Estudo Teórico e Experimental de Paredes
Estudo Teórico e Experimental de Paredes
Estudo Teórico e Experimental de Paredes
Abstract
One of the factors to be taken into account in the design of compression loaded
elements is their slenderness. Nowadays, in Brazil, the industry still uses the
Guilherme Aris Parsekian concept of simplified slenderness ratio - in which the buckling length is determined
Universidade Federal de São Carlos
São Carlos - SP - Brasil
by an effective height (hef) and the radius of gyration is replaced by a parameter
called effective thickness (tef) - when calculating the resistance reduction factor.
Other masonry codes, such as the North American, European and Australian, also
Márcio Roberto Silva Corrêa use the resistance reduction factor in their wall compression load capacity
Universidade de São Paulo
São Carlos - SP - Brasil formulation. Yet, the Canadian code indicates the need for a more accurate and
realistic analysis of slender walls, considering the balance in the deformed
configuration of the wall (P-Delta analysis). This paper reports the findings of an
Guilherme Martins Lopes experimental program that tested 18 ceramic and concrete block walls with high
Morelli Lopes Engenharia
Prado Jaú – SP - Brasil slenderness ratios, obtained with thin block dimensions. The predictions of load
capacity for the case of hollow concrete blocks were close to the test results. In the
Isabella Cavichiolli
case of the ceramic blocks, which had a complex, double-face shell geometry, only
Universidade Federal de São Carlos the Canadian code approach produced the test results with some degree of
São Carlos – SP – Brasil certainty and proximity. Slenderer walls and complex geometry blocks require
more refined calculation procedures. P-Delta analysis and the verification of the
section with brittle-tensile materials solutions may apply.
Recebido em 25/05/15
Aceito em 22/05/16 Keywords: Structural masonry. Slenderness. Compression.
PARSEKIAN, G. A.; CORRÊA, M. R. S.; LOPES, G. M.; CAVICHIOLLI, I. Estudo teórico e experimental de paredes 197
esbeltas de alvenaria estrutural. Ambiente Construído, Porto Alegre, v. 16, n. 4, p. 197-213, out./dez. 2016.
ISSN 1678-8621 Associação Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído.
http://dx.doi.org/10.1590/s1678-86212016000400114
Ambiente Construído, Porto Alegre, v. 16, n. 4, p. 197-213, out./dez. 2016.
Introdução
Desde a antiguidade a alvenaria vem sendo Atualmente no Brasil, com o grande
utilizada como estrutura em diversos tipos de desenvolvimento dos procedimentos de cálculo e
edificações, e a literatura informa amplamente dos materiais aplicados para alvenaria estrutural,
sobre o desenvolvimento histórico da alvenaria têm sido construídos edifícios altos em que as
estrutural. Nos Estados Unidos da América (EUA), paredes possuem espessura entre 14 cm e 19 cm,
entre os anos de 1889 e 1891, é construído o respeitando-se os limites de esbeltez impostos
edifício Monadnock, na cidade de Chicago, de 16 pelas normas brasileiras.
andares e cerca de 60 metros de altura, em que
A normalização brasileira trata o problema de
foram utilizados blocos cerâmicos, com paredes de esbeltez/flambagem de paredes de alvenaria de
espessuras que variavam de 30 cm no topo até forma muito simplificada, utilizando um
cerca de 1,80 m na base.
coeficiente redutor de resistência à compressão em
Essas grandes espessuras de paredes se davam pelo função da esbeltez do elemento estrutural. Esse
fato de que o modelo de cálculo da época admitia fator tem sua origem em normas e códigos de
que os esforços laterais do edifício deveriam ser construção internacionais bastante antigos,
integralmente absorvidos pelas paredes de fachada. remontando a épocas em que esses documentos
Uma concepção comum era manter o alinhamento tratavam o dimensionamento pelo Método das
externo das paredes, variando-se a espessura a Tensões Admissíveis, tendo sido perdida a efetiva
cada andar, o que fazia com que cada andar explicação dessa dedução. Em consultas feitas a
superior aplicasse suas cargas verticais nos andares vários pesquisadores estrangeiros e de tradição no
inferiores com excentricidade. Limitando-se o desenvolvimento de normas internacionais, sabe-se
deslocamento da parede superior sobre a inferior, o apenas que tal fator foi calibrado por meio de
momento correspondente a essa excentricidade não alguns ensaios experimentais, cujo registro hoje é
era suficiente para tombar o edifício, mas apenas desconhecido.
para equilibrar o momento gerado pelas ações
Com as diversas atualizações de normas
laterais. internacionais em alvenaria estrutural e com a
Avançando agora para a Europa do período pós- consequente adoção do Método dos Estados
Segunda Guerra Mundial, era necessária a Limites para dimensionamento, esse fator foi
construção de muitas edificações, por conta da modificado. Na normalização brasileira, mesmo
destruição causada, com baixo custo e elevada com a adoção do Método dos Estados Limites, o
rapidez, ou seja, racionalizadas. fator original continua vigente, o que pode gerar
contradição na atualização das normas brasileiras.
