Estudos Culturais em Educação - Livro
Estudos Culturais em Educação - Livro
Estudos Culturais em Educação - Livro
*"av ''brinque
k.
do ^ biologia
• eratura Wácinema
marísa vorraber
organizadora
Os estudos apresentados neste
livro compõem um conjunto de análises
culturais, desenvolvidas no Programa
de Pós-Graduação em Educação da
UFRGS, voltados para o exame da pro-
dutividade dos artefatos da cultura na
constituição de identidades e subjeti-
i vidades. Eles se inscrevem no pano-
k rama de uma perspectiva de pes-
A quisa que se constituiu na segunda
metade do século XX, denomina-
9^ da Estudos Culturais. A marca
^^9 peculiar deste enfoque que
nos tem ajudado a pensar as
questões da educação e da
wÊm pedagogia neste limiar de
► milênio é a ceníralidade da
cultura, tomada não em perspectiva
estética ou humanista, mas política. Isto
quer dizer que não se trata de abordar a
cultura no sentido estrito de acumula-
ção de saberes ou de processo estético,
intelectual e espiritual, mas de compre-
endê-la, como nos ensina o jamaicano
Síuart Hall, a partir da enorme expan-
são de tudo que hoje está associado a
ela, e do seu papel constitutivo em todos
líSTU
feíQ/C.
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culturais
em educação
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UNIVERSIDADE
FEDERAL DO RIO
GRANDE DO SUL
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estudos
culturais
em educação
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'■•fratura ^ cinema...
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crístíanne famer rocha
elí henn fabris
luís Henrique dos santos
maria isabel bujes
marisa vorraber costa (org.)
marise basso amaral
norma regina marzola
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segunda edição
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ISBN 85-7025-748-1
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Sumário
Apresentação 9
ÇESEUVATÉCNIO*
da o-
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f.
Todos nós queremos o melhor para nossos filhos. Mas o que
é a educação senão o processo através do qual a sociedade
incute normas, padrões e valores — em resumo, a "cultura"
— na geração seguinte na esperança e expectativa de que, desta
forma, guiará, canalizará, influenciará e moldará as ações e
as crenças das gerações futuras conforme os valores e normas
de seus pais e do sistema de valores predominante da socie-
dade? O que é isto senão regulação — governo da moral feito
pela cultura? O que é a tentativa de construir uma "cultura
empresarial" no coração das organizações senão o empenho
de influir, moldar, governar e regular — mesmo que indireta-
mente, talvez à distância — a forma como os empregados se
sentem e agem na organização? Porque os moralistas tradici-
onais se importariam com o que as pessoas vêem na televisão,
a menos que, implicitamente, acreditassem que o que as pes-
soas assistem na TV, que as representações que elas vêem, e a
forma como o mundo é representado para elas — em resumo,
a "cultura da televisão" — influencie, modele, guie e regule
normativamente, por exemplo, a conduta sexual dessas pes-
soas? [...] Não estamos necessariamente falando aqui em do-
brar alguém por coerção, influência indevida, propaganda
grosseira, informação distorcida ou mesmo por motivos dú-
bios. Estamos falando cm arranjos de poder discursivo ou sim-
bólico. Toda a nossa conduta e todas as nossas ações são mol-
dadas, influenciadas e, desta forma, reguladas normativamente
pelos significados culturais.
Apresentação • 9
cas as posições e argumentos que aqui apresentamos e defendemos.
Agradeço também ao CNPq e à CAPES pelo apoio concedido, e ao
Programa de Pós-Graduação em Educação da UFRGS por possibilitar
um espaço amplo e plural de discussões sobre educação.
2
Cary Nelson, Colin Sparks, Graeme Turner, len Ang, John Fiske, John Frow, Lawrence
Grossberg, Meaghan Morris, Stuart Hall e Tony Bennet podem ser mencionados entre as
pesquisadoras e os pesquisadores da Austrália, Grã-Bretanha e Estados Unidos que têm
se dedicado à tarefa de descrever os projetos dos Estudos Culturais.
3
Expressão originada do nome de seu principal teórico, Mathew Arnold, cuja obra cen-
tral é Culíure and Anarchy.
4
Uesignação dos seguidores de Frank Raymond Leavis que adotam, em meados do sé-
culo XX, as políticas culturais de Mathew Arnold.
5
Samuel Taylor Coleridge foi poeta e crítico literário inglês. Viveu no período 1772-
1834 e foi um marco na crítica moderna, buscando sua inspiração na filosofia alemã que
interpretou e difundiu na Inglaterra. Dizem que de um só capítulo de sua Biografia lite-
rária (cap. XIV) derivou a maioria das especulações da nova crítica.
6
Em 1930, Frank Raymond Leavis publica o cnsaxoMass civilization and mmonty cul-
ture, cujo título já nos sugere sua remissão à concepção que, um século antes, nos apon-
tava para uma suposta oposição entre civilização e cultura.
7
Este texto pode ser localizado em Leavis, 1978, p 190.
cada um, a sua maneira, rompe com aspectos-chave da tradição que her-
dou: Hoggart e Williams rompem com o levisismo e Thompson rompe com
9
Menciono, entre eles, Colin Sparks, John Storey, Stuart Hall, Cary Nelson, Raymond
Williams.
Institucionalização
O primeiro diretor do Centro é Richard Hoggart, cargo que ocupou desde sua funda-
ção, em 1964, até 1969.
não como uma expressão orgânica de uma comunidade, nem como uma
esfera autônoma de formas estéticas, mas como um contestado e conili-
tuoso conjunto de práticas de representação ligadas ao processo de com-
posição e recomposição dos grupos sociais, (p.345)
alvez seja elucidativo mencionar que Stuart Hall, um jamaicano que estudou na In-
g aterra, é, como seus contemporâneos Hoggart e Williams, uma identidade dividida e
cnsionada por sua situação de estudante negro de um país colonial que percorreu os de-
graus acadêmicos da "melhor tradição britânica".
12
Publicada no texto Z( academia entre o local e o global da Z - Revista Eletrônica do
PACC - UFRJ, em http://www.ufrj.br/pacc/z.html.
A dispersão
Vou tomar uma frase de Stuart Hall (1992) para finalizar este texto
comentando uma das perspectivas mais controvertidas dos Estudos Cul-
turais: a que diz respeito a sua dispersão teórica e metodológica.
13
A esse respeito, ver Costa, 1998.
Referências bibliográficas
Alfredo Veiga-Neto
Dificuldade e produtividade
1
Ainda que essas operações de "taxonomia filosófica" não tenham, na perspectiva
deste texto, muito sentido, não há como desconhecer as discussões acerca do
(des)enquadramento de Foucault. Para uma discussão dessas questões — cada uma
íeita a seu modo e com resultados antagônicos —, vide Rouanet (1989) e Veiga-Neto
(1995, 1996a).
Por motivos de ordem prática, neste texto estou usando pós-estruturalismo e pós-mo-
demo (e pós-modernismo) como expressões equivalentes.
Para uma análise acerca das influências dos marxismos nos Estudos Culturais, vide
McRobbie (1995).
4
Femos bons exemplos desse "uso agregado" do pensamento de Foucault em vários au-
tores que analisam a Educação e a escola moderna. Ora são alguns (poucos, é verdade)
conservadores buscando, em Vigiar e Punir, elementos e vocabulário para descrever ou
prescrever, contraditoriamente, ações pedagógicas que seriam necessariamente confor-
madoras e disciplinadoras. Ora são autores da vertente crítica (mais numerosos) fazendo
uso do pensamento do filósofo para, também contraditoriamente, levar adiante suas res-
pectivas tentativas de alcançar uma razão e liberdade definitivas, de consumar o suposto
destino teleológico da história, de implementar uma ação docente progressista e consci-
entizadora, etc. Desse último caso, temos exemplos em alguns trabalhos de Peter McLa-
ren, He ri ri Giroux, Michael Apple, Jennifer Gore, Frank Pignatelli. Isso tudo, sem citar
outros "usos" que me parecem ainda mais problemáticos, como aqueles que ou psicolo-
gizam, ou engessam, ou transcendentalizam o pensamento de Foucault.
5
Considerando também a pesquisa educacional, temos bons exemplos desse uso -que
me parece apropriado, coerente — em Thomas Popkewitz, Julia Varela, Fernando Al va-
rez-Uria, Mariano Narodowski, Jorge Larrosa, Nikolas Rose, lan Hunter, Colin Gordon,
Graham Burchell.
6
Reíiro-me, aqui, àqueles estudos que conferem um rótulo à perspectiva foucaultiana
para simplificá-la e, a partir daí, estabelecer um apriori e descartá-la de qualquer possi-
bilidade de aproximação produtiva ou racional com os Estudos Culturais. Para exem-
plos e maiores detalhes, vide Billig (1997), Thomas (1997), Carey (1997).
Crises e críticas
E fácil constatar que vivemos, neste fim de milênio, num mundo que
é bastante diferente daquele idealizado — e em parte até mesmo realizado
— pelos arquitetos do Iluminismo. Os ideais de uma Büdung — pela qual
se conduziriam os bons selvagens a um estado de maioridade, donos de
sua razão, por obra de uma pedagogia e de uma escolarização racionais —
mostraram-se, depois de mais de dois séculos, inatingíveis, tanto em ter-
mos globais quanto em termos locais. Como se não bastassem as grandes
guerras mundiais, passamos a viver num mundo em que a ameaça atômi-
ca geral coexiste com as tragédias generalizadas por centenas de conflitos
étnicos, religiosos, econômicos. Paradoxalmente, enquanto se dá o notá-
vel avanço da ciência e da tecnologia, bilhões de pessoas são cada vez mais
excluídas dos benefícios desses avanços. E mesmo aqueles muitos milhões
que se beneficiam diretamente do progresso tecnológico estão sendo co-
locados diariamente frente aos impasses e perigos gerados pelo próprio
progresso; ora é a crescente poluição, contaminação e degradação ambi-
entais, ora é o esgotamento desse ou daquele recurso natural, ora é o sur-
gimento de novas e devastadoras doenças ou o recrudescimento de outras
mais antigas. Vivemos num mundo estranho, em que muitos morrem por
comerem demais ou desequilibradamente, enquanto muitos mais morrem
simplesmente por não terem o que comer.
