15625-Texto Do Artigo-62913-69349-10-20230228

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Transtorno do espectro do autismo (TEA): caracterizacao, diagndéstico e intervengao LUCIANA OLIVEIRA DE ANGELIS Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), S30 Paulo, Brasil E-mail luangelis@gmail.com MARIA CRISTINA TRIGUEIRO VELOZ TEIXEIRA Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), So Paulo, Brasil E-mail: meris@mackenzie.br Resumo O transtorno do espectro do autismo (TEA) é um transtorno do neurodesen- volvimento com infcio precoce, caracterizado por desenvolvimento atipico, manifestacdes comportamentais e déficits na comunicacio e na interagao social que comprometem o funcionamento adaptativo das pessoas com esse distirbio. A identificacdo de atrasos no desenvolvimento, o diagnéstico adequado, 0 encaminhamento para intervengdes comportamentais ¢ apoio educacional precoce podem levar a melhores resultados no aprendizado de comportamen- tos em longo prazo, considerando a neuroplasticidade cerebral. O presente material foi desenvolvido como parte do curso de inverno da Universidade Presbiteriana Mackenzie e tem como objetivo tragar um panorama sobre ca- racteristicas, diagnéstico e intervengao baseado na literatura acerca do TEA. Palavras-chave Transtorno do Espectro do Autismo, Autismo. Diagnéstico. Praticas Basea- das em Evidéncias. Intervengio. Autism spectrum disorder (ASD): characterization, diagnosis and intervention Abstract Autism spectrum disorder (ASD) is a neurodevelopmental disorder with manifestation in the early stages of development, characterized by atypical Recebido em: 12/10/2022 | Aprovado em: 29/11/2022 Exe artigo ent licencia com uma Licenga C rive Commons ~ Auribugo-NdoGomercial 40 Internacional development and behaviors, deficits in social communication and interac- tion and impact in the adaptive functioning of this population. Identification of developmental delays, proper diagnosis, referral to behavioral interven- tions and early educational support can lead to better long-term behavioral learning outcomes considering brain neuroplasticity. This material was developed as part of the Mackenzie Presbyterian University winter course and aims to provide an overview of characteristics, diagnosis and interven- tion, based on the literature on ASD. Keywords ‘Autism Spectrum Disorder. ASD. Autism. Diagnosis. Evidence-based Practic. Intervention. Trastorno del espectro autista (TEA): caracterizacién, diagnéstico e intervencién Resumen El trastorno del espectro autista (TEA) es un trastorno del neurodesarrollo de inicio temprano, caracterizado por un desarrollo atfpico, manifestaciones conductuales, déficits en la comunicacién e interaccién social que compro- meten el funcionamiento adaptativo de esta poblacién. La identificacién de retrasos en el desarrollo, el diagnéstico adecuado, la derivacién a interven- ciones conductuales y el apoyo educativo temprano pueden conducir a mejores resultados de aprendizaje conductual a largo plazo considerando la neuroplasticidad cerebral. Este material se desarrollé como parte del curso de invierno de la Universidad Presbiteriana Mackenzie y tiene como objetivo brindar una descripcién general de las caracteristicas, el diagnés- tico y la intervencién, con base en la literatura sobre los TEA. Palabras clave Trastorno del espectro autista. TEA. Autismo. Diagnéstico. Practicas Basadas en Evidencias. Intervencién. INTRODUGAO O transtorno do espectro do autismo (TEA) é um transtorno do neurode- senvolvimento caracterizado por déficits de comunicagao social, interesses duno em Distros do Desenvouinta 2p 10815 jl oer 2022 0 S35 cademantsturd os x22n 109 o2-us 110 restritos e comportamentos repetitivos (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIA- TION, 2014). Atualmente sua prevaléncia é de uma a cada 44 criangas e atin- ge cerca de 1% da populacao mundial (ZEIDAN et al., 2022). Estudos recentes apontam que os diagndésticos de TEA sao feitos cada vez mais cedo e tém au- mentado gradativamente ao longo dos anos. As tltimas estatisticas traziam dados de uma a cada 59 criangas, demonstrando um aumento de 15% no nitimero de diagnésticos em relacéo ao