Nessa época engenheiros avaliaram que o sistema
de pórticos (pilares e vigas) poderia não ser Estudos comparativos sobre o efeito da redução da
econômico para edifícios residenciais que possuem resistência devida à esbeltez (PARSEKIAN, 2002;
diversas paredes de divisórias. Com isso se pensou CORREA; SILVA, 2010) mostram que existem
em apoiar as lajes diretamente nas paredes e grandes diferenças nos resultados quando se
utilizar as paredes como estrutura. Porém era compara o método simplificado na NBR com os de
preciso avançar o conhecimento sobre a alvenaria outras normas internacionais, especialmente para
como estrutura. A partir de pesquisas iniciadas índices de esbeltez elevados.
nesse período surgiram novos materiais e Essas diferenças provavelmente não induzem à
procedimentos de cálculo.
perda de segurança na maioria das estruturas
Um exemplo marcante desse período são os nacionais porque o índice de esbeltez tem sido
edifícios construídos na Suíça, na década de 50, limitado a valores baixos, em especial no caso da
pelo engenheiro e professor Paul Haller. Um alvenaria não armada. Porém, valores mais altos de
edifício composto de 18 andares foi construído em esbeltez são comuns em depósitos, supermercados,
alvenaria não armada com paredes de espessura shopping centers, ginásios de esportes, casas
entre 30 cm e 37,5 cm. Foi uma revolução no uso populares térreas com bloco de pequena espessura
da alvenaria estrutural. Era pioneira a utilização de e em edificações residenciais com pé-direito duplo.
procedimentos racionais de dimensionamento, A garantia de segurança dessas estruturas, sendo os
devendo-se, porém, ressaltar que isso só foi cálculos realizados da forma usual, é, portanto,
possível após estudos teóricos e experimentais, questionável.
bem como sua correlação. Estima-se que o
Paredes muito esbeltas levam ao desenvolvimento
professor Paul Haller tenha ensaiado mais de 1.600
de excentricidades adicionais devidas à
paredes de alvenaria para fundamentar seus deformação lateral em um efeito conhecido como
trabalhos. P∙∆. Mais recentemente foram desenvolvidos
O índice de esbeltez na norma brasileira NBR em alvenaria no Brasil, assim como não é o caso
15961-1 (ABNT, 2011a) está limitado em 24 para do detalhe das paredes ensaiadas (Eq. 1).
alvenaria não armada e em 30 para alvenaria 3
𝛾𝑓 ∙𝑃𝑘 1,0 𝑝𝑎𝑟𝑒𝑑𝑒𝑠 0,7 𝑓𝑝𝑘 ℎ
armada; na norma canadense CSA S304.1 ≤{ }∙ ∙ [1 − ( 𝑒𝑓 ) ] Eq. 1
𝐴 0,9 𝑝𝑖𝑙𝑎𝑟𝑒𝑠 𝛾𝑚 40𝑡𝑒𝑓
(CANADIAN..., 2004) está limitado em 30 para
ambas; para a norma europeia BS EN 1996-1-1 Onde:
(BRITISH..., 2005b) está limitado em 27 também Pk: força normal atuante (kN);
para ambas. Para a norma americana ACI 530
(AMERICAN..., 2013) o índice de esbeltez é a fpk: resistência à compressão característica do
razão entre a altura efetiva (he) e o raio de giração prisma (kN/m2);
da parede (r). Deve-se destacar que devido às m: coeficiente de segurança da alvenaria (𝛾𝑚 =
simplificações de cada norma o mesmo “índice de 2,0), combinação normal;
esbeltez” pode levar a paredes com diferentes
esbeltezes reais. Como a condição laje-laje é f: coeficiente majorador das ações (𝛾𝑓 = 1,40),
entendida com altura efetiva 1,0 na normalização combinação normal;
brasileira e 0,75 na normalização europeia, a hef: altura efetiva (m); e
“esbeltez” 20 europeia equivale à “esbeltez” 15
brasileira. tef: espessura efetiva (m).
