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I, EdtOra:EDÍTORADO BRASIL SA
L00. Uoleçao: 0187P1 8043 Cód. Livro: 0187P1 80431 031L
-
Renato JVtoceitin
Bacharel em Direito e licenciado em História pela UFPR
Pós-graduado em História da Arte pela PUC-PR
Mestre em Educação pela UFPR
Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná
Professor do Ensino Médio
Rosiane de Camargo
Licenciada em História pela UFPR
Pós-graduada em História do Brasil
pela Faculdade Bagozzi [PRi
Professora do Ensino Fundamental e do Ensino Médio
A do
Editora
v Brasil
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Mocellin, Renato
História em debate 3 / Renaco Mocellin, Rosiane de Camargo. -4. cd. - São Paulo:
Editora do Brasil, 2016. -. (Coleção história em debate; v. 3)
t3ibhogra fia.
ISBN 978-85.10-06167-4 (aluno)
ISBN 978-85-1 0-06 1 68-1 (professor)
1. História (Ensino médio) 1. Camargo, Rosiane de. II. Título. III. Série.
16-03359 (:D13-907
v
deste livro 10(301 produzidas com fibras
Somos bombardeados diariamente com centenas de informações. Elas são como ruídos que
nos chegam pelos sentidos e são processados pelo cérebro. Já pensou se todas elas ficassem retidas
na memória? Seríamos como supercomputadores. Mas como isso não é possível, nem necessário,
elas são filtradas e apenas as mais relevantes permanecem.
A disciplina de História é repleta de informações. Elas não são dadas somente para você me-
morizá-Las, mas também para que você possa refletir sobre elas, mudar sua vida e, consequente-
mente, a sociedade em que vive. Esta é a grande mágica da aprendizagem: transforma informações
em conhecimento.
Este livro, por meio da abordagem temática, suscita diversas reflexões. Não são priorizados
dados como nomes, datas e fatos, que podem ser descartados pelo cérebro por não serem significa-
tivos ou até mesmo podem ser acessados na internet e armazenados no computador.
Refletindo acerca dos temas propostos neste material, você será capaz de confrontar a reali-
dade que conhece com outros contextos ou desenvolver uma nova maneira de olhar para a mesma
questão. Nesse processo, poderá aplicar as novas informações históricas à sua realidade e modificá-
-la ou reconstruí-la.
Esperamos que esta coleção, um entre tantos recursos disponíveis de informação, possa
auxiliá-lo nesse caminho.
Que ele seja agradável e proveitoso!
Os autores
Organização do livro
Este livro é dividido
em dez capítulos. No
início de cada capítulo,
você encontrará un
grande imagem, qu
representa o assunt
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que será trabalhad .
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introdução que inspir . fi
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uma reflexão iniciaL. '
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O texto principal, desenvolvido de forma clara e Na seção Organizando ideias, em questões que
objetiva, começa sempre em uma nova página, envolvem análise e interpretação de textos e
facilitando sua localização nas aulas e no estudo imagens, são retomados conceitos e assuntos
em casa. desenvolvidos no livro.
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O Glossário, ao trazer
a explicação dos
termos em destaque,
amplia o vocabulário.
Debate interdisciplinar
A seção Debate
interdiscipLinar tro7 Estado de
urna temática tratada
no capítulo que dialogo OO Q7o
com outras disciplinas,
possibilitando a
VOCê relacionar
os diferentes
conhecimentos
escolares entre si.
4'-
-.,
Nação e identidade 27
3 Século XX: a era da guerra total... ... .. .............. ........................... ............ ........................... ..... 62
Congo. . ..............................................................................................................227
SudãoeSudâodo Sul .....................................................................................................................229
Etiópia..................................................................................................................232
O Renascimento Africano ..... ..................................................................... 234
Debate interdisciplinar: Literatura e africanidade .............................................................. 236
Referências 286
- - - -- -- - - -
Certamente você já ouviu, em tempos de conjunto de pessoas que torcem pela Seleção
Copa do Mundo de Futebol, frases como: Brasileira.
nação brasileira está torcendo pela seleção"; Nesse conceito está impLícita uma rela-
ou, diante das vitórias: "Nossa nação está or- ção afetiva e subjetiva: a paixão pelo futebol
gulhosa do desempenho de seu time"; e nas e a torcida pelo time. A ideia de nação é algo
derrotas: 'A nação brasileira chora por essa que liga a todos. Assim, o que há de comum
derrota". Nesse contexto, nação significa o entre os torcedores que os torna uma nação
a
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é torcer pelo mesmo time de futebol, por Neste capítuLo serão apresentadas ai-
exemplo. gumas questões sobre a construção dos
E o que há em comum entre os milhões conceitos de nação e nacionalismo, o sentido
de brasileiros que moram em várias partes de pertencimento a uma nação. Abordaremos
deste imenso território? A nacionalidade, ou também alguns aspectos históricos corres-
seja, o sentimento de pertencer a uma nação, pondentes à formação das nações tal como as
a brasileira. conhecemos hoje.
Nação: a ideia de pertencimento
Construção recente na história da
humanidade, o conceito de nação não
é único. Esse termo adquiriu sentido
político no final do século XVIII - cujo
marco foi a Revolução Francesa - e foi
amplamente divulgado no século XIX.
A palavra nação, por sua vez, não
surgiu com a Revolução Francesa. Ela
já era utilizada na Antiguidade (natio,
em latim) e significava "raça" ou "ser
nascido de". No Império Romano, por
exemplo, diferenciava e discriminava
os cidadãos (aqueles nascidos de pai
romano e que herdavam a cidadania)
dos demais habitantes.
Com seus ideais de liberdade e
igualdade, a Revolução Francesa esti-
mulou sentimentos de busca de gover- Lugene Oelacroix, A Liberdade guiando o povo. 1030. Oleo sobre tela, 3.25 m > 2,60 rn.
nos independentes e projetos de for- Em meio a um combate, uma mulher que simboliza a liberdade marcha segurando a bandeira
francesa tricolor. As lutas pela liberdade no século XIX foram movimentos em busca do direito de
mar o que hoje chamamos de nação. ter urna nação. Os artistas do periodo retrataram as mudanças e os sentimentos nacionalistas.
- 12
Fruto da própria vivência comum entre os Portanto, percebemos que, por mais múl-
indivíduos, a identidade nacional está acima das tiplos que sejam os aspectos culturais de uma
particularidades, unindo a todos e criando a iden- nação, a junção de outras facetas comuns da
tidade comum, ou seja, uma identidade aceita história, a vivência, os hábitos e os valores de uma
pelas pessoas de uma mesma comunidade. Assim, população podem ser utilizados para criar a ideia
quando alguém se reconhece como membro de de unidade e identidade nacional, que por sua vez
uma nação, mesmo que viva fora dos limites ter- não é estática nem definitiva. Assim como surge
ritoriais dela, seu sentimento de pertencimento a da união de vários elementos, pode ser alterada
esse agrupamento não se altera. As nações podem pela modificação, acréscimo ou decréscimo de
ter várias línguas e religiões, sem, contudo, deixar outros elementos.
de identificar-se como tal.
Leia o texto a seguir e faça o que se pede uma ordem jurídica e política homogênea. A nação
ergue-se sobre a consciência da unidade cultural
O termo país não significou sempre o que e do destino de um povo, expressa nos símbolos
significa hoje. De origem medieval, país designa- da pátria e apoiada na distinção entre o natural e
va apenas uma coletividade limitada, ou ainda, a o estrangeiro.
população de uma região, os habitantes ligados por O Estado nacional é objeto de paixão e compe-
vínculos sociais e culturais que compartilhavam um tição. As guerras constituem o ponto extremo da
ambiente. [ ... ] exaltação patriótica, mas as rivalidades entre os
Nessa época, o elo entre o povo e a terra natal Estados se reproduzem nas "guerras em miniatura"
era unicamente um elo prático. [ ... } proporcionadas pelas disputas esportivas inter-
Atualmente, o elo entre uma população e seu nacionais. A execução do hino e o hasteamento
território é essencialmente ideológico: trata-se da bandeira pontuam as Olimpíadas, Copas do
do patriotismo, que é a sensação de pertencer a Mundo, corridas automobilísticas, lutas de boxe,
determinada entidade social, política e geográfica
torneios e rjxad ri sti c os, campeonatos de basquete
à qual chamamos de país. [ ... ]
e vôlei etc.
O patriotismo só existe através de uma me-
diação simbólica. Identificamos o nosso país pela MAGNOLI, Demétrio. A União Europeia: história e geopolítica.
bandeira, pelo hino, pelas figuras dos heróis, pelos São Paulo: Moderna, 2000. p. 55.
A6 ossai'io
Enxadrístico: referente à prática do jogo de xadrez.
13
A identidade nacional A promoção de cerimônias cívicas, a criação
de feriados nacionais, a construção de monumen-
A construção da identidade nacional se faz tos com homenagens aos heróis, o nome de ruas e
pela arte, literatura, história e música, além de mais uma infinidade de exemplos também são for-
tradições que criam mitos e heróis possíveis de mas de criar ou reforçar uma consciência nacional.
justificar um passado glorioso e forjar uma ideia O sentimento de pertencimento, ou seja, o senti-
de nação. Trata-se da criação de uma identidade mento nacional, não é inato, mas faz parte de um
cultural que une o povo e proporciona a ilusão de processo histórico.
uma harmonia em sua formação, como .
se houvesse uma unidade nacional.
A educação, a cultura e o patriotis- s#f
mo são formas de reforçar a consciência A .
nacional e os laços entre os cidadãos. r' '--• -•(•
- -•- . . -. - ....s
- - -- .. .. . a •'
Desfile no Sambódromo
Anhembi em comemoraçt
ao 7 de Setembro. o
em que se celebr.
Independência do Eras!
São Paulo (SP), 201S
Organizando ideias .
Leia o texto a seguir e faça o que se pede histórico, as tradições "inventadas" caracterizam-
A invenção das tradições -se por estabelecer com ele uma continuidade bas-
tante artificial. Em poucas palavras, elas são reações
O termo "tradição inventada" é utilizado num a situações anteriores, ou estabelecem seu próprio
sentido amplo, mas nunca mdelmido. Inclui tanto passado através da repetição quase que obrigatória.
as "tradições" realmente inventadas, construídas
e formalmente institucionalizadas, quanto as que HOBSBAWM, Eric: RANGER, Terence, A invenção das
tradições. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2012. p. 9-10.
surgiram de maneira mais difícil de localizar num
período limitado e determinado de tempo - às 'e-
zes coisa de poucos anos apenas - e se estabelece- O que é tradição inventada', segundo os
ram com enorme rapidez. [ ... ] autores, e como ela é criada?
Por "tradição inventada" entende-se um con-
junto de práticas, normalmente reguladas por re- Faça uma pesquisa e reflita sobre as tradi-
gras .ou abertamente aceitas; tais práticas, de ções de sua cidade ou estado. Dê exemplos
natureza ritual ou simbólica, visam rci certos
de algumas delas que se encaixem na defi-
valores e normas de comportamento através da
repetição, o que implica, automaticamente, uma nição de "tradição inventada".
continuidade em relação ao passado. Aliás, sem-
pre que possível, tenta-se estabelecer continuidade De que maneira as "tradições inventadas' se
com um passado histórico apropriado. [ ... ] Contu- relacionam com a criação de uma identidade
do, na medida em que há referência a um passado nacional? Justifique sua resposta.
A
Incutcar: gravar ou imprimir (algo) na consciência de alguém; repetir algo seguidamente.
Tácito: que não se revela, oculto.
14 1
As ondas revoLucionárias na Europa
Um dos princípios disseminados pela Re- Entre 1820 e 1848 ocorreram grandes revolu-
volução Francesa era que a soberania provinha ções, que culminaram na reformulação dos ideais
da nação, no sentido de "todo o povo". Dessa de nação. Entre elas podemos citar a onda de in-
forma, o Estado deveria ser a incorporação da dependências das colônias europeias - em especial
vontade do povo. Essa ideia desagradava às mo- as colônias na América-, a eclosão do movimento
narquias europeias, que, entre 1814 e 1815, reu- operário na Grã-Bretanha, de movimentos reivindi-
niram-se no Congresso de Viena com o objetivo catórios no oeste da Rússia e na América do Norte
de firmar acordos de paz, reorganizar as frontei- e da Primavera dos Povos. Apesar de terem sido
ras europeias, restabelecer o equilíbrio entre as reprimidas, essas iniciativas foram responsáveis
nações e reafirmar o domínio das monarquias pelo início da discussão a respeito da identidade
absolutistas. Nesse cenário, foi estabelecido que nacional nas colônias, impulsionadas pela busca
todo movimento popular que ameaçasse o pode- aos ideais de liberdade das populações.
rio dos monarcas deveria ser reprimido.
No entanto, essa ação não conseguiu conter Primavera dos Povos foi o nome dado às
os movimentos revolucionários do século XIX. Os revoluções ocorridas em 1848 na Europa com o
movimentos das primeiras décadas desse século objetivo de derrubar os governos absolutistas do
eram liberais e nacionalistas: liberais porque pro- continente. As manifestações começaram como
uma reação às medidas adotadas no Congresso
curavam romper com os grandes privilégios dos
de Viena, culminando em movimentos de resis-
monarcas e implantar regimes constitucionais
tência pautados em preceitos socialistas.
que garantissem a liberdade; e nacionalistas por-
que apoiavam-se na ideia de valorização dos inte-
resses da nação, formada pela
união dos cidadãos
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SUÉCIA«
A ideologia nacionalista, MARRO b.
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NORTE - BÁLTIC
decerto, é bem anterior ao o
século XIX. Mas foi duran-
IMPERIO
te esse período que a Nação RUSSO -.
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passou a ser tomada como -
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1 66 AUSTRIACO
e que foi erigida em argu-
AT T1COs 8dpe,t, 4Ç
mento destinado a justificar RRANA
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distinguir, nela, o que per- 6.0
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MAPMEO;TERPA NEO
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movimentos populares. /
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/ÁMICA :.
CHÂTELET, François. História das
ideias poLíticas. Rio de Janeiro: FoNe- VICENTINO, Cltid:o. Atlas
Zahar, 1997. p. 96. Principais focos de insurreição das revoluções de 1848 histórico: qeral e Brasil. Súo Paulo:
Manifestações cartistas inglesas Sopione. 2011.1). 131.
Revolução Húngara de 1848 a 1849
- Limite da Confederação Germânica
Nacôce e n3ciona1ism 15
Tem havido um bom número de grandes re- so, 1848 foi a primeira revolução potencialmente
voluções na história do inundo moderno [...J. Mas global, cuja influência direta pode ser detectada
nunca houve uma que tivesse se espalhado tão rápi- na insurreição de 1848 em I'ernambuco (Brasil) e,
da e amplamente, alastrando-se como fogo na pa- poucos anos depois, na remota Colômbia. [... 1 Foi,
lha por sobre fronteiras, países e mesmo oceanos. ao mesmo tempo, a mais ampla e a menos bem-
Na França 1...j a república foi proclamada em 24 de -sucedida revolução desse tipo. No breve período
fevereiro. Em 2 de março, a revolução havia ganha- de seis meses de sua explosão, sua derrota universal
do o Sudoeste alemão; em 6 de março. a Bavária; era seguramente previsível; 18 meses depois, todos
em 11 de março, Berlim; em 13 de março, Viena, e os regimes que derrubara, com exceção de um, fo-
quase imediatamente a Hungria; em 18 de março, ram restaurados, e após 18 meses de sua irrupção,
Milão, e, portanto, a Itália. [ ... ] Em poucas sema- com a exceção da República Francesa, estava mnan-
nas, nenhum governo ficou de pé em uma área da tendo toda a distância possível entre si mesma e a
Europa que hoje é ocupada completa ou parcial- revolução à qual devia sua própria existência.
mente por dez Estados, sem contar as repercussões
HOBSBAWM, Eric. A Era do Capital: 1848-1875. São Pauto:
menores em um bom número de outros. Além dis-
PazeTerra, 2011. p. 32-33.
Organizando ideias
Leia os textos a seguir e responda às questões foram abolidos na Áustria e nos Estados alemães;
Texto 1 e parlamnentos, dominados, é certo, por príncipes
e aristocratas, foram estabelecidos na Prússia e em
[ ... ] Evitar uma segunda Revolução France-
outros Estados alemães. Nas décadas seguintes as
sa [... foi o objetivo supremo de todas as potências
reformas liberais se tornariam mais difundidas.
que tinharn gasto mais de vinte anos para derrotar
Essas reformas foram introduzidas pacificamente,
a primeira [_1. E, ainda assim, nunca na história da
poiso fracasso das revoluções de 184$ convenceu a
Europa e poucas vezes em qualquer outro lugar, o
muitos, inclusive os liberais, de que levantes popu-
revolucionarismo foi tão .. " L., tão geral, tão ca-
lares eram caminhos ineficazes para a modificação
paz de espalhar por propaganda deliberada como por
da sociedade. A era das revoluções, iniciada pela
contágio espontâneo.
Revolução Francesa de 1789, tinha terminado.
HOBSBAWM, Eric. AEra das Revoluções. 1789-1848.
SãoPauio: Paz e Terra, 2011. p. 183-184. PERRY. Marvin. As revoluções de 1848: uma avaliação.
In: . Civilização ocidental: uma história concisa.
São Paulo: Martins Fontes, 2002. p. 408.
Texto 2
Antes de 1848, os democratas idealistas ante- Por que as nações europeias tinham receio de
viam o nascimento de uma nova Europa, de pessoas
que, no início do século XIX, acontecesse uma
livres e nações emancipadas. As revoluções na Euro-
revolução nos moldes da Revolução Francesa?
pa central mostraram que o nacionalismo e o libera-
lismo não eram aliados naturais, que os nacionalis- Qual é o significado da última frase do texto 1?
tas eram frequentemente indiferentes aos direitos de
outros povos. [ ... ] Por que o autor do texto 2 afirma que a era
Os propósitos liberais e nacionalistas dos re- das revoluções, iniciada em 1789, terminou
volucionrios não foram realizados, mas os ganhos em 1848?
liberais não foram insignificantes. Todos os ho-
Atualmente os movimentos nacionalistas
mens franceses obtiveram o direito de voto; os
serviços prestados pelos camponeses aos senhores ainda são indiferentes aos direitos de outros
povos? Explique.
. xiJio;
Giuseppe GaribaLdi participou das revoluções
1848, c. 1849. Oleo sobre tela. 85cm x 82 em.
liberais de 1830 e 1848 e, no Brasil. da Revolu-
ço Farroupilha (1835-1845). Em Santa Catarina,
A iniciativa ganhou força, influenciada pelos
uniu-se a Anita Maria de Jesus Ribeiro, que se-
ideais da organização revolucionária jovem Itália, guiu com ele para a Itália e entrou para a histó-
que, sob a liderança de Giuseppe Mazzini, defen- ria como a heroína de dois mundos, passando
dia a independência do território italiano e sua a ser conhecida como Anita Garibaldi.
transformação em uma república democrática.
17
No final de 1860, a Itália já estava quase to- Ainda hoje podem ser identificadas grandes
talmente unificada sob a Dinastia Savoia. Falta- diferenças linguísticas, culturais e de cunho histó-
vam ainda Veneza (em poder da Áustria) e Roma rico, que representaram um entrave na consolida-
(em poder da Igreja Católica), anexadas respecti- ção de uma identidade cultural italiana comum.
vamente em 1 866 e 1870. Esta última tornou-se a
capital da nação italiana.
A Questão Romana foi um conflito entre o
A perda dos domínios territoriais da Igreja
Papado e a Itália devido à tomada dos Estados
Católica gerou rompimento entre ela e o governo
Pontifícios pelo governo no processo de unifi-
italiano, pois o papa Pio IX não aceitou essa nova
cação do país. Essa questão levou ao corte de
situação e considerou-se prisioneiro em um Esta- relações entre as duas partes quando as tro-
do "laico", fechando-se no Vaticano. Assim teve pas de Vítor Manuel II entraram em Roma e
início a Questão Romana, resolvida apenas em ele se instalou no palácio pontifício do Quiri-
1929, quando o então ditador Benito Mussolini nal (1870). O conflito perdurou até 1929, após
e o papa Pio Xl assinaram o Tratado de Latrão. passar pelos pontificados de Pio IX, Leào XIII,
Com esse documento, o governo italiano reco- São Pio X e Bento XV, resolvendo-se apenas
com o Tratado de Latráo, assinado em 11 de
nheceu a Soberania da Santa Sé (Igreja Católica)
fevereiro do mesmo ano.
sobre o Vaticano, declarado Estado soberano.
Após a unificação, a Itália enfrentou problemas
econômicos, sociais e políticos causados por rivali-
dades entre o norte, industrializado, e o sul, agrário,
além do aumento do banditismo organizado, repre-
A unificação alemã
sentado pela máfia. Por causa dela, muitos italianos Após o Congresso de Viena, a Alemanha era
deixaram o país e emigraram para a América. uma confederação de 38 Estados independentes,
dos quais se destacavam a Áustria e a Prússia.
A Áustria era economicamente forte graças
IRhN1IN0—_ a seu setor agrícola, já a Prússia tinha grandes
Trenro 'Udine'. interesses na unificação política, pois visava ao
o
SAvOlA
TuomIN
MdSo
OMBARDI
7' VENËCPAJTRIA
T Te i desenvolvimento econômico da região. Em 1834,
Ve,ona Veu
A. a Prússia deu um passo importante nesse senti-
PIEMI)NTE
18
A partir de 1860, a Prússia passou a
se engajar cada vez mais no processo de o
DINAMARC, SUÉCIA 1/
unificação, que ganhou força maior após a
Mar SAlbco
nomeação de Otto von Bismarck, defensor
SCHLESWIO - - , -
dessa causa, para primeiro-ministro. HOLS1EÓI
PÚSSIA
POMERA\I4 ORIENTAL
MECRostock
Em 1864, Prússia e Áustria entraram 16 rrbyg
KEMBIJRG
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OCtOENrAL
em guerra contra a Dinamarca para recu-
8
ASIS J r 'HANOVER .
RUSSIA
conflito, então contra a França, motivado -- Fronte,,, do moA,,, Serrnànrcr, em 1871 [- IncolpOraçân co, 1066
19
A nacionalidade na América
No continente americano, o século XIX ficou Na América Latina, as recém-independentes
marcado pelos movimentos de independência. repúblicas procuravam unificar-se e formar novas
As potências europeias foram perdendo suas co- nações, pois não bastava definir as fronteiras -
lônias na América como reflexo da disseminação era necessário construir a nacionalidade.
das ideias liberais da Revolução Francesa. De modo geral, a formação da nacionalida-
de na América Latina ocorreu por um processo di-
rigido por uma minoria aristocrática, que, depois
A especificidade do Brasil, que se manteve
de ascender ao poder com a independência, ga-
como a única monarquia em meio às repúblicas
criadas pela independência nas Américas, indi- rantiu legitimidade à população daquele territó-
ca as trajetórias diversas seguidas pelas colônias rio e conferiu-lhe a nacionalidade. Em outras pa-
americanas em sua transição para Estados inde- lavras, ela foi constituída pela delimitação de um
pendentes. Elas indubitavelmente compartilham território e a composição de um Estado dirigente.
de algumas características comuns importantes Entretanto, esse Estado dirigente era forma-
que as vinculam num processo que varreu o do por donos das terras e grandes mercadores,
mundo atlântico: todas nasceram no contexto de
que estavam mais ligados à economia externa e a
guerras entre potências coloniais; todas estavam
seus próprios interesses do que propriamente aos
relacionadas a reformas políticas que incitaram a
oposição colonial aos governos das metrópoles; habitantes das nações recém-formadas, o que
todas surgiram de crises políticas e constitucio- gerou pobreza para a maior parte da população e
nais que incitaram o descontentamento com a deficiências na estrutura interna.
distribuição do poder; todas se inspiraram em
ideias sobre direitos individuais e soberania po-
pular que, induzidas pela Revolução America-
na, encontraram nova forma de se expressar na
França revolucionária, e, combinadas ao pensa-
mento e método revolucionário francês, forne-
ceram inspiração e instituições para a revolução
política nas colônias da América Latina.
[...
A crise colonial em todos esses impérios estava
associada ao conflito instalado na Europa, com a
disseminação de novas noções de direitos naturais
e constitucionais e com o fracasso das metrópoles
em criar Constituições imperiais capazes de inte-
grar as colônias em termos igualitários. As revo-
luções políticas produziram resultados bem dife-
rentes, porém, já que o novo conceito de direito
à "vida, à liberdade e à busca da felicidade" foi iii-
troduzido em contextos culturais muito distintos.
MALERE3A, Jurandir lOrg.1. A independência brasiLeira:
novas dimensões. Rio de Janeiro: Editora rcv, 2006.
p.08e415.
20
Os reflexos desse tipo de administração ain- Na América do Norte, a construção do es-
da estão presentes em muitas economias latino- paço nacional iniciou-se com a independência
-americanas. Portanto, a formação dos Estados das Treze Colônias, em 1776. Depois, por meio
nacionais latino-americanos se deu pelo viés da do Tratado de Paris (1783), o Reino Unido cedeu
dependência econômica, primeiro da Inglaterra, aos Estados Unidos os territórios a noroeste, e as
que apoiou as guerras de independência, e depois outras regiões foram sendo gradativamente ane-
dos Estados Unidos. xadas pela com pra, cessão ou conquista. No oes-
te, a Guerra de Secessão (1861-1865) entre os es-
tados do norte e do sul intensificou o processo de
A constituição da nacionalidade abriu seu
conquista das terras até então ocupadas por indí-
caminho a golpes de baionetas, demarcando
genas e pequenos produtores rurais. A chamada
territórios e populações que se incorporaram
a uma sociedade já dividida em classes sociais. Marcha para o Oeste, concluída em 1890, pos-
Às populações nativas se somaram os chamados sibilitou a ampla formação territorial dos Estados
povos exportados. Estes povos vinham da África Unidos da América.
negra e eram constituídos pelos escravos recém- Após a consolidação do território, os
-libertados e um grande contingente migratório, Estados Unidos, que vinham de um processo de
que tinha sido expulso da Europa e, entre 1870 e crescimento econômico, ingressaram no seleto
1914, foram incorporados nos diferentes países
grupo das potências econômicas. Depois da
da América Latina. [...1
Primeira Guerra Mundial, saíram ainda mais for-
RUBEN, Guiltermo RaúL O que é nacionaLidade. talecidos, assumindo um papel de liderança na
São Pauto: Brasiliense. 1984. p. 33-34.
economia mundial.
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Entadosadmitidos na Uniõo
de 1790a 1821
J depois de 1914
Fonle: DUBY Gcnrçjcs Dir.). Atlas hist&ico mundial. 3. cd Borceona LroI,ssr E:lcral. 2W 1.). 251
21
patriótico e suas relações comerciais, sociais e
O nascimento e os culturais com os outros países.
renascimentos do O Dia da independência dos Estados Unidos
22
A construção da nação brasiLeira
Antes de o Brasil se tornar independente, a mudar no contexto de lutas contra o inimigo
em 1822, não havia unidade territorial na co- estrangeiro, mais precisamente na Guerra do
lônia. Havia, sim, vários núcleos coloniais sem Paraguai (1864-1 870). Durante a guerra e após
unidade política e econômica. Alguns deles, in- as primeiras vitórias em batalhas, alguns símbo-
clusive, chegavam a se comunicar diretamente los que demonstram sentimento cívico come-
com a metrópole, em Lisboa, sem qualquer liga- çaram a ser mais divulgados, como a Bandeira
ção com a sede administrativa da colônia no Rio Nacional, que passou a ser veiculada na impren-
de Janeiro. Após a independência foram dados os sa como símbolo da pátria, e o Hino Nacional,
primeiros passos para a formação da nação, ini-
ciada pela unificação do território.
Não havia um sentimento claro de pátria na Apesar de estarem relacionados a um mes-
colônia portuguesa, uma identidade nacionaL E essa mo conjunto de ideias, que diz respeito à noção
de pertencimento a uma nação, os conceitos de
situação não mudou pela instituição do império.
pátria, patriotismo e identidade nacionaL dife-
Esse fato fica bastante evidente quando estudamos
rem entre si.
as revoltas que ocorreram no Período Regencial No que tange à ideia de nação, a pátria é
(1831-1 840), como a Sabinada (na Bahia), a Ca- identificada como a terra natal, o país no qual
banagem (no Pará) e a Farroupilha (no Rio Grande se permanece como cidadão e, na maioria dos
do Sul), nas quais prevaleceu o que pode ser deno- casos, o lugar onde se nasce. Sendo assim, o
minado de patriotismo provincial, pois todas elas patriotismo pode ser identificado como a devo-
decorriam da luta pelos interesses das províncias e ção e a defesa exacerbada da pátria e dos ele-
mentos e ela relacionados.
não em benefício do Brasil como um todo unificado.
Nesse contexto, a noção de identidade na-
Quanto aos sentimentos de patriotismo e
cional refere-se ao conjunto de sentimentos e
civismo - relacionados, sobretudo o segundo,
laços responsáveis pelo fato de um indivíduo
à ideia de dedicação e fidelidade ao interesse sentir-se parte integrante de uma nação.
público de uma nação -, a situação principiou
U.-•
Oscar Pereira da SHva. Desembarque de Cabral em Porto Se9uro em 1500. 1922. Oleo sobre tela, 3,3 m x 1.9 m.
r: 1 23
então executado com mais frequência. E foi airl-
da nesse momento que se criaram os primeiros
heróis nacionais. Afinal, a identidade de uma IIISTORIA GERAL 110 BRAZIL
nação se faz não só pela união de um território
ou por um Estado forte e centralizado mas tam- 4od.wob,imfl,I,,CM4b,3ço,Iedw&o,4tKTÀITImtDtÕdCt*éCStSO.h*
niIa 0k1,,NkI,Ie, c•€flpIa li! ,npitG, ,iO,uflkttøt alt,liecs
d II,ib,b.
bém por uma memória comum, uma história, ,,,,ih id, o, fl,,,ii, d, I',rux. 1,
Quanto às artes, no Brasil Império foram Capa do livro História geral do Brasil, deAdolphoVarnhagen. 1854
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Após a Proclamação da República, em 1889, têm Constituição,Justiça e força policial próprias,
Brasil passou por mudanças políticas significa- mas são subordinados ao poder central, a União.
tivas. Iniciou-se um sistema político baseado no Contudo, segundo muitos historiadores, fal-
princípio federativo. Na prática, isso significa que tou nesse processo a participação popular, o que
Estado republicano é composto de um poder dificultou a concepção de nação.
central e unidades federadas (estados). Os estados
A consciência ou falta de apoio levou os re- Pode-se concluir, então, que até 1930 não havia
publicanos a tentarem legitimar o regime por povo organizado e nem sentimento nacional con-
meio da manipulação de simbolos patrióticos e solidado. A participação na política nacional, in-
da criação de uma galeria de heróis republica- clusive nos grandes acontecimentos, era limitada a
nos. Mesmo aí foi necessário fazer compromis- pequenos grupos. A grande maioria do povo tinha
sos. A bandeira nacional foi modificada, mas com o governo uma relação de distância, de sus-
foram mantidas as cores e o desenho básico da peita, quando não de aberto antagonismo. Quando
bandeira imperial. A mudança do hino foi impe- povo agia politicamente, em geral o fazia como
dida por reação popular. Graças à guerra contra reação ao que considerava arbítrio das autoridades.
Paraguai, bandeira e hino já tinham adquirido Era uma cidadania em negativo, se se pode dizer
legitimidade como simbolos cívicos. isso assim. O povo não tinha lugar no sistema po-
Não teve muito êxito também a República em lítico, seja no Império, seja na República. O Bra-
promover seus fundadores, os generais Deodoro e sil era ainda para ele uma realidade abstrata. Aos
Floriano e o tenente-coronel Benjamin Constant, a grandes acontecimentos políticos nacionais, ele
heróis cívicos. [...] O único que se firmou como he- assistia, não como bestializado, mas como curioso,
rói cívico foi Tiraclentes [ ... ]. Pintores o retrataram desconfiado, temeroso, talvez um tanto divertido.
com aparência de Jesus Cristo, o que sem dúvida CARVALHO, José Murito de. Cidadania no BrasiL o 'ongo
contribuiu para sua popularidade. caminho. Rio de Janeiro: Civilização Brasiteira. 2007. p. 82-83.
7udro Ari:riuo. 1:l1:I1:;:: (:I mL:: 1 17. 77::, ::I:i, .1, 7:i1- 7,6 ri. Lss.s:: :m co:1:c ,::tr: :;:: ;:•::
canônica por alguns estudiosos, pois cria ou impõe unia visão sobre o fato ocorrido. A obra, que representa a cena da Independõncia do Brasil
com elementos contestados pelos historiadores, tornou-se tão famosa e reproduzida que foi incorporada ao inlaginario coletivo como 'retrato
do acontecimento de 1822.
25
Organizando ideias
Observe as imagens a seguir. Estas obras, A cena reflete confLito, harmonia ou drama-
ícones da pintura histórica, auxiliaram a cons- ticidade?
truir a ideia que temos hoje do passado de
nosso país. Que ideias e valores podem ser levantados
Imagem 1
Imagem 2
26 'uo1
U Nação e identidade
Apesar do desejo comum de formar o senti-
mento de unidade e pertencimento entre as popu- ou mais línguas, reconhecer-se como diferentes
em vários aspectos. Mas há algo em que coin-
lações das jovens nações nascidas em decorrência
cidem: identificar-se, acima de suas particula-
dos processos emancipatórios do fim do século
ridades e sem prejuízo de que essas particulari-
XIX e século XX, a multiplicidade dos conceitos de lades continuem existindo, como membros de
territórios, raça e progresso e também as várias uma identidade superior, a identidade nacional.
etnias, línguas e religiões tornaram os processos de Os suíços constituem urna nação e falam várias
formação das nações únicos em cada novo país. línguas. Os alemães são uma nação e profes-
Se a formação de uma nação passa pelo crivo sam o protestantismo e catolicismo romano.
da identificação emocional entre seus indivíduos, em Nenhum suíço e nenhum alemão deixariam de
identificar-se como tal; sua ligação a determi-
alguns casos específicos a simples divisão territorial
nado culto e idioma não os coloca à margem da
de regiões antes subjugadas pelos europeus não foi
comunidade nacional.
suficiente para formar uma unidade cultural - como
Nos Estados africanos surgidos depois da
em certas regiões asiáticas e, sobretudo, africanas. Primeira Guerra Mundial - em alguns deles pelo
Muitos dos novos países surgidos na África menos - numerosos grupos tribais não assumi-
pós-emancipação abrigam povos de diferentes cul- ram urna identidade superior à de sua identidade
turas e hábitos, que, por mais que estejam unidos tribal. Esta continua primando sobre qualquer
em um território comum, jamais se sentirão como outra. Ainda que governantes de alguns países
pretendam que os seus sejam Estados nacionais,
parte do mesmo todo. Isso fica claro quando colo-
na verdade estamos na presença de Estados sem
camos em pauta a manutenção de distintas culturas
nações. Assim corno existem nações sem Estado:
seculares - e até milenares - antagônicas entre si
os curdos, [ ... ] os palestinos [ ... ].
dentro do mesmo espaço físico.
POMER, Léon. O surgimento das nações.
O inverso desse processo também é possível,
São Paulo: Atual, 1994. p. 11-12.
como no caso de algumas nações europeias que,
apesar da multiplicidade de línguas e costumes,
uniram-se em torno do território ou ideais comuns
para construir uma identidade única, aproximando L!ausa para investigação
as diferenças por meio da coexistência, sem excluir
uma ou outra cultura. Observe sua Certidão de Nascimento ou
A possibilidade de existência desses diferentes sua Carteira de Identidade. Nesses docu-
processos de formação das identidades culturais mentos estão anotados vários dados pes-
comuns e, consequentemente, dos elementos que soais, como nome de seus pais e seu nome,
constituem as novas nações reafirma que, apesar data de nascimento, além de sua naciona-
de a ideia de nação remeter a unidades, esses lidade, ou seja, o adjetivo referente à nação
processos não são únicos, e sim dependentes das onde você nasceu.
especificidades de cada povo, cultura, domínio, Qual é sua nacionalidade?
emancipação etc. Pense o que significa ser brasileiro. Para
você, o que torna uma pessoa pertencente à
nação brasileira? Anote suas respostas e, em
[...1 Nem todo agrupamento humano é uma na- seguida, troque ideias com os colegas sobre
ção. Não o é urna tribo, nem o foram os impé-
a questão: Como cada pessoa pensa sua na-
rios Inca e Romano. Na nação os homens po-
cionalidade?
dem professar uma ou mais religiões, falar uma
N3coes e nacionalisrn - 27
ffl Debate interdiscipLinar
Bandeira NacionaL
e patriotismo
Nossa pátria, nosso país, nossa nação, nosso reverenciá-los, como jurar lealdade à bandeira,
Estado... Bem, esses termos podem ser bastante ou, ainda, hasteá-la enquanto seu hino é cantado
abstratos: você compartilha os mesmos valores e pelos presentes. Até mesmo deixar uma bandeira
sentimentos com todos os mais de 205 milhões de hasteada em cada edifício público pode ser con-
brasileiros? siderado uma prática cultural relacionada à cons-
E provável que, ao pensar nessa questão, as trução da identidade nacional.
inúmeras diferenças entre nós tenham povoado Os sentimentos expressos nesses rituais e
sua cabeça por alguns instantes. Em algumas si- práticas culturais podem também ser evocados
tuações no entanto, nós somos levados a imagi- pelo Estado nacional de forma a obter o apoio da
nar que compomos uma grande comunidade. E população para medidas que seriam impopulares
as bandeiras nacionais têm muito a ver com isso, em um processo regular. A pesquisa dos psicólo-
como você vai ler a seguir. gos estadunidenses apontam bem essa questão:
Alguns meses após os atentados de 11 de se- um símbolo nacional, nesse caso a bandeira,
tembro de 2001, pesquisadores da Universidade provoca alterações na percepção das pessoas,
de Ohio (EUA) observaram um surpreendente au- podendo influenciá-las a apoiar ideias de prote-
mento da presença da bandeira estadunidense nas ção nacional que seriam mais bem avaliadas se os
fachadas das casas. sentimentos e emoções evocados pela bandeira
[ ... ] A fim de medir o sentimento de patriotismo dos não estivessem presentes.
participantes de uma pesquisa, foi pedido que eles mar-
cassem, em uma escala graduada, o acordo ou desacordo
a respeito de diversas afirmações. [... 1 Os participantes
tinham de preencher os diferentes questionários, in-
dicando a que ponto estavam de acordo ou não com
essas numerosas afirmações. Alguns responderam os
questionários em uma sala onde estava presente uma
grande bandeira estadunidense, outros em urna sala
sem a bandeira.
Os resultados revelaram que, no geral, a presença
da bandeira acentuou tanto o grau de nacionalismo
quanto o de dominação social. Em outras palavras, na
presença da bandeira, os participantes se identificam
mais com seu pais e expressam uma visão de socie-
dade mais desigual, em que aceitam as diferenças de
estatuto entre os diversos grupos sociais.
GUÉGUEN, Nicolas. Leffet drapeau. Cerveau & Psycho. n. 69,
jan.-íev. 2012. Disponivel em: <wv.cerveauetpsycho.fr/ewb
pages/a/artic[e-l-effel-drapeau-28608.php>.
Acesso em: abr. 2016. [Tradução nossa].
--
28
Cruz cristã
iL
cruz é um símbolo antigo, utilizado por
diferentes povos da Mesopotâmia, China,
Grécia e Escandinávia. Atualmente, ela é
riTíIIP
associada principalmente ao cristianismo.
Uma das mais antigas bandeiras com a
imagem da cruz foi a de Jerusalém - nela Dinamarca Reno Unido Suíça
•
havia cinco cruzes douradas sobre um fundo
branco. A Dinamarca foi o primeiro país a
adotar, em sua bandeira, o formato da cruz +_
fora da posição central, seguida por Suécia, dJ+ ,•
m1fl!T ri rwi
A Lua crescente também é um símbolo muito antigo: está em selos acadianos datados de 2300 aC. Foi apropriada por
mesopotâiToS e fenícios, que a levaram para Cartaqo. No século XII, os turcos transformaram a Lua crescente em
símbolo do Islã, acompanhada ainda de uma estrela.
No início da Revolução Francesa, em 1789, as milícias de Paris usavam uniformes com as cores vermelho e azul. O
marquês de Lafayette acrescentou o branco, cor-símbolo da realeza. A bandeira tricolor francesa ganhou, então, o
significado de 'cores da liberdade". O uso de três cores, na vertical ou na horizontal, tornou-se um símbolo republicano
em todo o mundo.
Bolivia
~M Chade
Argentina
Romênia
Libéria
Nacões e naciona1is1: 29
Testando seus conhecimentos Responda no caderno
1. (UFSM-RS) Em 1830, a Europa é varrida por ci chamam a atenção para o caráter uni-
revoltas que têm suas origens lateral e autoritário das duas unifica-
1. no ideário da Revolução Francesa. ções, impostas pelo Piemonte, na Itália,
e pela Prússia, na Alemanha.
no socialismo da burguesia em ascensão.
di escondem suas naturezas contrastan-
nos princípios do liberalismo e do nacio-
tes, pois a alemã foi autoritária e aris-
nalismo.
tocrática e a italiana foi democrática e
no ideário da Santa Aliança. popular.
Estão corretas
e) tratam da unificação da Itália e da Ale-
apenas 1 e II. d) apenas III e IV. manha, mas nada sugerem quanto ao
apenas 1 e III. e) apenas II, III e IV. caráter impositivo de processo liderado
ci apenas II e IV. por Cavour, na Itália, e por Bismarck, na
2. (FGV-SP) A nova onda se propagou rapidamente Alemanha.
por toda a Europa. Urna semana depois da queda
4. IUEPG-PR) Na Europa, na primeira metade
de Luís Filipe 1, o movimento revolucionário to-
do século XIX, surgiram ideias nacionalistas,
mou conta de urna parte da Alemanha e, em me-
nos de um mês, já estava na Hungria, passando como afirmação dos princípios liberais apli-
pela Itália e pela Áustria. Em poucas semanas, OS cados à nação, entendida como um conjunto
governos dessa vasta região foram derrubados, e de indivíduos dotados de liberdades naturais
supostamente se inaugurava urna nova etapa da e unidos por interesses e idioma comuns,
História europeia, a Primavera dos Povos. constituindo uma "individualidade política"
[Luiz Koshiba, "História - origens, estruturas e processos"I com direito à autodeterminação. Na segunda
metade desse século, o panorama político
O texto faz referência:
europeu caracterizou-se pela política das
a) à Belte Époque. nacionalidades, e nesse contexto ocorreram
bi às Revoluções de 1848. as unificações da Itália e da Alemanha.
à Restauração de 1815. Sobre a unificação da Itália, assinale o que
à Guerra Franco-Prussiana. for correto.
às Revoluções liberais de 1820.
a) A ideia de unificação partiu das zonas
3. (Fuvest-SP) 'Fizemos a Itália, agora temos de crescente desenvolvimento indus-
que fazer os italianos". trial, correspondendo basicamente aos
"Ao invés da Prússia se fundir na Alemanha, interesses de setores da burguesia, de-
a Alemanha se fundiu na Prússia". sejosos de constituir um amplo merca-
Estas frases, sobre as unificações italiana e do nacional para seus produtos.
alemã: bi O processo de unificação se desenvol-
30
Responda no caderno
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Foram regimes que cercearam a liberda- Este capítulo traz uma síntese dos princi-
de e toda forma de expressão ou crítica ao go- pais regimes totalitários do século XX, propondo
L
verno, centralizaram o poder nas mãos de um uma reflexão sobre como o direito à liberdade
único partido político, entre outras caracterís- pode ser progressivamente eliminado, muitas
ticasautoritárias. Esses regimes despontaram vezes com argumentos a favor da redenção
após a Primeira Guerra Mundial, um período nacionaledo combateàsideologiastidas pelos
de crise em grande parte da Europa. líderes totalitários, como perniciosas.
O totaLitarismo
Após o fim da Primeira Guerra
Mundial, em 1918, teve início um cli- O totalitarismo é uma forma de opressão típica da moder-
ma de muita instabilidade nos países nidade revolucionária.
Expressivo, a propósito do fenômeno totalitário, é o
envolvidos. Grande parte da popu-
discurso de Mussolini, o Duce, no Scala de Milão, quando
lação de diversos Estados europeus
afirmou: tutto neilo Stato, niente contro lo Stato, nulia ai di
estava perdida, em meio a cidades e
fuori delio Stato (tudo no Estado, nada contra o Estado, nada
patrimônios destruídos e à morte de fora do Estado). O Estado totalitário, portanto, abrange toda
parentes e conhecidos, pois não ha- a vida social, e dirige até mesmo o pensamento das pessoas»
via um plano para a reconstrução do formando-lhes a consciência. Três aspectos importantes de-
país e da vida de cada um. vem ser considerados nos Estados totalitários: a) formação de
Em razão da falta de perspectiva uma casta dominante que tem nas mãos o aparelhamento do
Estado (na ex-URSS foi a Nomenkl atura); b) polícia política,
da população e da desesperança no
servindo-lhes habitualmente de métodos de tortura; c) su-
sistema liberal vigente, despontaram
pressão total da liberdade de pensamento e monopólio estatal
as ideias de líderes que propunham
da cultura, do ensino e dos meios de comunicação de massa.
um Estado Nacional forte e centrali- Há a absorção total e absoluta do homem em uma classe, no
zado, como alternativa à incerteza e Estado ou em uma raça. O Direito, a Moral» as Artes, a Ciên-
insegurança instaladas na Europa. cia e a Religião são ditadas pelo Estado, que é o instrumento
Surgiram, então, os Estados da classe ou da raça.
totalitários, cujas principais carac-
CARVALHO, Kildare Goncalves. Direito constitucionaL.
terísticas eram regimes políticos na- Belo Horizonte: Dei Rey. 2008. p. 216-217.
cionalistas, imperialistas, antiliberais
e antidemocráticos, mantidos por
meio da força, repressão ao indiví-
duo, censura e supressão dos direi-
tos individuais e coletivos, e ainda de .:.
_34
Foi na Itália que o movimento totalitarista passou a uti-
lizar denominação própria, tendo o fascio - o "feixe" de varas
dos iitores romanos - como símbolo. Leia o texto a seguir e depois
Em um sentido mais amplo, o fascismo que surgiu nesse responda às questões.
período representou uma reação das forças conservadoras da
Os movimentos totalitários ob-
Europa após a vitória do socialismo na União Soviética. Res- jetivam e conseguem organizar as
peitando a diversidade de implantação, o fascismo foi a base massas - e não as classes [ ... ], nem
de diversos movimentos totalitários europeus. os cidadãos com suas opiniões pc-
Desse modo, o vocábulo fascismo foi utilizado para de- culiares quanto à condução dos
signar formas diferentes de governo: negócios públicos [.1. Todos os
grupos políticos dependem da for-
o núcleo histórico original, constituído pelo fascismo italiano;
ça numérica, mas não na escala dos
o nacional-socialismo, também chamado de fascismo ale-
movimentos totalitários, que de-
mão. O vocábulo nazismo deriva das iniciais do Partido
pendem da força bruta, a tal ponto
Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães (Natio- que OS regimes totalitários parecem
nalsozilistische Deutsche Arbeiterpartei - NSDAP), sigla da impossíveis em países de população
qual surgiu a abreviatura Nazi; relativamente pequena, mesmo que
o termo foi estendido a diversos movimentos que compar- outras condições lhes sejam favo-
tilharam - e alguns ainda compartilham - determinadas ráveis. l)epois da Primeira Guerra
Mundial, uma onda antidemocráti-
características ideológicas, modelo de organização e fina-
ca e pró-ditatorial de movimentos
lidades políticas do "fascismo histórico", como o franquis-
totalitários e sem i totalitários varreu
mo na Espanha e o salazarismo em Portugal.
a Europa: da Itália disseminaram-
-se movimentos fascistas para qua-
se todos os países da Europa central
4
e oriental [... ].
2 Comparando a definição de
totalitarismo apresentada nes-
te capítulo com os aspectos
levantados por Hannah Árendt,
r r
em que medida as massas são
fundamentais para a organiza-
iii.
ção de um governo totalitário?
General Franco discursando para organizações juvenis em Madri
(Espanha), 1939. Justifique.
05 ryr(w 35 -
O fascismo na ItáLia
A Itália unificou-se na segunda metade do sé- aqueles que se contentavam com reformas do Estado
culo XIX, sob a forma de uma monarquia parlamen- burguês e os chamados maximalistas, que apostavam
tarista. A disparidade econômica entre as diversas em uma revolução. Em 1921, os descontentes com a
regiões, a forte influência da Igreja Católica, o ban- política moderada do Partido Socialista fundaram o
ditismo endêmico no sul, a crescente organização Partido Comunista da Itália, que se apoiava em um
dos operários das cidades industrializadas do norte, programa leninista (ou seja, seguia as ideias de Lênin,
a miséria do campesinato e as fortes disputas entre principal líder da Revolução Russa).
grupos políticos de tendências ideológicas diversas Foi nesse contexto de crise econômica e so-
marcavam o país no início do século XX. cial e de turbulência política que entrou em cena
Apesar de sua aliança com a Alemanha e com Benito Mussolini. Nascido em 1883, filho de pai
Império Austro-Húngaro, a Itália manteve-se anarquista, formou-se professor e, para não prestar
neutra quando eclodiu a Primeira Guerra Mundial, serviço militar, fugiu para a Suíça, onde viveu de
em agosto de 1914. 1902 a 1904. De volta à Itália, ingressou no Partido
No entanto, em 1915, em razão de promessas Socialista, e em 1912 foi nomeado diretor do jornal
territoriais e de pressão popular, o governo italia- Avanrie porta-voz do partido. Em 1914, juntou-se
no rompeu antigos tratados e entrou no conflito àqueles que queriam a participação da Itália na
declarando guerra à Áustria (maio de 1915) e à guerra, desobedecendo à diretriz partidária, que
Alemanha (agosto de 1915). A Itália passou a in- defendia a neutralidade. Essa desavença ocasionaria
tegrar o bloco da Tríplice Entente (Grã-Bretanha, desligamento de Mussolini do partido.
França e Rússia).
O país estava, porém, despreparado para
O fascismo nasceu oficialmente em março
enfrentar uma guerra moderna. As conquistas
de 1919, quando Mussolini fundou o Fasci di
territoriais foram poucas, e os custos humanos combattimfntO, em Milão, com um programa
(morreram mais de 600 mil pessoas) e materiais de nacionalismo, ataque à classe liberal, republi-
foram enormes. canismo» anticlericalismo e anseio de renovação
Após o fim da guerra, quando foram cele- social» encarnando, assim, as posições de uma
brados os tratados de paz, a Itália obteve bem pequena burguesia irrequieta e, principalmen-
te, dos ex-combatentes. Confluía para o movi-
menos daquilo que havia sido prometido pelas
mento uma base que havia passado por expe-
potências aliadas e mergulhou em uma crise eco-
riências diferentes: republicanos, sindicalistas
nômica, social e política de graves proporções. O revolucionários, nacionalistas, intervencionistas
aumento da inflação corroía o poder de compra democráticos, anarquistas, estudantes, todos
dos trabalhadores, o desemprego lançava multi- reclamando uma participação maior da peque-
dões às ruas, os sucessivos governos liberais não na burguesia no cenário político. Eram eviden-
tinham credibilidade e não conseguiam estancar tes no novo grupo o oportunismo e um estilo
a deterioração das crenças nos valores democrá- violento, que se manifestou já em abril de 1919,
com o incêndio do jornal socialista em Milão.
ticos. As greves violentas, a ocupação de fábricas
por operários ligados a socialistas e anarquistas, as TRENTO, Ângeto. Fascismo itaLiano.
Sào Pauto: Atica, 1993. p. 16,
invasões de terras por camponeses e o avanço das
agremiações políticas de esquerda amedrontavam
os conservadores. Temia-se pela "bolchevização"
da Itália, ou seja, que ocorresse uma revolução O Fasci di combattimento era uma espécie de
associação nacionalista íundada em Milão, no ano
como a que acontecera na Rússia em 1917.
de 1919, pelos veteranos da Primeira Guerra Mun-
Nesse contexto, houve um expressivo aumento
diaL entre eles Mussolini. Essa associação deu
dos eleitores do Partido Socialista Italiano, fundado origem, em 1922, ao Partido Nacional Fascista.
em 1892. Ainda assim, o partido estava dividido entre
36
Na primeira eleição disputada, os fascistas
tiveram desempenho fraco, obtendo um número A grande diferença entre a direita fascista e
a não fascista era que o fascismo existia mobi-
pequeno de votos. Mussolini, então, mudou de
lizando massas de baixo para cima. Pertencia
estratégia, procurando se aproximar das classes
essencialmente à era da política democrática e
dominantes e de setores da Igreja, deixando de popular que os reacionários tradicionais deplo-
lado alguns aspectos do programa fascista origi- ravam, e que os defensores do "Estado orgâni-
nal. Concomitantemente, formou grupos para- co" tentavam contornar. O fascismo rejubilava-
militares, os squadrisri, com suas camisas negras, -se na mobilização das massas, e mantinha-a
que praticavam atos violentos contra cooperativas, simbolicamente na forma de teatro público - os
jornais, gráficas, ligas camponesas, clubes socialis- comícios de Nuremberg, as massas na piazza de
Venezia assistindo os gestos de Mussolini lá em
tas, organizações culturais e pessoas consideradas
cima da sacada - mesmo quando chegava ao po-
esquerdistas ou que se opunham ao fascismo. Ape-
der; como também faziam os movimentos co-
nas em 1921, entre 5 e 6 mil pessoas morreram na
munistas. Os fascistas eram os revolucionários
Itália em decorrência da violência fascista. da contrarrevolução: em sua retórica, em seu
Chamado por seus seguidores de Doce (do la- apelo aos que se consideravam vítimas da so-
tim dux, que significa "comandante", "chefe"), Mus- ciedade, em sua convocação a urna total trans-
solini foi se tornando o protetor dos grandes proprie- formação da sociedade, e até mesmo em sua
tários de terra, dos capitães da indústria, de setores deliberada adaptação dos simbolos e nomes dos
do exército, da polícia e da cúpula da Igreja Católi- revolucionários sociais { ... J.
ca, todos irmanados no combate ao "perigo verme- HOBSBAWM, Eric Era dos Extremos: o breve século XX -
lho" (referência ao comunismo). Com isso, o Partito 1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras. 2007. p. 121.
Os reain:c' tCJhtL 37 —
No poder, os fascistas paulatinamente pas- Mussolini tentou se aproximar da Igreja Ca-
saram a assenhorear-se das instituições estatais. tólica, que ainda não reconhecia o Estado italia-
Toda e qualquer oposição passou a ser reprimida. no. Em 1929,
foi assinado o Tratado de Latrão,
Em 1923, foi criada a Milícia Voluntária de Segu- que impôs o catolicismo como religião oficial do
rança Nacional (MVSN), subordinada diretamen- Estado; oficializou o ensino religioso nas escolas
te a Mussolini, constituindo um braço armado e o casamento religioso com validade civil; es-
do fascismo. Em 1924,
os fascistas obtiveram tabeleceu vultosa indenização à Igreja Católica
expressiva vitória eleitoral ao conquistar 65% das pela perda dos territórios pontifícios e a criação
cadeiras do Parlamento. A melhora da situação do Estado do Vaticano, que, agora, reconhecia
econômica, a sensação de maior segurança, a Estado italiano.
propaganda maciça, as fraudes eleitorais e o uso
da violência sistemática contra os adversários ex-
plicam tão expressiva votação.
fganizando ideias.
Em dupla, leia o texto a seguir e, juntos,
façam o que se pede.
sentido centralizador, a imprensa passou a sofrer liberdade individual. O que isso significa?
forte censura, um tribunal especial julgava e con-
Em sua região, há exemplos de cerceamento
denava de forma arbitrária, sendo reintroduzida a
da liberdade? Expliquem.
pena de morte. Diversos políticos, sindicalistas e
intelectuais foram presos ou exilados.
38
O Estado fascista
O Estado fascista italiano caracterizou-se
pela intenção de controlar totalmente a socieda-
de. O sistema educacional foi alvo de profunda
reforma, e a educação passou a ser elitista, auto-
ritária e alienante. Os professores tinham de jurar
fidelidade ao regime, e os livros didáticos eram
produzidos de acordo com a ideologia do fascis-
mo. Valorizou-se sobremaneira a cultura física
em detrimento da educação crítica. A juventude
foi enquadrada em uma série de organizações
subservientes ao regime.
Mussolini foi o primeiro político que soube
utilizar o rádio, o cinema e os esportes como
instrumento de propaganda. Para manter uma
imagem popular, o ditador italiano participava de
trabalhos voluntários, sempre acompanhado por :•ju:: :;:
muitos fotógrafos e cinegrafistas, e todo o mate- itúlia. 1939.
rial produzido era veiculado em jornais, revistas e
No plano econômico, a propriedade privada
filmes para exaltar o regime.
não foi atingida. Muitos dos grandes empresários
da época apoiaram Mussolini. Os sindicatos fi-
O fascismo se interessava especialmente pelo
caram atrelados ao Estado, as greves foram proi-
cinema, criando um órgão para promover os fil-
bidas e os membros mais combativos da classe
mes nacionais e até construindo os grandes es-
túdios da Cinecittà, em Roma. Na maioria, as fi- operária foram presos ou silenciados.
tas realizadas eram diversões escepstas - leves, Na política externa, Mussolini alimentava
pees e epotiiicas. Mas havia alguns filmes de sonhos expansionistas. Herdara do regime an-
propaganda: reconstituições da Marcha para terior três colônias na África: Somália, Eritreia e
Roma e da "epopeia" dos esquadrões fascistas, Líbia. Em 1935, os italianos atacaram a Etiópia,
documentários sobre as obras do regime, pasti- país soberano que fazia parte da Liga das Na-
ches da história romana ou medieval que pre-
ções. Mobilizando milhares de soldados, aviões,
tendiam pressagiar e glorificar o fascismo [ ... ].
couraçados e empregando até gases asfixiantes,
PÂLL.A, Marco.A Itália fascista. os agressores liquidaram a resistência etíope, sem
São Paulo: Ática, 1996. p. 68.
que a comunidade internacional tomasse medida
efetiva diante dessa flagrante violação do Direito
Internacional.
