Uma Teoria Da Mudança Da Personalidade
Uma Teoria Da Mudança Da Personalidade
Uma Teoria Da Mudança Da Personalidade
Eugene Gendlin
Síntese
Após umas poucas páginas nas quais são estabelecidos dois principais problemas e duas observações,
apresentar-se-á uma teoria da personalidade. A teoria é um outro passo no trabalho contínuo sobre
"experienciação" (Gendlin, 1957, 1962a, Gendlin e Zimring, 1955). A teoria da experienciação fornece
um quadro de referência no qual considerações teóricas são percebidas de uma nova forma.
Uma teoria requer termos, palavras definidas com as quais se especificam observações e a formulação
de uma cadeia de hipóteses teóricas. A teoria aqui apresentada é desenvolvida dentro desta estrutura
básica, devendo-se observar especialmente os novos termos que são introduzidos e definidos. Estes
termos são enumerados e discutidos (Nós podemos ter uma teoria genuína somente com termos
cuidadosamente definidos e, somente com o uso de termos definidos, podemos modificar, desenvolver
e expandir a teoria).
Problemas e Observações
dizer que, longe de explicar a mudança de personalidade, nossas teorias têm se empenhado
em explicar e definir personalidade como aquilo que tende a não mudar quando se
esperaria que mudasse.
Até certo ponto é justificável esta forma de ver a personalidade como fatores que
resistem à mudança. Nós comumente pensamos na pessoa englobando identidade e
continuidade através do tempo. Entretanto, os conteúdos e padrões nas teorias são um tipo
de conceito explanatório que, por definição, tornam a mudança impossível. A estrutura da
personalidade (nas teorias) está formulada de uma maneira a partir da qual se possa
afirmar que ela se mantém contra qualquer experiência nova que possa alterá-la. O
indivíduo é visto como uma entidade estruturada com conteúdos definidos. Estes conceitos
explanatórios podem explicar somente por que um indivíduo não pode mudar.
As teorias da personalidade, portanto, têm se concentrado nos fatores que
explicam por que um indivíduo é como é, como ele se tornou assim e como estes fatores o
mantém desta forma, apesar das circunstâncias, das eventualidades e das oportunidades.
Tais conceitos explanatórios do conteúdo e da estrutura revelam-nos o que impede um
indivíduo de ser modificado pelas experiências, quais fatores o forçam sempre (por
definição) a não aceitar ou a distorcer tudo que possa mudá-lo, a não ser (como nós
dizemos geralmente) que sua personalidade (de algum modo) tenha mudado primeiro.
Uma vez que estrutura e conteúdo tendem a se manter e a distorcer a
experiências presente, nós podemos explicar a mudança de personalidade somente se nós
pudermos mostrar exatamente com esta resistência á mudança provoca a mudança.
As teorias no passado não queriam retratar a mudança da personalidade como
impossível. Ao contrário, as teorias afirmam que a mudança realmente ocorre. As principais
teorias da personalidade têm se originado da psicoterapia - o que significa (quando a
psicoterapia é bem sucedida), de uma mudança de personalidade em andamento.
Muito paradoxalmente, enquanto a mudança de personalidade ocorre diante de
seus olhos e com sua participação, os terapeutas apreendem suas mentes formulando o que
está errado. O próprio indivíduo enquanto procura em seus sentimentos e expressa isto, fala
como se todo o esforço fosse para investigar o que está errado - o que tem constituído os
aspectos de sua personalidade que impedem a adaptação e mudança costumeiras. E
usualmente tal indivíduo torna-se consciente de muita coisa que, como ele mesmo dirá, foi
sempre verdade mas que ele não tinha tomado consciência.
Assim, a psicoterapia regularmente nos possibilita a observação de um indivíduo
"descobrindo" ou "tornando-se consciente" desses conteúdos inflexíveis e de sua inabilidade
anterior em percebê-los. As várias teorias da personalidade têm formulado tão bem estes
conteúdos e esta estrutura de automanutenção e censura que, embora tenhamos conceitos
para explicar o que faz um indivíduo ser o que é, não podemos formular como ele muda.
No entanto, todo o tempo o indivíduo tem mudado justamente estes fatores desconhecidos
que formulamos em termos de conteúdos explanatórios estáticos.
Apresentarei, agora, com maiores detalhes os dois principais meios através dos
quais muitas formulações correntes da personalidade fazem a mudança parecer
3
Dois Problemas
O Paradigma da Repressão
distorcido ou permanece não percebido, exatamente no grau e naqueles aspectos nos quais
se poderia suspender a repressão e mudá-lo.
Esta explicação (compartilhada em muitas formas, como eu tenho tentado
indicar, pela maioria das atuais teorias da personalidade) está baseada na extraordinária
maneira através da qual o indivíduo, durante a psicoterapia, torna-se consciente daquilo
que ele há muito tempo vem sentindo, mas não sabia que sentia. Além disso, o indivíduo
compreende quão poderosamente estas experiências anteriormente inconscientes têm
afetado seus sentimentos e comportamento. Tantos indivíduos têm relatado isto que não há
dúvida de que esta é uma observação válida. A questão que se coloca é como formularemos
isto teoricamente.
Uma vez formulada a teoria de acordo com o paradigma da repressão, não
podemos, então simplesmente virar as costas e "explicar" a mudança da personalidade
como um "tornar-se consciente" do que foi previamente reprimido. Uma vez que tenhamos
mostrado que será distorcida qualquer coisa que tente trazer estas experiências à
consciência, não podemos considerar como explicação simplesmente afirmar que a
mudança de personalidade é um tornar-se consciente (isto, por definição, é supostamente
impossível). A mudança acontece. Todavia, afirmar isto não é oferecer uma explicação - é
apenas estabelecer o problema. Podemos tomar o "paradigma da repressão" como um dos
aspectos básicos da mudança de personalidade - um dos dois fatores básicos em que este
capítulo está interessado. A fim de elucidar a mudança de personalidade, teremos de
explicar como este crucial "tornar-se consciente" realmente ocorre e, então, retornaremos e
reformularemos nossa teoria do inconsciente e repressão.
O Paradigma do Conteúdo
O Processo de Sentimento
A relação interpessoal
A TEORIA
1. EXPERIENCIAÇÃO
particular que possamos considerar, será uma maneira ou modo particular de experienciação,
ou uma função particular dele, ou um padrão lógico particular que escolhamos para fixar. O
termo experienciação, portanto, denota toda "experiência" vista em termos de estrutura
referencial do processo.
(b) A palavra "experiência" em psicologia, onde quer que seja empregada,
significa acontecimentos psicológicos concretos. O mesmo ocorre aqui: experienciação é um
processo de acontecimentos concretos em andamento.
(c) Finalmente, por experienciação queremos dizer um processo sentido. Com isto
indicamos os acontecimentos sentidos física e interiormente. E sustentamos que "o material"
concreto da personalidade ou dos eventos psicológicos é este fluxo de sentimento ou
sensação corporal.
Experienciação é o processo de sentimentos concretos e corporais que constitui a
matéria básica dos fenômenos psicológicos da personalidade.
2. REFERENTE DIRETO
3. IMPLÍCITO
É menos aparente, mas, mesmo assim, facilmente verificável por qualquer um,
que este referente direto contém significado. Inicialmente pode parecer que a
experienciação seja simplesmente a sensação interna de nosso corpo, sua tensão ou seu
bem-estar. No entanto, após reflexão ulterior, podemos notar que somente neste sentir
direto temos de fato o significado do que dizemos e pensamos. Porque sem o nosso
sentimento do significado, os símbolos verbais são unicamente ruídos (ou imagens sonoras
do ruído).
Por exemplo, alguém ouve você falar e então diz: "Desculpe-me, mas não entendi
o que você quer dizer". Se você quiser reafirmar o que você disse com palavras diferentes,
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notará que precisará prestar atenção ao seu referente direto, ao seu significado sentido.
Somente assim, poderá encontrar palavras diferentes para reafirmar o que dissera.
De fato, empregamos símbolos explícitos unicamente para pequenas porções
daquilo que pensamos. A maior parte do que pensamos apresenta-se na forma de
significados sentidos.
Por exemplo, quando refletimos sobre um problema, devemos pensar em
diversas considerações conjuntas. Não podemos proceder assim verbalmente. De fato, não
podíamos de modo algum pensar sobre o significado destas considerações se tivéssemos
que ficar revendo os símbolos verbais repetidamente. Podemos, sim, revê-los verbalmente.
Contudo, para refletir sobre o problema devemos usar os significados sentidos - devemos
pensar como "isto" (que verbalizamos previamente) se relaciona com "aquilo" (que também
verbalizamos). Para pensar "isto" e "aquilo", empregamos seus significados sentidos.
Quando os significados sentidos ocorrem em interação com símbolos verbais e
sentimos o que os símbolos significam, denominamos tais significados "explícitos" ou
"explicitamente conhecidos". Por outro lado, com muita freqüência, temos exatamente tais
significados sentidos sem uma simbolização verbal. Ao invés disto, temos um
acontecimento, uma percepção, ou alguma palavra tal como a palavra "isto" (que nada
representa, mas somente indica). Quando é este o caso, podemos denominar de significado
"implícito" ou "implicitamente sentido, mas não explicitamente conhecido".