Entretanto, a equação como deduzida é aplicável do valor de projeto de carga crítica, deve-se ainda
apenas em diagramas simétricos, com mesma incluir o coeficiente redutor da resistência da
excentricidade na base (e2) e no topo (e1). Quando alvenaria, γm, usualmente especificada como 2,0.
o valor de e2 é maior que e1, um fator de A carga crítica de flambagem (Euler), P cr, pode
equivalência Cm (Eq. 11), deduzido originalmente então ser obtida por (Eq. 12):
para dimensionamento de estruturas de aço, deve 𝜋2 (𝐸𝐼)
𝑒𝑓
ser incluído (Eq. 10): 𝑃𝑐𝑟 = (𝑘ℎ)2(1+0,5𝛽 Eq. 12
𝑑 )𝛾𝑚
𝐶𝑚
𝑀𝑑,𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 = 𝑀𝑑 𝑃 , Eq. 10 Recentemente, na versão de 2014, a norma CSA
1− 𝑑⁄𝑃
𝑐𝑟 S304.1 inclui recomendações específicas para
𝐶𝑚 paredes muito esbeltas, com índice de esbeltez
Onde o termo 𝑃𝑑 é chamado de coeficiente
1− ⁄𝑃 superior a 30:
𝑐𝑟
amplificador de momento. (a) as paredes devem ser armadas;
𝑀1 𝑒1
𝐶𝑚 = 0,6 + 0,4 = 0,6 + 0,4 ≥ 0,4 Eq. 11 (b) a espessura dos blocos deve ser no mínimo
𝑀2 𝑒2
igual a 140 mm;
A fissuração da alvenaria, a consideração da não
linearidade da relação tensão-deformação da (c) deve-se assumir a condição das extremidades
alvenaria e o escoamento do aço são fatores que como simplesmente apoiadas;
influenciam o cálculo da rigidez da alvenaria (EI), (d) a carga máxima aplicada não deve
tornando muito difícil estimar um valor preciso corresponder a mais do que 10% da resistência de
para essa grandeza por um método simples. Para prisma, com valores de projeto para a solicitação e
simplificar e permitir a análise do elemento, um a resistência;
valor de EI reduzido, para levar em conta esses
efeitos, é especificado, sendo a rigidez reduzida (e) a máxima área de armadura deve levar à
chamada de “efetiva”, EIef, podendo ser estimada posição relativa da linha neutra da seção, x/d ≤ 600
por: / (600 + fy); e
𝐸𝐼𝑒𝑓 = 0,4𝐸𝑎 𝐼0 para alvenaria não armada (f) deve-se obrigatoriamente dimensionar a
parede levando-se em conta os efeitos P·.
𝑒−𝑒𝑘
𝐸𝐼𝑒𝑓 = 𝐸𝑎 [0,25𝐼0 − (0,25𝐼0 − 𝐼𝑐𝑟 ) ( )]
2𝑒𝑘
Norma europeia BS EN 1996-1-1
para alvenaria armada,
Onde: A norma europeia BS EN 1996-1-1 (BRITISH...,
2005b) apresenta o procedimento descrito abaixo
𝐸𝑎 = módulo de elasticidade da alvenaria (800fpk para o dimensionamento à compressão em paredes
para blocos de concreto ou 600fpk para blocos não armadas. Essa norma permite estimar a
cerâmicos); resistência da parede em função da resistência do
𝐼0 = momento de inércia da seção não fissurada bloco e da argamassa com parâmetros variáveis em
(área efetiva para alvenaria não armada, área função do material e da geometria da alvenaria.
equivalente para alvenaria armada); w Neste artigo apresenta-se apenas a parte relativa à
redução devida à esbeltez e à excentricidade.