Esse inventário sombrio poderia se estender bastante; vários pro-
blemas que parecem estar aumentando — tais como a crise do desem-
prego, a miséria endêmica, a corrupção, as intolerâncias (sexistas, reli-
giosas, étnicas, políticas), o estresse, a violência e a feiúra das grandes
cidades — forneceriam um variado e imenso material para irmos adian-
Com essa expressão, Harvey (1996) refere-se à síntese do tempo e do espaço engendra-
da principalmente pelas novas tecnologias da informação e das telecomunicações.
Com essa expressão, Giddens (1991, p.27) refere-se à penetração de lugares remotos e
ausentes num outro lugar: "O que estrutura o local não é simplesmente o que está pre-
sente na cena; a forma visível' do local oculta as relações distanciadas que determinam
sua natureza".
Assim, é compreensível que boa parte da culpa pela crise seja jo-
gada sobre a educação; isso costuma ser expressado com a conhecida e
surrada frase "o nosso problema é, antes de mais nada, um problema de
educação". E é também compreensível que nós, "profissionais da edu-
cação", assumamos resignadamente parte dessa culpa... E quantas vezes
nós mesmos — professores, especialistas, pesquisadores, técnicos edu-
cacionais — procuramos dividir a culpa com a sociedade, com os políti-
cos, com os governos, argumentando que nossa culpa deriva dos baixos
salários, das más condições de trabalho, do não reconhecimento adequado
de nossa "missão".
Em suma, não apenas a educação escolarizada está envolvida
com a "crise" da modernidade como, também e "pior", ela é vista
como ocupando uma posição central e desempenhando a função de
causa da crise.
Mas também podemos pensar e agir de outra maneira; ao invés de
assumir a má execução do projeto moderno, podemos colocar em xeque
o próprio projeto. Não por ser algo de difícil consecução, mas como algo
que partiu de premissas falsas ou, pelo menos, não-generalizáveis — algo
que poderia ser assim expresso: "não adianta querer executar um proje-
to que, mesmo parecendo idealisticamente bom, está baseado em premis-
sas problemáticas".
Um dos primeiros autores que formulou explicitamente esse enten-
dimento foi Lyotard, ao dizer no início dos anos 70 que os pressupostos
sobre os quais se assenta a modernidade não são uma descoberta do Ilu-
minismo, mas uma invenção do próprio Iluminismo, isso é, uma cons-
trução geograficamente localizada e historicamente datada e, enquanto
tal, não são nem eternos, nem transcendentais, nem universais, nem in-
suspeitos. Ao contrário, esses pressupostos funcionam como narrativas,
semelhantes aos mitos, que acabam por legitimar as instituições, as es-
truturas e as práticas sociais. Para Lyotard (1988), é exatamente o cará-
ter legitimador das narrativas modernas que permite que ele as denomi-
ne grandes narrativas ou metanarrativas — a saber, um sujeito trans-
cendental que estaria desde sempre presente em cada um de nós, à es-
J
Na literatura especializada, principalmente em língua inglesa, tem sido utilizada a ex-
pressão pós-críticas para designar as perspectivas que assumem o que eu estou denomi-
nando hipercrítica. Ainda que não me pareça muito relevante qualquer disputa em torno
da terminologia, penso que aqui cabe um registro: o prefixo pós denota após, que vem
depois, ora, dizer que o pós-moderno — que vem depois do moderno e se despede do
moderno — é o terreno da pós-crítica pode levar que, por analogia, se pense que a pós-
crítica não apenas vem depois da crítica como, também, que a pós-crítica se despede da
crítica. Mas se dá justamente o contrário! Se existe algo que o pós-moderno conserva do
moderno, trata-se, como já referi, do etos crítico fundado por Kant, da crítica como ati-
lude-limite (Rajchman, 1987), da crítica como um eixo para a pragmática da existência
(Rajchman, 1999, comunicação pessoal). Ainda que a crítica foucaultiana, por exemplo,
vire Kant de cabeça para baixo —pois a atitude-limite "inverte a problemática e o méto-
do kantianos [pois] rejeita o modo transcendental kantiano de crítica e o seu projeto de
identificar as estruturas universais de todo conhecimento e de deduzir da forma daquilo
que somos aquilo que é impossível, para nós, fazer e conhecer" (Kiziltan, Bain & Cani-
zares, 1993, p.219)— ela ressignifica a crítica moderna e confere a ela uma posição cen-
tral e um papel crucial para o seu pensamento e sua militância intelectual.
As verdades são ilusões, das quais se esqueceu que o são, metáforas que se tornaram
gastas e sem força sensível, moedas que perderam sua efígie e agora só entram em consi-
eração como metal, não mais como moedas" (Nietzsche, 1996a, p.57).
12 Com essas expressões não estou assumindo nem uma distinção entre o "discursivo" e
o "concreto" e nem mesmo uma "realidade" que estaria fora daquilo que pensamos/di-
zemos sobre ela. Afinal, "ao falarmos sobre as coisas, nós as constituímos. Em outras
palavras, os enunciados fazem mais do que uma representação do mundo; eles produ-
zem o mundo" (Veiga-Neto, 1996b, p.27). Meu objetivo é apenas apontar que a moder-
nidade idealizou uma concepção de sujeito e tentou realizar essa concepção.
14
Esta palavra não implica um juízo de valor, mas tão somente dizer que "produz algu-
ma coisa".
15
Ao explicar o seu método arqueológico, Foucault (1987, p.159) diz que a leitura ar-
queológica "não trata o discurso como documento, como signo de outra coisa, [...]; ela
se dirige ao discurso em seu volume próprio, na qualidade de monumento. Não se trata
de uma disciplina interpretativa: não busca um 'outro discurso' mais oculto".
16
Para uma discussão acerca das principais concepções de identidade —a concepção do
sujeito iluminista, do sociológico e do pós-moderno—, vide Hall (1998).
17
"Os nomes não se apreendem sozinhos; apreendem-se alojados em pequenas históri-
as" (Lyotard, 1993, p.45).
18
A virada lingüística passou a entender que "os discursos não são nem a externalização
de representações íntimas, [... nem, a rigor,] uma representação" (Rorty, 1988, p.287);
por isso, é preciso abandonar a noção de correspondência, tanto para as frases como
para os pensamentos, e ver as frases como estando mais ligadas às outras frases do que
ao mundo" (p.288).
19
Ainda que esse entendimento seja visto, por muitos, como um neo-heraclitismo, cha-
mo a atenção para o fato de que na discussão que estou fazendo não está em cogitação
qualquer logos como princípio transcendente de unificação e harmonia.
qUeStao ainda
aberto, a saber.
saber, em
:o
Devo a Maria Isabel Bujes — ao discutir seu pequeno (mas bem apanhado) inventário
(Bujes, 1999) — o alerta sobre essa questão levantada por Hall (1996). De qualquer
maneira, penso que a expectativa de Stuart Hall só se justifica a partir da perspectiva de
uma filosofia sistemática e da presunção — de raízes tipicamente modernas — de que é
Preciso explicar por que as nossas identidades não são atributos estáveis e acabados e
(desde sempre e para sempre) ancorados no mais profundo de nosso eu.
21
Para uma discussão acerca da telemática e das mudanças nos dispositivos ín/ormacio-
nais e comunicacionais, com as conseqüentes modificações sobre as sociedades pós-
modernas, vide Lévy (1999).
O poder
22
Deleuze (1991, p.78) explica que, ao pensar o poder em termos de Foucault, o impor-
tante não é perguntar: "Que é o poder? De onde ele vem? Mas: como ele se exerce?"
Uma relação de violência age sobre um corpo, sobre as coisas. Ela força,
ela submete, ela quebra, ela destrói; ela fecha todas as possibilidades; não
tem, portanto, junto de si, outro pólo senão aquele da passividade; e, se
encontra uma resistência, a única escolha é tentar reduzi-la. Uma relação
de poder, ao contrário, se articula sobre dois elementos que lhe são indis-
pensáveis por ser exatamente uma relação de poder: que o "outro" (aque-
le sobre o qual ela se exerce) seja inteiramente reconhecido e mantido até
o fim como o sujeito da ação; e que se abra, diante da relação de poder,
todo um campo de respostas, reações, efeitos, invenções possíveis.
É por isso que, para Foucault (id., p.245), "as relações de poder se
enraízam profundamente no nexo social; e [...] não reconstituem, acima
da 'sociedade', uma estrutura suplementar com cuja obliteração pudés-
semos talvez sonhar. Viver em sociedade é, de qualquer maneira, viver
de modo que seja possível a alguns agirem sobre a ação dos outros. Uma
sociedade 'sem relações de poder' só pode ser uma abstração". Disso se
conclui que não existe qualquer sentido em tentar construir uma socieda-
de livre das relações de poder; não porque isso seja difícil, mas simples-
mente porque o poder é imanente à lógica de viver em sociedade. Con-
clui-se, também, que as relações de poder se dão de modo cada vez mais
sutil e eficiente quanto mais livres forem os sujeitos.
Não há dúvida de que esse entendimento que Foucault tem acer-
ca do poder está muito distante das posições assumidas pelos primei-
ros autores do Centre for Contemporary Cultural Studíes at Birmin-
Referências bibliográficas
Estudos sobre
mídia e educação
Capítulo 3
1
Trata-se da pesquisa Produzindo subjelividades femininas para a docência - um estu-
do da revista Nova Escola, realizada juntamente com Rosa Hessel Silveira, no Núcleo
de Estudos sobre Currículo, Cultura e Sociedade (NECCSO), com o apoio da Fundação
Carlos Chagas, da Fundação Ford e do CNPq, concluída em 1997.