dado anterior, em que a prevaléncia era de uma para cada 68. Aproximadamente 30% das criancas com TEA tam- bém apresentam o diagnéstico de deficiéncia intelectual (DI) e 30% tém lin- guagem verbal bastante comprometida (OZONOFF et al., 2015). Com o crescimento dos casos, é importante aprofundar o conhecimento sobre sinais, formas de avaliacao e possibilidades de intervencdo para essa populacao, vi- sando as areas clinicas e educacionais. DEFINIGAO E CARACTERIZAGAO DO TEA © autismo foi descrito pela primeira vez em 1943 pelo psiquiatra Leo Kanner. Na década de 1960, as pesquisas sobre o tema se intensificaram, e, em 1978, Michael Rutter propés uma definico para essa condic&o com base em quatro critérios: 1. atraso e desvio sociais nao sé como fungao de retardo mental; 2. problemas de comunicagao, novamente, nao sé em funcao de re- tardo mental associado; 3. comportamentos incomuns, tais como movimentos estereotipados e maneirismos; 4. infcio antes dos 30 meses de idade. Desde a primeira descricéo por Kanner até os dias atuais, 0 conceito do autismo passou por varias modificagées até o surgimento dos critérios diag- nésticos introduzidos pelo Manual diagndstico e estatistico de transtornos mentais (DSM) da American Psychiatric Association (APA). Em 1980, na versao III, o autismo foi pela primeira vez classificado como transtornos in- vasivos do desenvolvimento (TID), que contemplam: o autismo, a sfndrome de Asperger, a sindrome de Rett, o transtorno desintegrativo da infancia e uma categoria complementar denominada transtorno invasivo do desenvol- vimento sem outra especificacéio, que designaria déficits funcionais em diver- sas dreas cognitivas. Avversao IV do manual trouxe uma descric¢ao mais detalhada sobre autismo, sindrome de Asperger e outros TID. JA a tiltima verso do manual, 0 DSM-5, publicada em 2013, extingue os transtornos globais do desenvolvimento (TGD), categoria que englobava os cinco transtornos caracterizados por atraso Cacernos de s-Graduac3o em Distisblos do Deserve tei doorg0 5935 lana Oliveira de Angelis, 8 Cristina Trigueite Velo Teitera simult4neo no desenvolvimento de fungées basicas, incluindo socializagiio e comunicagao em criangas com idade inferior a 5 anos, e cria uma tinica cate- goria diagnéstica para os casos de autismo denominada “transtorno do espec- tro do autismo” (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014). Os sistemas de classificagdo do DSM e da Classificagao Estatistica Internacional de Doengas e Problemas Relacionados com a Satide (CID) foram se tornando equivalentes para estabelecer uma equidade no diagnéstico, independentemente do local onde é estabelecido. ACID é utilizada por médicos e demais profissionais de satide, segurado- ras, pesquisadores e gestores em satide para classificar doencas nos registros em satide em todo 0 mundo. Em 1° de janeiro de 2022, o TEA passou a cons- tar como um diagnéstico unificado na CID-11, langada pela Organizagao Mun- dial da Satide (OMS), em vigor desde 2013. Como 0 DSM-5, a CID-11 une todos esses diagnésticos no TEA (cédigo 6A02), em que as subdivisées pas- saram a ser apenas relacionadas a prejuizos na linguagem funcional e a DI. A intengdo é facilitar o diagnéstico e simplificar a codificacdo para acesso a servicos de satide. Atualmente a CID-11 e 0 DSM-S sao indicados como diretrizes para clas- sificagdes diagnésticas dos TEA. Segundo a American Psychiatric Association (2014), os critérios de diagnéstico sao divididos em duas grandes Areas: 1) Déficits persistentes na comunicagao social e na interagao social em multiplos contextos, cujas manifestagées sao indicadas a seguir: * Déficits na reciprocidade socioemocional: variam, por exemplo, de abordagem social anormal e dificuldade para estabelecer uma conversa normal a compartilhamento reduzido de interesses, emo- goes ou afeto, e dificuldade para iniciar ou responder a interagées sociais. * Déficits nos comportamentos comunicativos ndo verbais usados para interagdo social: variam, por exemplo, de comunicagao verbal e nao verbal pouco integrada a anormalidade no contato visual e lingua- gem corporal ou déficits na compreensao € no uso de gestos, ausén- cia total de expressées faciais e comunicagao nao verbal. * Déficits para desenvolver, manter e compreender relacionamentos: va- riam, por exemplo, de dificuldade em ajustar 0 comportamento para se adequar a contextos sociais diversos a dificuldade em compartilhar aduagio em Distros co Desenvouinsnta 2p 10815 jl fer 2022 1 S35 cademondsturs os s22n oa-us m mn brincadeiras imaginativas ou em fazer amigos e auséncia de inte- resse por pares. 