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LEGISLAÇÃO E POLÍTICAS DA
EPT NO BRASIL
34 f.;31 cm.
34 p.
Referências: f. 28-34.
SUMÁRIO
1
Os textos deste material foram adaptados da tese “Os processos de acesso e permanência nos cursos Proeja do
IFRJ: entre percalços, demandas e potencialidades”, defendida por Jupter Martins de Abreu Júnior em 2017 no
Programa de Pós-Graduação em Educação (ProPEd) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).
ofícios ensinados eram marcenaria, alfaiataria e sapataria, cursos que, segundo o autor,
mostravam certa distância entre as metas dos idealizadores da proposta e a realidade das
escolas, já que esses ofícios eram considerados de caráter artesanal, aspecto que colocava
em segundo plano a finalidade principal de seus criadores, que priorizava o caráter
manufatureiro, já vislumbrando um ensino industrial. O autor (CUNHA, 2000) também afirma
que a criação dos cursos não seguia critérios que considerassem possíveis demandas
industriais, que então se iniciavam, ou mesmo qualquer forma de adaptabilidade às questões
locais.
Tendo como base a leitura do Decreto n. 7.566, de 1909, corroborada por Frigotto
(2011), adverte-se que o ensino profissional do início do século XX tinha a intenção de priorizar
o atendimento aos filhos dos setores menos favorecidos da sociedade. Segundo o autor, essa
organização educacional também indicava que os filhos dessas classes sociais,
compulsoriamente, deveriam optar por um tipo de educação que não possibilitava dar
continuidade aos estudos caso quisessem, o que constituiria um entrave para a superação da
condição social em que viviam. Essas limitações, somadas à precarização de alguns cursos,
caracterizaram a chamada “educação pobre para os pobres”, que se apresentaria de diversas
formas ao longo do século XX.
No período da Constituição Federal (CF) de 1937, também se observa uma política
discriminatória em relação ao acesso e desenvolvimento na educação, pois somente às elites
cabia o privilégio de frequentar a escola secundária voltada à formação intelectual dos sujeitos.
Aos pobres, chamados de “classes menos favorecidas” na CF, ofertava-se o ensino
profissionalizante, confirmando a continuidade dos aspectos já destacados por Frigotto (2011).
No texto constitucional (BRASIL, 1937, Art. 129) essas concepções são apresentadas da
seguinte forma:
O período que teve início com a regulamentação das Leis Orgânicas do Ensino
(Reforma Capanema), na década de 1940, inaugurou uma série de transformações na
educação brasileira, entre as quais pode ser destacada a criação do Serviço Nacional de
Aprendizagem Industrial (SENAI) e o Serviço Nacional do Comércio (SENAC), órgãos que
motivaram e influenciaram a criação de instituições de cunho profissionalizante. Nessa mesma
época, foi promulgado o Decreto n. 4.036/1942, que ampliou a abrangência do SENAI para
setores além da indústria, inserindo também a pesca, o transporte e a comunicação. Esses
decretos potencializaram a configuração de uma rede de escolas técnicas organizadas e
gerenciadas por órgãos de representação empresarial. Esse conjunto de decretos e ações são
considerados o núcleo formador do conjunto de instituições denominadas Sistema S2
(MANFREDI, 2002).
Em termos gerais, observa-se que houve transformações no ensino técnico
profissionalizante durante a Era Vargas. Entretanto, também se visualiza uma ampliação na
chamada “dualidade de classes” ou “dualismo”. Essa característica mantinha a mesma
perspectiva existente no início do século XX, já que para aqueles sujeitos pertencentes aos
grupos favorecidos economicamente, havia a possibilidade de serem dirigentes, o acesso ao
ensino superior e uma educação intelectualizada, enquanto para os trabalhadores e seus
filhos, oriundos dos grupos menos favorecidos, caberia uma educação direcionada para
assumir cargos subalternos, muitas vezes precariamente e em cursos com carga horária
reduzida (FRIGOTTO; CIAVATTA; RAMOS, 2005).
2 Sistema S” designa um conjunto de instituições de caráter privado que são mantidas por contribuições das categorias
profissionais e recursos públicos, as quais têm por meta ofertar melhorias e aperfeiçoamento na formação profissional
dos trabalhadores. Podem ser destacadas, entre essas instituições, o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial
(SENAI); o Serviço Nacional de Aprendizagem do Comércio (SENAC); o Serviço Nacional de Aprendizagem do
Transporte (SENAT); o Serviço Social da Indústria (SESI) e o Serviço Social do Comércio (SESC), entre outros. Como
a maioria das instituições tem sua sigla iniciada pela letra "S", convencionou-se chamar este conjunto de instituições de
Sistema S (BRASIL, 2014).
Frigotto (2011) afirma que o “dualismo” reforçava a sociedade de classes, a partir da
apropriação privada da terra, do enriquecimento pela produção social e distribuição do
conhecimento. No Brasil, o “dualismo” teria se estabelecido por meio do escravismo e da
discriminação do trabalho manual. E mesmo que no final do século XX e início do XXI os
debates sobre analfabetismo e educação para as classes menos desfavorecidas tenham sido
incorporados às políticas de Estado, ainda se vê como uma das principais características da
educação brasileira a formação geral ofertada às elites, e a formação profissional para os
demais setores da sociedade.