Sem a introdução do rádio, é improvável
que esses regimes totalitários pudessem ter con-
trolado a obediência do povo da maneira como
controlaram. Como Joseph Goebbels, ministro Oz
da propaganda política de Hitler, diria posterior- Apolítico: destituído de caráter político.
mente: "Não teria sido possível para nós tomar Escapismo: tendência a fugir da realidade
o poder ou usá-lo da maneira que usamos sem o
ou dos problemas.
rádio. [...1 o rádio é o intermediário mais fluente
Piegas: em que há excesso de sentimen-
e importante entre o movimento espiritual e a
nação, entre a ideia e o povo". talismo.
Subserviente: que concorda em servir as
GORE. AlberI. O ataque à razão.
Barueri: Manole. 2008. p. 84. ordens de outrem, servil.
39_
O regime fascista realizou intervenções
LA TRiBUNA ILLUSTRMA Sppfr.o!o iII.,t,Io le L Tribrn., .':::.;
nos Bálcãs, especialmente na Albânia e em
ilhas do Mediterrâneo. Mussolini também
interveio na Guerra Civil Espanhola (1936-
1 939), apoiando os falangistas de Francisco
Franco com homens, equipamentos bélicos
e recursos financeiros.
O Estado fascista procurava exaltar a
guerra. Slogans como "A guerra está para
o homem assim como a maternidade está
para as mulheres", "Melhor um dia de leão
do que cem anos de cordeiro" ou, ainda,
"Nada jamais foi ganho na História sem
derramamento de sangue!" eram repetidos
pela mídia subserviente ao regime.
No texto escrito por Mussolini para a
Enciclopédia italiana, organizada pelo filó-
sofo Giovanni Gentile, ele deixa claro a opi-
nião que tentava incutir na população italiana
sobre a guerra.
................ 1 IL..,...............................................,
ria Praça Venozo dwante as comemoraçoes do Decimo Aniversãi io da Revolução
Fascista. Roma (Itália). 30 out. 1932.
[ ... ] No que diz respeito ao futuro e ao desen- têm a virtude de enfrentá-la [ ... J A guerra é para o
volvimento da humanidade em geral, o fascismo, homem o que a maternidade é para a mulher [ ... ].
à parte quaisquer considerações de política con- O amor ao próximo não exclui a severidade
temporánea, não crê nem na possibilidade nem na educativa e necessária e menos ainda a disparidade
utilidade da paz perpétua. Portanto, rejeita o paci- e a diferença [ ... ] O fascismo afirma a irremediável
fismo, que só esconde uma renúncia à luta e uma desigualdade entre os homens [...].
covardia em face do sacrifício. Somente a guerra
MUSSOLINI, Benjio apud PALLA. Marco.
leva todas as energias humanas ao máximo de ten- A Itália fascista. Sào Pauto: Álica. 1996. p. 65.
são e imprime a marca da nobreza nos povos que
t Organizando ideias
Analise o texto escrito por Mussolini no quadro acima. Depois faça o que se pede.
Explique a frase: 'o fascismo [...1 não crê nem na possibilidade nem na utilidade da paz perpétua'.
Você concorda com a afirmação de Mussolini de que 'a guerra é para o homem o que a mater-
nidade é para a mulher'? Justifique.
40
Conflitos ideológicos CHI HR SRLVRTO L'ITALIA? t
O regime fascista enfrentou, desde o início, uma oposi-
ção permanente. Os partidos de esquerda, apesar da repres-
são, opuseram-se terminantemente à ditadura de Mussolini.
Liberais, setores da Igreja Católica e alguns intelectuais se
arrependeram de ter apoiado o Duce. Mesmo isolados e
divididos, os antifascistas permaneceram atuantes. Muitas
pessoas foram presas, e algumas assassinadas. Porém, a resis-
tência não deixou de existir. No exílio ou na clandestinidade,
muitos italianos procuraram, das mais variadas maneiras, /tT iI
combater o fascismo. A luta pela liberdade perdurou por
todo o período fascista e teve papel fundamental para que,
depois da Segunda Guerra Mundial, a Itália se tornasse uma
nação democrática.
Por meio de intensa campanha propagan- É possível, por meio da propaganda, construir
dística na Itália, os fascistas italianos tentavam a imagem de um herói? Exemplifique com
angariar adeptos e convencer a todos de suas casos recentes, no Brasil e/ou no mundo.
intenções. Para isso, as propagandas passavam
a ideia de que Mussolini era um grande líder, Você já assistiu a propagandas eleitorais? Se
capaz de resolver todos os problemas do povo. ainda não, faça isso. Se não estiver em pe-
Portanto, pode-se afirmar que era realizado ríodo eleitoral é possível buscar informações
um poderoso trabalho de publicidade, que hoje na internet. Observe como os candidatos
Essa estratégia é ainda comumente usada pesquise algum político que está lou esteve
por governos e governantes. Com base nisso, recentemente) em campanha para eleição e
verifique se a imagem real )história pública,
faça o que se pede.
trabalhos realizados etc.) corresponde à ima-
1. Observe campanhas governamentais vei- gem vendida nas propagandas. Apresente o
culadas na mídia. Analise qual é a intenção resultado em sala de aula e debata o tema
dessas campanhas e responda se, em sua
com os colegas.
opinião, elas conseguem ou não atingir seus
objetivos. Justifique sua resposta.
41
U O nazismo na ALemanha
Após a unificação alemã, o país se tornou todas as correntes - não aceitaram as cláusulas
uma monarquia parlamentar. do Tratado de Versalhes e acusaram o governo de
Em 1914, as camadas dirigentes da Alema- traição. Muitos desses conservadores começaram
nha, contando com aprovação popular, apoiaram a acreditar que a Alemanha não fora derrotada
a entrada do país na Primeira Guerra Mundial militarmente, e sim traída por comunistas ejudeus.
acreditando que ela seria rápida e que o país Com isso, membros do governo passaram a ser
sairia vitorioso, possibilitando uma nova partilha alvo de atentados, culminando com o assassinato
do mercado mundial em condições que viessem de dois ministros.
a satisfazer antigos sonhos imperialistas. Não foi A situação econômica e social agravou-se
o que aconteceu, pois as Potências Centrais (Im- substancialmente quando, em 1923, França e
pério Alemão, Império Austro-Húngaro, Império Bélgica invadiram e ocuparam o Vale do Ruhr,
Otomano e Bulgária) foram derrotadas, tendo de com o objetivo de cobrar as cotas da dívida de
assinar tratados com cláusulas bastante restritivas,
guerra que a Alemanha não havia pago. O gover-
considerados por elas humilhantes. Pelo Tratado
no conclamou o povo a realizar uma resistência
de Versalhes (1919), os alemães perderam todas as
passiva contra as forças de ocupação, originando
suas colônias; foram proibidos de fabricar armas
uma campanha que colaborou para a dissemina-
e munições; sua força aérea foi extinta; a marinha,
ção do nacionalismo.
reduzida; perderam territórios fronteiriços e tive-
Contudo, em decorrência do desequilíbrio
ram de assumir uma gigantesca dívida de guerra.
orçamentário e da emissão desenfreada de papel-
Diante da derrota iminente, o kaiserGuilher-
-moeda, o país imergiu na hiperinflação. Entre
me II abdicou, colocando fim ao período monár-
agosto e novembro, o marco sofreu sucessivas
quico. Os socialistas moderados formaram um
desvalorizações, a tal ponto que um dólar chegou
governo provisório, assinaram a rendição incon-
a valer mais de 4 bilhões de marcos.
dicional e libertaram presos políticos. No mes-
mo ano de 1919, convocaram eleições para uma
Assembleia Constituinte por sufrágio universal,
dando, pela primeira vez, o direito de voto às mu-
lheres. Os socialistas radicais, liderados por Karl
Liebknecht e Rosa Luxemburgo, procuraram to-
mar o poder em Berlim, porém a sublevação foi
contida com violenta repressão, e os dois líderes
foram assassinados.
Após as eleições, o Partido Social Democra-
ta (SPD), que obteve a maioria dos votos, passou
a comandar o primeiro governo da República de
Weimar (assim chamada porque os constituin-
9'
tes, ao elaborarem a Constituição, em virtude das
agitações que ocorriam em Berlim, reuniram-se
na pequena localidade de Weimar).
Amplos setores da direita - nacionalistas, /
monarquistas, antissemitas e conservadores de Crianças fazem pipas com cedulas desvalorizadas, Alemanha 1922
A
_4
;j
00
-
Ántissemita: que ou aquele que se opõe aos judeus, bem como aos elementos culturais, étnicos
e religiosos a eLes associados.
42 -.-tu1o2
Em 1924, graças ao Plano Dawes, a Em 1919, entrou para o Partido dos
dívida alemã foi reescalonada e realizou- Trabalhadores Alemães, que logo mudou o
-se um ajuste financeiro. Nesse ano, sob nome para Partido Nacional-Socialista dos
a liderança de Gustav Stresemann (1878- Trabalhadores Alemães, conhecido tam-
1929), restabeleceu-se a estabilidade eco- bém como Partido Nazista. Graças a sua
nômica da República de Weimar. oratória e a seu carisma, em pouco tempo
A República de Weimar (191 9-1933) transformou-se no principal líder dessa
foi um período marcado por efervescência agremiação. O Partido Nazista apresentava
cultural nas artes, na literatura, no cinema em seu programa os seguintes pontos:
e nas ciências. No cinema, por exemplo, concentração de todos os alemães em
ocorreu o movimento conhecido como uma grande Alemanha (Deutschland
Expressionismo Alemão, que resultou em überAlles ou Alemanha acima de tudo);
filmes como Nosferatu, de E. W. Murnau; anulação do Tratado de Versalhes;
O gabinete do Dr. Caligari, de Robert reivindicação do Lebensraum ( o espaço
Weine; e Metrópolis, de Fritz Lang, que vital, à custa dos territórios eslavos);
revolucionaram a arte cinematográfica.
exclusão dos judeus da comunidade
Foi nesse contexto que entrou em
alemã;
cena um personagem de grande influência
fortalecimento da classe média;
na história da primeira metade do século
XX: Adolf Hitler. criação de um exército popular;
reforma agrária;
O Plano Dawes foi um conjunto de centralização do poder político com um
medidas de ajuda econômica elaborado governo forte;
pelo banqueiro americano Charles G.
punição aos usurários;
Dawes, após a Primeira Guerra Mundial,
com o intuito de reerguer a economia participação dos trabalhadores nos
alemã, dando assim ao país a possibili- lucros das empresas.
dade de pagar as dívidas assumidas no
Quando Hitlervislumbrou uma chance
Tratado de Versa lhes.
real de chegar ao poder, agiu politicamente
de acordo com as necessidades, fazendo
concessões aos aliados, especialmente ao
A ascensão de Hitler exército e aos grandes empresários.
Nascido em 20 de abril de 1889, na A exemplo de Mussolini, ele criou, em
cidade de Braunau, que pertencia ao Im- 1921, uma organização paramilitar, Sturm-
pério Austro-Húngaro, Hitler era filho de abteilungen - SA (Divisões de Assalto), que
um funcionário público e de uma dona praticava atos violentos contra os adversá-
de casa. De classe média baixa, enfrentou rios políticos. Em 1925,0 Führer (palavra
dificuldades econômicas e foi profunda- que significa "chefe", "líder"), como era
mente influenciado por círculos antissemi- chamado, criou a Schutzstaffel -55 (Tropas
tas e germanófitos, que se multiplicavam de Proteção), cujos membros formavam
na sociedade austríaca.
Quando estourou a Primeira Guerra A Glossár
Mundial, Adolf Hitler vivia em Munique, Germanófilo: aquele que tem extrema admiração
onde se alistou como voluntário no exér- pela Alemanha, por sua população e suas caracte-
cito alemão, pois menosprezava o Estado rísticas étnico-culturais.
multiétnico do Império Austro-Húngaro. Usurário: agiota, aquele que empresta dinheiro a
Com a derrota alemã, atribuiu o fracasso juros.
aos comunistas e aosjudeus.
43
um grupo de elite encarregado de proteger o alto
escalão do Partido Nazista. O homem que desconhece e menospreza as
Em novembro de 1923, Hitlertentou imitara leis raciais, em verdade, perde, desgraçadamen-
te, a ventura que lhe parece reservada. Impede a
Marcha sobre Roma de Mussolini, desencadeando
marcha triunfal da melhor das raças, com isso es-
o Putsch da Cervejaria, em Munique, numa tentati-
treitando também a condição primordial de todo
va de tomar o poder na região da Bavária, mas não
progresso humano. No decorrer dos tempos, vai
obteve sucesso. Uma segunda tentativa de tomada caminhando para o reino animal indefeso, embo-
de poder foi a Marcha para Berlim, abortada em ra portador de sentimentos humanos.
razão de um tiroteio no qual morreram 16 nazistas
HITLER, Adolf. Minha luta. São Paulo: Centauro, 2001. p. 214-215.
e três policiais. Adolf Hitler e os demais líderes
do movimento foram presos. Condenado a cinco
anos de prisão, o Führer cumpriu apenas nove Com a estabilização da economia, a par-
meses, na fortaleza de Landsberg. Nesse período, tir de 1924, os partidos radicais perderam força.
iniciou a produção de sua obra autobiográfica Apesar de toda a propaganda e do carisma de Hi-
Mein Kampf (Minha luta), na qual expôs ideias tler, os nazistas tiveram desempenho eleitoral in-
racistas, belicistas e expansionistas. significante até 1930. Contudo, a crise econômica
mundial de 1929, iniciada com a quebra da Bolsa
de Valores de Nova York, pôs fim a um período de
Tudo que hoje admiramos nesta terra - ciência relativa prosperidade, pois a Alemanha dependia
e arte, técnica e invenções - é o produto criador
financeiramente dos Estados Unidos. As falências
somente de poucos povos, talvez, na sua origem,
e o desemprego deram um fôlego novo aos parti-
de uma única raça. Deles também depende a es-
tabilidade de toda esta cultura. Com a destruição dos extremistas: de um lado, à direita, os nazistas;
desses povos baixará igualmente ao túmulo toda a do outro, à esquerda, os comunistas.
beleza desta terra. Por mais poderosa que possa ser Observe os números na tabela a seguir e re-
a influência do solo sobre os homens, seus efeitos flita sobre a ascensão do Kommunistische Partei
sempre hão de variar segundo as raças. [ ... ] Deutschlands (KPD) e do Nationalsozialistische
Deutsche Arbeiterpartei (NSDAP).
6junho1920 4 84 102 39 64 21 65 71 -
20maio1928 54 - 153 20 62 16 45 73 12
DDP Partido Dernoc,ata Zeotrum - Centro Catolmco NS[J5P Partido Naconal-Soraalmsta dos Trabalhadores Alemàes IParoo Nazislal
Fonte: CARCL,Ann; CARRiGJLS, Jeur:; IVFME, Mra. Resumo de histõria do século XX I.isoa Plâtar:c. 1999. p. 16.
_44
O crescimento do Partido Nazista deveu-se a quando já estavam no
Em março de 1933,
vários fatores, sobretudo à crise econômica e so- poder e comandavam os recursos do Estado, os
cial. O medo do comunismo levou muitos a vo- nazistas obtiveram 43,9% dos votos, passando a
tar nos nazistas como um mal menor, e a falta de ocupar 288 dos 647 assentos do Reichstag.
união entre as forças de esquerda teve também um Contando com o apoio do Partido de Cen-
peso muito grande. A propaganda nazista era efi- tro Católico (Zentrum), os nazistas obtiveram os
ciente, bem como a determinação e o carisma de votos necessários para aprovar a Lei de Exceção,
Hitler. Tudo isso foi muito relevante no processo que deu a base legal para a ditadura hitlerista.
Novamente, o Reichstag foi dissolvido. Em no-
que os levou ao poder.
vembro de 1933, sem adversários, os nazistas
Em 1932, Hitler perdeu as eleições presiden-
elegeram um Parlamento que aprovaria sem dis-
ciais para Paul von Hindenburg, mas teve uma vo-
cussão atos do Poder Executivo. Os partidos de
tação expressiva, conseguindo pouco mais de 37%
esquerda foram colocados na ilegalidade, sob a
dos votos. Em janeiro de 1933 foi convidado pelo
alegação de traição; já os de centro-direita foram
presidente da República para formar um governo
cooptados pelos nazistas ou então obrigados a
de coalizão. Além do próprio Hitler como chance-
se autodissolver.
ler, havia mais dois outros nazistas no gabinete.
No poder, Hitler dissolveu o Parlamento
(Reichstag) e convocou novas eleições. Em 27 de A violência contra a esquerda era agora per-
fevereiro de 1933 ocorreu o incêndio do prédio petrada com plena cobertura jurídica. [...1 em
do Reichstag, cuja autoria foi atribuída aos co- torno de 500 a 700 oponentes políticos foram
munistas, o que proporcionou ao regime o pre- mortos na onda de terror que dominou a Ale-
texto para investir contra o Partido Comunista e
manha durante os seis meses subsequentes. Os
deputados e candidatos comunistas foram pre-
suspender suas liberdades civis em plena campa-
sos antes do dia da eleição. O Partido Comu-
nha eleitoral. nista não foi oficialmente dissolvido até depois
da eleição, a fim de evitar a possibilidade de
que os eleitores comunistas transferissem seu
apoio ao SPD (Sozialdernokratische Deutsche
Arbeiterpartei). A prisão dos candidatos comu-
nistas contribuiu para tornar possível a maioria
de dois terços no Reichstag, de que Hitler pre-
cisava para ter poderes ditatoriais.
STACKEL8ERG, Roderick.
A Alemanha de Hitler: origens, interpretações e legados.
Rio de Janeiro: Imago, 2002. p. 147.
,.
e pelos grandes empresários para que controlasse
a SA, que se tornara poderosa demais. O Führer,
~m . ..
45_
Com a morte de Hindenburg, em agosto de O ministro da Propaganda -joseph Goebbels -,
1934, Hitler fundiu os cargos de presidente e de por meio do cinema, do rádio, das artes e das
chanceler, tornando-se também supremo coman- celebrações públicas, contribuía para que muitos
dante do exército. Graças às melhorias econômicas, alemães acreditassem estar vivendo um período de
a popularidade do regime - e, sobretudo, de seu renascimento nacional.
principal líder - aumentou extraordinariamente.
rOrgafflzando ideias .
A chave da organização dos grandes espetáculos era converter a própria multidão em peça essencial
dessa mesma organização. Nas paradas e desfiles pelas ruas ou nas manifestações de massa, estáticas, em
praças públicas, a multidão se emocionava de maneira contagiante, participando ativamente da produção
de uma energia que carregava consigo após os espetáculos, redistribuindo-a no dia a dia, para escapar à
monotonia de sua existéncia e prolongar a dramatização da vida cotidiana.
[ ... ] O impacto da política na rua em forma de espetáculo visava diminuir os que se encontravam fora do
espetáculo, segregá-los, fazê-los sentirem-se fora da comunidade maravilhosa a que deviam pertencer. [...]
Cada acontecimento era preparado minuciosamente pelo próprio Hitler. Cada entrada em cena, a mar-
cha dos grupos, os lugares dos convidados de honra, a decoração geral, flores, bandeiras, tudo era previsto.
Aos poucos, a forma foi sendo definida, os acontecimentos ganharam o sentido de um ritual religioso - um
ofício -, que se manteve imutável em sua forma. Florestas de bandeiras, jogos de archotes, a multidão dis-
posta disciplinarmente, a música envolvente, os canhões de luz [..j.
LENHARO, Atcir: Nazismo: o lriunfo da vontade'.
E
...........
.. . .
OUR ES SE
São Paulo: Álica, 1998. p. 39 e 41.
46
O Estado nazista procurou aplicar uma polí-
A discriminação tica de domínio racial por meio de leis eugênicas
no nazismo que, de acordo com suas crenças, visavam melho-
rar a qualidade do que chamavam de raça pura,
Assim que chegaram ao poder, os nazistas
ou seja, os alemães.
fizeram um grande expurgo no serviço público.
Durante o nazismo, a eugenia foi usada como
judeus, homossexuais, social-democratas, com u-
controle populacional. Assim, mais de 400 mil
nistas e todos os que criticassem o regime eram
pessoas (com doenças mentais, algum tipo de
demitidos ou presos. As escolas e universidades
deficiência, doenças hereditárias ou antecedentes
foram duramente atingidas. Professores e pes-
criminais) foram mortas ou esterilizadas em nome
quisadores qualificados - Albert Einstein, por
da superioridade da "raça ariana". As leis eugê-
exemplo - emigraram para outros países, espe-
nicas proibiam o contato sexual de alemães com
cialmente os Estados Unidos. O clima de terror
judeus e o casamento de pessoas com transtornos
era tal que joseph Goebbels organizou uma ação
mentais, doenças contagiosas ou hereditárias.
em que milhares de livros de autores judeus, es-
A eutanásia involuntária - ou a morte mise-
querdistas, liberais - enfim, toda obra qualifica-
ricordiosa, como a chamavam - não era crime e
da como "subversiva" e "degenerada" - foram
foi muito praticada pelo regime nazista. Pessoas
queimados em praça pública.
com doenças ou fraquezas físicas e mentais fo-
Em 1935 foram outorgadas as Leis de Nurem-
ram vítimas de um programa secreto de elimina-
berg, que proibiam o casamento e a coabitação
de judeus e alemães. Os judeus foram proibidos ção, por serem consideradas um peso para a so-
de exercer certas profissões, como a medicina. ciedade produtiva. Em torno de 200 mil pessoas
Em síntese, passaram a sofrer forte segregação. pereceram em decorrência desse programa secre-
Um decreto de 1937 permitia a prisão de ciganos to de eutanásia.
com base em um suposto "comportamento antis- O regime nazista só chegou ao fim em 1945,
social". Antes ainda de começar a Segunda Guerra quando, como consequência das fortes investi-
Mundial, judeus, comunistas, ciganos e outros das expansionistas na Segunda Guerra Mundial,
considerados inimigos do regime foram enviados a cidade de Berlim foi ocupada por tropas sovié-
para o campo de concentração de Dachau. ticas. Num ato de desespero, Hitler cometeu sui-
cídio antes que seus domínios fossem tomados.
Assim como ele, outros líderes nazistas fizeram o
mesmo, o que culminou, ainda no mesmo ano,
na rendição oficial da Alemanha, que teve seu ter-
ritório dividido entre forças socialistas e capitalis-
tas envolvidas no conflito.
A u;jH
Os reqmes tntlitzo 47
Organizando ideias
Em grupo, leia os textos e, com base nas A questão central, não respondida, é: por quê? [ ... J
informações neles apresentadas, bem como No cerne desse aparente mistério existia urna vi-
nas explicações fornecidas até agora, responda são de mii ndo ( Welt(znscha u ung) milenar, segundo
às questões. Depois, organizem uma mesa- a qual os "judeus" eram a fonte de todos OS males
-redonda para apresentar suas respostas e - especialmente o internacionalismo, o pacifismo,
debater o assunto. a democracia e o marxismo - e ainda responsáveis
pelo advento do cristianismo, do iluminismo e da
Texto 1
maçonaria. Foram tachados de "agentes de decom-
Gestapo - ou Gebeime Staatspolizei - posição" e "degeneração racial". Foram identifi-
Polícia secreta do Estado cados com a fragmentação da civilização urbana,
com o ácido solvente do racionalismo crítico e com
A Gestapo se aperfeiçoou nos requintes de per-
o relaxamento da moralidade. Estariam por trás do
versidade num Estado totalitário e beligerante. A
"cosmopolitismo desenraizado", característico do
intolerância de qualquer expressão de desacordo
capital internacional e da ameaça de urna revolução
levada ao paroxismo da repressão e do ódio. Com
mundial. Em suma, OS judeus eram o Weltfeind - o
todos os métodos e subterfúgios validados em
"inimigo do mundo", contra o qual o nacional-so-
nome de um Estado que se presumia detentor de
cialismo definia a sua grandiosa utopia racial, um
todos os poderes políticos, sociais e religiosos, fa-
Reich de mil anos.
zendo do ser humano um simples jogucte de pseu-
WISTRICH, Roberi S. Hitler e o Hotocausto.
doideais nacionais, um mero autômato inserido na
Rio de Janeiro: Objetiva, 2002. p. 13-14.
engrenagem do Estado todo-poderoso.
Além disso, a Gestapo não era somente instru- Qual era o papel da Gestapo no Estado na-
mento de um Estado ditatorial, era especialmente zista?
a máquina predisposta para forjar terror e ódio na Há exemplos semelhantes nas sociedades
mente humana contra povos, raças e religiões. Tudo atuais, ou seja, organizações militares ou
em favor do Estado, do sistema do nazismo [ ... ]. policiais sendo usadas para coação e punição
BUTLER. Rupert. A Gestapo: a história da polícia secreta de sem limites? Justifiquem.
Hitler. 1933-1945. So Paulo: Larousse do Brasil. 2008. p. 5.
E na sociedade civil, há grupos que praticam
Texto 2
esse tipo de violência? Exemplifiquem.
O Holocausto
O regime nazista recebia muito apoio das
O Holocausto constituiu um crime sem precedente massas e de alguns setores poderosos, como
contra a humanidade, visando ao extermínio de toda a Igreja Católica, por exemplo. Elaborem
a população judaica da Europa, até o último homem, hipóteses que expliquem esse apoio.
a última muller, a última criança. Tratava-se de uma
S. Entre as ações nazistas, estava a segregação
política definida, arquitetada, por parte de um Estado
racial, que o Estado levou a cabo com leis
poderoso, o Reich nazista, que, com o propósito de des-
eugênicas. Qual era o objetivo dessas leis?
truir um povo, mobilizou todos os recursos disponíveis.
Os judeus não foram condenados à morte por causa O que significa Holocausto? Se julgar ne-
de crenças religiosas, nem de inclinações políticas. cessário, pesquisem em outros livros e na
'l'ampouco configuravam uma ameaça econômica ou internet para responder.
militar ao Estado nazista. Não forarri mortos pelo que
Relacionem o Holocausto à eugenia.
fizeram, mas pelo simples fato de existirem.
Nascer judeu, aos olhos de Adolf Hitler e do regi- De acordo com o texto 2, em que ideia os na-
me nazista, significava, apriori, não pertencer ao gé- zistas baseavam seu preconceito em relação
nero humano e, portanto, não ter direito à vida. [ ... ] aos judeus?
48 tuto2
2 Viajando pela história
As mulheres e os jovens O papel das mulheres na sociedade alemã
no nazismo oferece outro exemplo da contradição entre
ideologia e prática. Segundo a ideologia na-
Apesar de o caráter militar da sociedade nazis- zista, a estabilidade do Estado baseava-se na
ta estar relacionado apenas aos homens, o regime se unidade familiar, a esfera especial reservada
valeu de medidas especiais para conseguir o apoio às mulheres pela natureza e pela providên-
total da população, incluindo a simpatia das mulhe- cia. Como outros grupos conservadores, os
res e a absorção dos ideais nazistas pelas crianças. nazistas procuravam ressuscitar e fortalecer
a noção tradicional de que o lugar das mu-
Em síntese, as mulheres alemãs deveriam ser
lheres era em casa. Kinder, Kirche und Küche
mães e boas donas de casa. Aquelas que tivessem
(crianças, igreja e cozinha) representavam os
muitos filhos eram valorizadas por meio de gene- limites tradicionais dos domínios da mulher.
rosos benefícios. Campanhas incentivavam os ca- A esfera pública da política e das profissões
sais a ter mais de dois filhos. O aborto foi restrito era reservada aos homens. Os nazistas con-
a pouquíssimos casos, e o controle da natalidade sideravam que a emancipação política das
considerado antipatriótico. O divórcio era facili- mulheres era um erro. Não havia mulheres
tado para os casais que não tinham filhos, e as ocupando posições de liderança no governo
ou no partido, exceto em organizações des-
mães solteiras eram protegidas. Essas medidas
tinadas especialmente às mulheres, como a
produziram grande aumento da natalidade.
União das Mulheres Nacional-Socialista (Na-
As necessidades econômicas fizeram com
tionalsozialisiische Frauenschaft) ou a Liga
que cada vez mais mulheres tivessem de ingressar das jovens Alemãs (Bund Deutscher Madel).
no mercado de trabalho. Em 1939 havia 7 mi-
STACKELBERG, Roderick. AÂtemanha de HitLer:
lhões trabalhando fora de casa, cifra que subiu origens, interpretações e fegados.
para 14,5 milhões em 1944, em decorrência do Rio de Janeiru: Imago, 2002. p. 182.
esforço de guerra.
HHH:H 49
Fascismo em Portugal e na Espanha
Nas décadas de 1920 e 1930 foram organi- aqueles que tinham interesses na manutenção do
zados partidos fascistas em diversos países eu- império colonial e pelos camponeses, e reprimiu
ropeus, e até mesmo em outros continentes. A todo tipo de oposição ao regime. Prisões arbitrárias,
maioria desses partidos não chegou ao poder ou desaparecimento de pessoas, assassinatos e torturas
só o conseguiu durante a Segunda Guerra Mun- foram práticas comuns. Transformou seu partido,
dial com o apoio de tropas nazifascistas; por a União Nacional - o único permitido -, em uma
exemplo, os da Noruega e da Croácia. De modo organização hierárquica e burocrática. Para prote-
geral, fora da Itália e da Alemanha, poucas agre- gero regime, organizou a Polícia Internacional e de
miações fascistas alcançaram sucesso eleitoral. Defesa do Estado (Pide) e, nos moldes dai uventude
Nos casos de Portugal e da Espanha, regimes Hitlerista, criou a Mocidade Portuguesa - cujos
com características fascistas chegaram ao poder, membros usavam camisas verdes - e uma organiza-
mas não pela via eleitoral. ção paramilitar chamada Legião Portuguesa.
O satazarismo
No começo do século XX, Portugal adota-
va a monarquia constitucional como forma de
governo. O país era atrasado econômica e so-
cialmente, e mantinha com dificuldade um de-
cadente império colonial. A Proclamação da
República, em 1910, não alterou substancial-
mente esse quadro. As lutas sociais se acirraram
e houve enfrentamento cada vez maior entre
o regime republicano laico e a Igreja Católica.
Nesse contexto de instabilidade, em 1926 foi
deflagrado um golpe militar, que pôs fim ao Es-
tado liberal português.
Convidado pelos militares para exercer o
cargo de ministro das Finanças, o professor de
Economia Política da Universidade de Coimbra,
Antônio de Oliveira Salazar, acabou se tornando
presidente do Conselho de Ministros. Durante o
tempo em que permaneceu na função, Salazar
instituiu uma série de medidas econômicas favo-
ráveis à grande burguesia portuguesa, o que lhe
garantiu forte apoio e possibilitou sua ascensão
ao governo do país em 1932.
Salazar redigiu então uma nova Constituição,
na qual instituía um regime corporativo e naciona-
lista semelhante ao que Mussolini acabara de im-
plantar na Itália. ;J
Obcecado pelas glórias portuguesas e avesso -. -. ,, •
• -
à modernização do país, Salazar era apoiado pela •.. .- ..2
•. •
•
50
Apesar de admirar Hitler e Mussolini e de ha-
ver apoiado o general Francisco Franco durante a durante a campanha de propaganda eleitoral
do general Humberto Delgado, em 1958, que
Guerra Civil Espanhola, Salazar manteve seu país
obteve uma adesão de grande parte da pequena
neutro durante a Segunda Guerra Mundial. Após o
e média burguesia urbanas. [As eleições foram
fim do conflito, as autoridades dos Estados Unidos
fraudulentas e o general Delgado foi derrotado.] O
admitiram Portugal na Organização do Tratado do abalo sofrido pelo regime foi tão forte que, após a
Atlântico Norte (Otan) e apoiaram a ditadura de Sa- campanha, a Constituição Política foi modificada,
lazar, pois temiam uma aproximação do país com passando o presidente da República a ser eleito
a União Soviética no caso de queda do regime. por um restrito colégio eleitoral, para evitar fu-
turas crises. A alteração, proposta pelo Governo,
despertou oposições na Assembleia Nacional, mas
A Organização do Tratado do Atlântico não deixou por isso de ser aprovada.
Norte (Otan) foi uma aliança criada em 1949
SARAIVA, José Hermano. História concisa de Portugal.
sob a liderança dos Estados Unidos, cujo prin- Lisboa: Pubticações Europa-América, 2007. p. 363-364.
cipal objetivo era garantir a cooperação política
e militar entre os países envolvidos e inibir o
avanço do bloco liderado pela União Soviética,
grande adversária ideológica dos Estados Uni- Foi apenas com a morte de Salazar, em 1970,
dos no período. que o regime se enfraqueceu. Seu fim definitivo
ocorreu em 1974, quando um amplo movimento
liderado pelas Forças Armadas - a Revolução dos
Por ter imposto seu governo, Salazar teve de
Cravos - iniciou o processo de redemocratização,
enfrentar uma série de agitações internas. Em ou-
que restabeleceu o pluripartidarismo e a liberdade
tubro de 1936 conteve a Revolta dos Marinheiros
de expressão, implantando uma série de reformas
ou Motim dos Barcos do Tejo, na qual militares
sociais e pondo fim ao império colonial.
da marinha, ligados ao Partido Comunista Portu-
guês, tentaram, por meio de manifestações diver-
sas, a implantação da república em Portugal. Os O franquismo
revoltosos foram descobertos e duramente repri-
No início da década de 1920, a Espanha era
midos pelas forças salazaristas.
um país predominantemente agrário, onde 70%
da população vivia no campo e praticava uma
A oposição ao regime cresceu no mesmo ritmo agricultura de baixa produtividade. As poucas
que a expansão da classe média. As restrições aos indústrias concentravam-se no País Basco (meta-
direitos políticos, que tinham sido desejadas e lurgia) e na Catalunha (têxtil).
a seguir toleradas por uma classe média de raiz A Crise de 1929 agravou a situação econô-
agrária em fase de depressão econômica (que via mica no país, acirrando a disputa entre os setores
nas restrições uma política da ordem), começaram
de esquerda e de direita. Em 1931, em meio a
a ser sentidas como imposições insuportáveis pela
agitações políticas e sociais, foi implantado um
nova classe média industrial e mercantil em fase de
governo republicano com o objetivo de mudar
expansão. No novo quadro de valores, o conceito
de ordem era substituído pelo de liberdade, o de panorama das práticas políticas espanholas
segurança pelo de progresso. O desejo de liberdade e resolver os graves problemas econômicos.
marcou, a partir de 1945, quer a burguesia favo- Uma frente que reunia agremiações políticas
rável, quer a hostil ao regime; à primeira inspirou de centro-esquerda implantou uma série de re-
projeto da liberalização, à segunda o desejo da formas, como a Lei Agrária, que possibilitava a
revolução, embora uma revolução burguesa que distribuição de terras aos camponeses; o ensino
não fosse muito além do regresso às formas do
laico; a Lei do Divórcio e uma legislação social
parlamentarismo democrático e da garantia dos
inovadora. A Igreja Católica e o exército, insti-
direitos políticos de reunião e expressão. Essa
tuições conservadoras, fizeram forte oposição a
ideia de liberdade revelou todo o seu dinamismo
essas medidas. Os anarquistas e os comunistas,
51
que consideravam as reformas tímidas, do outro, os falangistas, que também se
também se opuseram ao que chamavam autodenominavam nacionalistas, represen-
de "Estado democrático burguês". tavam as forças conservadoras.
Em 1933, a Confederación de De- A Guerra Civil Espanhola acabou se
rechas Autónomas (Ceda), composta de internacionalizando. Hitler e Mussolini
vários grupos católicos monarquistas e re- apoiaram os nacionalistas com armas,
publicanos, venceu as eleições, formou um aviões, recursos financeiros e milhares de
governo que obstruiu as reformas e reprimiu homens, liderados por membros do exér-
com violência operários e camponeses. Em cito - em especial por Francisco Franco.Já
1936, a Frente Popular, reunindo partidos os republicanos receberam ajuda da URSS
de esquerda, obteve maioria no Parlamen- e, em menor escala, da França. Milhares de
to e pôde formar um novo governo, que jovens de vários países, incluindo o Brasil,
restabeleceu a política de mudanças. Essa formaram as Brigadas Internacionais para
medida amedrontou setores da sociedade defender a Repiiblica Espanhola. Houve,
espanhola, especialmente o exército, que por exemplo, combates entre italianos
iniciou uma série de insurreições, provocan- fascistas, que apoiavam os nacionalistas,
do uma guerra civil. De um lado, os repu- e italianos comunistas, que lutavam em
blicanos reuniram as forças progressistas; defesa da causa republicana.
52
Internacionairnente, foi uma versão em minia- da direita se mostrou muito mais efetiva que a da
tura de uma guerra europeia, travada entre Estados esquerda. Terminou em derrota total, com várias
fascistas e comunistas - esses últimos marcadamente centenas de milhares de mortos, várias centenas
mais cautelosos e menos decididos que os primeiros. de milhares de refugiados nos países que quiseram
As democracias ocidentais continuaram não tendo recebê-los [... 1.
certeza de nada, a não ser de seu não envolvimento. HOBSBAWM. Eric. Era dos Extremos: o breve século XX -
Internamente, foi uma guerra em que a mobilização 1914-1991. São Paulo: Companhia das Leiras, 2007. p. 162.
[ ... ] A ditadura do general Franco foi uma das Espanholi não se deveria tentar integrar e mobilizar
mais cruéis do século XX na Europa. A fraqueza do as classes operárias. O inimigo tinha de ser derro-
Partido Fascista Espanhol não tornou a Espanha tado, preso ou aterrorizado em submissão como
Nacionalista menos repressiva ou vingativa. Na os nativos coloniais outrora. Uma Igreja cruzada,
verdade, deu-se o oposto. A perseguição brutal da por sua vez, abençoou o terror dominante, como
população local foi bem além da Alemanha nazista no período da Reconquista.
e da Itália de Mussolini. Ao contrário dos Esta- SALVADÓ, Francisco J. A Guerra Civ;t Espanhola.
dos fascistas, com a ordem pública nas mãos dos Rio de Janeiro: Zahar, 2008. p. 244.
africanistas, [soldados que serviram no Marrocos
Organizando ideias
Caracterize o sal.azarismo em Portugal.
O que há de comum entre o satazarismo e os regimes totalitários fascista e nazista?
Por que ocorreu a Guerra Civil Espanhola? Que grupos estiveram envolvidos no conflito?
53—
Expressões culturais do neonazismo
A permanência de nazistas em cargos públi- Os skinheads foram incentivados pela dis-
cos ou em empresas privadas, após a Segunda seminação da xenofobia advinda da perda da
Guerra Mundial, contribuiu para que, com o influência europeia nas ex-colônias. O aumento
passar dos anos, grupos nacionalistas resga- da população mundial - aliado às crises do ca-
tassem o nazismo e o adaptassem a um novo pitalismo e à contínua migração de povos das
contexto histórico e às características específi- ex-colônias localizadas na África, no Oriente
cas dos países em que estavam presentes seus Médio e no Golfo Pérsico em direção aos países
agentes remanescentes. Essa reorganização se europeus industrializados - só fez acirrar o
chama neonazismo. sentimento nacionalista, que encontrou abrigo
Na Europa, o advento do neonazismo ficou em partidos conservadores. Mesmo que de
marcado pela figura dos skinheads de extrema- forma não declarada, é notável o neonazismo
-direita. O grupo foi formado nos anos 1960 nos comportamentos xenófobo, homofóbico e
por jovens de subúrbios operários ingleses, racista e na adoção explícita de símbolos que
que raspavam a cabeça e apreciavam gêneros remetem à ideologia nazista.
musicais como o soul, o ska e o reggae. No geral, No Brasil, muitos jovens, frustrados com
as manifestações culturais dos skinheads não as perspectivas oferecidas pelo país durante
continham elementos políticos, mas alguns a redemocratização, aproximaram-se dos ski-
radicais promoviam confrontos em estádios de nheads neonazistas. Esses grupos brasileiros
futebol e agressões a imigrantes. Esses radi- reproduziam o nacionalismo e o sentimento de
cais racistas assumiram o papel da militância fraternidade que o nazismo propagava, mas, no
jovem nos partidos neonazistas em formação início, não se identificavam com o ideal de segre-
na Inglaterra, cujo maior expoente foi o Na- gação racial, justamente porque contavam com
tional Front, o qual, apesar de não se intitular pessoas pardas e negras em sua composição.
neonazista, defende abertamente, ainda hoje, Aos poucos, contudo, os símbolos nazistas e o
a supremacia branca. racismo foram sendo incorporados por correntes
do movimento, principalmente no Sul do país,
que passaram a ter como alvo punks, negros,
judeus, homossexuais e nordestinos.
-54
w
Na contramão das manifestações neonazistas recentes contra a imigração de refugiados para a Europa, torcedores de time alemão estendem
faixa em inglês com os dizeres: "Refugiados, sejam bem-vindos. Bremen (Alemanha), 2015.
55 -
O staLinismo
No começo do século XX, a Rússia era um
gigantesco império (mais de 22 milhões de quilôme- Os botcheviques eram um grupo político rus-
tros quadrados), multiétnico, predominantemente so formado por ex-integrantes do Partido Operá-
agrário e com resquícios feudais. A Igreja Orto- rio Social-Democrata Russo EPOSDR), fundado
em 1898. O POSDR se dividiu após um congres-
doxa endossava o regime, que era uma monarquia
so realizado em Londres em 1903,
dando origem
autocrática.
a dois grupos, os bolcheviques e os menchevi-
Durante o regime czarista, havia grande repres-
ques. Os bolcheviques eram a maioria do antigo
são por meio, principalmente, da polícia secreta - a partido, por isso passaram a ser assim conhe-
Okrana -, que investigava a vida de todos. Prisões cidos - o nome deriva de bolscir,stvó, em russo.
arbitrárias, torturas, execuções e exílios em regiões "maioria" -, e defendiam a revolução socialista e
remotas da Sibéria eram riscos constantes para a implantação da ditadura do proletariado, numa
aqueles que se opunham ao regime. Quanto aos aliança entre proletariado e camponeses.
judeus, eram vítimas de pogroms (ataques a deter-
minadas pessoas e aos seus ambientes, como casas
e empresas), na maioria das vezes com a conivência
do Estado. Milhões de camponeses que viviam na
miséria e uma classe operária combativa ambicio-
navam fazer mudanças políticas profundas.
Os fracassos na guerra com ojapão, em 1904-
1905, a difusão de ideias liberais e socialistas, as
derrotas na Primeira Guerra Mundial, a crise eco-
nômica, as desigualdades sociais, o descontenta-
mento das diversas nacionalidades com o crescente
processo de russificação do império e as falhas do
governo do czar Nicolau II foram alguns dos fatores
Vladimir lIitch Lénia em discurso no Primeiro Miversãrio da Revolução
que propiciaram as duas revoluções de 1917. Esse Boichevique na Praça Vermelha. Moscou (Rússia). 7 nov. 1918.
período ficou conhecido como Revolução Russa, e
caracterizou-se por uma série de conflitos liderados No poder, os bolcheviques tiraram a Rússia da
por manifestantes contrários à autocracia russa. guerra, dissolveram a Assembleia Nacional Consti-
A Revolução mostrou sua força em duas fases tuinte, perseguiram dissidentes, reprimiram grupos
distintas. Na primeira, a Revolução de Fevereiro, anarquistas e implantaram um regime de partido
Nicolau li, o último czar a governar, foi derrubado, único. Em meio a conflitos internos, os exércitos
que deu margem para o estabelecimento de uma contrarrevolucionários praticavam atos de violência
república de cunho liberal, representada por um contra os que apoiavam os bolcheviques, e estes,
governo provisório. Empossado, o governo libertou por sua vez, respondiam também com repressão.
políticos, deu liberdade à imprensa e convocou elei- Depois da morte de Lênin, ocorreu acirrada
ções para a formação de uma Assembleia Nacional disputa pelo poder entre LievTrotski (1879-1940)
Constituinte. Contudo, o novo governo manteve a e Josef V. Stalin (1879-1953). Stalin assumiu o
Rússia na guerra mundial, não realizou uma reforma poder e paulatinamente foi impondo um regime
agrária, nem satisfez às reivindicações da classe ope- repressivo. O culto da personalidade marcou o
rária. As derrotas nas frentes de batalha agravavam período de 1924 a 1953. Stalin era apresentado
a crise econômica e social. como "guia", "líder do proletariado mundial".
Já na segunda fase, a Revolução de Outubro, A coletivização das terras de maneira força-
Partido BoLchevique, liderado por Vladimir llitch da gerou grande onda repressiva. Críticos do regi-
Lênin (1870-1924), derrubou o Governo Provisório me eram condenados como "inimigos do povo",
e implantou um governo socialista soviético. em processos cujas provas eram fabricadas, e os
56
mais elementares direitos eram desrespeitados. Alguns historiadores discordam desses da-
Nos gulagui, campos de reeducação com traba- dos, alegando que o número de mortos foi infla-
lhos forçados, morreram mais de 8 milhões de do por pesquisadores anticomunistas. É inegável,
pessoas. Trotski, que vivia exilado no México, foi contudo, que houve grande repressão durante o
assassinado por um agente de Stalin, em 1940. governo de Stalin.
O fim do stalinismo foi ocorrendo aos pou-
Urna história completa dos expurgos de cos, uma vez que a própria população deixou de
1937-8 registrara a prisão de 1372392 pessoas, apoiar o governo quando percebeu sua imposi-
das quais 681 692 foram mortas. Os números ção por meio da força, mas foi derradeiro com
fornecidos por Kruchev ao plenário do Comi- a decisão do dirigente soviético Nikita Khrushev
tê Central, em 1957, eram um pouco diferentes: (1894-1971), que passou a denunciar os crimes
mais de 1500000 presos e 68 692 mortos (as di-
cometidos no governo de Stalin, assim como a
ferenças derivam dos critérios empregados pelos
criticar o "culto à personalidade" imposto pelo
estatísticos do KGB). Dados relativos a 1930-53
líder. Tais denúncias resultaram na reavaliação
indicam 3778 000 presos e 786 mil executados.
do stalinismo, que, por sua vez, iniciou o processo
LEWIN, Moshe. O sécuLo soviético: da Revolução de 1917 ao conhecido como "desestalinização".
colapso da URSS. Rio de Janeiro: Record. 2007. p. 139.
i1/FE P R U h i UT Iiõ
57-
Debate interdisciplinar
58
Outro tipo de expressão também inserido
na comunicação de massa foram os cartazes,
oriundos do ramo publicitário. Apropriado pela
estética totalitarista, esse veículo de comunicação
tornou-se bastante utilizado para a difusão dos
ideais políticos do Estado.
Os rrcme; tC.jLO. 59 -
Responda no caderno
Testando seus conhecimentos
tido. Nós queremos que esse povo seja, um dia, obe- O nacional-socialismo era a ideologia
diente, e vocês devem treinar essa obediência. Nós do regime stalinista.
queremos que esse povo seja, um dia, pacífico, mas
A 'terra de sangue" não se limitou à
valoroso, e vocês devem ser pacíficos.
cronologia da Segunda Grande Guerra
Adotf Hitler, no Congresso Nazista de Nuremberg, 1933.
in: O triunfo da vontade, filme de Leni Riefenstahl, 1935. Mundial.
60
Responda no caderno
61
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Exército trolano partindo para o combate na Guerra de Troia. Miniatura do Codex Benito de Santa Mora, século XV.
Acervo da Real Biblioteca de San Lorenzo de El Escorial, Espanha.
- 64 tij!r, 3
[...] Os exércitos do Islã, e posteriormente OS dos dios da preponderância militar europeia. O sucesso
mongóis, souberam explorar muito bem a força dos do que se tornou conhecido como estilo ocidental de
cavalos, erigindo impérios imensos no Oriente Médio guerra dependeu de avanços tecnológicos, que possi-
e na Eurásia graças ao uso de grandes destacamentos bilitaram aos pequenos exércitos europeus altamente
de cavalaria. Apesar da invenção do estribo, que fa- treinados destruir forças muito maiores em pratica-
cilitou o controle dos cavalos e daí as formações de mente qualquer parte do mundo. Fundamental para
cavalaria, aumentando por conseguinte sua eficiência essa supremacia foi o poder naval transoceânico, o
nos campos de batalha, as armas de guerra haviam qual proporcionava riquezas econômicas pelo comér-
mudado pouco desde os tempos antigos: os homens cio internacional e permitia aos exércitos europeus
ainda eram chacinados por espadas, lanças, macha- atacar por todo o globo de acordo com sua vontade.
dos, dardos e arcos. Próximo ao fim do século XV,
GILBERI, Adrian. Enciclopédia das guerras: conflitos mundiais
contudo, a tecnologia da pólvora teve sua estreia nos através dos tempos São Pauto: M. Books do Brasil Editora.
campos de guerra ocidentais, assinalando os primór- 2005. p. 6.
A partir do século XIX a guerra incorporou do navio a vapor, da telegrafia e de balões tornou
avanços tecnológicos oriundos dos processos os conflitos ainda mais devastadores. A Guerra
industriais modernos, o que possibilitou a pro- Civil Americana (1861-1865) e a Guerra Franco-
dução em massa de armas cada vez mais so- -Prussiana (1870), por exemplo, demonstraram
fisticadas e letais: canhões, rifles de recarga e o poder de destruição dos novos armamentos,
metralhadoras. Além disso, o uso de ferrovias, que contribuíram para o aumento significativo
do número de mortos em combate.
E
Para alguns historiadores, como o britânico
John Keegan, a guerra é muito mais que a "conti-
nuação da política por outros meios", pois sem-
pre houve combates e eles continuam ocorrendo
até hoje.
Doo Trolani, O Primeiro Regimento de Voluntários de Minnesota em Letal: que se refere à morte ou a ocasiona.
Gettysburg. Pensilvânia (EUA), 2 de lulho de 1863. 1984. Õleo sobre teia.
Organizando ideias
Em dupla, reflita sobre os significados de guer- É possível evitar as guerras?
ra apresentados e depois, juntos, respondam às
questões sintetizando suas ideias a respeito. 6. Quais são, de forma geral, as consequências
das guerras?
Para vocês, o que significa guerra? Apresentem suas respostas para toda a turma
e debatam sobre esse assunto. Redijam um texto
O que leva pessoas, grupos e países a guerrear?
coletivo com as conclusões a que vocês chegaram.
65
A Primeira Grande Guerra
Os defensores da guerra que assolou Esse otimismo, porém, não corres-
a Europa e o resto do mundo entre 1914 e pondia aos interesses de todos os grupos e
1918 ajustificavam afirmando que aquela se- nações. No cenário das relações internacio-
ria a "guerra que acabaria com todas as guer- nais, a corrida imperial ista, o nacionalismo
ras". Não foi o que aconteceu, pois o conflito, e o revanchismo geravam atritos diplomá-
que depois foi chamado de Primeira Guerra ticos crescentes. A corrida armamentista
Mundial, gerou frustrações, rancores e crises e o estabelecimento de uma política de
que culminaram em outra disputa ainda mais alianças entre as nações também coloca-
devastadora: a Segunda Guerra Mundial. vam em xeque a paz europeia.
Entre 1871 e 1914, os europeus vive- Nesse contexto, algumas potências
ram um período de avanços científicos e tec- europeias firmaram acordos políticos e
nológicos, melhorias das condições de vida, econômicos que resultaram na formação
progressos democráticos, desenvolvimento de duas grandes alianças: a Tríplice Alian-
econômico, aumento do consumo e da ça (formada pelos governos da Alema-
internacionalização comercial, intelectual nha, Itália e Império Austro-Húngaro) e a
e religiosa. Era a chamada BeIle Époque Tríplice Entente (formada pelos governos
- expressão que designou esse período de da Inglaterra, França e Rússia). Os acor-
paz, progresso e realizações culturais -, dos previam apoio mútuo: o ataque a um
que possibilitava à burguesia europeia viver aliado seria considerado ataque aos de-
"dias felizes" usufruindo dos grandes cen- mais membros da aliança, que deveriam
tros urbanos, principalmente Paris. defendê-lo.
'ír-iijas Jeaino. O cha das cinco em Paris, 1893. AquareL i3nturas COmO essa retratam a Belie Epoque vwida pelos europeus.
- 66
o SLANOIA'
èrritéio
Dinamarca)
7 / LIIII1(1882)
Tríplice Aliança
e aliados
Tríplice Entente
Estados neutros
FRANÇA ÍiJCAI' ÁUSTRIA-HUNGRIA
BULGÁ
OMÊNIA
IA
Mar /Vcriro
ftJIlIl Maio do 1915—Itália
entra na guerra, mas
ÉRvI do lado da
ç Tríplice Entente
ESPANHA tIO OTOMANO
11 LUlA— 1918)
1
1
1
AFRICA ) Mar' Mediterrâneo
Fonte: ARRIJDA. José Jobson de A. Alias histÓrico básico. 17. cd. Sáo Paulo: Alica, 2011.1). 27.
[ ... ] Milhões de homens ficavam uns diante dos geralmente protegidos por rolos e teias de arame
outros nos parapeitos das trincheiras barricadas farpado, para a "terra de ninguém", um caos de
com sacos de areia, sob as quais viviam como - e crateras de granadas inundadas de água, tocos de
com - ratos e piolhos. De vez em quando, seus árvores c .:uodas, lama e cadáveres abandona-
generais procuravam romper o impasse. Dias e dos, e avançavam sobre as metralhadoras, que os
mesmo semanas de incessante bombardeio de ar- tu n, como eles sabiam que aconteceria.
tilharia [ ... ] "amaciavam" o inimigo e o mandavam
11013SI3AWM, Eric, Era dos Extremos: o breve século XX.
para baixo da terra, até que no momento certo
1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. p. 33.
levas de homens saíam por cima do parapeito,
A-
Calcinar: queimar até reduzir a carvão ou Ceifar: matar, tirar a vida de atguém.
cinzas.
68 lr2.
Na frente Oriental, os
russos sofreram uma série de
reveses dos alemães, o que
contribuiu para agravar a cri-
se interna que culminou na
Revolução Russa de 1917. Em
1918, o governo socialista,
atendendo às reivindicações ' •-.-..,
populares, concluiu um acor-
.
do de paz separadamente com = *
os alemães.
Além da Europa, a guer-
ra atingiu o continente asiá-
tico, pois os povos árabes .,
tentaram tirar proveito da si-
tuaçao para, com o apoio das
potências aliadas, libertar-
-se da dominação turca. Na
África, os alemães mantinham
com grande dificuldade suas .
colônias - Togo, Camarões, .
África Sudoeste Alemã (Namí-
bia) e África Oriental Alemã
(Tanzânia) -, mas acabaram
vencidos.
Os Estados Unidos per-
maneceram neutros até 1 91 7.
O rompimento dessa neu-
tralidade deveu-se a ataques
de submarinos alemães, que SOd 1 ruiL LI
A neutralidade brasileira foi decretada em 4 de {..j Em maio de 1917, dois outros navios co-
agosto de 1914, no começo da guerra, mesma data merciais brasileiros, o Tijuca e o Lapa, são torpe-
da decisão semelhante do presidente dos Estados deados próximo ao litoral europeu, acarretando a
Unidos, Woodrow Wilson (1912-1921). Essa pri- revogação da neutralidade brasileira e a decisão de
meira etapa iria até 11 de abril de 1917, quando apreender e utilizar 45 navios mercantes alemães
o Brasil, já governado por Venceslau Brás (19 14- ancorados em portos nacionais.
-1918), rompe relaçôes com a Alemanha devido ao RICUPERO. Rubens. Efeitos colaterais. Revista de História da
ataque, seis dias antes, ao vapor brasileiro Paraná, Biblioteca Nacional. Disponível em: <www.revistadehistoria.
torpedeado e afundado por um submarino germâ- com.br/secao/capa/efeilos-colaterais>. Acesso em: abr. 2016.
69
A entrada dos Estados Unidos — com poderio fronteiriços, teve sua Força Aérea extinta, sua
industrial, enormes recursos financeiros e tropas Marinha reduzida e ainda foi obrigada a assu-
descansadas, bem armadas e bem alimentadas — mir uma gigantesca dívida de guerra. O Império
desequilibrou o conflito. Em 1918, as Potências Austro-Húngaro se desfez, com a Áustria e a
Centrais, uma a uma, renderam-se. Hungria reduzindo-se a dois pequenos países na
Os países derrotados tiveram de assinar Europa central. O mesmo aconteceu com o Im-
tratados. A Alemanha, pelo Tratado de Ver- pério Otomano, que se desintegrou. A Bulgária
salhes, perdeu todas as colônias e territórios também perdeu territórios.
Na Conferência de Paz realizada ao término do assegurou também, por meio do artigo 297, que os
conflito, a delegação brasileira, chefiada por Epi- 70 navios alemães apreendidos em portos nacionais
tácio Pessoa, conseguiu solucionar duas questões fossem legitimamente reconhecidos como proprie-
de interesse direto do país. E também neste caso dade brasileira. Para completar, devido ao apoio do
valeu-nos muito a intervenção decisiva dos Esta- presidente Wilson, o Brasil foi eleito membro não
dos Unidos. A primeira decisão se referia ao café permanente do conselho da recém-criada Socie-
do estado de São Paulo que estava depositado na dade das Nações (precursora da ONU, esta criada
Europa, e acabou utilizado pelos alemães. Em seu após a Segunda Guerra).
artigo 263, o Tratado de Versalhes, feito em 1919,
RICUPERO, Rubens. Eleitos colaterais. Revista de História da
determinou que a dívida fosse cobrada à parte dos BibLioteca NacionaL. Disponível em: <www.revistadehistoria.
pagamentos de reparações de guerra. O Tratado com. br/secao/capa/eíeitos-cotaterais>.
Acesso em: abr. 2016.