Note que os significados "explícito" e "implícito" estão ambos na consciência.
Aquilo que concretamente sentimos e que podemos referir interiormente está, certamente,
"na consciência" (embora o termo "consciência" exija algumas reformulações posteriores). O
significado "implícito" é muitas vezes discutido, de forma confusa, como se fosse
"inconsciente" ou "não presente à consciência". Deve ficar muito claro que, uma vez que o
referente direto é sentido e é um dado direto da atenção, ele está "na consciência". Qualquer
coisa denominada "implícita" é sentida na consciência.
Além do mais, podemos agora acrescentar que mesmo quando um significado é
explícito (quando dizemos "exatamente o que queremos dizer"), o significado sentido que
temos sempre contém muito mais significados implícitos do que foi explicitado. Quando
definimos as palavras que acabamos de usar, ou quando "elaboramos" o que queremos
"significar", observamos que os significados sentidos que estamos utilizando, sempre
contém implicitamente muitos, muitos significados - sempre muito mais do que aqueles ao
quais demos uma formulação explícita. Descobrimos que empregamos estes significados.
Descobrimos que eles eram fundamentais para aquilo que de fato explicitamos, que
constituíam o que realmente exprimíamos; no entanto, eram somente sentidos. Eram
implícitos.
Até agora, pensamos nos significados implícitos como existindo apenas como
referente direto: isto é, somente se e quando nos referimos à nossa experienciação como um
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dado sentido. No entanto, mesmo sem tal referência direta à experienciação, vida e
comportamento procedem principalmente de significados implícitos. (Os significados
explícitos servem apenas a alguns objetivos especiais). Dizemos, por exemplo, que a
interpretação e reações às situações presentes são determinadas por nossas experiências
passadas. Mas, de que forma nossas experiências passadas estão presentes? Por exemplo, se
observo uma situação imediata e depois a descrevo, de que modo estão presentes, tal como
funcionam neste momento, meu conhecimento de linguagem e minhas lembranças desta
situação que eu estou exatamente observando? Para descrever esta situação, minhas
palavras me surgirão a partir do significado sentido que observo, ao qual eu reajo e agora
significo para expressar. Raramente traduzo em palavras aquilo que agora observo. Nem
penso particularmente em cada uma das experiências passadas que funcionam nesta
observação. Raramente transformo em palavras explícitas aquilo que direi. Todos estes
significados funcionam implicitamente como minha experiências presente e concretamente
sentida.
5. COMPLEMENTO. PROSSEGUIMENTO
6. INTERAÇÃO
7. FOCALIZAÇÃO
partes inerentes ao processo. Embora ela possa ocorrer nestas fases visivelmente separáveis,
mais freqüentemente ela não ocorre.
e conceitos que o definam com exatidão. 7 O ouvinte, naturalmente, não pode julgar esta
exatidão. Nem mesmo o próprio indivíduo a julga, mas podemos dizer de forma um tanto
poética, que o seu referente promove o julgamento. O ouvinte e o indivíduo podem, assim,
ficar surpresos com a direção que a simbolização toma.
O que apresentamos acima foi uma descrição de como um indivíduo pode
referir-se diretamente ou "focalizar" um referente direto da experienciação que, para ele,
constitui o significado sentido de algum tópico, situação, comportamento ou aspecto da
personalidade.
circundam, mudam agora. O que ele observa e simboliza é diferente, como também é
diferente o referente sentido a que o cliente se refere.
O movimento de referência dá direção ao processo de focalização. A atenção e a
simbolização do indivíduo tendem a seguir esta direção que produz o movimento do
referente.
Sem o movimento de referência, o que é dito é "mera" conversa, "mera"
intelectualização, "mera" sutileza de distinções, ou "mero" relato.
O movimento de referência é a experiência direta de que tem ocorrido algo mais
que lógica e verbalização. O movimento pode muitas vezes ser logicamente analisado (isto
é, podem ser formuladas relações lógicas entre o que ele disse antes e o que diz agora).
Contudo, tal análise lógica pode ser feita entre qualquer verbalização quer tenha havido ou
não movimento de referência. E, com freqüência, para um pequeno pedaço do movimento
de referência, a mudança lógica ou conceitual é extremamente ampla. Até mesmo um leve
movimento de referência pode contribuir para o que conceitualmente parece um ponto
favorável completamente diferente.
O movimento de referência é uma mudança no significado sentido que funciona
na simbolização.
Espero ter transmitido alguma coisa das características coincidentes do que
chamo as quatro fases da focalização. Resumindo-as: fase 1 - referência direta a um
significado sentido que é conceitualmente vago, mas caracterizado como sentido; fase 2 - o
desdobramento e a simbolização de alguns aspectos; fase 3 - uma inundação da aplicação
global; fase 4 - movimento do referente; e o processo pode começar de novo com a fase 1.
Estas quatro definições (8-11) definem "focalização"9.
que minhas perguntas e expressões pessoais podem ser úteis desde que dirija o que digo ao
referente sentido do indivíduo e mostre que gostaria que ele continuasse a focalizá-lo.
A fim de permitir que o processo de sentimento surja, devemos algumas vezes
permanecer calados, pelo menos por breves períodos. Se o cliente ou eu falamos o tempo
todo, pouca referência direta pode ter lugar. Portanto, quando ele parou de falar e eu parei
de responder, fico contente se houver um pequeno silêncio no qual ele possa sentir o
significado do que estivemos dizendo. Fico especialmente contente se a próxima coisa que
ele então falar, não seguir simples e logicamente o que acabamos de dizer, mas mostrar que
um referente sentido proporcionou a transição do que ele disse para o que diz agora. Esta
"descida" nele próprio, este focalizar e este processo generalizado de sentimento que surge,
abre a verbalização para o fluxo subjacente de eventos de mudança de personalidade. Este
processo de sentimento auto-impulsionado é o motor essencial da mudança de
personalidade.
Uma vez que este processo tenha surgido, continua mesmo nos intervalos entre
as vezes em que o indivíduo se engaja nas quatro fases do processo de focalização que
delineei. Assim, durante os vários dias entre as duas sessões de psicoterapia, o cliente pode
descobrir importantes pensamentos, sentimentos, lembranças e insights que "chegam" até
ele. Pode descobrir uma "agitação" generalizada, uma "multiplicidade de acontecimentos"
interiores, mesmo sem um conteúdo específico simbolizado. Desta forma, o processo global
de sentimentos torna-se autoimpulsionado e mais amplo do que as quatro fases de
focalização que descrevi.
experienciar será totalmente diferente. Considero, por exemplo, o tipo de ouvinte que
interrompe com suas próprias preocupações e está inclinado a se aborrecer e a criticar
muito mais antes de compreender o que é dito. Com ele, minha maneira de experienciar será
muito restrita. Pensarei menos e sentirei menos do que quando estou sozinho. Tenderei a
dizer rapidamente o que preciso em termos gerais, aproximados, conclusos. Não tenderei a
sentir profundamente, ou intensamente, ou ricamente. Certas coisas nunca me ocorrerão
quando estiver como ele ou, se de fato me ocorrerem, guardá-las-ei para quando estiver
sozinho e poder senti-las integralmente, sem os efeitos restritivos de suas respostas. Todos
nós conhecemos esta diferença entre a maneira de nossa experienciação com certas pessoas
em comparação com a maneira quando estamos sozinhos.
De modo semelhante, existem outros (somos afortunados em conhecer um) com
quem sentimos mais intensamente, mais livremente nossos sentimentos. Pensamos em mais
coisas, temos a paciência e a habilidade de aprofundar detalhes, toleramos melhor nossas
tensões interiores quando falamos com esta pessoa. Se estivermos tristes e
melancolicamente sozinhos, então choramos com esta pessoa. Se estivermos paralisados por
nossa culpa, vergonha e ansiedade, então, com esta pessoa, voltamos novamente à vida,
interiormente, como sendo mais do que estas emoções. Se tivermos mostrado aversão e
aborrecimento conosco ao ponto de nos tornarmos silenciosos e mortos por dentro, então,
como esta pessoa "voltamos à vida" novamente. Quando contamos a esta pessoa alguma
estória antiga, familiar, muitas vezes repetida, descobrimo-la mais rica e com um novo
significado e podemos não ir até o fim dela por conta das muitas facetas do significado
pessoal que agora se desdobra.
Como podemos explicar teoricamente estas diferenças na maneira de
experienciarmos em diferentes relacionamentos e na de experienciarmos sozinhos?
Qualquer que seja e conteúdo que dizemos experienciar, existe também a forma
com que experienciamos. Poucos termos na nossa linguagem psicológica formal denotam
diferenças na forma de experienciar. Vamos, portanto, definir mais alguns termos (Estes
termos sobrepõem-se, de modo que a explicação completa de um deles nos leva a outros).
Imediaticidade da experienciação. Imediaticidade pode ser contratada com
desassociação ou adiamento do afeto. Normalmente termos descritivos e poéticos são
inventados pelos indivíduos para descrever imediaticidade e seus opostos: "Faço tudo certo,
mas não estou nisso", ou "Sou um espectador do meu comportamento"; "O que isso significa
para mim me ocupa tanto que não me dou conta do que está realmente acontecendo"; "A
vida está correndo bem, mas estou lá pra trás. Simplesmente ouço falar dela, não a estou
vivendo."