2
A revista Nova Escola, criada em 1986, é, seguramente, o mais conhecido periódico
dirigido a um segmento ocupacional específico. Sua tiragem é muito grande, por um lado,
devido à elevada demografia dos quadros do magistério e, por outro, devido às estratégi-
as promocionais adotadas. A capacidade de inserção e aceitação deste produto deve-se
em parte, à forma inicial de distribuição e divulgação. Durante os primeiros cinco anos
de sua criação, um convênio entre a Fundação Victor Civita e o Ministério da Educação
(FAE) sustentava um contrato de assinatura de 300 mil exemplares, arcando com cerca
de 70% de seu custo, para que ela fosse repassada gratuitamente às escolas públicas de
todo o território nacional. Grande parte da distribuição do periódico ocorria através des-
te convênio e a restante se efetivava através de bancas de revistas e assinaturas. A partir
de 1991, durante o governo Collor, o subsídio financeiro estatal foi retirado, dificultan-
do a aquisição da revista pelas escolas. A partir de fins de 1992, FAE e Fundação Victor
Civita voltaram a assinar um acordo, agora restrito ao envio de apenas um exemplar de
Nova Escola às escolas urbanas. Graças ao impacto editorial dos anos anteriores sus-
tentado por sua forma de distribuição inicial — e às suas ligações com a Editora Abril
cujos produtos editoriais gozam de eficiente sistema de distribuição e divulgação, a re-
vista vem garantindo sua fatia no mercado através da venda de seus exemplares em ban-
cas e por meio de assinaturas. Face aos desafios mercadológicos, Nova Escola vem re-
formulando seu projeto editorial. Introduziu minuciosos artifícios de diagramação alia-
dos a uma grande variedade de ilustrações: fotos coloridas de pessoas, de cenas de sala
de aula, de escolas ou de outros ambientes aludidos nas reportagens, desenhos ilustrati-
vos, montagens, gráficos, quadros, mapas, vinhetas, etc. Produtos de consumo geral-
mente objetos que fazem parte do aparato de influência esportiva consumido por crian-
ças e jovens das classes médias, como tênis, mochilas, raquetes, roupas, etc. têm apa-
recido na capa e na contra-capa para fins de merchandising e propaganda.
3
Santomé (1995) analisa esta questão, chamando a atenção para a maneira como certos
meios de comunicação, como o cinema, têm investido na masculinização da sociedade,
celebrando a positividade de uma suposta natureza mais agressiva dos homens e exal-
tando, em relação às mulheres, atributos exclusivamente estéticos que as expõem como
objeto de consumo associado ao apelo sexual.
4
Emprego o termo discurso na acepção foucaultiana, como aquilo que emerge enquan
to linguagem, a partir de uma episíeme; como conjunto de enunciados que se apoiam em
formações discursivas, que são definidos em um determinado quadro de condições de
existência; como práticas que falam sistematicamente dos objetos sobre os quais tratam
ou agem, como " prática que institui verdades".
5
Entendo por representações noções que se estabelecem discursivamente, instituindo
significados segundo critérios de validade e legitimidade vinculados a relações de po-
der. As representações não são fixas e em suas transformações não expressam aproxima-
ção a um suposto "correto", "verdadeiro", "melhor".
6
Uma análise interessante sobre as disciplinas — como campos disciplinares de conhe-
cimento — e suas aproximações com a disciplina — como controle/governo/regulação
do corpo e da conduta moral — pode ser encontrada na tese de Veiga-Neto (1996), inti-
tulada/l ordem das disciplinas.
governo das crianças, das almas, das comunidades, das famílias, dos do-
entes. (...) Governar, neste sentido, é estmturar o eventual campo de ação
dos outros. (Foucault, 1995, p.244)
7
Segundo Mattelart (citado por Fontcuberta, 1994) a "ordem do coração", culturalmente
situada na esfera do humano extratemporal e associai, instituiria uma ordem paralela à
ordem social, contribuindo para manter uma harmonia fictícia e reabsorvendo a dispari-
dade social. Assim, alimentaria a imagem de uma sociedade ideal na qual se invertem as
correlações de forças e se difunde um saber onipotente, chave do amor e da felicidade,
que subverte as regras vigentes: ser rico em amor vale mais que o dinheiro, ser feliz em
uma cabana é melhor do que viver num palácio sem afeto.
8
Conhecida revista feminina da Editora Abril, ainda em circulação.
9
Tal conduta foi confirmada pelo editor da Nova Escola, em entrevista realizada em 1996,
quando nos apontou para o fato de que esta revista era detentora do maior público leitor fe-
minino dentre os periódicos da Editora Abril, suplantando, inclusive, os índices de venda-
gem de revistas femininas como Capricho, Claudia, etc. Diante disso, segundo ele, a revista
passara a receber tratamento editorial diferenciado, especial para leitoras mulheres.
10
Um exemplo disso pode ser encontrado na pesquisa de Costa (1995), em que o grupo
de professoras de uma escola situada em zona de periferia urbana, freqüentemente im-
plicado em conflitos em defesa de estudantes e em lutas políticas por melhores condi-
ções de trabalho, se autodenomina as guerreiras.
11
Apresentada, inclusive de forma gráfica, no ensaio/I dominação masculina, cuja pri-
meira versão em língua portuguesa foi publicada na revista Educação & Realidade (cf.
ref. bibliog.)
12
É interessante observar, nestas e em muitas outras frases, dentre as muitas sugestões,
conselhos e prescrições que aparecem nas capas da revista, a presença de palavras de fá-
cil associação com o universo simbólico feminino como, por exemplo; espelhos, alinhavo,
receita, etc.
13
Impelidas pela curiosidade, ao realizar a pesquisa, manuseamos alguns jornais e re-
vistas que circulam em outros campos profissionais, bem como conversamos com alguns
de seus representantes — uma médica, uma arquiteta e um engenheiro. Constatamos que
para essas áreas de atuação, pelo menos em nosso meio, não há veículos impressos de
grande circulação — similar à Nova Escola — com a finalidade de transmitir orienta-
ções técnicas e/ou científicas. O que existe são órgãos de divulgação de produtos e pro-
cessos tecnológicos, com objetivos de comercialização, como é o caso da apresentação
de medicamentos e equipamentos, na medicina, e de materiais para construção, decora-
ção e demais instalações, na arquitetura, ou periódicos produzidos por organizações cor-
porativas, como associações ou conselhos profissionais, que apresentam e debatera ques-
tões específicas das categorias, com caráter informativo. Embora concordemos com Ke-
llner (1995), quando afirma que a própria publicidade é uma pedagogia, entendemos que
há distinção entre a pedagogia prescritiva praticada pela Nova Escola e as sutis pedago-
gias da sedução para o consumo praticadas por outros veículos.
Referências bibliográficas
Os sentidos da alfabetização
na revista Nova Escola
Norma Marzola
1 Utilizo a expressão primeiro grau, seguindo a nomenclatura adotada pela revista na época cor-
respondente aos números examinados. Hoje, a denominação oficial é ensinofundamental.
2
Ver relatório de pesquisa Produzindo subjetividades femininas para a docência. Ver-
são preliminar. Porto Alegre, NECCSO — Núcleo de Estudos sobre Currículo, Cultura
e Sociedade, PPGEDU/UFRGS.
É que a revista tinha que ter uma "fórmula Abril". E o que é "fórmula
Abril"? A revista é feita para ser lida pelo leitor. Aquilo que o leitor
quer ler é um parâmetro importante para quem faz a revista, que so-
mos nós. [...]. A gente acha que pode escrever sobre tudo, na medida
em que se escolheu um público. Um público que tinha uma carência
de conhecimentos muito grande... muito grande!... Descobrimos depois,
pelas cartas e pelo retorno, que essa carência era muito maior do que
se imaginava. Carta nunca é um retorno muito bom. [...1. Se o cara es-
creve uma carta para um jornal ou uma revista, ele é doido o suficiente
para a opinião dele não ser da maioria, porque é uma atitude muito inu-
sitada escrever. A revista é para ler, não para você escrever para ela.
[...]. Mas a gente incentiva... a gente acha que a pessoa que toma essa
iniciativa se destaca tanto da massa que ela não pode ser tomada como
parâmetro. É o ... falso amigo da gente. Quer dizer que a gente pode
sentir o pulso do leitor pelas cartas ou pelos telefonemas que recebe,
não é? [...]. Mas, enfim, pelo pouco que a gente tinha da revista que
foi feita logo no início, era claro que o professor sabia muito pouco
da profissão. [...]. No início dessa mudança, essa era a grande linha
que a gente tinha para poder determinar a maneira de fazer a revista.
3
Como este texto foi transcrito de uma gravação, suprimi as redundâncias e repetições
típicas da linguagem oral, substituindo-as por reticências.
A hegemonia do significado
de alfabetização construtivista
Léa afirma que a atenção individualizada não era dada no método tradici-
onal, em que todos os alunos da classe acompanham em conjunto uma
1.500.000 cartilhas foram compradas pelo MEC neste ano, sendo 345 mil
do tipo construtivista. 187.226 exemplares comprados pelo MEC torna-
ram a cartilha construtivista Descobrindo a Vida a mais usada neste ano
na rede pública.
