Servidão
Servidão
Servidão
A servidão constitui relação jurídica real por meio da qual o proprietário vincula o seu
imóvel, dito serviente, a prestar certa utilidade a outro prédio, dito dominante, pertencente a
dono distinto, obrigando-se, em consequência, a não praticar determinados atos dominais no
prédio serviente ou a não impedir que neste o proprietário do imóvel dominante pratique atos
de extração da utilização que lhe foi concedida.
A Servidão predial é o desmembramento da propriedade imposto a certo imóvel
(prédio serviente) em benefício de outro (prédio dominante), de tal forma que o titular do
primeiro perde, em favor do titular do segundo, o uso, o gozo e a disponibilidade de uma parte
dos seus direitos, o que pode consistir em ficar obrigado aquele a tolerar que este se utilize do
imóvel serviente para determinado fim.
As servidões prediais também podem ser definidas como sendo os direitos reais de
gozo sobre imóveis que, em virtude de lei ou vontade das partes, se impõem sobre o prédio
serviente em benefício do dominante ou ainda, como afirma a doutrina, direito real sobre
coisa imóvel, que impõe restrições em um prédio em proveito do outro, pertencentes a
diferentes proprietários. O prédio que suporta a servidão, é o serviente. O outro, em favor do
qual se proporciona utilidade e funcionalização da propriedade, é o dominante. O proprietário
do prédio serviente desdobrará parcela dos seus poderes dominiais em favor do prédio
dominante. Assim, este terá o seu domínio acrescido, para beneficiar o proprietário atual ou os
seus sucessores.
Quando a norma se refere a prédios, isso não quer significar terrenos necessariamente
edificados ou construídos. A servidão está intimamente relacionada à função social da
propriedade, na medida em que objetiva, ao final, tornar um prédio útil por meio da conduta
solidária do proprietário de um outro prédio. Logo, o terreno poderá ser, ou não, edificado.
Compreendemos que a servidão, assim, é ônus real, voluntariamente imposto a um prédio (o
serviente) em favor de outro (o dominante), em virtude do qual o proprietário do primeiro
perde o exercício de algum de seus direitos dominicais sobre o seu prédio, ou tolera que dele
se utilize o proprietário do segundo, tornando este mais útil, ou pelo menos mais agradável.
As servidões podem ser constituídas de diversos modos, sendo alguns destes previstos
na lei (CC, arts. 1.378 e 1.379), enquanto outros resultaram da doutrina e da jurisprudência. É
sabido que o atual Código Civil elegeu os negócios jurídicos como forma de realização da
maior parte das relações privadas patrimoniais. Não seria diferente com a servidão, a qual
poderá ser instituída por este instrumento. Além disso, a legislação cível permite a
constituição das servidões pela usucapião, forma originária de aquisição da propriedade. Nada
obstante, como direito real que o é, a servidão exigirá inexoravelmente o registro de seu título,
para constituir-se na melhor forma do art. 1.378 do CC. Quanto aos negócios jurídicos
unilaterais, a servidão poderá ser constituída pela via do testamento (CC, art. 1.378), a ser
levada a registro quando da expedição do formal de partilha.
Também poderá ser feita por meio de contrato, elaborado por escritura pública para os
casos do art. 108 do CC, devidamente registrado (CC, art. 1.378). Surgiria assim de um
negócio jurídico bilateral: "esse ato jurídico Inter vivos deve ser oneroso porque o proprietário
do prédio serviente é indenizado pela restrição que é imposta ao seu domínio. A sentença
também é forma de instituição deste direito real (CPC, art. 596, II). Exemplifica-se com a
ação de divisão (actio communi dividundo): instituir-se-ão as servidões, que forem
indispensáveis, em favor de uns quinhões sobre os outros, incluindo o respectivo valor no
orçamento para que, não se tratando de servidões naturais, seja compensado o condômino
aquinhoado com o prédio serviente. Houve importante mudança no caput do referido artigo,
haja vista que o prazo para oitiva das partes passará a ser de 15 (quinze) dias (CPC/15).
E seria possível a usucapião de uma servidão? A resposta é positiva para servidões
aparentes e contínuas; pois apenas estas serão capazes de ocasionarem posse e,
consequentemente, usucapião. O art. 1.379 do CC permite a usucapião de servidões, seja na
modalidade ordinária ou extraordinária. Será ordinária se houver justo título e boa-fé e o
exercício incontestado e contínuo de uma servidão aparente se dê por ao menos dez anos.
Ademais disto, se o possuidor não tiver nem o justo título e nem a boa-fé, o prazo da
usucapião será de vinte anos, incidente aqui a modalidade extraordinária. Percebe-se aqui
regra assistemática com o tratamento geral da usucapião no Código Civil, o qual exige o
prazo de quinze anos para a modalidade extraordinária (CC, art. 1.238). Tal fato gera
desconforto doutrinário.
A doutrina sustenta que o prazo máximo para a usucapião extraordinária de servidões
deve ser de 15 anos, pois assim se estaria conformando os prazos em face do sistema geral de
usucapião previsto no Código Civil. Não concordamos, haja vista que a letra da lei é
induvidosa ao fixar o prazo em vinte anos e a doutrina não pode, a par das críticas formuladas,
alterar a coercibilidade de uma norma, fonte primária do direito brasileiro. Não concordamos
ainda por ser plenamente possível que uma norma especial (usucapião de servidões) traga um
prazo diferenciado em relação a uma norma geral (usucapião extraordinária). Ora, em sendo
passível de usucapião, esta servidão admite posse; afinal, para que haja usucapião é necessária
posse mansa e pacífica com animus domini. Em admitindo posse, crava STF, na Súmula 415,
que a Servidão de trânsito não titulada, mas tomada permanente, sobretudo pela natureza das
obras realizadas, considera-se aparente, conferindo direito a proteção possessória. No mesmo
sentido o atual art. 1.213 do CC. Concordamos com a orientação sumular consagrada na
Suprema Corte, afinal de contas, somente as servidões aparentes poderão ser identificadas,
vistas, percebidas, de modo a viabilizar posse e consequente usucapião.