Presença. Estou realmente reagindo à situação presente? Estou sentindo um agora,
ou a situação presente é simplesmente uma ocasião, um sinal para um padrão de
sentimentos familiar, repetidamente estruturado?
22
15. Reconstituição
verbalmente simbolizados. Só pode ser dado um significado geral, inútil, pouco expressivo
aos conceitos dos conteúdos supostos, que não são, neste instante, aspectos do processo. Os
conteúdos são aspectos do processo sentido em andamento. Quer dizer, os conteúdos são
aspectos do processo.
Existe um único processo que envolve tudo o que vem a seguir: interação
ambiental, vida corporal, sentimento, significados cognitivos, relações interpessoais e self.
O processo ocorrendo concretamente é único, apesar de podermos isolar e enfatizar estes
vários aspectos dele. Nossa "linguagem de coisas" tende a apresentar tudo o que discutimos
como se fosse objeto separável no espaço. Desta maneira separamos artificialmente meio
ambiente, corpo, sentimento, significados, outras pessoas e self 15. Quando eles são
discutidos como coisas separáveis, suas inter-relações óbvias tornam-se confusas: Como
sentimentos podem estar envolvidos nas doenças corporais (psicossomáticas)? Como
pensamento cognitivo podem ser influenciados por necessidades sentidas? Como é que
expressando nós mesmos interpessoalmente resulta em mudança no self? Em cada conjuntura,
a visão de "coisa separada" destes fenômenos constrói estes quebra-cabeças presentes em
nossas discussões. Em vez disto, podemos empregar um quadro de referência que
considera o processo indivisível que ocorre concretamente. Quero dar o nome de unidade de
processo à forma em que o processo único concreto é básico para estes vários aspectos.
Tentamos mostrar que o sentimento é um acontecimento corporal, um aspecto do
processo fisiológico. Mostramos que os significados cognitivos não consistem somente de
símbolos verbais ou pictóricos, mas também de uma sensação sentida que é implicitamente
significativa e deve funcionar em interação com símbolos. As respostas interpessoais (como
outros tipos de eventos) podem interagir com sentimento e levar adiante o processo concreto.
Agora, tentaremos mostrar que o self (as respostas próprias do indivíduo à sua
experienciação funcionando implicitamente) é também um aspecto do processo indivisível
concretamente sentido, em continuidade com o corpo, sentimento, significados e relações
interpessoais.
sempre que se interpretar e moldar seus significados pessoais exatamente como os outros o
interpretassem.
Mas o sentimento tem significados implícitos. Portanto, na medida em que um
processo de sentimento está ocorrendo, podemos, mais adiante, responder a ele
diferentemente do que os outros responderam. Contudo, na medida em que respondemos
ao nosso próprio sentimento de modo a omitir ou parar o processo em vez de levá-lo
adiante, neste ponto necessitamos dos outros para ajudar-nos a sermos nós mesmos. Não só
a gênese, mas também o desenvolvimento adulto do self pode também exigir respostas
interpessoais. Tais respostas são exigidas não por causa de sua avaliação ou conteúdo, mas
porque precisamos delas concretamente para reconstituir o processo de sentimento. Se em
certos aspectos o processo não está em andamento, quando estamos sós, não ajuda
enumerar para nós mesmos alguns conteúdos ou apreciações oportunas que possamos nos
lembrar de uma pessoa com quem sentimo-nos "mais nós mesmos"; o efeito daquela pessoa
sobre nós foi causado não por sua apreciação ou avaliação, que podemos recitar para nós
mesmos. Ao contrário, o efeito ocorreu através de suas respostas ao nosso processo concreto
de sentimento e, em alguns aspectos, o reconstituiu e o levou adiante. Se pudermos fazer
isso sozinhos, somos selves independentes nesse aspecto.
Desta forma, a mudança de personalidade em nós não é um resultado de nossas
percepções das apreciações positivas de outra pessoa a nosso respeito ou de atitudes para
conosco. É verdade que atitudes rejeitadoras em relação a nós são desfavoráveis para levar
adiante nossos significados implícitos. Contudo, isso não decorre da apreciação negativa
como tal, mas por que normalmente a rejeição ignora os significados implícitos do meu
sentimento. Rejeitar é repelir ou afastar. Em contraste, "a consideração positiva
incondicional" de alguém para conosco não é somente uma apreciação ou atitude. Ela
responde e leva adiante o processo concretamente em andamento com suas respostas.
Devemos, portanto, reformular o ponto de vista de Rogers de que a mudança de
personalidade depende da percepção por parte do cliente da atitude do terapeuta. A teoria
que apresentamos implica que o cliente pode ou não perceber corretamente as atitudes do
terapeuta. Ele pode estar convencido de que o terapeuta não gosta dele e possivelmente não
pode compreendê-lo. Não são estas percepções, mas a maneira do processo que está realmente
ocorrendo, que determinarão se ocorrerá uma mudança de personalidade. Em muitos casos,
o cliente pode perceber atitudes positivas do terapeuta somente após já ter ocorrido o
processo concreto de mudança de personalidade.
O fator efetivo de mudança não é a percepção de um conteúdo, de uma
apreciação, de uma avaliação, ou um atitude considerada à parte do processo concreto.
Mudança de personalidade é a diferença produzida pelas tuas respostas em levar
adiante a minha experienciação concreta. Para ser eu mesmo, preciso de tuas respostas, na
medida em que minhas próprias respostas falham em levar meus sentimentos adiante. Em
princípio, nestes aspectos, sou "realmente eu mesmo" somente quando eu estou com você.
Por algum tempo, o indivíduo pode ter este processo do eu mais pleno somente
neste relacionamento16. Isto não é dependência. Isto não deveria levar a pessoa a regredir,
30
mas a respostas mais completas e profundas que levariam adiante a experienciação, a qual,
por enquanto, o indivíduo diz poder sentir "somente aqui". O levar adiante continuado para
o processo de interação em andamento é necessário para reconstituir a experienciação o
suficiente para o indivíduo adquirir, por si mesmo, a habilidade de levá-la adiante como
processo do self.
Uma vez que não há distinção nítida entre levar adiante o que é implicitamente
sentido, e a reconstituição da experienciação em aspectos previamente bloqueado (o primeiro
envolverá o segundo), o dado sentido que está lá, num sentido contém tudo. Em que
sentido? No sentido de que, sendo dadas respostas que levam plenamente adiante a ele, tudo
estará aqui como aspectos do processo em andamento.
Portanto, na prática, a regra é esta: "Não se preocupe com o que não está sendo
sentido. Responda ao que está sendo sentido".
25. Maneira extrema de experienciação presa à estrutura (psicose, sonhos, hipnose, CO2,
LSD, privação de estímulos)
processo sentido que funcionam normalmente. Dessa forma, alucinações e sonhos não são
compreensíveis ao indivíduo presente. Ele fica confuso ou espantado com eles. Muitas
vezes lhe parecem que não são seus. A experienciação sentida, que lhe daria um sentido de
eles serem "seus" e lhe permitiria conhecer seu significado, não está em andamento. Sonhos
e alucinações são, por assim dizer, peças decompostas daquilo que seria de outra forma um
processo sentido em funcionamento. Este processo de interação com o presente não está em
andamento e daí os significados sentidos não funcionam.
Permitam-me, agora, delinear através das diferentes espécies de circunstâncias
como em cada uma delas o processo de interação está resumido e como a função de
experienciação sentida está, então, faltando.
Uma maneira extrema presa à estrutura ocorre todas as vezes que o processo de interação
está grandemente resumido. Sonhos, hipnose, psicose, CO2, LSD e a privação de estímulos
compartilham, pelo menos, um fator: a restrição de uma interação em andamento.
No sono há uma grande redução de estímulos externos. Os sonhos ocorrem com
esta restrição do processo de interação com o ambiente normalmente em interação.
Na hipnose, também, o sujeito deve desligar sua interação com os estímulos
presentes e deve parar sua própria capacidade de responder a si mesmo. Ele deve se
concentrar num ponto.
A psicose, como tem sido muitas vezes observado (por exemplo, Shlein, 1960),
envolve tanto em sua gênese como, mais tarde, um "isolamento", uma restrição de interação
entre sentimento e acontecimentos: também o isolamento físico da pessoa pode, em alguns
indivíduos, provocar alucinação.
Certos venenos (Co2, LSD) são prejudiciais ao processo de interação fisiológica
da vida corporal: CO2 restringe (e eventualmente paralisa) o processo de respiração.
Os experimentos em que os indivíduos são colocados em vestes à prova de som e
de luz que também impedem os estímulos do tato provocam (depois de algumas horas)
alucinações do tipo psicótico.
As experiências peculiarmente semelhantes que surgem nessas condições
amplamente diferentes sugerem alguma coisa comum. Ao menos um fator todas elas
compartilham: a restrição do processo de interação em andamento que, enquanto sentido, é
a experienciação. Esperaríamos assim uma falta de funcionamento implícito que a
experienciação em andamento normalmente fornece.