2) Padres restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou ativi dades, conforme manifestado por, pelo menos, dois dos seguintes sintomas: * Movimentos motores, uso de objetos ou fala estereotipados ou re- petitivos. * Insisténcia nas mesmas coisas, ades‘o inflexivel a rotinas ou pa- drées ritualizados de comportamento verbal ou nao verbal. * Interesses fixos e altamente restritos que sao anormais em intensi- dade ou foco. * Hiper ou hiporreatividade a estimulos sensoriais ou interesse inco- mum por aspectos sensoriais do ambiente. A gravidade dos quadros é classificada conforme a necessidade de apoio exigida: casos que requerem pouco apoio, normalmente nos quadros conside- rados leves, em que hd dificuldade para se comunicar, porém essa dificuldade nao limita as interagées sociais; casos moderados que apresentam grande comprometimento de linguagem e exigem apoio substancial para interacées; e os quadros graves, quando o individuo precisa de muito apoio substancial, apresentando grande comprometimento na habilidade de comunicacio verbal e nao verbal, rigidez de comportamentos e déficits intelectuais subjacentes (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014). De acordo com o DSM-5, os sintomas devem estar presentes precocemen- te no perfodo do desenvolvimento, mas podem se manifestar apenas quando as demandas sociais excederem as capacidades ou ainda ser mascarados por estratégias aprendidas mais tarde na vida. Esses sintomas causam prejuizo clinicamente significativo no funcionamento social, profissional ou em outras Areas importantes da vida do individuo e nao sao justificados por DI ou por atraso global do desenvolvimento. No entanto é importante avaliar com pre- cisao, visto que sao quadros eventualmente associados (AMERICAN PSYCHIA- TRIC ASSOCIATION, 2014). O DSM-S orienta ainda que o profissional, ao emitir o laudo, deve iden- tificar os especificadores presentes no caso avaliado, apontando se ha compro- metimento intelectual concomitante, prejuizos de linguagem, presenga de catatonia, informando ainda se 0 quadro esta associado a alguma condigao médica ou genética conhecida, a algum fator ambiental especifico, a um trans- torno do desenvolvimento, mental ou comportamental. Essas informacoes sao importantes, visto que os quadros associados interferem diretamente no ma- nejo comportamental e nas estratégias adaptativas desses individuos. A partir dos 18 meses, é possivel identificar sinais considerados como fatores de risco para essas condigées, porém, na pratica sabe-se que é infre- quente o estabelecimento do TEA antes dos 3 anos de idade. Esses sinais podem ser confirmados por meio observagées clinicas e instrumentos de rastreio, e, quando identificados, justificam 0 inicio do atendimento que de- verd ser mantido até que os sinais e sintomas suspeitos desaparegam ou continuado caso a hipotese diagnéstica se confirme (BRUNONI; MERCADANTE; SCHWARTZMAN, 2014). De acordo com a OMS, a estimativa é que os TEA acometem 1% da po- pulagao mundial. No Brasil, hé poucos estudos epidemiolégicos, uma estima- tiva precisa sobre a prevaléncia de TEA. O dado nacional mais recente é de um estudo-piloto de 2011, em Atibaia, no estado de Sao Paulo. A pesquisa foi feita em um bairro da cidade, cuja populagao era de 20 mil habitantes. O re- sultado apontou para a incidéncia de um autista para cada 367 habitantes (PAULA et al., 2011). De acordo com 0 relatério do Centro de Controle e Prevencao de Doengas (CDC) publicado em 2020 (ZEIDAN et al., 2022), a prevaléncia é maior em meninos, na proporcao de quatro para um. Entretanto, as pesquisas realizadas entre homens e mulheres do espectro concluiram que o comportamento de camuflagem do autismo é muito mais frequente nas meninas e mulheres do que nos meninos e homens. A