[...] muitos dos traços que permeiam o discurso de Nova Escola e contri-
buem para a reprodução, fixação e produção de subjetividades docentes
têm um caráter persuasivo, infiltrando-se tanto nas imagens, quanto nos
títulos, nas seções fixas [...] ou mesmo nas reportagens, (p.27)
Nova Escola tem nos fornecido meios para incentivar e dinamizar os mo-
mentos de leitura e, com isso, motivar as crianças para essa matéria tão
importante. (D.F., Lagoa Vermelha, RS)
Espero que tenha ficado claro que essas citações não têm o sentido de
exemplificar as reações das leitoras e dos leitores às propostas editoriais da
revista, e que sequer estou entendendo as cartas publicadas simplesmente
como reações. O que pretendo salientar é que a revista cria um circuito fe-
chado, no qual seu caráter de didaticidade {socorro) se autojustifica, se re-
força e se reproduz; as leitoras e os leitores solicitam ajudas didáticas, a re-
vista publica matérias com essa característica, outras cartas de leitoras e de
leitores agradecem e louvam esse caráter assumido pela revista.
Contudo, tratando-se de cartas das leitoras e dos leitores, ou seja,
do discurso de outros(as), tudo se passa como se a revista permitisse de
fato a intrusão, no seu próprio espaço, de outras vozes e, portanto, de
outros pontos de vista e de outros discursos sobre ensino e educação. O
tom confessional, íntimo e pessoal, que caracteriza, de uma forma geral,
as cartas publicadas, corrobora essa impressão. Leitoras e leitores sen-
tem-se, efetivamente, como autoras e autores que criticam, elogiam,
emitem opiniões, dialogam, enfim, com a revista. Ainda que o estilo ho-
mogêneo e monocórdio de Cartas contradiga essa aparente pluralidade
de vozes e discursos, ou talvez por isso mesmo, logo aquele diálogo vai
parecer insuficiente à própria revista. E com efeito, tal modelo de parti-
cipação, sob administração e governo da editoria da revista, parece defi-
nitivamente esgotado no final de 1987, quando esta se dispõe a oferecer
novos mecanismos de participação, "abrindo generosamente" seu espa-
ço para favorecer o encontro, nas suas páginas, das vozes do conjunto
de leitoras e de leitores. Nessa nova forma de gerir a participação, os
leitores e as leitoras já podem "falar" entre si.
Referências bibliográficas
[ ] seria preciso fazer uma história dos espaços que seria ao mesmo
tempo uma história dos poderes — que estudasse desde as estratégias de
geopolítica até as nossas pequenas táticas do habitat, da arquitetura insti-
tucional da sala de aula ou da organização hospitalar, passando pelas im-
plantações econômico-políticas. [Pois] [...] é surpreendente ver como o
problema dos espaços levou tanto tempo para aparecer como problema
sócio-político. [.. .] A fixação espacial é uma forma econômico-política que
deve ser detalhadamente estudada, (p.212)
1
Produz subjetividades ao sustentar que indivíduos inteligentes, conscientes, educados
serão mais autônomos, mais livres, mais independentes, mais responsáveis, serão capa-
zes de promoverem transformações sócio-político-econômico-culturais que visem me-
lhoria de vida, progressos, avanços, humanizações.
^ No trabalho citado, a autora realiza uma pesquisa histórica sobre as escolas rurais do
Rio de Janeiro desde o período imperial até a década de 80, em que procura entender a
construção do espaço escolar de diversas maneiras, seja pela vertente de discussão do
espaço na cidade (Lefebvre), seja pela discussão das instituições vistas como espaço de
poder (Foucault).
O espaço escolar
Uma casa é uma máquina para morar... uma poltrona é uma máquina para
sentar e assim por diante. (Le Corbusier, em Rybczynski, 1996, p. 181)
3
Embora poder não seja uma coisa "em si", que as pessoas possam possuir, muitos crê-
em "ter poder" de escolha, de decisão ou de autonomia.
O mobiliário da escola
que se pode deslocar de um lugar a outro, transportar sem que sofra da-
nos ou venha alterada a função [...], [aquilo que serve] para decorar uma
casa, uma escola, um escritório. (Zingarelli, 1996, p. 1085, trad. minha)
A revista
4
Discurso para Foucault (1997a) "não é uma estreita superfície de contato, ou de con-
fronto, entre uma realidade e uma língua, o intrmeamento entre um léxico e uma experi-
ência; [não é] um conjunto de signos (elementos signifícantes que remetem a conteúdos
ou a representações), mas [...] práticas que formam sistematicamente os objetos de que
falam. Certamente os discursos são feitos de signos; mas o que íazem é mais que utilizar
esses signos para designar coisas. É esse mais que os torna irredutíveis à língua e ao ato
da fala. É esse 'mais' que é preciso fazer aparecer e que é preciso descrever" (p.56).
5
"O termo 'pedagogia cultural' refere-se à idéia de que a educação ocorre numa varie-
dade de locais sociais, incluindo a escola, mas não se limitando a ela. Locais pedagógi-
cos são aqueles onde o poder se organiza e se exercita, tais como bibliotecas, TV, filmes,
jornais, revistas, brinquedos, anúncios, videogames, livros, esportes, etc." (Steinberg,
1997, p.101-102).
6
A. xtwsia Nova Escola, que começou a ser publicada em 1986, é um periódico mensal
dirigido a professores e professoras. Uma descrição mais ampla de suas características
encontra-se na nota 2 do capítulo "Mídia, magistério e política cultural".
A análise
7
São nove exemplares ao ano, porque nos meses de férias -janeiro, fevereiro ejulho - a
revista Nova Escola não é publicada. , ■ , ■
* "A importância das publicações periódicas endereçadas ao professor em exercício e
de todos conhecida [pois] partilham, com outras revistas de divulgação científica, de um
objetivo de redução e simplificação das novas tendências, pesquisas e descobertas da area
'científica' envolvida, para apresentação a um leitor ou leitora menos 'iniciado , como
também se aproximam a outro gênero de periódico 'popular' que se propõe a 'ensinar
como fazer', dar 'dicas', 'sugestões' de prática para a leitora ou leitor." (Costa e Silvei-
' Conceitos trabalhados exaustivamente por Foucault na Arqueologia do saber (1997a).
Esperamos que a revista — que não é nem deseja ser uma publicação pe-
dagógica — cumpra os objetivos que inspiraram sua criação; fornecer à
professora informações necessárias a um melhor desempenho do seu tra-
balho; valorizá-la; resgatar seu prestígio e liderança junto à comunidade;
integrá-la ao processo de mudança que ora se verifica no país; e proporci-
onar uma troca de experiências e conhecimentos entre todas as professo-
ras brasileiras de 1° grau. {Nova Escola, n. 1, p.3)
Mesmo que Civita tenha afirmado que esta não seria uma revista
pedagógica — e eu já tenha sustentado, apoiando-me em Steinberg
(1997), o quão pedagógicos são os meios e locais de difusão de cultura
—, a Nova Escola tem continuamente ensinado aos seus leitores(as)
como realizar as atividades em sala de aula, como comportar-se, como
utilizar tais espaços e tais móveis, entre tantas outras coisas.
Ao propor uma leitura agradável e instrutiva (desde os primeiros
números), esta revista parece querer inaugurar um "novo" tempo e um
"novo" espaço de discussão. Nela tudo o que se refere à escola se faz
presente, e o modo de tratar tais questões é semelhante em todos os exem-
plares analisados: imperativo. A Nova Escola se autopromove como sen-
10
Os exemplares analisados foram os publicados nos anos de 1986 (números 1 a 9), de
1990 (números 37 a 45) e de 1996 (números 91 a 99). Por ser uma pesquisa histórica, e
tendo esta revista começado a ser publicada em 1986, decidi que estenderia a minha análise
por um período máximo de dez anos (1996) e que analisaria um ano de publicação no
meio destes dois (1990) para ter um recorte temporal eqüidistante entre eles.
11
O grifo é meu.
12
Mais de 70% das imagens de espaço escolar são internas, de salas-de-aula propriamente
ditas.
13
Segundo a matéria da xcwsiàNovaEscola, "o projeto desenvolvido no município de Ajuri-
caba iniciou em 1984 e envolve 47 escolas municipais rurais. Está centrado basicamente nas
seguintes questões: que tipo de escola se quer para que as crianças dela saiam preparadas para
a vida e o que deveria ser ensinado nessa metodologia de ensino (1990, n.38, p.10-17).
Chame os avós de seus alunos para dar aula: turma de segunda série des-
venda o século XX entrevistando seus próprios parentes e percebe que a
História não existe só nos livros didáticos, (n.97, p.34-35)
Uma boa conversa com uma especialista: alunos de uma escola de Tagua-
tinga entrevistam uma geógrafa em sala de aula e se empolgam com o es-
tudo das rochas, (n.93, p.38)
ou
ou ainda:
As (in) conclusões
14
A palavra economia (do grego "oikonomia"; oikos - casa e nomus = medida), e suas
derivadas, foi constantemente utilizada por Foucault. Porém, ele a usa de maneira diver-
sa daquela geralmente definida como "ciência, doutrina ou teoria que estuda os proces-
sos de produção, troca e consumo de bens e serviços capazes de satisfazarem as necessi-
dades e os desejos humanos" (Zingarelli, 1996, p.584, trad. minha). Também aqui usarei
economia num sentido mais amplo e próximo do seu original grego: "arte de bem admi-
nistrar uma casa" (Ferreira, s/d, p.497); ou como: "tendência do homem de realizar o
máximo resultado com meios dados, ou um determinado resultado com o mínimo de
meios, motivada pela limitação dos meios em relação aos fins e à escassez dos bens em
relação às necessidades" (Zingarelli, 1996, p.584, trad, minha); ou então: utilização ra-
cional das fontes de utilidade de que se dispõe" (idem).
15
Foucault desenvolve as regras desta tecnopolítica em Vigiar epunir (1997b, p.86-89).
16
Foucault desenvolve detalhadamente "a governamentalidade" no seu artigo homôni-
mo do livro "A microfísica do poder" (1979, p.277-293).
Revista consultada
Nova Escola. São Paulo: Fundação Victor Civita. 1986, 1990 e 1996, n. 1,2, 3,
4, 5, 6, 7, 8, 9, 37, 38, 39, 40, 41, 42, 43, 44, 45, 91, 92, 93, 94, 95, 96, 97,
98 e 99.