De acordo com Frigotto (2011), esse “dualismo” ganhou um caráter estrutural a partir
da década de 1940, quando a educação brasileira foi reorganizada pelas Leis Orgânicas do
Ensino. Essas leis reforçaram o ensino acadêmico e aristocrático para a classe dominante,
assim como regulamentaram o ensino profissional em diversos ramos da economia,
caracterizando o que para Frigotto, Ciavatta e Ramos (2005) significou a fragmentação do
sistema educacional brasileiro. Essa característica pode ser visualizada na Figura 1, que
apresenta um resumo da estruturação da educação brasileira a partir da década de 1940, com
as alterações trazidas pelas Leis Orgânicas do Ensino:
Pode ser observado na Figura 1 que, a partir das Leis Orgânicas da década de 1940, o
ensino técnico profissional foi estruturado em três setores da economia (industrial, comercial e
agrícola). Na mesma Figura também é apresentada a área do magistério, denominada normal,
o ensino secundário, e na parte de cima o ensino primário.
De maneira geral, os cursos do ensino profissional se organizavam em dois ciclos: um
fundamental, de quatro anos, e outro técnico, que poderia ter de três a quatro anos. Também
destaca-se o caráter de seletividade aplicado, principalmente devido à obrigatoriedade de
exames de admissão que constituíam, no período, um pré-requisito para que o sujeito tivesse
acesso à etapa posterior, que poderia ser o ginásio, no caso do ensino secundário, o 1º ciclo
do normal ou o 1º ciclo dos cursos técnicos da área industrial, comercial e agrícola.
(ROMANELLI, 2014).
No caso do ensino primário, também apresentado na Figura 1, vê-se que, como o
Decreto-lei n. 8.529, de 1946 (Lei Orgânica do Ensino Primário) foi promulgado em momento
posterior à saída de Getúlio Vargas do governo, tornava-se possível um retorno à democracia e
à abertura de novos rumos para o acesso à educação. Dessa forma, a estruturação do ensino
primário, organizado em fundamental e supletivo, com duração de quatro e dois anos,
respectivamente, representava essa nova possibilidade.
De acordo com a afirmação de Shiroma (2004), a partir da regulamentação do Decreto-
lei n. 8.529/1946 nos Artigos 2º ao 9º, o ensino primário fundamental seria destinado a crianças
de sete a doze anos, e o ensino primário supletivo aos adolescentes e adultos que não
receberam esse nível de educação na idade considerada adequada.
O ensino secundário, regulamentado pelo Decreto-lei n. 4.244, de 1942, era dividido
em ginásio, com a duração de quatro anos, e o 2º ciclo, estruturado em clássico ou científico,
com a duração de três anos. O clássico intencionava oferecer a formação voltada para a área
de humanidades, enquanto o científico tinha como foco principal a formação que privilegiava as
ciências naturais e exatas (ROMANELLI, 2014). Em ambos os casos – clássico e científico —
os cursos não possuíam caráter de formação profissional, pois o objetivo era proporcionar
condições para o ingresso em cursos superiores.
Em Romanelli (2014) e Shiroma (2004) podem ser visualizadas diversas observações
sobre o ensino secundário regulamentado pelo Decreto-lei n. 4.244/1942, cujo ponto central
seria formar as “individualidades condutoras” do país. Assim, segundo as autoras, o Decreto só
reafirmava a tradição do ensino secundário acadêmico, propedêutico e aristocrático, refletindo
o momento político do Estado Novo, caracterizado por uma ideologia autoritária e populista.
No ensino industrial, além do 1º ciclo (básico) de quatro anos, existia o curso de
mestria, que tinha duração de dois anos e estava incluso nesse ciclo básico. O ensino técnico
pedagógico, inserido no 2º ciclo, tinha a duração de um ano, e visava a formação de
professores para atuação nas escolas com foco industrial, complementando assim a parte
técnica da área. Ainda inseridos no ensino industrial, havia os cursos artesanais, de duração
curta e variável, e os cursos de aprendizagem destinados à qualificação de aprendizes
industriais, com a intenção de manter vínculo direto com possíveis empregadores.
Quanto à questão do acesso ao ensino superior, é enfatizado por Romanelli (2014) que
só era permitido o ingresso em cursos superiores de áreas correlatas, então denominadas
como Ensino Superior Técnico, caracterizando inflexibilidade e diminuição de possibilidades
aos que optavam pelo ensino industrial.