Em síntese, osven-
cidos pagaram um preço
bastante elevado o que .1/1 e ÇJ1
fomentou, mais tarde — 'ISLANDIA
como no caso da Ale- 1 , j
manha -, sentimentos de 1 .' FINLÃNDJ
Çsuci: 5—
revanche, que foram en-
/ 1NORUEGA
cabeçados pelos nazistas
OCEANO
Mesmo para a Italia, que ATL4NT!CO
'Maroo '''., : ar
participou do bloco ven- /, 7 ;LETNIA -
1' orte ,,-.--- ..j UNIAO DAS REPUBLICAS
cedor, os ganhos ficaram RNDA G OINAMARCA 1lUiNiA SOCIAUSTASSOVItICAS
:-. pmjs .-1 (parte europeia)
aquem do esperado, o que 90ETANHA
" AR!jENTAL
PAS N
contribuiu para a ascensão . :BAl)OSi
ALEMANHA POLONIA O
do fascismo BELGIC'A'
- LUXEM000GS/ Tc '-
A guerra provocou 9LOVAdÚJÇ. s
mais de dez milhões de \0.'365 130km
FRANÇA 4UIÇA - .. UNGRIA 1 '
- ,J\J -1• 3S50 -
mortes, alem de grande k. ROMtNIA
70
A crise econômica e social da
Europa teve diversos efeitos fora
do continente. Os Estados Uni-
dos, que já eram um país pode-
roso, consolidaram sua liderança -
econômica no mundo e torna-
ram-se credores de vencedores e
vencidos. Em escala menor, o Ja-
pão também se beneficiou com o
conflito, pois conseguiu acelerar
sua expansão imperialista após -
anexar ex-colônias da Alemanha.
O Brasil sofreu uma diminuição ..
na exportação de produtos agrí-
colas, sobretudo o café, e passou
por um grande crescimento indus-
trial motivado pela dificuldade de
importar produtos europeus.
fflOO 1 . L. d OS
Com a guerra, as mulheres, que vinham se soldados do exercito francês. França 1915.
organizando politicamente, ganharam força eco-
nômica e, em vários países, obtiveram conquistas
sociais. Contudo, para milhões de mães e viúvas,
a guerra foi uma terrível tragédia.
Busca pela liberdade
Diversos povos que lutaram na Primeira Guer-
ra Mundial reivindicavam liberdade. Os sérvios,
[ ... ] À medida que a guerra progredia, con- atacados pelos austríacos, procuraram preservar
tudo, necessidades financeiras, muitas vezes sua independência e também ambicionavam
causadas pela morte do provedor da família, "libertar" os povos eslavos que viviam sob o do-
conduziram grande número de mulheres ao
mínio do Império Austro-Húngaro. Já a Bélgica,
trabalho nas fábricas. [ ... j Urna das injustiças da
invadida pela Alemanha, lutou para recuperar sua
guerra era o fato de que uma mãe com crian-
independência.
ça recebia generoso auxílio do Estado enquanto
seu marido estivesse vivo. Sua morte em comba- Os povos árabes que viviam sob o domínio
te, porém, colocava um fim nos benefícios, res- do Império Otomano apoiaram os Aliados porque
tando a seus dependentes uma mirrada pensão. viram no conflito a oportunidade de se libertar
Em novembro de 1918, havia 630 mil viúvas de do poder turco. De forma semelhante, armênios
guerra na França e um número ainda maior na e curdos também aproveitaram a situação para
Alemanha. tentar, por meio de alianças políticas, conquistar
A maioria foi forçada a procurar emprego,
a liberdade definitiva.
muitas vezes do tipo mais servil e com salários
Os Estados que produziram os tratados de
baixos, para sustentar a si mesmas e às suas
paz em 1919 incluíram cláusulas para proteger
famiias.
as minorias; contudo, entre a intenção e a prática
KEEGAN, John. História iLustrada da Primeira Guerra
havia uma enorme distância, pois o chauvinismo
MundiaL. Rio de Janeiro: Ediouro, 2003. p. 168.
nacional continuou muito forte.
A
Chauvinismo: termo derivado da língua francesa para designar opiniões tendenciosas, exacerbadas
ou agressivas a respeito de uma ideia, grupo ou país.
71
E claro que os peaceniakers de 1919 come- Isso era coisa para seus sucessores. Quando veio
teram erros. Com seu desatencioso tratamento a guerra de 1939, ela foi o resultado de vinte anos
do mundo não europeu, criaram ressentimentos de decisôes tomadas ou não tomadas, e não das
pelos quais o Ocidente paga até hoje. Trataram disposições adotadas em 1919.
com enorme empenho das fronteiras da Europa,
MACMILLAN, Margaret. Paz em Paris, a Coníerência de
sem conseguir, entretanto, satisfazer a todos, Paris e seu mister de encerrar a Grande Guerra. Rio de
enquanto na África adotaram a velha prática de Janeiro: Nova Fronteira. 2004. p. 543.
distribuir territórios para comprazer às potências
imperialistas. No Oriente Médio, juntaram povos,
mais notavelmente no Iraque, que ainda não
Apesar da suposta intenção de muitos paí-
conseguiram unir-se numa sociedade civil. Mas
ses, ao entrar na guerra, de lutar pela liberdade,
se poderiam ter feito melhor, sem dúvida alguma
poderiam também ter feito muito pior. Tentaram, prevaleceram os interesses territoriais das grandes
até mesmo o velho cínico Clemenceau, construir potências envolvidas na disputa, que cercearam
uma ordem melhor. Não podiam prever o futuro as garantias de liberdade das minorias e permiti-
e, certamente, não podiam comandar o futuro. ram o surgimento de movimentos que gerariam
um conflito ainda maior.
orpanizando ideias
Leia atentamente os textos e, em seguida, Texto 2
responda às questões.
A verdade inequívoca é que se eu fosse obedecer
Texto 1 aos meus instintos animais inatos - e havia pouca
A frente é uma jaula, dentro da qual a gente tem esperança de qualquer outra coisa enquanto estive
de esperar nervosamente os acontecimentos. Estamos nas trincheiras -, voltaria a me alistar em qualquer
deitados sob a rede formada pelos arcos das granadas, guerra futura, ou tomaria parte em algum tipo
e vivemos na tensão da incerteza. Acima de nós pai- de combate, apenas para experimentar de novo
ra a fatalidade. Quando vem um tiro, POSSO apenas aquela voluptuosa excitação do animal humano ao
esquivar-me e mais nada; não posso adivinhar exa- reconhecer seu poder de tirar a vida de outros seres
tamente onde vai cair, nem influir em sua trajetória. humanos que tentam fazer o mesmo a ele. O que a
É este acaso que nos torna indiferentes. Há alguns princípio era aceito como um dever moral tornou-se
meses, eu estava sentado num abrigo jogando cartas;
um hábito [... 1 tornara-se uma necessidade.
muito tempo depois, levantei-me e fui visitar uns
amigos que estavam em outro abrigo. Quando voltei, Palavras de um ex-combatente belga apud PERRY, Marvin.
já não existia mais o primeiro: fora completamente Civilização ocidental: uma história concisa.
destruído por uma granada. Voltei ao segundo abrigo, São Pauto: Martins Fontes, 2002. p. 539.
72
Segunda Guerra MundiaL:
a maior de todas
Os tratados assinados após a Primeira Guerra Na Conferência de Munique (1938), Hitler
Mundial não resolveram antigas disputas frontei- obteve o controle dos Sudetos (região daTchecos-
riças e, pior, criaram novas áreas de desacordo. lováquia habitada por descendentes de alemães),
Na Alemanha, territórios cujas populações eram com a condição de não reivindicar novos territó-
majoritariamente germânicas (como os Sudetos, rios. No entanto, a Alemanha não cumpriu o acor-
entregues à Tchecoslováquia) foram tomados da do e invadiu a Boêmia e a Morávia, além de ocupar
República de Weimar, que estava enfraquecida. o restante do território da Tchecoslováquia.
Os nazistas, com um discurso nacionalista, os alemães assinaram um tratado
Em 1939,
belicista e racista, tiraram proveito das frustra- de não agressão com os soviéticos, que passa-
ções e dos temores do povo alemão, atacaram o vam por agitações internas e temiam um avanço
comunismo ejustificaram o rearmamento alemão dos nazistas em seu território. Esse acordo, su-
(proibido pelo Tratado de Versalhes) como forma posto tratado de comércio e amizade, ocultava
de enfrentar o expansionismo soviético. Enquanto certos dispositivos: os alemães poderiam avan-
o
isso, os problemas decorrentes da Crise de 1929, çar sobre a Polônia sem que os soviéticos inter-
temor de revoluções apoiadas pelos soviéticos e a viessem; estes, por sua vez, poderiam invadir os
preocupação com um novo conflito armado leva- países bálticos (Letônia, Estônia e Lituânia) con-
ram a diplomacia das potências ocidentais a fazer tando com a passividade alemã. O Pacto foi as-
cada vez mais concessões a Hitler, num movimento sinado em 23 de agosto de 1939 e, poucos dias
conhecido como "política de apaziguamento". Essa depois, em 1° de setembro de 1939, tropas ale-
política, contudo, não obteve sucesso. mãs invadiram a Polônia.
4.
#.í) -
iI
Tropas germânicas recebem
as boas-vindas dos alemães
residentes de Lodz, na Polônia,
setembro de 1939 1
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73_
Or9aIIiZafldoideias
Observe a imagem e responda às questões.
/ g
44
O início da guerra
Em 1939, Hitler exigiu que a Polônia entregasse (destacamento de tanques blindados) e por último
à Alemanha o chamado "corredor polonês" (faixa de a infantaria. Os alemães mobilizaram 1,5 milhão
terra que garantia o acesso do país ao Mar Báltico) e de soldados na prática da bliczkrieg, uma bem-
a cidade portuária de Danzig, territórios perdidos pe- -sucedida "guerra-relâmpago". No dia 27 de se-
los alemães na Primeira Guerra Mundial. O governo tembro a cidade de Varsóvia foi tomada.
da Polônia, porém, recusou-se a atendê-lo, ciente do O próximo passo de Hitler foi invadir a No-
que havia acontecido com aTchecoslováquia. ruega, poiso minério de ferro importado da Suécia
Nas primeiras horas do dia 1° de setembro pelos alemães era enviado pelo porto norueguês
de 1939, os alemães invadiram a Polônia. Na de Narvik, o único da região que não congelava
primeira etapa, a Luftwaffe (Força Aérea Alemã) durante o inverno. A Noruega foi ocupada em
bombardeou portos, aeroportos, ferrovias, depó- abril de 1940. Concomitantemente, a Dinamarca,
sitos de muniçôes, cidades, enfim, a infraestrutura por fazer fronteira com a Alemanha, foi ocupada
polonesa, objetivando enfraquecer a resistência "preventivamente". Em seguida, Holanda, Bélgica
do país. Em seguida, vieram as Divisões Panzer e França foram invadidas.
-74
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NORUEGA
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OCEANO / ,? FINL&N0IA'
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UNIÃO SOVIËTICA
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O 327 654km Ofensivas doseuércitns do Eixo
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Campanha da Polônia setembro 1939)
.—+ Campanha da Françi 1maio junho 1040)
CmorIrt. USSIA •Mnnk 1t0
- ,p4 irmr. Campanha da Dinamarca e do Nnruega
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lerdos. )abril-junho 1940)
OinkOO I Ver me CprenI.lnn no Campanha da Grécia 1Outubro iMOle
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Eremanu s° M _-. Campanha dos BélcOs 1abril 1941)
Campanha da Rússia )jsmmlmn 1941 julho 1943)
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SUiÇA!. ÁUSTRIA
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OUNURIA
' ROMINIA
.,) obxt
Tomes, nuVO
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Territórios cnnctuistados e ocupadas pelas
Forças de Defesa do 3 Rcich
SrbnnIaanIe ii: Terrmtóues dos Aliados
nMurodn* CAUCASO
Mrr ,V , - [_ Territórios que progressiaamente participaram
1100 rO,
ESPANHA ITÁLIA IUGOSLÁVIA - os voltaram a participar da nnerra
BULGÁRIA
Poises neutros
AL8IA - RÃ
-
TURQUIA FreetesnaURSS
Fonte: DUBY, Geciges (Dr.). Grande atlas histórico. aris Lac.sse. 2011 g. 99
Organizando ideias
O texto a seguir é parte de um discurso feito não devem existir. Todos os representantes da classe
por Hitler, em 1940. Leia o texto e faça o que culta polonesa têm que ser exterminados. Isso parece
se pede. crueldade, mas é a lei da vida.
Os poloneses nasceram especialmente para o HITLER, Adotf apud ARNAIJT, Luiz; MOTTA, Rodrigo P. de Sã.
trabalho pesado [ ... ]. Não é preciso pensar em me- A Segunda Grande Guerra: do nazifascismo à Guerra Fria.
lhorias para eles. Cumpre manter, na Polônia, um São Paulo: Atual, 1994(1940]. p. 34-35.
75—
Ao tentar invadir a Grécia, a Itália foi venci-
A Itália na guerra da pela resistência grega. Mais uma vez, os ale-
A entrada dos italianos no conflito ocorreu mães entraram em cena e a Grécia foi ocupada
por interesses territoriais, uma vez que, assim por tropas germânicas. Durante a guerra, Musso-
como os alemães, eles sentiam-se prejudicados lini desempenhou papel secundário, sempre sob
com a partilha dos antigos territórios coloniais e as ordens de Hitler.
regiões europeias.
Alemanha, Itália e Japão, que tinham inte-
resses territoriais comuns, formaram uma aliança
A bataLha na Grã-Bretanha
política e militar, o Eixo Berlim - Roma -Tóquio, e Com o fracasso da política de apaziguamen-
combateram juntos na Segunda Guerra Mundial. to, o primeiro-ministro britânico Neville Chamber-
A situação política italiana era muito próxima lain foi afastado do governo, e Winston Churchill
à alemã, em decorrência da ascensão de governos tornou-se primeiro-ministro da Grã-Bretanha.
totalitários (Mussolini, na Itália, e Hitler, na Ale- Claramente antinazista, Churchill lutava contra os
manha). Apesar de ter menos peso nas disputas, a derrotistas, que acreditavam ser possível estabele-
Itália passou a articular com a Alemanha políticas cer um modus vivend, com os alemães.
de controle territorial. Hitler ordenou que a Luftwaffe bombardeasse
Com a França já praticamente derrotada intensamente regiões industrializadas da Grã-Breta-
e subjugada pelos alemães, Mussolini declarou nha. Apesar dos efeitos devastadores dos primeiros
guerra aos franceses, mas o exército italiano foi meses, pouco a pouco as ações dos alemães perde-
contido pelo que restava do exército francês. No ram força.
norte e nordeste da África, após algumas vitórias
iniciais, os italianos sofreram uma série de reveses,
rendendo-se. Para impedir a derrocada total dos
italianos, Hitler enviou o general Erwin Rommel
com os afrikakorps à região.
1
1 ..
tri -.
G'ossário
Modus vivendi: expressão em latim, faz alusão
à noção de acordo, tratado de paz entre partes
Soldados alemães coniandados pelo general Erwin Rommel - os afrikakorps - discordantes.
desfilam ao entrar na cidade de Tripoli (Ubia), colônia italiana na Áfdca, 1941.
76
Organizando ideias -
O texto a seguir é um discurso de Churchill, nosso império de além-mar, armado e protegido pela
após a tomada
proferido em 4 de junho de 1940, esquadra britânica, prosseguirá a luta que, quando
da França pelos alemães. Analise-o e depois Deus o queira, o Novo Mundo, com toda a sua força
e poderio, avance a socorrer e a libertar o \Telho.
faça o que se pede.
Muito embora grande extensão da Europa e CHURCI-HLL, Winston apud JOLL, James.
muitos antigos e famosos Estados tenham caído ou A Europa desde 1870. Lisboa: Dom Quixote, 1995. p. 569.
- 78
ALASA
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MONGOLIA
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f. Coral
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Base do Eixo
Maiores batalhas r "" NOVA .
1 151 800000
730'L ZELANDIA
Fonte: BLACK, Jerelry. World history atlas. Londres: Doriing Kinndersley. 2008. p. 104.
• :V t1para i Vklb
Leia o texto a seguir. usados para experimentos com armas bacterio-
lógicas pela denominada Unidade 731. Aviões
atiravam sobre os prisioneiros germes (de peste
O direito internacional havia proibidoS antes bubànica e de cólera) para em seguida observar
do início da Segunda Guerra, o uso das armas quí- sua reacão.
micas e bacteriológicas. No entanto, após 1937 o
lapíno ignorou o direito internacional no que diz
Japào admite que, nI:ou arma quimica contra China na
respeito à ouerra que promoveu contra os guerri-
Segunda Guerra. Estadão.com.br, So Pauto, 27 ago. 2002.
lhuios de M u) 1 sc tung n o Maiwhin-ia. Dnsponn ei em <wo„-.N.-.estadao.com.br/,irqu;vo/muíid()/2002/
Segundo dados recolhidos recentemente, loi o not20020827p68718.tntm>. Aceneo em: abn: 2016.
imperador Hirohito em pessoa que, irritado e im-
paciente com OS escassos "progressos” contra os Pesquise o que são armas químicas e bac-
chineses, autorizou o exército a empregar "todos os tertológicas. Essas armas ainda são usadas ou
meios, incluindo armas químicas e bacteriológicas". produzidas? Apresente o resultado da pesqutsa
em sala de aula.
Centenas de prisioneiros chineses foram vivis-
seccionados (dissecados vivos) e milhares deles
79
O Brasil na guerra Em 1944, depois de muito protelar, o governo
brasileiro enviou tropas à Europa. A Força Expedi-
Quando eclodiu a Segunda Guerra Mundial, cionária Brasileira (FEB) se engajou no V Exército
Brasil vivia sob a ditadura do Estado Novo, im- Norte-Americano, que combatia na Itália. Pilotos
plantada por Getúlio Vargas em 1937. O governo da Força Aérea Brasileira (FAB) também atuaram
brasileiro simpatizava com os regimes totalitários no cenário de guerra italiano. Ao todo, foram en-
europeus, porém os laços econômicos com os viados 25334 homens, dos quais 15069 entraram
Estados Unidos eram mais fortes. Os norte-ame- em ação. Desses, 451 foram mortos.
ricanos fizeram pressão para que as autoridades A participação do Brasil na guerra teve con-
brasileiras rompessem com as nações do Eixo, o sequências políticas. Enquanto os "pracinhas" lu-
que ocorreu em 1942. A razão alegada foi o tor- tavam na Europa contra o fascismo, internamente
pedeamento de navios mercantes brasileiros por regime político brasileiro era repressivo, ferindo
submarinos alemães. sistematicamente o direito à liberdade.
Durante a Segunda Guerra Mundial, o Brasil Uma onda nacionalista provocou altera-
foi um importante fornecedor de matérias-primas ções em nomes de clubes - o Palestra Itália, por
(ferro, borracha) e alimentos para o esforço de guer- exemplo, tornou-se Palmeiras -, levou à proibição
ra norte-americano. Do ponto de vista estratégico, do ensino da língua alemã em Santa Catarina
a localização da Região Nordeste, mais próxima à e promoveu a perseguição a imigrantes. Muitos
costa africana - onde ingleses e norte-americanos foram demitidos do serviço público, tiveram bens
lutavam contra alemães e italianos -, favoreceu a confiscados, estabelecimentos comerciais saquea-
instalação de uma base aeronaval em Natal (RN), dos, com a conivência das autoridades, e até foram
que selou a aliança com os Estados Unidos. proibidos de participar de festas carnavalescas.
A aliança entre Brasil e Estados Unidos foi,
aos poucos, expandindo-se para outras áreas do
cotidiano da população. A "ajuda" estadunidense O Brasil manteve em seu território, durante a Se-
gunda Guerra Mundial (1939-1945), vários campos
inicialmente visou ao treinamento de profissionais
de concentração. Não para judeus e outras mino-
e à implantação de políticas que poderiam ser úteis
rias, como ocorria no regime nazista, mas para cen-
à participação norte-americana na Segunda Guerra
tenas de imigrantes alemães, italianos e japoneses.
Mundial. Mais tarde, essa relação - conhecida como Cidadãos comuns, sem nenhuma atividade po-
"política de boa vizinhança" - geraria novos padrões lítica, esses estrangeiros sofreram restrições severas
de comportamento e de consumo no Brasil. de direitos, tiveram economias e bens confiscados
71
e foram submetidos a trabalho forçado. Muitos
permaneceram internados sem motivos - passa-
ram a ser tachados de "inimigos" dos brasileiros
simplesmente porque seus países de origem esta-
vam do outro lado no conflito global.
1
DETRICH, Ana Maria. Uma história sonegada. História Viva,
São Paulo, Duetto Editorial. o. 67, p. 60. 2009.
. ,,..
80
Organizando ideias
Analise as informações do texto e, em segui- sucos de frutas nas mesas da classe média brasileira
da, responda às questões. etc. etc. Apesar dos focos de resistência à sua ação,
OCIAA conseguiu erradicar a influência do Eixo
Tio Sam chega ao Brasil no Brasil e sedimentar o discurso pan-americanista
[... 1 Foi urna época em que gradativarnente o da solidariedade continental. Terminada a guerra, o
arnerican way oflife [modo de vida americano] foi governo dos Estados Unidos encerrou as atividades
ganhando espaço na sociedade brasileira, graças a da agência, deixando a cargo da embaixada americana
um cuidadoso plano de conquista. Esse plano fazia no Brasil a condução de algumas de suas atividades.
parte da estratégia dos Estados Unidos de promover
a cooperação interamericana e a solidariedade he-
misférica, enfrentar o desafio do Eixo e consolidar-
-se como grande potência. A campanha teve início
com a propagação dos "valores pan-americanos"
durante as conferências interamericanas. O passo
seguinte foi a criação, em agosto de 1940, de uma
superagência de coordenação dos negócios intera-
mericanos, [...] chamada Office ofthe Coordinator
ofinter-Arnerican Affairs (OCIAA). [...]
Na área de comunicação e informação, a
agência norte-americana procurava veicular na
imprensa brasileira notícias favoráveis aos Estados
Unidos e, nos Estados Unidos, divulgar o Brasil.
Procurava também difundir as técnicas mais mo-
dernas do jornalismo norte-americano, como por
exemplo a recepção e transmissão de radiofotos.
Mas nada se comparava, em termos de glamour
e apelo popular, aos programas radiofônicos e,
principalmente, às produções cinematográficas
Pato Donald e Zé Carioca em cena do filme A!ôAmigos (1942).
sob sua coordenação. E ... ]
Data dessa época o nascimento do conhecido Tio Sam chega ao Brasil. A Era Vargas: dos anos 20 a 1945.
CPDOC. Disponível em: <http:!/cpdoc.fgv.br/producao/dossieS/
personagem dos Estúdios Disney, o papagaio Zé
AEraVargasl/anos37-45/AGuerralloBrasillTioSam>.
Carioca. O filme Alô Amigos, que apresentou esse Acesso em: abr. 2016.
personagem ao mundo como amigo do Pato Donald,
enfatizava a política de boa vizinhança. [...]
1. Como e por que o Brasil foi influenciado pelos
Na área da saúde, a ação do OCIAA voltou-se
Estados Unidos durante a Segunda Guerra
basicamente para o controle da malária, o treina-
mento de enfermeiras e a educação médica. Esses Mundial?
programas não tinham apenas o objetivo político
de obter a aprovação da população à atuação da 2 O que significou, no contexto da guerra, a
agência no Brasil. Destinavam -se também a preparar criação do personagem brasileiro Zé Carioca,
terreno para o provável estacionamento de tropas da Disney?
norte-americanas em território brasileiro e para a
extração de materiais estratégicos a serem fornecidos 3. Reflita sobre a chamada "americanização"
aos Estados Unidos, ambas as questões presentes na atual. Em quais áreas e de que maneira
agenda da negociação do alinhamento brasileiro. somos influenciados pelos Estados Unidos
Foi nessa época que Carmen Miranda se tornou da América? Quais são os pontos positivos e
símbolo da cultura brasileira nos Estados Unidos, negativos dessa influência? O que permane-
que o Zé Carioca ajudou a construir o estereótipo do
ceu do período inicial da americanização?
brasileiro simpático, que a Coca-Cola substituiu os
81
A derrocada do Eixo testamento, designou o almirante Dbnitz como seu
sucessor. Em 8 de maio, o Alto Comando Alemão
No front soviético, após as derrotas sofridas deu ordens para a cessação de todas as operações
em Stalingrado e em Kursk, a situação dos ale- em curso. A guerra havia terminado na Europa.
mães tornou-se insustentável. Em todas as fren- No Japão, a resistência tornou-se obstinada
tes, o Exército Vermelho, graças à superioridade à medida que os norte-americanos se aproxima-
bélica e numérica, desencadeou uma forte con- vam do país. Com o propósito de causar grandes
traofensiva, libertando amplo território e debili- danos aos rivais, os camicases - pilotos suicidas
tando o exército do Terceiro Reich. japoneses, que chocavam seus aviões contra em-
Ao pulverizar suas forças - os alemães comba- barcações inimigas - obtiveram algum sucesso,
tiam no Norte da África, na Península Balcânica, mas logo foram neutralizados pela artilharia an-
na Escandinávia, na Europa Ocidental e na Itália-, tiaérea das forças aliadas.
Hitler enfraqueceu-se. Com o objetivo de conseguir uma rendição in-
Na Itália, depois do desembarque dos Alia- condicional dojapão, o presidente dos EUA Harry
dos na Sicília, o Grande Conselho fascista votou S. Truman (1884-1972) - Roosevelt havia falecido
uma resolução para restaurar a plena autoridade em abril - decidiu usar uma nova arma: a bomba
do rei Vítor Emanuel III; Mussolini foi preso. Em atômica. Em 6 de agosto, a cidade de Hiroshima
12 de setembro, os soldados alemães o resgata- foi atingida; em 9 de agosto foi a vez de Nagasaki.
ram e levaram para o norte do país, onde o Duce No dia seguinte, o imperador Hirohito aceitou a
fundou a República Social Italiana, totalmente capitutacão, assinada em 2 de setembro de 1945.
dependente dos nazistas.
Os fascistas enfrentaram a Re-
sistência - cujos membros eram, na
maior parte, comunistas -, bem como
a ofensiva dos Aliados, cada vez mais
ntensa. Diante da derrota iminente,
Mussolini tentou fugir para a Suiça
--
num comboio alemão. Foi descoberto,
julgado e executado.
A situação de Hitler não era me-
lhor, pois os soviéticos vinham do Leste,
enquanto norte-americanos e ingleses
avançavam pelo Oeste e Sul. Ciente da
investida do Exército Vermelho, que
pouco a pouco dominava Berlim, come-
teu suicídio no dia 30 de abril. Em seu Soldadosnazisias caturaclos em Leninorado I000SL 30 em 1944
r
Em dupla, pesquise os principais fatos que aconteceram no mundo entre a Primeira Grande Guerra e a
Segunda Guerra Mundial e, juntos, elaborem uma linha do tempo com esses dados. Pesquisem também
os acontecimentos ocorridos nesse mesmo período no Brasil e estabeleçam a relação entre os fatos.
82
Os horrores das grandes guerras
As batalhas travadas nas grandes guerras dei- As agitações não cessaram. No fim do século
xaram um saido de milhões de mortos, fato que res- XIX, por meio de protestos, a população da Armê-
salta o caráter violento e desumano dos conflitos. nia reivindicava melhorias nas condições de vida e
Além disso, alguns episódios evidenciaram almejava o estabelecimento de uma nação cristã
a despreocupação das autoridades envolvidas no e independente. Na década de 1890, os protestos
conflito com as populações em geral - os interes- viraram tumultos, que resultaram no massacre de
ses políticos e ideológicos, colocados à frente da aproximadamente 200 mil armênios. Mais tarde,
visão humanitária, foram responsáveis por catás- em 1909, estima-se que mais de 20 mil armênios
trofes que dizimaram milhares de pessoas. tenham sido mortos por questões políticas.
Quando os turco-otomanos se envolveram na
Primeira Guerra Mundial ao lado da Alemanha, co-
O genocídio armênio meçou um período de grande violência no Império.
A Armênia é um pequeno país localizado na Armênios cristãos, apoiados pela Rússia, rebelaram-
região conhecida como Cáucaso, no limite entre -se contra a Turquia e passaram a perseguir violen-
a Europa e a Ásia. Considerada a primeira nação tamente os muçulmanos. Os otomanos enviaram,
a adotar o cristianismo como religião oficial, no então, exércitos com o objetivo de controlar a popu-
século IV, foi marcada por um passado conturba- lação armênia, o que agravou o conflito e aumentou
do, repleto de conflitos políticos e religiosos. o número de mortos.
A região onde hoje é a República da Armênia O episódio mais emblemático ocorreu no
foi conquistada pelos turco-otomanos no século dia 24 de abril de 1915, um Sábado de Aleluia.
XIV. Nos anos seguintes, apesar da convivência entre Na ocasião, cerca de 500 intelectuais, políticos
as populações, a submissão dos armênios ao Impé- e religiosos da comunidade armênia que viviam
rio Turco-Otomano não deixou de ser um problema no Império Otomano foram presos por causa de
para os dominados e uma ameaça aos dominadores. suas relações com a Rússia, acusados de conspi-
Ao longo do tempo, os cristãos armênios ração contra os aliados dos turcos e alemães.
contaram com o auxílio da Rússia em interven- Os presos foram executados na prisão de
ções que, muitas vezes, envolveram conflitos ar- Mehder-Hané, em Constantinopla - atual Is-
mados, como a Guerra da Crimeia, em 1854. Na tambul -, em um movimento que deu início à
ocasião, o czar russo proclamou seu país defen- matança desenfreada de armênios pelos turcos.
sor dos cristãos e dos lugares sagrados em terras Estima-se que o Império Otomano abrigasse
otomanas, o que provocou uma ofensiva dos tur- aproximadamente 2 milhões de armênios à épo-
cos contra os russos. ca, dos quais mais de 1 milhão foram mortos.
[ ... } Em 24 de abril de 1915, dia que ficou co- com péssimas condições de abrigo e alimentação
nhecido, desde então, como o Dia do Genocídio continuou a cobrar o seu preço, com homens, mu-
Armênio, centenas de intelectuais armênios que lheres e crianças morrendo aos milhares. Quase 500
viviam em Istambul foram presos e executados mil pessoas foram deportadas nesse processo, sem
arbitrariamente. Nesse mesmo ano, massacres e nenhum cuidado logístico ou humanitário. Viti-
deportações começaram de forma esporádica e, inados pela fome, exaustão, doenças ou ataques de
logo, se generalizaram por todo o território armênio, bandos armados, um a cada cinco armênios sobrevi-
levando a cerca de 600 mil mortes. Várias leis for- veu. Em 1918, finalmente, com o colapso do Império
malizaram a deportação dos armênios de suas vilas Russo, as tropas turcas avançaram pelo Cáucaso, e
e cidades no Cáucaso e seus bens foram confiscados. estima-se que mais 400 mil armênios foram mortos.
Ao chegarem na Síria, foram instalados em cam-
BERTONHA, João Fébio. Armênia, o primeiro genocídio. Leituras
pos de prisioneiros, e a combinação de maus-tratos da História EspeciaL, São Paulo, Escala, ano 1, n. 2, p. 36.
-
-
Aefugaaos ai rieiiios nu Ge,,jue u .u,zduw frances que os resgatou do genooai 915
r Pausaparainvestigacão
84 7i1JtO3
Hiroshima e Nagasaki No dia 6 de agosto de 1945, precisamente às
oito e quinze da manhã, hora do Japão, quando
O fim da Segunda Guerra Mundial foi mar-
a bomba atômica explodiu sobre Hiroshima, a
cado por um episódio trágico que, além de matar
srta. Toshiko Sasaki, funcionária da Fundição
milhares de pessoas, destruiu duas cidades e seus
de Estanho do Leste da Ásia, acabava de sentar-
arredores e mostrou ao mundo a nova tecnologia -se a sua mesa, no departamento de pessoal da
em desenvolvimento - a bomba nuclear. fábrica, e voltava a cabeça para falar com sua
A bomba atômica, na época, era um tipo de colega da escrivaninha ao lado. 1... 1 Assim que
armamento ainda pouco conhecido, desenvol- virou a cabeça para o lado oposto ao das janelas,
vido pelos Estados Unidos por meio do Projeto um clarão ofuscante encheu a sala. O medo a
paralisou em sua cadeira por um longo momento
Manhattan, que reuniu os melhores cientistas
(a fábrica distava 1 440 metros do centro). Tudo
para conceber uma arma de guerra nunca antes
veio abaixo, e a srta. Sasaki perdeu a consciên-
imaginada. O projeto foi incentivado pelo Reino
cia. O teto desabou repentinamente, o piso de
Unido e pelo Canadá, com o propósito de atacar madeira do andar superior despencou, levando
a Alemanha nazista. Um primeiro teste da bomba com seus estilhaços as pessoas que lá se achavam,
já havia sido feito pelos Estados Unidos em julho e o telhado ruiu; as estantes que estavam atrás da
numa área deserta do estado americano
de 1945, srta. Sasaki caíram, e seu conteúdo a derrubou,
do Novo México. quebrando-lhe a perna esquerda. [...]
Após a rendição da Alemanha e da Itália, a Na manhã de 7 de agosto a rádio japonesa
transmitiu, pela primeira vez, um sucinto comu-
resistência do japão foi o pretexto para a realiza-
nicado que pouquíssimas (ou nenhuma) das pes-
ção de dois ataques com bomba atômica às cida-
soas diretamente interessadas - os sobreviventes
des japonesas de Hiroshima e Nagasaki, autoriza- da explosão - puderam ouvir: "Hiroshima sofreu
dos pelo presidente estadunidense Harry Truman danos consideráveis, em função de um ataque de
em agosto de 1945. A ação chocou o mundo alguns B-29. Acredita-se que se utilizou um novo
todo, que não imaginava a possibilidade de um tipo de bomba. Investigam-se os detalhes". Tam-
ataque de tal magnitude. pouco é provável que algum sobrevivente tenha
escutado uma retransmissão em ondas curtas de
um extraordinário pronunciamento do presidente
dos Estados Unidos, que identificou a nova bom-
ba como atômica:" Essa bomba era mais potente
que 20 mil toneladas de TNT. Tinha um poder
explosivo 2 mil vezes maior que o da Grand Slam
britânica, a maior bomba já utilizada na história
da guerra". As vítimas que tinham condições de
se preocupar com o que acontecera imaginaram
a causa da catástrofe em termos mais primitivos e
infantis - gasolina lançada de um avião, talvez, ou
: gás combustível, ou um bando de incendiários, ou
obra de paraquedistas. Ainda que soubessem a ver-
dade, a maioria estava atarefada demais, cansada
demais ou ferida demais para se importar com o
fato de que tinham sido objeto da primeira grande
experiência com o emprego de energia atômica que
(como apregoavam as vozes em ondas curtas) só
os Estados Unidos, com seu know-how industrial e
sua disposição de arriscar 2 bilhões de dólares num
importante jogo de guerra, poderiam ter realizado.
HERSEY, John. Hiroshima. São Pauto:
Companhia das Letras, 2002. p. h, 13 e 33.
86
Lutas por Liberdade
Apesar do caminho de morte e devastação Embora os direitos e garantias individuais
tomado pelos países implicados nos grandes tenham sido duramente reprimidos pela ideolo-
conflitos mundiais, muitos povos envolvidos nas gia e pelas ações nazistas na Segunda Guerra, o
duas grandes guerras reivindicavam liberdade. movimento dos direitos humanos desenvolveu-se
A própria entrada de algumas nações na após o fim do conflito e vigora até os dias atuais.
guerra ocorreu em decorrência da luta por liber- O contraponto aos absurdos cometidos contra as
dade contra o expansionismo de outras. A França, populações minoritárias - judeus e homossexuais,
por exemplo, por meio das frentes da Resistência por exemplo - foi o fortalecimento da luta por di-
Francesa, envolveu-se no conflito direto contra a reitos igual itários para todos. Entretanto, apesar
Alemanha para se opor ao domínio dos nazistas dos avanços sociais, ainda há muito preconceito
em seu território. oriundo da propaganda nazista.
Os Estados Unidos e a Grã-Bretanha, assim Nesse contexto de lutas por liberdade - políti-
como a França, lutaram contra o nazifascismo. ca, econômica ou ideológica-, a Organização das
Apesar de interesses políticos e econômicos terem Nações Unidas (ONU) fortaleceu-se ao defender
motivado a manutenção dos conflitos, o fim do a oposição à dominação das potências envolvidas
autoritarismo nos países do Eixo passou a ser uma na guerra e contrapor-se à subjugação das mino-
bandeira importante levantada pelos Aliados. rias, num movimento que culminou na definição
da Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Organizando ideias
Em dupla, analise, juntos, o texto a seguir e níveis diferenciados de direitos, a saber, os direitos
depois respondam às questões. civis, os direitos políticos e os direitos sociais, além
de ter sido dado um decisivo passo na direção da
Declaração Universal dos afirmação dos direitos dos povos. Uma conquista
Direitos Humanos (1948) que pode muito bem ser compreendida como a
universalização do projeto histórico da Revolução
Ainda sob o impacto das atrocidades cometi- Francesa pela tríade liberdade, igualdade e fraterni-
das, entre 1939 e 1945, durante a Segunda Guerra dade, acrescido da vontade de construir um mundo
Mundial - quando o número de mortos foi cal- no qual a paz vencesse a guerra.
culado em torno de 60 milhões de pessoas e o de
rv1ONDAIN, Marco. Direitos humanos.
refugiados em 40 milhões aproximadamente -, a
São Paulo: Contexto, 2006. p. 168
Assembleia Geral das Nações Unidas aprovou, em
10 de dezembro de 1948, aquele que viria a ser o Qual é a importância da Declaração dos Di-
ápice de um longo processo de lutas iniciado no reitos Humanos no que se refere ao direito à
decorrer das revoluções liberais-burguesas dos sé-
liberdade?
culos XVII e XVIII - a Declaração Universal dos
Direitos Humanos. Elaborada por uma comissão Qual é a relação entre liberdade e igualdade?
específica da recém-criada, em 1945, Organização
das Nações Unidas (ONU), a Declaração foi redigi- A Declaração Universal dos Direitos Huma-
da com o intuito de proclamar definitivamente os nos expressa um ideal comum a ser atingido
direitos fundamentais da humanidade, o respeito pela humanidade. Pode-se afirmar que os
inviolável à dignidade da pessoa humana. Com ela,
ideais expressos nessa declaração foram
passa a ter reconhecimento internacional a defini-
alcançados plenamente por todos os povos
ção de direitos humanos como o acimulo de três
e todas as nações do mundo? Expliquem.
87
5~ Debate interdisciplinar
Guerra biológica ser considerado uma catástrofe, pois causa deses-
tabilização econômica, mortes, deterioração da
Durante os grandes conflitos mundiais, al- saúde e de serviços básicos, o que afeta gravemen-
guns países estudaram a possibilidade de usar ar- te a população civil.
mas bacteriológicas contra seus oponentes. Isso Pela capacidade de provocar grandes da-
causou muitas dúvidas e medo na população em nos com um mínimo de logística, as armas bio-
geral, que não sabia ao certo os efeitos desses ar- lógicas são únicas. Além disso, são dificilmente
tifícios. Apesar de os Estados Unidos terem anali- detectadas e facilmente propagadas usando-se
sado essa possibilidade, a única utilização docu- insetos como vetores ou distribuindo-se material
mentada de armas biológicas durante a primeira contaminado. Portanto, é necessário conhecer e
metade do século XX foi a do Japão contra cida- estudar tais agentes para produzir diversas estra-
des chinesas, entre as décadas de 1930 e 1940. tégias de prevenção.
Na guerra biológica são usados, como armas, Esses microrganismos são classificados em
microrganismos ou seus produtos tóxicos, com o categorias, com base em critérios como infec-
objetivo de provocar lesões e enfermidades em ani- ciosidade, virulência, persistência no ambien-
mais, plantas e seres humanos ou a morte deles. te, facilidade de manipulação e disseminação
Esses agentes são capazes de se replicar e se pro- e acesso a meios de defesa para combater sua
pagar rapidamente, apresentando altas taxas de propagação e neutralizar seus efeitos. Entre os
transmissão. As armas biológicas, assim como as agentes mais conhecidos e divulgados estão o
químicas e as nucleares, incluem-se na categoria Bacilius anthracis (antraz) e a toxina do Clostridium
das armas de destruição em massa. Seu uso pode botulinum (botulismo).
- ---
.-.-.
..
-. -.. .:
•••Z, .A
'• .
Vista aérea do território da Unidade 731. A Unidade 731 foi uma instalação secreta de pesquisas japonesa que, durante a Segunda Guerra Mundial e a Guerra
Sino-Japonesa, desenvolveu armas biológicas utilizando inclusive seres humanos em seus testes.
88
4-
Antraz
O antraz, ou carbúnculo, é uma doença cau-
sada pelo Bacillusanthracis, bactéria que pode estar
presente no solo e nos vegetais. A enfermidade
acomete o gado, mas em algumas situações pode
afetar o ser humano, apresentando três formas
clínicas: a cutânea, mais comum e pouco agressi- 51
1
va, que causa um edema local; a inalatória, mais ' • 7k' ,f.
3 -
agressiva, pela qual a inalação da bactéria provo- --
ca um quadro de hemorragia, edema e necrose,
podendo levar à morte em poucas horas; e a gas-
SirnuLç. 1) 1. alh1 JL 11 . u;cu PIn Po Lo
trointestinal, causada pela ingestão de carne con- (RS). 2014. A realização de grandes eventos esportivos no Brasil, como
taminada, que acarreta severa dor abdominal e, a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016. motivaram
diversas ações preventivas contra possíveis ataques que envolvam
ocasionalmente, a morte. Como os principais ve- contaminação de ambientes.
tores da doença são os animais, a melhor forma de
prevenção é a vacinação dos rebanhos, a esteriliza- contaminação: alimentar (ocorre por meio da
ção dos materiais contaminados e a higienização ingestão de alimentos contaminados e malcon-
ambiental. Em caso de contaminação, o tratamen- servados), por ferimentos (quando a toxina é
to é feito com antibióticos específicos. produzida em um ferimento infectado pela bac-
téria) e intestinal (por meio da produção da toxi-
BotuLismo na no intestino depois da ingestão de alimentos
contaminados). Uma vez produzida pelo micror-
O botulismo é uma doença causada por
ganismo, a toxina botulínica gera uma paralisia
uma neurotoxina produzida pela bactéria Clos-
flácida, com os seguintes sintomas: caimento das
tridium botulinum, presente no solo, em vegetais
pálpebras; dificuldades de deglutir, falar ou fe-
e nas fezes humanas e de outros animais. Nos
char a boca; paralisia dos braços e das pernas;
humanos são conhecidas três vias principais de
e paralisia dos músculos respiratórios, causando
disfunção respiratória.
O tratamento consiste na administração
da antitoxina nos casos mais graves e monitora-
mento constante dos pacientes, lembrando que
o diagnóstico precoce é de extrema importância
para a eficácia desses procedimentos. Com o sur-
gimento de novas terapias, a taxa de mortalidade
por botulismo alimentar, tipo mais comum, é in-
feriora 10%.
89
Testando seus conhecimentos Responda no caderno
90
Responda no caderno
91
1
3>2
;
Ç.:
:
Policiais reprimem
manifestação de
1 estudantes na região 1
central de São Paulo (SP),
3 de outubro de 1968.
r
Hoje, no Brasil, vivemos em um regime poderes independentes. Houve períodos,
democrático. Isso significa que a base do porém, em que o regime político apoiava-
sistema político é a soberania popular e a -se em princípios autoritários, e todos os
distribuicão equitativa do poder: ele não é poderes e instituições que governavam o
concentrado na mão de uma pessoa ou de país eram pautados por esses princípios.
um grupo político e sim dividido em três
-
_94
!ausa para investigação
Como você percebe o autoritarismo em seu Apresente o resultado em sala e analise com
dia a dia? Faça uma Lista com atitudes cotidia- os colegas as atitudes autoritárias mais co-
nas que podem ser consideradas autoritárias, muns e por que elas acontecem.
corno proibições sem explicação, violência Depois, reflita sobre suas próprias atitudes: Em
física ou psicológica etc. Anote também em que momentos você é autoritário? O que pro-
que situações essas atitudes ocorrem e se elas voca em você reações autoritárias? É possível
se encaixam em alguma das fontes de poder não agir dessa forma? Como? Você consegue
perceber nesses momentos qual é a justifica-
citadas no texto.
tiva para esse tipo de comportamento?
O autoritarismo no Brasil.
O autoritarismo e o nacionalismo marcaram O chamado Período Militar (1964 a 1985)
o período compreendido entre 1930 e 1945, cujo foi outra fase dominada pelo autoritarismo no go-
personagem principal da política nacional foi Ge- verno brasileiro. Não houve nessa época a perso-
túlio Vargas, em razão de ter permanecido durante nificação da autoridade em uma pessoa, mas em
todos esses anos na Presidência da República. Essa um grupo - no caso os militares, que exerceram o
época ficou conhecida como Era Vargas. poder de maneira autoritária por intermédio de
Vargas presidiu o Brasil durante 18 anos cinco generais presidentes, que se sucederam no
(1930 a 1945 e 1951 a 1954), eo fez, na maior par- comando da nação.
te do tempo, de forma autoritária, centralizadora Esses dois períodos foram marcados pela ca-
e personalista. racterística principal de qualquer regime autoritá-
rio: a falta de liberdade individual.
Organizando ideias
Leia a definição de democracia a seguir e, depois, responda às questões no caderno.
95—
ÂEra Vargas
Em 1930 a populaçao brasileira era de aproxima- t
damente 37 milhões de pessoas, das quais cerca de 70%
viviam em área rural. Havia um contingente de quase
2 milhões de desempregados em virtude da crise mun-
dial de 1929. . '.. . .
96
!
li
97—
Desde 1932 estava em vigor uma lei eleito-
Os "tenentes" reivindicavam mudanças sig- ral que convocava eleições para uma Assembleia
nificativas na vida política e econômica brasi-
Constituinte. Esse novo código trazia algumas
leira que implicavam a permanência do poder
novidades, como o voto secreto, a Justiça Eleito-
nas mãos de Vargas e o adiamento da constitu-
cionalização do país. Esse projeto esbarrou na ral e o voto feminino.
forte oposição de importantes grupos regionais A Assembleia Constituinte foi eleita em 1933
interessados em retomar as posições que ha- e promulgou a nova Constituição em 16 de julho
viam perdido. O conflito político iria se aguçar, de 1934. Essa Carta Magna foi inspirada na Cons-
provocando, menos de dois anos depois da Re- tituição da República de Weimar, na Alemanha,
volução de 1930, um novo movimento revolu- e assegurou algumas conquistas sociais que be-
cionário em São Paulo: a Revolução Constitu- neficiavam os trabalhadores, como a criação da
cionalista de 1932. [..j
Justiça do Trabalho, o salário-mínimo, a jornada
O conflito se acirrou no ano de 1932. Em ju-
lho OS grupos políticos paulistas partiram para de trabalho de oito horas, férias anuais remurie-
um confronto armado com Vargas na Revolu- radas e descanso semanal. Entretanto, não mexeu
ção Constitucionalista. Porém, sem o apoio dos efetivamente nas estruturas econômicas e sociais,
outros estados, os rebelados foram derrotados mantendo a má distribuição de renda e de terras.
pelas forças legalistas. A "guerra paulista" teve A Constituição estabeleceu também que a
como principal resultado a aceleração do pro- primeira eleição presidencial após sua promulga-
cesso de constitucionalização. ção seria feita indiretamente, pelo voto dos mem-
A Era Vargas: anos de incerteza 1930-19371 - No país dos bros da Assembleia Nacional Constituinte, e as
tenentes. CPDOC. Disponível em: <http:/fcpdoc.fgv.br/
futuras seriam por voto direto.
producao/dossies/AEraVarqasi /anos30-37/
PaisDosTenentes>. Acesso em: abri 2016. No dia 17 de julho de 1934, Getúlio Vargas
foi eleito de forma constitucional.
Organizando ideias -
Analise a charge a seguir e responda às questões.
.
.
H1LL
Charge do cartunisla Belmonte publicada no jornal Folha da Noite. São Paulo (SP). 20 de julho 1934.
Por que o autor das imagens satirizou esse momento? Formule hipóteses.
98
2 Viajando pela história
A participação poLítica feminina
na História do Brasil
No Brasil, assim como em muitas partes do •.. -
mundo, a mulher recebia uma educação diferen-
dada da dos homens. A ela cabia o papel de es-
posa, mãe e cuidadora da casa, e ao homem, o
de mantenedor; portanto, a ele cabiam os estu-
:
dos. A mulher solteira devia subordinar-se ao pai
e, depois de casada, ao marido. Esse padrão de
comportamento perdurou por muito tempo, e
resquícios dessa mentalidade ainda permanecem.
A partir da Constituição de 1824 começaram
a surgir escolas para mulheres. Essas instituições
ensinavam trabalhos manuais e cânticos, manten-
do a mulher afastada dos saberes formais. (&
No entanto, nem todas aceitavam essa con-
dição, e, já em meados do século XIX, desponta-
ram grupos que atuavam em busca da emancipa-
ção feminina. Destacaram-se como líderes desses
grupos Josefina Alves de Azevedo e Nísia Floresta
Brasileira Augusta.
Essas mulheres procuravam despertar em ou-
tras o desejo de trabalharfora do lar e, assim como
os homens, participar ativamente da sociedade.
VI
2
Oscar Pereira da Silva Hora de Música, 1901. O!eo sobre lela,
Logo após a Proclamação da República
65 cm x 50 cm. Entre os séculos XIX e XX, era comum que mulheres
(1889), começaram a surgir grupos que lutavam de familias ricas estudassem musica em ambiente doméstico.
também pelo direito ao voto feminino. Essa foi
uma das principais bandeiras levantadas pelos muitas, no papel de educadoras nas escolas, con-
movimentos feministas que se seguiram. quistaram espaço fora do lar. Elas começaram
O voto feminino foi discutido durante a As- a trabalhar também nas fábricas, mas recebiam
sembleia Constituinte de 1891, em um projeto tratamento e salário diferentes dos concedidos
encampado pelo deputado Joaquim Saldanha aos homens.
Marinho. Contudo, a maioria de seus compa- Em 1910 foi criado no Rio deJaneiro o Parti-
nheiros considerou que conceder à mulher um do Republicano Feminino, fundado pela professo-
papel na política, mesmo apenas como eleitora, ra Leolinda Daltro. Entre os objetivos desse partido
seria um risco à manutenção da estrutura tradi- estava o de reacender no Congresso Nacional o
cional das famílias. debate sobre o voto feminino, abandonado desde
Foi somente no século XX que as mulheres a Constituinte de 1891.Já em 1917 os integrantes
passaram a participar cada vez mais do universo do partido chegaram a organizar uma passeata
até então restrito aos homens, ganhando espa- para reivindicar o voto feminino. Mesmo não ten-
ços dos quais antes estavam alijadas. Como re- do conseguido alcançar esse objetivo, as mulheres
sultado de lutas e enfrentamentos, as mulheres obtiveram uma conquista importante: passaram
passaram a se destacar nas atividades culturais; e a ser aceitas no serviço público.
99—
Em 1919 foi dado mais um passo na luta fe-
minista ao ser instituída a Liga para a Emancipa- O Código Eleitoral promulgado em fevereiro
ção Intelectual da Mulher, que, em 1922, transfor- de 1932 concedeu pela primeira vez o direito de
voto às mulheres. [ ... ]
mou-se na Federação Brasileira para o Progresso
Muitas mulheres se candidataram à Consti-
Feminino, tendo Berta Lutz entre suas líderes.
tuinte de 1934, como Berta Lutz e Leolinda de
A partir de 1921, a campanha pelo voto fe- Figueiredo Daltro, mas apenas Carlota Pereira
minino intensificou-se quando Berta Lutz apresen- de Queirós conseguiu se eleger por São Paulo.
tou, em entrevista a um jornal, a emenda constitu- No Distrito Federal, Almerinda Farias Gama
cional de autoria dos deputados Bittencourt Filho participou como delegada sindical da eleição de
e Nogueira Filho, que inseria o voto feminino na representantes classistas. { ... )
Constituição. Lutz usou como exemplos a serem Em 1933, Berta Lutz [ ... j foi convidada pela de-
putada Carlota Pereira de Queirós para elabora-
seguidos países onde mulheres e homens tinham
rem em conjunto um trabalho para a Constituinte
os mesmos direitos políticos, entre eles Suécia
de 1934. Nele era defendida a eleição da mulher
(1862), Finlândia (1906), Noruega (1913) e Dina-
e a reforma do ensino de acordo com as deman-
marca (1915). das da nova sociedade urbano-industrial. Vários
Finalmente, em 24 de fevereiro de 1932, o artigos da Constituição de 1934 iriam de fato be-
movimento feminista sufragista saiu vencedor por neficiar a mulher, entre eles os que estabeleciam a
meio do Decreto n 21.076, Art. 2° - "É eleitor o regulamentação do trabalho feminino, a igualda-
cidadão maior de 21 anos, sem distinção de sexo, de salarial e a proibição de demissão por gravidez.
alistado na forma deste Código" -, instituído pelo Participação política feminina. A Era Vargas: dos anos
presidente Getúlio Vargas. 20 a 1945. CPDOC. Disponíve[ em: <http://cpdoc.fgv.br/
producao/dossies/AEraVargasl/anos30-37/Constituicao1 934/
ParticipacaoFeminina>. Acesso em: abr: 2016.
Organizando ideias
Observe a charge a seguir e responda às perguntas.
a enxergar a emancipação
feminina como ameaca à es-
2
tabilidade familiar.
102
Depois da Intentona Comunista, a Âco In- Simpático aos ideais fascistas, com o apoio
tegraLista Brasileira viveu seu período de auge dos integralistas e sob o pretexto de conter o avanço
político. dos grupos de ideologia comunista no Brasil, Vargas
Os integralistas, cujo chefe maior era Pl(nio juntou forças para a implantação de uma ditadura.
Salgado, passaram a ser colaboradores do gover-
no. Autoritários e nacionalistas, eles se inspiravam
...J Em meados de 1937 Vargas dava cla-
nos grupos da extrema direita europeia, até mes-
ros sinais de que cogitava adiar as eleições. Mas
mo em sua saudação: com o braço direito levanta-
prorrogar mandatos em desacordo com a Cons-
do, como na Alemanha nazista, falavam a palavra tituição seria um golpe, e não havia clima para
indígena anauê (no lugar de Hei! Hitler, a sauda- isso, já que a Intentona ficara distante no tem-
ção ao Führer) para saudar os companheiros. po. Então se construiu a farsa do Plano Cohen.
Em setembro de 1937, o capitão Olímpio Mou-
rão, oficial integralista, estava no Ministério da
A Âço Integralista BrasiLeira (AIB) foi Guerra datilografando um plano de ação comu-
fundada em 1932 sob a liderança do jornalista e nista de tomada do poder. O plano era falso e o
escritor Plínio Salgado. Pregando urna doutrina texto teria apenas função didática; seria levado
de cunho autoritário e nacionalista, a organiza- aos integralistas, que, diante da situação hipoté-
ção cresceu durante o primeiro governo Vargas tica, discutiriam estratégias. Cohen - um nome
(1930-1937), que nutria simpatia pelos modelos judaico não por acaso, dado o antissernitismo
europeus do fascismo. Mas a lua de mel durou dos integralistas - era o nome fictício do plano.
pouco. Com o golpe do Estado Novo (1937- E isso deveria ser tudo.
-1945) e a proibição de qualquer organização Mas Mourão teria sido surpreendido enquan-
partidária, a AIB foi ferozmente perseguida e to datilografava, e o "documento" foi parar nas
teve seus principais quadros exilados. mãos de Vargas [...]. Passados alguns dias, em 30
Integralismo renovado. Revista de História da Biblioteca de setembro, o plano teve ampla divulgação como
Nacional. Disponível em: <w,.revistadehistoria.com.hr/ se fosse real. O golpe começava a tomar forma.
secao/em-dia/integralisrno renovado>. [ ... ] No dia 10 [de novembro], policiais mi-
Acesso em: abr. 2016.
litares fecharam o Congresso, que seria em se-
guida dissolvido. O golpe tinha sido preparado
com tanta antecedência que, no mesmo dia, já se
anunciou a nova Constituição.
[ ... ] A Carta concentrou todos os poderes
nas mãos de Vargas, que passou a governar por
/
.* meio de decretos-lei. Garantias e liberdades in-
dividuais foram suspensas.
103
Estado Novo: projeto autoritário de Vargas
O Estado Novo caracterizou-se como um regi- Entre 1937 e 1945, os brasileiros viveram
me de grande intervencionismo estatal. Como um anos de repressão ideológica, controle total dos
dos instrumentos reguladores do governo, foi criado sindicatos, censura, perseguição e torturas aos
o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), opositores políticos.
responsável por difundir a ideologia do novo regime Prisões e exílio eram os destinos de políticos
e valorizar o patriotismo. Para calar os opositores, o como Armando de Salles Oliveira, governador de
órgão agia com rigorosa censura aos meios de co- São Paulo, que havia manifestado sua intenção de
municação e realizava intensas campanhas publici- se candidatar à Presidência em 1938; de intelectuais
tárias para enaltecera figura do chefe da nação. como o escritor alagoano Graciliano Ramos; ou de
quaisquer desafetos ou adversários do ditador, as-
sim como de todos os que se opunham ao governo.
Durante todo o Estado Novo, estima-se que
houve mais de 10 mil presos políticos encarcerados
pela Polícia Política de Vargas. Nos presídios era co-
mum a tortura, o que causou mortes e mutilações.
E quem não era preso também era condenado, mas
ao exílio, ou seja, obrigado a viver fora do país.
Getúlio estabeleceu uma relação ambígua
com os trabalhadores: por um lado, concedeu di-
reitos até então inéditos, e por outro, manteve o
movimento operário sob seu controle. Em 1943,
já em um cenário de decadência do regime estado-
-novista, Vargas outorgou a Consolidação das Leis
do Trabalho (CLT), que, embora garantisse muitos
benefícios aos trabalhadores, proibia as greves e es-
tabelecia a unicidade sindical.