E, de fato, isto é compartilhado pelos fenômenos que ocorrem em todas estas
circunstâncias. O caráter peculiar destes fenômenos é compreensível como uma rigidez ou
falta deste funcionamento sentido que normalmente interpreta cada situação presente para
nós e a qual respondemos no processo do self. Desta maneira, perdem-se a interpretação
apropriada das situações e o sentido do self.
Falta de função implícita. Esta função implícita (veja definição 4) da experienciação
sentida torna-se rígida (não em processo) ou "literal" em todas estas condições. Na hipnose,
por exemplo, quando se diz ao indivíduo "levante sua mão", ele levantará a palma da mão
até o pulso. Não interpretará, como quando acordado, a frase idiomática apropriadamente
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(significa, naturalmente, levantar todo o braço). A mesma qualidade literal ocorre nos
sonhos e na psicose. Muito do que tem sido chamado "processo primário", "pensamento
esquizofrênico" ou inabilidade do esquizofrênico para "abstrair" seu pensamento "concreto",
seu "tomar a parte pelo todo" (Goodstein, 1954), realmente consiste nesta maneira literal e
rígida em que a experienciação funciona. Como nos sonhos e na hipnose o processo sentido
de experienciação está restringido e não supre seu funcionamento implícito.
Os muitos significados implícitos sentidos que são necessários a interpretações e
reações apropriadas não funcionam, uma vez que o processo sentido (do qual eles são
aspectos do processo) não está em andamento. É isso exatamente o que significa "literal": a
falta de funcionamento de outros significados, que deveriam informar nossa interpretação
de um dado conjunto de palavras ou acontecimentos.
A perda do self. Uma outra característica compartilhada nos sonhos, na hipnose, na
psicose e nos fenômenos obtidos pela privação de estímulos e pelo LSD é a perda de um
sentido do self. Nos sonhos o que percebemos está fora do controle, interpretação e posse
do self (ou ego). Na hipnose, o indivíduo aceita especificamente as sugestões dos outros
como sendo suas e permite-as substituir totalmente suas próprias respostas. E na psicose, o
indivíduo freqüentemente se queixa: "Eu não fiz isto. Algo me fez fazê-lo", ou "Não sou eu
mesmo", ou "Estas vozes não são minhas", ou "Dentro de mim não há nada mesmo". As
alucinações, as vozes, as coisas em sua cabeça não são sentidas lhe pertencer. Ele carece de
sentido do self. Se ele não tem um sentido do self (um "ego intato"), esta sensação sentida
não informa os fenômenos alucinatórios. Em relação a isso, ele não tem nenhum sentido do
self que contenha implicitamente seu significado.
Esta perda do self é decorrente da perda do funcionamento da experienciação
sentida. Da mesma forma, como os acontecimentos externos (no caso da psicose) não são
interpretados e interconectados com fundamento na experienciação sentida, esta
experienciação sentida está faltando para as respostas do self.
Definimos o self como um autoprocesso. O self existe na medida em que o
indivíduo pode levar adiante seu processo sentido através de seus símbolos,
comportamentos ou atenção. Os experimentos com privação de estímulos têm constatado
que os indivíduos que desenvolvem psicose mais lentamente têm uma maior capacidade de
responder a si mesmos (maior "imaginação" e "criatividade" como isto foi chamado). Os
resultados corroboram nossos pontos de vista, pois, na medida em que o indivíduo pode
levar adiante sua própria experienciação, estará mantendo (pelos símbolos e pela atenção)
seu processo de interação. Quando o processo de interação está grandemente restringido,
não somente ocorrem experiências parecidas com experiências psicóticas, mas o sentido do
"self" é perdido. O processo sentido ao qual pode haver uma autoresposta torna-se estático e
o indivíduo tem percepções alienadas de si.
Forma estática, repetitiva, imutável. Na medida em que o funcionamento implícito
da experienciação sentida for rígida, não há forma para as situações presentes interagirem
com ela e modificá-la, de modo que se torna uma interpretação da situação presente. Em
vez disso, percebemos um padrão repetitivo que não é modificado pela situação presente. A
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seqüência pode "ser interrompida" como um resultado de ser "insinuada" pela situação
presente, mas não é uma interpretação de, ou uma resposta a, acontecimentos presentes.
A universalidade dos conteúdos psicóticos. As experiências na forma extrema de
presa à estrutura não são aspectos do processo. Elas ocorrem precisamente na media em que o
processo sentido não está ocorrendo. É surpreendente como certos temas universalmente se
repetem - normalmente os temas familiares "oral, anal, genital". Parece que esta é a matéria
da qual somos todos compostos... e na qual o processo normalmente em andamento se
decompõe, enquanto não está em andamento.
As experiências psicóticas não são "o reprimido". É falacioso considerar estas
manifestações presas à estrutura como experiências reprimidas que agora "emergiram" ou
"irromperam". Considerá-las assim levanta o embaraçoso problema: por um lado muitas
teorias sustentam que o ajustamento requer consciência e que a pressão gera desajuste, mas
por outro lado, elas também sustentam que o psicótico está "demasiadamente consciente" e
necessita "reprimir" todas estas experiências.
Uma formulação melhor, penso eu, seria interpretar esta observação da seguinte
maneira: num grau ótimo estas experiências passadas universais funcionam implicitamente
na experienciação sentida. Quando este processo em andamento cessa, padrões estáticos
decompostos ocupam o centro do "sensorium"18.
As implicações desta formulação podem ser vistas,por exemplo, no que se segue.
"A psicose", neste ponto de vista, não é esses conteúdos supostamente subjacentes (nesse
sentido, todo mundo é psicótico). Antes, "a psicose" é a restrição ou cessação do processo de
interação do sentimento e dos eventos. Quando, portanto, rotulamos um indivíduo de "psicótico
limítrofe", isto não significa que certos conteúdos perigosos estão lá dentro dele. Mais
apropriadamente, ele está "isolado", "alienado", "um tanto por fora", "retraído" ou "fora de
contato consigo mesmo"; isto é, sua maneira de experienciação está altamente presa à
estrutura. A fim de prevenir a ocorrência da "psicose", deve-se responder tanto quanto
possível a tais sentimentos como, de fato, implicitamente funcionam, de modo a levar
adiante e reconstituir a interação e a experienciação em andamento.
O enfoque de "conteúdos psicóticos latentes" conduzem a dois erros perigosos:
ou decidimos que é melhor ignorar os sentimentos de dificuldades e os problemas do
indivíduo (a fim de que não "rebentem" em plena psicose), ou os "interpretamos" e os
"desenterramos". Qualquer decisão resultará em psicose - elas envolvem a mesma
concepção errônea autoverificadora de que os "conteúdos" são psicóticos.
Não há nada psicótico acerca de quaisquer "conteúdos subjacentes". O que é
psicótico é a forma presa à estrutura da experienciação, a ausência ou a rigidez literal da
experienciação sentida e da interação.
Quer "limítrofe" ou aparentemente "perdida", a pessoa "voltará viva" se a
interação e a experienciação19 forem reconstituídas por respostas pessoais que levem
adiante aquilo que de fato ainda funciona20.
35
Mas sua necessidade parece na verdade sem fim, infinita, faminta. "Certo", digo,
"Parece sem fim, sem fundo, terrível para você. Como se você desejasse ser alimentada e
sustentada para sempre".
Então, ou em alguma outra vez, ela pode dizer: "Sou exatamente uma criança.
Odeio essa criança. Uma criança feia. Eu era uma criança feia. Ninguém poderia gostar de
mim da maneira que sou".
Mas caminhamos uma longa jornada quando o monstro é agora uma criança!
Uma criança é algo muito apreciável. O que foi feito do monstro? Uma criança é uma coisa
humana, a cada dia, natural. O que foi feito do terror? Da psicose?
Tal mutação de conteúdo pode ocorrer em poucos minutos ou meses. Pode ocorrer
em tais palavras e símbolos como acima, ou em linguagem pura socialmente aceitável, ou
com palavras bizarras incoerentes, ou em silêncio. O ponto que estou tentando mostrar é
que as mudanças de conteúdo ocorrem quando a gente responde e com isto leva adiante e
reconstitui um processo de interação. Tal interação constitui a experienciação sentida, e os
conteúdos são sempre aspectos disto. Quando o processo muda, os conteúdos mudam.
Chamo isto mutação de conteúdo.
A mutação de conteúdo ocorre surpreendentemente com os assim chamados
"conteúdos psicóticos". Os monstros, os medos sobrenaturais, as fomes infinitas, os terrores
que predizem o fim do mundo são freqüentemente aspectos de isolamento, perda do self e
de interação. Não são "coisas" psicóticas numa pessoa, mas um processo de interação
restringido ou bloqueado. Quando o processo de interação é restaurado, os conteúdos
mudam e, também, tornam-se mais compreensíveis e comumente humanos.
