de Sobral, Licania e
Acaraú.
Era natural de Recife e casou-se duas vezes: a 1.ª com D.
Luíza de Sousa, filha de Sebastião Leitão de Vasconcelos e de D.
Inez de Sousa; a 2.ª com D. Maria Madalena de Sá e Oliveira, viúva
de Francisco Bezerra de Menezes, e filha de Nicácio Aguiar de
Oliveira e de D. Maria Madalena de Sá.
62
do Regimento de Cavalaria desta Ribeira. Era filho do Coronel
Gonçalo Ferreira Ponte e de sua mulher, D. Maria de Barros. Daí
procedem os Ferreira Ponte.
e) D. Inez Madeira de Vasconcelos, que se casou com o
Sargento-mor Antônio Alves, (Alvares) Linhares, filho do Capitão-
mor Dionísio Alves Linhares e de D. Rufina Alves Linhares, alibi
Rufina Gomes de Sá. Dionísio era português, natural de S. Marinha
de Linhares, do Arcebispado de Braga, e veio residir no Rio Grande
do Norte, Cavaleiro da Ordem de Cristo e por todos considerado
como de muito boa nobreza, o que confirma sua patente de
Capitão-mor, registrada no livro das Miscelâneas da Ouvidoria
Geral de Pernambuco, e descendente de uma nobilíssima família
portuguesa. Daí procedem os Linhares.
d) D. Rosa de Sá Oliveira, que se casou com seu parente
Capitão-mor José de Xerez Furna Uchôa, autor da Genealogia da
família Holanda Cavalcante, e do qual procedem muitas outras
famílias.
e) D. Ana Maria de Vasconcelos, que se casou com Miguel
do Prado Leão, natural de Goiana (de onde vem a família Prado, de
Sobral e Granja).
f) D. Brites Vasconcelos, que se casou, a 31 de julho de
1747, com o Capitão-mor José de Araújo Costa, que foi sogro do
Capitão Inácio Gomes Parente, português, natural de Lamêgo, e de
José Alves Linhares, filho de Antônio Alves Linhares. José de
Araújo Costa, residente em Acaraú, era natural de Santa Lúcia de
Barcelos, Arcebispado de Braga, em Portugal, e era filho de Pedro
de Araújo e de D. Maria de Sá".
***
63
Sobralense, do Cônego Francisco Sadoc de Araújo, págs.
157/158/239, os seguintes apontamentos:
"1. Alferes Anselmo de Araújo Costa, que foi Vereador à
Câmara de Sobral, em 1780, c. c. Francisca dos Santos Xavier, filha
de Manoel Gomes Diniz e Josefa Maria dos Santos, a 30 de maio
de 1769. Anselmo faleceu a 13 de setembro de 1795.
2. Maria Madalena de Sá, c.c. seu primo legítimo Inácio
Bezerra de Menezes, filho de Gonçalo João Coimbra e Cosma
Melo de Moura, a 17 de abril de 1744. Inácio Bezerra faleceu a 21
de janeiro de 1781 e foi sepultado na capela de Santana.
3. Francisca de Araújo Costa, c.c. Inácio Gomes Parente,
filho de Manoel Gomes e Catarina Lopes, a 24 de novembro de
1777.
4. Ana Maria de Jesus, c. c. João de Sousa Xerez Uchoa,
filho de Luiz de Sousa Xerez e Ana Tereza de Albuquerque, a 15
de agosto de 1771.
5. Anastácia de Sá Araújo, c.c. João Francisco Perfeito.
6. Antônia Maria da Purificação, c.c. Paulo Joaquim de
Medeiros, filho de Domingos Alvares Magalhães e Clara da Silva
Medeiros, a 14 de fevereiro de 1778.
7. Rita Tereza de Jesus, c.c. o Capitão José Alvares
Linhares, filho de Antônio Alvares Linhares e Inez Madeira de
Vasconcelos, a 8 de julho de 1781.