104
Com a participação do Brasil na Segunda A popularidade do Queremismo preocupou
Guerra Mundial, ocorreu uma contradição de- setores oposicionistas, que temiam a continui-
terminante para o fim do regime: internamente dade de Getúlio Vargas no governo. Além disso,
vivia-se uma ditadura, e na guerra lutava-se em algumas atitudes de Vargas indicavam a possibi-
prol das democracias. Era o começo do fim do lidade de uma nova manobra com o objetivo de
autoritarismo de Vargas. manter o poder.
As suspeitas de golpe aumentaram com a
nomeação de Benjamim Vargas - irmão do pre-
Nos primeiros meses de 1945, já no fim da sidente - para chefe de polícia do Distrito Fede-
guerra, estando clara a derrota do nazifascismo, as ral. Como reação, o Alto Comando do Exército,
manifestaçôes contra a ditadura Vargas se intensi-
liderado pelo ministro da Guerra e general Góes
ficaram em todo o país. Aliás, em todo o mundo
Monteiro, depôs Getúlio Vargas da presidência.
os ventos eram favoráveis à democracia. Diante de
O fim do Estado Novo, entretanto, não signifi-
mudanças na conjuntura internacional, e pressio-
nado pelas manifestações dos mais variados setores cou o fim da carreia política de seu chefe. Em 1950,
da sociedade, o governo se apressou então a adotar Getúlio foi eleito presidente pelo Partido Trabalhis-
uma série de medidas liberalizantes: suspendeu ta Brasileiro (PTB), criado por ele mesmo. Como ele
a censura aos meios de comunicação e concedeu havia declarado, voltou ao poder pelos "braços do
anistia aos presos políticos. Era necessário elaborar povo", por meio do voto direto. Nessa nova fase,
uma legislação adequada aos novos tempos.
seu governo foi marcado por uma forte campanha
PANDOLFI, Dulce Chaves. Voto e participação política nas nacionalista, embora ainda vivesse as contradições
diversas repúblicas do Brasil. In: GOMES, Ângela de Castro
da dependência do capital estrangeiro.
ei aI. A república no Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira.
2002. p. 90-91. Apesar de eleito pela população, Vargas en-
frentou intensa oposição da União Democrática
Nacional (UDN), partido que criticava duramen-
Nos primeiros meses de 1945, Vargas final- te as ações do governo. Dentre os membros da
mente convocou eleições, que seriam realizadas U DN destacava-se Carlos Lacerda, jornalista pro-
em dezembro. Contudo, houve forte reação das prietário do jornal Tribuna de Imprensa.
pessoas que queriam a continuidade do governo. A situação do presidente ficou mais delica-
Esse movimento ganhou muitos adeptos e ficou da quando, em 1954, Carlos Lacerda sofreu um
conhecido como Queremismo. atentado, no qual foi relatada a participação de
[ ... J Nessa carta ficavam explícitas as razões que o tinham levado ao gesto extremo do suicídio e eram
indicados os responsáveis pelo desfecho trágico: grupos internacionais cujos interesses o governo contra-
riara, aliados a grupos nacionais que se opunham ao que Vargas definia como 'o regime de garantia do
trabalho". [ ... ] No texto, Vargas colocava-se, enquanto governante, no papel de defensor, representante e
libertador do povo. Com sua morte, buscava sagrar-se seu mártir e consolidar seu nome no panteão políti-
co brasileiro, associando-o definitivamente à bandeira dos interesses nacionais e do trabalhismo. Revelador
dessa intenção é o trecho em que se lê: "Se as aves de rapina querem o sangue de alguém, querem continuar
sugando o povo brasileiro, eu ofereço cm holocausto a minha vida. Escolho este meio de estar sempre con-
vosco... Meu sacrifício vos manterá unidos e meu nome será a vossa bandeira de luta".
HEYMANN. Luciana Qulilel. A Carta-testamento e o legado de Vargas. CPDOC. Disponível em: <http://cpdoc.fgv.br/
producao/dossies/AEraVa rgas2/artiqos/AlemDaVida/CarlaTestamento>. Acesso em: abr. 2016.
Organizando ideias
Em dupla, analisem o texto e depois façam nas livrarias libelos terríveis contra a república novís-
que se pede. sima, às vezes com louvores dos sustentáculos dela,
indulgentes ou cegos. Não caluniemos o nosso peque-
Memórias do cárcere nino fascismo tupinambá: se o fizermos, perderemos
Resolvo-me a contar, depois de muita hesitação, qualquer vestígio de autoridade e, quando formos
casos passados há dez anos e, antes de começar, digo verazes, ninguém nos dará crédito.
os motivos por que silenciei e por que me decido. 1)e fito ele não nos impediu escrever. Apenas nos
Não conservo notas: algumas que tomei foram inu- suprimiu o desejo de entregar-nos a esse exercício.
tilizadas, e assim, com o decorrer do tempo, ia-me
RAMOS, Gracitiano*. Memórias do cárcere.
parecendo cada vez mais difícil, quase impossível, São Paulo: Record, 2008. p. 11-12.
redigir esta narrativa. Além disso, julgando a matéria
Graciliano Ramos toi preso em Maceió, em março de 1936, sem
superior às minhas forças, esperei que outros mais
processo e sob suspeita de ter participado da Intentona Comu-
aptos se ocupassem dela. 1...] nista em 1935; toi libertado em janeiro de 1937. Dez anos depois,
Restar-me-ia alegar que o DIP, a polícia, enfim, escreveu o livro Memórias do cárcere - publicado somente após
os hábitos de um decênio de arrocho, me impediram sua morte -. no qual descreve sua experiência na prisão,
trabalho, isto, porém, seria injustiça. Nunca tive-
mos censura prévia em obra de arte. Efetivamente Havia liberdade no Estado Novo? O texto
se queimaram alguns livros, mas foram raríssimos confirma sua resposta? Expliquem.
esses autos de fé. Em geral a reação se limitou a su-
primir ataques diretos, palavras de ordem, tiradas Relacionem liberdade e autoritarismo no
demagógicas, e disto escasso prejuízo veio à produ- Governo Vargas.
ção literária.
Expliquem a afirmação de Graciliano Ramos
Certos escritores se desculpam de não haverem
forjado coisas excelentes por falta de liberdade - tal- "Liberdade completa ninguém desfruta". De-
vez ingênuo recurso de justificar inépcia ou preguiça. pois analisem: Essa afirmação ainda é atual?
Liberdade completa ninguém desfruta: começamos
Ainda ocorre manipulação e/ou repressão
oprimidos pela sintaxe e acabamos às voltas com a
Delegacia de Ordem Política e Social, mas, nos estrei- da mídia por governantes ou candidatos a
tos limites a que nos coagem a gramática e a lei, ainda cargos públicos para promoção pessoal ou
nos podemos mexer. Não será impossível acharmos de um grupo? Justifique.
106 'iic4
No poder das fardas:
a Ditadura Militar
Entre os anos de 1946 e 1964, o Brasil Juscelino Kubitschek (1956-1961), a pas-
passou por uma fase em que se sucederam sagem rápida dejânio Quadros (1961), e
governos democráticos. terminou com a deposição deJoão Goulart
Esse período iniciou-se com as elei- (Jango) em 1964.
ções e a posse de Eurico Gaspar Dutra Foi com a deposição dejango que co-
(1946-1951), continuou como retorno de meçou o período mais autoritário da Histó-
Getúlio Vargas (1951-1 954) e com a posse ria do Brasil. Por meio de um golpe de Esta-
de seu vice, Café Filho (1954-1955), atra- do, instalou-se no país a Ditadura Militar,
vessou o período desenvolvimentista de que durou 21 anos (1964-1 985).
Para entendermos melhor o que ocorreu em 31 de março de 1964, precisamos recuar um pouco no tempo.
A renúncia inesperada de Jânio Quadros em agosto de 1961 provocou uma crise político-institucional, uma vez
que assumiria a presidência da República o vice João Goulart, que não era bem visto pelas elites econômicas e
setores das Forças Armadas. Com receio de que João Goulart não conseguisse assumir a presidência, alguns
setores da sociedade, sob a liderança do então governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, mobilizaram-se
pela manutenção da ordem e da legalidade, visando garantir sua posse no cargo maior do país, sendo adotado o
sistema parlamentarista de governo. Assim, Jango assumiria a presidência, tendo seus poderes limitados à chefia
de Estado. A curta experiência parlamentarista, entretanto, não logrou êxito e, em 1963, realizou-se um plebisci-
to nacional, que resultou no retorno do sistema presidencialista de governo. Jango retorna então seus poderes de
chefe de governo e anuncia a adoção de uma série de medidas, as chamadas "reformas de base".
Urna das propostas de Jango era a reforma agrária, o que, de imediato, desapontou empresários, usineiros,
proprietários de terra e a própria classe média, que, unida a esses segmentos sociais, temia um golpe de esquerda
que transformasse o país numa República Socialista, a exemplo de Cuba. [... ]
ORIÁ, Ricardo. Golpe de 1964-31 de março de 1964. In: BITTENCOURT, Circe lOrg.l.
Dicionário de datas da História do Brasil. Sào Paulo: Contexto, 2007. p. 73-7/..
107
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TERRITÓRIO - DOAMAP4.J
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Fonte: v-Ctrl\O, OlTu:I:. Atlas histórIco: íerai o Sao Pau13: S-C)IflT/ ?1 p 158.
Os atos institucionais foram normas elaboradas no período de 1964 a 1969 para legitimar o novo
regime por meio de poderes extraconstitucionais. Foram editados pelos comandantes das Forças Ar-
madas ou pelo presidente da República com o respaldo do Conselho de Segurança Nacional.
108 1 111104
a suspensão da Constituição por 6 meses e, Por esse documento, redigido pelajunta Mi-
com ela, de todas as garantias constitucionais; litar que assumiu o poder após o golpe, o poder
eleições indiretas para presidente da República. concentrava-se nas mãos do Executivo e legava
O presidente seria eleito pelos membros do ao Legislativo papel secundário. Assim, coube aos
Congresso Nacional; militares a escolha do novo presidente, e ao Con-
a suspensão de direitos políticos dos opositores do gresso apenas a ratificação dessa escolha. Em 15
regime, ação que gerou cassações, prisões, exílio. de abril de 1964 assumiu a presidência o general
Humberto de Alencar Castello Branco.
Organizandoideias
Nos primeiros dias após o golpe, uma violen- Torturas e prisões estavam entre os pri-
ta repressão atingiu os setores politicamente mais meiros atos do governo militar. Formulem
mobilizados à esquerda no espectro político. Mi- hipóteses sobre por que isso ocorreu.
lhares de pessoas foram presas de modo irregular,
e a ocorrência de casos de tortura foi comum, es- Os textos citam cassações de políticos. O que
pecialmente no Nordeste. O líder comunista Gre- isso significa?
gório Bezerra, por exemplo, foi arrastado amarra-
do pelas ruas do Recife. Pode-se afirmar que após 31 de março de
O golpe militar foi saudado por importantes 1964 instalou-se um regime de terror no
setores da sociedade brasileira e recebido com Brasil? Justifiquem.
0 autoritarismo no Br 109
O autoritarismo na LegisLação
direta para presidente, extinguiu os partidos po- + Dope: Departamento de Ordem Política e Social. Era o
órgão governamental encarregado de controlar e reprimir
líticos existentes e estabeleceu o bipartidarismo,
ameaças ao regime.
pois só havia dois partidos legalizados: a Aliança
Renovadora Nacional (Arena), representando a
situação, e o Movimento Democrático Brasileiro suspensa e todo o poder passou às mãos do presi-
(MDB), como representante da oposição. dente da República, ou seja, além do Poder Execu-
Al-3 - Decretado em 1966, estabeleceu elei- tivo ele passou a representar também o Legislativo e
ções indiretas para governador e a nomeação a controlar ojudiciário. Veja alguns artigos do Al-5:
dos prefeitos pelos governadores.
Al-4 - Definiu as regras a serem seguidas para
[ ... ] Art. 21' - O Presidente da República po-
discutir, votar e promulgar a Nova Constituição.
derá decretar o recesso do Congresso Nacional,
Quando Artur da Costa e Silva assumiu a Pre- das Assembleias Legislativas e das Câmaras de
sidência da República, em 15 de março de 1967, en- Vereadores, por Ato Complementar, em estado
trou em vigor a nova Constituição, que serviu para de sítio ou fora dele, só voltando os mesmos a
formalizar a estrutura de poder vigente desde 1964. funcionar quando convocados pelo Presidente
da República. [...]
A Carta Magna de 1967 seguia preceitos Art. 3° - O Presidente da República, no inte-
estabelecidos pela recém decretada Lei de Segu- resse nacional, poderá decretar a intervenção nos
rança Nacional, documento que, segundo o go- Estados e Municípios, sem as limitações previstas
verno, visava defender os "objetivos nacionais" na Constituição. [ ... ]
por meio da criminalização de greves e da cen- Art. 4° - No interesse de preservar a Revolu-
sura a manifestações de oposição via imprensa, ção, o Presidente da República, ouvido o Conse-
lho de Segurança Nacional, e sem as limitações
classificadas como "propaganda subversiva".
previstas na Constituição, poderá suspender os
Em dezembro de 1968, em meio a um cenário
direitos políticos de quaisquer cidadãos pelo pra-
de protestos contrários ao regime ditatorial vigente
zo de 10 anos e cassar mandatos eletivos federais,
no Brasil, o presidente Costa e Silva fechou o Con- estaduais e municipais. [ ... ]
gresso e decretou o Al-5 - o mais longo e drástico Art. 101' - Fica suspensa a garantia de habeas
de todos os atos institucionais (revogado somente corpus, nos casos de crimes políticos, contra a se-
em 1978). Por esse novo decreto, a Constituição foi gurança nacional, a ordem econômica e social e a
economia popular. [ ... }
- 110
- ' -
tortura nos interrogatórios e o crescimento das
prisões ilegais.
Organizando ideias
Por que o período da Presidência de Médici en- Brasil" e "Ninguém segura esse país". Anos
trou para a história como os "anos de chumbo? depois, essas mensagens ufanistas ainda
ecoam, mas agora em outra realidade.
O órgão de propaganda oficial, a Assessoria O cartunista Ziraldo produziu sua versáo
Especial de Relações Públicas (Aerp), fazia para uma dessas mensagens. Analise-a no
propagandas com s/ogans otimistas, como contexto citado.
'Brasil: ame-o ou deixe-o', "Pra frente,
- 500
A guerrilha:~
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Belo
Coniagevi. °°'°°"ESP)eiTo SANTO
VAóna
Asgooina
SÃO PAULO
FAC/FICO - RIO 10 JANEIRO
Janeiro
PARANÁ Rodovias
Fase do fechamento político Coiiliba .' -
__._
Estradas abertas durante
Manifestações e conflitos estudant,s (1968) SANTA CATARINA
UPlononôpolis e depois da guerrilha
o WOO
Passeata dos Cem Mil - RIO GRANDE Quartel da Batalhão de
00 SUL,oPprio
O Congresso da UNE - Infantaria de Selva 09741
Greves (1968) Bases do apoio do Exército
5 mil operários
00' Destacamentos ojumrrrillieiros
15 mil operários IN
Guerrilhas rurais
o
Caporaó 19661
Vale do Ribeira (1970)
Araguaia (1972.1975)
O 483 966 km
Sequestros
1 :4O3O0O
® Embaixador dos Estados Unidos
(1969) -' RIODEJANEIRO
No caminho da abertura 5AOPAALO
)J Embaixador da Suíça Greves (0978)
100
11970)
Ib x. iiSa 1' GUANABARA
( CÔosul doJapáo)t97Q) ® Metalúrgicos
Fonte. VICENTINO, Cl(ir Atlas histórico: usral e Brasil. So Paulo: SCipIolle, 20)1.)). 159.
-112
As passeatas se multiplicavam. Protestava-se prédio foi invadido pelo pelotão de choque da Po-
contra a qualidade do ensino, contra as mensalida- lícia Militar. No confronto, voaram pedras de um
des, contra a comida servida em restaurantes uni- lado e, do outro, tiros foram disparados. Um deles
versitários, contra o imperialismo americano, con- acertou o peito de Edson Luís de Lima Souto, que
tra o fechamento da UNE, contra o regime militar. caiu morto. O incidente mexeu com a opinião pú-
As manifestações se tornavam rotina. Não exigiam blica. O corpo do estudante foi velado na Assem-
maiores organizações. Fazia-se uma rápida assem- bleia Legislativa e, no dia seguinte, 50 mil pessoas
bleia - e rua. Assim agiram os estudantes que fre- compareceram ao enterro. Era uma sexta-feira, 29
quentavam um restaurante no Rio, o Calabouço, de março - o dia em que 1968 começou { ... j.
subsidiado pelo governo. Num fim de tarde, progra-
1-1IIAI3ALI O. Oscar. Quatro estrelas e uns tropicalistas. In:
maram o que seria um ato-relâmpago, igual a tantos O Brasil em sobressalto: 80 anos de história contados
outros. Antes que pudessem ter saído, no entanto, o pela Folha. So Pauto: Publifotha. 2002. p. 114.
Com frases como "Mataram um estudan- profissionais liberais e mães dos estudantes, ocor-
te. Podia ser seu filho" e "Nesse luto começou a reu no dia 26 de junho, na Cinelândia, no Rio de
luta!", a contestação estudantil intensificou-se, e Janeiro, uma manifestação pública de oposição à
na mesma proporção veio a repressão, provocan- ditadura. A Passeata dos Cem Mil foi o maior pro-
do outras mortes e milhares de prisões em várias testo público contra o Regime Militar até então.
cidades brasileiras. Outros episódios protagonizados por estu-
Os estudantes não estavam sós. Com o apoio dantes ainda seriam notícia naquele ano de 1968,
de vários setores da sociedade, como professores, como o 30° Congresso da União Nacional dos Es-
artistas, representantes da Igreja Católica, tudantes (UNE).
113
O encontro dos estudantes ocorreu Nos teatros exibiam-se peças que
clandestinamente, no município paulista de mostravam a realidade do Brasil. Nas sa-
lbiúna, mas foi descoberto pela polícia, que las de projeção ressurgia o Cinema Novo,
cercou o local. Mais de 700 estudantes, pe- com filmes inspirados no Tropicalismo,
gos de surpresa, foram presos e, alguns dias movimento artístico da década de 1960
depois, libertados para responder a inquérito que aliava elementos da cultura brasileira
por violação da Lei de Segurança Nacional. com as artes pop e vanguardista daquele
Contudo, alguns líderes do Movimento Es- período.
tudantil, como Viadimir Palmeira e Franklin Na música, campo de maior expressão
Martins, ficaram presos por mais tempo. do Tropicalismo, explodiam os grandes
No campo cultural foi um período de festivais, nos quais nomes como Geraldo
grande efervescência. Mesmo em tempo Vandré, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Tom
de censura às produções artísticas e aos Zé e tantos outros faziam sucesso com can-
meios de comunicação, as ações de repú- ções de protesto.
dio ao regime eram constantes.
Na música e ria literatura surgiram textos onde brinca irremida a infância da classe operária.
e canções que se tornariam símbolos da luta Estou aqui. O espelho
pela liberdade e contra a Ditadura Militar. As não guardará a marca deste rosto,
Letras foram censuradas, mas hoje são fontes se simplesmente saio do lugar
ricas da memória daquele período. ou se morro
se me matam.
Maio 1964
Estou aqui e não estarei, um dia,
Na leiteria a tarde se reparte em parte alguma.
em iogurtes, coalhadas, copos Que importa, pois?
deleite A luta comum me acende o sangue
e no espelho meu rosto. São e me bate no peito
quatro horas da tarde, em maio. como o coice de urna lembrança.
Tenho 33 anos e uma gastrite. Amo GULLAR, Ferreira. Melhores poemas de Ferreira Gultar.
Seleção e apresentação Alfredo Bosi. 7. ed. São Paulo:
a vida
Global, 2004. p. 81-82.
que é cheia de crianças, de flores
e mulheres, a vida,
Em grupo, identifiquem os trechos de crítica
esse direito de estar no mundo,
ao Regime Militar e os analisem consideran-
ter dois pés e mãos, urna cara
do o contexto em que foram produzidos.
e a fome de tudo, a esperança.
Esse direito de todos
Procurem exemplos atuais de músicas ou
que nenhum ato
textos de protestos contra a situação política
institucional ou constitucional
brasileira. Escolham uma música como repre-
pode cassar ou legar.
sentante da realidade atual.
Mas quantos amigos presos!
quantos em cárceres escuros Tragam os textos para a sala de aula e com-
onde a tarde fede a urina e terror. parem os dois momentos: ainda há censura?
Há muitas familias sem rumo esta tarde Há liberdade de expressão hoje? Debatam
nos subúrbios de ferro e gás essas questões.
- 114
A luta armada
O endurecimento do Regime Militar fez sur- operações. Muitas das organizações se formaram
gir no Brasil algumas organizações que viam na de dissidências de outras já existentes antes mes-
luta armada a forma mais viável de combatê-lo. mo de 1964, entre elas, vários partidos políticos de
As "guerrilhas urbanas e rurais", que atuaram esquerda.
no país no final da década de 1960 e início dos Por volta de 1971, a maior parte do movi-
anos 1970, procuravam derrubar a Ditadura Mi- mento de guerrilha já havia sido desmantelada, e
litar por meio de ações revolucionárias. Boa parte seus integrantes estavam presos, mortos ou tinham
desses grupos era composta de jovens entre 20 e fugido do país. Marighella havia sido morto em
30 anos, simpáticos ao comunismo, ansiosos por 1969, em São Paulo, e Lamarca, em 1971, na
mudar a situação vigente. Bahia, ambos atacados por oficiais do exército.
Entre as lideranças estavam o ex-deputado Car- Apesar do crescimento da oposição e de
los Marighella, na guerrilha urbana, e o ex-capitão grandes manifestações contrárias ao governo,
Carlos Lamarca, na guerrilha rural. cada vez menos popular, a Ditadura Militar só
Essas organizações que participaram da luta após um lento processo de re-
teve fim em 1985,
armada assaltavam bancos, sequestravam pessoas, democratização.
matavam policiais e soldados,
praticavam atentados a bomba
e "justiçavam" inimigos (mata-
vam os companheiros
dos de traição ou movidos por
acusa-
PRO CURAMSE
disputas políticas internas). Se v'ocê souber do paradeiro de algum
Grande parte das ações dêstes homens, telefone para 2-5898
guerrilheiras ocorriam nos ou dirija-se à Delegacia mais próxima
centros urbanos, com o obje-
tivo de conseguir dinheiro para
sustentar o aparato necessá-
rio, manter os guerrilheiros na
clandestinidade, alugar apar-
tamentos e financiar novas 1532I_
'A&PJÀ%T ...........
£3374&'7
Organizando ideias
SOUZA, Hebert José de IBelinhol apud BARROS. Edgard Luiz de. Os governos militares. Sâo Paulo: Contexto. 1991. p. 13.
O que foi o tiro no peito que matou a alma nacional a que o texto faz referência?
Com base no que leu sobre esse período, você concorda com o autor do texto? Justifique.
. 115
Debate interdiscipLinar
O eLeitorado brasiLeiro
Os colonizadores portugueses trouxeram para Ano Populacão Eleitorado População!
o Brasil a tradição de votar para eleger os adminis- Eleitorado
tradores dos povoados. Desde essa época, as elei- 1975 108.665.878 36.265.560 33,373%
ções passaram por muitas mudanças e conquistas. 1985 135.563.101 69.371.495 51.171°h
Até o início do século XX, só podiam votar 1994 153.142.782 94.782.803 61,891%
homens brancos, maiores de 25 anos e com alto 1996 157.070.163 101.284.121 64,483%
poder aquisitivo. Hoje, votar é um direito de todos 1998 161.790.311 106.101.067 65,579%
2000 169.799.170 109.826.253 64,680%
os cidadãos a partir dos 16 anos (independente-
2002 175.381.795 115.254.113 65,716%
mente da cor, do sexo e poder aquisitivo). Mais do
2010 190.755.799 135.804.433 71,192%
que isso, segundo a Constituição de 1988, o voto é
2014 202.768.562 142.822.046 70.435%
obrigatório para maiores de 18 anos e facultativo
Fu'/ss: IBGE. Dis,': e'n' 'zI7Oc:/Isculoxs.ibqe c'cc.IiÍ/p33c12c on:sissc:ss-
para maiores de 70 anos ejovens de 16 a 18 anos.
:)c:.::case-cuIuros>. Acesso em: ate. 2Q16: TRIBUNAL SUPERIOR EEITCRAL.
Em 1986 iniciou-se a informatização do J.sRCflNet eia: <V'A's tSeus.br/etiscces/eIeicues-anteriores>. Acesso em: 21)7 2016.
processo eleitoral, quando foi feito um recadas-
As informações mais atualizadas acerca da
tramento eletrônico de aproximadamente 70 mi-
população brasileira são fornecidas pelo Instituto
lhões de eleitores. Em 1994 foi feita a totalização
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que
das eleições gerais pelo computador central, no
realiza anualmente estudos sobre a população,
Tribunal Superior Eleitoral.
os estados e as regiões do Brasil.
Em 1995 foi apresentado aos eleitores um
Além de estudos anuais, a cada dez anos o
protótipo de urna eletrônica cujo projeto contou
IBGE faz uma minuciosa pesquisa denominada
com uma comissão dejuristas, técnicos e especia-
Censo Demográfico. Essa pesquisa possibilita uma
listas de informática, eletrônica e comunicações
análise detalhada de diversos grupos da população,
da Justiça Eleitoral, das Forças Armadas, do
como a quantidade de homens, mulheres e crianças
Ministério da Ciência e Tecnologia e Ministério
de ambos os sexos residentes em cada lugar do país.
das Comunicações. Atualmente, todo o sistema
Ao comparar os dados coletados em censos
eleitoral brasileiro é informatizado.
diferentes, é possível observar as mudanças ocor-
A informatização também possibilita que, por
ridas entre um período e outro. Observe:
meio do acesso aosite doTribunal Superior Eleitoral
(www.tse.jus.br), qualquer pessoa possa conferir os
dados das eleições ao longo da história do país.
Podemos sintetizar a quantidade de eleito- Mais de 106 anos 10.423 0,0% 0,0% 14.153
95399 anos 19221 0.0% 0,0% 30.977
res, por décadas, nos últimos cem anos de histó- 90394anos 65.117 0.0% 10,1% 115.309 e
BOa 89 anos 208 088 0.1% 0.2% 326.783
ria do Brasil. A tabela a seguir mostra os números BOa 94 anos 428501 0.3%,i 0,4% 607.533
75 aiO anos 708.571 0,5% os 0,6% 999016
desde 1910. 70a 74 anos 1.229.329 0,7% 0,9% 1.512973
&5a69anos639.323 1,0% 1,1% 1.941.791
Ano Populacão Eleitorado PopulaÇão / 60a64anan 2.153209 1,3% ... 1.4% 2.447.720
SSaSOanos 2585244 1,5%,,,i 1,7% 2859.471
Eleitorado SOa 54 anos 3.415.678 2,0% -ããèiíW 2.1% 3646.923
45a 495nos 4216.416 2.5% 2.7% 4500123
1910 23.414.177 1.155.146 4,933% 40a44ar 5.116.439 3,9%_i . ' -'- 3,7% 5430395
35a39aoss 5.959,875 6205.654
1933 39.939.154 1.438.729 3.602% 38334anos 6.363.983 6.664.961
25a29anos 6814.328 7035337
1945 46.114.500 7.437.025 16,127% 2oa24anos 9.048.218 47% - .; ---------'4,9% 8.093.297
15a19snoo 9.019.130 5,3% ' - '5,3% 8.920.685
1955 58.360.000 15.240.397 26.114% 10a14anos 8.777.639 5,2%'- 8.570,428
Sa9anos 8.402353 49% 8.139.974
1960 70.070.457 15.543.332 22,182% 004 8508 8.328926 4391 4,7% 9.048.902
1965 80.729.000 22.032.395 27.291% 0087468W Muineres
- 116
Assim:
F. 100
F= F
Ida,, de 150 anos 7.247 0.995 0.0% 16939
95,O9anos 31539 0.0% 00%
80,94 anos 114.064 0,1% 40.1% 211 505
No caso das eleições 2014, o valor da amos-
Sa6Oanos 319759 0.2%.a03% 533724
88 a 04 anos 660.623 0.49s W 0.5% 998 349
tra (Ft) é o total de eleitores do Brasil e o valor
754195a,a, 091516 0.6%.0.0% 14,7 2930
70 a 14 ono 1 651.373 0,9% ,,. 1.1% 2313234
da classe (F) é a quantidade de eleitoras mulheres
65a69aocs 2224.055 129, 2616145
601640880 3641034 1,6% 1,8% 3468055
entre 20 e 24 anos. Para calcular o percentual de
554597055 3932334 2,CN ..—.-'---23% 4373979
Soas4anos 4.034.995 2.5%e-"'" "2.8% 3.306407
eleitoras em relação à quantidade total, é realiza-
45a49ao 5692073 379• 6141 333
40a44anco 6.320.570 3,3% ,.,'___________ 3.59h
' - '
6108.797
da a operação a seguir:
3673970109 6766.660 356 .. — '' -'. 7121916
30a34anos 1.711.651 4.0% —' '' 4.2% 8926.555 8137 583. 100
23a293wa, 8,466,905 4AN éãéè1we~459 06,13418 F»
20a24anss 0.699.221 -'-'- ' 45',', 8614.903 142822046 5,70%
154195516 8659660 45• ' '--' -449 7433522
104148016 8,725.413 4,4% 8441.348 Esse cálculo pode ser realizado em diferentes
5a9anls 7.924 144 4,0% 397 7343231
0344016 1016.501 3,1% ' - 3,6% 6119112 situações, o que possibilita a relativização de dados
8~O a •Mdheses
coletados em uma pesquisa, bem como a elabora-
ção de tabelas e gráficos com mais informações.
Os gráficos apresentados revelam a distri-
buição percentual da população brasileira por
idade e sexo em dois momentos diferentes. Mas
você sabe como os órgãos de pesquisa calculam Com base nas informações fornecidas
esses percentuais? Usando a Estatística, ramo da no gráfico "Distribuição da população
Matemática que ajuda nessa tarefa. por sexo, segundo os grupos de idade"
Com base em um cálculo simples, é possível e na tabela da página 116, calcule sepa-
chegar a resultados como os apresentados nos grá- radamente o percentual de homens e de
ficos desta página e na tabela da página anterior. mulheres entre 20 e 24 anos em relação ao
Como exemplo, vamos calcular o percentual de mu- total de eleitores em 2010, considerando
lheres entre 20 e 24 anos em relação à quantidade de que todos os brasileiros dessa faixa etária
eleitores no Brasil em 2014 (142 822 046 pessoas), participaram das eleições do referido ano.
considerando que todas as componentes do gru-
Observe a tabela abaixo. Em seguida, com-
po são eleitoras. De acordo com o IBGE, esse gru-
pare os números de 2010 e 2014 e verifique
po correspondia a um total de aproximadamente
se houve aumento ou diminuição da fre-
8 137 583 mulheres em 2014 (dado disponível em:
quência relativa tanto de homens quanto
<www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/
de mulheres da faixa etária pesquisada
projecao_da_populacao/2008/piramide/piramide.
entre uma eleição e outra.
shtm>; acesso em: abr. 2016).
Inicialmente, define-se o valor total da POPULAÇÃO ESTIMADA DE HOMENS ENTRE
20 E 24 ANOS NO BRASIL (2014)
amostra (nesse caso é o número total de eleito-
r10r,5:1,1 em r71cao
res). A amostra é dividida em classes (aqui, o gru- t9 2o .:1L
117
Testando seus conhecimentos Responda no cademo
1. )Ibmec-RJ) Ao longo da Era Vargas (1930-1 945), e pelo seu conteúdo, é correto afirmar que
houve uma enorme preocupação na transfor- esta marchinha:
mação de Getúlio no pai dos pobres', o grande tratava-se de uma peça publicitária en-
protetor da classe trabalhadora. comendada pelo presidente Marechal
Sobre esse período são feitas as seguintes Eurico Gaspar Dutra.
afirmativas: tratava-se de um siogan da Revolução
1. A criação do imposto sindical foi uma das Constitucionalista liderada por Getúlio
formas encontradas de permitir uma li- Vargas.
vre atuação dos sindicatos durante esse ci comemorava o retorno de Getúlio Vargas
período. à cena política e lançava sua candidatura
II. A ação do DIP foi decisiva para efetivar presidencial às eleições daquele ano.
"culto à personalidade" que caracteri- tratava-se de peça da campanha Getú-
zou a administração getutista durante o lio Vargas à Assembleia Nacional Cons-
Estado Novo, tituinte, quando este foi eleito senador
por dois estados: Rio Grande do Sul, na
II. Os meios de comunicação, em espe-
legenda do Partido Social Democrático
cial o rádio, também tiveram um papel
(P50), e São Paulo, pelo Partido Traba-
importante nessa "aproximação" do lí-
lhista Brasileiro )PTB).
der junto às massas, como comprova a
tratava-se de uma marchinha política
criação da "Hora do Brasil".
da Era Vargas sem qualquer conotação
Assinale: eleitoral, já que na época vivíamos sob a
Se apenas a afirmativa 1 for correta, ditadura do Estado Novo.
Se apenas a afirmativa ((for correta. 3. (PUC-PR) Começava a ditadura envergonhada,
Se apenas a afirmativa III for correta.
como a batizou Elio Gaspari. (...) Mas, como tudo
Se as afirmativas 1 e II forem corretas.
na vida pode piorar, quem se queixava de 64 não
Se as afirmativas II e III forem corretas,
sabia o que nos esperava em 68. Aí sim, com o Ato
2. )FEI-SP) Para responder à questão, leia a Institucional no 5,o pau comeu.A ditadura esgotou o
letra da marchinha a seguir, de 1950: manual e criou em cima: implantou a censura, cassou
Bota o retrato do velho outra vez mandatos, fechou o Congresso, suspendeu o'habeas
corpus revogou a Constituição, instituiu a pena de
Bota no mesmo lugar.
banimento, liberou a tortura e tolerou as execuções
Bota o retrato do velho outra vez,
sumárias - tudo em defesa da segurança nacional.
Bota no mesmo lugar.
O sorriso do velhinho faz a gente trabalhar (Bis) (Martins, Oswatdo. Aos nascidos em 1964.
Revista "Cutt", São Pauto, n. 78, março/2004. p. 541.
Eu já botei o meu...
E tu, não vais botar? A partir desse contexto, marque a alternati-
va INCORRETA:
já enfeitei o meu...
E tu, vais enfeitar? a) O Ato Institucional n° 5 foi um instru-
O sorriso do velhinho faz a gente se animar (Bis) mento que proporcionou amplos po-
deres ao Presidente da República, que
(Autores: Harotdo Lobo e Marino Pinto.)
podia inclusive fechar provisoriamente
Poucas músicas políticas marcaram época Congresso Nacional.
como esta, que foi interpretada por Francis- b) A economia brasileira desse período
co Alves, um dos cantores mais populares (1969-1973) vai ser marcada pelo cha-
da época. Pela conjuntura em que foi criada mado "milagre brasileiro".
— 118
Responda no caderno
119
irr 1
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r4 • A.
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rt 1
O período que se estendeu do fim da Se- zes de praticamente destruir o planeta Ter-
gunda Guerra Mundial (1945) até a queda do ra. Na mídia e nas competições esportivas,
Muro de Berlim (1989) e o fim da Uniáo das travava-se uma guerra sem tréguas visando
Repúblicas Socialistas Soviéticas (1991) fi- desmoralizar o inimigo' e superá-lo. Nessa
cou conhecido como Guerra Fria. fase prevaleceu o temor de que a batalha fi-
Durante essa época, houve o desenvol- nal, leia-se a guerra nuclear', acontecesse
vimento de armas nucleares potentes, capa- a qualquer momento. Sendo assim, nenhuma
J - -1
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ieff• .r.
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ver inúmeros grafites. As
construçães e a torre de
vigia estão do lado oriental.
parte do mundo estava fora do conflito e de velado, marcado pela corrida armamentista e
suas possíveis consequências. pelo medo generalizado de que a qualquer mo-
As duas superpotências da época, Estados mento se iniciasse a Terceira Guerra Mundial.
Unidos da América (EUA) e União das Repúbli- Neste capítulo, abordaremos os fatores
cas Socialistas Soviéticas IURSS), mantinham que desencadearam essa situação, o perío-
uma disputa sem batalhas diretas ou enfrenta- do em que prevaleceu esse conflito velado e
mento em campos de guerra. Era um embate seu desfecho.
A Guerra Fria e o direito à Liberdade
O período entre 1945 e meados da década
de 1970 foi chamado pelo historiador Eric Ho- Os 45 anos que vão do lançamento das bom-
bsbawm de Anos Dourados, especialmente para bas atômicas até o fim da União Soviética não
formam um período homogêneo único na his-
os Estados Unidos, em virtude da extraordinária
tória do mundo.
prosperidade material e dos avanços sociais e tec-
[ ... ] Apesar disso, a história desse período foi
nológicos ocorridos no país após o fim da Segun-
reunida sob um padrão único pela situação inter-
da Guerra Mundial. Em menor escala, essa "Era nacional peculiar que o dominou até a queda da
de Ouro" teve reflexos em todos os países parcei- URSS: o constante confronto das duas superpo-
ros dos Estados Unidos. tências que emergiram da Segunda Guerra Mun-
Ainda assim, em grande parte dos países, te- dial na chamada "Guerra Fria".
nham eles adotado o socialismo ou o capitalismo, A Segunda Guerra Mundial mal termina-
ra quando a humanidade mergulhou no que se
havia sérios problemas políticos, econômicos e so-
pode encarar, razoavelmente, como uma Tercei-
ciais, com predomínio de guerras civis, ditadura,
ra Guerra Mundial, embora muito peculiar. [ ... J
concentração de renda e miséria.
Gerações inteiras se criaram à sombra de batalhas
nucleares globais que, acreditava-se firmemente,
podiam estourar a qualquer momento e devastar
a humanidade. Na verdade, mesmo os que não
acreditavam que qualquer um dos lados pretendia
atacar o outro achavam difícil não ser pessimistas,
pois a Lei de Murphy - do engenheiro aeroespacial
norte-americano Edward A. Murphy - é uma das
mais poderosas generalizações sobre as questões
humanas ("Se algo pode dar errado, mais cedo ou
mais tarde vai dar"). À medida que o tempo passa-
va, mais e mais coisas podiam dar errado, política
' [ecnologicamente, num confronto nuclear per-
manente baseado na suposição de que só o medo
da "destruição mútua inevitável" (adequadamente
expresso na sigla MAD, das iniciais da expressão
em inglês - mutually assured destruction) impe-
diria um lado ou outro de dar o sempre pronto
sinal para o planejado suicídio da civilização. Não
aconteceu, mas por cerca de quarenta anos pare-
ceu uma possibilidade diária.
- 122
reprimida, havia frequentes expurgos polí- pró-soviético. Osama bin Laden (1957-
ticos e o regime era burocrático e ditatorial. -2011) - que, após os atentados de 11 de
A corrida armamentista disputada setembro de 2001, tornou-se o principal
entre estadunidenses e soviéticos gerou inimigo dos Estados Unidos - foi treinado
intensa produção e distribuição de armas nesse período pela Agência Central de Inte-
pelo mundo inteiro. Por causa das hostili- ligência (CIA) para enfrentar os comunistas
dades entre as grandes potências, grupos em defesa da "democracia".
guerrilheiros e terroristas receberam delas A Guerra Fria também atingiu o Bra-
treinamento e equipamentos sofisticados sil, que se aliou aos Estados Unidos. O di-
para atuar nas guerras civis que ocorriam reito à liberdade foi aqui amplamente cer-
nos respectivos países. ceado. Em 1947, por exemplo, o Partido
Como exemplo, podemos destacar Comunista foi colocado na ilegalidade; no
que em 1979, quando a União Soviética in- ano seguinte, seus parlamentares eleitos
vadiu o Afeganistão, os norte-americanos democraticamente foram cassados.
financiaram e armaram os guerrilheiros O Golpe Militar de 1964 teve o apoio
mujahedin - grupos diversos, com a pre- dos EUA. Atualmente documentos do próprio
dominância dos fundamentalistas islâmi- governo norte-americano revelam as ações
cos -, que se opunham ao governo afegão urdidas para apoiara ditadura brasileira.
Organizando ideias
Levando em consideração
o que você aprendeu sobre a O teste Rorschach através das décadas 13
Guerra Fria, observe a charge e
responda às questões: Anos 1960 Anos 2010
Quais eram os medos no período da Guerra Fria? Para saber como essa relação conturbada
entre as grandes potências afetava a vida de todos, entreviste três pessoas que viveram a adoles-
cência ou idade adulta nesse período. Na entrevista, faça-lhes perguntas sobre as informações e
os medos que pairavam naquele momento. Traga as respostas para a sala de aula e, em grupo,
analise como a Guerra Fria era vista e percebida pela população.
124
eleições britânicas, fora substituído pelo traba-
lhista Clement Attlee. Em linhas gerais, decidiu-se mesma anedota, sobre a quem pertencia o urso
que a Alemanha seria desmilitarizada e dividida morto na caçada feita entre Roosevelt, Churchill
e ele. "Claro que a mim", dizia Stálin. "O Urso
em áreas de ocupação e que a União Soviética re-
é Hitler, e a pele do urso é a Europa Oriental.
ceberia uma indenização maior. Foi durante esse
Fui eu que matei o urso." Quanto ao desmem-
encontro que Truman comunicou a Stalin o bem-
bramento da Alemanha, Stálin percebeu que
-sucedido teste com a bomba atômica.
isso não aconteceria e deixou o assunto mor-
No geral, porém, Stalin obteve o que desejava:
rer. Foi lá, finalmente, que o ditador soviético
reconhecimento da ocupação dos países bálticos, pronunciou uma das suas frases mais famosas,
de territórios fronteiriços por meio de conflitos com quando Roosevelt e Churchill propuseram fazer
Alemanha, Romênia e Polônia e de uma área de se- também do Papa um aliado: "Muito bem", pon-
gurança com governos aliados, na Europa Oriental. derou Stálin, "Quantas divisões ele tem?".
1./
OCEANO GLACIAL ÁRTICO
I
,tsamo
Pax Americana é uma expressão
IP echngal latina usada para se referir à hege-
tRANÇA
- Frnnteirao em 1947
EJ Pretensões te,ritOrioio da união Soviética
ITAI IA ROMÉNIA
'T + Território livre de Trieste 19.1954t
Poll Siv/Vrqio Territórios italianos atribuidos á Iugoslávia
-" O O E RUO JA
Lasto, RASGARIA MERI0l0NA1' Á Retificações de fronteiras em boneficin da França
" ---ESPANHA
\, lLaaot
/ Sarre, integrado é República Federal da Alemanha em
-- 1957, mas vinculado economicamente á França até 1959
4GARÀLTAR
- T005IJIA EJ Aquisição da Bulgária
L Mar Mediterrâneo -
Divisão da Alemanha
[.. A ONU era um organismo de grande relevância para os objetivos diplomáticos de Washington
no pós-guerra, uma vez que representou o instrumento jurídico, político e ideológico do internacio-
na]i.srno necessário a seus interesses. Este internacionalismo representava a formulação ideológica do
capitalismo de livre investimento articulado pelos EUA, a partir de 1933, como forma de superação
da Grande 1)epressão. O "capitalismo internacionalista" norte-americano opunha-se aos capitalis-
mos aliados e rivais que monopolizavam a exploração e impérios coloniais ou o domínio econômico
sobre determinadas regiões. Assim, a guerra serviu para derrotar os capitalismos de expressão regio-
nal (Alemanha, Itália e Japão) e para enfraquecer as velhas metrópoles coloniais europeias, que saíam
do conflito como devedoras dos EUA graças às leis de empréstimos e arrendamentos.
VIZENTINI, Pauto G. Fagundes. Da Guerra Fria à crise. Porto Alegre: UFRGS, 1992. p. 16-17.
Organizando ideias
Britânicos e norte-americanos ficaram alarmados com as pretensões geopolíticas de Stalin na Turquia
e no Irã. Nesse contexto, em 5 de março de 1946, em visita aos Estados Unidos, Churchill pronunciou,
na Universidade de Fulton e na presença de Truman, um discurso que caracterizou a Guerra Fria.
Uma sombra se estendeu sobre os cenários há tão pouco tempo iluminados pela vitória Aliada. Nin-
guém sabe o que a Rússia soviética e sua organização comunista internacional pretendem fazer num futuro
imediato, nem quais serão os limites, se é que existem, a serem respeitados por sua tendência à expansão
e ao proselitismo. De Stettin no Báltico até Trieste no Adriático, uma cortina de ferro desceu sobre o con-
tinente. Além dessa linha estão todas as capitais dos antigos Estados da Europa Oriental E...]. Todas essas
cidades notáveis, todas essas nações se encontram na esfera soviética; e todas estão submetidas, de uma for-
ma ou de outra, não apenas à influência soviética, mas ao controle extenso e sempre crescente de Moscou.
CHURCHILL, Winston, 1946, apud JOHNSON, Paul. Tempos modernos: o mundo dos anos 20 aos 80.
Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército: instituto Liberal, 1994. p. 368.
Levante hipóteses para explicar o sentido da expressão "cortina de ferro" no discurso de Churchill.
Depois, busque informações sobre o significado desse conceito no contexto da Guerra Fria,
Churchill era britânico, mas proferiu o citado discurso em uma universidade norte-americana
Qual é o significado político dessa atitude?
Por que esse discurso pode ser considerado caracterizador da Guerra Fria?
00
— 126
A Doutrina Truman e o PLano MarshaLL
Em março de 1947, o presidente Truman dis- dólares e grande quantidade de matérias-primas,
cursou dizendo que era dever dos Estados Unidos equipamentos e produtos aos territórios euro-
apoiar os povos livres na construção do próprio des- peus que necessitassem de ajuda. Stalin proibiu
tino. Em seguida, anunciou um substancial progra- os países do Leste Europeu de aceitar a ajuda
ma de assistência econômica e militar à Turquia e à norte-americana, pois acreditava que a iniciativa
Grécia, dois países que enfrentavam uma guerra civil. dos EUA era uma forma de cooptá-los para sua
Para ele, a melhor maneira de combater o órbita de influência. Mesmo assim, Tito, líder
comunismo era reduzir a fome e a pobreza. Por da resistência iugoslava, que era socialista e fora
essa razão, foram alocados cerca de 13 bilhões de aliado de Moscou, aceitou a ajuda.
29
107
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ISLÂNDIA
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254
NORUEGA
3176
o - REINO
UNIDO
1389
- ALEMANHA
FRANÇA -,
rrAuâ
2706
1474
Fontes: SCHAIN, Mardri A. The Marshall
Plan: hIty year alter. Nova 'fork: Pagrave.
2001: DIJBY, Georrjvs. Grand Atlas
Historique: [histotre dv monde vii 520
varIes. Pans: Larousse, 2011.1). 106.
Cartaz de divulgaçzie de
Europa, 1947. A tradução dos dizeres do cartaz
Europa, todas as nossas cores para o nastrc
Organizando ideias -
O texto a seguir é parte do discurso do pre- livres que estão resistindo à subjugação tentada por
sidente norte-americano Harry Truman, em minorias armadas ou por pressões vindas de fora.
sessão conjunta do Congresso dos Estados [ ... ] Os povos livres do mundo olham para nós em
Unidos, em 12 de março de 1947. Leia-o. busca de apoio na manutenção de suas liberdades.
128 :tiln5
 corrida armamentista
Quando terminou a Segunda Guerra Mun-
dial, os Estados Unidos eram a maior potência em 1961, ambos enviaram um home n ao espaço
- sendo que o russo Yuri Gagarin levou seis meses
econômica do mundo e o único país que possuía
de vantagem sobre o norte-americano John Glenn.
bombas nucleares.
Os estoques norte-americanos sempre foram mui-
A iminência do desenvolvimento de artefatos
to maiores do que os russos, e a superioridade dos
militares por outros países, sobretudo a utiliza- Estados Unidos foi aumentada no início dos anos
ção de material nuclear, levou os Estados Unidos de 1960, quando mísseis Polaris e Minuteman en-
a lançar, em 1946, uma primeira proposta de trarain em operação. Os temores infundados, por
regulamentação internacional do uso de energia parte dos norte-americanos de que a URSS assu-
atômica, conhecida como Plano Baruch. Ele misse a liderança em termos de mísseis, fizeram
sugeria a criação da Autoridade de Desenvolvi- com que os Estados Unidos ampliassem o que já
mento Atômico Internacional, que, sob a tutela era uma liderança em seu favor.
das Nações Unidas, supervisionaria a distribuição CALVOCORESSL Peter. Política mundial a partir de 1945.
de materiais de fissão nuclear e a operação de Porto Alegre: Penso, 2011. p. 46.
129
estabeleceu uma aliança militar entre URSS, Ale- Com o passar dos anos, a zona de influên-
manha Oriental, Bulgária, Hungria, Tchecoslová- cia dos dois blocos se expandiu por todo o globo,
quia, Albânia e Romênia. A Iugoslávia, por opo- como podemos observar no mapa a seguir.
sição de Tito, recusou-se a fazer parte do bloco.
cc-
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UNIDOS 7 —
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1:233700003 -
EUA, aliados e Esta dos-satél ites URSS e aliados
j EUA e participantes originais da OTAN II Outras naçóes aliadas MURSS a Maiores bases
Países que ingressaram ao bloco capitalista Pacto de Varsóvia —1955 ultramarinas soviéticas
posteriormente na OTAN C Pacto OTC - 1959 Estados-satélites comunistas 4l Zonas de batalhas
Elili Dependências da OTAN —1960 Domínio dos EUA e bases da OTAN [j China durante a Guerra Fria
- Bases marinhas americanas
Fonte: BLACK, Je'emy. World history atlas. Londres: Dcrliirg Kinderslny, 2008. p. 108-109.
Os investimentos em tecnolo-
gia bélica eram constantes. Após a Enquanto a bomba atômica precedente (bomba A) baseia-
União Soviética dominar as técnicas -se na divisão, ou fissão, de um núcleo pesado, como do urânio
de fabricação de armas nucleares, os ou do plutônio, a bomba H baseia-se na fusão entre dois nú-
Estados Unidos desenvolveram um cleos leves: o do deutério e o do trítio, que são dois isótopos do
artefato ainda mais potente: a bom- hidrogênio. A reação de fusão libera uma energia ainda maior
do que a liberada pela fissão. Trata-se da reação que gera a ener-
ba de hidrogênio, cujo primeiro teste
gia solar, e se realiza a uma temperatura de vários milhões de
bem-sucedido ocorreria em 1952. Os
graus, como a que se encontra no interior do Sol. Para atingir
soviéticos, por sua vez, fabricaram a essa temperatura elevadíssima e deflagrar a reação de fusão,
bomba H em 1953. utiliza-se a explosão de uma bomba A, que serve de detonador.
MAI000HI, Roberto. A era atômica. Sâo Pauto: Ática, 1996. p. 42.
Pausa para investigação
1. Em grupo, faça uma pesquisa para responder contaminação por césio-137 em Goiânia
às perguntas a seguir. (1987); usina de Fukushima no Japão
(2011). Escolha um desses acidentes e
ai Como funciona uma usina nuclear? Quais explique quais foram suas consequên-
são as vantagens e desvantagens do uso cias para os seres humanos e para o
desse tipo de energia? meio ambiente.
b) Há casos de acidentes nucleares co- 2 Ainda em grupo, elabore hipóteses para jus-
nhecidos no Brasil e no mundo: usina tificar o temor de um conflito nuclear durante
de Chernobyl na União Soviética (1986); a Guerra Fria.
grupos, chamados de "falcões", contribuíram para da competição por soberania ideológica e bélica.
A corrida espacial esteve intimamente ligada
o aprofundamento da Guerra Fria. As intervenções
à corrida armamentista. Os soviéticos desenvol-
dos Estados Unidos no Sudeste Asiático, as ações
veram de forma sigilosa um avançado programa
criminosas na América Central e o fornecimento
de mísseis. Para a surpresa dos norte-americanos,
de vasto material bélico a ditaduras e mesmo a
em 1957 eles colocaram em órbita o Sputnik, um
grupos posteriormente taxados de terroristas pelos
satélite artificial. Esse feito tinha grande significa-
próprios estadunidenses se inserem nesse contexto. do militar, pois, em vez de carregar um satélite e
Mesmo com o fim da Guerra Fria (1991), o ser direcionado ao espaço, o foguete poderia le-
quadro não mudou efetivamente. No início do sé- var uma bomba e ser lançado contra o território
culo XXI, sob o governo de George W. Bush (2001 inimigo. A segurança dos Estados Unidos, funda-
a 2008), os Estados Unidos invadiram o Iraque, mentada em sua superioridade aérea, começava
que, segundo informações da CIA, possuía armas a ser posta em xeque.
131
Em 1958, os norte-americanos colocaram
em órbita seu primeiro satélite, o Explorer. Nos
anos seguintes desenvolveram uma série de mís-
seis intercontinentais, que, instalados em subma-
rinos atômicos, poderiam atingir qualquer lugar
do planeta. Já os soviéticos continuaram traba-
lhando em seus mísseis e colocaram em 1961 o -.
cosmonauta Yuri Gagarin em voo orbital de 48
minutos a bordo da nave Vostok. A reação norte-
-americana veio com maciços investimentos na
National Aeronautics and Space Administration
(Nasa), feitos pelo presidente John F. Kennedy, "
que resultaram nas diversas missões cunhadas de
Apollo. Na Apolio 1, os três astronautas morre-
ram em uma missão de treinamento. O programa
espacial soviético também conviveu com vários .,
desastres, mas a maioria deles não foi divulgada.
Finalmente, a missão ApolIo 11 pousou na Lua
em 20 de julho de 1969, e os astronautas Neil
Armstrong e Edwin Aldrin caminharam na super-
fície lunar.
Apesar de, inicialmente, o interesse do inves-
timento em tecnologia espacial estar diretamen-
te relacionado à disputa pelo poder, a corrida
estadunidense e soviética para chegar ao espaço
não se limitou a isso, resultando em importantes
avanços tecnológicos para fins diversos. Ela foi
Lançamento do Sputnik 2, que carregava a cadela Laika, a primeira criatura
marcada pelo investimento em pesq u:sas funda- viva a ser enviada para a órbita da Terra. Tyura-Tam (IJRSS). 3 nov. 1957.
mentais para o desenvolvimento de áreas de in-
teresse de toda a sociedade, e essa tec- a
E
nologia foi repassada para o cotidiano.
Assim, surgiram invenções que fa- 'a
- 132 1
Observe a charge a seguir e responda às questões.
Q15t1)1tN0.)M C-
.MJo E. Voc- tiA-ÃoI
Pt UM
CARR.lMI.'O 5€
1 E.0 UM
Que aspecto da Guerra Fria é ressaltado na De que forma as potências em disputa du-
charge? rante a Guerra Fria - Estados Unidos e União
Soviética - efetivamente combateram?
Qual era a importância da corrida espacial
e armamentista para as potências capita-
listas e socialistas após a Segunda Guerra
Mundial?
Os serviços de inteligência
A União Soviética tinha uma longa história organização passou a ter diversas atribuições: de
de serviço de espionagem e inteligência. Ainda espionagem a intervenção em países estrangeiros
na época do czar, havia a temida polícia secreta em defesa dos interesses norte-americanos.
Okrana. Com a vitória bolchevique, foi criada a Em dezembro de 1947, o Conselho de Se-
Tcheka, que depois mudou várias vezes de nome: gurança Nacional deu ordens para a CIA com-
OGPU, NVKD e por último KGB. Esses órgãos bater o comunismo na Itália, visando interferir
do governo colaboraram nas arbitrariedades e no resultado das eleições italianas por meio do
nos crimes praticados supostamente em defe- pagamento de altas quantias de dinheiro.
sa do comunismo, atos que se constituíram em Por meio da CIA, os EUA ajudaram os
violações dos direitos à liberdade e à vida. militares da Guatemala a derrubar o presiden-
Nos Estados Unidos, o presidente Harry te Jacob Arbenz, que se opunha aos interesses
Truman criou, em 1947, a Central Intelligence da United Fruit Company, uma empresa norte-
Agency (CIA), uma agência de inteligência civil a -americana. A CIA também ajudou a derrubar
serviço do governo, responsável por investigar e governo iraniano liderado por Mohammed
fornecer informações relacionadas à segurança Mossadegh. Abertamente, os norte-americanos
nacional do país aos senadores e ao presiden- apoiaram ditaduras na República Dominicana,
te da República. O objetivo de Truman era, por em Cuba, na Nicarágua, em Portugal e na Espa-
meio desse órgão, manter-se informado sobre nha, combatendo qualquer ameaça de consoli-
que acontecia no mundo. Entretanto, logo a dação comunista.
................. 133
de mobilizar ao lado da URSS todos os países
James Forrestal e seu bom amigo Alien ditos "anti-imperialistas".