Natureza e representação
na pedagogia da publicidade
Introdução
1
Apresento algumas das considerações a partir do meu trabalho de dissertação de mes-
trado xnúiuXdiáo Representações de natureza e a educação pela mídia, Programa de Pós-
Graduação em Educação (PPG-EDU) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS).
Revista consultada
Nova Escola. São Paulo: Fundação Victor Civita. 1986,1990 e 1996, n. 1,2, 3,
4, 5, 6, 7, 8, 9, 37, 38, 39, 40, 41, 42, 43, 44, 45, 91, 92, 93, 94, 95, 96, 97,
98 e 99. '
Natureza e representação
na pedagogia da publicidade
Introdução
1
Apresento algumas das considerações a partir do meu trabalho de dissertação de mes-
trado intitulado Representações de natureza e a educação pela mídia, Programa de Pós-
Graduação em Educação (PPG-EDU) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS).
2
Segundo Grün (1995), uma das principais causas da degradação ambiental tem sido iden-
tificada no fato de vivermos sob a égide de uma Ética Antropocêntrica, onde o sistema de
crenças decorrentes da mesma colocam o Homem como o centro de todas as coisas, tudo o
mais no mundo existe em função dele. O mesmo autor ressalta ainda o fato de que a Ética
Antropocêntrica não é algo tão novo e a sua criação não pode ser única e exclusivamente
atribuída a Descartes, embora com ele esta Ética tenha envolvido outras dimensões, de-
monstrando, através de uma passagem bíblica do Gênesis 26:28, raízes culturais mais anti-
gas para este antropocentrismo: "Deus disse: Façamos o Homem a nossa imagem e seme-
lhança, e que ele domine sobre os peixes do mar, as aves do céu, os animais domésticos,
todas as feras e todos os répteis que rastejam sobre a terra (Grün, 1995, p.21).
3
Este termo está sendo utilizado segundo a concepção de Santos (1989). Este autor res-
salta que vivemos em meio a um pensamento de crise, ele denomina esta crise como cri-
se de degenerescência. Segundo o autor, as crises de degenerescência são crises do para-
digma que atravessam todas as disciplinas, ainda que de modo desigual, e que as atra-
vessam de um modo mais profundo, pondo em discussão não os instrumentos metodo-
lógicos e conceituais utilizados na prática científica, mas antes, a própria forma de inte-
ligibilidade do real que um dado paradigma proporciona.
4
Designação dada a indivíduos da mesma espécie.
5
O termo ideologia foi tomado aqui segundo a concepção de Williamson (1994). Esta
autora identifica ideologia com "[...] O constante processo de re-produção de idéias às
quais é negado um começo ou fim histórico, as quais são usadas ou tomadas como refe-
rência 'porque' elas 'previamente' existem na sociedade e continuam a existir na socie-
dade porque são tomadas como referência" (Williamson, 1994, p.99). Este processo de
re-produção da ideologia não é imposto aos sujeitos por alguma instância superior, mas
antes, opera através dos mesmos. Portanto, nós somos parte ativa deste processo e nesta
operação o recriamos.
f
' O trabalho de Williamson (1994), Decoding advertisements — ideology and meaning
in advertising, constitui-se em um importante referencial para este trabalho, principal-
mente no encaminhamento e construção de uma metodologia de análise dos anúncios
publicitários.
7
Para uma ampla descrição desta peça publicitária e sua análise, ver Amaral (\991) Re-
presentações de natureza e a educação pela mídia. Dissertação de mestrado, Programa
de Pós-Graduação em Educação (PPG-EDU), Faculdade de Educação, Universidade
Federal do Rio Grande do Sul.
8
O anúncio analisado aqui foi o primeiro que apareceu mostrando os filhotes da Par-
malat, em 1996, durante os Jogos Olímpicos. De lá para cá este anúncio veio se desdo-
brando em vários outros, em diferentes campanhas publicitárias, como a da Copa do
Mundo, Os filhotes da Parmalat apareceram (e aparecem) nas contracapas de várias re-
vistas e jornais, jogando futebol na floresta com o Rei Ronaldinho, ilustrando a capa de
cadernos escolares e ainda podem ser levados para casa para brincar como os nossos
outros filhotes na forma de bichinhos de pelúcia.
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9
Rocha (1995) discute em seu trabalho a expressão Indústria Cultural. O autor aponta a
mesma como sendo problemática, uma vez que teve o seu "nascimento" marcado por um
projeto político que tinha por objetivo denunciar, no próprio nome, "as práticas massifica-
doras e totalitárias a que os meios de Comunicação submetiam as massas". Para ele, o mais
preocupante ainda é que a expressão Indústria Cultural carrega uma sutil suposição,..]
a existência de algum tipo de indústria não cultural" (Rocha, 1995, p.43). Assim, o autor
vai utilizar esta expressão como sinônimo de Comunicação de massa, mantendo suas acep-
ções mais simples, que sinalizam para "um sistema simbólico cujo 'raio de alcance' é mar-
cado pelo limite da própria midia que o veicula" (Rocha, 1995, p ).
10
Eu destacaria, como exemplo importante deste movimento, um quadro do anúncio
publicitário dos produtos Samsung, mostrado vária vezes pela televisão, onde em um
determinado momento sai do canto da tela uma tartaruga, com um controle remoto aco-
plado/grudado em seu casco. A mesma peça publicitária apresenta ainda cenas de televi-
sores em barcos, de computadores na neve e no gelo, de filmadoras sobre rochas, e um
chip de computador em meio as areias de um deserto.
11
Canclini (1996) fala da desterritonalização dos .objetos de consumo como resultado
da internacionalização daquilo que era o próprio e daquilo que era o alheio, promovida
pela globalização dos mercados. O autor nos dá um exemplo desse fenômeno. "[...] com-
pramos um carro Ford montado na Espanha, com vidros feitos no Canadá, carburador
italiano, radiador austríaco, cilindros e baterias inglesas e eixo de transmissão francês"
(Canclini, 1996, p.16).
Ao som de um bela música que remete para ritmos étnicos, cantada por
um coral de crianças e misturada com alguns sons da natureza (grilos, aves,
cigarras), um carro vermelho, "sorrateiramente", vai invadindo um ambi-
ente selvagem, se aproximando de um bando de zebras. Ele é filmado de
frente; a câmera anuncia a sua chegada até o limite em que ele a "ultrapas-
sa". As imagens, por breves segundos, são mostradas a partir do interior
do carro, passando através do logotipo característico à marca Peugeot; a
figura de um leão. A perspectiva do predador se instaura na cena. Logo a
seguir, o carro/leão, vermelho, com vidros "fiimê" — que não permitem
ver o sujeito que o conduz — aparece na sua quase totalidade, passando
por cima da ossada de um animal morto. Sua imagem é refletida no olho
de uma zebra que observa e se assusta com sua aproximação, agora não
mais tão sutil. O leão salta à caça das zebras. Nas demais cenas, vai inte-
ragindo com aqueles animais localizados nos diferentes ambientes que
participam do seu "mundo" de leão — guepardo, gnus, aves africanas, ri-
noceronte, crocodilo. Acena final, filmada do alto, mostra o "Rei" no topo
da montanha de onde avista a imensidão do território. "Chegou Peugeot
306, um exercício de liberdade!" é a frase com a qual o locutor encerra o
anúncio. O nome do carro e o modelo aparecem na tela, logo abaixo do
carro/leão/rei, no topo da montanha.
"Fumaça de borboleta"
/
JT
/
•II li
E DER
O que fica....
Referências bibliográficas
Estudos sobre
literatura, brinquedo,
biologia e cinema
Capítulo 7
1
0 termo "ideologia" é usado pelo autor no sentido de um sistema de crenças com as quais se
faz sentido do mundo e que, além disso, confere sentido à vida social Não está em questão,
pois, a concepção de ideologia como um falso véu a encobrir uma verdadeira realidade.
2
Para conceituar "representações", valho-me aqui do verbete da obra de reíerência Key
concepts in communication and cultural studies, de O Sullivan et al. (1994). Entendo-
as, portanto, como produtos do processo social de representar, o qual coloca em formas
concretas (significantes) conceitos abstratos, produzindo sentidos e constituindo "reali-
dades"
3
A literatura infantil brasileira das duas últimas décadas é fértil em exemplos desse dire-
cionamento deliberado de autores e autoras, e talvez o melhor exemplo possa ser busca-
do na proposta da Coleção do Pinto da Editora Comunicação (Belo Horizonte), que pro-
curou, de forma programática e pioneira, abordar temas-tabu, como a morte, a separação
dos pais, os problemas ecológicos, as injustiças sociais, a marginalização do índio, o pre-
conceito de cor, etc.
4
A breve exposição sobre as representações de surdez/surdo, será fundamentada na ex-
posição e discussão levada a efeito por Skliar em Skliar (1998) e por outras análises e
estudos constantes da mesma obra.
5
Especificamente no campo da pesquisa, realizamos no NECCSO investigação sobre as
representações da professora e do professor na literatura infanto-juvenil mais recente.
9
Referências bibliográficas completas das obras analisadas encontram-se ao final do
trabalho.
10
A maioria dos livros informativos para crianças publicados pelas editoras brasileiras
consiste de traduções, ao contrário dos livros fíccionais, onde os autores brasileiros pre-
ponderam.
11
Em Silveira (1996, p.71-72), fiz breve exposição acerca das possibilidades de inter-
pretar o mas em seu caráter polifônico, ou seja; a afirmação introduzida pela conjunção
contrapõe-se ao "esperado pela voz do senso comum", ou, diria hoje, das representações
correntes. Nesse sentido, o fato de "ser a melhor corredora da escola" está discursiva-
mente contraposto à expectativa corrente, que poderia ser assim objetivada: "a deficiên-
cia pode atingir várias áreas de desempenho".