8. Diogo Lopes de Araújo Costa, batisado a 22 de março de
1762, nascido no dia 3 do mesmo mês e ano, que faleceu solteiro,
mas com grande descendência. Dizem ter tido 35 filhos de sete
mulheres, dos quais 20 sobreviveram.
9. Maria da Encarnação, c.c. Bernardo Pereira de
Carvalho, filho de Tomás da Silva Porto e Nicácia Alves Pereira, a
14 de novembro de 1777.
10. Francisco Xavier de Sales, nascido a 13 de setembro de
1767,"
64
11. Maria Quitéria de Araújo, c.c. com seu primo Narciso
Lopes de Aguiar, a 25 de janeiro de 1796, na Matriz".
65
maio de 1844, com Ana Joaquina de Jesus, na capela de
Santa Cruz, pelo Pe. João Francisco Dias Nogueira.
7 – Bernardino de Araújo Costa, nascido em 1805, filho de
Diogo Lopes e de Maria Rodrigues de Sousa. Casado a 8 de
agosto de 1829, com Maria do Livramento, na Ermida de
Santa Cruz, pelo Pe. José Gonçalves de Medeiros.
8 – Venâncio Meireles de Araújo Costa, nascido em 1806, filho
de Diogo Lopes e de Maria Siciaca da Fonseca. Não se
casou. Era Capitão da Guarda Nacional, nomeado por
decreto de 14 de novembro de 1866.
9 – José Lopes de Araújo Costa. Tenente da Guarda Nacional,
por decreto de 3 de abril de 1856. Nascido em 1811, filho
de Diogo Lopes e de Maria Siciaca da Fonseca.
10 – Félix de Araújo Costa, nascido em 1813, filho de Diogo
Lopes e de Maria Siciaca da Fonseca. Casado a 21 de julho
de 1836, com Ana Donata de Araújo. Era Tenente da
Guarda Nacional, nomeado por decreto de 23 de abril de
1853.
11 – Raimundo Nonato de Araújo Costa, Tenente da Guarda
Nacional, por decreto de 21 de julho de 1872. Nascido em
1814, filho de Diogo Lopes e de Maria Siciaca da Fonseca.
Casado a 8 de agosto de 1829, na Ermida da Barra do
Acaracu, pelo Pe. Bernardo Clemente da Cruz Oliveira.
12 – Antônia Balbina de Araújo, nascida em 1815, filha de
Diogo Lopes e de Maria Rodrigues de Sousa. Casada com
João Nepomuceno de Araújo Costa.
13 – Simplício de Araújo Costa, Alferes da Guarda Nacional,
por decreto de 3 de junho de 1872. Filho de Diogo Lopes e
de Maria Siciaca da Fonseca. Casado com Teresa Francisca
da Silveira, nascido em 1816.
66
14 – Inácia Sabina de Araújo Costa, nascida em 1817, filha de
Diogo Lopes e de Maria Siciaca da Fonseca. Casada com
Antônio Dias da Silveira.
15 – Vicente Lopes de Araújo Costa, Alferes da Guarda
Nacional. Nascido em 1819, filho de Diogo Lopes e de
Maria Siciaca da Fonseca. Casado a 6 de setembro de 1844,
com Angélica Francisca da Silveira, na capela de Santa
Cruz, pelo Pe. João Francisco Dias Nogueira.
16 – Beatriz Geracinda de Araújo Costa, nascida em 1821. Filha
de Diogo Lopes e de Maria Siciaca da Fonseca. Casada com
Francisco Joaquim da Silveira, o qual era Tenente-Coronel,
Comandante do Estado Maior da Guarda Nacional, em
Acaraú, nomeado por decreto de 7 de julho de 1869.
DESCENDÊNCIA DO CAPITÃO
DIOGO LOPES
67
68
6
Referências ao
Capitão Diogo Lopes
69
70
REFERÊNCIAS AO CAPITÃO
DIOGO LOPES
71
"Entre as lendas com que se recria a imaginação popular,
houve esta: para o lado do Oeste há uma grande mata que se estende
desde a margem esquerda do Rio Acaraú até o rio da Tiaia, cerca
de 60 quilômetros de comprimento sobre 36 de largura.