Dulies recorreram a seus amigos e colegas de A propaganda ideológica produzida por
\,\Tall Street e Washington - homens de negó-
políticos das duas superpotências apresentava
cios, banqueiros e políticos - mas nunca era o
suficiente. Forrestal procurou então um anti- argumentos de "defesa do mundo livre" e "com-
go companheiro, John W. Snyder, secretário bate ao totalitarismo", do lado norte-americano,
do Tesouro e um dos aliados mais próximos e de "luta contra o imperialismo" e "defesa do
de Harry Truman. Ele convenceu Snyder a proletariado mundial", do lado soviético, jar-
utilizar o Fundo de Estabilização de Câmbio gões usados à exaustão durante a Guerra Fria.
criado na Depressão para sustentar o valor
No entanto, os Estados Unidos, embora se colo-
do dólar no exterior através do comércio de
moeda a curto prazo, e transformado durante cassem como defensores dos regimes democráti-
a Segunda Guerra Mundial num depósito para cos, apoiaram ditaduras em todos os continen-
espólios capturados do Eixo. O fundo tinha tes (por exemplo, Franco na Espanha, Salazar
US$ 200 milhões destinados à reconstrução em Portugal, Pinochet no Chile e os militares no
da Europa. I)istribuiu milhões de dólares nas Brasil). Já os soviéticos espoliaram os países do
contas bancárias de ricos cidadãos america-
Leste Europeu - não oferecendo bom exemplo de
nos, muitos deles ítalo-americanos, que então
enviaram o dinheiro para frentes políticas re- "combatentes anti-imperialistas" - e reprimiram
cém-formadas, criadas pela CiA. Os doadores a classe operária tanto na URSS como em suas
foram instruídos a colocar um código especial repúblicas-satélites. Em vez de "ditadura do pro-
em seus formulários de imposto de renda jun- letariado", conforme preconizara Marx, ocorreu
tamente com suas "doações de caridade". Os uma ditadura sobre o proletariado.
milhões de dólares foram entregues a políti-
cos italianos e a padres da Ação Católica, um
braço político do Vaticano. Malas cheias de
dinheiro mudaram de mãos no Hassler Hotel,
de quatro estrelas. "Gostaríamos de ter feito
isso de uma maneira mais sofisticada", disse
HE E
- 134
Em dupla, teia o texto e depois, juntos, façam o irmãos da França, Inglaterra e Itália e outros países.
que se pede. Eles devem tomar nas mãos a bandeira de defesa na-
Quanto mais nos afistamos do final da guerra, cional e a soberania de seus próprios países.
mais claramente aparecem as duas direções principais AndreiJdanov, 1947, apud LEBRUN, François; ZANGHELLINI,Valéry
da política internacional do pós-guerra, corresponden- (Coord.). Histoireterrninates. Paris: BeUn, 1983. p. 105. (Tradução nossa(.
do à disposição em dois campos principais das forças
Façam uma pesquisa para descobrir quem
políticas que operam na arena mundial: o campo anti-
-imperialista e democrático e o campo imperialista. foi Andrei Jdanov e qual era a participação
Os Estados Unidos são a principal força dirigente dele na política soviética em 1947.
do campo imperialista. Inglaterra e França estão uni-
Como Jdanov definiu os lados opostos na
das aos Estados Unidos [.4. O campo imperialista é
apoiado pelos países que possuem colônias, como a Guerra Fria?
Bélgica e a Holanda, assim como os países dependentes
Definam os apoiadores de cada um dos lados.
política e economicamente dos Estados Unidos, como
os do Oriente Médio, da América do Sul e da China. Para Jdanov, qual seria o papel da União
As forças anti-imperialistas e antifascistas for- Soviética nessa disputa política mundial?
mam o outro grupo. A URSS e os países da nova de-
mocracia são seus alicerces. O campo anti-imperia- S. Pode-se afirmar que, assim como no discurso
lista em todos os países [é formado] pelo movimento de Churchill, essas palavras oficializam a exis-
operário e democrático, pelos partidos comunistas tência da Guerra Fria? Expliquem.
Em grupo, procure informações sobre o co- Vocês concordam com esses gastos volumo-
mércio mundial de armas atualmente e traga o sos em armamentos? Por quê?
conteúdo pesquisado para a sala de aula. Com
os colegas de grupo, organizem um debate Se fossem direcionados para necessidades
sobre o assunto. básicas, como educação, emprego, trans-
Na discussão, procurem elaborar hipóteses porte, saneamento básico e moradia, esses
ou refletir sobre as questões a seguir. investimentos resolveriam ou amenizariam
a desigualdade social do mundo? Expliquem.
1. O que justifica as enormes quantias de
dinheiro gastas pelos países na compra e
desenvolvimento de armas?
Vietnã
Em 1954 foi realizada uma grande conferên-
cia internacional em Genebra, na Suíça, com o
Soldados norte-americanos evacuam vila de civis vietoamitas durante a
objetivo de encontrar soluções para os conflitos
Guerra do Vietnã. 1965.
na Ásia. Na ocasião, ficou decidido que o recém
independente Vietnã seria dividido provisoria- de napatrn e de fósforo, bem como bombas
mente em Norte (associado à União Soviética) e guiadas a laser, com grande precisão e poder
Sul (associado aos Estados Unidos) até a realiza- destrutivo. Além disso, usaram aviões para es-
ção das eleições, que ocorreriam em 1956. Con- palhar cerca de 80 milhões de litros de agente
tudo, essa divisão foi mantida após a declaração laranja (herbicida tóxico usado como desfolhan-
de independência do Vietnã do Sul, liderada por te) sobre o território vietnamita. Eles pretendiam
Ngo Dinh Diem, que passou a governar de forma matar a vegetação das florestas, de modo que
ditatorial e contou com apoio político dos Esta- os adversários não pudessem mais se esconder
dos Unidos. Assim, o país permaneceu dividido nas áreas rurais e tivessem dificuldade para se
em República Democrática do Vietnã (Vietnã do alimentar. Além de ser nocivo à flora, o agente
Norte), governada por Ho Chi Minh, comunista, laranja pode causar câncer e doenças genéticas
e República do Vietnã (Vietnã do Sul), capitalista. nos seres humanos.
Na década de 1950, com receio de que os paí- Em 1967, quando Nguyên Van Thieu foi
ses do Sudeste Asiático se tornassem comunistas, o eleito presidente do Vietnã do Sul, a situação do
governo dos Estados Unidos decidiu intervir na re- país era grave, a dependência econômica e militar
gião para impedir o avanço do comunismo, envian- era muito grande e os Estados Unidos não conse-
do, inclusive, armas e dinheiro ao Vietnã do Sul. guiam vencer os vietcongues, os quais, comanda-
Em 1960, no Vietnã do Sul, foi criada a Frente dos por Nguyên Giap, usavam táticas de guerrilha
Nacional de Libertação, composta de pessoas que e o conhecimento das florestas para desestabili-
combatiam o crescente intervencionismo norte- zar as estratégias estad u n idenses.
-americano no país. Os militantes ligados a ten- Apesar de resistir aos ataques norte-ameri-
dências comunistas, cada vez mais popu lares, eram canos, os vietcongues não tinham condições de
chamados de vietcongues. vencer militarmente os Estados Unidos. Ciente
Em 1965, o governo dos Estados Unidos de- disso, o comandante Giap esperava que, com o
cidiu ampliar a atuação no país e enviou tropas prolongamento do conflito e o aumento do nú-
ao Vietnã com o objetivo de apoiar o com balido mero de baixas, a opinião pública norte-america-
governo sulista. Com isso, teve início um período na pressionasse o governo a retirar as tropas.
de forte intervenção na região, que afetou sensi-
velmente o Vietnã do Norte. Napatrn é um agente espessante de líquidos
A ação militar estadunidense marcou a his- que, se misturado com gasolina, produz um gel
tória da humanidade com uma brutal violação pegajoso e incendiário, que adere à pele e pro-
dos direitos humanos. Os norte-americanos ata- voca queimaduras profundas.
caram a porção norte do Vietnã usando bombas
136
O refLexo da guerra
nos Estados Unidos
Influenciada por um discurso de
"luta em favor da democracia e da liber-
dade", inicialmente grande parte da po-
pulação estadunidense havia apoiado a
entrada do país no conflito vietnamita.
Entretanto, com o passar do tempo, o
número de jovens soldados mortos au-
mentou e começaram a ser divulgados os
atos de crueldade cometidos pelas tro-
pas estadunidenses, como os bombar-
deios indiscriminados, o uso de agentes
químicos e o massacre de civis. Conse- Manifestantes caminfram enquanto pedem o fim cfiis hornbardeios em protesto contra a Guerra
no Vietnã. Nova York (EUA), 1967.
quentemente, a população civil america-
na passou a repudiar a participação na guerra. a guerra em 1975, quando os norte-vietnamitas
Milhares de pessoas foram às ruas para pro- ocuparam Saigon, capital do Vietnã do Sul, que
testar contra a intervenção dos Estados Unidos passou a se chamar Cidade de Ho Chi Minh, em
no Vietnã, o que culminou em uma série de mo- homenagem ao famoso líder do Vietnã do Norte,
vimentos reivindicatórios. Foi um período de luta morto em 1969. O Vietnã foi então reunificado
não apenas contra a guerra, mas também por sob o nome de República Socialista do Vietnã.
melhoria nas condições das mulheres, dos negros A derrota da superpotência para uma nação
e da população americana em geral. bélica e economicamente menos provida gerou
O governo norte-americano, pressionado uma espécie de "trauma" aos Estados Unidos.
pela opinião pública e pelos fracassos na guerra, Por outro lado, o triunfo da guerrilha vietcongue
assinou o cessar-fogo em janeiro de 1973, re- inspirou movimentos dessa natureza em diversas
tirando a maioria de suas tropas. Sem a ajuda partes do mundo, como no caso das guerrilhas
estadunidense, o governo de Van Thieu perdeu socialistas da América Latina.
Organizando ideias
Agente Laranja: o legado fatídico dos Exatos 4() anos após o fim da guerra que,
EUA no Vietnã calcula-se, matou 3 milhões de pessoas, as questões
relativas à potência e alcance dessa substância tóxi-
1...] ca seguem em aberto. E são cada vez mais difíceis
Visando destruir as safras do inimigo e dizimar de responder, à medida que nascem no Vietnã uma
as selvas em que se escondiam os vietcongues e o segunda e, agora, uma terceira geração de crianças
Exército do Vietnã do Norte, cerca de 160% do ter- apresentando alta incidência de deficiências como
ritório do país foi bombardeado com toxinas. síndrome de Down, paralisia cerebral e desfigura-
Entre elas, a mais utilizada era a dioxina, apeli- ção facial extrema.
dada agente laranja. Os pilotos da Força Aérea dos
AGENTE LARANJA: o legado fatídico dos EUA no Vietnã. Carta
Estados Unidos o despejavam abundantemente so-
Capital, São Pauto, 1 maio 2015. Disponível em: <'Aww.csrta
bre a vegetação, na proporçào de até 14 quilôme- capital.com.br/internacional/agente-laranja-o-legado
tros em menos de cinco minutos. E. desse modo, fatidico-dos-eua-no-vietna-1631 html>. Acesso em: abr. 2016.
criaram um problema cujas raízes não eram ime-
De acordo com o texto, os efeitos do agente
diatamente visíveis: o impacto dessa carga tóxica
laranja são apenas imediatos? Explique.
sobre a saúde.
[...1 Explique o título da reportagem.
137
Coreia
No início do século XX, a Penínsu- alegando não reconhecer a legitimidade
la Coreana já despertava o interesse de da comissão, decidiu assumir a posição
outras nações, devido, principalmente, à de total controle político na região norte
sua localização estratégica - no Extremo da península. Os Estados Unidos, em con-
Oriente, entre a China e ojapão. Em 1905, trapartida, aumentaram sua influência na
a Coreia foi invadida pelo Japão, tendo parte sul. Essa nova ocupação criou dois
sido anexada formalmente em 1910. Em países: a Coreia do Norte (República De-
1945, com o término da Segunda Guerra mocrática Popular da Coreia, aliada da
Mundial e a derrota japonesa no Oriente, URSS) e a Coreia do Sul (República da Co-
a Península Coreana foi ocupada tanto reia, aliada dos EUA).
pelos Estados Unidos, no sul, quanto pela Em 1950, com o interesse de expan-
União Soviética, no norte. são ideológica e territorial, o Exército Po-
Em 1947, a ONU formou uma comis- pular da Coreia do Norte invadiu a Coreia
são com o intuito de reorganizar e unifi- do Sul. A ONU condenou a agressão e,
car as duas porções da Coreia por meio logo em seguida, sob a liderança dos Es-
de eleições. Entretanto, a União Soviética, tados Unidos, as Nações Unidas enviaram
tropas para a região a fim de expulsar os
norte-coreanos e devolver o comando da
capital, Seul, para os sul-coreanos.
Os Estados Unidos entraram no con-
flito ao lado da Coreia do Sul, enquanto
CHINA a China, com o auxílio da União Soviética,
COREIA
DO NORTE enviou tropas para a zona de combate em
Mar do Leste apoio à Coreia do Norte. A guerra durou
Pyongyang (Mar do Japão)
de 1950 a 1953 e terminou sem um vence-
dor. Os combates vitimaram cerca de 1,2
/ Z. milhão de pessoas, na maioria civis. Em 28
SouI - de março de 1953, as duas Coreias come-
çaram a discutir uma proposta de paz por
COREIA
Mar
intermédio da ONU. Em 27 de julho do
DOSUL
Amarelo mesmo ano, foi assinado o armistício e de-
cretada uma trégua entre elas. O armistício
JAPAO
assegurou um cessar-fogo, mas nenhum
tratado de paz definitivo foi assinado. O
: território coreano permaneceu dividido e
0±1 /Ç
os conflitos geopolíticos continuaram, em-
O 166 332km bora sem envolvimento militar direto.
-
1:16600 A Coreia do Sul, inferiorizada militar-
\_ c-
mente, recorreu à proteção dos Estados
Fmte: DLjBY. G-ys Di Atlas histórico mundial. 3 eci. Barcelone: Sarnosee
Edilonal, 2O 1 3.305. Unidos. Assim, o país obteve muitos recur-
sos dos estadunidenses, aplicados na edu-
A Gtossn:- cação e em desenvolvimento tecnológico.
Armistício: suspensão das hostitidades entre be- Além disso, foi paulatinamente modifican-
ligerantes, como resultado de uma convenção, sem, do seu sistema político, tendo passado por
contudo, pôr fim à guerra; trégua. diversas ditaduras até adotar medidas mais
democráticas de eleição e governo.
138 -tuto
Nos anos 1990,
as taxas de crescimento econômico. Mísseis de longo alcance e pos-
econômico sul-coreanas foram elevadas. sivelmente armas nucleares fazem parte do
A ascensão da economia nesse período evi- arsenal do país, que tem sido governado
denciou-se quando o país, em parceria com desde 1945 por membros de uma mesma
ojapão, sediou os jogos da Copa do Mundo família: Kim Il-Sung (1948/1994), KimJong-ll
da Fifa em 2002. Contudo, greves, escândalos (1994/201 1)e KimJong-Un, a partirde 2011.
financeiros, desnível social e descontentamen- Desde 2000, as duas Coreias nego-
to popular também se destacaram no país. ciam uma possível aproximação, mas a
Com um sistema educacional conside- região vive sob tensão constante. Em 2007,
rado muito eficiente, a Coreia do Sul se so- seus líderes chegaram a firmar um acordo
bressai como um grande centro de inovações definindo questões relativas à paz perma-
tecnológicas; por outro lado, parte da popu- nente, rompido, entretanto, quando a Co-
lação sofre com a falta de seguridade social, reia do Norte fez alguns testes de mísseis.
que atinge principalmente os mais idosos. Desde o incidente, intensificou-se o clima
A Coreia do Norte vive sob um regime de tensão entre os países.
fechado, inspirado no social is-
mo, fortemente militarizado e
com uma economia fraca. Ela
investe tanto em educação e
saúde quanto no desenvolvi-
mento de tecnologia bélica e
nuclear. Além disso, há poucas
informações disponíveis sobre
a vida na Coreia do Norte,
pois o governo limita as ativi-
dades da imprensa nacional
1'
e estrangeira no país, bem
como impõe restrições à ação
de diversos organismos inter-
nacionais.
Apesar das dificuldades
econômicas, grande parte do
orçamento norte-coreano é
gasto com as Forças Arma-
das. Para alguns especialistas,
as constantes ameaças aos Á 'i !
vizinhos é uma forma de os Estação do metrã de Seul (Coreia do Suã. 21) 1 t. O rnetrõ cio Seul é um dos mais movimentados do
mundo, chegando a transportar cerca de 8 milhões de passageiros por dia, o dobro aproximadamente do
governantes obterem auxílio
transportado pelo metrô de São Paulo.
Qual é a situação das Coreias hoje? Em grupo, pesquisem informações atualizadas sobre a região
nos aspectos político, econômico e social. Vocês podem dividir o assunto em tópicos, e cada integrante
será responsável por um deles.
Apresentem o resultado em sala de aula e elaborem um ou mais textos jornalísticos mostrando
aspectos que chamaram a atenção na pesquisa ou que resumam a situação atual.
139
Irã e Egito Estados Unidos, ele defendeu uma coexistência
pacífica, com a manutenção das respectivas áreas
No Irã, área de influência norte-americana, de influências de cada país. No bloco socialista,
foi derrubado em 1953 o primeiro-ministro Mo- retomou as relações com o Marechal Tito, gover-
hammed Mossadegh, que havia nacionalizado nante da Iugoslávia, e incentivou a derrubada de
a exploração de petróleo no país. Chamada de governantes comprometidos com o stalinismo na
Operação Ajax, a atuação conjunta do governo Europa Oriental.
britânico e da CIA foi vital para a deposição do Na Polônia, em 1956, em meio a agitações
governante iraniano. populares, a ala stalinista foi retirada do poder.
Foram realizadas reformas superficiais e não hou-
ve intervenção de tropas soviéticas.
Em meados de agosto, [Kermit] Roosevelt e
Na Hungria, após a queda do stalinista Má-
sua equipe de agentes iranianos estavam a pos-
tyás Rákosi e a ascensão do reformista Imre Nagy,
tos e prontos para atacar. Eles haviam empur-
rado o Irã para a beira do caos. Jornais e líde- a população, sobretudo operários e estudantes,
res religiosos exigiam a cabeça de Mossadegh. não queria a volta do capitalismo, mas sim um
Protestos e distúrbios organizados pela CIA socialismo democrático e o fim da dominação
haviam transformado as ruas em campos de soviética no país. Ocorreram manifestações po-
batalha. Propaganda antigovernamental, nas pulares que exigiam a retirada das tropas soviéti-
palavras de Wilber, "jorrava das impressoras cas de Budapeste e a realização de eleições gerais
da Agência e eram levadas por via aérea para
com candidatos de vários partidos.
feerã". Mossadegh estava mais fraco e isolado
As manifestações surtiram efeito. O novo
do que nunca.
governo húngaro radicalizou sua posição abolin-
KINZER. Stephen. Todos os homens do xá: o golpe norte-
-americano no Irá e as raízes do terror no Oriente Médio. Rio do o regime de partido único e declarando que o
de Janeiro: Bertrand Brasil, 2004. p. 187. país se retiraria do Pacto de Varsóvia. A reação
da União Soviética foi imediata. A cidade de Bu-
dapeste foi invadida. O povo resistiu com armas,
No Norte da África, em 1956, eclodiu a mas foi vencido. Em torno de 20 mil pessoas fo-
Guerra de Suez, com a ocupação do recém- ram mortas, milhares deixaram o país e 350 fo-
-nacionalizado Canal de Suez, no Egito, por for- ram enforcadas. lmre Nagy foi condenado e exe-
ças israelenses, britânicas e francesas. A ação cutado em 1958.
não contou com o apoio do Estados Unidos e, Em 1949, o território da Alemanha foi di-
muito menos, da União Soviética, que era alia- vidido em dois Estados: República Federal da
da de Gamal Abdel Nasser, governante egípcio. Alemanha (Alemanha Ocidental), capitalista,
Diante do embate, a União Soviética ameaçou e República Democrática Alemã (Alemanha
usar armas nucleares caso os invasores não re- Oriental), socialista. A capital, Berlim, que fi-
tirassem suas tropas. Orientados pelos Estados cava na porção Oriental, foi dividida em quatro
Unidos, os invasores recuaram pouco tempo áreas de influência, controladas por estaduni-
depois, em 1957. denses, franceses e britânicos de um lado, e por
soviéticos, de outro.
140
Foi sem dúvida um instrumento de propaganda modelo soviético. Na política externa, ensaiavam-
do Ocidente, pois o raciocínio era o seguinte: se -se passos no sentido de uma soberania efetiva do
o socialismo fosse melhor, deveria ser construído país. Buscava-se a construção de um "socialismo de
um muro para impedir que as pessoas entrassem rosto humano". Não foi o que aconteceu, pois esse
e não para impedir que elas saíssem. movimento, chamado de "Primavera de Praga", foi
esmagado por uma ação militar russa.
Mais uma vez, a intolerância venceu, repre-
sentada pela burocracia moscovita e por seus
aliados no país. Na noite de 20 de agosto de
1968, tanques, aviões e 200 mil soldados do Pac-
to de Varsóvia entraram em Praga, sob forte resis-
tência popular.
Casal que mora na parte ocidental de Berlim levanta seus filhos gêmeos
para que os avós possam vê-los do outro lado. setembro de 1961.
141
Ascensão do sociaLismo em Cuba
Em Cuba, uma revolução popular causou Nesse contexto de enfrentamento, o gover-
vários problemas aos interesses norte-americanos. no dos Estados Unidos decretou um bloqueio
Antes dominada por Fulgêncio Batista, ditador econômico e rompeu relações diplomáticas com
apoiado pelos Estados Unidos, a ilha foi palco a ilha caribenha. A CIA treinou elementos con-
de ações de guerrilheiros, que, liderados por Fidel trarrevolucionários que deveriam desembarcar
em Cuba e derrubar Fidel Castro, que, diante de
_
Castro, Ernesto "Che" Guevara e Camilo Cienfue-
gos, tomaram o poder em janeiro de 1959. uma grande concentração popular em 16 de abril
de 1 961, havia proclamado o caráter socialista da
Sob a liderança de Fidel Castro, o governo re-
Revolução Cubana.
volucionário confiscou propriedades, expropriou
Em 17 de abril ocorreu a invasão da Baía dos
empresas norte-americanas e tratou com rigor os
Porcos, repelida pelo exército revolucionário em 72
membros do antigo regime, o que levou parte da
horas. Oitenta invasores morreram e 1179 foram
mídia internacional a criticar duramente Fidel, re-
presos. O jornal The New York Times divulgou que
presentando-o como um tirano que suprimia a de-
os invasores haviam sido treinados, equipados e
mocracia e feria os legítimos interesses da nação. financiados pelo governo norte-ame-
ricano. Soube-se ainda que a empresa
United Fruit cedera aos contrarrevolu-
- cionários dois navios mercantes para
o transporte de armas e homens. No
ano seguinte, por pressão dos EUA,
Cuba foi expulsa da Organização dos
Estados Americanos (OEA).
PEm outubro de 1962, um avião de
espionagem dos Estados Unidos, o U-2,
fotografou plataformas para mísseis
que os soviéticos estavam instalando
em Cuba. O presidente John Kennedy
decretou bloqueio naval à ilha governa-
da por Fidel Castro. Navios soviéticos,
apoiados por submarinos nucleares,
aproximavam-se da região. O mundo
esteve muito próximo de uma confla-
Líder cubano, Fian ,:irn, LSCin nn:etico. durante encon tíü na
Organização das Nações Unidas, em 1960.
gração nuclear. Felizmente, Kruschev e
Kennedy entraram em acordo.
[ ... } A perspectiva de um ou dois mísseis sovié- pelos dois lados durante a Guerra Fria representa-
ticos atingirem alvos na América foi suficiente vam para ambos uma ameaça maior do que os Es-
para persuadir Kennedy a se comprometer publi- tados Unidos e a União Soviética significavam um
camente, em troca da concordância de Kruschev para o outro. Esta inacreditável sucessão de even-
em retirar suas armas de Cuba, a não fazer novas tos, hoje vista universalmente como a que mais
tentativas de invadir a ilha. Kennedy secretamente perto levou, durante a segunda metade do século
também prometeu retirar os mísseis americanos de XX, a uma terceira guerra mundial, proporcionou
alcance intermediário da Turquia, o que Kruschev um relance de um futuro que ninguém desejava: o
queria que fosse anunciado ostensivamente como de um conflito que se projetaria além dos limites,
parte do acordo. E ... ] da razão e da possibilidade de sobrevivência.
Mas a crise dos mísseis em Cuba [...] conven-
GADDIS, John Lewis. História da Guerra Fria. Rio de Janeiro:
ceu a todos os envolvidos [... 1 que as armas criadas
Nova Fronteira, 2006. p. 75.
- 142 'nc 5
divulgadas ao mundo pelos norte-americanos.
Reação capitaLista Os excessos de McCarthy - que chegou a acusar
No começo da década de 1950, em razão de comunistas o general George Marshall e o fí-
da Revolução Chinesa de 1949 (episódio em que sico Robert Oppenheimer, chefe do projeto que
comunistas assumiram o poder na China), da ex- levou os Estados Unidos a desenvolver a bomba
plosão da primeira bomba atômica soviética e da atômica - provocaram sua queda, porém os da-
Guerra da Coreia, desencadeou-se nos Estados nos já eram enormes.
Unidos um temor crescente do chamado "pe- Na América Latina a ameaça de "cubaniza-
rigo vermelho". Nesse contexto foi criada uma ção", ou seja, de que o socialismo se espalhasse
subcomissão no senado norte-americano para pelo continente, levou os sucessivos governos
investigar pessoas supostamente envolvidas em dos Estados Unidos a apoiar regimes ditatoriais -
atividades contrárias aos interesses do país. Em como o de Somoza, na Nicarágua - e ajudar gru-
janeiro de 1951,0 senadorJoseph McCarthy as- pos reacionários a abalar regimes democráticos
sumiu a presidência dessa subcomissão e iniciou que estivessem fazendo reformas moderadas,
um conjunto de ações que ficou conhecido como mesmo sem questionar o sistema capitalista -
macarthismo. como João Goulart, no Brasil. Isso deveria ser
Começou então uma moderna "caça às bru- feito por meio das agências de notícias, do
xas": pessoas perderam os empregos, reduziram- cinema, da televisão, dos meios de comunicação
-se as liberdades civis, jornalistas mais críticos de forma geral, destilando uma visão manique-
foram perseguidos, políticos liberais sofreram ísta de mundo. De um lado, estava o mundo
acusações levianas, professores foram demitidos e livre sob a liderança dos EUA; do outro lado, o
até Hollywood sofreu consequências, com o afas- totalitarismo sob a égide da URSS e seus aliados.
tamento de atores, diretores, técnicos, roteiristas No contorno da Guerra Fria, o posiciona-
etc., considerados "perigosos" à democracia. mento crítico, tanto de um lado como do outro,
Apoiado por setores do Partido Republica- era desqualificado em virtude de seu viés ideológi-
no, o macarthismo foi um movimento conserva- co. No Brasil, durante a Ditadura Militar, qualquer
dor que depôs contra as credenciais democráticas pessoa podia ser classificada como comunista
lealdade de um
mericano... mais
rto do que a traição
munista." Pôster
lado pela Divisão de
::forfllaÇãü dos Estados
Unidos em 1956.
A
Maniqueísmo: filosofia religiosa pautada em preceitos dualistas, que dividem o mundo em bom e mau.
— 144 Hl,o 5
Movimentos sociais e contracuLtura
Entre as décadas de 1950 e 1960 houve gran- Após intensos conflitos, entre os anos de 1964
de expansão econômica, impulsionada pela evo- e 1967 diversas leis foram aprovadas com o intuito
lução tecnológica e pela sociedade de consumo, de dar um fim àquela situação. Foram gradativa-
principalmente nos países capitalistas. No entan- mente implantadas ações afirmativas, ou seja, po-
to, a distribuição de renda continuava desigual. líticas públicas destinadas a reduzir a desigualdade
Nos Estados Unidos, a maior potência ca- por meio da inclusão social dos afro-americanos.
pitalista, estima-se que em 1960 um quinto da
população estava abaixo da linha oficial da po-
breza. Afro-americanos, indígenas e imigrantes
O feminismo
latino-americanos formavam a maior parte desse O movimento feminista ganhou grande impul-
contingente, o que agravava a cultura de segrega- so nos EUA em meados do século XX. Em um perío-
ção racial do país. do de efervescência política, revolução dos costumes
e agitação cultural, as mulheres foram à luta em bus-
ca da emancipação, reivindicando maior espaço no
As Lutas contra o racismo mundo do trabalho e na sociedade em geral.
Um dos marcos desse período foram as lu- Os discursos contra a opressão e os diversos
tas em prol dos direitos civis da população afro- modos de exploração tomaram forma por meio
-americana. Nesse contexto destaca-se o pastor das lutas de muitas mulheres, que buscavam uma
Martin Luther Kingjr., que, inspirado nas ideias transformação na sociedade em sentido amplo:
de resistência pacífica de Mahatma Gandhi, or- social, econômico, político e ideológico.
ganizou manifestações não violentas e ações de Na busca pela liberdade e direito à cidada-
desobediência civil em prol da igualdade de direi- nia plena, o direito de votar e se candidatar foi
tos entre brancos e negros nos Estados Unidos. uma das primeiras demandas femininas. Por isso,
Na década de 1960 esse movimento cresceu durante muito tempo, o movimento feminista foi
com a adesão de jovens estudantes. Durante o pe- confundido com o movimento sufragista.
ríodo das manifestações houve intensa repressão, Outra bandeira de luta esteve centrada na
principalmente nos estados do sul, que não aceita- reivindicação dos direitos sociais, que englobam
vam o fim da segregação racial. Um dos episódios os direitos econômicos e culturais, o direito de re-
mais marcantes aconteceu em 1963: cerca de 200 ceber salários iguais aos dos homens e o acesso
mil pessoas realizaram a "Marcha sobre Washing- à educação escolar, que por séculos foi negada à
ton", durante a qual Luther King fez um discurso maioria das mulheres.
que se tornou símbolo dessa luta. A reação contrá- O movimento feminista ganhou as ruas e se
ria era comu mente marcada por intensa violência, espalhou para outros lugares, promovendo grande
com espancamentos, prisões e mortes. número de mobilizações pelo mundo. A partir de
1975 começaram a acontecer Conferências Mun-
diais, em que mulheres de várias partes do planeta
9
8 discutiam as políticas públicas específicas para as
mulheres no que se refere a direitos reprodutivos,
saúde de um modo geral, educação e representação
política. Essa internacionalização do movimento
, possibilitou a inserção de novas frentes de lutas.
Iartin Luther King em discurso na cidade de Selma, EUA, 1965. Luther King
foi um dos niais influentes defensores da igualdade de direitos entre brancos e
negros nos Estados Unidos. Vencedor do Prémio Nobel da Paz em 1964, foi um
dos muitos ativistas que se posicionaram contra a Guerra do Vietnã.
146
.:omício pela paz e
eIo fim da Guerra
do Vietnã no Central
Park, Nova York. 27
abr. 1968.
temas na luta por mudanças, desencadeando o ganharam força com a difusão de movimentos po-
movimento conhecido como contracultura, que líticos e culturais, como o Tropicalismo.
visava a maior liberdade social, sexual e ao fim do Independentemente de locais, tipos, reivindi-
preconceito contra negros e homossexuais, entre cações e resultados dos movimentos deflagrados
outras mudanças. em 1968, sua visibilidade serviu como alerta para
Essas reações e os novos conceitos a respei- a necessidade de revisão de padrões políticos, eco-
to da vida em sociedade que ecoaram pela Europa nômicos e comportamentais em muitos lugares,
e Estados Unidos repercutiram em muitos outros o que estimulou uma reorganização das relações
países, inclusive os da América, que aderiram às sociais pelo mundo. Tal fato abriu espaço para a
reivindicações pela revisão dos direitos dos cida- discussão - que permanece atual - acerca da cons-
dãos. No Brasil, a contracultura e as manifestações trução de uma sociedade mais tolerante.
Organizando ideias -
Leia o texto e faça o que se pede. relações de poder e hierarquia nos âmbitos público e
O feminismo que eclode nas décadas de 1960 e privado que estavam sendo desafiadas.
1970 nos Estados Unidos e na Europa está estreita- PINTO, CéU Regina Jardim. Uma história do
mente relacionado com toda efervescência política feminismo no Brasil São Paulo: Editora Fundação
e cultural que essas regiões do mundo experimenta- Perseu Abramo, 2003. p. 41-42.
ram na época, quando se formou um caldo de cultura Relacione os movimentos sociais ocorridos
propício para o surgimento de movimentos sociais.
nas décadas de 1960 e 1970 com as questões
[.1 O movimento jovem da década de 1960 não
políticas e econômicas do período.
foi apenas altamente inovador em termos políticos;
foi, talvez, antes de tudo um movimento revolucio- De acordo com a autora, como pode ser
nário na medida em que colocou em xeque os va- entendido o movimento jovem da década de
lores conservadores da organização social: eram as
1960? Explique.
147
O BrasiL e a Guerra Fria
Em 1947, o Brasil atrelou-se à política populista e anti-imperialista, não agradou
externa dos Estados Unidos, e como reflexo aos empresários nem às autoridades dos
dessa subordinação o governo do presidente Estados Unidos, gerando pressões, prin-
Eurico Gaspar Dutra (1946-1950) rompeu cipalmente de natureza econômica, sobre
relações diplomáticas com a União Soviética, ele. Nesse período, grupos oposicionistas
decretando a ilegalidade do Partido Comu- receberam dinheiro para ridicularizar o
nista do Brasil (PCdoB). Os parlamentares governo na mídia. Nas eleições, candidatos
eleitos pela legenda comunista tiveram seus conservadores eram contemplados com
mandatos cassados. Um ministro de Dutra recursos diversos para, quando eleitos,
chegou a dizer que tudo que "era bom para defenderem posições em consonância com
os Estados Unidos era bom para o Brasil". Washington.
Na ONU, os votos brasileiros fortaleciam os Com o triunfo da Revolução Cubana,
interesses dos que coordenavam a política grau de interferência aumentou. O Brasil,
exterior estadunidense. assim como os demais países da América
O Tratado Interamericano de Assistên- Latina, participou da chamada "Aliança
cia Recíproca (Tiar), assinado em 1947 pelos para o Progresso" (programa de cooperação
norte-americanos e pelos países da América política e econômica), concebida pelo presi-
Latina, no Rio dejaneiro, era um instrumento dente Kennedyvisando impediro avanço do
militar de ajuda coletiva em caso de agressão comunismo no continente.
externa a qualquer signatário. Esse acordo A Aliança fracassou, pois os problemas
também era uma maneira de atrelar os econômicos e sociais nas Américas só se agra-
países latino-americanos à política externa de varam. Mais tarde, em 1969, ela foi extinta
Washington. A formação de militares durante pelo presidente Nixon.
a Guerra Fria tornou conservadoras as Forças Em 1955, representantes de diversos
Armadas da maioria dos países do continen- países asiáticos e africanos reuniram-se em
te, muitas vezes confundindo movimentos Bandung, na Indonésia, em um evento que
reformistas com movimentos comunistas. ficou conhecido como Conferência de Ban-
Nesse sentido, grande parte dos golpes dung. Na ocasião, os participantes posicio-
militares foi desfechada com o discurso de naram-se publicamente contra o racismo e a
"salvar o mundo livre da ameaça comunista". dominação colonial. Além disso, defenderam
O segundo mandato de Getúlio Vargas princípio da autodeterminação dos povos,
(1951-1954), por seu caráter nacionalista, dando início ao Movimento dos Países Não
Alinhados, ou seja, que não estavam atrela-
dos nem a Moscou, nem a Washington. Essa
visão teve impactos na América Latina.
Em 1961,0 presidente eleitojânio Qua-
dros procurou adotar uma política externa
independente, mantendo plenas relações
diplomáticas e comerciais com os países do
bloco socialista, inclusive se aproximando
Encontro entre do então fechado regime chinês liderado por
os presidentes Mao Tsé-Tung.
Truman (à
esquerda) e Suas relações cordiais com Fidel Castro
Dutra em visita e a condecoração do guerrilheiro argentino
do mandatário
norte-americano Ernesto Che Guevara, líder da Revolução
ao Brasil. Rio Cubana, foram marcos da crise que culmi-
de Janeiro (RJ),
1947. nou em sua renúncia.
148 ijlü'3
O governo do presidente João Goulart
(1961-1 963) caracterizou-se pelo clima de en- ocidental se tornasse urna segunda Cuba.
Começou a fluir dinheiro da CIA
frentamento entre as forças conservadoras e as
para a vida política do Brasil. Um dos
progressistas. As Reformas de Base, sobretudo canais era o Instituto Americano para
a agrária, preocupavam setores da sociedade Desenvolvimento de I'rabalho Livre
brasileira contrários a tais mudanças. A classe Brasileiro, da AFI.-CIO. [ ... j
média, os empresários, os grandes veículos de Outro era o Instituto para Estudos de
comunicação, amplos segmentos da Igreja Pesquisas Sociais, uma recém-formada or-
Católica e das Forças Armadas, bem como as ganização de líderes empresariais e cívicos
do Brasil. Os receptores eram políticos e
em presas estrangeiras e o governo dos Estados oficiais militares que se opunham ao pre-
Unidos, opunham-se a tais reformas e procu- sidente Goulart e que mantinham íntimo
ravam combatê-las de várias maneiras. contato com o novo adido militar ameri-
A fim de conter "a onda esquerdizante", cano no Brasil - Vernon Walters, futuro
a direita organizou-se para disputaras eleições vice-diretor da central de inteligência. O
de 1962. O Instituto Brasileiro de Ação Demo- retorno desses investimentos seria pago
em menos de dois anos.
crática (Ibad) e a Ação Democrática Popular As fitas da Casa Branca, transcritas
(Adep), com o apoio dos empresários, da CIA em 2001, registram conversas diárias so-
e das multinacionais, financiaram a campanha bre os planos de ação secreta que ganha-
de vários deputados e governadores. ram forma no Salão Oval.
O golpe que derrubou o presidenteJoão WEINER um. Legado de cinzas: urna história da
Goulart em 1964 teve suas causas internas; CIA Rio de Janeiro: Record, 2008. p. 219.
Primeira página do
presidente. Ele não deixaria que o Brasil
jornal Diário do
ou qualquer outra nação do hemisfério Pernambuco, 1" de
abril de 1964.
149 ffl
O governo militar não decepcionou seus fi- Washington não houve críticas às violações aos
nanciadores. A reforma agrária foi desprezada. direitos humanos e muito menos ao sepultamen-
As multinacionais tiveram autorização total para to das liberdades democráticas. Todas as armas
agir no país. No plano externo, o Brasil rom- eram consideradas válidas no constante ataque
peu as relações diplomáticas com Cuba e Chi- ao "perigo vermelho", personificado na figura
na, votando na ONU de forma subserviente aos dos opositores "comunistas".
norte-americanos. Por parte das autoridades de
Organizando ideias
150 tJ(O
A Guerra Fria e os esportes
O uso dos esportes com objetivos políticos
não era novidade, pois Hitler fizera isso nosJogos Enquanto isso, jornais se concentravam nas "ba-
Olímpicos de 1936 (os alemães obtiveram 32 me- talhas de gigantes" e publicavam estatísticas diá-
rias do número dos pontos não oficiais ganhos
dalhas de ouro, enquanto os norte-americanos
pelos Estados Unidos e pela União Soviética.
ficaram com 24 delas). Mussolini havia feito
As comparações do número de medalhas
a mesma coisa nos campeonatos mundiais de olímpicas ganhas pelos Estados Unidos e pela
com a Itália sagrando-se bicampeã
1934 e 1938, União Soviética - ou, seguindo a admissão de
de futebol. Durante a Guerra Fria, soviéticos e equipes separadas da Alemanha Ocidental e Ale-
norte-americanos usaram as competições espor- manha do Leste nos Jogos Olímpicos de 1968,
tivas, sobretudo os Jogos Olímpicos, para "pro- as medalhas ganhas pelas duas Alemanhas -,
var" que seus sistemas econômicos e sociais eram vieram a ser muito importantes, porque ganhar
medalhas tornou-se um símbolo não somente
superiores. Por meio de grandes investimentos
do orgulho nacional mas também da superio-
nas mais variadas categorias, muitas delas sem
ridade de um sistema político sobre o outro.
tradição em seus respectivos países, tentavam Como muitos governos passaram a encarar o
suplantar o oponente, pouco importando o tão sucesso como uma arma da propaganda na bri-
decantado espírito olímpico. ga entre Leste-Oeste, assim aqueles atletas que
As drogas legítimas e ilegítimas foram am- emergiram como vencedores foram tratados
plamente empregadas, sendo hoje impossível como heróis nacionais, com todas as recompen-
precisarmos em que escala. Na verdade, o que sas - fornecidas às vezes por governos nacionais.
importava era ganhar, mesmo que a saúde dos WADDINGTON, Ivan. A história recente do uso de drogas
atletas fosse colocada em risco e a competição nos esportes: a caminho de uma compreensão sociológica.
O: GEBARA, Ademir; PILATTI. Luiz Alberto (Org.l. Ensaios
se tornasse desleal. sobre história e sociologia nos esportes. Trad. Viviane Car-
valho Bejarano. Jundiaí: Fontoura. 2006. p. 29.
151
76_80 83\
/
—22
/
/
0'
EUA URSS
Organizando ideias
Com base nas informações anteriores e em Havia grande influência da política sobre os
seus conhecimentos, faça o que se pede. esportes. Isso ainda ocorre? Explique sua
152
o fim da Guerra Fria
Na década de 1980, o presidente Ronald Reagan, que pautava suas atitudes no chamado
Reagan reaqueceu a Guerra Fria: acelerou a corrida "combate ao comunismo".
armamentista, chamou a União Soviética de "Impé- O conservadorismo estava em alta. A eleição
rio do Mal" e anunciou a instalação de um sistema do polonês Karol Wojtyla como papa, sob o nome
antim(sseis, chamado de "guerra nas estrelas". de João Paulo II, trouxe problemas para o regime
Reagan também apoiou com armas grupos polonês, haja vista a luta ocorrida nos anos 1950
contrarrevolucionários que combatiam o go- entre católicos - liderados por Karol - e socialistas,
verno progressista instalado na Nicarágua em que, quando construíram a cidade de Nowa Huta
1979 (a Frente Sandinista de Libertação Nacio- ("nova fábrica de ferro"), deixaram de lado qual-
nal derrubara a ditadura de Anastásio Somoza, quer espaço para os cultos religiosos, enfrentando
aliado de Washington). Além disso, armou os grande resistência da população católica. Tal fato
militares salvadorenhos, que impediram a Fren- enfraqueceu a imagem do governo socialista.
te Farabundo Martí de Libertação Nacional de Ronald Reagan nos Estados Unidos, Margaret
chegar ao poder, e invadiu a ilha de Granada Thatcher no Reino Unido e João Paulo li no Va-
para evitar que uma "nova Cuba" aparecesse no ticano desempenharam papéis significativos na
cenário caribenho. aceleração do processo de decomposição do já
O apoio aos mujahediri que enfrentavam os enfraquecido "socialismo real" (expressão criada
soviéticos no Afeganistão e aos diversos governos em oposição ao socialismo tal como esboçado
- ditatoriais ou não - contrários aos movimentos por seus teóricos, que previam o fim das grandes
revolucionários também esteve no programa de desigualdades entre os seres humanos).
Roiiad
153
Do lado soviético, a situação geral não era queda do muro representou a possibilidade de
boa. Em 1964, Nikita Kruschev fora afastado em circulação livre da população alemã por seu
virtude do fracasso de sua política agrícola. Emer- país, numa tentativa de assimilação de outra
giu então a figura do estadista Leonid Brejnev. forma de vida. Ao mesmo tempo, representou o
A Era Brejnev caracterizou-se pela crescente bu- desmoronar do maior símbolo de resistência ao
rocratização, pela gradativa estagnação econô- capitalismo e, para muitos, o fim do chamado
mica e por uma corrupção acentuada. Enquanto "socialismo real".
os trabalhadores enfrentavam filas para comprar
gêneros de primeira necessidade e raramente ti-
nham acesso a bens de consumo duráveis, a elite O desmantelamento do Muro de Berlim por
partidária consumia produtos importados, vivia seu povo precipitou a reunificação da Alema-
nha. As consequências foram controladas por
em casas de campo confortáveis, gozava as férias
Kohl (Primeiro-Ministro da Alemanha Ociden-
ciden-
em balneários caros e aproveitava o luxo de ho-
tal) e Gorbatchev. O primeiro aproveitou sua
téis em viagens oficiais. A credibilidade do regime
oportunidade. Depois de alguma hesitação ini-
se esva(a gradativamerite.
cial e incentivado por Washington, ele aprovou
A falta de competitividade econômica, os a queda do muro, anexou a Alemanha Oriental
gastos da corrida armamentista, o financiamento à Ocidental e avançou, para colocar nos bol-
de aliados falidos e os rancores de grupos nacio- sos de alemães orientais, marcos reais no lugar
nalistas foram minando o regime. A invasão do dos marcos sem valor, à taxa de um por um. A
Afeganistão e os gastos crescentes provocados Alemanha Oriental foi transformada em cinco
pelo acirramento da Guerra Fria levaram a União Linder [países] da República Federal e as outras
Soviética a uma grave crise. A ascensão de Mi- quatro potências de ocupação renunciaram a
seus poderes em Berlim. [ ... J
khail Gorbatchev em 1985 trouxe esperanças de
Mais coisas tinham vindo abaixo além do
recuperação pela peresrroika (reestruturação) da
muro, também desabara a economia da Alema-
vida econômica e social. Os principais objetivos
nha Oriental. Os salários no leste cresceram a
eram produzir mais, melhorar a qualidade das níveis ocidentais, completando a destruição das
manufaturas, desburocratizar o processo produ- indústrias dessa região, enquanto os custos da
tivo, descentralizar as decisões, dar flexibilidade República Federal foram inesperadamente al-
às empresas estatais, democratizar as decisões tos (aproximavam-se de 200 bilhões de dólares
e desacelerar a corrida armamentista. "Precisa- por ano) e os alemães orientais que recebiam
mos de mais manteiga e menos canhões", afir- deutschmarks [ marcos alemães] também perde-
mava Gorbatchev. Ele também implementou a ram seus empregos. A unificação era uma desig-
glasnosc (transparência), que consistia em uma nação equivocada. A Alemanha Oriental era não
só muito mais fraca como muito menor do que
abertura política.
sua equivalente ocidental. Dezessete milhões
As reformas econômicas não deram os re-
de pessoas foram mescladas com 63 milhões, e,
sultados esperados. O agravamento da crise eco-
mesmo depois de 10 anos e enormes subsídios,
nômica e social, associado à abertura política a produção em uma Alemanha unificada era
em um país que estivera fechado durante mais de apenas 10% acima da que existia na Alemanha
70 anos, teve consequências catastróficas para o Ocidental, e a contribuição da unidade para as
regime, que entrou em colapso. exportações era de meros 2%.
No Leste Europeu, os Estados socialistas en-
CALV000RESSI, Peter. PoLítica mundiaL a partir de 1945.
frentavam uma crise de identidade e, sobretudo, Porto Alegre: Penso, 2011 p. 257-2513.
de credibilidade. Um a um desses regimes manti-
dos pela força caíram de forma pacífica, com exce-
ção da Romênia, onde o presidente Nicolau Ceau- Após a queda do muro, na década de 1990,
cescu resistiu e acabou sendo executado. a Rússia vivenciou caos econômico e social. A Era
O ápice desse declínio ocorreu com a Gorbatchev era bem vista no Ocidente, mas pouco
queda do Muro de Berlim em 1989, entendi- popular nas repúblicas que formavam a ex-União
da como marco do término da Guerra Fria. A Soviética, o que levou a seu fim.
- 154
Primeira parte cio Muro de Berlim sendo demolida por urna multidao era 10 de novembro de 1 dod
Como alternativa ao regime socialista, o capi- Cuba, onde os governos procuraram manter regi-
talismo foi restaurado. Uns poucos, em sua maio- mes inspirados nas ideias socialistas.
ria ligados ao antigo regime, tornaram-se do dia
para a noite empresários ricos. A maior parte da 1 i. El iT 1rk1 iTi ri-r P-'L
155
Debate interdisciplinar
Além disso, é preciso manter a estabilidade
A Guerra Fria e a do foguete para que ele não saia de sua trajetó-
corrida espaciaL ria. Dois aspectos são fundamentais para isso: o
centro de massa (CM) e o centro de pressão (CP).
O clima de rivalidade da Guerra Fria gerou,
O CP deve estar abaixo do CM, o qual, por sua
além da batalha pela influência ideológica no
vez, deve estar localizado mais perto da ponta do
mundo, uma disputa acirrada no meio tecnoló-
foguete. Assim, mesmo que sofra alguma turbu-
gico-científico conhecida popularmente como
lência, o foguete manterá sua trajetória estável.
corrida espacial. Pesquisas científicas voltaram-se
O CP é o ponto onde a resultante das forças
para a construção de mísseis de longo alcance,
aerodinâmicas atua (vamos considerar apenas a for-
levando ao desenvolvimento da tecnologia que
ça de atração gravitacional, pois o nariz do foguete
criou os foguetes e deu início a essa corrida.
diminui a resistência do ar). Esse local depende do
comprimento da ponta do foguete, do comprimento
do foguete e do formato e dimensões das aletas.
nariz
torça de impulsâo
Forças 1 isicas
IM
presentes no
lançamento de
um foguete.
torça de arrasto
aleta
Lançando foguetes
Aproveitando a análise desse contexto histórico,
podemos nos voltar ao campo da Física envolvido no Agora que você já conhece um pouco da física
lançamento de foguetes. Considerando o momento envolvida no lançamento, pode construir e lançar o
de lançamento de um foguete, temos uma aplicação próprio foguete. Atenção: antes de realizar o lança-
direta da terceira lei de Newton, também conhecida mento, observe as normas de segurança elaboradas
como lei de ação e reação. O combustível é injetado pela Agência Espacial Brasileira, disponíveis no sire:
em uma câmara de combustão, a qual expele os ga- <http://aebescola.aeb.gov.br/index.php/cursos/1 0
ses para trás numa abertura traseira (ação). No mo- -aeb-escola/58-cod igo-foguete> (acesso em: abr.
mento em que são expelidos, os gases dão impulso 2016). É importante escolher um lugar aberto, distan-
ao foguete, impelindo-o para a frente (reação). te de pessoas, casas e fios elétricos.
— 156
Encha a garrafa que não foi cortada com
Materíat:
aproximadamente 5 dedos (ou 400 ml)
2 garrafas descartáveis de refrigerante (PET) de água.
de dois litros;
cartolina ou papel-cartão; Fure a rolha com a agulha da bomba e co-
loque-a na abertura da garrafa que ficará
fita adesiva transparente;
1 rolha de cortiça grande; para baixo.
ar comprimido
agulha
agua da bomba
bomba
T± base '
rolha
, da bomba
Lançamento do foguete.
Montagem do foguete.
Atenção: antes de começar, observe as reco- Qual conceito físico está diretamente liga-
mendações de segurança na página anterior. do ao lançamento do foguete?
Corte a parte de cima de uma das garrafas
Durante o lançamento, você consegue iden-
e encaixe-a na outra, colando-a com a fita
tificar alguma força atuando nele? Qual?
adesiva.
Com a cartolina ou o papel-cartão na Por que as aletas e o nariz de um foguete
forma de trapézio, faça os suportes que são importantes no lançamento?
manterão o foguete em pé.
157
Responda no caderno
Testando seus conhecimentos
1. (UFSC-SC) Ao final da Segunda Guerra, muitas verdadeira batalha contra o senador Joseph
foram as negociações entre os vencedores e, McCarthy e expor publicamente sua conduta
nesse contexto, a Europa foi dividida em duas duvidosa.
áreas: a parte oriental ficou sob a influência Historicamente, o macarthismo é definido
da então União Soviética, enquanto a parte como:
ocidental, sob a influência norte-americana.
a disputa entre democratas e republica-
Em relação à Segunda Guerra e ao período
nos pelo controle do senado norte-ameri-
que a sucedeu, é CORRETO afirmar que:
cano após a Segunda Guerra Mundial.
A 'doutrina Truman" foi colocada em uma política de aproximação entre EUA
prática visando à expansão da influência e URSS liderada pelos senadores de-
soviética. mac ratas.
Os judeus não foram os únicos alvos de a criação no senado norte-americano de
perseguição do nazismo: ciganos e so- um comitê para investigar atividades an-
cialistas, entre outros, também sofre- tiamericanas e passou a perseguir seto-
ram as atrocidades do regime. res intelectuais da sociedade acusados
de defenderem ideias comunistas.
(04) A OTAN (Organização do Tratado do
Atlântico Norte) foi formada por um blo- ações do senado norte-americano para
co de países que defendiam a ideologia impedir que revoluções comunistas ti-
comunista. Em contraposição a este blo- vessem êxito na América Latina.
co, os EUA lideraram a criação do Pacto campanha à presidência da república
de Varsóvia, cujo objetivo era ampliar os do senador Joseph McCarthy, que tinha
interesses capitalistas na Europa. como principal plataforma a defesa das
ideias comunistas nos EUA.
(08) Visando ajudar na recuperação dos paí-
ses europeus, em grande medida de- 3. (Enem) Os 45 anos que vão do lançamento das
vastados pela guerra, e para evitar a bombas atômicas até o fim da União Soviética não
expansão do comunismo, foi elaborado o foram um período homogêneo único na história
Plano Marshall, por meio do qual o go- do mundo. [ ... ] Dividem-se em duas metades, ten-
verno norte-americano destinou bilhões do como divisor de águas o início da década de 70.
de dólares para os países da Europa. Apesar disso, a história deste período foi reunida sob
um padrão único pela situação internacional pecu-
(16) China e Inglaterra foram países que saí-
liar que o dominou até a queda da União Soviética.
ram fortalecidos desse conflito, estabe-
HOBSBAWM, Eric. Era dos Extremos: o breve sécuto xx:
lecendo, a partir de então, os dois polos 1914-1991. são Pauto: Companhia das Letras, 1996.
que redefiniriam a política mundial.
O período citado no texto e conhecido por
(32) A entrada oficial dos EUA no conflito se Guerra Fria pode ser definido como aquele
deu em 1939, ocasião em que o "eixo" momento histórico em que houve:
recebeu apoio na forma de armamentos
corrida armamentista entre as potên-
ultramodernos.
cias imperialistas europeias ocasionan-
2. (UERGS-RS) O filme "Boa Noite e Boa Sorte', do a Primeira Guerra Mundial.
de 2005, é ambientado na década de 1950, domínio dos países socialistas do Sul do
momento em que os EUA viviam os dramas globo pelos países capitalistas do Norte.
do macarthismo. O tema central do filme é a ci choque ideológico entre a Alemanha
história do repórter Edward Murrow e seus Nazista/União Soviética Stalinista, du-
colegas da rede CBS que decidem travar uma rante os anos 1930.
158 1u(o5
Responda no caderno
159
1
o
:
Al
* 4 '
162
com os dois terços necessários para a aprovação
de emendas. O presidente, então, endureceu no-
vamente o regime e suspendeu o Congresso nos
primeiros dias de abril de 1977. Nessa ocasião,
decretou algumas mudanças na Constituição,
que ficaram conhecidas pelo nome de Pacote de
Abril. Constavam desse pacote:
manutenção de eleições indiretas para gover-
nadores;
eleição indireta de um terço do Senado (os
chamados senadores biônicos) pelo mesmo
colégio eleitoral que escolhia os governado-
res, visando garantir o controle da Casa pelo
partido do governo;
ampliação do mandato do presidente de cinco
para seis anos;
manutenção da Lei Falcão;
alteração do quorum - de dois terços para Leonel do Moura d zoa chegando a Suo LorAl AS) na volta do extito puvtico, 1579,
163
y
IWI az"
1-
4
O retorno de alguns di-
reitos civis e politicos repre
sentou um passo importante
para a retomada da demo
cracia, mas alguns aspectos
nda permaneceram sob o
z cia. Era uma administração
4 mais liberal, porém compro-
- : metida com algumas ações
autoritárias próprias do re-
- ' gime implantado em 1964 e,
também, pressionada pelos
militares mais radicais.
'Organizando ideias
Leia o texto a seguir, parte de uma entrevista presidente da República, a decisão e a responsabili-
concedida pelo ex-presidente Geisel na década dade passam a ser dele. (omo responsável, ele tem
de 1990, e depois responda às questões. o direito de fazer o que lhe parecer mais adequado.
Por que o senhor não deu a anistia no seu DARAUJO, Maria Celina; CASTRO,
Celso lOrg.). Ernesto Geisel. Rio de Janeiro:
governo? rov, 1997. p. 398.
Não dei porque achava que o processo devia ser
gradual. O que significa anistia? Se necessário, pes-
Era necessário, antes de prosseguir, inclusive
quise em um dicionário e responda.
com a anistia, sentir e acompanhar a reação, o
comportamento das duas forças antagônicas: a área
Por que Geisel considerava a anistia um pro-
militar, sobretudo a mais radical, e a área política da
blema de solução progressiva? Analise a fra-
esquerda e dos remanescentes subversivos. Era um
problema de solução progressiva. O compromisso se no contexto do Regime Militar.
que o Figueiredo tinha comigo era de prosseguir
na normalização do país. Como fazer, a maneira O que significa a expressão "normalização do
de fazer e quando era problema dele. A anistia país', usada por Geisel?
passou a ser assunto do governo dele, no qual eu
não interferia. 1.. Para o general, o presidente da República
tem o direito de fazer o que lhe parecer mais
O senhor não deixou nem indicações?
adequado". Analise essa frase e responda: O
Não. Do ponto de vista ético era contraindicado.
que isso significa? Você concorda com essa
Médici também não deixou. Escolhido o
opinião? Justifique.
— 164 do
Piuripartidarismo e anistia:
passos para a democracia
Como sucessor de Geisel na Presidên- cometer crimes contra a segurança nacional
cia da República, foi empossado, em 15 de e aos agentes de segurança, ou seja, os que
março de 1979, o generalJoão Baptista de haviam prendido, torturado e matado os
Oliveira Figueiredo, que ficou conhecido oponentes do Regime Militar. Era também
como o presidente da transição. Seu gover- restrita, uma vez que muitos brasileiros não
no durou seis anos e encerrou um período podiam se valer dos benefícios dessa lei.
de autoritarismo no Brasil, pondo fim à O segundo parágrafo deixava isso claro:
Ditadura Militar. "Excetuam-se dos benefícios da anistia
Já no início de sua administração, em os que foram condenados pela prática de
28 de agosto de 1979, o Congresso apro- crimes de terrorismo, assalto, sequestro e
vou uma lei cujo artigo 12 concedia anistia atentado pessoal". E também não previa
"a todos quantos, no período entre 2 de o retorno aos quartéis dos militares que
Ato público pela
setembro de 1961 e 15 de agosto de 1979, haviam sido cassados ou reformados (apo- anistia de presos
cometeram crimes políticos ou conexos a sentados) antes da hora, políticos realizado
esses". Foi uma lei polêmica, pois estendia Outra medida liberalizante foi o res- Rode jaflefroR,
a anistia aos dois lados - aos acusados de tabelecimento do pluri partidarismo. 26jul. 1979.