Mas a mutação de conteúdo não ocorre somente com expressões tão dramáticas,
como no exemplo citado acima. Ocorre igualmente com os indivíduos muitas vezes calados,
inexpressivos e "não motivados" com quem temos estado amplamente trabalhando na
pesquisa em andamento sobre psicoterapia com esquizofrênicos (Shlien, 1960; Gendlin,
1961), embora estes indivíduos conceitualizem tão pouco do que estão sentindo. Segue mais
um exemplo de mutação de conteúdo.
Um indivíduo fala sobre uma cadeia de circunstâncias que o perturbam.
Numerosos padrões, características e "conteúdos" de personalidade parecem perceptíveis
em seu relato destas circunstâncias.
Talvez com a ajuda de respostas, ele continue a ver que esta cadeia de
circunstâncias realmente lhe dá muita raiva. É isto mesmo! Ele está furioso. Ele deseja poder
prejudicar e destruir as pessoas envolvidas. Teme que as ataque na próxima vez que as
encontrar. Espera poder controlar este desejo destrutivo. Está abismado diante de sua
hostilidade e do seu próprio medo disto. Ele mal precisa ser estimulado para relatar as
circunstâncias, tão profundamente verdadeira é sua experiência desta raiva e da
necessidade destrutiva. Mais uma vez, agora, estamos tentados a considerar os conteúdos da
personalidade. Nossas primeiras deduções parecem agora demasiado amplas. Aqui,
realmente, temos alguns conteúdos da personalidade deste homem. Estamos familiarizados
37
com este medo de nossa hostilidade e com o que provavelmente são algumas das bases da
hostilidade.
Mas suponhamos que o homem continue (e eu continue a responder a seus
significados sentidos) Ele se imagina tentando dar vazão à sua raiva para com estas pessoas.
Ele verifica agora que não teme que irá atacá-las incontrolavelmente e prejudicá-las. É mais
provável (entre todas as coisas!) que ele nem sequer será capaz de gritar para eles, porque
irá chorar. Está certo de que sua voz ficaria embargada. De fato, agora mesmo, ela está um
pouco embargada. Esta coisa, parece agora, não é realmente hostilidade. Ao contrário, é ele
que se sente tão ferido! Não lhe deviam ter feito isto! Ferem-no e ... que pode ele fazer? E
agora ele sente, com algum alívio, que finalmente está em contato com o que tudo isto
realmente significa para ele. (Podemos, agora, propor um terceiro grupo de conteúdos da
personalidade, novamente diferente).
Mas, na medida em que ele continua, evidencia-se que as circunstâncias como
tais não importam. Não é de espantar! Parecia o tempo todo uma coisa muito insignificante
perturbar-se tanto com isto. O conteúdo é alguma coisa mais e isto é o que fere. E descobre
agora, afinal, que não é uma dor. De certo modo, serviu para ele saber que se sente fraco e
indefeso. "Não estou realmente ferido" (constata agora), "é muito mais uma amostra de
como não posso vencer no mundo" (passivamente, castração, podemos dizer agora).
O termo "mutação de conteúdo" pode ser aplicado a esta mudança seqüencial do
que parece ser o "conteúdo". Os conteúdos são aspectos do processo de sentimentos em
andamento. Podem ser simbolizados porque funcionam implicitamente naquele processo
de sentimento. Na medida em que é levado adiante, há movimento e mudança de referente
naquilo que pode ser simbolizado. Não é somente uma mudança de interpretação. Há
movimento do referente - quer dizer, aquilo que está sendo simbolizado está mudando.
A mutação do conteúdo não implica que todos os nossos conceitos sejam
simplesmente inaplicáveis. Muitas vezes eles são corretos em termos de predizer outros
comportamentos do indivíduo, e muitas vezes tornam-nos capazes de acertar ou de
estarmos sensivelmente prontos para a próxima mutação de conteúdo. Contudo, os
conceitos de conteúdo da personalidade são estáticos e excessivamente gerais 21 e vazios.
Eles nunca são um substituto para referência direta, movimento do referente e mutação do
conteúdo.
GENDLIN, Eugene. A theory of personality change. In: HART, J.T., TOMLINSON, T.M.
New direction in client-centered therapy. New York: Houghton Mifflin Co., 1970, cap. 7,
p. 129-173.
38
Nota 1
"Paradigma" ou modelo refere-se aos modelos teóricos usados nestas teorias, independentemente do
fato de elas usarem ou não as palavras "repressão" e "conteúdo".
Nota 2
O paradigma da repressão em suas formas mais supersimplificadas pode ser observado em uso
quando a pessoa A insiste que a pessoa B tem algum conteúdo do qual não pode ser consciente
porque ele é "inconsciente". As próprias experiências e sentimentos de B são, por definição,
eliminadas (undercut) ou "rejeitadas". Não existe qualquer caminho para o conteúdo suposto que
possa ser usado por B.
Nota 3
Rogers descobriu como, na prática, o indivíduo pode ser ajudado a superar o paradigma da
repressão.
Sua descoberta é de que a defensividade e a resistência são removidas quando alguém responde ao
indivíduo "dentro de seu quadro interno de referência". Isto significa que a resposta do
psicoterapeuta sempre se refere a algo que esteja diretamente presente na consciência momentânea
do indivíduo.
Rogers, a princípio, constatou que mesmo se o terapeuta não fizesse nada mais do que refrasear a
comunicação do cliente - quer dizer, se o terapeuta demonstrasse claramente que estava recebendo
e compreendendo exatamente as comunicações de cada momento do cliente - um processo de
mudança muito profundo e autoimpelido começava e persistia no cliente. Algo acontece no
indivíduo quando ele é compreendido desta forma. Alguma mudança ocorre no que ele enfrenta no
momento. Alguma coisa se libera. Ele, então, tem algo mais a dizer, e se isto, novamente é recebido
e compreendido, algo ainda mais profundo emerge, algo que o indivíduo não teria pensado (nem
seria capaz de pensar) se uma tal seqüência de expressões e respostas não tivesse ocorrido
Rogers constatou, em seguida, que se ele objetivasse conceitualizar exatamente o que o cliente
desejava comunicar no momento e se mantivesse este objetivo visível e conhecido para o cliente, ele
poderia formular a mensagem do cliente muito mais profunda e precisamente do que o cliente
havia feito. Talvez o cliente desse uma longa série de relatos externalizados de incidentes e suas
reações generalizadas de raiva. O terapeuta, depois de escutar, podia sentir o que agora denomino
significado sentido. Portanto, em resposta a alguns relatos situacionais, o terapeuta podia dizer:
"assusta-lhe pensar que você está desamparado quando esta espécie de coisa ocorre".
Rogers constatou que, enquanto as interpretações, as deduções e as explanações conceituais eram
inúteis e normalmente contestadas, a referência exata ao significado sentido momentâneo do cliente
era quase sempre bem recebida pelo cliente e parecia liberá-lo para uma consciência mais profunda e
mais ampla.
Gosto de pensar sobre isto diagramaticamente, como duas dimensões de uma comunicação. Ao
longo, digamos, da dimensão horizontal, podemos deduzir ou aduzir, do que o indivíduo fala, uma
porção de coisas sobre ele - seus antecedentes, seu comportamento usual, seus prováveis padrões
emocionais, traços etc. Podemos fazer isto, afastando-nos do que ele sente no momento, através de
conceitos e generalizações para outras coisas que ele não está sentindo no momento. Em contraste, o
que chamo dimensão vertical depende do fato de que qualquer comunicação deste tipo se refere
interiormente a uma massa de sentimentos, percepções, intenções, julgamentos, desejos etc. que são
sentidos no momento. Enquanto uma comunicação expressa apenas um pouco em sua forma verbal,
isto emerge, em grande parte, do que é sentido no momento na consciência de quem fala. A isto
denomino "significado sentido". O experienciar é implicitamente complexo e sentido como tal,
mesmo quando o que é explicitamente dito seja muito pouco. Portanto, podemos responder muito
profundamente e ainda permanecer continuadamente com o que o cliente sente no momento. Esta
teoria irá definir "implícito" e "contínuo". Mostrarei como as respostas interpessoais podem ser
contínuas e levar adiante o que é sentido no momento num processo experiencial novo.
Nota 4
39
Nota 6
A palavra "corretamente" refere-se exatamente a esta interação entre o referente sentido e os
símbolos que nós estamos descrevendo. O fato que, poucos minutos mais tarde, o "mesmo" tipo de
interação com outros símbolos possa novamente produzir uma outra conceitualização, ainda que
também correta, mostra que a "correção" não implica que um dado conjunto de símbolos signifique
o que o referente sentido sozinho significa. Ao contrário, "correção" refere-se ao efeito experienciado
que determinados símbolos produzem conforme está descrito acima e nas definições 5 e 6.
Nota 7
É extremamente importante que o ouvinte refira suas palavras a "este" dado sentido no indivíduo e
que ele compartilhe a sensação que este dado por si decide o que é correto e o que não é. É muito
menos importante se as palavras do ouvinte revelam-se ser precisas ou não.
Nota 8
Nós sempre podemos aplicar lógica após o processo e formular as relações implicadas, mas nós
quase nunca escolhemos corretamente antes do tempo qual das milhares de possíveis relações entre
vários problemas e tópicos funcionará em um processo concretamente sentido como descrito acima.