12
A inclusão de "Atividades complementares", ora no próprio livro, ora em encartes, ora
nos próprios catálogos de literatura infanto-juvenil, é prática habitual nas editoras de li-
vros infanto-juvenis, demonstrando o inequívoco casamento entre a literatura infantil e
a missão pedagógica. No caso específico, não há indicação da origem das atividades: se
foram traduzidas ou elaboradas no Brasil. De qualquer forma, é notável o acento indivi-
dualista das atividades sugeridas, que, à exceção de uma, investem numa criança que,
sozinha, "exercite habilidades", "crie", "use um bumbo" e "pesquise".
Tente! Você pode também inventar a sua própria linguagem dos gestos com
alguns amigos; ninguém entenderá o que vocês estarão dizendo.
13
O destaque pertence ao texto original. Quanto à analogia feita com a "linguagem dos
cegos", uma interpretação possível é de que o autor esteja se referindo ao sistema Brail-
le, que consiste numa tradução para sinais perceptíveis ao tato, das letras das palavras,
visando a possibilitar a leitura pelos cegos.
14
A ilustração em questão apresenta, em vista frontal, um menino com as mãos na altura
do estômago, sem qualquer representação do movimento manual, que é uma das dimen-
sões significativas da Língua dos Sinais.
15
1 can 't always hearyou, no original.
Estas histórias propõem alguns recursos para lidar com problemas espe-
cíficos [...] e tão-somente indicar acidentes de percurso que, mal enfren-
tados, podem atrapalhar bastante a caminhada.
16
A cena em que cada menino/menina confessa seu fator de inferioridade — usar apare-
lho de dentes, ser muito alta, ser filho adotivo, não ter televisão em casa — poderia ser
questionada no que diz respeito à facilidade com que tais fatores são assumidos publica-
mente por cada um/uma e aceitos pelos colegas.
17
Gledhill (1997, p.360-1), em seu estudo sobre as soap opera, cita Steve Neale, para reto-
mar— da história literária — e reconceptualizar a categoria da verossimilhança. Ao propor
que se distingam, nos estudos culturais, a verossimilhança cultural e a verossimilhança do
gênero (cultural verisimilitude/ generic verisimilitude), ele observa que a verossimilhança
cultural nos remete a normas, costumes e senso comum do mundo social fora da ficção, ad-
vertindo, porém, para o fato de que a verossimilhança cultural "não é monolítica, mas fratu-
rada pelas diferentes práticas de significação e discursos através dos quais diferentes grupos
sociais demarcam suas identidades e fazem reivindicações sobre o real" (p.361). Dentro des-
se quadro de referência, quando, neste estudo, eu me referir a questões de verossimilhança,
estarei tomando como lugar de "julgamento" das mesmas minha experiência pessoal conti-
nuada com surdos/surdas que convivem numa sociedade urbana majoritariamente ouvinte.
18
Usarei negrito para enfatizar as expressões quantitativas, tanto referidas a tempo, como
a capacidade.
19
Curiosamente, a luta pela afirmação da identidade de algumas "etnias", nos movimen-
tos mais recentes, também contestou a quantificação dos atributos "raciais" que, antes,
classificava, por exemplo, um indivíduo em negro, mulato escuro, mulato claro, etc.
20
Cf. Lopes (1998, p. 110), este é um dos objetivos da nova LDB no que tange à Políti-
ca de Educação Especial, na qual são enquadrados os variados e tradicionais "tipos de
deficiências".
O invasor acha sempre que tem razão e que os outros foram feitos para
ceder tudo a ele. Repare que é assim em filme de faroeste, onde as carava-
nas dos brancos invasores entram no território índio e acham que os índi-
os são bandidos porque defendem a própria terra. / É preciso explicar para
os invasores que o tempo do faroeste já acabou até no cinema; afinal, quem
gosta de ver matança de índios?
21
As ilustrações também são de responsabilidade de Pierre Trabold, autor do texto.
E, mais adiante:
Daí, só quem podia ler agora eram os cegos, porque os livros em "Braile"
são escritos com pontinhos. E, até o fim do dia, os cegos e os surdos-mu-
dos ficaram sendo as pessoas mais importantes da Cidade!
O Governo elegeu, então, às pressas, uma Comissão de surdos-mudos e
cegos pra botar ordem na confusão.
22
Mesmo tramas inusitadas e, de certa forma, questionadoras de conceitos estabelecidos
não resistem ao vezo pedagógico explícito da literatura infantil, que, neste caso específico,
comparece através da síntese explicativa de um adulto sábio, branco e cientista.
L M K O
¥=17
X\\ 3.
23
Na ficção, tanto na literatura quanto no cinema, não é rara a utilização de um evento
hipotético impossível para o desencadear de situações que de certa forma evidenciam
outras representações do cotidiano. Kafka, em sua Metamorfose, seria um exemplo clás-
sico; para ficarmos entre os clássicos brasileiros, as Memórias Póstumas de Brás Cu-
bas, de Machado, também poderiam ser lidas por esse ângulo.
24
A temática literária da viagem como momento de profundas experiências em que o
próprio herói se constitui é bastante utilizada na literatura ocidental, tendo sido exami-
nada detidamente no Capítulo 2 de Larrosa (1998).
25
É evidente que esta é apenas uma leitura, a minha, dos elementos da ilustração de Ri-
cardo Azevedo, ilustrador que tem se destacado pela fuga ao convencional e ao simples-
mente figurativo na ilustração de obras infanto-juvenis.
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Atando pontas
Referências bibliográficas
26
Os exemplos são muitos e variados, mas um incessantemente citado tem sido o da "voz
feminina", ou melhor, de uma certa "voz feminina" de Chico Buarque em algumas de
suas letras de músicas, como "Com açúcar, com afeto", ou mesmo "Meu guri".
Livros analisados
AZEVEDO, Ricardo. O livro das palavras. Belo Horizonte: Formato Editorial, 1993.
BOSMANS, Peter. Os cinco sentidos: os sentidos explicados para crianças de 5
a 9 anos. Blumenau; EKO, 1997.
CARR, Stella. A letreria do dr Alfa Beto. São Paulo: Editora do Brasil, 1988.
LIMA, Edy. A gente e as outras gentes. São Paulo: Scipione, 1995.
SUHR, Mandy; GORDON, Mike. Audição. São Paulo: Scipione, 1998.
TRABBOLD, Pierre. Dor de dente real. São Paulo: Edições Loyoía, 1993.
ZELONKY, Joy. Nem sempre posso ouvir vocês. São Paulo; Ática, 1988
Criança e brinquedo:
feitos um para o outro?
Lejeu et le jouetfont tellement partie de notre vie que 1'onfinit par n 'y
plusprendre garde, à tout les moins qu 'on arrive à ne plus leur donner
l'importance qu 'ils méritent, l 'attention qu 'ils exigent.1
Vial (1981, p.9)
A citação da epígrafe pode ser entendida como; "O jogo e o brinquedo fazem de tal modo
parte de nossa vida que acabamos por não mais lhes prestar atenção, não dando a eles a
importância que merecem, a atenção que exigem".
Não farei neste trabalho distinção entre as ações de jogar e brincar, Apesar de existirem
em português os dois termos, é comum que haja em outras línguas apenas uma designa-
ção para elas. Em inglês e em francês, usam-se os verbos to play e jouer, respectivamen-
te, para designá-las. Para uma discussão sobre as possíveis distinções entre brincar e jo-
gar, ver G. Brougère, 1998.
3
Esse caráter de sobrevivência de certos brinquedos, o fato de que atravessam gerações,
precisa ser contraposto ao fato de que eles são constantemente ressignifícados, dada a
dinamicidade da cultura.
4
Em que pesem contestações mais recentes sobre a pesquisa empreendida por Ariès, que
permitiu a publicação de História social da criança e da família, creio que o panorama
que ele traça sobre o brinquedo é abrangente e serve aos propósitos deste texto. Para uma
revisão de alguns aspectos de sua obra ver Kuhlmann Jr. (1998).
5
A Manufatura de Brinquedos Estrela era a maior fábrica de brinquedos da época, numa
posição privilegiada de detentora de parcela significativa do mercado, posição que se
modificou nos últimos anos.
6
A pesquisa a que me refiro foi realizada por Chamboredon e Prévot (1986) e discute,
entre outras coisas, as expectativas das diversas classes sociais em relaçao as institui-
ções de educação infantil.
Flagrando um estranhamento:
escola infantil e brinquedo
7
A esse respeito, é interessante lembrar a prática de alguns fabricantes de brinquedos e
jogos que apresentam nas embalagens uma indicação com a idade da criança a qual aquele
brinquedo seria adequado.
veis" nos limites dos conteúdos das disciplinas escolares. Nas creches e
pré-escolas em que atuei, é comum a introdução dos jogos e brinquedos
cuja finalidade instrucional é evidente, porém não explicitada ou, antes,
camuflada.
Brinquedos também são vistos como objetos que envolvem peri-
go. Seja por suas características físicas, seja por razões de ordem moral
ou ideológica. Constituem algo que deve ser desmistificado, analisan-
do-se, esclarecendo-se, desvelando seu lado anárquico, corruptor ou de
instrumento de poder e dominação. Nesta categoria entram os brinque-
dos que envolvem armas mas também aqui se registra o brinquedo de
faz-de-conta, quando envolve ações que os adultos consideram "perigo-
sas", por envolverem situações potencialmente difíceis de lidar, como
expressões da sexualidade ou de agressividade, principalmente.