165
nas quais ocorreria, além do pleito municipal, a
A reforma dos partidos políticos acompanha- escolha dos governadores de forma direta. Tudo
va a orientação limitativa da anistia. Conforme parecia favorecer a nova e fortalecida oposição.
a Lei n 6.767, de 1979, aboliram-se o MDB e a
Porém, o Brasil ainda era uma ditadura, e isso
Arena, gerados pelo Ato Institucional n" 2, de
11 ficou claro quando o governo instituiu o voto
1965, impondo-se o uso da palavra partido nas
denominações das novas agremiações. O registro vinculado, ou seja, o eleitor teria de escolher
do partido político implicava requisitos como seus candidatos todos de um mesmo partido. E,
convenções regionais e municipais. Registrado naturalmente, essa regra favoreceria a situação,
provisori am ente, o partido precisava obter 5% pois naquele período o PDS tinha muita força nos
dos votos nas eleições para deputados federais e municípios, o que poderia alavancar a escolha
senadores, com pelo menos 3% em cada um de de outros candidatos do partido. Outra medida
nove estados. Estavam proibidos os partidos liga-
restritiva para a oposição foi a proibição de coli-
dos à fé religiosa, ao racismo ou aos sentimentos
gações partidárias.
de classe social, assim como estavam proibidas as
alianças partidárias nas eleições para deputado Nessas eleições, tanto oposição como gover-
federal, para deputado estadual e para vereadores. no puderam se considerarvencedores. Na Câmara
os senadores biônicos, selecionados no colégio e no Senado, a oposição conseguiu a maioria dos
eleitoral, perduravam. votos; mas, graças à representação parlamentar
1)a reforma eleitoral de 1979 originaram-se o vigente, o PDS ficou em vantagem não numérica,
Partido Democrático Social (1'I)S - antiga Arena), mas representativa. Nos estados, a situação ficou
Partido do Movimento Democrático Brasileiro
com a maioria dos governos, mas a oposição saiu
(PMDB - antigo MDB), o Partido Popular (PP),
fortalecida com algumas importantes vitórias:
Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), o Partido
Democrático Trabalhista (PDT) e o Partido dos PMDB - São Paulo, com Franco Montoro; Mi-
Trabalhadores (PT). nas Gerais, com Tancredo Neves; Paraná, com
José Richa; Pará, com Jader Barbalho;
VIEIRA, Evaldo. Brasil: do golpe de 1964 à redernocratização.
In: MOTA, Carlos Guilherme (Org.). Viagem incompleta. PDT- Rio de janeiro, com Leonel Brizola.
A experiência brasrleira 115002000l: a grande transação. O PDS ainda manteve a hegemonia, mas essas
2. ed. São Paulo: Senac, 2000. p. 205.
eleições desestabilizaram ainda mais ojá fragiliza-
do governo do presidente Figueiredo.
- 166
Organizando ideias
167
Um movimento musicaL de jovens na ditadura
Na década de 1970, inúmeros habitantes de Márcio Borges, um dos principais composi-
Belo Horizonte, assim como de muitas outras tores do Clube da Esquina, escreveu diversas
cidades brasileiras, organizavam-se em movi- letras em parceria com Milton Nascimento. Em
mentos que propunham mudança das condições um depoimento, ele revela detalhes da adoles-
do país. cência sob a ditadura em sua cidade. Veja.
Um grupo de jovens da capital mineira, deno-
"A minha juventude foi debaixo de di-
minado Clube da Esquina, destacou-se nacional-
tadura"
mente por suas canções. O artista mais conhecido
do grupo é Milton Nascimento, que iniciou sua [ ... ] De 64 para frente, isto é, a partir do Gol-
carreira de músico e cantor ainda adolescente. pe Militar, a gente se uniu pra dar conta das ad-
Além de Milton, outros artistas do grupo tiveram versidades. A grande argamassa que juntou os
destaque, como os irmãos Lô e Márcio Borges, tijolinhos foi a ditadura. Não vejo nenhum valor
Ronaldo Bastos, Fernando Brant, Tavinho Moura, positivo nisso, mas a ditadura nos incitou a fi-
Beta Guedes, Flávio Venturini e Toninho Horta. carmos cada vez mais unidos, a sermos cada vez
mais corretos nas nossas decisões, para que, cada
vez mais, nós nos colocássemos como uma opo-
] sição a essa afronta aos direitos humanos, aos di-
reitos civis. Que nós nos colocássemos cada vez
mais contra a violência e, principalmente, con-
tra a violência promovida pelo próprio Estado.
I.se Estado era um Estado de falência total dos
As letras das canções em geral revelam uma in- parte do sentimento desses jovens, cujo direi-
clinação a construções mais abstratas, imagens ou to de expressão passou a ser constantemente
metáforas que talvez sejam mais soltas de uma tra- cerceado. Muitas delas, como Clube da Esquina
ou situações das quais se pode tirar alguma moral Essas canções foram difundidas em um
ou mensagem. contexto já conturbado pelo forte autoritaris-
mo da Ditadura Militar, em que as censuras
vILElA, Ivan. O movimento. Museu Clube da Esquina.
Dmponívet em: <vv.museucIubedaesquina.org.br/ passavam a ser executadas de forma cada vez
o-movimento>. Acesso em: abr. 2016. mais rigorosa.
- 168
Leia agora um trecho do depoimento de Então a gente usava nossas músicas como as
Márcio Borges sobre esse momento. nossas metralhas, como as nossas bombas. Foi uma
época que a gente fazia shows para quatro, cinco,
"Aí as músicas começaram a ser censura-
dez mil estudantes, e os próprios presos políticos
das, veio todo aquele período de obscuran-
escutavam as obras do "Clube da Esquina" como
tismo terrível"
obras libertárias, como obras que tinham a ver com
[ ... j Era urna época muito ativa, o movimento aquele momento político que estava sendo vivido
estudantil muito florescente, a gente aprendendo as ali. Eram bandeiras de liberdade ali, dentro daquele
ideologias, estudando os livros de Karl Marx, livros oceano de escuridão que era a ditadura. [...
dificílimos que a gente entendia mais ou menos de BORGES, Márcio. Depoimento. Museu CLube da Esquina.
orelha. Mas sentíamos que ali tinha uma grande jus- Disponível em: smuseuc1ubedaesquna.org.br/museu/
depoimentos/marcio -borges>. Acesso em: abr 2016.
tiça, tinha uma grande verdade ali dentro, um gran-
de sonho que não era utópico, mas realizável - pelo
menos a gente achava. Então isso foi nos mantendo
ali, e eu participando do movimento estudantil. Co-
mecei a frequentar umas reuniões clandestinas da
..-
POLOP, que era a Política Operária, os estudantes su ,, 4v..
169
O grito dos brasiLeiros: dDiretas Já! pio
A anistia e a reforma partidária foram eram mais alguns grupos isolados de es-
vitórias importantes para a retomada da tudantes ou entidades organizadas, mas
liberdade individual e política dos cidadãos um movimento de massa que agregava
brasileiros. Mas ainda faltava uma etapa partidos políticos, organizações, movi-
imprescindível para o retorno da demo- mentos sociais e diversos outros setores
cracia: eleições diretas para presidente. da população brasileira.
O primeiro passo havia sido dado com a Essa campanha começou tímida,
posse dos governadores de oposição em pois ainda era vigente o Regime Militar,
importantes estados da federação. e as manifestações contrárias a ele eram
punidas severamente. Mas, após 22 anos
sem eleições diretas para presidente - o
[...J Os governadores de oposição que acabavam
último eleito pelo povo havia sido Jânio
de tomar posse nos estados mais poderosos do
Brasil (Franco Montoro, em São Paulo; Tancredo Quadros em 1960 -, era preciso mudar
Neves, em Minas Gerais; e Leonel Brizola, no Rio esse quadro para redemocratizar o país.
de Janeiro) representavam um novo patamar na Não haveria liberdade política sem
evolução da oposição. Eram líderes da oposição eleições diretas para presidente. E essa
que não se restringiam às tribunas oratórias de mudança foi proposta ao Congresso
Brasília. Haviam sido legitimamente eleitos para
no início de 1983 pelo deputado mato-
ocupar cargos executivos com algum controle
-grossense Dante de Oliveira.
sobre as polícias nos seus estados. Os novos gover-
nadores tinham um grande "poder convocatório", Esse projeto de emenda constitucio-
isto é, uma capacidade de levar grande número de nal teve pouca repercussão na imprensa,
seguidores para apoiarem uma agenda específica. mas a ideia foi tomando forma. Assim, em
A campanha maciça das Diretas Já!, em 1984, por junho do mesmo ano, em Goiânia, ocor-
eleições diretas para presidente, é vista como um reu o primeiro dos muitos comícios em
extraordinário testemunho do ressurgimento da prol das eleições diretas para presidente, e
sociedade civil brasileira. E foi. Mas, na maioria
o slogan "DiretasJá" começou a ecoar.
das manifestações mais concorridas, a iniciativa
do evento, a ordem dos oradores, o controle da
multidão, a encenação e legitimação desse cenário
couberam àqueles líderes da sociedade política Não.
recém-empossados: os governadores Montoro,
Neves e Brizola, os quais, durante o processo, co- dia`mais
meçaram a transcender a prévia separação entre a
sociedade civil e a política, e a congregar a oposição
numa arena maior e mais poderosa.
priasegurar.
STEPAN, Alíred. Os mititares: da abertura à nova república.
São Pauto: Paz e Terra, 1986. p. 75-76.
O DOVO
O autor do texto observa que a
campanha Diretas Já, ou seja, a ação em
prol das eleições diretas para presidente
"é vista como um extraordinário teste-
munho do ressurgimento da sociedade
civil brasileira". Isso ocorreu porque a Da 21,1deIria, às 16 horas.
mobilização em busca dessa mudança
Cartaz pelas Di: elas Ja convocando o povu pra o çjrznde
fez a diferença naquele momento. Não comício da Candeidria, Rio de Janeiro (RJ). 1984.
— 170
-41
% jç%!# til
:h.'!t
j
)i
..- .-.... '
.:
Vista aerea da multidao concentrada na Praça da Sd. em São Paulo SP). durante comício para a campanha Diretas Já, em 2h de janeiro de 1984.
AF &ossárii)
Arrocho saLariaL: contençáo de aumentos satariais, geralmente para controlar despesas ou impedir a
subida de preços e da inflação.
171
\JDR0E
4 1 -
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__ 11
- - w -
Multidao coar faixas durante manitesraç o cia campanha Diretas Ja Brasilia (OH. 6 jun 1984.
172 iro6
As desejadas eleições diretas para presidente só O conjunto de medidas não foi bem-aceito
ocorreram cinco anos após o movimento Diretas Já. pela população, fato que, somado às acusações de
Em 1989, 22 candidatos concorreram à presidência, corrupção e desvio de dinheiro envolvendo políti-
em pleito vencido por Fernando Colior de Meilo num cos, amigos e familiares do presidente, ocasionou
segundo turno de disputa com Lula (Luiz Inácio Lula intensas manifestações populares - como o cha-
da Silva), que chegaria ao cargo em 2002. mado Movimento dos Caras-Pintadas. Foram essas
Apesar de eleito, Colior renunciou dois anos iniciativas que culminaram na renúncia de Colior,
depois, numa tentativa de evitar um processo de então substituído por seu vice, Itamar Franco.
impeachment motivado por acusações de corrup-
ção. O período de seu governo foi marcado por
inúmeros problemas econômicos, que se esten- Impeachment é um termo inglês utilizado
diam do governo anterior, dentre os quais po- para se referir à cassação de mandato de um
demos destacar o grande aumento da inflação, presidente ou chefe de Estado, independente-
que chegou a mais de 1 700% ao ano. Visando mente do motivo.
Movimento dos Caras-Pintadas foi o nome
solucionar a questão, Colior lançou mão de um
dado às manifestações contrárias à adminis-
pacote de medidas chamado Plano Brasil Novo
tração vigente. Nelas, multidões de jovens,
- popularmente conhecido como Plano Colior -,
principalmente estudantes, saíram às ruas com
que envolvia mudança de moeda, congelamento o rosto pintado de verde e amarelo pedindo o fim
de salários e confisco de depósitos bancários do governo do então presidente Collor.
superiores a 50 mil cruzeiros (moeda da época).
NI(TL)LAU
173
Analise o texto e responda às questões. Um último susto: o carro de bombeiro liga a
sirene, mas é só para poder levar uma jovem que
Tancredo, 342.
desmaiou de alegria, primeira vítima da democracia
O povo reunido desde cedo em frente ao Con-
nascente. A festa no gramado encharcado continua.
gresso Nacional começa a cantar o Hino Nacional
Velhos e novos gritos de guerra se sucedem:
em ritmo de samba.
"Acabou, acabou a ditadura".
Tancredo, 343.
"O povo unido jamais será vencido".
Espoucam rojões, a emoção cresce, é chamado para
"Chora Figueiredo, Figueiredo chora. Chora Fi-
votar o deputado federal João Cunha (PMDB-SP).
gueiredo que chegou a sua hora".
Tancredo, 344.
"Arroz, feijão, saúde e educação".
Às 11h 34min deste 15 de janeiro [de 1985],
"Ia, ia, ia, acabou a mordomia".
explode o grito parado no ar durante 21 anos. Ë o
Entre um coro e outro, um pol-pourri cívico-
voto da vitória, o fim do regime militar. A multidão
-carnavalesco.
se abraça e chora, ergue os braços e pula, rompe os
"Ou ficar a Pátria livre, ou morrer pelo Brasil".
cordões de isolamento, atravessa rampas proibidas e
escala a cúpula do Senado, agitando faixas e bandeiras.
Trio elétrico, bumba meu boi, charanga do Atlé- KOTSCHO, Ricardo. Rojões, samba. Hino nacional, é o desabafo.
tico Mineiro, samba, frevo e maracatu, bandeiras Folha de S.Pauto, São Paulo. 16 jan. 1985. Primeiro caderno.
do Brasil, do Corinthians, dos partidos comunistas, p. 7. Fornecido pela Folhapress.
Em grupo, pesquise os governos do Brasil após a volta à democracia. Juntos, busquem informações
básicas sobre economia, políticas públicas, popularidade, principais lutas sociais, traçando um pano-
rama sobre cada governo. Apresentem os resultados em sala de aula.
Cada grupo ficará responsável por um dos temas a seguir (ou um mesmo tema poderá ser dividido
entre dois ou três grupos).
— 174
Liberdade, abre as asas sobre nós
A volta da democracia se fez pela abertura um passo importante na tentativa de criação de
política colocada em prática pelos dois últimos uma central sindical que agregasse esses movimen-
presidentes militares, mas também teve a partici- tos do país inteiro, ou seja, uma entidade nacional
pação efetiva da sociedade civil, que, reunida em de luta dos trabalhadores. Naquele momento, ha-
organizações, pediu pela volta do estado de direito, via uma divisão entre as lideranças do sindicalismo
responsável por garantir o governo democrático. brasileiro, e essa divergência de opiniões fez surgir,
Com relação às organizações da sociedade após dois anos de discussões, dois blocos distintos:
civil que se opuseram à Ditadura Militar, destaca- a Central Única dos Trabalhadores (CUT) - grupo
ram-se membros da Igreja Católica, da Ordem dos dos que se consideravam autênticos, eram vincula-
Advogados do Brasil (OAB), do Comitê Brasileiro dos ao PT e utilizavam estratégias de enfrentamento
da Anistia (CBA), da Associação Brasileira de Im- - e a Central Geral dos Trabalhadores (CGT) - que
prensa (ABI) e do movimento sindical. reunia sindicatos menores e mais tradicionais, com
O movimento sindical renovou-se ainda no Re- uma postura de negociação.
gime Militar, sobretudo com base nos novos setores O número de sindicatos rurais também au-
da economia (bens de consumo durável e bens de mentou consideravelm ente entre o fim da década
capital) estabelecidos durante o governo Médici. Os de 1970 e início dos anos 1980.
metalúrgicos das multinacionais automobilísticas e
das empresas nacionais de siderurgia, produção de
máquinas e equipamentos foram os responsáveis aE
' 1
por essa renovação. Localizadas na área industrial .. ... .
da Grande São Paulo, na região do ABC paulista
(Santo André, São Bernardo e São Caetano), essas
1 CONrLA'
companhias empregavam um número grande de ' &
trabalhadores que se uniram em torno da reivindi-
cação por mudanças em sua situação, reocupando
seu espaço de luta reprimido pelo regime ditatorial.
O chamado "novo sindicalismo" tomou for-
ma por meio da campanha salarial ocorrida em
1977 e se fortaleceu com as greves de 1978 e 1979,
que se espalharam por outros cantos do país.
O que diferenciava esse movimento sindical
de outros era sua organização, que partia da base.
Primeiro os operários formavam comissões de
negociação dentro das próprias fábricas; depois,
Congresso Nacional da Classe Trabalhadora )Conclat), evento em que foi
reuniam os colegas de trabalho e deliberavam
fundada a CUT. São Paulo (SP), 1983.
em conjunto. Essa época também ficou marcada
pela ascensão de líderes carismáticos - como Luiz
Iriácio da Silva, o Lula - que conseguiam unir os o estado de direito é a condição de um país
trabalhadores em prol de causas comuns. rio qual prevalece o respeito aos direitos indivi-
Essa nova forma de sindicalismo se mantinha duais e políticos das pessoas, de modo que ne-
nhum indivíduo, presidente ou cidadão comum,
independente do controle estatal. Portanto, repre-
está acima da lei. Nos governos democráticos,
sentava com mais autenticidade os interesses dos
a autoridade é exercida por meio da Lei, e os
trabalhadores, e não dos patrões ou governantes. próprios políticos estão sujeitos às sanções
Em 1981 ocorreu o 1 Congresso Nacional da previstas por ela.
Classe Trabalhadora (Conclat), que representou
175
que podemos afirmar ter sido ele extremamente
No campo, onde a estrutura fundiária permane- proveitoso e rico em experiências sociopolíticas.
cia intocada, houve o ressurgimento da luta em prol Mais tarde, nos anos 1990, novos movimentos
da defesa do trabalhador rural. Data de 1975 a Co-
sociais surgiriam, acompanhando uma crescente
missão Pastoral da Terra, criada pela Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) para atuar diversificação das demandas populares.
nas questões agrárias, e de 1979 a formação do Mo- Um dos traços marcantes das sociedades de-
vimento dos Traballadores Sem Terra (MST). [ ... ] mocráticas é a criação de entidades com diversas
finalidades, ou seja, agremiações de luta por uma
LUCA. fânia Regina de. Direitos sociais no Brasil. In:
PINSKI, Jaime; PINSKI, Carta Bassanezi Org.l. História da causa. Os movimentos sociais são formas de luta
cidadania. São Paulo: Contexto, 2005. p. 487. organizadas, adotadas pela população a fim de
promover ações coletivas diversas. Essas ações po-
dem ser viabilizadas com a utilização de estratégias
Mas não foi somente na área sindical que a diversas, como a pressão direta, que ocorre por
sociedade civil se articulou. Vários movimentos so- meio dos diferentes tipos de manifestações (pas-
ciais acompanharam as mudanças que se delineavam seatas, marchas etc.), e a pressão indireta, que usa
no Brasil. Predominava um clima de esperança pela abaixo-assinados, cartas, manifestos, declarações.
retomada da democracia, e isso fortalecia a união
dos indivíduos para as lutas reivindicatórias.
Mulheres, moradores de periferia, estudantes Os anos 90 redefiniram novamente o cenário
das lutas sociais no Brasil, assim como deslocaram
e professores, entre outros, organizaram-se e ini-
alguns eixos de atenção dos analistas. Os movimen-
ciaram ações cuja finalidade era transformar sua tos sociais populares dos anos 70/80 se alteraram
realidade. São exemplos dessas iniciativas: substancialmente. Alguns entraram em crise: de
os movimentos feministas da década de 1970; militância, de mobilização, de participação coti-
o movimento estudantil ressurgido por volta diana em atividades organizadas, de credibilidade
de 1977; nas políticas públicas, de conflabilidade e legiti-
midade junto à própria população. Surgem novos
o movimento das favelas de São Paulo e de Belo
movimentos sociais, centrados mais em questões
Horizonte, em 1979; éticas ou de revalorização da vida humana. A vio-
o movimento dos desempregados de São Paulo, lência generalizada, a corrupção, as várias modalida-
em 1983; des de clientelismo e de corporativismos, os escân-
o movimento de luta pela moradia, também dalos na vida política etc, levam a reações no plano
em 1983. da moral. Criam-se movimentos nacionais a partir
Nesse período foram tantas as organizações de instituições e organizações de espectro plural,
ou de figuras carismáticas, como o caso do Betinho
populares, principalmente na década de 1980,
na Ação da Cidadania Contra a Fome, a Miséria,
Pela Vida. Ou, ainda, estruturam-se movimentos
nacionais a partir de questões sociais dadas pela pro-
blemática geracional, de idade, como o Movimento
Nacional de Meninos e Meninas de Rua, ou o Mo-
vimento dos Aposentados. Ou, ainda, movimentos
de revalori7.ação da cidade como locus de vivência e
sociabilidade, e antiviolência, como o Movimento
Viva Rio. Cumpre destacar que as mobilizações
coletivas nos anos 90 partem de um chamamento à
consciência individual das pessoas e elas, usualmen-
te, têm se apresentado mais como "Campanhas" do
que como movimentos sociais.
GOHN, Maria da Glória. História dos movimentos e Lutas
sociais: a construção da cidadania dos brasileiros.
Passeata de mulheres da Frente Brasil Popular ria Aveirida Rio Branco. São Paulo: Loyola. 2003. p. 127-128.
Rio de Janeiro (RJ). 7 nov. 1989.
176 uln6
A participação popular tem sido, desde a pri- celulares ou qualquer outra forma de mídia móvel.
meira década do século >0(1, cada vez mais ativa na Assim é possível unir pessoas de diferentes lugares
gestão pública, na forma de conselhos, como o Con- do mundo, com perfis socioeconômicos distintos
selho Nacional de Saúde e o Conselho Tutelar. São e orientações ideológicas diversas. Essa nova for-
conselhos comunitários, normatizados, que servem ma de mobilização social está associada ao con-
de ponte entre a população e o governo, uma vez que, ceito de participação cidadã.
por meio de fóruns e audiências públicas, aproximam
ambos e permitem ações conjuntas para melhorar
toda a comunidade. Essas instituições representam A participação cidadã é lastreada num conceito
novas formas de integração social, de democratiza- amplo de cidadania, que não se restringe ao direito
ao voto, mas constrói o direito à vida do ser humano
ção da coisa pública e de exercício de cidadania plena
como um todo. Por detrás dele há um outro con-
e ativa pela população. Assim, a redemocratização e
ceito, de cultura cidadã, fundado em valores éticos
o fim do Regime Militar trouxeram de volta ao Brasil universais, impessoais. A Participação Cidadã fun-
a participação dos indivíduos nas lutas sociais. da-se também numa concepção democrática radical
Hoje os movimentos podem ocorrer sem que as que objetiva fortalecer a sociedade civil no sentido
pessoas se unam diretamente em uma organização de construir ou apontar caminhos para uma nova
específica. Um exemplo é o frequente uso das redes realidade social - sem desigualdades, exclusões de
sociais e outras ferramentas da internet para promo- qualquer natureza. Busca-se a igualdade, mas reco-
nhece-se a diversidade cultural. Há um novo pro-
ção de campanhas e organização de passeatas e mo-
jeto emancipatório e civilizatório por detrás dessa
bilizações. A estrutura organizativa é própria dessa
concepção que tem como horizonte a construção de
nova realidade, que trouxe facilidade e agilidade para uma sociedade democrática e sem injustiças sociais.
a comunicação e difusão de ideias. Alguns pesquisa-
GOHN, Maria da Glória lorg.). Movimentos sociais
dores nomeiam essa nova realidade de ciberativismo. no início do século XXI: antigos e novos atores sociais.
A característica principal desses manifestan- Petrópolis: Vozes. 2011. p. 18.
177
Heranças da ditadura
Oflcialmente, o término da Ditadura Militar aos direitos humanos e, assim como a própria di-
ocorreu em 1985, com a eleição de um presiden- tadura, não foram exclusividade do Brasil.
te civil e, em 1988, com a promulgação de uma
nova Constituição, que consolidou a democracia.
Mesmo assim, ainda é possível perceber heranças Essa modalidade especial da justiça, fortemen-
da ditadura em nossa sociedade. te marcada pela política, tem a incumbência de
promover a reparação das vítimas de regimes arbi-
Após a queda do regime, diversos movimen-
trários, de buscar a verdade e a defesa da memória
tos de contestação partiram da sociedade civil.
dos vencidos, de reformar as instituições do Estado
Algumas entidades não governamentais iniciaram que possibilitaram as violações dos direitos huma-
investigações para obter informações sobre os nos e de restabelecer a igualdade dos indivíduos
desaparecidos, saber a causa das mortes e os res- perante a lei. Ela existiu em muitos países que vi-
ponsáveis por elas. Assim, sindicatos, familiares veram os chamados "eventos traumáticos", sendo
de vítimas do regime e comitês formados em uni- emblemático o que se deu em relação às violações
versidades se mobilizaram em busca de respos- dos direitos humanos durante a Segunda Guerra
Mundial, sobretudo com o Holocausto. Os julga-
tas, esclarecimentos e justiça. Um desses proje-
mentos de Nuremberg inspiram essas iniciativas,
tos, o "Brasil: nunca mais" foi desenvolvido pelo
mas, ao contrário deles, a justiça de transição não
cardeal Dom Paulo Evaristo Arns, o rabino Henry costuma ser militar e internacional, como ocorreu
Sobel e o pastor presbiteriano Jaime Wright. na cidade alemã. Desde então, muitas iniciativas
Essa investigação resultou em um dos principais de reparação foram implementadas por países que
dossiês sobre as atrocidades da repressão política viveram graves violações dos direitos humanos,
no Brasil entre os anos 1961 e 1979. sendo muito conhecidas as experiências da África
Somente dez anos após o fim do Regime do Sul, com sua Comissão da Verdade e da Recon-
ciliação, que atuou entre 1995 e 1998, liderada pelo
Militar o governo brasileiro reconheceu a respon-
bispo Desmond Tutu, e da Argentina, a Comissão
sabilidade do Estado pelos muitos mortos e de-
Nacional sobre o Desaparecimento de Pessoas,
saparecidos ao longo do Período Ditatorial. Em
que atuou entre 1983 e 1984, sob a presidência do
1995, durante o governo de Fernando Henrique famoso escritor Ernesto Sabato.
Cardoso, foi criada a Comissão sobre Mortos e
FICO, Carlos. História do Brasil contemporâneo: da morto de
Desaparecidos. Foi o primeiro passo na esfera Vargas aos dias atuais. São Pauto: Contexto, 2015. p. 137-138.
governamental de reconhecimento de mortos
e desaparecidos políticos. Ainda que com uma
missão relativamente simples, o estabelecimento Com o objetivo de revelar aspectos enigmáti-
dessa comissão demandou negociação com os cos da Ditadura Militar, foi instaurada em 2011 a
militares, que temiam algum tipo de represália. Comissão Nacional da Verdade (CNV). Esse pro-
Estava aberta assim a primeira possibilidade de jeto foi responsável pela investigação das viola-
os familiares terem ao menos a constatação das ções de direitos humanos cometidas por agentes
mortes e a possibilidade de obter o atestado de do Estado entre 18 de setembro de 1946 e 5 de
óbito dessas pessoas. A falta desses documentos outubro de 1988. Apesar de não abarcar somente
muitas vezes era razão de problemas práticos, o período do Regime Militar, ele foi certamente o
como reinvindicação de herança. principal foco da comissão.
O trabalho dessa comissão resultou em uma Outras comissões oficiais ou extraoficiais
série de documentos com dados sobre os mortos e foram criadas na América Latina com o objetivo
desaparecidos, o que possibilitou o início do paga- de desvendar a verdade sobre as violações dos di-
mento de indenização aos familiares das vítimas da reitos humanos cometidas durante as ditaduras
ditadura. Essas iniciativas de reparação represen- no continente. Cada país teve uma trajetória dife-
taram um significativo avanço quanto ao respeito rente nessa busca.
-178
Em seu relatório, a CNV propôs a punição dos
Por que o nome "comissões da verdade" se torturadores, alegando que a Lei da Anistia não pode
generalizou? A explicação é mais simples que apagar o crime cometido. De fato, os agentes do Es-
parece, longe de qualquer conceito filosófico.
tado que participaram das violações dos direitos
Era preciso produzir uma verdade que corres-
humanos sequer foram nominados ou intimados
pondesse aos fatos objetivos da repressão, e não
aos fatos alegados pelas "verdades oficiais" das oficialmente a prestar esclarecimentos. Além disso, a
ditaduras, que sempre negaram qualquer tortu- CNV concluiu que violações persistem nos dias atuais,
ra ou desaparecimentos forçados de militantes. pois, ainda que ocorram em um contexto diferente,
Quando muito se falava em "excessos" de alguns as práticas de detenções ilegais e arbitrárias, torturas
agentes sem controle, mas jamais os Estados en- e mesmo ocultação de cadáveres ainda fazem parte
volvidos assumiram as práticas criminosas que da realidade brasileira. Para os integrantes da CNV, a
abrigaram. Na ausência de arquivos oficiais que impunidade dos criminosos da época da ditadura dá
documentassem as violências, a forma mais ób-
condições para a perpetuação dessas práticas.
via era promover e incentivar o testemunho dos
sobreviventes. Assim, o testemunho se transfor-
mou, a um só tempo, em peça jurídica e docu-
mento histórico para recompor a verdade.
NAPOLITANO. Marcos. 1964; história do Regime Militar
brasileiro. São Paulo: Contexto. 2014. p. 288.
L Organizando ideias
Leia o texto e depois faça o que se pede atravessa diferentes classes sociais, não sendo
monopólio de um grupo ou estrato.
Por fim, se a tortura, desde os anos 1980, não
SCHWARCZ. Litia Monta; STARLING. Heloisa M. Brasil: uma
é mais uma política de Estado, ela continua dis- biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. p. 507.
seminada nas práticas privadas ou mesmo aco-
bertada nas delegacias e nas investidas policiais Você concorda com as autoras do texto e com
em bairros da periferia, onde a escala de violên- os relatores da CNV sobre a permanência de
cia e de humilhação é ainda maior e, sobretudo, violações de direitos humanos? Justifique
contra jovens negros. Diante dessas situações, sua resposta.
fica exposta a cidadania precarizada de certos Em dupla, busque exemplos de situações
grupos sociais, e as práticas de segregação a que que justificam a afirmação das autoras. A
continuam sujeitos. É nesses momentos que a busca pode ser feita em mídias impressas ou
regra democrática permanece suspensa. Até pa- on-line. Juntos, tragam o material pesquisa-
rece que o passado escravocrata mais distante do para a sala de aula e realizem um debate
e o autoritarismo nem tão longínquo deixaram sobre a violação dos direitos humanos em
uma marca incontornável do arbítrio do ajuste nossa sociedade. Depois, pode ser elaborado
de contas privadas, ou delegados ao outro que e divulgado na internet, na escola e no bairro
incorpora a autoridade. O pior é que a prática um texto coletivo sobre o assunto.
179
Debate interdisciplinar
O Brasil e a inflação
No mundo todo, desde que foram adotados economia. Ela ocorre devido a vários fatores, e
os diversos modelos econômicos que utilizam toda o mais importante deles é o alcance dos níveis
e qualquer moeda como valor de troca, perdura um máximos de consumo de um produto, relacionado
problema em comum: a inflação. à capacidade produtiva máxima. Isso incentiva os
A inflação é a medida do aumento dos produtores a aumentar os preços.
preços dos bens e serviços de consumo de uma
1í~ "n
k JI
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Hom h .L ii r L Iw w1 U wto. (j piuduçao de hotoIiços OTIULUCOOl oir tiiiio o pieço fUal desses
ahrnenos
Por exemplo, se determinado bem é produ- por exemplo, o que ocasiona a ausência do pro-
zido na quantidade de dez por dia e seu consumo duto, elevando seu preço.
chega a nove por dia, o produtor vê uma oportu- Outros fatores menos relevantes que podem
nidade de aumento de preços, já que o consumo causar inflação são a variação cambial e a infla-
está acima do esperado. Pois bem, a porcenta- ção de outros países.
gem desse aumento é chamada de inflação. A inflação pode ser classificada em dois ti-
Outro fator que causa inflação é a queda pos: a de demanda e a de custos. A de demanda
repentina do volume produzido de determinado ocorre quando a procura por um produto é maior
bem. Isso ocorre no setor agrícola quando lavou- que sua oferta, sendo necessário, para controlá-la,
ras são perdidas devido a problemas climáticos, promover a redução da procura agregada ou o
180
r
Placas indicam os preços dp vegetais na Mercado Municipal de Sâo Paijir 1Pr 21112. As variações na economia e nas condições naturais fazem com que os
preços dos vegetais sejam alterados frequentemente.
aumento da produção.Já a inflação de custos está explicação é que o Estado, assim como as famí-
associada ao aumento do preço dos produtos lias e o setor privado, é um importante deman-
devido à elevação do custo de produção. Sendo dante de tudo o que se produz na economia. Só
assim, o aumento de capital empregado em pro- que, ao contrário dos outros dois, o setor público
dutos ou na mão de obra na fase de produção é pouco reage à alta dosjuros e dificulta o trabalho
repassado ao consumidor final. do Bacen de controlar a elevação dos preços.
No Brasil, o principal instrumento para Os governos ao redor do mundo utilizam
combater a inflação é a política de juros, cuja diversas técnicas de combate à inflação - desde
taxa básica (a Selic) é fixada pelo Banco Central a diminuição da quantidade de moeda em circu-
(Bacen), que ao aumentá-la eleva o custo do lação nos países e o aumento dos impostos co-
dinheiro, tornando mais caro o crédito para o brados sobre determinados produtos até o corte
consumo e para expandir a capacidade produtiva. de gastos governamentais a fim de injetar mais
Com menos pessoas e empresas consumindo bens capital na economia -, na tentativa de controle
e serviços, os preços tendem a cair. de preço dos produtos que sofrem o aumento
A redução dos gastos públicos também de custos.
pode contribuir para o combate da inflação. A
tivÍde.. ...... ..
1. No estado de São Paulo, em janeiro de 2015, o quilo de tomate custava em média R$ 432, e o
salário mínimo era R$ 78800. Suponha que uma família, com essa renda, consumisse por mês
uma média de 10 kg de tomate. Em janeiro de 2016, o quilo do produto subiu para R$ 5,50, e o
salário mínimo passou a ser R$ 880,00. Com base nessas informações, calcule o percentual de
inflação sobre o preço do tomate e a porcentagem de salário que foi gasta na compra de 10 kg
do produto em cada ano.
181
Testando seus conhecimentos Responda no cadsmi
— 182
Responda no caderno
r
luta por direitos civis, sociais e políticos.
O fim da ditadura miLitar, de Bernardo Kucinski. Para você navegar
São Paulo: Contexto, 2001. Por meio da análise Memórias ReveLadas. Disponível em: <www.memori
de acontecimentos como a campanha pelas elei- asreveladas.arquivonacional.gov.br>. Acesso em: abr.
ções diretas, as greves do ABC e o colapso do 2016. O Centro de Referência das Lutas Políticas no
'milagre brasileiro', essa obra explica por que Brasil, chamado Memórias Reveladas, procura de-
a transição política brasileira demorou 15 anos mocratizara informação contida nos arquivos sobre
para se concretizar período de 1960 a 1980 e as lutas de resistência à
Ditadura Militar Os acervos digitalizados estão sob
183
1
1
1
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Árabe é a denominação dada ao integrante de qualquer dos povos semitas de origem arábica que
habitam a Península Arábica (localizada no sudoeste asiático, próxima ao norte da Africa) e as regiões
circunvizinhas.
O nome Palestina foi dado pelos gregos a uma região do Oriente Médio e significa, literalmente,
terra dos filisteus'. Nos dias atuais, usamos esse termo para designar os árabes que viveram ou vivem
no território da antiga Palestina, do qual grande parte pertence, atualmente, ao Estado de Israel. Há
palestinos que seguem o islamismo, os que são cristãos, os que seguem outras crenças e aqueles que
não seguem nenhuma crença religiosa.
Não há um consenso sobre a questão de quem é ou não judeu; podem ser considerados critérios étnicos,
religiosos, genealógicos e culturais para estabelecer uma definição. Há, contudo, uma proposição que, por
ser subjetiva, parece ser a melhor: judeu é todo aquele que, por uma razão ou outra, se considera judeu.
186 ::jlo7
No século XIX as ideias nacionalistas para a Liberdade de Israel), cujas ações se
estavam em voga. Nesse contexto, Theodor caracterizaram por assassinatos e atos de
Herzl (1 860-1 904),jornalistajudeu vienense, sabotagem, os repudiados até mesmo por
conseguiu projetar o movimento sionista no muitos judeus.
cenário mundial. Ele acreditava que seria No final da Segunda Guerra Mundial,
possível, por vias diplomáticas, a obtenção com a evidência dos horrores praticados
de um lar nacional judaico. contra os judeus pelo regime nazista e por
Em 1882, a comunidade judaica na seus aliados, a imigração para a Palestina
Palestina era de apenas 24 mil pessoas, aumentou substancialmente. A causa ju-
em uma população total de cerca de 600 daica despertou crescente simpatia na opi-
mil palestinos. Com a segunda imigração, nião pública internacional, o que deixou a
denominada a/já (subida a Israel), a popu- administração britânica em situação de-
lação de origem árabe percebeu as ações licada, ao mesmo tempo em que as ações
efetivas do movimento sionista e passou a terroristas dos grupos Haganah, Irgun e
pedir providências ao governo otomano; Stern passaram a ser intensificadas.
contudo, cada vez mais judeus chegavam à
Palestina, o que aumentava a tensão entre Movimento sionista é a denominação de um movi-
eles e os árabes da região. mento de defesa do direito à autodeterminação do povo
Na década de 1920, agravaram-se os judeu em um Estado judaico, a Terra de Israel. O nome
sionismo vem de Sion, um monte localizado nos arredores
conflitos entre as comunidades judaicas e
da cidade antiga de Jerusalém, na Palestina. Foi usado
árabes. Parte do movimento sionista criou
em alusão ao anseio milenar dos judeus de, após o exílio
a Haganah ("defesa", em hebraico), força forçado, retornar à terra dos seus ancestrais bíblicos. A
paramilitar que passou a atuar contra os organização política desse movimento tomou impulso
árabes e depois contra os britânicos, que, em 1897, quando Theodor Herzl organizou um encontro
por sua vez, administravam a região desde o em Basileia (Suíça), no qual foi criada a organização que
fim da Primeira Guerra Mundial e buscavam ficou conhecida como Congresso Sionista. O principal
controlaraimigraçãojudia. Em 1931, uma objetivo da organização era a obtenção de um "pedaço
de terra" para o estabelecimento de um lar nacional
cisão deu origem ao Irgun (em hebraico,
judeu. A princípio, o Estado judeu poderia ser criado em
"organização"), que incentivou a imigração
qualquer parte do mundo. O Congresso Sionista, porém,
ilegal para a Palestina e realizou ataques
decidiu que o sionismo não teria sentido longe de Sion. Os
terroristas contra árabes e britânicos. Em sionistas incentivaram os judeus a se estabelecerem na
1940, Avraham Stern, radical sionista, criou Palestina, comprando terras e formando comunidades.
a Lehi (Lohamei Herut Israel - Combatentes
2500
f 2000
1500
1000
E
E
o,
500
o
1882 1914 1931 1935 1947 1948
FontO: MASSOULIE, Fracçois. Os
conflitos no Oriente Médio. So
Porcentagem de judeus em relação à população total
Paulo: Atica, 1994. p. 65.
IsLamismo é a religião muçulmana, o mesmo que Islã. O lslà é formado por dois
grupos básicos: os sunitas - maioria de 90%, governo de um consenso comunitário; e
os xiitas - minoria de 10%, dirigidos por um imã, um sucessor de Ali - genro e primo do
profeta Maomé, considerado pelos xiitas seu herdeiro legítimo. É importante lembrar que
nem todo árabe é muçulmano, e nem todo muçulmano é árabe.
IsraeLense é todo cidadão do Estado de Israel. Há israelenses árabes que, por sua vez,
podem ser muçulmanos, cristãos, agnósticos, ateus etc.
Unidade de batalha
do Haganah
posicionada na
fronteira com a
Libia. em 28 de
maio de 1948.
— 188
i,z,_ _._,,
'_ i
o
A ocupação de territórios árabes
pelos israelenses deu início ao drama dos
refugiados palestinos. Aproximadamente
750 mil pessoas saíram de casa e de suas
terras, que foram ocupadas por judeus.
De acordo com a resolução da ONU de
dezembro de 1948, os palestinos teriam
direito a retornar a suas casas, mesmo em
território de Israel, mas o primeiro-ministro
israelita, David Ben-Gurion, mostrou-se
Iviembros do recem-criado Estado de Israel reunem-se para escutar o primeiro-ministro
David Ben-Gurion ler a Declaração de lndepondi1nria Tel Aviv lsraeã. 11 raio 1 948. contrário ao regresso dos refugiados.
Organizando !dei
Leia os textos e, em seguida, faça o que se de Lamia, ou nos territorios ocupados por Israel. No
pede. entanto, quase todos os que morrem diariamente,
baleados nos confrontos de ocupação, são menores
Texto 1 de 20 anos; nasceram depois de 1967, ano em que
Acho que é preciso reconhecer a existência de uma Israel ocupou militarmente a Cisjordânia e a Faixa
terrível história de antissemitismo - principalmente de Gaza, na Guerra dos Seis Dias [veremos adiante].
um antissemitismo europeu e cristão. Na Europa, esse Alguns meios de comunicação já os chamam de "a
antissemitismo culminou no holocausto. É inaceitável geração de ocupação".
que se negue a pavorosa experiência do antissemitis- Para justificar a implantação do Estado judeu em
mo e do holocausto. Não queremos que a história do um território já ocupado por milhões de palestinos,
sofrimento de ninguém seja ignorada e não registrada. alguns dirigentes israelenses chegaram a afirmar
Por outro lado, há uma grande diferença entre se re- que a solução é uma questão de paciência, pois o
conhecer a opressão aos judeus e usar isso como um problema chegaria ao fim com a morte da geração
pretexto para a opressão de outro povo. É preciso ser expulsa de suas terras em 1948 (ano em que foi
capaz de distinguir entre o que aconteceu aos judeus criado o Estado de Israel). Equivocaram-se.
na Segunda Guerra Mundial e na Europa nos séculos "Atiramos pedras neles porque não temos ar-
de antissemitismo aberto e institucionalizado e o que mas", disse Kassam, de 18 anos, ao explicar a razão
as pessoas sentem a respeito dessa terrível ocupação pela qual arrisca sua vida enfrentado desarmado
militar e despojamento da Palestina [ ... ]. as patrulhas israelenses. Kassam nasceu no campo
de refugiados de Jebalya, em Gaza, mas seu pai já o
SAIO, Edward W. Cultura e resistência, Rio de Janeiro:
levou várias vezes, junto com seus irmãos, ao alto
Ediouro, 2006. p. 179.
do morro em Israel, para mostrar-lhe o lugar onde
ele nasceu e sua família viveu durante gerações, até
Texto 2
ser arrasada pelas autoridades israelenses, que já
O drama dos refugiados palestinos destruíram, e literalmente apagaram do mapa, mais
de mil antigos povoados palestinos.
"Não posso morrer sem voltar a Haifa e ver a casa
em que nasci." Essa frase, dita com lágrimas nos olhos BISSIO. Beatriz. Nada serã como antes. Cadernos do Terceiro
por Lamia - urna senhora idosa, que vive com a filha Mundo. Rio de Janeiro, o. 107, p. 12. 1ev. 1988.
189
Os confLitos árabe-israeLenses
A criação do Estado de Israel acar- países árabes conservadores, apoiou a in-
retou uma significativa mudança na re- surreição argelina e pregou o pan-arabismo
gião da Palestina, onde a tensão passou a - a necessidade de os árabes se unirem para
ser constante entre árabes muçulmanos e enfrentar o imperialismo e o sionismo.
israelenses. Além disso, Israel passou a ser Em 1955, Nasser fez um acordo militar
visto como inimigo por diversos países vizi- com a União Soviética, que forneceria aos
nhos, sobretudo Egito,Jordânia e Síria. No egípcios 120 aviões de combate, entre ou-
caso do Egito, mudanças na política inter- tros artefatos bélicos. O governo soviético
na do país aumentaram ainda mais a aver- também ajudou a financiar a construção
são ao Estado judeu. da barragem de Assuã, no Rio Nilo, com o
O Egito foi governado pelo rei Faruk objetivo de dar ao país segurança nas áreas
de 1936 a 1952, quando o monarca passou de energia e produção de alimentos.
a ser acusado de comandar um regime cor-
rupto, ineficiente e subserviente às ações es-
trangeiras no país, sobretudo de britânicos
A Guerra de Suez
e franceses. A oposição crescente culminou No aniversário da queda do rei Faruk,
em um golpe militar desfechado por oficiais em 26 de julho de 1956, Nasser anunciou
nacionalistas, que transformaram o país em a nacionalização do CanaL Marítimo de
uma República, com ambições revanchistas Suez, assim como da empresa que admi-
em relação a Israel. nistrava o canal, uma companhia anglo-
-francesa. Os governos da França e do Rei-
no Unido reagiram, chegando a comparar
Nassera Hitler.
É importante lembrar que dois terços
do petróleo destinado à Europa passavam
pelo canal, o que explica a reação das an-
tigas potências colonialistas. Além disso, o
fato de Nasser apoiar os guerrilheiros arge-
linos incomodava o governo francês, que
desejava manter uma "Argélia francesa".
O governo israelense também se sentia
ameaçado por Nasser, que, além de apoiar
incursões de palestinos em ações armadas
contra o Estado de Israel, havia adquirido
armas soviéticas.
— 190
Reino Unido, França e Israel Firmaram aliança
visando derrubar o governo de Nasser, pois acredi- garantindo a Israel uma pausa de dez anos, traz
em si o germe de um novo conflito, já que o Egi-
tava-se que uma derrota militar desmantelaria seu
to não aceita a diferença de tratamento aplica-
poder. Para manter as aparências, em um acordo
da aos beligerantes. Os capacetes azuis da ONU
diplomático secreto, essas três nações combinaram não acampam no território de Israel, o agressor,
que Israel atacaria os egípcios, cabendo à França mas sim no do agredido [ ... I.
e à Inglaterra intervir para pôr fim à contenda. O
MASSOULIÉ, Francois. Os conflitos no Oriente Médio.
acordo foi efetivado na França, na localidade de São Paulo: Ática, 1994. p. 79-80.
Sêvres, e por isso recebeu o nome de Protocolo
de Sèvres. Com o objetivo de evitar novos conflitos na
No dia 29 de outubro de 1956, colunas de região, a ONU criou a Força de Emergência das
tanques israelenses irromperam na fronteira egípcia, Nações Unidas (Fenu), inicialmente com cerca
vencendo as forças de Nasser com certa facilidade. de 6 mil homens cedidos por vários países, inclu-
A Grã-Bretanha e a França, conforme combinado, sive o Brasil, onde o grupo enviado para a região
exigiram um imediato cessar-fogo, porém não ficou conhecido como Batalhão Suez.
atacaram Israel, a nação agressora, mas o Egito. Apesar de derrotado militarmente, Nasser
Aeroportos foram bom bardeados e a zona de Suez obteve importante vitória diplomática, emergin-
foi ocupada. Mesmo com a condenação da ONU, do como o grande líder do pan-arabismo. Sua
os invasores não se retiraram. crescente inserção no cenário internacional, como
Para a União Soviética, o conflito em Suez uma das principais vozes do Movimento dos Países
foi oportuno, pois desviou a opinião pública da Não Alinhados, conferiu-lhe grande popularidade.
repressão que as tropas do Pacto de Varsóvia
promoviam na Hungria. Diante da tensão criada,
rtormnç5o 34
os soviéticos ameaçaram atacar israelenses, fran- franco•h,itãnj Mar
C, Ido no,d'4b,O
ceses e ingleses com armas nucleares. Mediterrâneo
04
Nesse contexto, Israel, França e Grã-Breta-
1
nha recorreram à aliança com os Estados Uni- ric
dos. Contudo, o presidente norte-americano,
Dwight Eisenhower, em represália por não ter
sido consultado sobre o acordo, negou apoio
à expedição. Eisenhower estava em campanha
para a reeleição e um de seus lemas era a paz,
Kaloat
por isso não poderia apoiar a agressão de france- ol-Nakhel
ses, ingleses e israelenses, que recuaram.
Ácaba
SIt'AI
1:6400000
lugares serão tomados pelos Estados Unidos e
pela União Soviética. Ao contrário de seus alia- '. Colunas israelenses blindadas Controle completo do
dos de ocasião, Israel alcançou seus objetivos. Itinerários
- Sinai —3a 5de novembro
\ ISRAEL
Sinai com o objetivo de controlar o Es-
JORE)ÂNIA
treito de Tiran, localizado entre o Golfo
Bira(a de Ácaba e o Mar Vermelho. A resposta
R0/
Suez_-i_\_.. -8irelTlIo)..
israelense foi uma guerra que começou
em 5 de junho de 1967, marcada pela
EGITO Kalaat Eilas
el-Nakhel Ácaba
rápida ofensiva israelense contra Egito,
Jordânia e Síria.
SINAl
operações israelenses
A De 5a 8 de junho (combates no Sinail
ARABIA
SAUDITA De 60 8 de junho (combates na Cisjnrdânial
, EI-Tor
$(arni De 9 a 10 de junho (combates em Golã(
128km 41 Sheikh
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- Canal de Soez
1:6400 000
Principais combates
Di.Y. :cR:es
11 ti Atlas histõrjco mundial 3. ed Barcelona: Larousse Editorial, [J Dispositivos egípcios
2fl . 3 1. em 5 de junho de 1967
A Guerra dos Seis Dias foi um conflito que ne- liberdade de navegação no estreito de Tiran e no
nhuma das partes desejava e que, ao contrário do que canal de Suez; a desmilitarização da península do
possa parecer, careceu de planejamento político e Sinai e das colinas de Golã e a não interferência no
estratégico por parte de Israel, embora muitos analis- escoamento de água das nascentes do rio Jordão. Em
tas árabes acreditassem que o conflito fora delibera- relação à Cisjordânia — que na época já tinha uma
damente provocado pelos israelenses para expandir população de 1,2 milhão de palestinos -, o gabinete
território. Contudo, a conquista da Cisjordânia e das ficou dividido entre a opção de dar autonomia aos
colinas de Golã foi definida ao longo das batalhas palestinos, mas manter o território sob controle
e não estava nos planos iniciais dos estrategistas israelense, ou devolver parte dele à Jordânia.
israelenses. Tanto é que, em 19 de junho, o gabinete
CAMARGO, Ctáudio. Guerras árabe- israelenses. In: MAGNOLI.
israelense reuniu-se e decidiu propor um acordo Dernélrjo lOrg.). História das guerras. São Paulo: Contexto,
de paz com o Egito e a Síria, retirando suas tropas 2006. p. 441-442.
das áreas ocupadas desde que fossem garantidas a
192 ríto7
Em apenas seis dias, a vitória de Israel
era incontestável. O cessar-fogo ocorreu
graças às intensas atividades diplomáticas
de soviéticos, norte-americanos e da ONU.
8 Em novembro de 1967 o Conselho de
Segurança da ONU votou a Resolução 242,
que exigia "a retirada das Forças Armadas
israelenses dos territórios ocupados". Isso
acabou não acontecendo: Israel ocupou o
Sinai e a Faixa de Gaza, territórios perten-
1 'z 1 centes ao Egito; as Colinas de Golã, que
pertenciam à Síria; e a Cisjordânia, então
sob o domínio dajordânia.
193
2 Viajando pela históra
De onde surgiu o Entre os séculos XI e XIII, o grupo co-
nhecido como Assassinos ficou marcado
terrorismo?
por atuar de maneira violenta em ações
A palavra terrorismo tem vários signi- contra a ordem política e religiosa vigente
ficados. no Oriente Médio. A fama do grupo cresceu
Terrorismo pode ser entendido como nos séculos seguintes, o que pode serjustifi-
coação, ameaça ou influência de outras cado pela associação da organização a prá-
pessoas por meio da imposição de sua von- ticas terroristas e pelo fato de seus integran-
tade ou pelo uso sistemático da violência, tes serem considerados fanáticos religiosos
e também como uma ação política que radicais, dispostos a fazer qualquer coisa em
combate o poder estabelecido mediante o defesa de suas crenças.
emprego de atos violentos. Muitos governos A origem da palavra assassinos está
já recorreram ao terror - portanto, à vio- nos termos árabes assaci, assasiou hassassi,
lência - para se manterem no poder, assim que significam haxixe, ou seja, assassinos
como grupos de diversas correntes ideológi- eram aqueles que consumiam haxixe, um
casjá usaram a estratégia da violência para alucinógeno. Conta-se que, sob o efeito
promover a luta em torno de uma causa. de haxixe, o futuro fedayiri (aquele que se
Ao longo da história, grupos diversos sacrifica) era levado para um ambiente
usaram métodos terroristas. Quando os paradisíaco formado por belas mulheres,
romanos ocuparam aJudeia no século 1 da jardins floridos e fontes de águas límpidas.
Era Cristã, surgiram os sicários, homens que Durante ojuramento de lealdade, garantia-
usavam adagas curvas chamadas de "sicas". -se que aquele que morresse pela causa
Eles objetivavam abalar o domínio romano viveria nesse local eternamente.
por meio do terror. Incitavam rebeliões, A seita sobreviveu por cerca de 166
executavam autoridades romanas e assassi- anos, até que os mongóis tomaram a for-
navam indiscriminadamente todos que com- taleza, considerada o centro de operações
pactuavam com a dominação estrangeira. da organização.
Quanto ao lugar dos Assassinos na história do e violência intencional, não teve nenhum para-
Islã, quatro coisas podem ser ditas com razoável lelo nos tempos antigos ou posteriores; a quarta
segurança. A primeira é que seu movimento - o questão, e talvez finalmente a mais significativa,
que quer que sua impetuosa força possa ter sido é o seu fracasso final e completo. Os Assassinos
- foi encarado como uma profunda ameaça à or- não derrubaram a ordem existente; não tiveram
dem existente, política, social e religiosa; a segun- êxito em conservar sequer uma única cidade de
da é que eles não são nenhum fenômeno isolado, qualquer tamanho. [ ... ] No entanto, a propensão
fazendo parte de uma longa série de movimentos oculta de esperança messiânica e a violência re-
messiânicos, a um tempo populares e obscuros, volucionária que os iinpelira continuaram, seus
impelidos por angústias profundamente enrai- ideais e métodos encontraram muitos imitadores.
zadas e, de quando em quando, explodindo em Para estes, as grandes mudanças do nosso tempo
sublevações de violência revolucionária; a terceira proporcionaram novas causas para a ira, novos
é que Hassan bin Sabbah e seus seguidores foram sonhos de realização, e novos instrumentos de
bem-sucedidos em reformar e dar um novo senti- ataque.
do aos vagos desejos, às crenças rebeldes e à raiva
LEWIS. Bernard. Os Assassinos: os primórdios
sem objetivo dos descontentes, em uma ideologia
do terrorismo no Islâ. Rio de Janeiro:
e em uma organização que, em coesão, disciplina Jorge Zahar Editor. 2003. p. 156.
194 iito 7
Organizando ideias
Leia ostextos e, em seguida, faça o que se pede atento não apenas para meus próprios preconcei-
tos, mas para qualquer generalização.
Texto 1
Alguns muçulmanos que conheci acreditavam
Quem são e o que querem os grupos efetivamente que o Corão, o seu livro sagrado, era
extremistas que propagam o terror? um projeto para a sociedade que podia e precisava
Grupos como Estado Islâmico, Al-Qaeda, Ta- realizar-se na Terra. Outros amavam e admiravam
libã e Boko Haram geralmente se consolidam em os ensinamentos do Profeta Maorné, mas compre-
regiões de minorias excluídas, dentro de países endiam a impossibilidade de implementá-los no
que até hoje são ditaduras, monarquias absolu- mundo moderno. Havia aqueles desprovidos de
tistas e com histórico de violação dos direitos uma genuína fé, mas que se alimentavam do lega-
humanos, afirma Jorge Mortean, professor de do cultural e histórico do Islã, de que se sentiam
relações internacionais da Fundação Armando orgulhosos em compartilhar.
Álvares Penteado (Faap) e mestre em estudos re- [... ] Urna quantidade ainda menor buscava a ex-
gionais de Oriente Médio pela Academia Diplo- pansão da sua religião por todo o mundo. E muitos
mática Iraniana. punham-se na defensiva, preocupados com o im-
Eles são a origem de outras células terroristas e pacto do que consideravam um "Ocidente" agres-
também formam alianças ou dão apoio institucio- sivo e belicoso contra suas culturas e sociedades.
nal uns aos outros. Mas uma proporção igualmente grande - muitas
vezes as mesmas pessoas - também se sentia atra-
II ... ]
Em comum, esses grupos têm o fundamen- ída e inspirada por esse "Ocidente". Poucos eram
talismo religioso, baseado em uma interpretação levados à violência. Comecei aos poucos a me dar
radical da lei islâmica. "Porém eles para nada re- conta de que o "Islã" era um rótulo que se podia
presentam o Islã", enfatiza Mortean. "O problema aplicar a muitas coisas, sem que descrevesse ade-
não é o Islã, são as forças políticas que usam o Islã quadamente nenhuma delas.
para se manterem ditatoriais e que, majoritaria- BURKE, Jason. A caminho de Cabul e Bagdá:
relatos dos conflitos no mundo islâmico.
mente, foram financiadas pelos países que hoje Rio de Janeiro: Zahar, 2008. p. 29-30.
sofrem com esses grupos."