Nota 9
Devo agora descrever algumas espécies comuns da assim chamada "atenção interior", que não
envolvem referência direta e dessa maneira não são focalização.
Já que o termo experienciação inclui qualquer tipo de experiência, na medida em que a consideremos
sentida interiormente e aplicamos a ela a formulação teórica de processo têm surgido incompreensões
a respeito do modo de experienciar chamado referente direto. Por este último e mais específico termo
não queremos significar simplesmente qualquer coisa que possa ser chamada atenção interior.
Em especial, já que o referente direto é "sentido", tem sido confundido com emoções (também se diz
que as emoções são "sentidas"). Mas, o referente direto é internamente complexo e o indivíduo se
sente "em contato consigo mesmo" quando se refere a ele, enquanto as emoções são internamente
todas de uma mesma qualidade ... elas são "puras". Elas muitas vezes o impedem de sentir nele
aquilo que é a base complexa de emoção.
Esta e outras distinções se tornarão mais claras na seguinte lista das espécies de ocorrências num
indivíduo que não são referência direta e por isso não são focalização.
A referência direta não é:
1. Puras emoções. As emoções de culpa, vergonha, embaraço ou o sentimento de sou ruim são sobre
mim (dizem respeito a mim) ou sobre este aspecto de minha experiência e do seu significado para
mim. As emoções como tais não são uma referência direta ao experienciar sentido. Devo, ao menos,
momentaneamente, ir além destas emoções a respeito disso (ou a respeito de mim mesmo) a fim de
referir diretamente ao que tudo isto significa para mim, porque e o que me faz sentir envergonhado.
Por exemplo, devo dizer a mim mesmo: "Está certo, sim estou muito envergonhado, mas um
momentinho, embora isto faça me sentir envergonhado, desejo sentir o que é isto em mim".
40
Por exemplo, um cliente passava muitas horas insones todas as noites, com ansiedade, vergonha e
ressentimento. Culpava-se por suas reações a certa situação. Sentia-se abobalhado e envergonhado
da coisa toda. Na medida em que tentava resolvê-la (decidia enfrentá-la, lutar, não recuar etc.)
sentia-se alternadamente ressentido e envergonhado (era um bobo e humilhantemente assim etc.).
Somente na hora da psicoterapia tornou-se possível para ele focalizar "isto" diretamente, o que era
"isto", como o sentia, e onde "vivia" nele. "Nisto", ele encontrou muitas percepções válidas, referente
a outras pessoas, à situação que não tinha sido capaz de especificar antes e a muitos aspectos
pessoais próprios. Durante um número de sessões, referiu-se diretamente a sucessivos referentes
diretos e a significados sentidos. No entanto, entre as sessões, era incapaz de fazer isto sozinho, e
sentia vergonha e ressentimento. Somente movimentando-se temporariamente "ao lado" dessas
emoções podia se referir a "isto", "o que sinto", acerca do que, admitia "eu também tenho essas
emoções".
Parece bastante surpreendente e universal que sintamos culpa, vergonha e mal-estar, em vez de
sentir aquilo a respeito de que sentimos vergonha, culpa e mal-estar. É quase como se estas
emoções nos impedissem nosso sentimento, o que é tudo isso para nós - não tanto por serem tão
desagradáveis, quanto por saltarem o ponto em que poderíamos completar, simbolizar, responder
ou atentar àquilo que centralmente sentimos. Sou inclinado a hipotetizar que culpa, vergonha, mal-
estar, são emoções que ocorrem como resposta no lugar da resposta que, por ação ou simbolização,
daríamos de outro modo a nosso referente sentido. Estas emoções parecem completar, mas de fato
"passam por cima" dos significados implícitos incompletos. É semelhante ao animal que em
resposta à fome morde a si mesmo na perna. Em vez de responder com um comportamento que, de
alguma forma, "simbolize" a fome e leve adiante o processo organísmico da digestão, tal animal
estaria muito mais consciente da dor em sua perna e teria um comportamento correspondente. Seja
como for, a preocupação com estas emoções não é para ser confundida com o significado sentido
que, embora ligado a estas emoções, precisa de focalização.
Um cliente descreveu isso em termos de um furacão. "Se você só vai até certo ponto em alguma
coisa, é como estar num furacão e ser terrivelmente atingido em volta. Você tem que entrar nele e
ficar indo cada vez mais para dentro até chegar no olho do furacão. Ali é calmo e você pode ver
onde está. "Isto expressa lindamente o fato de que a focalização está definitivamente dirigida para o
interior das emoções, e não para longe delas; no entanto, também esta focalização envolve algo
qualitativamente muito diferente de meramente "ser atingido em volta" pelas emoções. A ilustração
também capta algo de centralidade, profunda e calma que se encontra - a qualidade daquilo que
outros chamam "estar em contato consigo mesmo". O referente sentido, no momento, é "mim". Ele
se desdobra e é mil coisas. Em comparação, o tom emocional que se liga a ele e o precede, não é ele
mesmo mil coisas. Permanecer com ele, simplesmente o alimenta. Existe sempre uma qualidade de
suspense, de tensão e de aperto na maioria desses tons emocionais. No entanto, afastar-se da
emoção é afastar-se também da direção na qual a gente "encontra a si mesmo". É por isso que a
gente deve penetrar, atravessar, ultrapassar esses tons emocionais até o referente direto, que é o
significado sentido de tudo isso.
A diferença entre focalizar e "chafurdar" ou "cair na cilada" de certas emoções é mais
dramaticamente evidente quando se compara a experiência normal de um indivíduo ao trabalhar
uma dificuldade da personalidade sozinho e ao agir assim na presença de outra pessoa
compreensiva. A diferença é dramática, porque durante muitas horas permanece dando voltas,
sentindo a mesma espécie de emoções e sem qualquer movimento de referência. Em contraste,
muitas vezes, dizer a outra pessoa apenas um pouco do que se tem estado sentindo e pensando
produz uma referência direta e um movimento de referência. Mais tarde, discutirei o papel da outra
pessoa ao tornar possíveis a focalização e outros processos terapêuticos. As respostas de outra
pessoa às emoções, por exemplo, podem tornar possível "admiti-las", "permiti-las" e "passar por"
elas, de modo a referir-se diretamente aos significados sentidos. É possível, muitas vezes, embora
sempre instável e difícil para o indivíduo focalizar sozinho.
2. Órbita-circunstancial. Assim como a gente pode se perder nas puras emoções de culpa, de
vergonha, ou de mal-estar, a gente também pode se perder numa enumeração interior das
circunstâncias tais como: o que a gente devia ter feito ou fez; o que outras pessoas fizeram, ou
deviam ter feito ou pode-se imaginar que fizeram etc. Tal jogo e repetição circunstanciais, as
repetições interiores de conversações, as reencenações dramáticas são claramente diferentes do
41
significado sentido que isto tem que o indivíduo poderia (talvez com ajuda) focalizar. Muitas vezes,
o cliente chega à terapia depois de horas de noites insones e dias cansativos desse tipo de "rodeios"
circunstancias e constata, com algumas respostas ao significado sentido de "tudo isso", que, com
grande alívio, agora se refere diretamente e desdobra os significados sentidos. Não importa que má
aparência venham ter, os passos fisicamente sentidos e verbalizados da focalização são claramente e
relevantemente diferentes da órbita circunstancial.
3. Órbita explanatória. As tentativas de explicação são diferentes da referência direta: "É
simplesmente assim que sou tão hostil?" "Isto deve significar que estou projetando alguma
homossexualidade latente". "Isto significa que tenho uma necessidade de fracassar". "É que estou
simplesmente tentando ser correto". "Estou apenas tentando conseguir o amor que não consegui
quando criança." "Isto é paranóia". "Outras pessoas não se perturbam com isto, portanto, deve ser
porque não sou agradecido pelo que tenho".
Quer os conceitos explanatórios sejam simples ou tolos, sofisticados e bastante corretos, são inúteis
a não ser que sejam usados como indicadores para nomear momentaneamente e sustentar um
significado diretamente sentido. Sem isso, nossas cogitações caem num vácuo e não "nos leva
adiante". O "rodeio" exploratório acelera o motor mental desligado das rodas. Faz a gente cansar-se
e confundir-se e é muito diferente da focalização do significado sentido. Até mesmo um pequeno
passo do processo de focalização pode mudar o cenário interior a ponto de todo um conjunto de
conceitos explanatórios de repente tornar-se irrelevante. Em comparação com o significado sentido,
os conceitos explanatórios são tão grosseiros, tão gerais, tão vazios, que, mesmo quando são
precisos, são abstrações inúteis.
4. Autoengenharia. Um quarto rodeio consiste em algo que podia ser chamado de autoengenharia.
Nesse também a gente não atende ao significado sentido. Em vez disso, a gente "fala a" si mesmo,
interiormente. A gente é muito ativo e construtivo, arrumando os sentimentos da gente sem parar
para sentir o que são eles. Esta autoengenharia é claramente diferente de focalizar um referente
sentido e de sentir e simbolizar seu significado implícito.