"Um dia, um indivíduo da casa do Capitão Diogo Lopes,
andando à caça, internou-se na mata e perdeu-se.
"Depois de muito trabalho, conseguiu voltar à casa, e então
referia que tinha encontrado uma grande lagoa, na qual havia caça
em abundância, e de quando em vez ecoavam por ali os cantos mais
harmoniosos possíveis, que retinham a gente a ouvi-los por uma
eternidade.
"De lá trouxera, entre diversas flores que bordavam as
margens da lagoa, cada qual mais variada, cada qual mais
perfumosa, flores de água-pé.
"A essa notícia muitas pessoas procuravam e ainda
procuram a tal lagoa, pelo que passa como certo que ali existe uma
lagoa encantada."
(Antônio Bezerra – Notas de Viagem – Ed. de 1965,
págs. 371/372).
***
72
***
***
***
73
Côn. Francisco Sadoc de Araújo – Cronologia
Sobralense, V. I, pág. 158).
***
74
"Mas não foi somente no setor de assistência médica que o
Capitão Diogo trabalhou em benefício da coletividade. Também na
esfera social e política ele teve grande influência, pois, não só de
Lagoa do Mato e Santa Cruz, porém igualmente daqui da então
Barra do Acaraú, muita gente acorria à casa do Capitão Diogo
Lopes, para debater problemas e resolver questões. E a sua palavra
experiente e sensata era sempre acatada.
"Tal era o seu prestígio político que, apesar de residir
distante da então Vila de Sobral quase cem quilômetros, chegou a
ser eleito Vereador por aquele município, cargo em que defendeu
muitos injustiçados.
"Entre os Vereadores eleitos para a Primeira Câmara do
município de Acaraú, figuraram quatro filhos do Capitão Diogo
Lopes.
"Assim, pela exposição feita, a Câmara Municipal de
Acaraú, outorgando o nome do Capitão Diogo Lopes de Araújo
Costa a uma rua desta cidade, presta uma justa homenagem à
memória de um de seus filhos que mais se destacaram na vida
política social do município, e que, com seu trabalho, seus
conhecimentos e sua dedicação, prestou reais benefícios ao povo
desta zona."
(Vereador Antônio Raimundo de Araújo Neto –
Exp. de Motivos anexa ao projeto de lei, dando o
nome de Capitão Diogo Lopes a uma rua da cidade
de Acaraú).
***
75
(Santa Cruz – De Prédio Rústico a Cidade, pág.
128).
***
***
76
"Nos seus primórdios, Acaraú ganhou fama também por
conta de dois tipos populares que gozavam de extraordinário
prestígio em todo o Estado e nos vizinhos: João Saldanha Marinho
e Diogo Lopes de Araújo Costa.
..... ..... ..... ..... ..... ..... ..... ..... ..... ..... ..... ..... ..... ..... ..... ..... ..... .....
"Capitão Diogo, o outro curandeiro, ainda tinha maior
conceito. Vinha gente de toda parte e para curar toda espécie de
doenças. Consta que Capitão Diogo apenas pegava no pulso do
doente, passava-lhe um remédio e, pronto, logo a pessoa ficava boa
e sã."
(Anuário do Ceará, de Dorian Sampaio, Ed. de
1976, pág. 30).
***
Por força da Lei n.º 142, a cidade de Bela Cruz deu a uma
de suas ruas centrais o nome do Capitão Diogo Lopes em data de
26.11.1956.
77
Igual gesto teve a Câmara Municipal de Acaraú, que
também outorgou o nome do Capitão médico de Lagoa do Mato a
uma rua central desta cidade. O respectivo projeto foi apresentado
pelo jovem Vereador Antônio Raimundo de Araújo Neto, e que
obteve aprovação unânime de todos os membros daquela casa de
legislação municipal. E, por isto mesmo, foi convertido em lei, que
tomou o número 530/1976.