O ensino comercial e o ensino agrícola tinham o 1º ciclo com duração de quatro anos e
vários cursos técnicos de três anos no 2º ciclo, tais como propaganda, estatística,
administração, contabilidade e secretariado na área comercial; e horticultura, agricultura,
zootecnia e prática veterinária na área agrícola. Assim como no ensino industrial, no ensino
agrícola havia o curso de mestria no ciclo básico, com duração de dois anos, e cursos
agrícolas pedagógicos, como didática do ensino agrícola e administração de ensino agrícola,
com duração de um ano. De maneira distinta dos outros cursos, no caso do ensino comercial e
do ensino agrícola não havia cursos superiores que pudessem ser oferecidos aos que
quisessem prosseguir tendo feito estes percursos de ensino, aumentando a precariedade
existente nestas áreas de conhecimento.
No ensino normal também havia o 1º ciclo (básico), de quatro anos, oferecido nas
chamadas Escolas Normais Regionais; e o 2º ciclo, com duração de três anos, ofertado nas
Escolas Normais e também nos Institutos de Educação, sendo que nestes últimos funcionariam
o 1º e o 2º ciclos, cursos de especialização para professor primário, habilitação de
administradores escolares, além do jardim da infância e a escola primária como cursos anexos.
Sobre a questão da continuidade de estudos e da falta de flexibilidade desses cursos,
Romanelli (2014) destaca que a formação de estudantes normalistas era limitada apenas a
alguns cursos da Faculdade de Filosofia, aspecto que restringia o acesso a determinadas
áreas de conhecimento. Em termos práticos, para quem cursasse o normal e quisesse
continuar os estudos em outras áreas fora da Faculdade de Filosofia, havia a necessidade de
realizar concomitantemente o ensino secundário (clássico ou científico) ou, ainda, realizar
exames de madureza, para se equiparar às possibilidades de acesso de quem tinha concluído
o ensino secundário. Também podem ser visualizadas outras contradições relativas à Lei
Orgânica do Ensino Normal, verificadas na discriminação imposta pelo Art. 21 do Decreto n.
8.530, de 1946, que regulamentou o ensino normal no país. O artigo determinava que não
fossem admitidos, em qualquer dos dois cursos, fosse no 1º ou 2º ciclo, candidatos maiores de
vinte e cinco anos (ROMANELLI, 2014).
Considerando a realidade brasileira da década de 1940, na qual a maioria do pessoal
empregado no magistério primário não possuía formação para a função e pertencia a uma faixa
etária que excedia o limite de vinte e cinco anos, observa-se que esse dispositivo impedia a
qualificação de quem já exercia o magistério sem possuir a formação oficial (ROMANELLI,
2014). Deste modo, vê-se mais um caso de o Estado, por meio de dispositivos legais, negar o
direito do acesso à educação e à formação profissional aos cidadãos.
De maneira geral, podem ser percebidas algumas diferenças com relação aos
direcionamentos do período do Estado Novo e o imediatamente posterior, principalmente em
termos de possibilidades de se fazer cumprir o direito à educação para o público adolescente e
adulto. Assim, de acordo com indicações de Romanelli (2014), a organização do ensino
primário supletivo, implementado em 1947, contribuiu efetivamente para a diminuição da taxa
de analfabetismo no final da década de 1940 e em toda a década de 1950. Com estas
observações a autora (ROMANELLI, 2014, p. 165), ratifica que “esse foi um dos aspectos da lei
que, por sinal, foi aplicado de forma positiva”.
4. A LEI Nº 5.692/1971
3
O período de transição da ditadura civil-militar à democracia, da distensão de um Estado autoritário para um Estado
de direito, da democracia relativa que culmina com a eleição de uma assembleia constituinte que formulará, com o
apoio e a influência dos movimentos populares reprimidos durante as duas décadas, a nova Constituição brasileira,
promulgada em 5 de outubro de 1988.
4
Ainda que existissem desde 1970 diversas ações de alfabetização e outros programas educativos, representados
principalmente pela Fundação Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL).
5
Vice-presidente que ascendeu à condição de Presidente após o impeachment de Fernando Collor de Mello.
6. A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL NA LDBEN Nº 9.394/1996
A partir de 2003, com o início do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, algumas
transformações puderam ser percebidas na educação brasileira, tais como o Decreto n. 5.154,
6
Cursos subsequentes são disponíveis a quem já tenha concluído o ensino médio, sendo planejado de modo a
conduzir o estudante à habilitação profissional técnica de nível médio.
7
Cursos concomitantes são disponíveis aos ingressantes no ensino médio ou àqueles que já o estejam cursando,
podendo ser realizados em instituições de ensino distintas ou na mesma instituição. No caso de serem realizados na
mesma instituição, devem ser efetuadas matrículas distintas para cada curso. Os cursos concomitantes são planejados
de modo a conduzir o estudante à habilitação profissional técnica de nível médio.