𝑒𝑘 = excetricidade para início da fissuração por
tração (relação W/A da seção não fissurada). No estado limite último, o valor de cálculo da
força normal aplicada a paredes de alvenaria, NSd,
No caso de alvenaria armada Eef, não deve ser deve ser inferior ou igual ao valor de projeto de
tomado maior que 0,25𝐸𝑎 𝐼0 , nem menor que 𝐸𝑎 𝐼𝑐𝑟 resistência à compressão da parede, NRd, de tal
(Icr é o momento de inércia da seção fissurada). forma que (Eq. 13):
Ainda, para levar em conta as deformações lentas 𝑁𝑆𝑑 ≤ 𝑁𝑅𝑑 = 𝜙 𝑡 𝑓𝑑 Eq. 13
ao longo do tempo, o valor de Eef deve ser dividido
por (1 – 0,5d), onde d é a razão entre o momento Onde:
devido à ação permanente e o momento devido à ϕ: fator de redução de capacidade;
ação total. Deve-se destacar que o valor de d é t: espessura da parede (m); e
aqui calculado em função do momento, e não da
carga força normal, como seria adotado para fd: resistência à compressão de projeto da alvenaria
seções de concreto armado. O coeficiente 0,5 é (kN/m2).
utilizado para estimar efeitos de retração e O valor do fator de redução ϕ a ser utilizado deve
fluência, e esse valor leva a reduções de rigidez ser o menor entre o redutor do topo da parede e da
menores do que seria usualmente adotado para base (ϕi), Eq. 14 e 15, e o redutor do meio da
seções de concreto armado. Para a determinação parede (ϕm).
𝑒𝑖
𝜙𝑖 = 1 − 2 Eq. 14 Nmd: valor de projeto da força normal no meio da
𝑡
altura da parede (kN);
Onde:
ehm: excentricidade a meia altura, resultante de
t : espessura da parede (m); e cargas horizontais (por exemplo, vento) (m);
ei : excentricidade na parte superior ou inferior da hef: altura efetiva da parede (m);
parede,
tef: espessura efetiva da parede (m); e
𝑀𝑖𝑑
𝑒𝑖 = + 𝑒ℎ𝑖 + 𝑒𝑎 ≥ 0,05𝑡𝑒𝑓 Eq. 15 ek: excentricidade devida à fluência, calculada
𝑁𝑖𝑑
Caracterização da argamassa, bloco, cerâmicos com armadura (Figura 2). Nas paredes
graute, prisma e pequena parede com armadura foram utilizadas duas barras com
diâmetro de 12,5 mm, dispostas de acordo com a
Os materiais utilizados, suas especificações e os Figura 3. As paredes foram construídas sobre uma
resultados da caracterização estão indicados na base metálica. Nos ensaios essa base com a parede
Tabela 3. A argamassa para blocos cerâmicos foi era colocada sobre uma faixa de neoprene com 2
utilizada com traço em volume 1,0 : 2,5 : 4,5 – a/c cm de largura; esta, por sua vez, sobre uma viga
: 1,5, sendo o traço para blocos de concreto 1,0 : metálica (Figura 4 e Figura 5). Dessa forma, o
2,0 : 2,5 – a/c : 0,95. O traço do graute, também ensaio reproduz de forma rigorosa a condição de
em volume, foi 1,0 : 0,1 : 1,4 : 1,6 – a/c : 0,60, articulação na base e no topo. Deve-se destacar
com 1,5 % de aditivo compensador de retração. que essa condição é mais rigorosa que a condição
Mais detalhes da caracterização e dos ensaios de ensaio preconizada na NBR 14321 (ABNT,
podem ser verificados em Lopes (2014). 1999) e que a condição usual de construções, em
Desenhando os blocos de acordo com as medidas que usualmente a base e o topo são apoiados
médias obtidas nas medições dos ensaios diretamente sobre bases largas (laje no caso da
dimensionais, obtêm-se os valores descritos na construção, chapa metálica no caso de ensaios
Tabela 4. A Tabela 5 e 7 indicam os resultados dos usuais de parede). A instrumentação foi composta
ensaios de bloco, argamassa, graute, prisma oco, de uma série de transdutores (Figura 6)
prisma grauteado e pequenas paredes. posicionados conforme a Figura 7. As paredes
tiveram onze pontos de medição de deslocamentos
horizontais, sendo três linhas de instrumentação:
Ensaio de paredes esbeltas uma central com cinco pontos, e duas laterais com
Foram moldadas 12 paredes com altura igual a três pontos cada uma. Um exemplo dos
2,80 m (14 fiadas), sendo divididas em quatro deslocamentos medidos em parede do grupo CPII
grupos: CPI blocos de concreto sem armadura; é mostrado na Figura 8. Esses deslocamentos
CPII blocos cerâmicos sem armadura; CPIII seguem a curvatura esperada para o problema. O
blocos de concreto com armadura; e CPIV blocos resumo dos resultados é indicado na Tabela 6.