camuflagem nos TEA é uma habilidade apren- dida como estratégia de adaptagao natural para se comportar de forma ade- quada, por meio da observacao do ambiente ao seu redor, que possibilita mascarar os sintomas. A hipétese que tem sido levantada sao as diferencas de funcionamento entre os sexos e estimulos ambientais que favorecem esses comportamentos no sexo feminino (FRAZIER et al., 2014). A patogénese do TEA nao é completamente compreendida. O consenso sobre a etiologia é baseado pela “teoria epigenética”, de natureza multifatorial, resultado de caracteristicas genéticas e ambientais. De acordo com a etiologia, ‘os quadros de autismo podem ser clasificados como autismo idiopatico, de- nominagao dada a quadros em que o individuo apresenta os prejufzos que caracterizam o TEA na auséncia de outra condicdo, e autismo sindrémico, em espectto do autism (TEA): 0, dingnéstico«itervensso 13 que, além dos sintomas de TEA, ha a presenca de sinais e sintomas que caracterizam outra condi¢aéo, como sindrome de Down, sindrome de Angel- man, sindrome do X fragil etc. (BRUNONI; MERCADANTE; SCHWARTZMAN, 2014). A literatura aponta que comorbidades genéticas e ambientais sao de- tectadas em pelo menos 20% dos individuos com TEA, atribuidos a doencas monogénicas. As causas genéticas conhecidas do TEA incluem: alteragées cromossémicas identificadas por exames, como 0 cariétipo (5%); microdele- es/microduplicagdes (10%); doencas monogénicas nas quais achados neu- rolégicos esto associados ao TEA (5%) (BRASIL, 2014). Em menor proporgao, 0 TEA pode estar associado a distirbios metabéli- cos relacionados a padrées recessivos de heranca genética, apresentando ca- racteristicas clinicas de facil identificagdo, como convulsées e outras alteragées fisiolégicas (GRIESI-OLIVEIRA; SERTIE, 2017). As possiveis razdes para o crescimento da prevaléncia relacionam-se a diversos aspectos que incluem: alteragées nos critérios de diagnésticos; maior conhecimento dos pais e da sociedade acerca das manifestagdes clinicas; 0 desenvolvimento de servicos instrumentos especializados, principalmente no que se refere ao diagnéstico precoce; e a possibilidade da classificagdo dentro de um conceito de espectro, que considera a variabilidade dos quadros, somados a fatores de risco ambien- tais, como idade parental avancada, uso de medicamentos, entre eles ansioli- ticos e antidepressivos durante a gestag4o, baixo peso ao nascer, insultos neonatais, além de alteragdes bioldgicas como a herdabilidade e mutagdo genética (SCHWARTZMAN; ARAUJO, 2011; GENOVESE; BUTLER; 2020). DIAGNOSTICO O diagnéstico de TEA deve ser realizado por equipe multidisciplinar e fe- chado por médico. De acordo com a American Academy of Pediatrics e a Socie- dade Brasileira de Pediatria, o rastreamento dos sinais do autismo pode ser realizado a partir dos 18 meses. Caso a crianca seja identificada com sinais de risco para TEA, ela deverd ser encaminhada para uma avaliacéio mais aprofun- dada. Essa confirmagao é possivel no final do segundo ano de vida da crianga. Os instrumentos para rastreamento tém a finalidade de identificar os sinais precoces de risco do autismo. Esses instruments podem ser classifica- dos segundo duas caracteristicas: o formato e o nivel. O formato refere-se 4 apresentacao e forma de aplicagao. Nessa categoria, estao as escalas, os in- ventarios, os testes e os protocolos de observacdo. O nivel consiste na profun- didade da avaliacio. De modo geral, esses instrumentos nao sao suficientes Caceros de s-GraduacSo em Distsblos do Deserve 14 ‘Sho Pao, 22,92, 9108-5, der, tei doorg0 5935 lana Oliveira de Angelis, 8 Cristina Trgueite Velo Teitera para definicdo do diagnéstico, sendo necessario que a crianca passe por uma avaliacdo mais aprofundada. De acordo com a Area de intervengao, existem diferentes escalas para avaliar o desenvolvimento infantil, com protocolos de observacao, testes que aferem diferentes habilidades e principalmente testes de inteligéncia que per- mitem descartar comorbidades e estabelecer o funcionamento adaptativo da crianca. Na area comportamental, destacam-se a Avaliacdo da Linguagem Basi- ca e Habilidades de Aprendizagem (Assessment of Basic Language and Learning