8
Lei que instituiu o Sistema Nacional de Educação Tecnológica (SNET), iniciando a gradativa transformação das
Escolas Técnicas Federais em CEFETs.
regulamentado em 2004, que revogava as indicações do Decreto n. 2.208/97, permitindo então
o retorno da integração entre educação profissional de nível técnico e o ensino médio (BRASIL,
2004a). Segundo Frigotto, Ciavatta e Ramos (2005), a revogação do Decreto n. 2.208/1997 era
urgente e necessária, pois representava o caráter autoritário e mercantilista das reformas do
governo FHC. O ano de 2004 também marca o início da vigência do Decreto n. 5.224 que, ao
dispor sobre a organização dos CEFETs, ampliou suas condições de atuação, elevando-os à
categoria de Instituições de Ensino Superior (IES), suscitando assim novas possibilidades para
início imediato, e para quando ocorresse um processo de expansão (BRASIL, 2004b).
Como a revogação do Decreto n. 2.208/1997 trouxe condições para que as instituições
federais voltassem a oferecer o ensino médio de forma integrada à formação profissional,
assim como a oferta de cursos que articulassem a educação de jovens e adultos (EJA) e a
educação profissional.
Deste modo, ainda no ano de 2004, a Secretaria de Educação Tecnológica (SETEC),
do Ministério da Educação (MEC), propôs a realização de três seminários regionais para
discutir a construção de uma proposta de Anteprojeto de Leis Orgânicas para a educação
profissional no país. Entre as discussões que se faziam presentes nesses seminários,
destacavam-se os discursos de segmentos ligados aos CEFETs que, entre outras iniciativas,
efetuaram a proposta de transformação destas instituições em universidades.
Ao resgatar o histórico da educação profissional no país, Borborema (2013) afirma que
a defesa dessa ação se fundamentou na atuação predominante de alguns CEFETs no nível
superior de ensino, em termos de graduação, pós-graduação e pesquisa. Entre as instituições
que defendiam a transformação dos CEFETs em Universidades Tecnológicas, sobressaiam-se
as unidades sediadas no Paraná, em Minas Gerais e no Rio de Janeiro, as quais haviam sido
as primeiras a serem criadas, por meio da Lei n. 6.545, de 1978. Sobre esse tema, Frigotto,
Ciavatta e Ramos (2005, p. 20-21) comentam que:
Dessa discussão resultou que, no ano de 2005, foi regulamentada a Lei n. 11.184,
transformando o CEFET-PR em Universidade Tecnológica Federal do Paraná (BRASIL,
2005b). A aprovação dessa Lei continuou impulsionando o CEFET-RJ e o CEFET-MG a
lutarem pela mesma transformação, já que também eram pioneiros e tinham condições
similares, principalmente em termos de oferta de cursos superiores e formação docente9.
No ano de 2005, a Lei n. 11.195 foi apresentada como proposta de expansão da oferta
de educação profissional que poderia ocorrer, preferencialmente, e não mais exclusivamente,
em parceria com estados, municípios, Distrito Federal, setores produtivos ou organizações não
governamentais. Assim, esta Lei revogava a obrigatoriedade proposta pelo Decreto n.
9.649/1998, estabelecida no período do governo FHC, possibilitando a partir de então um
projeto de expansão da Rede Federal de Ensino (BRASIL, 2005d).
Para além da ação nos CEFETs e outras instituições federais, no governo Lula,
algumas mudanças foram propostas para a educação profissional, indicando que este campo
constituía uma prioridade política relevante para este grupo político. Com a regulamentação da
Lei n. 5.773, no ano de 2006, os CEFETs tiveram ampliadas ainda mais suas condições para
equiparação com as Instituições de Ensino Superior, em termos das funções de regulação,
supervisão e avaliação de cursos superiores, entre outras questões (BRASIL, 2006a).
Atendiam, assim, a novas demandas da estrutura capitalista, que se complexificaram e
diversificaram-se, estando então muito próximos à organização dos atuais Institutos Federais
(IFs). Uma das exceções a essa proximidade foi quanto à possibilidade de oferta de ensino
médio independente da formação profissional técnica, aspecto que existia nos CEFETs e que
não mais passou a existir na estrutura dos Institutos.
Em 2007, foi publicado o Decreto n. 6.095, que estabeleceu diretrizes para o processo
de integração de instituições federais de educação, visando à constituição de um novo modelo
de educação profissional (BRASIL, 2007b). No mesmo ano, foi lançada a Chamada Pública
MEC/SETEC n. 002/2007, com o objetivo de acolher propostas para constituição de Institutos
Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, denominados IFETs em documentos oficiais, no
período de construção da proposta de regulamentação dessas instituições (BRASIL, 2007a).
Em continuidade ao tratamento dispensado à educação profissional, a regulamentação
da Lei n. 11.741, de 16 de julho de 2008, inseriu no Capítulo II da LDBEN n. 9.394/1996, a
Seção IV-A, reconhecendo a educação profissional como modalidade de ensino. Do mesmo
modo, a Lei n. 11.741/2008 alterou o Capítulo III da LDBEN, que passou a ser denominado “Da
Educação Profissional e Tecnológica”, sendo proposto que a educação profissional deveria se
integrar aos diversos níveis e modalidades, desde a educação básica até a educação superior,
9
A supressão do CEFET-RJ e do CEFET-MG conjecturou a existência de acordos de conveniência política para que a
Lei n. 11.184/2005 fosse regulamentada, visto que o histórico, condições estruturais e organização administrativa das
instituições eram similares. Até julho de 2020 o CEFET-RJ e o CEFET-MG não haviam se transformado em
universidades ou Institutos Federais.
abrangendo cursos de formação inicial e continuada, cursos técnicos de nível médio, além de
cursos tecnológicos de graduação e pós-graduação.
