Hécate Ischyros - Maga Transmutadora (Histórico)

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Waterdeep, 19 de Chess de 1372 CV (equinócio de primavera)

Hoje minha mãe faria 165 anos. Que ela esteja com Selûne no Portal da Lua.
Malena Ischyros, foi uma sacerdotisa de Selûne, era chamada de Malena da Noite Enluarada.
Serviu bravamente à Casa da Lua, em Waterdeep, contra os servos de Shar e ajudando os bons
licantropos e metamorfos e participava ativamente das atividades da Ordem da Lua Azul, junto
com seu irmão, Euriel, um bravo feiiceiro a serviço da Ordem. Meu pai foi um humano (escrevo foi
porque nunca o conheci e suponho que ele possa já estar falecido) pelo qual ela se apaixonou
quando da realização da Conjuração da Segunda Lua, há 35 anos. As Centelhas (criaturas
explanares da Porta da Lua, plano natal de Selûne, conjuradas por esta importante cerimônia) o
trouxeram muito ferido aos pés de minha mãe. Ela, vendo isso como algum desígnio de Selûne,
decidiu cuidar dos ferimentos dele. Eles acabaram se apaixonando e eu fui concebida deste amor
tão improvável entre duas raças tão distintas.
Ele precisou partir em uma missão quando eu tinha ainda poucos anos, acho que 3 ou até menos,
e nunca mais retornou (suponho que já tenha falecido). Apenas meu querido tio, Euriel, nos
visitava em Waterdeep com alguma freqüência, assim me contam porque eu era muita nova, não
tenho muitas lembranças desse período. Algum tempo depois, minha mãe também faleceu, eu
tinha 7 anos, mas nunca esquecerei seu semblante tranqüilo e seu sorriso amoroso. Lembro que
meu tio chorou muito e nunca me explicaram direito a causa da morte dela. Alguns dizem que fora
uma doença desconhecida, outros afirmam que foi causada por servos de Shar. Nada disso
importa mais, ela se foi. Euriel Emelthor foi quem sofreu mais com a morte dela. Lembro bem da
imagem de seu pranto desesperado quando a elevaram aos céus na cerimônia de entrega do
corpo à Dama de Prata. Achei que também o perderia nesse dia, o que seria insuportável para
mim, uma vez o admirava demais, principalmente pela capacidade em fazer coisas mágicas do
nada, mesmo não sendo um sacerdote. De alguma forma, ele era naturalmente abençoado por
Selûne sem precisar suplicar por bênçãos.
Após a morte de minha mãe, suas visitas ao templo foram se tornando menos freqüentes.
Entendo as lembranças contraditórias que deveriam ser me encontrar sempre por lá. Afinal, a Alta
Sacerdotisa Naneatha Suaril, me acolheu entre os moradores do templo, já que eu não tinha para
onde ir e poderia vir a ser uma clériga algum dia. Ou não. Nunca tive paciência para todos os
rituais e obrigações do templo. Nunca me neguei a fazer nada, mas sempre me pareceu estranho
suplicar para receber algo em troca. Não conseguia acreditar que Selûne só ajudaria quem
suplicasse de joelhos ou algo do tipo. Afinal, se ela é uma divindade boa, talvez devesse ajudar
sem aguardar que implorem pela sua ajuda.
O que eu queria mesmo era faze magia como meu emelthor (irmão de minha mãe). Ele faz magia
do nada como quem está simplesmente dançando ou cantando. É como se a própria deusa
vivesse nele. Mas também parece que a Deusa não “vivia” dentro de mim. Nunca consegui nem
mesmo apagar uma vela. Antes eu me perguntava se era por minhas dúvidas em relação às
“súplicas”, afinal dizer isso em voz alta certamente seria considerado blasfêmia ou algo do tipo.
Contudo, descobri que a deusa tinha outros planos para mim: os livros. Resolvi aprender tudo o
que podia para descobrir a razão de eu estar viva e, principalmente, como eu poderia fazer ao
menos uma magiazinha que fosse. Boa parte dos livros que li, na biblioteca do templo ou trazidos
por eventuais viajantes (muitos deles eram magos e feiticeiros importantes), me fizeram entender
que eu conseguiria manipular a Trama, a essência de toda a magia, caso eu tivesse o
conhecimento suficiente. Li tudo o que pude. Aprendi tudo o que me foi permitido. Ainda tenho
muito que aprender.
A vida na Casa da Lua, com seus/suas clérigos/as e todas as questões relacionadas à Dama de
Prata, tratam das fases da lua, da vida, das marés... tudo tem seu tempo. E essas fases
influenciam e provocam mudanças, boas ou más. Escolhi, na verdade fui escolhida, pois foi algo
inevitável, participar dessas mudanças ativamente. Acabei me fascinando pelas mudanças e
consegui estudar o suficiente para fazê-las se tornarem realidade. A escola de Transmutação me
permite mudar o mundo ao meu redor, assim como as fases da lua dão vida aos licantropos,
pobres criaturas amaldiçoadas, e aos metamorfos, aqueles com habilidade natural de “trocar de
pele”. Decidi tomar parte ativa nas mudanças do mundo e das criaturas, incluindo a mim própria.
Para tanto, precisei dar atenção menor aos estudos dos mortos e da manipulação de sentimentos.
Tratar com coisas vivas e físicas é muito mais eficiente.