Nem sempre a autoengenharia é inútil. De fato, pode ser bem sucedida na medida em que a
experienciação a esse respeito funcione implicitamente. O problema com força de vontade e
engenharia não é, como Sullivan sustenta e Rogers algumas vezes parece supor, que tal coisa não
existe. Existe. A gente nem sempre flutua automaticamente na ação ou no autocontrole. Força de
vontade, decisão e autoengenharia são muitas vezes necessárias. Contudo, não podem ser exercidas
eficientemente nos pontos em que a experienciação não funciona implicitamente. Nestes aspectos,
respostas pessoais ou respostas dos outros são inicialmente exigidas, de modo que o processo possa
ser levado avante e a experienciação, de fato, funcione implicitamente.
Esta focalização pode ser o que sempre foi entendido em termos religiosos, por "ouvir a tranqüila
pequena voz". Isto tem, mais recentemente, sido confundido com consciência (e só em pessoas bem
ajustadas pode-se identificar consciência com referência direta). Muitas pessoas, com poucas
exceções, têm sido confundidas quanto a e onde interiormente "escutar" e "ouvir" esta voz. O que foi
dito acima indica que "escutar" realmente significa ficar quieto, parar de "falar" a si mesmo, e sentir
exatamente o que está lá, corporalmente sentido, significativo, e prestes a se tornar mais claro e pois
verbalizável.
A regra para focalizar - uma regra a ser aplicada interiormente a nós mesmos - é: "Fique quieto e
escute!". Depois, pelo reporte ao referente concretamente sentido, isto se desdobrará; o sentido do
seu significado e, depois, as palavras entrarão em foco.
Nota 10
Recorde nossa discussão anterior sobre o paradigma da repressão. Veja também nossa discussão
posterior sobre o inconsciente na definição 24.
Nota 11
Compare George Herbert Mead (1936, p. 445): "O self ... originado da atitude mais primitiva de
significar para outros, e mais tarde despertando no organismo a resposta do outro, porque esta
resposta é inata ao organismo, assim essa estimulação que a evoca em outro tende a evocá-la no
próprio indivíduo."
42
Nota 12
Este ponto já foi tratado por outros. Freud disse que a energia da defesa provém do reprimido - isto
é que a força concreta que motiva o comportamento é a força real, não obstante a natureza oposta e
irreal da estrutura que determina o comportamento. Rogers disse que a resposta mais terapêutica é
considerar o significado sentido básico intencional da autoexpressão do indivíduo pela sua acepção
declarada, não importa quão óbvia sejam a defesa e a racionalização. Mas podemos acrescentar
especificidade a estas afirmações mais gerais.
Nota 13
Chamo a isto um fato, porque em psicoterapia observamos isto. No contexto acima é uma questão
de formulação teórica, não de fato.
Algumas variáveis observáveis em pesquisa foram definidas: encontraram-se concordâncias com
um conjunto de descrições de "imediaticidade" que aumentam significativamente em terapia bem
sucedida (Gendlin e Shlien, 1961). Um grupo de terapeutas observou, durante as sessões dos casos
bem sucedidos, significativamente mais da nova experienciação descrita acima (Gendlin, Jenny e
Shlien, 1960). Clientes bem sucedidos alcançaram resultados significativamente mais altos na escala
de definidas chamada maneira imediata de experienciação e de expressão (relativa ao self, a
significados pessoais, ao terapeuta, a problemas ... a qualquer conteúdos) do que os clientes que
fracassam.
Nota 14
Esta é uma dificuldade da maioria dos conceitos acerca da mudança de personalidade e
psicoterapia, como também da maioria dos conceitos de ideais, valores morais e sabedoria de vida.
Os conceitos dizem pouco de como parece que se chegou a um objetivo, mas não dizem nada sobre
o processo de chegar lá. Tais conceitos provocam todo tipo de dano, pois somos inclinados a tentar
enquadrá-los sem nos permitir o processo muito diferente de chegar lá. Melhores conceitos sobre o
processo de chegar lá podem remediar este antigo problema.
Nota 15
Muitos escritores contemporâneos apontam para a interação interpessoal essencial do indivíduo
humano. Daseinsanalyse, Sullivan, Mead e Buber mostram que a personalidade individual não é
uma peça de máquina autocontida com suas características primárias próprias que é então colocada
em interação. Ao contrário, a personalidade é uma interação.
Nota 16
Somente no conteúdo verbal e conceitual, a "autoexploração" é, em psicoterapia, distinguível da
"relação" pessoal. Como um processo de experiência , elas são a mesma coisa. O indivíduo pode
dizer "somente aqui eu sou eu mesmo" (mostrando o processo para incluir tanto o self quando o
relacionamento), ou pode falar mais acerca do relacionamento, ou mais sobre si mesmo. É o mesmo
processo quer o conteúdo pareça ser mais acerca do self, quer pareça ser mais acerca do
relacionamento.
Os instrumentais de uma pesquisa (Gendlin, Jenny e Shlien, 1960) utilizaram algumas variáveis
relacionadas a este ponto. Solicitou-se a psicoterapeutas que fizessem classificações à medida que
"terapia, para este cliente, focaliza principalmente seus problemas ou ... seu relacionamento com
você". Estas classificações não se relacionaram com os resultados.
Por outro lado, os resultados correlacionaram-se, de fato, com as duas escalas seguintes: "Quão
importante para o cliente é o relacionamento como fonte de nova experiência?". Exemplos: "Nunca
fui capaz de me entregar a simplesmente sentir-me dependente e desamparado como agora"; ou
"Esta é a primeira vez que eu realmente tive raiva de alguém". Outra escala que também se
correlacionou com os resultados foi: "Em que extensão realmente o cliente expressa seus sentimentos
e, em que medida ele, ao contrário, fala sobre eles?” Estes dados indicam que o resultado não é
afetado pelo fato de o conteúdo (tópico) ser o self ou o relacionamento. Ao contrário, importa se o
indivíduo está empenhado numa maneira de processo de interação em andamento, que envolve
aspectos da experienciação recém reconstituídos.
43
Nota 17
Vou escolher duas observações e mostrar como a reformulação as explica:
1. Uma seqüência de palavras é projetada, cada uma por frações de segundo, numa tela por meio de
um taquistoscópio. Quando o indivíduo é incapaz de ler a palavra, ela é projetada repetidas vezes.
Então, por exemplo, um indivíduo pode ser capaz de ler as palavras "grama", "democracia", "mesa",
"independência" com um número médio de repetições, mas para a palavra "sexo" exige o duplo de
repetições. As teorias do inconsciente explicam isto da seguinte maneira: o organismo pode
discriminar um estímulo e seu significado para o organismo sem utilizar os centros nervosos
superiores envolvidos na consciência.
As teorias atuais têm esta suposição em comum. Tais palavras como "inconsciente", "repressão",
"dissimulação", "não-eu", "negação à consciência", "subcepção", todas envolvem a inconfortável mas
aparentemente necessária suposição de que há uma discriminação antes que uma discriminação
consciente tenha lugar, e que a experiência ou conteúdo que o indivíduo perde em consciência existe
realmente, nele, em algum lugar. Como poder-se-ia explicar de outro modo o exemplo acima e
muitas outras observações exatamente como esta?
Mas não precisamos supor que alguma coisa no indivíduo primeiro lê a palavra sexo, depois o
torna ansioso a respeito dela e depois força-a permanecer fora da consciência. Ao contrário, seja-nos
permitido tentar interpretar esta observação como um caso em que o indivíduo jamais a lê até que o
faça conscientemente. Por que, então, demora tanto em ler exatamente aquela palavra, quando
podia ler as outras na metade do tempo? Tentamos mostrar antes (definições 4 e 16) que, a fim de
ler a palavra e dizer o que é, a função da experienciação sentida é necessária. Lemos sem pensarmos
explicitamente os significados daquilo que lemos. Temos as imagens sonoras e temos o significado
sentido. Então, se, por alguma razão, nosso processo sentido não pode interagir com as palavras,
nossos olhos podem continuar, mas não podemos dizer o que acabamos de ler.
Para explicar o assunto, a teoria do processo deve tomar o lugar da teoria do conteúdo. O processo
de interação com os símbolos, de "lê-los", exige a função da experienciação (o processo corporal
interiormente sentido). Se este processo sentido não estiver funcionando em alguns aspectos, então
a discriminação esperada não ocorrerá nestes aspectos. Os aspectos que devem ser explícitos não
funcionarão e, portanto, não podem interagir e interpretar a situação atual. Assim, nestes aspectos,
o indivíduo pode construir erroneamente ou simplesmente perder (ser incapaz de completar) o
processo, sem que isto implique que ele primeiro tenha interpretado plenamente esses aspectos e
depois os mantenha fora da consciência.
A diferença pode ser posta simplesmente: as teorias do conteúdo supõem que se completa o
processo de conhecer, experienciar, interpretar, reagir, mas que algo deste processo não alcança a
consciência. A teoria que apresentamos mantêm que o processo não ocorre simplesmente.
"descarrega", "liberta", "simboliza", "completa" - em resumo, tem alguma relação profundamente sentida
- a condição que ele sentiu fisicamente durante os quatro dias precedentes. O processo não estava
ocorrendo e isto contribuiu para uma condição fisiológica que somente agora está alterada. Quando a
experiência "presa à estrutura" "se completa", sentimos que agora conhecemos que era então; não a
conhecíamos naquele momento porque o processo agora em andamento é diferente da condição
bloqueada de então.