Blocos de
12,62 15,57 - -
Concreto
Prismas de
4,26 6,18 7,10
Concreto (Oco)
Prismas de
Concreto 12,8 16,1 7,10 21,32/25,09
(Cheio)
Paredes de
Concreto (h=1,0 5,74 6,62 6,90 -
m)
Blocos
7,32 10,11
Cerâmicos
Prismas
Cerâmicos 2,9 4,05 4,93
(Oco)
Prismas
Cerâmicos 4,9 6,84 4,93 22,04/25,93
(Cheio)
Paredes
Cerâmicas 1,65 2,23 6,90
(h=1,0 m)
1,0
A solução é obtida de maneira iterativa: 𝑒 = 𝑀/𝑃 = 0,009 ; t = 0,09 m; tf =
1−𝑃⁄166
(a) admite-se um valor da excentricidade total no 0,0032m; fp = 0,47•10.460 = 492 kN/m2 Eq. 27
meio da parede;
Admitindo inicialmente e = 0,02 m r =
(b) calcula-se o valor de r com a Eq. 24; 0,0241 P = 16,4 kN e = 0,0010 r =
(c) calcula-se o valor de M no meio da seção com 0,0132 P = 21,0 kN e = 0,0103 r = 0,0136
a Eq. 23; P = 20,8 kN e = 0,0103 próximo ao
anterior. Observa-se que r = 0,01132 < tf = 0,032;
(d) calcula-se o valor de P com a Eq. 25; e portanto, ressalvando a aproximação feita, as duas
(e) calcula-se o valor de e=M/P; ... repete-se o faces do bloco estão comprimidas. Com esse valor
processo até que os valores de e inicial e final de P, a tensão de ruptura equivalente à área bruta é
coincidam, o que leva ao valor da carga P de de 0,19 MPa.
equilíbrio.
Para o caso de bloco de concreto, admitindo que r Norma europeia BS EN 1996-1-1
< tf (Eq. 26): Para o caso de Eurocode 6, deve-se considerar o
1,0 menor redutor calculado com a excentricidade de
𝑒 = 𝑀/𝑃 = 0,009 𝑃 ; t = 0,09 m; tf =
1− ⁄344 carga existente no topo e na base (ϕi) ou no meio
2
0,018m; fp = 15.381 kN/m Eq. 26 da parede (ϕm). Como não há momentos aplicados
Admitindo inicialmente e = 0,032 m r = no topo e na base, apenas ϕm é considerado como
0,0168 P = 248,1 kN e = 0,0323 r = crítico. Para o caso emk, é tomado como o mínimo
0,0169 P = 246,9 kN e = 0,0319 r = especificado (Eq. 18), igual a 0,05·0,09 = 0,0045
0,0168 P = 248,6 kN e = 0,0324 r = m. Das Eq. 17 e Eq. 16, calculam-se u = 1,38 e ϕm
0,0169 e = 0,0318 próximo ao anterior. = 0,349. Considerando a resistência da parede
Observa-se que r = 0,0169 < tf = 0,018; portanto, como 0,7·fp, chega-se à previsão de tensões de
as duas faces do bloco estão comprimidas. Com ruptura iguais a 1,51 MPa e 0,99 MPa (concreto e
esse valor de P, a tensão de ruptura equivalente à cerâmica respectivamente). A Eq. 17 considera o
área bruta é de 2,28 MPa. valor de Ea = 700fp. Outra consideração pode ser
feita considerando-se a Eq. 18, com valores de E
O caso do bloco cerâmico é mais complexo, pois iguais a 600fp e 800fp (concreto e cerâmica
cada face do bloco tem duas paredes, uma de 8 respectivamente), como indicado na normalização
mm e outra de 7 mm, com espaço de 17 mm entre brasileira. Com esse ajuste os valores da tensão de
elas. A análise aqui é feita de forma aproximada, ruptura são estimados em 1,72 MPa e 0,84 MPa
tomando-se tf igual à soma dessas três dimensões (concreto e cerâmica respectivamente).
(32 mm), porém com a resistência de prisma
corrigida pela razão entre a espessura real e a
Norma australiana AS 3700
considerada, igual a (7+8)/(7+17+8) = 0,47 (Eq.