Essa Lei também propôs maior articulação da educação profissional com a educação
de jovens e adultos (EJA), ao ser incluída no Capítulo II (BRASIL, 2008b), reforçando as ações
já existentes, destinadas a esse público, que demandava oferta de escolarização para a
conclusão da educação básica, assim como aos trabalhadores de maneira geral. Alguns
exemplos de ações, programas e projetos desse período foram: Escola de Fábrica (BRASIL,
2005e); Programa Nacional de Inclusão de Jovens – Educação, Qualificação e Ação
Comunitária (PROJOVEM) (BRASIL, 2005f) e o Programa Nacional de Integração da
Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e
Adultos (PROEJA) (BRASIL, 2006).
10
A Lei n. 11.892/2008 não admitiu a sigla IFET, veiculada no período de construção das políticas de regulamentação
dos IFs, mas somente a simplificação para Institutos Federais. Esse fato tem relação com a identidade institucional que
a SETEC teria a pretensão de construir, para que gradativamente essas unidades de ensino ficassem conhecidas em
nível nacional como Institutos Federais ou IFs.
buscando conciliar interesses de luta contra a desigualdade dentro da organização de uma
sociedade capitalista. Porém, tanto Frigotto (2011) quanto Borborema (2013) concordam que a
continuidade ocorreu, mas sem a manutenção de todo um contexto de ações anteriormente
praticadas no governo FHC, de estagnação da educação profissional oferecida pelo Estado. E
assim, a criação dos IFs teria um caráter simbólico.
Nesse ambiente de possíveis avanços na formação para o trabalho, a proposta dos IFs
leva em sua concepção a ideia de politecnia que, de acordo com Saviani (2003), se pauta na
superação do dualismo entre trabalho manual e trabalho intelectual estabelecido na educação;
e entre formação profissional e formação geral. Nos documentos preparatórios à
regulamentação dos Institutos, visualizam-se tentativas de superação dessa contradição, ou
seja, a união entre trabalho intelectual e trabalho manual, a qual só poderá se concretizar a
partir da socialização dos meios de produção, disponibilizando todo o processo produtivo a
serviço da sociedade. Ao também comentar sobre o conceito de politecnia, Frigotto, Ciavatta e
Ramos (2005) afirmam que, a partir da educação politécnica, o trabalhador teria condições de
desenvolver diferentes modalidades de trabalho, por compreender a sua essência.
Inserida nessa perspectiva, a criação dos Institutos Federais, iniciada em 2008 com a
comemoração do centenário das escolas técnicas brasileiras, em alusão direta às 19 Escolas
de Aprendizes Artífices inauguradas em 1909, faz parte de um processo de expansão que se
iniciou em 2005, quando existiam 140 unidades educacionais até aquele momento, chegando a
644 unidades em 201611.
Junto com essa expansão se ampliaram as oportunidades de acesso às escolas
federais, inclusive por parte do público da EJA, já que entre as finalidades e características dos
IFs, apresentadas pela Lei n. 11.892/2008 (BRASIL, 2008a, Art. 6º), definiu-se:
11
Informação disponível em <redefederal.mec.gov.br/expansão-da-rede-federal>. Acesso em 30 dez.. 2019.
incluindo nesses grupos o público da EJA, historicamente interditado do acesso a essas
instituições.
Nesse sentido, destaca-se que na rede federal de ensino existe certa
autonomia que a diferencia das redes municipais e estaduais, o que se observa nos aspectos
estruturais, mas, principalmente, pela existência de processos de seleção que colaboram para
que haja nessa rede um público diferenciado. Esse público, composto de estudantes
aprovados em seleções criteriosas, ajudou a construir a representação de uma rede
considerada de qualidade, embora excludente.
Essa imagem foi ao longo de mais de um século de existência, constituindo um
conjunto de instituições em que a inclusão de determinados grupos sociais ainda é realizada
com restrições. Dessa forma, a condição ainda permanente do caráter restritivo de acesso a
essas escolas encontra-se em oposição à proposta de Gentili (1995, p. 177) que, discutindo a
democratização do ensino, destaca que “qualidade para poucos não é qualidade, é privilégio”,
em trecho no qual o autor apresenta direcionamentos e discussões necessários à educação
brasileira, principalmente no contexto das instituições federais de ensino. Essas reflexões e
questionamentos ajudaram a respaldar o movimento de inserção do público da EJA nas
instituições federais.
Em decorrência dessas ponderações, no Artigo 7º da Lei n. 11.892/2008 (BRASIL,
2008a), quando são apresentados os objetivos dos IFs, visualiza-se a finalidade da oferta de
cursos que atendam as especificidades da EJA, como ocorre no Programa PROEJA. O trecho
estabelece como meta: “ministrar educação profissional técnica de nível médio, prioritariamente
na forma de cursos integrados, para os concluintes do ensino fundamental e para o público da
educação de jovens e adultos”, materializando a proposta de inclusão do público da EJA
nessas instituições.
