Apologética
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o "Muitos outros prodígios fez ainda Jesus na presença dos discípulos, os quais não estão
escritos neste livro. Estes, porém, foram escritos para que acrediteis que Jesus é o Cristo, o
Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais a vida em seu nome" (Jo 20,30s).
São Paulo, por sua vez, recomenda os ensinamentos que de viva voz nos foram transmitidos
por Jesus e passam de geração a geração no seio da Igreja, sem estarem escritos na Bíblia:
o "Sei em quem acreditei.. Toma por norma as sãs palavras que ouviste de mim na fé e no
amor do Cristo Jesus. Guarda o bom depósito com o auxílio do Espírito Santo que habita
em nós" (2Tm 1, 12-14).
Neste texto vê-se que o depósito é a doutrina que São Paulo fez ouvir a Timóteo, e que
Paulo, por sua vez, recebeu de Cristo. Tal é a linha pela qual passa o depósito:
Cristo -> Paulo -> Timóteo
A linha continua... conforme 2Tm 2,2:
o "O que ouviste de mim em presença de muitas testemunhas, confia-o a homens fiéis, que
sejam capazes de o ensinar ainda a outros".
Temos então a seguinte sucessão de portadores e transmissores da Palavra:
O Pai -> Cristo -> Paulo (Os Apóstolos) -> Timóteo (Os Discípulos imediatos dos
Apóstolos) -> Os Fiéis -> Os outros Fiéis
Desta forma a Escritura mesma atesta a existência de autênticas proposições de Cristo a ser
transmitidas por via meramente oral de geração a geração, sem que os cristãos tenham o
direito de as menosprezar ou retocar. A Igreja é a guardiã fiel dessa Palavra de Deus oral e
escrita.
Dirão: mas tudo o que é humano se deteriora e estraga. Por isto a Igreja deve ter deteriorado
e deturpado a palavra de Deus; quem garante que esta ficou intacta através de vinte séculos
na Igreja Católica?
Quem o garante é o próprio Cristo, que prometeu sua assistência infalível a Pedro e as luzes
do Espírito Santo a todos os seus Apóstolos ou à sua Igreja; ver Mt 16, 16-18; Lc 22,31s; Jo
21,15-17; Jo 14, 26; 16,13-15.
Não teria sentido o sacrifício de Cristo na Cruz se a mensagem pregada por Jesus fosse
entregue ao léu ou às opiniões subjetivas dos homens, sem garantia de fidelidade através
dos séculos. Jesus não pode ter deixado de instituir o magistério da sua Igreja com garantia
de inerrância.
2. Contradições
O fato de que não seguem somente a Bíblia, explica as contradições do Protestantismo:
o Algumas denominações batizam crianças; outras não as batizam;
o Algumas fazem cálculos precisos para definir a data do fim do mundo - o que para elas é
essencial. Outras não se preocupam com isto.
Vê-se assim que a Mensagem Bíblica é relida e reinterpretada diversamente pelos diversos
fundadores dos ramos protestantes, que desta maneira dão origem a tradições diferentes e
decisivas.
Ademais, todos os protestantes dizem que a Bíblia contém 39 livros do Antigo Testamento
e 27 do Novo Testamento, baseando-se não na Bíblia mesma (que não define o seu
catálogo), mas unicamente na Tradição oral dos judeus de Jâmnia reunidos em Sínodo no
ano 100 d.C.;
Todos os protestantes afirmam que tais livros são inspirados por Deus, baseando-se não na
Bíblia (que não o diz), mas unicamente na Tradição oral.
Onde está, pois, a coerência dos protestantes?
Pelo seu modo de proceder, afirmam o que negam com os lábios; reconhecem que a Bíblia
não basta como fonte de fé. É a Tradição oral que entrega e credencia a Bíblia.
3. Afinal a Bíblia... Sim ou Não?
Há passagens da Bíblia que os fundadores do Protestantismo no século XVI não aceitaram como tais;
por isto são desviadas do seu destino original muito evidente:
1. A Eucaristia... Jesus disse claramente: "Isto é o meu corpo" (Mt 26,26) e "Isto é o meu
sangue" (Mt 26,28).
Em Jo 6,51 Jesus também afirma: "O pão que eu darei, é a minha carne para o mundo".