Reflita e responda: Porque esses grupos são
Gi, 27
nov. 2015. Disponível em: <http://g.gtobo.com/
mundo/noticia/201 5/1 1/quem-sao-e-o-que- chamados de extremistas?
querem-os-grupos-extremistas- que- propagam-
o-terror.htmt>. Acesso em: abr. 2016. Existe uma relação entre os grupos citados
Texto 2 tEstado Islâmico, AI Qaeda, Tatibã, Boko
Haram)? De acordo com os textos, eles
Uma visão sem preconceitos podem ser considerados representantes do
[ ... ] Hoje vejo que a viagem ao Curdistão foi o Islã? Justifique.
início de um longo processo de aprendizado, cuja
grande lição é que a expressão "mundo islâmico" 3.A reportagem do texto 1 foi feita em 2015.
não se refere a um bloco monolítico uniforme em Esses grupos continuam agindo atualmente?
que criaturas esquisitas chamadas muçulmanos Faça uma busca on-line sobre as ações des-
levam suas vidas de acordo com uma religião mis- ses grupos no mundo e anote as principais
teriosa e reacionária, mas a uma imensa entidade informações. Apresente-as em sala de aula.
variada, dinâmica, espiritual, cultural e política
4. Qual é a visão apresentada pelo autor do
que desafia uma definição geográfica, étnica ou
texto 2 sobre o Islã?
racial. A experiência também me ensinou a estar
Forno: )J3 Geo: es ;. Atlas histórico mundial. 3. ad. Barcelona: Larousse Editorial. 2011. p. 311.
196 .to7
, v
tI
/ / 1
--
-
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Misseis lis abíicdçao 50. eLca Es 5 cxi oicso durante parada wiHar no bali o. Lgito ao aniversario de Ires anos do inicio da guerra
com Israel. Ao fundo, o Monumento ao Soldado Desconhecido, 7 out. 1976.
Enquanto os sírios foram apoiados pela Egito e Israel, sem alterar imediatamente a situa-
União Soviética, tendo recebido um armamento ção dos territórios ocupados, pois Israel apenas
sofisticado, os israelenses contaram com o apoio devolveria o Sinai em 1982.
do Estados Unidos, que atenderam ao pedido Uma importante consequência da Guerra
da primeira-ministra israelense, Golda Meir, e do Yom Kippur foi a Crise do Petróleo. Os países
enviaram armas de última geração a Israel. Esse árabes, diante do apoio dos países capitalistas a
auxílio estadunidense foi importante para que os Israel, usaram o petróleo como arma econômica e
israelenses pudessem rapidamente organizar uma diplomática, boicotando a distribuição do produ-
poderosa contraofensiva. Assim, sírios e egípcios to. Os preços dispararam de 2,90 dólares o barril,
sofreram sucessivas derrotas até que o conflito em setembro de 1973, para 11,65 dólares o barril,
fosse interrompido graças a novas negociações em dezembro do mesmo ano. Em 1974, os efeitos
de paz, que ocorreram, mais uma vez, com forte da crise causaram a desestabilização da economia
intervenção dos EUA, da URSS e da ONU. mundial e forte recessão.
A Guerra do Yom Kippur não alterou territó-
rios, pois os israelenses continuaram ocupando as Organizando ideias
áreas invadidas em 1967. Contudo, o Egito provou
O que foi a Guerra do Yom Kippur?
que tinha uma força militar respeitável. Em par-
te, Sadat conseguiu seu principal objetivo: definir Explique e coritextualize a frase de Sadat:
uma posição de relativa força para negociar. "Não pode haver felicidade para ninguém
Em 1978, os líderes do Egito, Anwar el-Sa- à custa da miséria de outrem.
dat; de Israel, Manachem Begin; e dos Estados
Unidos,Jimmy Carter, reuniram-se em Camp Da- De acordo com as observações do último
vid (EUA) para negociar um acordo entre árabes parágrafo do texto, o petróleo é uma rique-
e israelenses. Os acordos de paz de Camp David za usada em benefício de todos? Explique.
foram assinados em 1979 e selaram a paz entre
197
 questão paLestina
Com a criação do Estado de Israel e a Primeira causa palestina por meio de ações armadas. Entre
Guerra Árabe-Israelense, cerca de 750 mil refugia- seus principais fundadores estava o engenheiro
dos foram instalados, em caráter provisório, em Yasser Arafat.
território jordaniano. Nos anos seguintes, milhares Os palestinos atacavam alvos israelenses lo-
de palestinos passaram a viver na Síria, no Egito, calizados em Gaza e na Cisjordânia. Muitas vezes,
no Líbano e nos demais países da região. Muitos a repressão foi desproporcional ao ataque sofrido,
também emigraram para a Europa e para o con- como em 1953. Na ocasião, um grupo palestino
tinente americano. atacou o território, vitimando uma mulher e seus
A resistência palestina começou antes da dois filhos. O Mossad, serviço secreto de Israel,
formação do Estado de Israel e passou por várias fundado em 1951, descobriu que os atacantes
etapas, até chegar ao estágio atual. Durante longo haviam saído de Qibya, na Jordânia, e então a
período, os grupos palestinos não aceitaram a Unidade 101, comandada pelo majorAriel Sharon,
partilha do território pela ONU, negando, por- atacou o lugarejo explodindo casas e matando 69
tanto, o direito de um lar nacional para os judeus. civis, a maioria mulheres e crianças. Ações como
Em 1959,
foi criada a AI Fatah ("vitória" ou "con- essa aumentaram ainda mais as tensões entre os
quista"), cujo principal objetivo era manter viva a dois grupos ao longo dos anos.
198 '1107
Em 1964 foi criada no Cairo, capital do Egito, a
Organização para a Libertação da Palestina (OLP), 1H
de cunho nacionalista, com o objetivo de reunir os
diversos grupos palestinos e apoiadores em uma 1H =
frente única a favor dos palestinos e contra Israel.
A liderança de Ahmad Chukeiri foi logo superada
por Yasser Arafat, que, por meio de ações armadas,
procurava chamar a atenção do mundo para o pro-
blema palestino. Contudo, os palestinos estavam
longe de unir-se. Por motivos ideológicos, pessoais
e também em razão das divisões entre os países
árabes, surgiram grupos rivais entre os próprios
palestinos, como a Frente Popular para a Liberta-
ção da Palestina (FPLP), em 1967, de inspiração
marxista-leninista e liderada por George Habash.
Em setembro de 1970, os palestinos que
viviam najordânia tentaram impor sua política
ao rei Hussein. Estabeleceu-se um conflito entre
os guerrilheiros palestinos e o exército jordania-
no, no qual cerca de 10 mil palestinos foram
mortos. A OLP foi expulsa dajordânia e o epi-
sódio passou a ser chamado pelos palestinos de
Setembro Negro.
No final da década de 1960 e durante a
Terrorista árabe do grupo Setembro Negro em ataque às acomodações de
década de 1970 o terrorismo internacional foi Israel na Vila Olímpica de Munique (Alemanha). em 5 de setembro de 1972.
bastante atuante. A maioria dos grupos era da
esquerda radical, como as Brigadas Vermelhas na
Itália; a Fração do Exército Vermelho (em alemão, Israel soube usar o atentado em Munique para
Rote Armee Fraktion - RAF), também conhecida incriminar os palestinos e aplicar uma política de
como grupo Baader-Meinhof, liderado por Andreas retaliação crescente. A primeira-ministra do país,
Baader e a jornalista Ulrike Meinhof, e grupos de Golda Meir, criou um comitê governamental que
cunho emancipacionista como o ETA, na Espa- encarregou o Mossad de matar todo membro do
nha, e o IRA, na Irlanda do Norte. Setembro Negro que estivesse envolvido direta ou
Algumas organizações palestinas optaram indiretamente no atentado - era a vingança israe-
por ações terroristas. A Frente Popular para a lense. Foram assassinadas 36 pessoas. Nem todas
Libertação da Palestina sequestrou aviões e as- elas, porém, tinham vínculo direto com o grupo.
sassinou personalidades ligadas a Israel, além de
executar palestinos dissidentes.
Durante os Jogos Olímpicos de 1972, em
L Pausa para investigação
5 de setembro, oito terroristas invadiram o Organize-se em grupo e, juntos, Localizem
alojamento israelense na Vila Olímpica, em Mu- em jornais, revistas e na internet reporta-
nique, autodenominando-se Setembro Negro. gens, artigos e imagens sobre a situação
Mataram dois membros da delegação israelense atual na região de conflito Israel/Palestina.
e fizeram nove reféns. Exigiram a libertação de Escolham no méximo três fontes de infor-
234 palestinos presos em Israel e mais dois líde- mação e façam um trabalho escrito, incluindo
res do grupo Baader-Meinhof. As negociações as reportagens e, em seguida, as conclusões
fracassaram. O saldo foi de 11 atletas e cinco do grupo a respeito do assunto.
terroristas mortos.
199
IsraeLenses e paLestinos em confronto
Em dezembro de 1987 a frequente opressão luta armada e aceitou o direito de existência do
sofrida pelos palestinos fez irromper a Primeira Estado de Israel. Contudo, a invasão iraquiana
Intifada nos territórios ocupados por Israel. Ata- do Kuwait, em 1990, colocou as negociações
cados por pessoas comuns, na maioria jovens, em pausa. Na ocasião, Arafat apoiou o gover-
sem nenhum preparo militar, os israelenses res- nante iraquiano, Saddam Hussein, atitude que
ponderam com violência. Imagens do ocorrido impossibilitou o diálogo com os EUA. Além de
foram veicu ladas em diversos lugares do mundo e ter afinidades religiosas com Saddam Hussein,
atraíram a atenção internacional para a causa pa- os palestinos questionavam a imparcialidade dos
lestina, o que aumentou as pressões sobre Israel. Estados Unidos e da ONU quando se tratava das
A lntifada provocou mudanças significativas ações israelenses na Palestina. Leia, a seguir, os
no movimento político palestino. Considerada argumentos de um palestino sobre essa questão.
omissa por parte da comunidade palestina, a OLP
perdeu popularidade e foi fundado, na Faixa de
[ ... ] As massas árabes percebiam que os EUA
Gaza, o Hamas (Movimento de Resistência Islâ-
impunham um padrão duplo. As violações das
mico), de caráter mais radical.
leis internacionais pelo Iraque foram punidas
Em 1988, objetivando obter apoio dos Es- sem misericórdia e as resoluções da ONU foram
tados Unidos para a causa palestina, o Conselho impostas à força, mas a desobediência das reso-
Nacional da Palestina, órgão da OLP, abdicou da luções da ONU por Israel, que fazia troça das
Nações Unidas desde 1949, era ignorada. Israel
vinha ocupando território ilegalmente, anexan-
do terras e desafiando a ONU havia décadas,
mas nenhuma sanção punitiva era imposta ao
país. Além do mais, Israel tinha capacidade nu-
clear, que não havia sido sujeita às mesmas in-
vestigações por inspetores de armas impostas ao
litardolraque.
- 200
No ano seguinte, a Jordânia assinou um tratado sociedade israelense, e Arafat, por sua vez, não
com Israel e autoridades israelenses demonstraram tinha poder para controlar os radicais palestinos.
a intenção de devolver as colinas de Golã à Síria. Em Israel, a oposição cresceu, culminando com
Apesar das limitações, era um bom começo para um assassinato de Rabin (em 4 de novembro de
acordo de paz. 1995) por um estudante judeu ortodoxo.
Para muitos palestinos, Arafat fizera muitas O novo primeiro-ministro israelense, Shimon
concessões e pouco obtivera, pois mesmo nos Peres, tentou, sem sucesso, levar adiante o pro-
territórios devolvidos os palestinos continuavam cesso de paz. Leia a análise de um judeu sobre
subordinados, econômica e militarmente, a Israel. essa questão.
O problema dos refugiados, dos assentamentos
judeus e da soberania palestina estava longe de Apesar do luto, o processo de paz foi in-
qualquer solução. terrompido quando um graduando da uni-
Já em Israel, o Partido Likud (conservador), versidade da Margem Ocidental foi morto na
os partidos religiosos e grupos partidários de um cidade de Gaza, em 5 de janeiro de 1996. No
"Israel grande", como nos tempos bíblicos, viram mês seguinte, em um atentado suicida, um ter-
rorista matou 25 pessoas num ônibus em Jeru-
nas ações de Rabin um sinal de fraqueza, colocan-
salém. Mais tarde, no mesmo dia, outro suicida
do o Partido Trabalhista na defensiva.
explodiu-se num ponto de ônibus, matando
Para agravar a situação, multiplicaram-se um israelense. O conselheiro de Arafat, Ahmed
os atentados em território israelense realizados Tibi, condenou os assassinatos, insistindo que
pelos movimentos integristas, especialmente o a onda de terrorismo deveria chegar ao fim.
Hamas e a Jihad Islâmica. Homens-bombas ex- Apesar de seu apelo, treze israelenses foram
plodiam em locais públicos matando civis. Em mortos em 13 de março num atentado suicida
em Jerusalém. No dia seguinte, outro atacante
um atirador israelense abriu
fevereiro de 1994,
suicida explodiu-se em meio a uma multidão,
fogo contra palestinos que estavam em uma mes-
matando dezoito pessoas.
quita na cidade de Hebron, matando 25 pessoas.
COHN-Sl-IERBOK, Dan, EL-ALAMI, Dawoud.
Os partidários de uma solução negociada,
O conflito Israel-Palestina: para começar a entendee..
de ambos os lados, perderam popularidade. São Paulo: Palíndromo. 2005. p. 191.
Rabin foi pressionado por amplos setores da
201
daquele ano e Sharon tentou desacreditar a Auto- deveriam pertencer aos palestinos. Pior ainda,
ridade Nacional Palestina e seu líder, Arafat, afir- novos assentamentos foram construídos.
mando que ele não tinha controle sobre seu povo. A construção de um muro de segurança de
Era uma forma de brecar as negociações. mais de 700 quilômetros, erguido por Israel
Após os acordos de 1993,
o processo de paz na Cisjordânia, isolando milhares de palesti-
pouco avançou. Yasser Arafat faleceu em 2004. nos. Segundo as autoridades de Israel, a razão
Anel Sharon deixou o cargo em dezembro de é evitar a entrada de terroristas no país. Já os
2005. Novas tideranças surgiram. A invasão de palestinos afirmam que essa ação visa conso-
Israel ao sul do Líbano em 2006 (que resultou em lidar o domínio de assentamentos ilegais de
mais de mil mortos, dez árabes para cada israe- colonos judeus em territórios que deveriam ser
lense) e os confrontos entre o Hamas e a Fatah entregues aos palestinos.
são episódios que indicam que a paz está longe de A questão dos refugiados palestinos e seu so-
ocorrer. Algumas razões estão descritas a seguir. nho de retornar à pátria não tem sido objeto
A oposição de Israel à evacuação dos territórios de discussão.
ocupados desde 1967, como determinado em O Hamas não reconhece a existência do Estado
uma resolução da ONU. de Israel. Ao visitar Gaza, em 8 de dezembro de
Os palestinos não aceitam a formação de um Es- 2012, o líder do movimento islamita Khaled
tado constituído por uma série de enclaves, se- Meshaal fez um discurso convocando seus se-
parados uns dos outros por território israelense. guidores a "libertar toda a Palestina" e descar-
A recusa de Israel em desmantelar assenta- tando a possibilidade de reconhecer o direito
mentos ilegais construídos em territórios que de Israel ser um Estado soberano.
. H
-
-
!b -
Paes[inos queinnm pneus e atuam pedras contua meíabros das forças de segurança israelenses na Faixa de Gaza, 2015.
A Glossário- -----..------- -- --
202 Cratulo7
Em 29 de novembro de 2012 a Assembleia que, de acordo com o direito internacional, os as-
Geral da ONU aprovou a Palestina como Estado sentamentos são ilegais.
observador. Esse reconhecimento dá a seu governo o Apesar dos poucos avanços nos últimos anos,
direito de participar das agências da ONU e doTri- já existem representações diplomáticas da Pales-
bunal Penal Internacional, com sede em Haia. Como tina em diversos países. No âmbito esportivo, os
Israel tem violado sistematicamente as normas mais palestinos têm participado de várias competições
elementares do Direito Internacional, deverá, no oficiais, como as eliminatórias asiáticas para a
futuro, responder por suas ações, especialmente as Copa do Mundo de Futebol. Ainda assim, as
que afetam indiscriminadamente a população civil. perspectivas para o futuro da região são incertas.
No mesmo dia, o primeiro-ministro de Israel, A necessidade de uma solução para essa
Benjamin Netanyahu, declarou que "nada vai questão se torna cada vez mais evidente, tanto para
mudar" e anunciou a retomada das obras israelenses quanto para palesti nos. A obtenção de
em assentamentos nos territórios ocupados. um acordo definitivo de paz é possível, mas não
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, lembrou sem que haja um grande esforço diplomático.
Organizando ideias
L
Leia o texto e faça o que se pede. pessoas de temperamento racional e capazes dccxc-
cutar tarefas sem se deixar paralisar por emoções. Os
Os que se matam por uma causa
famosos camicases japoneses dalI Guerra Mundial
Ninguém discute sua eficácia. Eles são mais pre-
tinham o direito de recusar, sem nenhum demérito
cisos e letais que os mísseis guiados por satélites e
para sua honra pessoal, a missão suicida de atirar seu
refinados sistemas de navegação. 1...] Mas o que faz
avião carregado de bombas contra os navios inimi-
um homem ou, cada vez mais agora, uma mulher
gos. Os chefes do esquadrão camicase, tecnicamente
anular o instinto mais forte, o da sobrevivência, e
chamado de Unidade de Dano Corporal, aceitavam
aceitar se matar por uma causa? [ ... ]
apenas pilotos absolutamente convencidos de seu
O suicida político não se parece em nada com
papel divino de entregar a vida para defender o im-
aquele que, em um ato solitário, tira a própria vida por
perador. Não faltavam voluntários. Só na batalha de
não mais suportá-la. O arcabouço psicológico dos que
Okinawa, em abril de 1945, 2 mil deles se lançaram
se matam por uma causa também não tem paralelos
com seu avião contra trezentos navios americanos,
com o fanatismo religioso de seitas cujos seguidores se
causando mais de 5 mil mortes.
imolam em busca de um atalho que apresse sua che-
gada a algum plano espiritual superior. Como define RIBEIRO, Antônio. Estudo mostra como funciona a
cabeça dos suicidas polêmicos. Veja, São Pauto, Abril
historiador francês [François Géré], o extremista ComunicaçõesS/A, n. 1841. p. 60-61, íev. 2004.
político se mata não porque ele esteja mal, mas porque
mundo precisa ser modificado. "Nesse particular, Quem são "os que se matam por uma causa"?
ele é um otimista, um bravo, um combatente cujo ato
Por que o autor do texto compara os homens-
ele vê aparentado com a bravura militar", disse Géré a
-bombas a mísseis?
Veja. Uma das características comuns mais marcantes
do suicida com causa deriva dessa condição, e ela tem 3 Diferencie o suicida comum do suicida político.
fundas razões econômicas. Os legionários romanos
possuíam as próprias brigadas suicidas, formadas 4. Levante hipóteses sobre por que essas pes-
por escravos e condenados que aceitavam morrer em soas se propõem a morrer pela causa que
troca de garantia de uma vida econômica segura para defendem.
seus familiares. A recompensa à família do suicida na
S. Observe nos noticiários se houve recentemen-
Palestina não vem também apenas na forma de exal-
te casos de atentados terroristas provocados
tação póstuma do mártir. Os serviços secretos de Israel
afinnam que os familiares chegam a receber de 100.000 por homens-bombas e onde ocorreram.
a 150.000 dólares pela entrega de um mártir à causa. Depois converse com os colegas a respeito e
Por essa razão também o terrorista que se explo- anote suas conclusões sobre o terrorismo e
de para infligir dano ao inimigo é recrutado entre os suicidas políticos.
203
 RevoLução Iraniana
O lrã era governado desde 1925 pela Dinas- mento estava o aiatolá (significa "espelho de Deus",
tia Pahlevi. Em 1941, Mohammed Reza Pahlevi perito em religião e direito islâmico) Ruhollah Kho-
substituiu seu pai, Reza Khan, que demonstrara meini, que partiu para o exílio em 1964.
simpatia pelas nações do Eixo (Alemanha, Itália Entre 1963 e 1973, a economia iraniana
e japão) na Segunda Guerra Mundial. Reza Pah- desenvolveu-se, mas a maioria da população não
levi, por sua vez, permitiu o avanço dos interesses usufruiu desse progresso. A repressão era a res-
ingleses e, depois, dos norte-americanos no país, posta a todo e qualquer protesto contra o regime.
especialmente no setor petrolífero. Na clandestinidade, oTudeh (Partido Comunista
Na década de 1950, o primeiro-ministro Iraniano) tentava, sem sucesso, desestruturar o
Mohammed Mossadegh nacionalizou o petróleo governo. Com a crise do petróleo, a renda petro-
iraniano, mas foi deposto e preso. A partir de en- lífera iraniana saltou de 3,5 bilhões de dólares em
tão, o xá (monarca iraniano) Reza Pahlevi passou 1973 para 30 bilhões de dólares em 1977. Todo
a governar de maneira cada vez mais autoritária, esse dinheiro era gasto na compra de armas e para
reprimindo os movimentos populares. manter o luxo de uma restrita classe dominante,
Na década de 1960,
com o apoio dos Estados que vivia de modo similar aos ocidentais, enquanto
Unidos, país para o qual vendia petróleo e do qual as grandes massas viviam na pobreza.
comprava armas, o xá iniciou um programa de ino- Entre outubro de 1977 e fevereiro de 1978,
vações, que incluía uma reforma agrária e intensa intensas manifestações popu lares propagaram-se
campanha educativa e sanitária. Seu objetivo era no Irã. Estavam contra o xá: o clero islâmico; os
tornar o país laico e desenvolvido, em uma ótica partidos de esquerda, especialmente oTudeh; os
modernizadora, o que desagradou ao clero islâmico. estudantes; a classe trabalhadora; a classe média;
Reagindo às "reformas ocidentalizantes" do muitos intelectuais; e até uma oposição burguesa
xá, religiosos de Qom (cidade sagrada do xiismo) moderada. Aproximadamente 90% da população
propuseram, em 1963, uma greve geral, mas foram queria a deposição do governante, que em 16 de
duramente reprimidos. Entre os líderes do movi- janeiro de 1979 partiu para o exílio.
Manifestantes invadem e
destroem bancos e órgãos
governamentais em Teerã
durante a Revolução
Iraniana, em 4 de novembro
de 1978.
- 204
A direção do país foi entregue à Frente Na- governo iraniano apoiava diversos grupos con-
cional da Oposição Liberal, liderada por Chapour siderados fundamentatistas islâmicos, mas isso
Bakhtiar. Por falta de apoio popular, o novo nem sempre ocorreu, uma vez que as divergências
comando não conseguiu se manter no poder e eram comuns entre as várias lideranças árabes.
renunciou em favor da formação de um governo
da confiança dos militantes da linha de frente
na luta contra o xá. Entretanto, os elementos Originalmente, o termo fundamentaLismo
designava um movimento religioso conservador
progressistas foram logo excluídos, e o clero
entre os protestantes dos Estados Unidos, no
islâmico, comandado pelo aiatolá Khomeini,
início do século XX, que enfatizava a interpre-
paulatinamente impôs um regime teocrático e
taçâo literal da Bíblia, utilizando-a em todos
ditatorial. Antigos aliados foram reprimidos, os aspectos da vida. Atualmente, o vocábulo é
e o regime desencadeou assassinatos contra a usado para denominar qualquer movimento,
esquerda e os trabalhadores de vanguarda. Uma corrente ou atitude que evidencie a obediência
rigorosa conduta de acordo com preceitos islâmi- rígida a um conjunto de princípios básicos.
cos foi imposta à população. As mulheres foram Portanto, existem fundamentatistas em todas
obrigadas a usar o véu. As minorias religiosas, as religiões: fundamentalismo cristão, judaico,
islâmico. hindu etc.
como os zoroastrianos, baha'is, os muçulmanos
sunitas, além de minorias étnicas, como os cur-
dos, sofreram perseguições ainda mais severas
que as da época do xá.
205ffl
A reação iraniana foi pos . .
sivel graças a venda, de forma
secreta, de peças de reposição
para aviões, tanques e outras
armas de fabricação norte ame
ricana ao regime de Khomeini
4;...
O presidente dos Estados Uni
dos, Ronald Reagan, afirmava
querer evitar o fortalecimento -'
do Irã na região, mas forneceu
armas aos iranianos, a quem
denominava de "fanaticos reli
-- - . -J
viais tarde, aianre aa
giosos .
:--.
possibilidade de vitoria do Irã,
países ocidentais, inclusive os Exercito do Irã se prepara para açoes na regian montanhosa de fronteira entre iraque e Irã , em juritro
Estados Unidos, forneceram de 1988.
206 ::itulo7
part
i IRAQUE Iraque
Invasâo do Kuwait pelo Iraque
____ Linhas de defesa subterrânea
m Posições iraquianas
Baqdá Aliança Internacional
para
!srae1 Forças torrestres
: •Rutba
50 arba\ IRÃ
o
\) TT14 Olensiva terrestre, 24-28 fev. 1991
* ( tropas aerotransportadas e missões anfibias
- Lançamento de rnisseis iraquianos
'4' Operações aéreas da Aliança Internacional
AISalmãn Basia
base KUWAIT
<temporária
Operação tKuwait
Rafhâ
Oaguef
(França
Estados Unidos) EUA Tropas aerotrans
Missões anfibias
+
Estados Unidos! Forças/ as-Al-Halgi
ARÁBIA ..
5
Ohahara
O 158 316km
TAR
40<E 1: 15800000 -Riade ~
íone: DUBY. Georcís [) Atlas histórico mundial, 3 . Bccn: Larousso Fdiloral, 2011. a. 32E
As forças lideradas pelos estadunidenses po- Unido invadiram o território iraquiano. O partido
deriam ter derrubado Saddam Hussein do poder, Baath, de Saddam, foi dissolvido, e seu líder cap-
mas não o fizeram, pois temiam a desintegração do turado e julgado, sendo condenado à morte por
Iraque e o fortalecimento do Irã. Com sua Guarda enforcamento em 2006, acusado do assassinato
Republicana intacta, o governo do Iraque conse- de grupos xiitas.
guiu ainda acabar com a rebelião dos curdos ao O fim do regime de Saddam Hussein pos-
norte e a dos xiitas ao sul. Mesmo enfraquecido, sibilitou uma nova conduta nas relações entre
Saddam continuou no poder. lrã e Iraque. Em janeiro de 2010, os dois países
O governo do ditador só chegou ao fim em assinaram dezenas de acordos de cooperação
2003, quando, sob os pretextos de que o Ira- política e econômica, consolidados, inclusive, pela
que produzia armas de destruição em massa e visita dos líderes aos antigos países rivais, como a
de que Saddam tinha ligação com grupos terroris- ida, em 2008, do presidente iraniano, Mahmoud
tas, tropas lideradas por Estados Unidos e Reino Ahmadinejad, ao Iraque.
Em grupo, divida com os colegas os assuntos çáo dos dois países em relaçáo a guerras internas
para pesquisar sobre o Irá e o lraque atuais. A pro- ou externas. O grupo deve entregara pesquisa em
posta é investigar os aspectos sociais, políticos, forma de trabalho escrito e depois apresentar os
econômicos, culturais e turísticos, além da p051- principais aspectos em sala de aula.
207
O fundamentaLismo islâmico e os
Estados Unidos
As origens do fundamentalismo islâmico atual fundamentalismo islâmico. De acordo com essas
remontam às décadas 1950 e 1960, nas ideias de pessoas, seriam elas: ideologização e politização da
escritores como o egípcio Sayyid Qtub e do paquis- fé; expansionismo; dualismo simplificador (luta do
tanês Abul Ala Mawdudi; o pensamento ganhou bem contra o mal); separatismo (os puros devem
força com a Revolução Iraniana, e adquiriu contor- se separar da sociedade para salvá-la); disposição
nos violentos com as ações de grupos radicais, que ao sacrifício (a jihad - originariamente "esforço
popularizaram o uso de homens-bombas. em prol de Deus" - ganha o sentido exclusivo de
Os fundamentalistas adéquam seus objetivos "guerra santa") e monismo (intolerância a qualquer
de acordo com a região onde atuam, bem como diversidade).
com o grupo a que pertencem. Uns defendem O dia 11 de setembro de 2001 ficou marca-
causas nacionais, porém impregnadas de concep- do por uma série de atentados terroristas contra
ções religiosas; outros procuram preservar valores os EUA. Em Nova York, dois aviões sequestrados
quejulgam ameaçados pelo Ocidente, considerado atingiram as torres gêmeas do World Trade Center,
materialista e imperialista, aliado do sionismo. In- famoso complexo financeiro dos EUA. Em Washing-
dependentemente dos objetivos específicos de cada ton, outro avião sequestrado chocou-se contra o
grupo, há um propósito comum a todos: a instaura- Pentágono (sede do Departamento de Defesa do
ção de um Estado teocrático, fundamentado no Islã. EUA). Esses ataques foram responsáveis pela morte
Alguns historiadores, como o holandês Peter de milhares de pessoas.
Demant, tentaram listar algumas características do Após os atentados, o então presidente dos
Estados Unidos, George Walker Bush, colaborou
para a construção da imagem de que os talibãs
(membros doTalibã, organização política de origem
afegã) do Afeganistão e fundamentalistas do lraque
seriam os grandes responsáveis pelo ocorrido. Nesse
sentido, a ofensiva contra esses países seria uma
forma de "combater o terror", pois era necessária
uma "cruzada" contra os que davam abrigo aos
terroristas. Assim, Bush ordenou a invasão do Afega-
nistão, considerado inimigo da democracia e da paz.
Assim como ocorrera com os talibãs, o regime
autoritário de Saddam Hussein foi associado à
figura de Osama bin Laden, considerado mentor
dos ataques de 11 de setembro. Além disso, o gover-
no estadunidense acusou o Iraque de possuir armas
de destruição em massa - fato jamais comprovado.
Com essa justificativa, Bush obteve amplo apoio
da opinião pública dos Estados Unidos contra os
supostos terroristas, embora esse apoio não se
estendesse a órgãos internacionais como a ONU.
Em 2003, à revelia da ONU, os EUA prosse-
guiram com a invasão do Afeganistão e ocuparam
208 tu(07
A perseguição a Osama bin Laden seguiu até 2011,
quando ele foi encontrado e morto no Paquistão.
Apesar do poderio militar do Estados Unidos,
a insurgência de iraquianos e dos talibãs provo-
cou muitas baixas norte-americanas, revertendo
apoio de grande parte da opinião pública. Em
pouco tempo, os que apoiaram a intervenção no
Iraque passaram a acusar o presidente Bush de
transformar o país em um "novo Vietnã" (em refe-
44':3 7
rência ao grande número de jovens estadunidenses
mortos no conflito com o Vietnã nos anos 1960).
Em 2009, Bush deixou a presidência dos Estados
Unidos com a popularidade baixíssima. Foi suce-
dido por Barack Obama, o primeiro presidente
negro a governar o país. Em 2011, Obama retirou
as tropas norte-americanas do Iraque sem que a Sob o governo de Barack Obama os Estados Unidos iniciaram operaçoes
situação política do país estivesse bem organizada, de retirada de tropas do Oriente Médio. Na fotografia, soldados norte-
-americanos se preparam para deixar uma base militar localizada ao sul do
que gerou um cenário político muito conturbado, Afeganistão em 2014, um dia apõs a coalizão internacional ter fechado as
marcado por diversos conflitos internos. instalações militares, que foram entregues às forças armadas do país.
Organizando ideias
Leia o texto e, em seguida, responda às possível. Alguns compreendiam que os seus atos
questões. eram parte de um programa político cuidadosa-
mente articulado. A maioria acreditava que seriam
Qual é a razão?
elogiados como herói em sua,-, comunidades. Poucos
Pensei mais de uma vez em todos OS militantes não se importavam com o que poderiam pensar seus
que conheci ou entrevistei: no Talibã, nas pessoas semelhantes. Por um longo tempo tentei descobrir
que conheci no Paquistão, em Didar - o homem- alguma espécie de teoria geral que desvendasse o
-bomba de Suleimaniyah que gostava de futebol -, segredo da "militância islâmica", e subitamente me
em Abu Mujahed em Bagdá, nos milicianos xiitas dei conta de que era impossível fazer isso. Não havia
de Najaf, nos homens das prisões da Caxemira e de uma resposta única. Na verdade, o ponto exatamen-
Kandahar, em todos os outros. Não havia nenhuma te era não haver uma resposta única.
regra determinando por que os diversos argumentos
BURRE, iason. A caminho de Cabul e Bagdá: relatos dos
da ideologia radical "islâmica" funcionaram com conflitos no mundo islâmico. Rio de Janeiro: Zahar. 2008. p. 304.
eles. O caminho que cada um seguira era diferente.
Uns tinham buscado uma solução para o que con-
sideravam injustiças sociais e econômicas; outros Segundo o autor, há como definira mititância
queriam vingança contra uma humilhação ou uma islâmica com exatidão? Por quê?
ofensa real ou imaginária; outros simplesmente
queriam amizade, ou respeito próprio, ou aven- No que diz respeito ao ingresso das pessoas
tura. Outros queriam combater o que viam como na luta pela causa islâmica, qual das razões
ocupação de sua terra natal. Alguns claramente
apresentadas no texto você considera mais
tinham sido homens brutais, endurecidos pelo ódio
relevante? Explique.
e enfurecidos desde o início, pessoas que apenas
gostavam do sentimento de poder proporcionado
pelo prejuízo causado aos outros. Outros queriam Há indícios de luta pela liberdade nessa
apenas demonstrar sua fé de maneira mais extrema militância? Justifique sua resposta.
209
,
A Primavera Árabe
Durante o século XX, o "mundo árabe" foi As razões dos movimentos variaram de país
fragmentado em vários pequenos Estados, como para país. Na Tunísia, por exemplo, jovens diplo-
Barein, Omã, Emirados Árabes, Catar, Kuwait, mados e desempregados foram os detonadores
e alguns países de grande superfície geográfica, dos protestos; na Líbia, as populações de regiões
como a Arábia Saudita. oprimidas pelo ditador Muammar Kadafl (espe-
Ao ficarem independentes, os países árabes cialmente da Cirenaica) se insurgiram contra uma
organizaram-se política e socialmente de formas ditadura iniciada em 1969.
No Egito, a crise econô-
diversas. Alguns optaram por regimes naciona- mica e social, a corrupção e a falta de democracia
listas, seculares, modernizantes e com discursos foram as principais razões que levaram multidões
progressistas, objetivando mudanças econô- a lotar a Praça Tahir, no Cairo, exigindo a queda
micas e sociais, como Egito (após a Revolução do regime de Hosni Mubarak. De forma geral, um
Nacionalista de 1952), Tunísia, Argélia e lemen. clamor por democracia foi a tônica em todos os
Por outro lado, Arábia Saudita, Emirados movimentos, tanto os que agitaram o Marrocos
Árabes, Kuwait, Barein, Catar, Jordânia, Líbia como os que derrubaram as ditaduras do Egito,
Após longo período de aparente imobilismo um fenômeno relativamente recente naquela re-
civil, em 2011 surgiram movimentos de contesta- gião: o uso em larga escala das novas mídias - te-
ção em maior ou menor escala nos países árabes. lefones celulares, internet, Twitter e Facebook. O
Essa onda de revoltas ficou conhecida como Pri- regime de Hosni Mubarak, por exemplo, tentou
210
A Líbia, com um governo dividido e enfraque- sos conflitos no país e originou o Exército Livre da Sí-
cido, mergulhou em uma grave disputa que envol- ria, grupo de militares desertores que defendem um
ve a ação de inúmeras milícias e de grupos extre- regime democrático.
mistas, cada um lutando por suas próprias causas. Além dos sírios, muitos grupos internacionais
No Egito, após um curto período democráti- se envolveram no conflito. Dentre os grupos de opo-
co, eclodiram graves choques entre partidários da sição, destacam-se os fundamentalistas, como a
islamização do país e os defensores de um Estado Frente al-Nusra, ligada à AI Qaeda, e o Estado Islâ-
laico. Em 2013, os que haviam perdido o poder mico, defensor da aplicação radical da sha ria (lei is-
tiraram proveito da situação e organizaram um lâmica). Com o apoio da Arábia Saudita e de outras
golpe militar que depôs e prendeu o presidente monarquias do golfo, esses grupos impuseram uma
Mohamed Morsi e colocou o general Abdul Al-Sisi série de reveses às forças governistas e sobrepujaram
em seu lugar. A Irmandade Muçulmana, grupo o Exército Livre da Síria, que contava com o apoio
político de Morsi, foi colocada na ilegalidade. de Turquia, Estados Unidos e União Europeia. Em
No lemen passou a ocorrer uma violenta guer- 2015 as tropas do governo partiram para a contra-
ra civil. Um conflito envolvendo Houthis (militantes ofensiva contando com o apoio da Rússia, do Hez-
xiitas), facções leais ao ex-presidente Abd Rabbuh bollah (grupo radical de xiitas libaneses) e do lrã.
Mansur Hadi e grupos fundamentalistas islâmicos A entrada de grupos estrangeiros nos con-
fragmentou o país. A intervenção da Arábia Saudita flitos dificulta o estabelecimento da paz na Síria,
apoiando as forças de Hadi e a ajuda dada pelo Irã pois a autonomia do país foi gravemente abalada
aos Houthis complicaram ainda mais a situação. após tantas intervenções. Além disso, com a cres-
A Síria, governada desde o início da década de cente onda de violência, muitos sírios deixaram o
1970 pela família Assad, passou a viver graves ten- país em busca de segurança. Estima-se que mais
sões em 2011, quando uma série de protestos con- de 2 milhões de sírios tenham procurado abrigo
tra o governo do presidente Bashar a?-Assad foram internacional em decorrência desse conflito, que
violentamente reprimidos, o que desencadeou diver- ultrapassou a marca de 250 mil mortes.
211
Movimentos separatistas peLo mundo
Os conflitos regionais não são uma exclusi- Com o fim da URSS, a Crimeia continuou
vidade do Oriente Médio. Ao redor do mundo, a fazendo parte da Ucrânia, mas o desconten-
ocorrência de tensões regionais foi comum nos tamento da população russa era latente. Em
últimos anos, sobretudo nas áreas marcadas por 2014, como reação ao novo governo ucrania-
ações de diversos movimentos de caráter separatis- no, que havia se afastado da Rússia e se apro-
ta, como os movimentos de independência da Ca- ximado da União Europeia, os crimeanos con-
talunha e do País Basco, na Espanha, o movimento vocaram um referendo para que a população
emancipacionista de Quebec, no Canadá, e o movi- optasse pela permanência ou não da região
mento pela autonomia da Crimeia, na Ucrânia. como parte da República da Ucrânia. A maioria
optou pela secessão e, com a aceitação do Par-
212
Quebec Livre A CataLunha
O Canadá, ex-colônia francesa e inglesa, é um A Catalunha, situada no nordeste da Penín-
dos países mais extensos do planeta e atualmente sula Ibérica, faz parte do Reino da Espanha des-
pertence ao G7 (grupo de nações consideradas de meados do século XV. Com tradições culturais
mais industrializadas e desenvolvidas do mundo). próprias e forte apego a sua identidade, os cata-
Inicialmente colonizado por franceses, o país lães em diversas ocasiões se rebelaram contra o
passou a ser controlado por ingleses até a conquis- que chamavam de dominação castelhana.
ta definitiva da autonomia. Após a Segunda Guerra Em 1914 a região obteve uma relativa autono-
Mundial, um movimento separatista ganhou força mia, que, no entanto, acabou em 1923 com a ins-
em Quebec, maior província do país, marcada por tauração da ditadura de Primo de Rivera.
uma forte herança francesa. Em 1967, o presidente Em 1932 foi aprovado um estatuto que con-
da França, Charles de Gaulle, finalizou um discurso cedia à Catalunha a condição de Comunidade
público em Quebec com o antigo e emotivo slogan Autônoma dentro da Espanha. No entanto, com
"Québec libre", alimentando os anseios de indepen- a ascensão do general Franco ao poder, essa auto-
dência de significativa parcela da população. nomia foi abolida. Durante a ditadura chegou-se a
O crescimento do sentimento separatista na proibir o uso do idioma catalão, foram banidas ins-
população possibilitou o surgimento de partidos tituições catalãs e houve violenta repressão.
com esse propósito. Havia aqueles que acredita- A crise econômica que atingiu a Espanha no
vam que a secessão seria possível de forma pací- início da década de 2010 fez com que os nacio-
flca, como o Partido Quebequense (Parti Québe- nalistas da Catalunha ganhassem força. Mesmo
cois), e outros, como a Frente de Libertação de contrariando a Constituição Nacional, foi mar-
Quebec (Front de Libération de Québec), que re- cado na Catalunha um referendo que deveria ser
correram à violência por meio de assaltos a ban- realizado em 2013, mas o pleito foi proibido pelo
cos, sequestros e ações terroristas. governo espanhol. Ainda assim, em 2014 foi feita
Com o passar do tempo, os quebequenses uma consulta popular, na qual, apesar da eleva-
conseguiram uma ampla autonomia. A língua da abstenção, a maioria absoluta foi favorável a
francesa passou a ter um status especial no Ca- uma Catalunha independente.
nadá, que se tornou oficialmente bilíngue. Apesar O impasse permanece. O que se observa é
disso, a proposta de separação da província, co- que a população catalã se encontra bastante di-
locada sob votação popular em 1980 e 1995, não vidida. Enquanto uns querem a separação total
foi aprovada em nenhuma das ocasiões. em relação à Espanha, outros acreditam que uma
Em 2014, as eleições indicaram uma significa- ampliação da autonomia resolveria a questão,
tiva mudança na política da província. Após anos sem a ncccssidade de uma secessão.
no poder, o Partido Quebequense, tradicionalmen-
te separatista, foi derrotado pelo Partido Liberal
Quebequense, que defende uma política de alinha-
mento com o governo canadense. Esse resultado
indica um enfraquecimento do movimento separa-
tista, mas está longe de significar o fim da causa.
O sentimento separatista ainda é marcante
na província de Quebec. Contudo, a maioria da
população se mostra reticente em relação a essa
questão, por julgar que a província e o país têm
outros assuntos mais delicados a serem tratados.
213
Debate interdisciplinar
Estado de
1928-1949
Mandato britânico
Mo,
Meci,trrãr,eo
—'k
Mandato
britânico da
Palestina
P
1947
Proposta da Organização das Nações
Unidas para a partilha da Palestina
Estadoiudeu
Países árabes
'SÍRIA
1
:.J 1948-1949
Guerra Árabe-Israelense
Estado de Israel ao
final da guerra
c(oIs
Jerusalém * Faixa de
Gaza (sob
controle
egípcio) - \ lSRÂEL,
\RDÂNlA EGITO
JORDÁNIA
o O EGITO
+I
•\I.
Abandonando o passado colonial, a região deu lugar a novos estados altamente instáveis politicamente.
Israel. 1922 1 1931 1 1942 1922 1931 1 1942 1922 119311 1942 1922 1 1931 11942
— 214
ISRAEL CISJORDÂNIA FAIXA DE GAZA
População: 7821 850 (inclui colonos População: 2731052 (sem contar os População: 1 816379 (sem contar os
israelenses na Cisjordânia, nas Colinas de colonos israelenses). colonos israelenses).
Golã, na Faixa de Gaza e em Jerusalém Regime político: ocupado por Israel, o Regime político: ocupado por Israel, o
Oriental). governo é da Autoridade Nacional governo é da Autoridade Nacional
Regime político: República parlamentarista Palestina. Palestina.
o
75% 75% 17,5% 83% 98%
e outras
Lo 2%
judaísnso
jdeus outras _..I judeus
17%
13%
outras
1%
1 cristianismo
25%' 5,5% cristianismo
2% la&uImrwanBntI
PI!aÜphI!,'cIe Á!?.I)PS
M 1967
Guerra d sSeisDia
1973
Guerra do Yom Kippur
2000
Israel e os territórios ocupados
0+ Colinas
04.._L Colinas
LIBA NO
o4i Colinas
UBANO
de Gola
SMar
94 188 kn
Mar 1:9400000 SIRIA
Medite,rãneo Medirerrônec
Mar
TeIAvi7 ''•'-.'.
Med;rerraneo
C sjordânia
NO C jordânia
Jerusalém Jerusalém
• Jerusalém
Faixa de Gaza _._7.> L.- Faixa de Gaza -? Faixa de Gaza
\ISRAEL
\\ISRAEL/
EGITO
.:wi\ / JORDÂNIA
Península Peninsula
\ Ç JORDÁNIA A Faixa de Gaza e
\ )
doSinaí\ a Cisjordãnia são
do Sinal
territórios ocupados
por Israel com
condições sujeitas
ARÁBIA ARÁBIA a acordos internos ARÁBIA
0 51 188km o 91 588km
SAUDITA SAUDITA entre Palestina SAUDITA
i9locns 5 94O0O5'
e Israel.
EGITO
EGITO
Fonte: Central Intelligence Agency - CIA. Disponivel em: <www.cia.gov/libraryl publications/thoworld-facthook>. Acesso em: maio 2016.
Que relação pode ser estabelecida entre a ideia de liberdade política e religiosa e a questão
palestina?
215
Testando seus conhecimentos Responda no caderno
216
Responda no caderno
• 'Z
: .
Neste capítulo procura-se abordar como unidade africana por meio da cooperação entre
os países africanos, após os processos de in- as nações e do combate à segregacão.
dependência, organizados em fronteiras defi- A África é um continente de identida-
nidas pelo imperialismo, precisaram construir des plurais, complexas, que demandam di-
democracias, pôr fim às guerras civis, prote- ferentes olhares. Por causa de um passado
ger-se de conflitos futuros, assegurar seu de- colonial conturbado, os diversos povos que
senvolvimento econômico e estabelecer uma habitam o continente estão em frequente
---
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de Segou, no Mali.
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mudança e ainda têm muitas questões po- e graves conflitos regionais. Mas também é
t.íticas a serem resolvidas, o que faz a África um lugar onde existem enormes riquezas na-
ser conhecida como um conjunto de territó- turais e povos lutando em prol do desenvolvi-
rios em constante movimento. mento econômico, da democracia, da justiça
Atualmente, o continente africano tem social e do respeito a suas culturas. O 'Re-
problemas de naturezas diversas, como dita- nascimento Africano" ainda é um dos objeti-
duras, corrupção, miséria, pandemia de aids vos a serem concretizados no século XXI.
,
Âf rica: um continente
em transformação
Após a Segunda Guerra Mundial, especial-
mente nas décadas de 1950 e 1960, diversas ex-co-
lônias europeias no continente africano conquis-
taram a independência. O processo completou-se
nas duas décadas seguintes, com o fim do Império
Colonial Português, a tomada do poder pelos afri-
canos na antiga Rodésia (hoje Zimbábue) e a inde-
pendência da Namíbia.
Os desafios apresentados aos novos diri-
gentes eram enormes. Devido aos anos de opres-
são e exploração, muitos africanos sonhavam em
romper completamente com as potências coloni-
zadoras; contudo, a realidade não era como ima-
ginavam. Os problemas eram muitos: disputas saneamento basco las com que o acesso a agua seja dificultado. Como
regionais, escassez de capital, carência de mão de não há grandes redes de abastecimento de água. as pessoas precisam se
deslocar para lavar roupas e encher baldes com água potável. Na fotografia,
obra especializada, conflitos e impasses políticos e pessoas lavam roupas na favela de Kibera. em Nairôbi (Quênia). 2014.
questões sociais, como a fome e a falta de mora-
dias adequadas à população. profissionais especializados, tanto nas áreas ad mi-
A economia da maioria das novas nações nistrativas como na de prestação de serviços pú-
baseava-se na exportação de produtos primários e blicos. Nesse panorama, a nomeação para cargos
na industrialização limitada, o que as deixava ain- importantes se fez por meio de acordos políticos, e
da à mercê das antigas metrópoles. Nos partidos não por competência para a função, gerando, em
políticos, não havia identidades nacionais, e sim muitos casos, governos mal organizados.
étnicas, o que dificultava os ajustes para a com- Na área social, a realidade também não era
posição de novos governos. Além disso, os novos agradável aos novos governos. O crescimento
Estados soberanos herdaram o aparato político e populacional trouxe urbanização desordenada,
administrativo colonial, que, mesmo após a mu- ocasionando falta de emprego, moradia e infraestru-
dança, mantinha as características repressivas an- tura. Para agravar a situação, na década de 1980 a
teriores. Para formar os novos governos faltavam epidemia da aids se expandiu no continente.
Or9anizando ideias
Leia o texto a seguir e faça o que se pede.
Apesar das esperanças, a dcscolonizaçào não resolveu nenhum dos problemas pendentes. Traduziu-se
em uma série de sobressaltos, destinados a eliminar os pontos conflitivos de uma evolução que, de fato,
havia permanecido incompleta. Uma vez conseguida a independência política, tratava-se de tornar viável
um regime que não somente era marcado por uma terrível herança econômica, mas que também era pri-
sioneiro das coações do imperialismo neocolonial.
COQIJERY-VIDROVITCH, Catherine; MONIOT, Henri. África negra: de 1800
a nuestros dias. Barcelona: Labor, 1985. p. 147. )Trad. nossal.
De acordo com os autores, quais eram os principais entraves para as novas nações africanas
após a independência?
Com base nas informações anteriores, explique a que se referem os sobressaltos citados nesse texto.
— 220
 África contemporânea
A unidade africana era um sonho cultivado
por muitos, ao longo das lutas contra os coloniza-
Mudanças após
dores. Kwame Nkrumah, de Gana,Julius Nyerere, as emancupaçoes
da Tanzânia, Léopold Sédar Senghor, do Senegal,
A emancipação política dos países africanos
e Sékou Touré, da Guiné, entre outros, foram di-
não significou uma completa soberania, pois a re-
rigentes que perceberam quão necessária era a
lação de dependência com as antigas metrópoles
união dos africanos para enfrentar os inúmeros
foi mantida. Com a Guerra Fria, apesar de alguns
desafios nas novas nações, especialmente os de
países africanos optarem pelo não alinhamento,
natureza econômica e social.
ficava difícil uma completa neutralidade diante da
Depois de várias conferências, em 1963, na
crescente influência dos Estados Unidos e da União
cidade de Adis-Abeba, na Etiópia, foi criada a
Soviética no continente. A bipolarização tornou-se
Organização da Unidade Africana (OUA), com o
uma realidade. Houve casos em que governantes
objetivo de coordenar e harmonizar a política dos
souberam tirar proveito das rivalidades entre as
Estados africanos nos mais diversos campos: po-
grandes potências, mas o que predominou foi um
lítica, diplomacia, economia, transportes, educa-
atrelamento compulsório em troca de ajuda eco-
ção, saúde, defesa, segurança, nutrição, higiene,
nômica e militar.
ciências e tecnologia. Apesar das boas intenções
Os caminhos políticos e os modelos econô-
da OUA, as divergências políticas e a escassez de
micos trilhados pelos governantes africanos va-
recursos financeiros fizeram com que os princípios
riaram. Havia ditaduras personalistas, militares e
da Carta da OUA perdessem força. partidárias - os regimes efetivamente democráticos
Mesmo com limitações, em muitos momen-
foram poucos. No plano econômico, uns optaram
tos a organização revelou-se eficaz na solução
pelo liberalismo, como Félix Houphouet-Boigny,
de conflitos fronteiriços e nas pressões sobre a
presidente da Costa do Marfim, incentivando a
ONU em prol da completa libertação do con- iniciativa privada e estreitando os laços com os
tinente. Em 2002, a OUA foi substituída pela
países capitalistas centrais. A maioria, porém, pelo
União Africana (UA), cuja proposta era reforçar
menos até o final da década de 1970, priorizou a
os princípios da antiga OUA, valorizar ainda mais
interferência do Estado na economia.
a democracia, o desenvolvimento
econômico e a resolução de conflitos
por meios pacíficos, além de aumen-
tar a representatividade dos países -
africanos perante a ONU. Mesmo 1'
ainda longe do ideal, nos últimos . I
anos a UA tem sido mais enfática em
suas ações nos campos diplomático, -ç-
econômico e militar, buscando inter-
vir em países em guerra civil, além de .
oferecer cooperação técnica e ajudar
de várias formas as nações atingidas .
por catástrofes naturais.
Reunião da Assembleia da
União Africana em Adis-Abeba,
(Etiópia). 2016.
No Congo e em
Zâmbia muitas
pessoas recorrem
à mineração como
/ terma de renda.
Na fotogratia,
homem e mulher
trabalham na
i extração de
cobalto entre
as cidades de
Lubumbashi
e Kolwezi,
na República
Democrática do
Congo, 2015.
222 Htuto8
Como herança da dominação impe- colonização africana. Diante do peso ex-
rialista, a demarcação das fronteiras na- cessivo do poder central, grupos em que
cionais aglutinou povos diferentes e mui- se congregavam diferentes etnias - que se
tas vezes rivais. A disputa pelo poder em sentiam prejudicadas -, categorias sociais
vários Estados africanos gerou conflitos. e agrupamentos territoriais com aspirações
Elikia M'Bokolo, historiador congolês, su- reprimidas procuraram tomar o poder por
gere que os conflitos por independência e meio de levantes armados. Houve também
agrupamento ou separação de etnias não casos de grupos políticos que, aproprian-
começaram apenas com o enfraquecimen- do-se de discurso e sentimento autonomis-
to das potências europeias, mas sim ga- tas, assumiram o controle de Estados em
nharam visibilidade nesse período, tendo formação sob o pretexto da conquista de
a resistência existido desde o momento da liberdade - caso do Congo e da Nigéria.
Organizando ideias
Leia o texto a seguir e depois faça o que se que também agem em grupo quando tratam com
pede. os outros países - detém as alavancas das finan-
Os países recentemente descolonizados, as- ças e das trocas comerciais internacionais e dispõe
sim como os países mais antigos da África, ti- também das riquezas acumuladas por séculos de
nham todos herdado, da cultura euro-americana colonização e de diplomacia das canhoneiras, e
dominante, a mesma ideia: trabalhai duramente ainda graças a um avanço inicial nas técnicas de
e tornar-vos-ei prósperos. Pouco a pouco, todos produção de massa. Também neste ponto se trata
descobrimos que não havia relação causa e efeito de fatos e não de juízos morais. Se a moral tem
entre o ardor no trabalho e a prosperidade: pare- algum papel a desempenhar neste assunto, e esse
cia haver sempre alguma coisa exterior a nós que é o meu entendimento, esse papel diz respeito ao
rompia essa suposta relação! A pretensa neutrali- futuro. Pois nós, o Terceiro Mundo, exigimos ago-
dade do mercado mundial vinha a ser a neutrali- ra que se mudem os sistemas que enriquecem os
dade entre o explorador e o explorado, entre a ave ricos e empobrecem os pobres, e isso na época das
de rapina e a sua vítima. Se, quando procurávamos outras mudanças surgidas no mundo: o fim do co-
recursos para a nossa sobrevivência, não falando já lonialismo, os progressos da tecnologia e a nova
do nosso desenvolvimento, aplicássemos à letra os aspiração da humanidade à igualdade e à dignida-
meios preconizados para reunir capitais, parecia de humanas.
que acabávamos sempre quer por cair, ou pratica- Alocução de Mwa(imu Julius Nyerere, presidente da República
mente cair, sob o jugo das firmas transnacionais, Unida da Tanzânia, em 12 de fevereiro de 1979, apud M'BOKOLO.
quer por sofrer as políticas deflacionistas do FMI, Elikia. Africa Negra: história e civilizações. Salvador: Edufba:
Casa das Áfricas, 2011. p. 644-645. Tomo II: do século XIX
quando não aconteciam as duas coísas ao mesmo
aos nossos dias).
tempo. Mesmo procurando apenas assegurar as
nossas exportações e importações tradicionais,
constatávamos que, ao trabalharmos cada vez 1.. Na opiniâo do presidente da Tanzânia, a ideia
mais duramente, o nosso poder de compra dimi- de trabalhar duramente para alcançar a pros-
nuía cada vez mais. peridade se efetivou nos países africanos?
É por essa razão que nos reunimos para nego- Explique.
ciar com os Estados industrializados as alterações
a serem introduzidas nas regras e práticas que re- A que ele atribui a dificuldade de esses países
gem as finanças e as trocas comerciais mundiais. se desenvolverem?
O sistema atual foi instituído pelos Estados indus-
trializados para servir os seus interesses. Trata-se Explique a questão moral citada pelo presidente
de um fato histórico e não de um juízo moral! Daí referente a melhorias para as nações africanas.
resulta que o grupo das nações industrializadas -
223
o extremismo e o terrorismo na África
Grupos extremistas têm atuado no a onda de violência, sobretudo devido aos
continente africano de forma cada vez mais significativos avanços de organizações
intensa nas últimas décadas. O fundamen- como o Boko Haram, originário da Nigéria,
talismo religioso já estava presente em mui- que promoveu seguidas perseguições a cris-
tos países mesmo antes das emancipações. tãos no país e em outras nações próximas,
Contudo, a criação de grandes organizações como Camarões.
radicais, como a AI Qaeda - originária do Essa ascensão do radicalismo religioso
Afeganistão -, fez com que as ações violen- na África se deve, em grande parte, ao de-
tas aumentassem consideravelmente. sencanto de amplas parcelas da população
No norte da África surgiram grupos com os poderes constituídos. Em virtude de
ligados à AI Qaeda, cujo objetivo principal fatores como a impotência do Estado, a cor-
era a imposição da sha ria a qualquer custo. rupção dos grupos dirigentes, o desrespeito
Esses grupos têm sido mais atuantes na aos valores tradicionais e a crise econômica e
Mauritânia, Marrocos, Argélia, Tunísia, social, entre outros, o extremismo se tornou
Líbia, Níger e Mali. Enquanto eles se proli- a opção de muitos daqueles que não foram
feram, os governos ainda procuram conter beneflciados após as independências.
7/ 1
.-,
Tropas da Missão de Assistencia da Organizaçao das Nações Unidas para a Somalia (UNSOM) patrulham regrao onde um carro bomba explodiu ao atingir um
comboio da ONU perto do aeroporto internacional de Mogadíscio, capital da Somália, em 2014. O atentado foi atribuido ao AI Shabaab, grupo fundamentalista
ligado àAl Qaeda.