A atuação da Rede Federal junto ao público da EJA foi potencializada quando ocorreu
a publicação da Portaria n. 2.080/2005 – MEC, em 13 de junho de 2005 (BRASIL, 2005d). A
partir desse documento oficial, o governo instituía um percentual mínimo obrigatório de vagas
que deveriam ser disponibilizadas na modalidade EJA. A Portaria apresentava as seguintes
determinações, com destaque para a projeção de crescimento das vagas:
De acordo com o documento seriam ofertadas 10% das vagas de ingresso em tais
instituições em 2006 e 20% em 2007. Tais metas seriam reavaliadas em 2007 e se destinavam
especificamente ao ensino médio técnico para a EJA. Essa proposta inicial desafiava as
instituições federais a reservarem inicialmente 10% de suas vagas para o público da EJA,
“público potencial e rigorosamente interdito a essa possibilidade” (PAIVA, 2012, p. 12). O efeito
mais intenso do instrumento legal não residia nos percentuais de vagas fixados, mas sim na
inclusão de um público diferenciado do habitualmente demandante na Rede Federal, o que
ocasionou diversas indagações por parte dos dirigentes das instituições.
A partir desses questionamentos, algumas contradições desse processo vieram à baila,
entre as quais se destacava o fato de que se a Portaria n. 2.080/2005 determinava, de forma
obrigatória, que as instituições federais de educação profissional oferecessem cursos técnicos
integrados ao ensino médio na modalidade EJA, também se encontrava em vigência o Decreto
n. 5.224/2004, o qual estabelecia que:
[...] assumir que o público da EJA não é, e nunca foi, aluno da rede federal (e
que, por isso mesmo, precisava ser reconsiderado, na perspectiva do Parecer
n. 11/2000, quanto à função “equidade” na EJA) implicava um exercício de
autocrítica que os gestores não pareciam dispostos a realizar.
Além dessas observações, outras podem ser destacadas, como característica de uma
mentalidade conservadora e elitista que ainda circunda a Rede Federal. Ao comentar sobre um
evento que reuniu 11 instituições federais que ofereciam cursos do Programa, Santos (2010, p.
122) descreve que uma professora da Rede Federal enfatizou que, “se não fosse por decreto,
o PROEJA, provavelmente, não seria oferta das escolas federais da rede de educação
profissional e tecnológica”.
A partir da conjuntura apresentada, observa-se que comentários desse porte reforçam
o caráter tradicional das instituições federais, algumas delas centenárias, porque oriundas das
antigas Escolas de Aprendizes Artífices, criadas em 1909. Outro aspecto que colabora com
este tipo de pensamento é o fato histórico de que essas instituições, desde o momento em que
se tornaram Escolas Técnicas Federais, em 1959, passaram a ter como característica
processos seletivos criteriosos, que normalmente beneficiam somente estudantes que tiveram
acesso a cursos preparatórios para o concurso de ingresso ou que estudaram em “boas”
escolas privadas, consideradas de “qualidade”.
Como consequência do cenário crítico estabelecido, o Decreto n. 5.478/2005, que criou
o PROEJA, foi revogado pelo Decreto n. 5.840, de 23 de julho de 2006, que instituiu, em
âmbito federal, o Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação
Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos, mantendo-se a sigla PROEJA
(BRASIL, 2006b). O novo Decreto não modificava concepções e princípios do Programa, mas
ampliava sua área de atuação, que passou a abranger, além de cursos e programas de
educação profissional técnica de nível médio, a formação inicial e continuada de trabalhadores
do ensino fundamental. Com essa nova realidade, o PROEJA também poderia ser ofertado por
meio de convênio com a Rede Federal, por instituições públicas estaduais e municipais e
entidades privadas vinculadas ao “Sistema S”.
No Decreto n. 5.478/2005, as unidades proponentes seriam somente as instituições da
Rede Federal de Ensino. Já o Decreto n. 5.840/2006 incluía o Colégio Pedro II, que não entrara
no Decreto anterior; as instituições públicas dos sistemas municipais e estaduais; assim como
entidades vinculadas ao Sistema S. No que tange às instituições não federais, havia apenas a
sugestão da oferta de vagas para o Programa.
Para a Rede Federal foi mantida a obrigatoriedade da oferta, além de estabelecido o
ano de 2007 como prazo para que todas as instituições até essa data implantassem o
Programa. Também se manteve a reserva de 10% das vagas de ingresso nas instituições
federais, com a mesma expectativa de ampliação.
No Decreto n. 5.840/2006 verifica-se a confirmação da Rede Federal como locus da
proposta, além da indicação de ampliar a oferta de vagas, que seriam então inseridas nos
planos de desenvolvimento das instituições. Esta proposição teria como meta viabilizar a
institucionalização do PROEJA, passando da condição de um programa a uma política de
Estado, com a finalidade de garantir, na Rede Federal, o direito à educação profissional
integrada à educação básica para todos — incluindo os jovens e adultos da modalidade EJA.