27): Na AS 3700 (STANDARDS..., 2001) deve-se usar
a Eq. 22 para calcular a resistência, chegando-se a
valores de tensão de ruptura iguais a 2,03 MPa e formulação (NBR, ACI, Eurocode, AS). Também
1,33 MPa (concreto e cerâmica respectivamente). é possível comentar que as formulações da maioria
das normas levam em conta resultados de ensaios
Discussão de blocos maciços e, portanto, não permitem levar
em conta a real geometria da seção. A retirada de
A Tabela 8 resume os resultados das previsões de vazio central de um bloco maciço, tornando-o
tensão de ruptura de acordo com cada norma, em vazado, altera um pouco a relação entre momento
comparação com os resultados obtidos nos ensaios. de inércia e área da seção da parede. Usualmente
É possível observar que em todos os casos a se aumenta o raio de giração em blocos vazados
previsão de ruptura das paredes de blocos de quando comparados com blocos maciços. Apenas
concreto, cuja geometria de bloco vazado é usual as prescrições da norma canadense CSA levam em
em todos os países, é bastante razoável por conta, de forma genérica, a real seção da parede e
qualquer norma. A previsão das normas brasileira, o real valor do módulo de elasticidade. Geometrias
americana e canadense resulta entre 15% e 18% complexas, não usuais em outros países, como
maior que o obtido nos ensaios. Um fator parece ser o caso dos blocos cerâmicos vazados
favorável à norma brasileira é que essa indica com paredes dos blocos também vazadas, podem
prever condição birrotulada nas extremidades, exigir uma melhor formulação para ser possível
mesmo na condição de vinculação laje-laje (base- prever a ruptura de elementos comprimidos de
topo), que ocorre na maioria das vezes (os ensaios maior esbeltez.
foram feitos com condição rigorosa de articulações
na base e no topo). Dessa forma, provavelmente Conclusão
não há grande preocupação em se utilizar esse
fator simplificado, dentro do limite previsto. Deve- Paredes muito esbeltas devem ser armadas, tendo
se ainda considerar que o dimensionamento é feito sido verificadas grande instabilidade e baixíssima
com valores característicos, e não médios, e inclui carga de ruptura para as paredes ensaiadas com
coeficiente de minoração da resistência da h/t=31,1. Destaca-se ainda que o efeito da esbeltez
alvenaria igual a 2,0 (combinação normal). Pelo é sensível ao módulo de elasticidade da parede.
Eurocode, a carga de ruptura prevista é 25% menor Assim, blocos de maior resistência, que levam a
que a obtida nos ensaios, sendo essa a mais alvenaria de maior módulo de elasticidade, E, são
conservadora das normas. mais apropriados para paredes esbeltas. É
interessante ressaltar a recomendação da norma
Para o caso de paredes com blocos cerâmicos de canadense que permite a construção de paredes
geometria complexa de blocos vazados (com esbeltas, porém limitando a tensão a 10% da
paredes dos blocos também vazados), apenas a resistência do prisma (em valores de projeto) em
norma canadense permitiu prever uma tensão de paredes armadas.
ruptura mais próxima da verificada nos ensaios e
com alguma segurança. Os resultados das demais A partir do estudo realizado, pode-se concluir que
normas são muito superiores à real tensão de as formulações aproximadas das normas de
ruptura e, portanto, contra a segurança. alvenaria não são adequadas para prever a ruptura
de parede de bloco cerâmico de geometria de
Em todas as formulações é possível verificar que a parede vazada. Para essa situação, apenas a
carga de ruptura de uma parede esbelta é formulação mais precisa da norma canadense, que
dependente do valor do módulo de elasticidade leva em conta o efeito P Δ e analisa a ruptura da
adotado. Em várias normas, o módulo é estimado seção como um material não resistente à tração,
simplesmente como 700 a 1.000 vezes a resistência pôde ser aplicada com segurança.
do prisma, sendo esse valor subtendido na
Tabela 8 - Comparação da resistência à compressão das paredes esbeltas (h/t = 31,1) obtida nos
ensaios com procedimentos indicados em normas
Resultado Relação norma/ensaio
Referência
Concreto Cerâmica Concreto Cerâmica
Ensaio 2,00 0,32 1,00 1,00
NBR 15961-1 (ABNT, 2011a) 2,31 1,52 1,16 4,74
ACI 530 (AMERICAN..., 2013) 2,36 1,26 1,18 3,92
CSA S304.1 (CANADIAN..., 2004) 2,30 0,19 1,15 0,60
BS EN 1996-1-1 (BRITISH..., 2005b) 1,51 0,99 0,75 3,09
AS 3700 (STANDARDS..., 2001) 2,03 1,33 1,01 4,15
Isabella Cavichiolli
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