Aos judeus que zombavam, o Senhor tornou a afirmar: "Em verdade, em verdade vos digo:
se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a
vida em vós. Quem come minha carne e bebe o meu sangue, tem a vida eterna eu o
ressuscitarei no último dia. Pois a minha came é verdadeiramente uma comida e o meu
sangue verdadeíramente uma bebida".
Se assim é, por que é que "os seguidores da Bíblia" não aceitam a real presença de Cristo no
pão e no vinho consagrados?
2. Jesus disse ao Apóstolo Pedro: "Tu és Pedro (Kepha) e sobre esta Pedra (Kepha) edificarei
a minha Igreja" (Mt 16,18).
Disse mais a Pedro: "Simão, Simão... eu roguei por ti, a fim de que tua fé não desfaleça. E
tu, voltando-te, confirma teus irmãos" (Lc 22,31s).
3. Jesus entregou aos Apóstolos a faculdade de perdoar ou não perdoar os pecados - o que
supõe a confissão dos mesmos para que o ministro possa discernir e agir em nome de Jesus:
4. Jesus disse que edificaria a sua Igreja ("a minha Igreja", Mt 16,18) sobre Pedro. As
denominações protestantes são constituídas sobre Lutero, Calvino, Knox, Wesley... Antes
desses fundadores, que são dos séculos XVI e seguintes, não existia o Luteranismo, o
Calvinismo (presbiterianismo), o Metodismo, o Mormonismo, o Adventismo... Entre Cristo
e estas denominações há um hiato... Somente a Igreja Católica remonta até Cristo.
o Ora a um prelúdio de nova "revelação", que já não é cristã. Tal é o caso dos Mórmons; tal é
o caso das Testemunhas de Jeová, que negam a Divindade de Cristo, a SS. Trindade e toda
a concepção cristã de história.
5. Deterioração da Bíblia
0 fato de só quererem seguir a Bíblia (que na realidade é inseparável de Tradição oral, que a berçou e
a acompanha), tem como consequência o subjetivismo dos intérpretes protestantes. Alguns entram
pelos caminhos do racionalismo e vêm a ser os mais ousados dilapidadores ou roedores das
Escrituras (tal é o caso de Bultmann, Marxsen, Harnack, Reimarus, Baur...). Outros preferem adotar
cegamente o sentido literal, sem o discernimento dos expressionismos próprios dos antigos semitas,
o que distorce, de outro modo, a genuína mensagem bíblica.
Isto acontece, porque faltam ao Protestantismo os critérios da Tradição ("o que sempre, em toda a
parte e por todos os fiéis foi professado"), critérios estes que o magistério da Igreja, assistido pelo
Espírito Santo, propõe aos fiéis e estudiosos, a fim de que não se desviem do reto entendimento do
texto sagrado.
6. Mal-Entendidos
Quem lê um folheto protestante dirigido contra as práticas da Igreja Católica (veneração, não
adoração das imagens, da Virgem Santíssima, celibato...), lamenta o baixo nível das argumentações:
são imprecisas, vagas, ou mesmo tendenciosas; afirmam gratuitamente sem provar as suas
acusações; não raro baseiam-se em premissas falsas, datas fictícias, anacronismos.
As dificuldades assim levantadas pelos protestantes dissipam-se desde que se estudem com mais
precisão a Bíblia e as antigas tradições do Cristianismo. Vê-se então que as expressões da fé e do
culto da Igreja Católica não são senão o desabrochamento homogêneo das virtualidades do
Evangelho; sob a ação do Espírito Santo, o grão de mostarda trazido por Cristo à terra tornou-se
grande árvore, sem perder a sua identidade (cf. Mt 13,31 s); vida é desdobramento de
potencialidades homogêneo. Seria falso querer fazer disso um argumento contra a autenticidade do
Catolicismo. Está claro que houve e pode haver aberrações; estas, porém, não são padrão para se
julgar a índole própria do Catolicismo.
A dificuldade básica no diálogo entre católicos e protestantes está nos critérios da fé. Donde deve o
cristão haurir as proposições da fé: da Bíblia só ou da Bíblia e da Tradição oral?
Se alguém aceita a Bíblia dentro da Tradição oral, que lhe é anterior, a berçou e a acompanha, não
tem problema para aceitar tudo que a Palavra de Deus ensina na Igreja Católica, à qual Cristo
prometeu sua assistência infalível.