Somente ao completar o processo pela resposta ao sentimento ou ao significado sentido que está lá (e
não é raiva), o indivíduo então se "torna consciente" da raiva. Se vemos isto em termos de conteúdo,
é tudo muito confuso. Primeiro, o conteúdo não está lá, ou então, mais tarde, se diz ter estado lá o
tempo todo (escondido lá, em algum lugar). Mas em termos de processo é precisamente esta relação
profundamente sentida da raiva posterior com a condição previamente sentida, que nos diz que um
processo previamente bloqueado somente agora foi completado.
Portanto, não precisamos supor duas mentes no indivíduo - uma sendo uma mente inconsciente
que primeiro percebe um conteúdo e depois permite ou proíbe a mente consciente de percebê-lo.
Ao contrário, o sentimento consciente (seja o que for - digamos que seja a tensão ou insatisfação, de
modo algum, a raiva) deve ser respondido e levado adiante. Somente, por isso, verdadeiramente, o
processo se completa e a raiva (ou qualquer conteúdo suposto) se torna um aspecto do processo
reconstituído.
Nota 18
sensorium - centros nervosos nos quais as impressões externas tornam-se localizadas,
transformadas em sensações e transferidas por ação reflexa ao corpo.
Nota 19
Numa ampla pesquisa (Rogers, 1960, p. 93) sobre psicoterapia com esquizofrênicos na qual estou
trabalhando, estamos aplicando variáveis de processo às mudanças de comportamento de
psicóticos. Os resultados até agora (Rogers e outros, 1961) indicam que o aperfeiçoamento nos testes
de diagnóstico está associado com variáveis operacionais de comportamento de uma maneira de
experienciação menos rígida, menos repetitiva, menos presa à estrutura, e de um maior uso da
experienciação sentida como um referente direto e como uma base para comportamento, expressão
e relato. Estes resultados iniciais são definidos em termos de variáveis de classificação e
procedimento de classificação.
Nota 20
Autoexpressão do terapeuta usada para reconstituir o processo:
Quando a verbalização ou o comportamento do cliente nos dá um sentido dos significados
implícitos e sentidos a partir dos quais ele fala, então responder a isso (mesmo se não é de todo
claro) leva o processo adiante e também o reconstitui. Contudo, quando o cliente está calado ou fala
somente de coisas externas, então a expressão dos sentimentos do terapeuta é um modo importante
de resposta, que pode reconstituir o processo de experienciação do cliente.
Há várias outras espécies de dificuldades. Algumas vezes o que o cliente diz é bizarro e difícil de
compreender. Se há pequenos pedaços que fazem sentido, a gente deve responder a eles
cuidadosamente, conferindo a compreensão da gente. Isto dá ao indivíduo isolado um sentido de
contato momento-a-momento - algo semelhante ao quebra-mar para um homem que está se
afogando. Não quero ser somente poético ao dizer isto. Desejo mostrar a necessidade de uma
sensação concretamente sentida do ouvinte em interação, a qual, quando disponível ao cliente, deve
ser dada a cada momento durante a conversa que é difícil de seguir.
Às vezes, não há conteúdo lógico compreensível, mas as imagens simbólicas acrescentam-se aos
sentimento. (Cliente: O exército australiano tomou toas as minhas posses. Eles vão me pagar um
milhão de dólares. Terapeuta: Alguém fez sujeira com você? Se apossou de tudo que você tinha?
Você quer uma restituição?).
Algumas vezes, menos ainda é compreensível, mas a gente pode estar certo de que o indivíduo está
sofrendo, solitário, ferido, vivendo um tempo difícil. O terapeuta pode falar sobre qualquer uma
dessas coisas, sem necessitar qualquer respostas confirmatória do cliente.
45
Algumas vezes, o terapeuta deve simplesmente imaginar o que pode estar ocorrendo no cliente. Se o
terapeuta diz que não sabe, que gostaria de saber, mas não precisa que lhe diga e imagina tal-e-tal-
coisa, ele pode falar sobre o que imagina e com isso um processo de interação é restaurado.
O cliente pode não dizer uma palavra, mas o que está ocorrendo é um processo sentido de
interação, no qual articulação e simbolização são dadas a seu sentimento. O comportamento de uma
pessoa pode reconstituir a interação e o processo de experienciação de outra pessoa (veja definição
23).
Durante as horas de silêncio, o terapeuta pode expressar o que pode estar ocorrendo numa pessoa
perturbada sentada lá, inconfortavelmente, ou, o que está se passando no terapeuta, quando deseja
ajudar, deseja ouvir, deseja não pressionar, odeia ser inútil, se alegraria se soubesse que o tempo em
silêncio seria útil, ou imagina muitos sentimentos e talvez alguns dolorosos que passam pela mente
do cliente, que ainda não está preparado para falar sobre eles.
Estas autoexpressões do terapeuta exigem quatro especificações:
1. Elas são expressas explicitamente como pertencendo ao terapeuta. Se implicam qualquer coisa sobre
o cliente, então, o terapeuta diz que não está certo de que seja assim, que ele imagina, que ele tem
esta impressão etc. Não se faz necessária afirmação ou negação do cliente. É o terapeuta que fala
por si mesmo.
2. O terapeuta emprega alguns momento focalizando o sentimento que pode expressar. Busca algum
aspecto a partir de tudo que ele sente, algum pedacinho que ele possa segurar e simplesmente
dizer. Ninguém pode dizer tudo dos milhares de significados implícitos que ele sente no momento.
Um ou dois - especialmente aqueles que, no momento, parecem demasiado pessoais, ou ruins ou
embaraçosos - tornam-se, depois da focalização do momento, uma expressão íntima e pessoal da
interação presente.
Talvez seja difícil para mim que estejamos calados e talvez eu seja inútil para ele. Tá! Isso é algo que
posso dizer-lhe. Ou, pergunto-me se nesse silêncio ele está fazendo seja o que for. Vejo que me sinto
bem em estar calado se isso lhe dá tempo e espaço para pensar e sentir. Posso expressar isto. Tais
expressões são uma interação calorosamente pessoal. Mas elas exigem alguns momentos de
autoatenção durante os quais possa focalizar e desdobrar minha experienciação presente nesta
interação.
3. As frases e os significados que surgem em nós são muito fortemente influenciados por nosso
sentimento global para com a pessoa com quem falamos. A atitude terapêutica para com o cliente
como uma pessoa é uma atitude de ser totalmente para ele - "a consideração incondicional" de
Rogers (1957). Whitehorn (1959) denomina isso como semelhante ao "advogado" do paciente. É uma
atitude que seja o que for que nós desaprovemos acerca desta perturbação, o indivíduo como uma
pessoa está face a face com aquilo nele. Posso sempre verdadeiramente supor isso. (Esta atitude não tem
nada a ver com a aprovação global ou a concordância ou gostar deste ou daquele comportamento,
traço, atitude ou peculiaridade). Muitas vezes, devo imaginar a pessoa por dentro, que está "face a
face" com isso. Somente meses depois chego mesmo a amar e a conhecer essa pessoa.
É surpreendente o quanto esta é uma atitude definível e concreta. Pode-se depender dela. Há
sempre uma pessoa "face a face" com qualquer coisa desagradável nela.
4. Quando o cliente se expressa, se faz necessária uma resposta a isso. Nessas ocasiões, a
autoexpressão do terapeuta pode ser obstáculo.
Quando se tem a oportunidade de responder ao sentimento do cliente, a seu significado específico
sentido, e a maneira exata de perceber e de interpretar algo, responder exatamente a isso é a melhor
e a mais poderosa resposta. Os modos autoexpressivos de responder são adequados àqueles
clientes que fornecem pouco a que se pode responder. Os modos autoexpressivos de responder são
importantes com aquelas pessoas rotuladas psicóticas, que expressam pouco sentimento, somente
descrições situacionais externas, ou que ficam sentadas em puro silêncio. Todavia, há muitas
pessoas funcionando bem, com as quais é difícil formar uma interação profunda, porque não se
expressam. Kirtner e Cartwright (1958) constataram que se pode predizer que os indivíduos
fracassam na terapia, quando em suas primeiras entrevistas mostram pouca atenção interior.
Recentemente, estamos aprendendo que a autoexpressão do terapeuta pode ajudar a reconstituir a
interação e o processo de experienciação de tais indivíduos.
46
Nota 21
Uma nota sobre muitos termos novos:
No campo da mudança de personalidade faltam-nos em grande parte conceitos suficientemente
específicos para discutir e definir as observações. A presente teoria tenta oferecer tais conceitos.
Espera-se que com estes conceitos (e outros) nosso pensamento e discussão avancem e nossa
habilidade em isolar e definir observações se agucem.
Pode haver alguma dificuldade em aceitar novas definições como referente direto, movimento do
referente, levar adiante, reconstituir, maneira de experienciação, função implícita. Não se pode esperar que
todas as vinte e seis definições tenham sucesso em participar da linguagem. Contudo, precisamos
destes termos (ou de melhores) para discutir a mudança de personalidade.
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