Nesse meio tempo, eu não estive sozinha. Meu tio voltou a me visitar. Eu conheci Waterdeep (não
dava pra aprender tudo do mundo se eu ficasse trancada no templo, não é?) e algumas poucas
cidades da região. Mas algo que realmente marcou minha vida foi quando Nissa Huengar, uma
clériga anã de voz grave e forte, trouxe (há uns 13 anos) para o templo um menino humano cuja
família havia sido chacinada por servos da deusa escura. Eu me identifiquei imediatamente com
aquele garoto, com o olhar perdido, órfão de pai e mãe (nessa época, eu ainda tinha esperanças
de que meu pai aparecesse a qualquer momento, hoje não tenho mais). Senti-me muito próxima
dele e acabei sempre procurando ajudá-lo em tudo, já que ele foi acolhido no templo por não ter
para onde ir. Viramos grandes amigos, eu e Crane. Nunca deixarei de achar seu nome engraçado
porque ele é engraçado. Afinal, em élfico, tem uma palavra muito parecida, crann, que significa
“corado”, e é exatamente como ele fica quando está envergonhado ou com medo. Na verdade,
ficava, já que ele cresceu e virou um belo rapaz e não se importa mais com essas coisas de
criança. Fizemos tudo o que amigos fazem, aprendemos juntos muitas coisas. Mas minha maior
surpresa foi quando, alguns anos depois dele estar vivendo lá, ele estava agradecendo à Selûne
pela oportunidade que ela havia lhe dado e perguntava como poderia retribuir. Foi a primeira vez
(não a primeira de verdade, porque eu já havia visto outras vezes, mas essa foi muito mais
intensa) que eu vi a “Mão da Lua”, uma réplica da arma que Selûne usou contra Shar,
ocasionando a criação de Mystryl (que depois virou Mystra e que agora é outra Mystra), jorrou
fogo lunar (uma manifestação física da magia para os servos de Selûne) em uma intensidade tão
farta e com um brilho tão cegante que mal pude perceber quando ele foi erguido no ar, como se a
própria deusa o estivesse tomando em seus braços e o escolhendo como um dos iluminados.
Confesso que senti um pouco de inveja, afinal eu tentei até aquele momento ser abençoada desta
forma. Mas meu maior sentimento foi de alegria, uma alegria imensa em ter presenciado o
momento em que meu melhor e mais querido amigo foi agraciado com tal poder. Decidi aprender
tudo o que eu pudesse nos livros para ajudá-lo em sua missão neste mundo, e que nunca nos
separaríamos, nem a morte nos separaria.
Emelthor Euriel o conheceu, e acredito que goste dele também, e acompanhou nosso
aprendizado: Crane, como iluminado pela Lua, e eu, como manipuladora de formas. E, nosso
esforço foi tão visível, que ele nos convidou a participarmos da Ordem da Lua Azul, um grupo que
atua em toda a Faerûn contra as maquinações e os servos de Shar. Ótima oportunidade para
fazermos o bem aos outros e talvez até revertermos um pouco do mal causado por Shar aos
outros e, principalmente, a nós mesmo, afinal ambos tivemos nossas vidas alteradas pela deusa
escura.
Fizemos algumas missões menores, provavelmente testes para nossas habilidades, e acabamos
aprendendo mais e crescendo em poder. Hoje, sinto que não posso mais ficar simplesmente na
Casa da Lua aguardando que venham pedir minha ajuda contra algum mal que esteja ocorrendo
pelo mundo. Preciso sair e encontrar ajudar às pessoas que não podem pedir socorro, encontrar o
mal antes que ele atinja as pessoas. Além do mais, há tanto para aprender no mundo, tantas
pessoas diferentes, tantas culturas interessantes, tantos livros com conhecimentos diferentes...
Não, agora que temos essa oportunidade, eu e Crane iremos aonde for preciso para ajudar os
outros e lutar contra as forças das trevas, da Escura. E eu não poderia esperar nada melhor do
que ter ao nosso lado meu único parente vivo (ao menos que eu saiba, talvez meu pai esteja vivo
e, se Selûne permitir – agora estou falando como clériga –, nós nos encontraremos).

Que venham o mundo e as aventuras! A luz de Selûne será nosso guia na escuridão!

Hécate Ischyros

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