Deve ser destacado que as alterações realizadas pelo Decreto n. 5.840/2006 foram
proporcionadas por diversos grupos relacionados ao Programa. Assim, diferente de outras
propostas geralmente produzidas em gabinetes, o PROEJA foi construído a partir de intensos
diálogos com atores pertencentes ao campo da EJA e da educação profissional (MOLL, 2010).
Esses encontros delinearam o Decreto n. 5.840/2006, que revogava o Decreto n. 5.478/2005,
conciliando as insatisfações dos gestores, além de reformular e ampliar o PROEJA. Esse
aspecto ratifica a afirmação de Paiva (2012, p. 48), quando considera “o PROEJA, do ponto de
vista da concepção/formulação, uma das mais bem tecidas políticas que já se teve no país”.
Essas mudanças foram viabilizadas por uma nova equipe que assumira a SETEC, no
último trimestre de 2005, e que, atenta aos rumores provocados na Rede pelo Decreto
publicado sem ampla consulta aos gestores, propôs mudanças nos rumos de implantação do
PROEJA. Dessa forma, a equipe coordenadora, diante do contexto existente, das críticas
oriundas da Rede Federal e de pesquisadores de universidades, passou a considerar esses
fatos e dialogar com os diferentes atores, e a partir daí definir mudanças nas ações,
objetivando construir uma base mais sólida para a fundamentação do Programa (MOLL, 2010),
ganhando ainda o reconhecimento da força política que detinha, pelo fato de mudar um
Decreto cuja assinatura era da competência do Presidente da República.
Para que tudo isso acontecesse, com o objetivo de amenizar críticas e resistências ao
PROEJA, a SETEC constituiu, em dezembro de 2005, pela Portaria n. 208 (BRASIL, 2005g),
um grupo de trabalho para a elaboração do documento referencial do Programa – o
Documento Base do PROEJA. Desta comissão participaram professores de universidades
federais e estaduais, professores e gestores de instituições da Rede Federal de Educação
Profissional e Tecnológica, representantes da SETEC, da então Secretaria de Educação
Continuada, Alfabetização e Diversidade (SECAD), e outros representantes do MEC.
A partir da apresentação do Documento Base, realizada em agosto de 2007, foi
projetada a concepção do PROEJA, objetivando garantir ao público jovem e adulto o acesso à
formação cultural, científica e tecnológica que lhes possibilitasse o desenvolvimento de
pensamento autônomo e crítico, além de prepará-los para a vida e na vida, e não somente para
o mercado de trabalho (BRASIL, 2007e).
Destaca-se que o Programa não nascia apenas como uma ação a ser executada, mas
assegurava princípios em relação à diversidade de público e sua formação, associando-a à
pesquisa e também à formação continuada de professores, nas modalidades EJA e educação
profissional. Marcava-se, com isto, um tripé de apoio ao PROEJA – condição básica (ainda que
não suficiente) para um possível sucesso. O Documento Base também apresentou propostas
de formação continuada para professores e gestores, além de programas especiais para a
formação de formadores e de professores como pesquisadores de um novo campo
epistemológico, por meio de cursos de pós-graduação lato sensu e stricto sensu. Essas ações
contariam com recursos orçamentários disponibilizados pela SETEC/MEC e por meio de
convênios estabelecidos com agências de fomento, como a Coordenadoria de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).
Além do Documento Base apresentado inicialmente, que teve como foco a educação
profissional e a educação de jovens e adultos integradas ao ensino médio, foram produzidos
posteriormente outros dois documentos: um abordando a formação inicial e continuada, tendo
como meta a implementação do PROEJA nos anos finais do ensino fundamental (PROEJA-
FIC); e outro que abordava a modalidade educação indígena, tendo sido requerido por
demandas específicas da então SECAD, secretaria do MEC em que uma das finalidades se
voltava à diversidade de públicos da EJA. Entre outras ações de apoio ao Programa que
vieram sendo desenvolvidas desde a sua regulamentação, no tocante à formação continuada
de professores pode ser destacada a Especialização PROEJA.
Com a finalidade de alcançar os objetivos propostos, os currículos desses cursos de
especialização, de maneira geral, eram voltados para a necessidade de integração entre os
três campos: ensino médio, educação profissional e educação de jovens e adultos. De acordo
com os dados da SETEC, esses cursos foram responsáveis pela formação de mais de 3.000
profissionais em polos existentes pelo país, desde 2006, com um total de mais de 11 mil
matrículas nos cursos de Especialização PROEJA somente entre 2006 e 2009 (MOURA 2012).