Mas, se o cristão não aceita a Palavra de Deus na sua totalidade oral e escrita, ficando apenas com a
escrita (Bíblia), já não tem critérios objetivos para interpretar a Bíblia; cada qual dá à Escritura o
sentido que ele julga dever dar, e assim se vai diluindo e pervertendo cada vez mais a Mensagem
Revelada. A letra como tal é morta; é a Palavra viva que dá o sentido adequado a um texto escrito.
7. Menosprezo da Igreja
Jesus fundou sua Igreja e a entregou a Pedro e seus sucessores. Sim, Ele disse ao Apóstolo:
"Tu és Pedro e sobre essa pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do Inferno não
prevalecerão contra ela. Eu te darei as chaves do Reino dos céus, e o que ligares na terra
será ligado nos céus, e o que desligares na terra será desligado nos céus" (Mt 16,18s).
Notemos: Jesus se refere à sua Igreja (Ele só tem uma Igreja) e Ele a entregou a Pedro... A
Pedro e a seus sucessores, pois Pedro é o fundamento visível ("sobre essa pedra
edificarei..."); ora, se o edifício deve ser para sempre inabalável, o fundamento há de ser
para sempre duradouro; esse fundamento sólido não desapareceu com a morte de Pedro,
mas se prolonga nos sucessores de Pedro, os Papas.
Ora, Lutero e seus discípulos desprezaram a Igreja fundada por Jesus, e fundaram (como até
hoje ainda fundam) suas "igrejas". Em consequência, cada "igreja" protestante é uma
sociedade meramente humana, que já não tem a garantia da assistência infalívei de Jesus e
do Espírito Santo, porque se separou do tronco original.
A experiência mostra como essas "igrejas" se contradizem e ramificam em virtude de
discórdias e interpretações bíblicas pessoais dos seus fundadores; predomina aí o "eu acho"
dos homens ou de cada "profeta" de denominação protestante.
Mas... as falhas humanas da Igreja não são empecilho para crer?
Em resposta devemos dizer que o mistério básico do Cristianismo é o da Encarnação; Deus
assumiu a natureza humana, deixou-se desfigurar por açoites, escarros e crucificação, mas
desta maneira quis salvar os homens. Este mistério se prolonga na Igreja, que São Paulo
chama "o Corpo de Cristo" (Cl 1,24; 1Cor 12,27). A Igreja é humana; por isto traz as
marcas da fragilidade humana de seus filhos, mas é também divina; é o Cristo prolongado;
por isto os erros dos homens da Igreja não conseguem destrui-la; são, antes, o sinal de que é
Deus quem vive na Igreja e a sustenta.
Numa palavra, o cristão há de dizer com São Paulo: "A Igreja é minha mãe" (cf. Gl 4,26).
Ao que São Cipriano de Cartago (+258) fazia eco, dizendo: "Não pode ter Deus por Pai
quem não tem a Igreja por Mãe" ("Sobre a Unidade de Igreja", cap. 4).
Conclusão
A grande razão pela qual o Protestantismo se torna inaceitável ao cristão que reflete, é o subjetivismo que o
impregna visceralmente. A falta de referenciais objetivos e seguros, garantidos pelo próprio Espírito Santo
(cf. Jo 14,26; 16,13s), é o principal ponto fraco ou o calcanhar de Aquiles do Protestantismo. Disto se segue a
divisão do mesmo em centenas de denominações diversas, cada qual com suas doutrinas e práticas, às vezes
contraditórias ou mesmo hostis entre si.
0 Protestantismo assim se afasta cada vez mais da Bíblia e das raízes do Cristianismo (paradoxo!), levado
pelo fervor subjetivo dos seus "profetas", que apresentam um curandeirismo barato (por vezes, caro!) ou um
profetismo fantasioso ou ainda um retorno ao Antigo Testamento com menosprezo do Novo.
Esta diluição do Protestantismo e a perda dos valores típicos do Cristianismo estão na lógica do principal
fundador, Martinho Lutero, que apregoava o livre exame de Bíblia ou a leitura da Bíblia sob as luzes
exclusivas da inspiração subjetiva de cada crente; cada qual tira das Escrituras "o que bem lhe parece ou lhe
apraz"!