Desta maneira, são dois municípios que, pelos seus
legítimos representantes, tornaram público seu reconhecimento a
um conterrâneo que consagrou sua existência a serviço de sua terra
e de sua comunidade.
E esta atitude dos poderes públicos de Acaraú e de Bela
Cruz se reveste de mais elevada significação, porque é tomada nada
menos de dois séculos após o trabalho e a atuação do Capitão Diogo
Lopes de Araújo Costa, em benefício de seus semelhantes.
78
7
Lembranças do
Capitão Diogo Lopes
79
80
LEMBRANÇAS DO CAPITÃO
DIOGO LOPES
81
acordaram ouvindo um choro de criança, como se fosse no cômodo
vizinho.
E grande foi o seu espanto, ao constatarem que, quem
chorava, e ainda no ventre materno, era o futuro médico de Lagoa
do Mato.
O ESCRAVO DE CONFIANÇA
82
Capitão Diogo, depois de tomar o pulso à jovem, fitou,
demoradamente, o escravo, e falou para o pai da doente: – Tenha
paciência, meu amigo. A vida da gente é cheia de surpresas, em sua
maioria desagradáveis. A doença de sua filha é apenas uma
gravidez recente.
– Não é possível, protestou o pai, vivamente contrariado.
Ao que Diogo Lopes adiantou: – É possível e é verdade. De minha
parte eu lamento sinceramente. Tanto mais, quando o autor do
crime é exatamente este seu escravo de confiança.
O pai da moça, então, quase fora de si, interrogou o escravo,
o qual, embora tremendo da cabeça aos pés, confessou tudo.
O homem retirou um clavinote que trazia preso à sela, e
preparava-se para atirar no escravo, quando o Capitão Diogo falou,
com autoridade:
– Não, senhor! Nesta casa nunca se praticou um crime. E eu
não consinto que o senhor o faça agora. Para punir os criminosos,
existe a Justiça. E Nosso Senhor disse: – Não matarás. Demore aqui
um pouco.
Em seguida, entrou em um quarto ao lado, de onde saiu, daí
a instantes, ostentando as insígnias de Capitão de Ordenanças e
trazendo ao cinto uma espada aparelhada de prata. Falou, então,
para o escravo criminoso: – Esteja preso, em nome da Lei. A seguir
escreveu um ofício à autoridade competente, em Sobral,
encaminhando o escravo.
Teve, então, sábias palavras de conforto e orientação para a
jovem e seu pai, que dali saíram mais ou menos conformados.
83
Trazia um filho gravemente enfermo. Era um jovem de 20 anos, e
que tinha uma banda morta. Isto é, um lado inteiro estava sem
movimentos, há vários meses.
O Cel. Galvão contou, então, a luta que até aí tivera, à
procura de remédios para o filho hemiplégico, sem obter resultado.
Após ouvir tudo e apalpar o pulso do doente, Diogo Lopes
diagnosticou congestão (hoje seria derrame). E adiantou que o
moço teria de ficar hospitalizado, pois o tratamento seria longo.
Entretanto, depois de quinze dias, o jovem estava restabelecido.
Tanto que viera em uma liteira e voltava montando um fogoso
cavalo.
No dia seguinte, o doente recebeu alta, e o Cel. Galvão disse
ao médico de Lagoa do Mato que pedisse quanto quisesse, pela cura
do filho. Diogo Lopes, porém, respondeu que ele nada lhe devia,
pois não exercia a medicina por pagamento.
Galvão, então, desfez-se em agradecimentos e foi embora.
Passaram-se os dias. E duas semanas depois, parou à porta
do Capitão Diogo Lopes um carro, puxado por três belas juntas de
bois, todos de uma cor só, transportando vinte queijos de quinze
quilos cada um.
Acompanhavam o carro dois escravos do Cel. Galvão, o
qual enviara aquele presente para o médico de seu filho. Uma carta
do Cel. renovava seus agradecimentos ao Capitão de Lagoa do
Mato, pelos favores recebidos, quando ali estivera, com o filho
enfermo.