O pensamento pedagógico moderno tradicionalmente enfatiza a
importância do brinquedo e do jogo nas práticas de sala de aula. Isto es-
taria associado ao seu efeito de canalizador de tensões, ao seu papel na
recuperação das exigências do trabalho de sala de aula, à sua função ci-
vilizadora pela conquista paulatina da autonomia (entendida enquanto
um comportamento pautado pela intemahzação das regras de convivên-
cia). Tais práticas ensejariam efeitos positivos sobre as crianças e, so-
"A criança que brinca habita uma área que não pode ser facilmente
abandonada, nem tampouco admite facilmente intrusões" (Winnicott,
1975, p.76). Este espaço, no entanto, em que a criança manipula os even-
tos externos a serviço do sonho e atribui a certos fenômenos um signifi-
cado onírico, admitiria uma evolução paulatina que implicaria uma pas-
sagem dos fenômenos transicionais — aqueles que se situariam numa
área intermediária entre a realidade interna do indivíduo e a realidade
compartilhada do mundo externo — ao brincar como uma atividade in-
dividual, passando deste ao brincar com outros, até às experiências lúdi-
cas de cunho coletivo, de caráter comunitário e cultural.
O brinquedo poderia ser considerado como o espaço de possibili-
dade dos fenômenos criativos dos seres humanos. Seria no espaço lúdi-
co, no brincar, que a criança e os adultos teriam possibilidades de serem
criativos, de utilizarem sua personalidade integral e de descobrirem seu
próprio eu, segundo Winnicott (1975). Brincar, portanto, no campo psi-
canalítico, seria condição de estruturação da personalidade sadia.
No campo da Psicologia do Desenvolvimento, especialmente nas
psicologias de cunho cognitivo de raiz interacionista, a atividade lúdica
é considerada como representativa das interações que as crianças esta-
belecem desde muito cedo com os objetos do meio circundante, sejam
elas de ordem concreta ou simbólica, e também das situações comparti-
lhadas com outros parceiros, especialmente com outras crianças. Nesta
fase (até os seis anos, mais ou menos) a atividade predominante seria
aquela destinada a jogos e brincadeiras, especialmente, quando de inici-
ativa da/s própna/s criança/s. Para que considerássemos algo como brin-
cadeira/jogo algumas características deveriam estar presentes; o envol-
vimento voluntário, a orientação para o prazer, o descompromisso com
objetivos, o caráter de imprevisibilidade de seu desenrolar, a associação
de imaginação/realismo nas atitudes e ações. As interações lúdicas teri-
8
Os jardins de infôncia -Icindergaríen- surgem com Froebel, na Alemanha, no final da
primeira metade do século XIX. Constituem uma expressão da tendência romântica na edu-
cação. Fundamentam-se nos princípios do liberalismo e na defesa de uma educação infan-
til que favoreça o desenvolvimento natural da criança. Enfatizam a importância da ativida-
de da criança e a orientação para o prazer e a ludicidade, no cotidiano dessas instituições.
Com efeito, o jogo que, às vezes, pode ser uma escola de conformismo
social, de adaptação estrita a situações dadas, também pode se tornar um
9
Este verso, parte de uma canção associada às rotinas de creche e pré-escola, constitui
o apelo ou o chamamento das professoras para que as crianças finalizem as atividades
de jogo ou brincadeira, devolvendo os materiais utilizados aos seus lugares de origem.
Referências bibliográficas
A articulação
1
Este texto, em uma forma muito preliminar, serviu como base para minha apresentação
no Wokshop "Estudos Culturais, conhecimento biológico epesquisa em educação", re-
alizado na Faculdade de Educação da UNICAMP, em outubro de 1998, como um dos
trabalhos do III Congresso Aberto aos Estudantes de Biologia.
2
Entenda-se todos/as aqueles/as profissionais que, sejam cientistas ou não, escrevem,
publicam, apresentam propostas, projetos, metodologias etc., acerca de como se deve
ensinar ou como se aprende ciências na escola ou em instituições de pesquisa.
3
Talvez o termo 'didática' não seja o mais adequado já que poderia sugerir a existência
de uma didática intrínseca às ciências. Isso vai na contramão do argumento que pretendo
desenvolver, que entende que há um certo conjunto de discursos que, a posteriori, dida-
tizam — isto é, refazem os caminhos percorridos — a ciência.
"O que não significa que fossem só procedimentos metodológicos, junto a eles está todo
um conjunto de teorizações que dá ordem e sentido a eles.
5
O fato de eu usar o termo ciência normal não significa que haja uma ciência que, como
contraponto, seja anormal. O uso destes termos está fora deste registro usual do que en-
tendemos como normal ou anormal. Utilizo tais termos a partir da designação que lhes
atribui Kuhn (1971), que entende a ciência normal como a ciência pautada em grandes
realizações do passado.
6
Entendo por "narrativas" a continuidade de determinados padrões/histórias contadas
a partir de um determinado campo, o da biologia, por exemplo. Tais narrativas, mesmo
quando as formas de abordagem, os modos de entendimento, os instrumentos de investi-
gação etc., são modificados, permanecem contando/narrando uma mesma história que
se atualiza, se engata e faz sentido em uma trama de significados. A questão das diferen-
ças entre as raças é uma dessas narrativas, contadas não só pela biologia, mas fazendo
conexões em outros campos; sumariei tais questões em outro texto (Santos, 1998, p.167).
7
Grupo de Estudos de Mamíferos Aquáticos do Rio Grande do Sul, fundado em 1991,
que trabalha na pesquisa e conservação de mamíferos aquáticos.
8
Na Faculdade de Educação da UFRGS, no período compreendido entre março de 1998
e fevereiro de 1999.
9
Anotações de aula do seminário avançado Introdução aos Estudos Culturais em Edu-
cação — Programa de Pós-Graduação em Educação da UFRGS, no segundo semestre
de 1998.
10
Os demais processos são: a representação, a identidade, a produção e a regulação. Es-
ses cinco processos compõem aquilo que se denomina de circuito da cultura (vide Du
Gayet al., 1997; Hall, 1997).
Problematizando a Biologia
u
Vide Santos (1998).
12
E aqui são postos entre aspas porque não sei se, efetivamente, podemos chamar isso
de categorias.
13
Tais considerações foram por mim desenvolvidas em um outro momento (Santos,
1998) e foram aqui retomadas com breves modificações.
14
No texto "New reflexions on the revolution of our time" Laclau e Moufee (citado por
Hall, 1997), exemplificam essa questão da seguinte forma, uma pedra existe independen-
temente de qualquer relação social, mas ela se torna um projétil ou um objeto de estéti-
ca contemplativa somente nas configurações discursivas específicas. Segundo esses au-
tores, chamar algo de objeto natural é um modo de conceber que depende de um siste-
ma de classificação, que é histórico e contingente.
15
Para essa discussão em especial vide os textos "En el princípio fue la palavra: la gêne-
sis de la teoria biológica" (Haraway, 1991) e "Teddy Bear Patriarchy: taxidermy in the
Garden ofEden, New York City, 1908-1936" (Haraway, 1989).
Muito mais do que falar sobre organismo, Haraway nos fala acer-
ca de nossas posições, como biólogos/as, e eu acrescentaria; como edu-
cadores/as. Minha intenção ao apresentar tais considerações, mesmo sem
ter explorado outros aportes nesse campo, é perguntar: quais são as suas
implicações para o ensino de biologia? Algumas delas eu penso já ter
discutido, e não é objetivo, aqui, elencá-las, uma a uma, apresentando
as possíveis soluções ou alternativas apontadas pelo campo dos Estudos
Culturais, para propor modificações aos problemas detectados. Tais ques-
tionamentos não se apresentam como caminhos possíveis para se desco-
brir "impurezas" no conhecimento biológico, para a seguir limpá-las e
apresentar conhecimento "tal como ele é mesmo".
Talvez se configure como uma quase obviedade, mas todo o conhe-
cimento é uma representação acerca do mundo e das coisas, pois nunca
teremos acesso ao mundo real — ele mesmo, já, uma construção da lin-
guagem —, à verdade das coisas, exceto àquelas verdades que nós mes-
mos/as construímos e nas quais acreditamos, porque podemos entendê-
16
E, talvez seja esta contingência da verdade, das coisas no mundo, o que mais tenha
sofrido os ataques daqueles/as que, a exemplo de Alan Sokal, têm "bombardeado" os
Estudos Culturais. Lenoir (1997a) enfatiza que tanto Sokal, como outros autores, "têm
argumentado que existe a verdade ou ao menos uma aproximação à verdade, e que os
intelectuais têm a responsabilidade de persegui-la" (p.36).
17
Este autor refere que "...alguns igualaram evolução com 'progresso' das formas de vida
'inferiores' às 'superiores', mas é impossível definir quaisquer critérios não arbitrários
pelos quais o progresso possa ser medido. A própria palavra 'progresso implica direção,
se não mesmo o avanço em direção a um objetivo, mas nem direção nem objetivo são
fornecidos pelos mecanismos de evolução. (...) A errônea representação da evolução como
progresso era tão aparente para Darwin que ele escreveu em seu caderno de notas 'nunca
dizer superior ou inferior' em referência às diferentes formas de vida, ainda que nem sem-
pre seguisse sua própria admoestação" (Futuyma, 1992, p.8).