Skills - ABBLS) e o Verbal Behavior Milestones Assessment and Placement Pro- gram (VB-MAPP), que abrange diversas questées essenciais para a intervencao, como marcos do desenvolvimento, barreiras e habilidades de apoio. Atualmente ha cinco protocolos usados para confirmar o diagnéstico de TEA: 1. Entrevista de Diagndéstico de Autismo Revisada — Autism Diagnostic In- terview-Revised — ADI-R (BECKER et al., 2012), 2. Programacao de Observacdo Diagndstica para Autismo - Autism Diagnostic Observation Schedule - ADOS-G (PACIFICO et al., 2019), 3. Observacao Estruturada para Rastreamento de Au- tismo — OERA (ALCKMIN-CARVALHO et al., 2014; PAULA et al., 2018), 4. Pro- tocolo de Avaliagao para Criangas com Suspeita de Transtornos do Espectro do Autismo — PROTEA (SEIZE; BORSA, 2017) e 5. Autism Mental Status Examina- tion - AMSE (GALDINO et al., 2018). AADLR é uma entrevista semiestruturada, administrada aos pais ou cui- dadores, que levanta informacées gerais sobre o paciente e sua familia; o desenvolvimento precoce e os marcos do desenvolvimento; a triade de com- prometimentos segundo os critérios do DSM-IV-TR; e os problemas gerais de comportamento. Jé a ADOS-G é um instrumento padronizado e semiestruturado de observagao que busca verificar especificamente as habilidades de interagao social, comunicacéo, brincadeira ¢ uso imaginativo de materiais pelas criangas com suspeita de TEA (SEIZE; BORSA, 2017). Suas provas serviram de base para o desenvolvimento da OERA, proposta por Alckmin-Carvalho et al. (2014). A partir da interagao entre o avaliador e a crianga, o protocolo composto por oito provas estruturadas evoca comportamentos especificamente relacionados aos sintomas centrais de TEA em atividades que sao filmadas e posteriormen- te pontuadas para identificar risco de TEA. O PROTEA-R, desenvolvido pelo Nticleo de Estudos e Pesquisas em Trans- tornos do Desenvolvimento da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), é um instrumento de observacao direta da crianga em interagao com nanstorno do especteo do autism (TEA): ms 16 um adulto (pais e/ou profissional) que utiliza um conjunto de brinquedos de baixo custo e pode ser aplicado por profissionais de diferentes areas. Esse instrumento também contempla a triade de comprometimentos dos TEA, le- vando em consideracéo a frequéncia, a intensidade e as especificidades dos sintomas, com registros qualitativos, a partir de resultados de pesquisas na area (SEIZE; BORSA, 2017). Ha ainda o Autism Mental Status Examination (AMSE), protocolo desen- volvido nos Estados Unidos para apoiar o diagnéstico clinico baseado no DSM-5 que jd foi traduzido para o portugués e est em fase de validagao no Brasil. O instrumento é dividido em trés areas: funcionamento social, co- municativo e comportamental. Além disso, é dividido em observacao clinica relato dos responsaveis. O AMSE tem se mostrado eficiente para a avaliacao de criangas com suspeitas de TEA em idade pré-escolar (CEDERLUND, 2019). A partir dos resultados das avaliagées, é importante analisar e considerar © diagnéstico diferencial, visto que, em alguns casos, os TEA podem ser con- fundidos com outros atrasos do neurodesenvolvimento com sintomatologia similar. Uma avaliacdo abrangente multidisciplinar sempre é necessaria, e um de seus objetivos é determinar se se trata de crianga TEA com ou sem condi¢ao associada. Outro ponto importante a ser considerado sao os diagnésticos di- ferenciais que podem se confundir com TEA. Esses quadros incluem: * Apraxia da fala: no caso do autismo, uma caracteristica muito comum € 0 atraso ou a dificuldade no desenvolvimento da fala e a dificuldade de iniciar e manter um didlogo. JA na apraxia, a crianca compreende a linguagem, mas tem dificuldade em se expressar corretamente, € nos TEA 0s atrasos de fala estao associados a déficits em interagao social (TIERNEY et al., 2015). * Atraso global no desenvolvimento/deficiéncia intelectual: pode ser dificil de se distinguir do TEA, particularmente em criangas mais jovens e naquelas com comprometimento cognitivo grave. Déficits cognitivos sao dificeis de avaliar em criangas com idade baixa e criangas nao verbais, e deficiéncia severa pode estar relacionada