O Capitão Diogo mandou então guardar os queijos e
convidou os escravos para ficarem até o dia seguinte, enquanto
tratavam dos bois, para o regresso, pois a viagem era muito longa.
Entretanto, os mensageiros do Cel. Galvão responderam
que a oferta constituía-se de tudo: – o carro, os bois e os queijos.
84
NATAL CHUVOSO
O ESGRIMISTA NOTURNO
85
admirável perícia, mesmo porque era um devotado admirador da
esgrima.
Tanto isto é verdade que, quando tinha seis filhos com idade
de quinze anos acima, contratou um mestre de esgrima, para
ensinar a todos o jogo da espada.
O mestre veio de Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção
e começou as instruções. No entanto, um dos moços, no caso o
Bernardino, não quis participar dos exercícios. Limitava-se a
assistir às aulas.
E aconteceu que, uma certa noite de lua muito clara, o
Capitão Diogo viajava, sozinho, de Santa Cruz para Lagoa do
Mato. E na altura das "Pedras Grandes" saiu-lhe ao encontro um
homem mascarado, que, fincando uma espada no chão, desafiou-o
para jogar a esgrima.
Diogo Lopes, que era homem de coragem a toda prova, não
hesitou: atou seu cavalo a uma carnaubeira, fincou sua espada
diante da outra e recuou a distância de praxe, o mesmo fazendo seu
estranho adversário. Em seguida, avançaram, tomaram das espadas
e começaram a luta. Capitão Diogo era famoso na arte de jogar
espadas, mas o contendor defendia-se com extraordinária destreza
dos sucessivos golpes que lhe eram arremessados. O velho Capitão
estava surpreendido, porque o adversário não ousava atacar.
Apenas defendia-se. Assim, depois de uma hora de luta, Diogo
Lopes declarou-se vencido, fincando sua espada no chão. E esperou
a ação do adversário. Este, entretanto, desapareceu no meio do
denso carnaubal.
Em casa, Diogo Lopes contou o ocorrido. Mas ninguém
sabia explicar o estranho fato. Notaram, porém, a falta de
Bernardino. Seria ele? Mas ele nem sequer tomara parte nas aulas
de esgrima! E nem se atreveria a tanto. Todavia, o Capitão
lembrava-se, agora, que, na estatura e nos gestos de seu contendor,
notara algo que não lhe era desconhecido. Um pouco mais tarde,
86
Bernardino vinha entrando, por uma porta dos fundos, quando o
Capitão, que o esperava, interrogou-o sobre o ocorrido. Bernardino
ajoelhou-se aos pés do pai e confessou ser ele o misterioso
esgrimista, pedindo perdão de sua audácia. Esclareceu que queria
apenas mostrar ao pai que aprendera a jogar espadas, sem participar
das aulas.
Diogo Lopes, em vez de punir o filho, mandou contratar
uma orquestra e fez uma festa em sua homenagem. Isto porque
nunca encontrara outro adversário que o tivesse vencido no jogo da
espada.
O MENINO DA SECA
87
os meios de tornar menos penosa a sua situação de miséria.
Retirantes que se dirigiam à praia, buscando sobrevivência na
beira-mar, onde era grande a fartura de caranguejos, sururus e
peixes diversos.
Pois bem: Capitão Diogo viajava para a povoação de Santa
Cruz, em companhia de seu irmão Francisco Xavier. Ao chegarem
ao lugar Pedras Grandes, ergueu ele a cabeça, fez parar seu cavalo
e falou: Alguma coisa me convida para aquela pedra. E apontou
uma enorme pedra distante uns 50 metros do caminho. Ali
chegando, encontraram um menino de uns dois anos de idade,
deitado sobre umas palhas de carnaúba. A criança, esquelética,
estava ali, deixada por estranhos ou mesmo por algum pai
desnaturado e brutalizado pela miséria e pela fome. Formigas e
moscas pousavam, famintas, no corpo do infeliz pequeno.