Schiebinger (1996) vai direto à obra de Carl Lineu, "o pai da taxono-
mia". Neste trabalho, a autora mostra que Lineu imaginava que as plantas
possuíam pênis e vaginas e se reproduziam em camas matrimoniais. Ela
acentua, na esteira daquilo que discuti a partir de Haraway (1989)19, a
patrilinhagem da botânica que, embora também fosse praticada por mu-
lheres (coleta e secagem, preparação de ilustrações, bem como o exercí-
cio da apreciação de Deus e do seu universo a partir dessas práticas), era
uma prática (e nesse sentido tomava-se científica) masculina (a de classi-
ficar). Schiebinger acentua, ainda, que foi somente a partir dos séculos
dezessete e dezoito que os naturalistas europeus começaram a reconhecer
que as plantas se reproduziam sexuadamente, classificando-as em mascu-
linas ou femininas — todos queriam ter a honra de ter descoberto a sexua-
lidade nas plantas. Muitos, enfatiza ela, desenvolveram tal noção a partir
de seus conhecimentos zoológicos, a ponto de a analogia entre a sexuali-
dade de plantas e animais já estar completamente desenvolvida na primei-
ra metade do século dezoito. Em termos gerais, essas analogias compara-
vam as anteras aos testículos, o pólen ao líquido seminal, o estigma à vul-
va, o estilete à vagina e o tubo (interno) que percorre o pistilo às trompas
de Falópio. A medida que os estudos conduzidos por esses naturalistas
avançavam eles "descobriam" que muitas das flores não se enquadravam
nas classificações adotadas por serem hermafroditas... Entretanto, isso não
parecia ser um empecilho maior porque eles reconheciam a existência de
dois sexos (masculino e feminino), mas admitiam a existência de três ti-
pos de flores diferentes (masculino, feminino e hermafrodita) — como
acentua Schiebinger, era-lhes difícil reconhecer um tipo sexual que não
fosse familiar. A autora reconhece que os botânicos do século dezoito es-
tavam corretos em reconhecer que muitas plantas reproduziam-se sexua-
18
Este subtítulo se constitui em uma cópia daquele apresentado por Schiebinger (1996)
em seu texto.
19
Haraway (1989) refere que Lineu tinha a si próprio como um segundo Adão, aquele ao
qual cabia o trabalho de dar ordem as coisas do mundo. Ele era "...o 'olho' de Deus, que
poderia dar boas representações, verdadeiros nomes, assim, reformando ou restaurando a
pureza dos nomes perdidos pela primeira sina de Adão" (p.9). Renomear os animais era
um modo de dar crédito à ordem da natureza, "para purificar o olho e a palavra" (p. 9).
20
À página 143, Foucault (1987) diz que "a história natural encontra seu lugar nessa
distância agora aberta entre as coisas e as palavras..."
21
É bastante elucidativo para este aspecto a compreensão dos museus, das coleções, das
exposições... Parece que os seres lá expostos estão organizados respeitando uma ordem
natural, ou antes seguindo uma história natural dos acontecimentos que revela uma pró-
pria história da natureza. "...Os documentos dessa história nova não são outras palavras,
textos ou arquivos, mas espaços claros onde as coisas se justapõem; herbários, coleções,
jardins; o lugar dessa história é um retângulo intemporal, onde, despojados de todo comen-
tário, de toda linguagem circundante, os seres se apresentam uns ao lado dos outros, com
suas superfícies visíveis, aproximados segundo seus traços comuns e, com isso, já virtu-
almente analisados e portadores apenas de seu nome" (Foucault, 1987, p.145).
Referências bibliográficas:
Hollywood e a produção
EH Henn Fabris
(...) a nova mídia eletrônica não apenas possibilita a expansão das rela-
ções sociais pelo tempo e espaço, como também aprofunda a intercone-
xão global, anulando a distância entre as pessoas e os lugares, lançando-
as em um contato intenso e imediato entre si, em um "presente" perpé-
tuo, onde o que ocorre em um lugar pode estar ocorrendo em qualquer
parte (...). Isto não significa que as pessoas não tenham mais vida local
— que não mais estejam situadas contextualmente no tempo e espaço.
Significa apenas que a vida local é inerentemente deslocada — que o lo-
cal não tem mais uma identidade "objetiva" fora de sua relação com o glo-
bal (p.210).
1
Artefato cultural é qualquer objeto que possui um conjunto de significados construídos so-
bre si. Ao associarmos o objeto aos seus significados estamos em relação com um artefato
cultural (Du Gay, 1997). O cinema hollywoodiano é tomado aqui como um artefato cultu-
ral que possui um sentido de cinema universal, além de comercial e popular. Quando fala-
mos em cinema hollywoodiano, o significado construído sobre ele logo se faz presente.
O "olhar" de Hollywood
2
Estou entendendo enunciado a partir de Veiga-Neto (1996) que diz: "São os enuncia-
dos dentro de cada discurso que marcam e sinalizam o que é tomado por verdade, num
tempo e espaço determinado, isso é, estabelecem um regime de verdade" (p.75).
3
Darryl Zanuck magnata americano, fundou em 1933 a Twentieth Century Producti-
ons, fez uma fusão com a Fox, dois anos depois, e tornou-se o diretor do estúdio em
1935 (/000filmes que fizeram 100 anos de cinema - Encarte da revista ISTO É, 1995)
4
Estou usando o conceito de poder na acepção foucaultiana, que opera como uma rede
e não se situa numa coisa ou lugar específico, ele circula em todas as direções.
5
Na obra Trabalho docente e profissionalismo (Costa, 1995) a autora desenvolve, no
capítulo "Perspectivas históricas do trabalho docente", uma revisão das perspectivas his-
tóricas do trabalho docente, situando o/a aluno/a em diferentes momentos da história da
educação.
6
Conforme Costa (1995). "embora tenha existido já na Antigüidade e na Idade Média,
a escola — no sentido como a entendemos hoje, e, progressivamente, com o formato e
funções que hoje possui — dedicada especialmente à educação das crianças, vai surgir
apenas no século XV" (p.73).
7
Com o termo "adolescêntrica" estou fazendo uma analogia com o neologismo "adul-
tescência", citado em vários artigos no Caderno Mais da Folha de São Paulo, 20/09/98.
Neste texto, cultura "adolescêntrica" está sendo utilizada para marcar a preponderância
da adolescência e da cultura jovem nos filmes hollywoodianos e para indicar a centrali-
dade da adolescência na nossa cultura.
8
Conforme Dalton (1996), são filmes que são baseados em material biográfico, muitas
vezes guardando pequena relação com esses dados.
9
Estou considerando aqui a classificação mais comum em nossa cultura que distingue
como criança os sujeitos até a idade de dez anos mais ou menos, puberdade ou pré-ado-
lescência dos onze aos treze e a adolescência até mais ou menos dezoito anos, ressaltan-
do que estas são convenções que as diferentes culturas estabelecem, mas para os fins aqui
identificados é necessária essa distinção.
10
O verbete foi extraído de Um glossário para os anos 90, de David Rowan publica-
do no Caderno Mais, de 20 de setembro de 1998, da Folha de São Paulo que, através
de diversos artigos, analisa por que os adultos copiam cada vez mais os adolescentes e
por que a cultura jovem tem se mostrado tão hegemônica.
Gangues e Cia.
11
Conforme indicação na própria ficha técnica, o filme recebeu o prêmio Grammy {rap
do ano) pelo rap Gangstas Paradise. RAP significa Rithym AndPoetry, ritmo e poesia.
Dados obtidos na home-page: http://www.infosim.com.br/gstyle e através de entrevis-
ta, pelo correio eletrônico, com um dos integrantes da página referida no seguinte ende-
reço: mútil@hydra.com.br
12
Rap é um gênero musical que surge no fmal da década de setenta nos EUA, corres-
pondente a uma postura desafiante ao sistema e considerado como a música característi-
ca dos líderes da comunidade negra. Cf.Revista Época, n.12, lOago. 1998.
13
Apesar de pertencer a outro referencial de análise, utilizo esse autor como interlocu-
tor desde um ponto de vista diferente.
14
Trata-se do livro da professora Eloísa Guimarães, doutora em Educação pela PUC-
Rio, Editora UFRJ. Cf. Revista Veja, n.1495,27 maio 1998.
15
Com essa expressão, Dalton (1996) define os docentes que se situam fora do grupo
convencional, renegados.
16
Trata-se da pesquisa realizada em uma turma de 8' série de uma Escola do municí-
pio de Cachoeirinha/RS.
Referências bibliográficas
ARIES, Philipe. História social da criança e da família. Rio de Janeiro: Zahar, 1981.
CANCLINI, Néstor. Consumidores e cidadãos: conflitos multiculturais da glo-
balização. Rio de Janeiro; UFRJ, 1995.
COELHO, Teixeira. O imaginário da morte. In: NOVAES, Adauto (Org.). Rede
imaginária: televisão e democracia São Paulo: Cia. das Letras, 1991.
COSTA, MarisaV Trabalho docente eprofissionalismo. Porto Alegre: Sulina, 1995.
DALTON, Mary M. O currículo de Hollywood: quem é o bom professor,
quem é a boa professora. Educação & Realidade, Porto Alegre, v.21 n. 1,
p.97-122,jan./jun. 1996.
Filmografia
Curso de férias {Summer School). Diretor: Carl Reiner. 1987.
Escola da desordem (Teachers). Diretor; ArthurHiller. 1984.
Mentes perigosas (DangerousMinds). Diretor; JohnN. Smith. 1995.
O substituto (The Substitute). Diretor; Robert Mandei. 1996.
Fotolítos
Seleção Fotolitos
Av. Quintino Bocaiúva, 451 - Porto Alegre, RS
Fone/Fax (51) 346-2111
Impressão
Editora Evangraf
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Fone (51) 336-0422 e 336-2466
os aspectos da vida social. Trata-se de
abordd-la como um processo social de
significação, marcado por relações de
poder que produzem efeitos políticos,
que não estávamos acostumados a levar
em consideração.
Quando realizamos Estudos Cul-
turais em Educação, nosso objetivo é
examinar a educação, o currículo esco-
lar e outras manifestações civilizatórias
como campos em que estão em jogo
múltiplos elementos, implicados em re-
lações de poder, compondo terrenos da
política cultural. As escolas e seus currí-
culos, bem como os espaços culturais
que as circundam e com elas intersec-
cionam e íangenciam são territórios de
produção, circulação e consolidação de
significados, são espaços privilegiados
de concretização da política cultural de
identidade. Nesses espaços se produz o
governo e a regulação das pessoas, e os
mesmos têm sido, freqüentemente, o
lugar da subordinação, da desigualda-
de e das injustiças sociais.
alfredo veiga-neto
UFRGS
EDITORA
ISBN 85-7025-748-