A partir de 2010 houve mudanças no quadro de ações relacionadas ao PROEJA e,
dessa forma, é relevante afirmar que as ações referentes aos cursos de especialização tiveram
continuidade somente enquanto havia recursos especificamente repassados pelo MEC e
destinados a subsidiar o Programa. Essa oferta foi sendo interrompida, na medida em que o
MEC cessou o financiamento direto de novas turmas, pela indução prevista de incorporação
orçamentária dos custos relacionados à oferta obrigatória do PROEJA, conforme definido por
Decreto Federal. Assim, destaca-se que em grande parte das unidades de ensino o incentivo
inicial do MEC não foi suficiente para a institucionalização do Programa, sempre muito
contestado pelos Institutos Federais. A previsão orçamentária também não foi idealizada como
proposta futura, não havendo, desde então, recursos específicos para que os cursos de
especialização fossem mantidos de forma contínua, o que impactou negativamente o
Programa.
Sobre a questão das especializações em PROEJA, pode-se ver em Moura (2012) a
afirmação de que no Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN) foram abertas 14 turmas
entre os anos de 2006 e 2009, todas com financiamento do MEC. Entretanto, no ano de 2010 a
instituição não criou novas vagas para o curso de especialização. Segundo o autor, as razões
para a descontinuidade da oferta têm relação direta com o corte de recursos adicionais que
auxiliavam na manutenção do curso, porque a partir de então deveriam estar previstos
orçamentariamente.
Ainda sobre as especializações, um aspecto deve ser destacado: observa-se que a
maioria dos cursistas professores não era da Rede Federal, mas sim das redes públicas de
ensino estaduais e municipais. Também as propostas, de modo geral, não tinham orientação
para a formação específica de professores nos diversos componentes curriculares que
compõem a educação profissional, a EJA e seus possíveis direcionamentos (MOURA, 2012).
Nesse caso, o desejável era que se avançasse no campo das pesquisas, para melhor
compreensão e intervenção nas ações que ainda se encontram ativas nesse campo.
A iniciativa da pesquisa, articulada ao PROEJA, traduziu-se pelo Programa de Apoio ao
Ensino e à Pesquisa Científica e Tecnológica em Educação Profissional Integrada à Educação
de Jovens e Adultos, constituída por um convênio entre a CAPES e a SETEC. Desse convênio
foi proposto o Edital PROEJA-CAPES/SETEC n. 03/2006, que instituiu linhas de financiamento
para a formação de redes de cooperação acadêmicas, constituindo assim núcleos de trabalho
sobre o PROEJA, com o objetivo ainda, de formação de pesquisadores nesse campo
epistemológico. Esse Edital poderia aprovar até 10 projetos de cooperação acadêmica, com
financiamento anual de R$100.000,00, totalizando R$400.000,00 por projeto. O Edital previa
vigência máxima de quatro anos para o exercício orçamentário e de cinco anos para a
execução das atividades dos projetos (BRASIL, 2006d).
A partir das submissões feitas ao Edital foram aprovadas nove propostas, que
desenvolveram suas atividades entre os anos de 2007 e 2011. O Edital previa, ainda, que as
propostas deveriam indicar uma instituição líder, que desenvolveria o projeto em convênio com
outras unidades de educação superior, as quais estariam inseridas no projeto da instituição
líder, sendo que as outras unidades de educação superior seriam consideradas instituições
participantes.
Essa iniciativa foi responsável pela “produção de pesquisas científicas e tecnológicas e
a formação de recursos humanos pós-graduados em Educação Profissional integrada à
Educação de Jovens e Adultos, contribuindo assim, para desenvolver e consolidar o
pensamento brasileiro na área” (BRASIL, 2009c). Também pode ser considerada como
relevante a abrangência das propostas aprovadas no Edital, que abarcaram estados de todas
as regiões do país, caracterizando o PROEJA como um Programa em nível nacional.
A produção acadêmica resultante do convênio entre essas instituições visava, por meio
das áreas temáticas propostas no Edital, contribuir na implantação do PROEJA como política
pública, prática pedagógica inovadora, além de colaborar no estabelecimento de um novo
campo epistemológico.
Entretanto, em 2011, no governo da Presidente Dilma Roussef, foi instituído, pela Lei n.
12.513, o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (PRONATEC), com a
finalidade de ampliação da oferta de educação profissional e tecnológica, por meio de
programas, projetos e ações de assistência técnica e financeira (BRASIL, 2011). O
PRONATEC, conforme diretrizes estabelecidas em suas orientações, prioriza a formação
profissional estritamente voltada a demandas do setor produtivo, aspecto que recebeu críticas
por parte de pesquisadores da área, conforme destacam os estudos de Corbari (2013),
Saldanha (2012) e Franzoi (2013).
Em 2014, pela Portaria n. 125, expedida pelo Ministério da Educação (BRASIL, 2014),
foi indicada a adesão de estados, municípios e do Distrito Federal à proposta de oferta da EJA
articulada à educação profissional no âmbito do PRONATEC, fato que, segundo Franzoi
(2013), colocava em dúvida as possibilidades de tornar o PROEJA uma política pública na
Rede Federal de Ensino, além de remeter às descontinuidades de um passado recente.
10. REFERÊNCIAS
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educação nacional, para redimensionar, institucionalizar e integrar as ações da educação
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