E Francisco Xavier viu, então, Diogo Lopes, homem forte,
quase a chorar ante aquele pequenino retirante, faminto e
abandonado. E o Capitão, muito cuidadosamente, tomou o
menininho, levou-o para sua casa, onde acabou de criar.
A SOLITÁRIA
88
pulso da moça e diagnosticou: – Uma solitária está minando seu
organismo. Tome cuidado. O compadre, justamente alarmado,
perguntou o que deveria fazer, ao que Diogo Lopes respondeu que
poderia curá-la, embora o tratamento fosse um tanto rigoroso.
Com o consentimento do compadre, o médico improvisado,
pela manhã, mandou a doente comer um pedaço de carne seca,
assada, e bem salgada. Em seguida trancou a moça em um quarto e
guardou a chave.
Poucos minutos depois, a doente começou a pedir água,
porque a sede a devorava. Diogo Lopes, entretanto, sentenciou que
ela teria de ficar dez horas sem beber; assim era preciso para sua
saúde. Em pouco, a doente chorava de sede. Mãe e irmãs também
choravam. E o compadre, vez por outra, passava o lenço nos olhos.
Mas era indispensável observar o regime imposto pelo doutor.
Destarte, dez horas depois, Capitão Diogo muniu-se de uma
laçada feita de fio de lã; mandou que a doente abrisse bem a boca,
mandou aproximar desta uma tigela de leite fresco, e esperou,
atento, segurando a laçada. Algum tempo depois, a tênia, impelida
pela falta d'água e atraída pelo cheiro do leite, mostrou a cabeça
que Diogo prendeu com a laçada. E foi puxando vagarosamente,
com admirável habilidade. E, como num passe de mágica, a
solitária, que media uns seis metros, foi retirada, inteirinha, do
estômago da jovem paciente.
Agora, falou Diogo Lopes, resta alimentar
convenientemente a menina, para que ela readquira a energia
perdida. No dia seguinte, ao despedir-se do Capitão que regressava
a Lagoa do Mato, a moça presenteou-o com um bolo muito bem
embalado, pedindo-lhe que o partisse somente em sua casa, pois
fora preparado para durar muitos dias. E quando, à hora da
merenda, em sua residência, Diogo Lopes mandou partir o bolo,
encontraram dentro dele moedas de prata e ouro.
89
UMA CONSULENTE EQUINA
90
A ROMARIA
INVERNO EM OUTUBRO
91
Estávamos, então, no mês de outubro. No céu não se via
uma nuvem. Mas, algumas horas depois, nevoeiros começaram a
levantar-se ao nascente. E, precisamente, às dez horas, em toda
aquela redondeza caiu uma pesada chuva que fez correr, com força,
o Córrego de Lagoa do Mato.
A PEDRA DE ASSENTO
92
"Capitão Diogo Lopes
É homem muito ciente.
Homem que veio do céu
para dar saúde à gente.
Da Granja, do Piauí,
Da Imperatriz, de Sobral.
Vêm doentes todo dia,
Procurar seu Hospital.
*
FONTES DE CONSULTAS
93
Nicodemos Araújo – Bela Cruz – de Prédio Rústico a Cidade –
1967
Secretaria de Cultura – Sesmarias Cearenses – 1971
Nicodemos Araújo – Município de Acaraú – 1971
Arquivo da Cúria Diocesana de Sobral
Arquivo da Prefeitura de Acaraú
Arquivo da Paróquia de Acaraú
Arquivos dos Cartórios de Acaraú
Arquivo do Genealogista Luiz Coelho de Vasconcelos
Arquivo de José Maria Silveira
Arquivos da Família Lopes Araújo
Manuscritos Diversos
94
ÍNDICE
Falando ao leitor................................................................................... 13
1 – O Homem........................................................................................ 15
2 – O Político........................................................................................ 33
3 – O Médico......................................................................................... 41