com comportamen- tos repetitivos, associados a atraso na linguagem; no entanto, no atra- so global e na DI, nao ha discrepancia entre comunicacao social e outras habilidades (ZEIDAN et al., 2022). + Transtorno do desenvolvimento da linguagem e fala (TDL -se pelo atraso no inicio da linguagem ou dificuldades de interagao : caracteriza- social, mas criangas com TEA tém maior prejufzo funcional compara- das as criancas com TEL. Os testes de linguagem nao mostram diferen- ca significativa entre os transtornos, sendo a ecolalia uma manifestacao dos dois disttirbios. Entretanto, no TEL as criangas apresentam melhor compreensao metalinguistica, melhor desempenho em habilidades sociocognitivas e psicossociais, e perfil de comunicagao pragmatica mais sofisticado em relagao aos TEA (ISHIHARA; TAMANAHA; PERIS- SINOTO, 2016). Altas habilidades/superdotagdo: as criancas tendem a apresentar inte- resses dispares para a idade e baixa interagao com criancas da mesma idade. No entanto, possuem comunicagdo nao verbal ¢ habilidades de linguagem pragmatica normais, e demonstram interesses funcionais com objetos e o meio. Transtorno de déficit de aten¢do/hiperatividade (TDAH): alteragées da atencao (foco exagerado ou distragdo) e hiperatividade confundem, no entanto a linguagem pragmatica ¢ os padrées de interesse so mais funcionais nos TEA (AUGUSTYN; VON HAHN, 2022). Problemas de audigdo: em contraste com criangas com TEA, aquelas com problemas auditivos usualmente tém interagées sociais reciprocas normais, “faz de conta”, eye-to-eye gaze e expressdes faciais indicativas de suas intenges de se comunicar (AUGUSTYN; VON HAHN, 2022). Sindrome de Rett: desordem do neurodesenvolvimento com grande prevaléncia em meninas. Os pacientes afetados inicialmente tém o desenvolvimento normal e posteriormente perdem a fala e a movi- mentacao do controle intencional da mao apés a idade de 18 meses. Na maioria dos casos, a sindrome de Rett é resultante da mutacao do gene MECP2. Aspectos clinicos incluem: desacelera¢ao do crescimen- to cefalico - em contraste com a aceleragdo que ocorre no TEA -, movimentos estereotipados da mao e apneia (AUGUSTYN; VON HAHN, 2022). Transtorno obsessivo-compulsivo (TOC): possui caracteristicas compor- tamentais que se sobrepdem ao TEA. Os individuos com TOC percebem seus sintomas como angustiantes, o que ndo ocorre com as pessoas que tém TEA. Entretanto, os individuos com TEA podem ter sintomas de TOC que julguem angustiantes. Ademais, criangas com TOC tipicamen- te possuem habilidades sociais, de linguagem e comunicago normais (ASSUMPGAO JR.; KUCZYNSKI, 2011). Tanstome do espeato do autsme CHA): [J cadernos derés- 4 ‘Sto Pauly 23 Teixeira tof do org 0.3835) PAULA, C. S. et al. Identifying autism with a brief and low-cost screening instrument — OERA: construct validity, invariance testing, and agreement between judges. Journal of Autism and Developmental Disorders, v. 48, p. 1780-1791, 2018. DOI 10.1007/ $10803-017-3440-6 SCHWARTZMAN, J. S.; ARAUJO C. A. de. (org.). Transtornos do espectro do autismo. Sfo Paulo: Memnon, 2011 SEIZE, M. de. M.; BORSA, J. C. Instrumentos para rastreamento de sinais precoces do autismo: revisdo sistematica. Psico-USF, Braganga Paulista, v. 22, n. 1, p. 161-176, jan./ abr. 2017. DOI 10.1590/1413-82712017220114 STEINBRENNER, J. D. et al. Evidence-based practices for children, youth, and young adults with autism. The University of North Carolina at Chapel Hill, Frank Porter Graham Child Development Institute, National Clearinghouse on Autism Evidence and Practice Review Team, 2020. Disponivel em: https://ncaep.{pg.unc.edu/sites/neaep. fpg.unc.eduyfiles/imce/documents/EBP Report 2020.pdf. Acesso em: 1° fev. 2023. TIERNEY, C. D. et al. How valid is the checklist for autism spectrum disorder when a child has apraxia of speech? Journal of Developmental & Behavioral Pediatrics, v. 36, n. 8, p. 569-574, 2015. DOI 10.1097/DBPR0000000000000189 ZEIDAN, J. et al. Global prevalence of autism: a systematic review update. Autism Research, v. 15, n. 5, p. 778-790, 2022. DOI 10.1002/aur.2696 tanstorn do espeatro do autism CHA) ‘caraeteisasio, dagen intervensso ‘2s

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