224 :tuo8
Argélia
A Argélia foi uma colônia da França até mea- Realizadas as eleições, a Frente Islâmica de
dos do século XX. Ali viviam mais de 1 milhão de Salvação (FIS) - partido político fundamentalista e
franceses que se opunham à entrega do poder aos de oposição - obteve vitória com ampla vantagem.
nativos por causa das enormes reservas de petróleo Diante da derrota, o então governante Benjedid
e de outras riquezas existentes na região. Na década renunciou, mas a FIS foi declarada ilegal pela FLN,
de 1950, a intransigência dos franceses em nego- que estava no poder. Os militantes da FIS partiram
ciar uma saída pacífica motivou os nacionalistas, para ações armadas, e a Argélia viveu entre 1992
reunidos na Frente de Libertação Nacional (FLN), e 1999 uma guerra civil que resultou em cerca de
a iniciarem uma guerra de guerrilhas, marcada por 100 mil mortos.
diversas ações terroristas. A repressão francesa foi O sucessor de Benjedid, Muhammad Boudiaf,
dura, porém a inviabilidade de manter a Argélia sob considerado herói da Guerra de Independência, foi
seu domínio levou o governo francês a reconhecer assassinado seis meses depois de ter assumido o
a independência do país em 1962. cargo. O novo presidente passou a ser o general
Após a independência, houve uma acirrada Liamine Zeroual, que governou num período tur-
luta pelo poder. Ahmed Ben Bella governou até bulento. O aumento da repressão, as dificuldades
1965, quando foi deposto por seu ministro da de- econômicas e a ineficácia da administração fede-
fesa, o coronel Houari Boumédienne, que adotou ral abalaram fortemente o prestígio de Zeroual,
as seguintes medidas: que não concorreu à reeleição em 1999. Com
fortalecimento de um capitalismo de Estado; baixa participação dos eleitores e desistência
nacionalização dos recursos naturais, com des- dos outros seis candidatos, o general Abdulaziz
taque para as jazidas de petróleo e gás; Bouteflika foi eleito presidente, e depois três vezes
reeleito, em 2006, 2009 e 2014. Nestes últimos
relações amistosas com a URSS e a França;
pleitos, a mídia e a oposição acusaram-no de
associação mais ativa com os países árabes
irregularidades na eleição. Em 2014, houve con-
contra Israel;
frontos entre a polícia e manifestantes contrários
esforços visando à industrialização;
à reeleição, tendo como consequência urnas in-
regime de partido único. cendiadas e mais de 45 feridos.
Durante 13 anos, Boumédienne governou
a Argélia de forma autoritária. Nesse período, a
FLN dissolveu-se em várias facções, e a corrup-
ção e a pobreza aumentaram drasticamente.
Nesse contexto de grande insatisfação da
-
TLT
população e dos opositores, em 1978 ocor- 1:
reu um golpe de Estado, com a deposição de
Boumédienne e a ascensão do coronel Chadli
Benjedid. O novo presidente procurou fazer
moderadas reformas políticas, econômicas e
sociais, além de combater a corrupção.
Apesar das tentativas do presidente, a si-
tuação econômica não era boa. Em 1988, a
taxa de desemprego atingiu valores elevados,
e a população se manifestou. No ano seguin-
te, Benjedid modificou a Constituição, que
passou então a assegurar a liberdade de im- Mulher argelina exerce o direito ao voto nas prilie ias elerções livros
prensa, o pluri partidarismo e as eleições livres. realizadas no país desde a independência. Argel (Argélia), 1990.
O 225
Leia a reportagem e responda às questões. A abrupta queda dos preços no último ano
Argélia aprova criticada reforma consti- obrigou o governo a recortar as subvenções e a
tucional em momento de crise aplicar novas políticas de austeridade que já fize-
ram aflorar as primeiras manifestações de cunho
As duas câmaras do parlamento argelino apro- social no país.
varam neste domingo [7/2/2016], por arrasadora À parte do artigo 86 sobre a designação do go-
maioria, a criticada reforma da Constituição, or- verno, o novo texto destaca a recuperação da nor-
denada pelo presidente da Argélia, Abdelaziz Bou- ma que limita a dois o número de mandatos pre-
teflika, há cinco anos, quando o espírito das agora sidenciais, reformada por Bouteflika em 2008, e a
fracassadas "primaveras árabes" ameaçava conta- suposta ampliação da liberdade de expressão.
giar o país. Além disso, reconhece a língua de origem ber-
No total, 499 dos 517 deputados presentes vo- bere amazigh como oficial no país, junto ao árabe,
taram a flivor do projeto, dois contra e 16 se abs- e impede àqueles que têm dupla nacionalidade de
tiveram em uma sessão de mero trâmite, já que a concorrer a um alto cargo na administração do es-
Frente de Libertação Nacional (FLN), o partido de tado, mudança que engloba os argelinos que man-
Bouteflika, conta com maioria absoluta em ambas têm a nacionalidade francesa desde os tempos da
as câmaras. [ ... ] colonização.
A reforma, adotada em um momento no qual A nova norma começou sob a sombra da deten-
o protesto social revive no país por causa da queda ção 1...] de seis membros da Liga Argelina de Defe-
dos preços do petróleo e da política de austeridade sa dos Direitos Humanos, entre eles seu diretor, o
adotada, foi apresentada aos deputados pelo [ ... ] advogado Salah Debouz.
primeiro-ministro, Abdelrnalek Sela], cujo gabinete
Argélia aprova criticada reforma constitucional em
fica agora pendente. [ ... I
momento de crise. Terra. 71ev. 2016. Disponível em:
O pacote de reformas [...] inclui uma nova nor- <http://noticias.terra.com.br/mundo/africa/argelia-aprova-
criticada-reforma-constitucionai-em-momento-cje-crjsed
ma que, segundo os constitucionalistas, obriga o
d7fb983e300a4a08e321 ef466484acdst7qiljy.html>.
governo a renunciar uma vez que seja adotado. E ... ] Acesso em: abr. 2016.
A Argélia está envolvida na incerteza sobre a su-
cessão do idoso Bouteflika, cujo verdadeiro estado 1. Explique por que a reforma indicada na re-
de saúde é um mistério desde que em 2013 sofreu portagem foi alvo de crítica de alguns grupos
um acidente cardiovascular que o retirou dos atos argel i nos.
públicos.
A incerteza fez com que nos últimos meses te- 2.. O texto cita aspectos tanto de uma reforma
nha surgido uma guerra interna que teve como um política que previa mudanças na sucessão
dos episódios mais visíveis a cessação do general presidencial quanto da crise do petróleo
Mohamad Mediam, conhecido como "Tawfik", que o país enfrentava em 2016. Busque
chefe dos serviços secretos durante 25 anos e um informações sobre essas duas questões e
dos homens favoritos para a sucessão. informe:
A sucessão de Bouteflika, de 78 anos e no poder
desde 1999, é fundamental para a estabilidade de
ai quem está no governo e como se proces-
saram as reformas políticas citadas na
um país que é o maior exportador de petróleo do
reportagem de 2016;
Norte da África, mas que tem uma economia muito
frágil por causa das subvenções estatais proceden-
bi como foi o desenrolar da crise do petróleo
tes da venda de petróleo, que representa 97% de
e quais foram as consequências para a
suas exportações. Argélia.
- 226
Congo
O Congo, colonizado pela Bélgica, abrangia depois da independência iniciou-se um motim no
um território de mais de 2,5 milhões de km2 , habi- exército congolês. Ao mesmo tempo, na província de
tados por uma enorme diversidade de povos, des- Katanga, rica em jazidas de cobre, MoiseTshombe,
tacando-se os bacongos, os balundas e os balubas. um político congolês, deflagrou um movimento de
Na década de 1950 começou a se organizar secessão, com o apoio de uma empresa belga que
um movimento político, consolidado com o surgi- controlava a indústria de mineração de cobre.
mento - em 1956 - do grupo Conscience Africaine, Ao defender políticas socialistas, Lumumba
que reivindicava a emancipação do território. O fim passou a ser considerado perigoso pelos norte-
da década foi marcado por muitos conflitos, in- -americanos, belgas e britânicos. Temia-se que o
cluindo combates de rua, que levaram a Bélgica a líder congolês atrelasse seu país à União Soviética.
conceder a independência ao país em 1960. Diante da secessão de Katanga, Lumumba pediu
Entre os principais personagens do processo a intervenção da ONU, mas teve seu pedido ne-
de independência estava Patrice Lumumba, que gado. Em meio a conflitos étnicos internos e sem
liderava o Movimento Nacional Congolês, parti- conseguir apoio externo, Lumumba foi preso e
do defensor de um sistema centralizado de poder assassinado.
e da nacionalização dos serviços e cargos públi- Com o agravamento da situação, em setembro
cos. Patrice tinha posições anti-imperialistas, o de 1961 tropas da ONU invadiram Katanga. No ano
que desagradava aos Estados Unidos e aos líderes seguinte, a província foi dominada e Tshombe re-
locais congoleses. nunciou à secessão. Contudo, a situação continuava
Com a emanci-- dramática, graças à piora da crise socioeconômica
e à intensificação das lutas entre etnias.
mou-se um governo o Em 1965, com a ajuda de mercenários e o apoio
Lu- dos governos belga e norte-americano, o general
mumba como pri- Joseph Mobutu assumiu o poder. Com extrema
meiro-ministro e o violência conteve todas as resistências e estabeleceu
aristocrático Joseph ' já consolidado no
um governo ditatorial. Em 1971,
Kasavubu (membro poder, renomeou o país como Zaire.
da Associação do
Baixo Congo, organi- /
zação pró-indepen- t
Motim: revolta popular.
imumba p aia o ministro
dencia) como presi- da Republica do Congo. em 3 de julho Secessão: movimento de separação.
dente. Poucos dias de 1960.
[ ... } Nas três décadas em que Mobutu governou, a popular e ostensivamente socialista. Esse domínio
maioria dos zairenses foi ficando mais pobre e a vida começou a se expandir na década de 1980, e, na de
do cidadão médio no país terminava aos 40 anos, 1990, Kabila era um entre vários líderes que busca-
enquanto o próprio Mobutu e sua família iam fi- vam uma forma de derrubar Mobutu e o suceder.
cando cada vez mais prodigiosa e escancaradamente Ele recebeu um impulso quando os banyamulenges-
ricos. Durante a maior parte desse período, Mobutu -tutsis que viviam em Kivu há alguns séculos, mas
parecia irremovível, mas, em 1990, os mercados e as que o governo de Kinshasa [refere-se à capital]
universidades estavam em ebulição, e uma oposição queria expulsar e tinha privado de cidadania em
aberta explodia de tempos em tempos, mesmo na 1981 - uniram-se a ele.
capital [ ... ]. Na distante província de Kivu, Laurent CALVOCORESSI, Peter. Política mundiaL a partir de 1965.
Kabila manteve, desde os anos de 1960, um bailiado Porto Alegre: Penso. 2011. p. 558.
"Organizandoideias -
Leia a reportagem a seguir que faz referência Integrantes da policia congolesa nacional e da
ao processo eleitoral no Congo em 2016. agência de inteligência nacional - Agence nationa-
Em dezembro, ONU alertou para repres- le de renseignements, ANR - são responsáveis pela
são relacionada ao processo eleitoral maioria das violações dos direitos humanos docu-
mentadas no relatório.
Em dezembro, um relatório da ONU alertou
para a repressão sofrida pela oposição, pela mídia e O documento da ONU também adverte contra a
pela sociedade civil na RDC desde o início de 2015. manipulação do Judiciário. "A interferência política
O documento destacou a necessidade de "garantir no decorrer dos julgamentos e a falta de progressos
os direitos civis e políticos antes das eleições-chave". no julgamento de alguns dos acusados demonstra
O relatório, elaborado pelo Escritório Conjunto a instrumentalização da justiça, a fim de silenciar
de Direitos Humanos da ONU no país, documen- aqueles indivíduos e, como resultado, intimidar a
tou violações dos direitos humanos em relação ao sociedade civil corno um todo", diz o relatório.
processo eleitoral entre janeiro e setembro de 2015
ONU e parceiros acompanham esforços por eleições na
- incluindo execuções sumárias, ameaças de mor- República Democrática do Congo. Nações Unidas no Brasil,
te, prisões e detenções arbitrárias, uso excessivo da 21 fev. 2016. Disponível em: <hitps://nacoesunidas.org/onu-e-
parceiros-acompanham-esforcos-por-eleicoes-na-republica -
força pelas forças de segurança e restrições do diiei- democratica-do-congo>. Acesso em: abr. 2016.
to à liberdade de expressão e reunião pacífica.
"Esta tendência de restringir a liberdade de ex- Quais são os problemas apontados nessa
pressão e de violar a segurança daqueles com urna reportagem e como afetam os congoleses?
posição crítica sobre as ações do governo indica
Pesquise em noticiários da internet a atual
um encolhimento do espaço democrático que pode
situação política do Congo e elabore uma
comprometer a credibilidade do processo eleito-
atualização para a reportagem com base em
ral", advertiu o relatório.
sua pesquisa.
228 rito8
Sudão e Sudão do SuL
Na Antiguidade, grande parte do ter- pelos islâmicos, impôs, em 1983, a sharia
ritório onde hoje estão o Sudão e o Sudão em todo o país, gerando uma nova onda
do Sul fazia parte do Reino da Núbia. de revoltas no sul, predominantemente
De 1898 até 1955, a região esteve sob cristão e animista. No início de 1985, cerca
o domínio britânico. Durante o período co- de um terço da população passava fome e
lonialista ocorreram diversas reações, que os serviços públicos estavam paralisados.
foram duramente reprimidas. Somente em Em abril daquele ano, Nimeiry foi deposto.
1956, devido às pressões de nacionalistas Novamente um regime democrático
sudaneses e do novo contexto internacio- não se sustentou. Em 1989, o exército reto-
nal, o governo do Reino Unido concordou mou o poder tendo à frente o general Omar
em conceder a independência ao país. al-Bashir, da Frente Islâmica Nacional. Em
Com um vasto território - mais de 1991, o caráter radical do regime tornou-se
2,5 milhões de km2 -, o Sudão era um Es- explícito com a implantação ainda mais se-
tado pouco habitado, com grande hetero- vera da sharia. Al-Bashir permitiu que Osa-
geneidade étnica e ampla variedade de lín- ma bin Laden se estabelecesse no Sudão,
guas. A maioria da população do norte fala onde passou a treinar os militantes da AI
árabe e tem como religião o islamismo; já Qaeda. As ações da AI Qaeda na Tanzânia
as populações do sul são de outras etnias, e no Quênia levaram os Estados Unidos a
algumas adeptas do cristianismo, e outras bombardear o Sudão e impor-lhe sanções
de religiões animistas. econômicas.
Com a independência estabeleceu-se
no Sudão um governo democrático-par-
lamentar que durou até 1958, quando o
As guerras civis
exército, sob a liderança do general lbrahim sudanesas
Abboud, instaurou um regime militar. O De 1955 a 1972 ocorreu a Primeira
novo governo aplicou uma política repres-
Guerra Civil Sudanesa. A população do
sora, perseguiu missionários cristãos e aban-
sul, de etnias diversas (dinka, nuer, zande,
donou o sul do país. Em 1964, Abboud foi shiluk etc.), majoritariamente cristãs e ani-
destituído. mistas, opunha-se ao governo central, que
Depois de um curto período demo- adotava uma política favorável aos árabes
crático, em 1969 um grupo de oficiais
e à religião muçulmana. O conflito provo-
liderados pelo general Gaafar Muhammad cou a morte de mais de 500 mil pessoas.
Nimeiry tomou o poder e estabeleceu um Em 1972 foi firmado um acordo de paz,
governo progressista, que prometia refor- que acabou fracassando.
mas profundas na sociedade sudanesa. A Segunda Guerra Civil Sudanesa
A realidade, contudo, foi bem diferente.
começou em 1983, quando o governo
Nimeiry enfrentava uma guerra civil no sul, do norte procurou novamente impor a
uma situação econômica difícil, protestos sharia em todo o país. O conflito causou
estudantis, má administração e uma série a morte de aproximadamente 2 milhões
de golpes para derrubá-lo. Pressionado de civis, além de um grande número
: G'ossário
Animista: adepto da crença segundo a qual todas as pessoas, plantas, animais e fenômenos da
natureza têm alma.
vá
rI
.
ci. ãc ::,cio do referendo que definiu a criação do Suduo do Sul. jan. 2011.
- 230
A questão de Darfur
A questão de Darfur é um conflito armado um dos mais altos níveis de deslocamento de ci-
na região oeste do Sudão. De um lado estão as vis já registrados até então. Além disso, os grupos
milícias Janjawid, recrutadas entre povos de lín- em conflito dificultam o acesso das organizações
gua árabe; do outro estão povos não árabes que de ajuda humanitária e da missão da ONU pre-
vivem na região. Não se trata de um conflito es- sentes na região às áreas afetadas pela violência,
tritamente religioso, pois a maioria da população descumprindo obrigações previstas no direito in-
é muçulmana, mas de uma disputa política com ternacional humanitário. A ONU continua com
fortes contornos étnicos e culturais. esforços e pedidos de paz para a região.
A seca, a desertificação, a super-
população, as disputas pelas poucas
terras férteis e o apoio do governo cen-
tral às milícias vêm provocando um
[
genocídio na região, o qual tem sido Trópico de Cãncer
denunciado e condenado por diversos EGITO
- '—' '-
paises e organismos internacionais. LÍBIA
Em 2009, o Tribunal Penal Interna-
cional emitiu um mandado de prisão
contra o presidente Omar Hassan aI- 1
-Bashir por crimes de guerra. Em meio
a essa situação, os interesses econô-
DARFUR
micos têm grande peso. A China, por CHADE DO NORTE
exemplo, tradicional aliada do governo Cartuma ERITREIA
-- --
sudanes, tem bloqueado na ONU de- AiFshir Capitais
s UD À o / nacionais
cisoes mais incisivas contra o regime
ç'Geneina-' z . Capitais
de Al-Bashir. Mesmo assim, em 2007 regionais
FUR NiaIa
• / N-
o Conselho de Segurança da ONU en- OOESTE'
viou 20 mil soldados à região com o DO SUL /L JO_LL
objetivo de por fim a guerra civil 1
Apesar de um acordo de paz ter 1 0 208 416km
sido assinado em 2011, ela parece estar 1 20800000
REPÚBLICA
distante de Darfur, pois a região ainda CENTRO -
-AFRICANA SUD AO D O S Ii 1 -
tem diversos focos de batalha: grupos
ETIOPIA
rebeldes que enfrentam o governo; di-
Juba D
ferentes grupos etnicos que lutam entre
si por territórios e influência política; REP DEMOCRÁTICA -
DO CONGO QuENIA
7 UGANDA
quadrilhas de criminosos e milícias di- -
F3nic. ONU. Dso vel em: <,:- ue : Dej: ira:
., ae c-r1:aa;ret; Di:r%2OHeqEcPa'i2:lofIIo.
versas financiadas pelo governo.
- Pdf> A(;essoen::atI.21ui.
A presença de varios grupos com
interesses e ideologias diferentes dis-
Pau_±1para _nvestigação
putando o controle da região dificulta
a paz definida no tratado. Em 2016, Pesquise a presença das forças da ONU na região do
a Unamid — sigla em inglês da missão conflito de Darfur. Que ações vêm sendo organizadas para
conjunta da UA e ONU em Darfur — amenizar a situação da população local e que tipos de
alertou sobre a intensificação dos investidas são incentivadas pela organização para que o
conflitos em algumas regiões, desta- conflito chegue ao fim9
cando que essa situação ocasionou
231
Etiópia
A Etiópia é um país extenso e o mais lio na Inglaterra, Selassié governou o país até
populoso do nordeste da África. Etnica- 1974. Nesse período liderou o movimento
mente é um conjunto de mais de 50 gru- nacionalista, responsável pela anexação da
pos que falam uma grande variedade de Eritreia (território vizinho, com saída para o
línguas. O idioma amárico é o principal. mar), praticou uma política africanista que
No que diz respeito à religião, o cristia- culminaria, em 1963, na criação da OUA
nismo e o islamismo dividem quase igual- e reprimiu com extrema violência todas as
mente a preferência dos etíopes. mobilizações oposicionistas.
Apesar da diversidade cultural, a Apesar de tais medidas, a crise eco-
Etiópia tem uma identidade nacional bas- nômica, a pobreza extrema, a ineficácia
tante acentuada, a qual pode ser atribuída do governo, os movimentos separatistas
a sua longa história de independência, e uma grande fome foram fatores que
que elevou o país a símbolo da resistência contribuíram para sua deposição por um
política e cultural africana. No final do sé- golpe militar em 1974.
culo XIX, o imperador Menelik II derrotou O novo regime militar desencadeou
os italianos, preservando a independência uma violenta repressão às iniciativas oposi-
etíope. Entretanto, rompendo com acor- cionistas. Em 1977, Mengistu Haile Mariam
dos travados pelo antigo governante, de tornou-se presidente da República, estreitou
1935 a 1941 a Itália do ditador Mussolini os laços com a URSS e procurou implan-
ocupou a Etiópia, provocando a fuga do tar o socialismo. A maior parte das terras,
então imperador Hailé Selassié. indústrias, comércios, bancos e finanças
Salvo o período de domínio italiano na passaram para o controle do Estado, mas os
Etiópia, durante o qual permaneceu em exí- resultados ficaram longe do esperado.
[ ... ] Infelizmente, a política agrícola do regime se deparou com os mesmos problemas da coletivização
de Stalin na URSS. Em 1984 e 1985, houve escassez terrível de alimentos e o desastre só foi evitado pela
pronta ação de outros países, que enviaram suprirnentos emergenciais de alimentos. O principal problema
de Mengistu era a guerra civil, que se arrastou por todo o seu período no poder e engoliu seus escassos
recursos. Apesar da ajuda da URSS, ele estava lutando urna batalha já perdida contra a Frente de Liber-
tação Popular da Eritreia (Eritrean People's Liberation Front), a Frente de Libertação Popular do Tigre
(Tigray People's Liberation Front) e a Frente Democrática Revolucionária do Povo da Etiópia (Ethiopian
People's Revolutionary Dcrnocratic Front). Em 1989, o governo perdeu o controle da Eritreia e de Tigre, e
Mengistu admitiu que suas políticas socialistas tinham fracassado e renunciaria ao marxismo-leninismo.
A URSS o abandonou. Em maio de 1991, com forças rebeldes fechando o cerco a Adis Abeba, Mengistu
fugiu para o Zimbábue e os rebeldes assumiram o poder.
- 232
Zenawi, líder da Frente Democrática Revolucioná-
ria do Povo da Etiópia (EPRDF), venceu as eleições
nacionais em 2000, foi reeleito em 2005 e governou
até 2012, quando faleceu.
Zewani foi sucedido por Hailemariam De-
salegn, que assumiu o governo prometendo dar
mais espaço para a oposição. Contudo, o novo
governo sofreu graves acusações de autoritarismo
e de violenta repressão política, que incluíam pri-
sões arbitrárias e desaparecimentos.
Do ponto de vista econômico, a Etiópia vi-
veu um grande desenvolvimento na primeira dé-
cada do século XXI, tendo recebido investimentos
externos, aumentado substancialmente as expor-
tações e investido em grandes obras públicas. En-
tretanto, o IDH do país ainda está entre os mais Acs ÂoJtja, Capital da Etiópia. 2015.A cidade tem passado por grande
baixos do mundo. desenvolvimento econômico nos ultimos anos.
Organizando ideias
Leia a reportagem. Depois, faça o que se pede. Entre as mulheres que aparecem no documen-
tário, muitas são divorciadas ou simplesmente de-
Mulheres de Quênia e Etiópia obtêm au-
cidirani não se casar, uma ideia que no Quênia ou
tonomia financeira e subvertem papéis de
na Etiópia ainda soa insólita. I)essa forma, o atletis-
gênero por meio do atletismo
mo lhes brinda uma liberdade e um sentido muito
[ ... ] Na Etiópia e no Quênia, o machismo pode amplo: podem marcar seu futuro profissional e co-
ser combatido com tênis de corrida. O dinheiro meçam a decidir sua posição no campo profissional
obtido nas pistas traz às mulheres a estabilidade sem obstáculos. Apesar disso, o machismo conti-
econômica que lhes permite ser independentes nua latente. "Os homens parecem aceitar a nova
para decidir como administrar suas contas, e, con- configuração, mas, quando começam a elaborar,
sequentemente, seu futuro. Ao voltar para casa de- deixam transparecer as contradições. É algo que le-
pois da competição, a situação mudou: as mulheres vará muitos anos", acrescenta Javier Triana.
levam o sustento e os maridos se encarregam das
DOMINGUEZ. Hugo. Mulheres de Quênia e Etiópia obtêm
tarefas domésticas. autonomia tinanceira e subvertem papéis de gênero por meio
Um documentário mostra esta incipiente revolu- do atletismo. Opera Mundi. 20 mar. 2015. Disponível em:
<http://operamundi.uoLcom.br/conteudo/samuetJ39851/
ção. O atletismo como veículo de emancipação femi- mulheres+de+quenia+e+etiopia.shtml>. Acesso em: abr 2016.
nina está retratado no filme "01:05:12. Una carrera
de fondo" (em tradução livre, "01:05:12. Uma cor- O texto revela uma inversão de papéis de
rida de longa distância"), dirigido pelos espanhóis alguns homens e mulheres em relação à
Javier Triana e Ruben San Bruno. Nas terras áridas estrutura familiar tradicional da região.
do Quênia e da Etiópia, o protagonismo é das atletas
vencedoras em grandes competições internacionais. ai Que inversão é essa?
O roteiro revela como grandes passadas e medalhas
bi Em sua opinião, quais são as possíveis
estão removendo os obstáculos que freiam a igual- consequências dessa mudança?
dade de gênero. "É apenas o começo, porém alguma
coisa começa a mudar", assegura Triana. Relacione o conteúdo do texto às ideias de
igualdade e liberdade.
233
O Renascimento Africano
De forma geral, após as emancipações na-
cionais, o continente africano vem passando por
um processo que pode ser denominado de renas-
cimento: diversos países unidos, com o objetivo
de promover a visibilidade de suas várias etnias,
culturas e tradições artísticas por meio da apre-
sentação dessa multiplicidade e riqueza, intentam
assim acabar com a ideia de atraso que muitos têm
a respeito da África.
4/ø
CeJehruçdo J uÍIÍIORa Rastafãri em Jarínu ISP) 2015. E iLni i urguí41
jamaicana, o movimento rastafâri se espalhou pelo mundo no sáculo XX.
Esse movimento tem raízes nas ideias pan-africanistas de Marcus Mosiah
Garvey, que incentivava os descendentes de imigrantes africanos a voltar
para a Africa.
- 234
Observe as imagens e depois responda às questões
E
8
-
- . -
-
Grupo de elefantes é observado por pessoas no Parque Nacional Chobe. Dança do Tambor Adjogan no Festival Vudu de Owdah, Uldã (Benin).
em Kímie (Ftsuanii 21 2014.
. ...- .- .
Essas imagens sáo comumente utilizadas para representar a África. Diante do exposto neste
capítulo, pode-se tomá-Las como representativas de todo o continente? Justifique sua resposta.
Quais dessas imagens podem ser relacionadas ao termo africanidades? Por quê?
-236
Vamos ler um trecho dessa obra:
E
a
O tempo passeava com mansas len- Aos poucos, eu sentia a nossa farní-
tidões quando chegou a guerra. Meu pai lia quebrar-se como um pote lançado no
dizia que era confusão vinda de fora, tra- chão. Ali onde eu sempre tinha encontra- j
zida por aqueles que tinham perdido seus do meu refúgio já não restava nada. Nós
privilégios. No princípio, só escutávamos estávamos mais pobres que nunca. Junhi-
as vagas novidades, acontecidas de lon- lo tinha os joelhos escapando das pernas,
ge. Depois, os tiroteios foram chegando cansado só de respirar. Já nem podíamos
mais perto e o sangue foi enchendo nosso,-, machambar. Minha mãe saía com a enxa-
medos .A guerra é uma cobra que usa os da, manhã cedinho, mas não se encami-
nosso,,; próprios dentes para nos morder. nhava para terra nenhuma. Não passava
Seu veneno circulava agora em todos os das micaias que vedavam o quintal. Ficava
rios da nossa alma. De dia não saíamos, de a olhar o antigamente. Seu corpo emagre-
noite não sonhávamos. O sonho é o olho cia, sua sombra crescia. Em pouco tempo,
da vida. Nós estávamos cegos. aquela sombra se ia tornar do tamanho de
toda a terra.
COUTO, Mia. Terra sonâmbula.
<-'>ão Paulo: Companhia de Bolso. 2015. p. 15-16.
Outros escritores, como os angolanos Pepetela e o escritor é um ser que deve estar aberto a via-
Ondjaki, o egípcio Naguib Mahfouz e a sul-africana jar por outras experiências, outras culturas, outras vi-
Nadine Gordimer, vêm sendo amplamente divulga- das. Deve estar disponível para se negar a si mesmo.
dos pelo fato de retratarem, por meio da literatura, Porque só assim ele viaja entre identidades. E é isso
as realidades e especificidades culturais de seu que o escritor é - um viajante de identidades, um con-
respectivo povo, ajudando assim a desmistificar trabandista de almas. Não há escritor que não partilhe
as culturas africanas, condenadas à exclusão e ao dessa condição: uma criatura de fronteira, alguém que
preconceito durante o processo de colonização. vive junto à janela, essa janela que se abre para os ter-
Esse novo movimento literário ressalta a ideia ritórios da interioridade.
da exportação da africanidade, segundo a qual, O nosso papel é o de criarmos os pressupostos de
por meio da difusão de informações a respeito um pensamento mais nosso, para que a avaliação do
das culturas africanas, desmancham-se os pre- nosso lugar e do nosso tempo deixe de ser feita a partir
conceitos e ideias limitadas a respeito dos povos de categorias criadas pelos outros. [.1
africanos, por tanto tempo sustentadas. Sobre o COUTO, Mia. Pensatempo: textos e opiniões.
Atfragide: Caminho. 2005. p. 59.
papel do escritor nesses processos, Mia Couto
afirma que:
1. Para Mia Couto, o papel do escritor é avaliar o lugar retratado em suas obras sem a limitação das
categorias criadas por quem não vivencia aquela realidade. Pesquise trechos de obras literárias
africanas em que elementos culturais e sociais são retratados. Procure estabelecer uma relação
entre o tratamento de determinados aspectos culturais na obra escolhida e na sociedade brasileira.
237
Testando seus conhecimentos Responda no caderno
1. (UFSC-SC) A África é tão pouco uniforme cul- os países africanos, estabelecidas pela
tural quanto geograficarnente. Os africanos não Conferência de Berlim (1884-85), tive-
são uma raça de pretos primitivos, nem é a Áfri- ram que respeitar as questões étnicas
ca um continente sem uma velha história, como e culturais por determinação da Orga-
ainda se pensa geralmente. [ ... ] São marcantes nização das Nações Unidas (ONU).
suas diferenças culturais, étnicas e linguísticas. Os processos de independência na Áfri-
Seu passado, embora não raro obscuro, não é a ca, intensificados logo após a década de
crônica de um isolamento. Desde o tempo dos 1950, ocorreram através de acordos pa-
primeiros hominídeos que viveram há um mi- cíficos que promoveram o endividamen-
lhão de anos no desfiladeiro de Olduvai, a África to e a dependência dos novos países,
desempenhou importante papel na história da mas evitaram a deflagração de conflitos
humanidade [... e guerras civis.
LOMMEL, Andreas. A arte pré-histórica e
primitiva. Encyclopedia Britarinica do Brasil 2. (ESPM-SP) Na Batalha de Argel, em 1957, as
Publicacões. 7. ed. Rio de Janeiro: Expressão
forças francesas, que chegaram a contar com qui-
e Cultura, 1979. p. 140-141, 143, 162. In: FARIA,
Ricardo de Moura. Estudos de História. v. 1. nhentos mil soldados, conseguiram desmantelar
São Paulo: FTD, 2010. p. 37. a organização clandestina da Frente de Liber-
Em relação à história da África e de seu povo, tação Nacional (FLN), na capital do país. Uma
assinale a(s) proposição)ões) CORRETA(S). sangrenta repressão à população civil árabe, no
entanto, consumou a divisão entre a minoria
a) Além dos egípcios, vários outros povos
francesa e a maioria muçulmana. A Guerra da
habitavam o continente africano no pe-
Argélia produziu uma crise no governo francês e
ríodo correspondente à chamada Idade
levou à queda da IV República.
Antiga.
(Leonel Itaussu. História Moderna e Contemporânea)
bi A expansão marítima europeia dos
séculos XV e XVI transformou a costa O texto aborda problemas enfrentados
africana em espaço privilegiado para a pela França na África, antes da Segunda
formação de feitorias e, consequente- Guerra Mundial.
mente, em fonte de mão de obra e ma- O texto aborda a Guerra de Independên-
téria-prima. cia da Argélia, em plena descolonização
ci O neocolonialismo europeu sobre o da África, onde foram adotadas táticas
continente africano no século XIX esta- de guerrilha rural e urbana contra o co-
va relacionado à ideia de missão civili- lonialismo europeu.
zadora e às ideologias de progresso e A queda da IV República francesa signi-
superioridade racial branca. ficou o afastamento definitivo do poder
Com a expansão islâmica, todo o norte do general Charles de Gaulle.
africano foi dominado pelos árabes atra- di A Argélia havia se tornado uma colônia
vés da fundação de diversos califados; francesa após a Segunda Guerra Mun-
entretanto, durante a Idade Média, o dial em meio às tensões da Guerra Fria.
avanço das cruzadas recuperou definiti-
e) A Argélia tinha sido uma colônia alemã,
vamente a região para o domínio cristão.
mas passou ao domínio da França como
Mesmo a contragosto das principais resultado dos tratados que se seguiram
potências europeias, as fronteiras entre à Primeira Guerra Mundial.
— 238
Responda no caderno
rPara você assistir LIJ sua esposa, uma ativista humanitária, é brutal-
mente assassinada. Decidido a investigar o que
Um herói do nosso tempo, direção de Radu Mihai- houve, ele descobre que o crime foi comandado
leanu. França/Bélgica/Israel/Itália, 2005. 140 mm. por uma grande empresa farmacêutica, que usa
Salomão, um menino cristão etíope de 9 anos, africanos como cobaias para lestes de remédios.
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2015 Obam ...
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enquanto esteve
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- 242
O poder político pode ser entendido como Entretanto, cabe salientar que a ordem so-
uma forma de manter a ordem e assegurar a esta- cial não é determinada apenas pelo poder insti-
bilidade política de determinado grupo em busca tucionalizado, mas também por costumes, pre-
do bem-estar comum. É possível identificar a atu- ceitos, crenças, paixões coletivas e organizações
ação desse poder em diversas sociedades ao lon- sociais, como família, escola etc.
go da história, sobretudo naquelas organizadas
em Estados, organismos baseados na existência O poder das ideias
de um poder político forte.
Para entender como o poder influencia o Durante a Guerra Fria, surgiram formas al-
processo cultural das sociedades e a transmissão ternativas de construção da identidade pessoal,
de informações, devem-se considerar os instru- social e nacional, bem como se desenvolveram
mentos pelos quais ele é exercido e as fontes de outras formas de fazer política. Nesse contexto,
direito para esse exercício. De forma sucinta, Po- emergiram movimentos sociais como os feminis-
dem-se definir três instrumentos para o exercício tas, os ambientalistas e outros que mexeram nas
do poder: a coação, a recompensa e a persuasão. estruturas tradicionais da prática da política, tan-
No caso da coação, a submissão de um ao to interna quanto externa. Essas modificações es-
outro ocorre pela imposição de normas. No Bra- tiveram baseadas no conjunto de ideias que pre-
sil, por exemplo, o Estado usa sua soberania para valeciam no momento.
estabelecer leis e impor o cumprimento delas a
toda a população, que, se não as cumprir, corre o
risco de receber punição. Ideias são a força motriz do processo cul-
A recompensa é o uso do poder de forma tural que dá consistência (ou resistência, ou
compensatória, o que leva à aceitação da submis- ambas) à afirmação de indivíduos ou grupos
são em troca de algo, que pode ser uma recom- na realidade histórica das sociedades. Não é
pensa financeira ou social. Pode-se exemplificar relevante ou decisivo defini-las concretamente
com a questão do pagamento de impostos: neste ou julgá-las boas ou más. O fundamental é re-
caso a população deve receber uma compensa- conhecer sua ação e sua inércia. Entendidas de
modo estritamente formal, "ideias" é aqui um
ção social - estradas, saúde pública etc. -, que a
termo que designa o conjunto de convicções,
leva a aceitar o pagamento do tributo.
crenças, opiniões, interesses, motivos, que,
Já a persuasão é a submissão gerada pelo
adotado pelo agente racional humano, indivi-
convencimento do que é apropriado, ou seja, as
dual ou coletivamente, determina o seu agir.
pessoas são conscientizadas ou convencidas de As ideias desempenham numerosas funções,
que determinado comportamento e certa ação na vida pessoal, na vida social e na vida cultural.
são mais adequados do que outros e por isso de- A perspectiva com base nas ideias aqui tratadas
vem ser praticados. Um exemplo é o conceito do diz respeito a seu desempenho no contexto das
trabalho individual para grande parte da popu- redes culturais cuja resultante são formas de po-
lação. Muitas pessoas são convencidas de que, der na sociedade e no Estado, que interferem na
mais do que pelo salário, trabalham para desem- formulação e na prática de condutas individuais
penhar seu papel na organização da sociedade, e sociais. Essas condutas incluem, por certo, as
ou seja, cumprem seu dever para com todos. Ou- políticas públicas definidas pelos Estados, como
institucionalizações da sociedade.
tros exemplos desse instrumento de poder são o
[...1 A articulação entre o plano das ideias,
patriotismo e a fidelidade partidária.
formador do campo cultural, com o da ação,
De forma geral e resumida, é assim que o po-
estruturador do exercício do poder, mede as re-
der se manifesta nas sociedades quando analisadas lações pessoais ou sociais, sempre que estas afe-
pelo viés das relações de domínio institucionaliza- tam o quotidiano de cada um, seja ele individuo,
das, ou seja, na relação com o poder do Estado. grupo ou comunidade.
Para podermos analisar a influência do po-
MARTINS, Estevão Chaves de Rezende. ReLações
der na cultura e na transmissão de informação, internacionais: cultura e poder. Brasília: Ibri, 2002. p. 23.
precisamos compreender sua forma institucional.
o: 243
A partir da década de 1990, com
!J jL Ji
as mudanças nos processos políticos e
LL kí
econômicos e, sobretudo, com a rees-
truturação dos movimentos sociais, o
papel das ideias passou a ser cada vez
maior na definição das políticas públi-
cas. As ideias - e seu conjunto, a cul-
tura - são influenciadas pelas relações
de poder formal e as influenciam, uma
vez que há uma relação direta entre
indigenas dos grupos Guararu Kaiowã. Kadimeu e Terena em manilestação pela niellroria
nos processos de demarcação das terras indígenas no Brasil. Campo Grande (MS), 2015.
Organizando ideias
Em dupla, analise os textos e, juntos, façam agir, até à capacidade do homem em determinar o
que se pede. comportamento do homem: Poder do homem sobre
homem. O homem é não só o sujeito mas também
Texto 1
objeto do Poder social. É Poder social a capacidade
poder não é um ser, "alguma coisa que que um pai tem para dar ordens a seus filhos ou a
se adquire, se toma OU se divide, algo que se deixa capacidade de um Governo de dar ordens aos cida-
escapar". É um nome atribuído a um conjunto de dãos. Por outro lado, não é Poder social a capacidade
relações que formigam por toda a parte na espessura de controle que o homem tem sobre a natureza nem
do corpo social (poder pedagógico, pátrio poder, a utilização que faz dos recursos naturais.
poder do policial, poder do contramestre, poder do
BOBBIO. Norberto; MAUEUCCI, Nicota; PASQUINO,
psicanalista, poder do padre etc., etc.). j ... j. Giantranco Org.l. Dicionário de política. Brasília:
UnO. 2004. v. 2. p. 933.
LEBRUN, Gérard. O que é poder.
São Paulo: Brasiliense, 2004. p. 20.
De acordo com os textos, o que é poder?
Texto 2
A que poderes o autor do texto 1 faz referência?
[.1 a palavra Poder designa a capacidade ou a Como esses tipos de poder se efetivam na
possibilidade de agir, de produzir efeitos. Tanto sociedade? Exemplifiquem.
pode ser referida a indivíduos e a grupos humanos
como a objetos ou a fenômenos naturais (como na Expliquem a expressão poder do homem
expressão Poder calorífico, Poder de absorção). Se sobre o homem citada no texto 2.
entendermos em sentido especificamente social,
ou seja, na sua relação com a vida do homem em De que modo o exercício do poder influencia
sociedade, o Poder torna-se mais preciso, e seu es-
a vida de vocês?
paço conceptual pode ir desde a capacidade geral de
— 244
Cuttura e poder
As diferentes formas de manifestação cultu- ções, como pinturas, canções, inscrições, escultu-
ral de determinados grupos ou comunidades são ras e livros.
a chave para o entendimento de suas visões de Na história dos diferentes povos e sociedades,
mundo, de suas atividades cotidianas e das cren- a produção cultural é sempre rica e dinâmica.
ças que fundamentam suas ações. Elas podem Além disso, a produção e a disseminação desses
servir como ponto de partida para o estudo de bens culturais tendem a sofrer a interferência das
suas hierarquias sociais e relações de poder, este- relações de poder. Nas sociedades surgidas após
jam elas relacionadas a um papel desempenhado, a Idade Moderna e nas contemporâneas, em geral
a um gênero ou a valores econômicos. o poder está relacionado ao controle político e
Historicamente, cada povo encontrou formas econômico representado pelo Estado e outras
de preservar suas ideias expressas em memórias e instituições, mas isso não significa que as pessoas
tradições. Dessa maneira, por meio da memória não tenham poder. As pessoas e as coletividades
cultural, ou melhor, do legado de seus antepassa- também têm muito poder nas sociedades atuais,
dos, as sociedades construíram suas identidades. uma vez que podem exercer pressão sobre as insti-
tuições em diferentes âmbitos.
Antropólogos, historiadores e outros cien-
A memória ...j é um processo permanente de
tistas sociais costumam definir cultura como "o
construção e reconstrução, um trabalho [ ... ]. O es-
forço com que costumam investir grupos e modo de vida de um povo". Assim teríamos di-
sociedades, para fixá-la e assegurar-lhe estabilidade, visões como cultura africana, cultura europeia,
é por si indício de seu caráter fluido e m a ava. As cultura indígena etc. Entretanto, na globalização,
sociedades de comunicação oral, por exemplo, de- esses rótulos perdem força, pois, pela informati-
senvolveram sofisticadas e eficientes técnicas m se zação da sociedade, as identidades culturais in-
mõ s c a para evitar variações: o ritmo, a conven-
dividuais ou coletivas (das sociedades) acabam
ção formular, os sistemas de associação etc. Nem
sendo influenciadas por elementos globais.
por isso, revelam os especialistas, a tradição se deixa
cristalizar: a comunicação nunca se faz rigorosa-
mente palavra por palavra, mas absorve variações
de escala díferenciada. O caso das culturas orais é - .ç3
interessante porque, nelas, o processo de registro e -4 (
A &ossaiia
Ingente: que é muito grande.
Mnemônico: técnica para facilitar a memori-
zação por meio de exercícios como a combinação
de elementos associáveis.
Mutável: que se pode mudar ou que tem a A transmissão da cultura por meio da oralidade é marcante na Africa, Na
capacidade de transformar-se. fotografia, membros do grupo pigmeu Batwa compartilham histórias em
vila de Mukono (Uganda), 2015.
245
Assim, a cultura particular ou gru paI pode ser
Pausa para investigação
moldada e manipulada pelo Estado e também - ou
ao mesmo tempo - pelo mercado (entendendo-se
Em grupo, pesquise as tradições culturais
mercado como o sistema de circulação de ideias e
dos povos nativos do Brasil no passado e no
produtos entre as diversas sociedades mundiais).
presente. Juntos, busquem traços indígenas na
Assim se justifica a ideia da existência de uma
língua, nos costumes, nos hábitos alimentares
indústria cultural, em que a cultura, como qualquer
da sociedade brasileira e verifiquem de que
mercadoria, pode ser comercializada, receber i nves-
modo essa cultura está presente atualmente.
timentos empresariais ou estatais e ser consumida.
Depois, apresentem o resultado aos colegas.
E, como produto, pode ser usada como instrumen-
to de dominação política e econômica.
OElanizando ideias
Em dupla, leia o texto e faça o que se pede Da mesma forma, sabemos perfeitamente como
Cultura como mercadoria se constrói um forte apache típico do oeste ameri-
cano, mas não temos a menor ideia de como era
Na sociedade capitalista, comida não serve ape- uma cidade brasileira do século passado, como
nas para alimentar as pessoas: serve também como Sorocaba das feiras de muares, para não falar dos
produto tanto para aquele que planta e vende quanto acampamentos dos bandeirantes ou do mobiliário
para o consumidor que paga um preço por ela, sem das "casas grandes" do período açucareiro.
falar nos atravessadores, intermediários, que nem Isto tudo ocorre porque a informação cultural
produzem e nem consomem, apenas comerciam. transforma-se em mercadoria com etiqueta, preço
Da mesma forma que a comida, tudo na socie- e tudo. Só o desenvolvimento de uma consciência
dade capitalista, além do seu valor intrínseco ou uti- histórica bastante crítica poderá permitir às pessoas
litário, é mercadoria: tem um preço, uma estratégia se darem conta disso e eventualmente lutarem pelo
de venda, pessoas que podem ou não comprá-la e direito à cultura desejada e não à cultura imposta.
assim por diante. Não é difícil pensar em outros pro-
dutos com os quais se dá o mesmo fenômeno: um P1NSKY, Jaime. Cultura como mercadoria. in: - tOrg.l.
História da América através de textos.
automóvel, um apartamento, roupas etc. Em nossa São Pauto: Contexto, 2001. p. 135-136.
sociedade, ter acesso a estes produtos não depende
de quão necessários eles possam ser para alguém e
O autor cita filmes, livros e músicas como
sim que condições de pagar por eles as pessoas têm.
Em relação à cultura ocorre o mesmo. exemplos de produção cultural transformada
Um filme para ser produzido e visto depende de em mercadoria. Sobre esse assunto, respon-
verbas, técnicas competentes, bom esquema de dis- dam às perguntas a seguir.
tribuição, além da simples "ideia na cabeça". Um
ai Que outros exemplos vocês podem citar?
livro também sofre um processo de industrializa-
ção e de comercialização. Quanto à música nem se b) De que modo esses objetos ou manifes-
fala! Sai mais barato comprar nos EUA uma matriz tações são usados como mercadoria na
já gravada e reproduzi-la aqui, do que juntar mú- sociedade?
sicos num estúdio e pagar os custos de uma grava-
ção original. No caso da música há ainda o fato de A existência de uma 'cultura imposta" na socie-
que para muitos a melodia é suficiente, tornando-
dade atual é umas das principais ideias do texto.
-se desnecessária a tradução, enquanto livros ne-
cessitam de traduções caras e produções editoriais ai Citem um dos casos utilizados pelo autor
próprias. 1)aí a enorme facilidade da penetração para exemplificar essa imposição cultural.
cultural por intermédio da música.
Através de repetições frequentes molda-se o bi Vocês concordam com a existência dessa
gosto tanto de apreciadores de música como de te- 'cultura imposta"? Por quê?
lespectadores. f...
— 246
Cu[tura e Liberdade no BrasiL
na Ditadura MiLitar
São consideradas manifestações culturais
todas aquelas que caracterizam, identificam e atrasado, como se houvesse "dois brasis".
representam a cultura de um povo ou de uma Essas ideias eram disseminadas pelos teóricos
...]. E circulavam especialmente nos meios
nação. Abordar a cultura popular brasileira é
intelectuais e artísticos comprometidos com o
uma tarefa muito ampla e complexa, pois o país que se convencionou chamar de projeto "na-
conta com uma gama imensa e variada de mani- cional-popular". A proposta era revolucionar
festações culturais. A cultura popular brasileira não só a sociedade, mas a própria arte. Era o
constitui-se, segundo definição do Ministério da que pretendia o Cinema Novo, que geraria o
Cultura, das maneiras de ser, agir, pensar e se famoso manifesto de Glauber Rocha, "Estética
expressar de diferentes segmentos da sociedade, da fome".
que podem ser observadas tanto nas áreas urba- Exem plos artísticos dessa "brasilidade revo-
lucionária" são a dramaturgia do Teatro de Are-
nas como nas rurais.
na de São Paulo e de autores como Dias Gomes;
Na década de 1960, as manifestações cul- a trilogia clássica do Cinema Novo (Vidas secas,
turais no país foram extremamente influenciadas de Nelson Pereira dos Santos, Deus e o diabo na
pelos acontecimentos políticos. Foi um período terra do sol, de Glauber Rocha, e OsJizis, de Ru),
de intensa movimentação, durante o qual artistas Guerra, os três rodados antes do golpe e exibi-
e intelectuais engajados nos movimentos políti- dos depois); a canção engajada de Carlos Lyra e
cos buscavam conscientizar a população sobre a Sergio Ricardo; e a agitação e propaganda (agi-
real situação de falta de liberdade. Pode-se perce- trop) dos Centros Populares de Cultura (CPCs)
ber que procuravam também conclamar o povo a da União Nacional dos Estudantes. [...]
uma ação que mudasse essa realidade. RIDENTI, Marcelo. Uma década de sonhos e
mudanças. Nossa História. São Paulo: Vera Cruz.
ano 3, n. 26, p. 63-64, dez. 2005.
247
Com a implantação do Regime Militar em
1964,
ativistas políticos, sindicalistas, organizações senados eram líderes de audiência no seu horário,
populares e parlamentares passaram a ser alvo dire- destinados a públicos diferentes. [ ... ]
Mas foram os Festivais da Canção os pro-
to de perseguição, pois representavam uma ameaça
gramas que mais agitaram a sociedade brasi-
à nova ordem constituída. No entanto, intelectuais
leira entre 1966 e 1968. Nestes anos, a fórmula
e artistas tiveram um período, de 1964 a 1968, de
"festival da canção" imperou na TV brasileira,
relativa liberdade de criação artística e expressão tornando-se os programas de maior audiência.
cultural - relativa porque, estando sob um regime [ ... ] O festival era um tipo de evento que reu-
ditatorial, a vigilância era sempre constante. nia um conjunto de músicas inéditas, de 36 a 40,
Nessa conjuntura, a oposição à ditadura espa- dependendo da emissora, em que se escolhiam
lhou-se pelo movimento estudantil e pelos setores entre estas algumas finalistas que disputavam
relacionados à cultura, como a música, o cinema, o os principais prêmios, sobretudo o de "melhor
canção". Entre 1966 e 1968, principalmente, os
teatro, a literatura. Assim, a militância política bra-
festivais acabaram sendo os principais veículos
sileira encontrou na cultura uma forma de atuação.
da manifestação da canção engajada e naciona-
Ainda no início da ditadura, em dezembro lista, voltada para a discussão de problemas que
de 1964, estreou o espetáculo Opinião, conside- afligiam a sociedade brasileira. [ ... ]
rado até aquele momento a reação mais contun- O ano de 1967 marcou o auge da popularidade
dente ao Regime Militar. Apresentado por Nara da "arte engajada" brasileira. No cinema, na músi-
Leão, jovem de classe média, Zé Kéti, sambista ca, no teatro, na televisão, a impressão era de que
da favela, e João do Vale, camponês do Nordes- Brasil todo havia se convertido para a esquerda.
Esse fenômeno cultural contrastava com a reali-
te, o espetáculo caracterizava-se por seu caráter
dade política do país, cada vez mais controlado
nacionalista e popular, constituindo um dos es-
por um regime que deixava clara sua disposição
paços culturais que reuniram parcela importante
para ficar no poder, dissipando as ilusões daqueles
da sociedade na resistência ao Golpe Militar. Ou- que achavam que a ditadura era transitória. [ ... J
tro espetáculo musical de grande importância foi
NAPOLITANO, Marcos. CuLtura brasileira: utopia e massif i-
Arena conta Zumbi (1965 a 1967), que criticava cacão (1950-1980). São Pauto: Contexto. 2008. p. 55-56 e 59.
passado escravocrata brasileiro e a ditadura do
Regime Militar.
Mas o grande salto de popularização do
movimento cultural foi a chegada, à televisão,
da Música Popular Brasileira (MPB) - que ga-
nhou sigla em letras maiúsculas, como se fosse
um partido político. A programação musical foi
um sucesso, abrindo caminho para os até hoje
lembrados festivais da canção. Esses grandes
festivais tinham forte conotação de crítica à Di-
tadura. Traziam ao público canções com letras
que expunham a visão dos artistas sobre o regi-
me e sua indignação contra ele. Foi o período da
música de protesto.
- 248
Entre os anos 1967 e 1968 surgiu o Tropica-
Pausa para investigação
lismo, movimento cultural que abrangia diversas
áreas, como música, teatro, cinema, poesia e ar- Para entender melhor a cultura da déca-
tes plásticas, espalhando-se entre a juventude. da de 1960, em grupo, pesquise os temas a
Ele universalizou a linguagem da MPB, quan- seguir e, juntos, organizem-se, de modo que
do incorporou à música a guitarra elétrica do rock. cada tema seja apresentado por apenas um
As ideias propagadas por esse grupo de artistas grupo. Durante a pesquisa, coletem infor-
influenciaram a cultura nacional. O Tropicalismo mações sobre locais e momentos em que
trazia nas letras das canções e em outras áreas da esses temas ganharam força, quem eram
arte um quadro crítico e complexo do país. Por as pessoas envolvidas e que ideias eram
ter sido um movimento de oposição e crítica ao transmitidas por meio dessas manifestações.
Regime Militar, foi reprimido pelo governo. Cinema Novo.
O Tropicalismo teve maior visibilidade na
Manifesto 'Estética da Fome, de Glauber
música, sobretudo com Caetano Veloso, Tom Zé,
Rocha.
Gilberto Gil, Gal Costa, Torquato Neto, o grupo
Teatro de Arena.
Os Mutantes (Rita Lee, Arnaldo Baptista e Sérgio
Dias) e o maestro Rogério Duprat, mas também Centro Popular de Cultura (CPC) da
influenciou os representantes do Cinema Novo, União Nacional dos Estudantes UNE).
como Glauber Rocha. No teatro, apareceram Festivais da canção.
peças anárquicas deJosé Celso Martinez Corrêa e as
montagens do grupo do Teatro Oficina. Na poesia,
destacaram-se nomes como Augusto de Campos e
Décio Pignatari. A cultura sob as ordens
Também chamado de Tropicália, o movi-
mento foi uma proposta de mudança na lingua-
da censura
gem e no comportamento vigentes, não só quan- Essa efervescência cultural passou a ser direta-
to à música e à política mas também à moral, ao mente reprimida após 1968. O Al-5 provocou um
corpo, ao sexo e ao vestuário. golpe na vida cultural brasileira, que passou a convi-
ver com o aumento da censura às artes e à imprensa.
Foram anos difíceis, durante os quais muitas
pessoas foram proibidas de exercer suas funções
e algumas deixaram o país, em exílios voluntários
ou impostos. São vários os nomes que podem
ser citados como exemplos, e em diversas áreas:
arquitetos como Oscar Niemeyer; cientistas so-
ciais como Darcy Ribeiro e Celso Furtado; músi-
cos como Chico Buarque, Gilberto Gil e Caetano
Veloso; educadores como Paulo Freire; cineastas
como Glauber Rocha; e muitos outros. Quem
não se retirou do cenário cultural teve o trabalho
e a vida vigiados pela polícia. Em alguns casos,
como ocorreu com professores engajados e críti-
cos, a polícia inflltrava informantes entre os alu-
nos para que nada escapasse do controle militar.
Mesmo nesse contexto, havia um públi-
- 249
consumia várias formas de cultura. Tam- Em tempos de censura, o governo foi
bém data desse período um aumento no ao mesmo tempo o carrasco e o mecenas
número de universitários, o que fazia cres- da cultura. De um lado, controlava e cen-
cer a quantidade de críticos do regime e surava a produção cultural e, de outro,
consumidores de cultura. criava instituições como a Fundação Na-
Foi uma época de expansão dos cional de Artes (Funarte), o Serviço Nacio-
meios de comunicação e da indústria cul- nal de Teatro (SNT) e a Empresa Brasileira
tural. Produtos como telenovelas e notici- de Filmes (Embrafilme), que favoreciam a
ários garantiam a audiência na televisão, produção artística e cultural por meio de
e revistas, coleções de livros e fascículos financiamentos ou divulgação.
consumidos em larga escala mostravam o O cinema que na década de 1970
crescimento da difusão cultural. entrou definitivamente
' na era industrial,
foi um dos grandes beneficiados
r
com essa "ajuda" governamen-
tal. Com a Embrafilme como
r -
produtora, financiadora e distri-
buidora, conseguiu crescimento
acentuado. Data também desse
período a criação do Festival de
Cinema de Gramado (Rio Gran-
de do Sul). Realizado anualmente
desde 1973, o evento é destaque
na premiação dos melhores fil-
mes e diretores no Brasil.
No teatro, a censura tam-
bém foi atuante, sobretudo entre
1973 e 1975. Como as peças com
teor político e crítico eram proi-
bidas, espetáculos musicais, de
dança e dramáticos, assim como
os shows humorísticos, garan-
tiram a continuidade do teatro
:t e a manutenção da carreira dos
atores. No humor destacaram-se
Chico Anísio eJô Soares.
A
Mecenas: termo que se refere ao incentivo e patrocínio à cultura. Faz referência a Caio Cilino
Mecenas (68 a.C.- 8 a.C.), conselheiro do imperador romano Augusto, que apoiou o desenvolvimento
artístico em Roma.
250 :tijto9
Na literatura, a década de 1970 foi 1976 tiveram mais visibilidade, e vários
a era dos besr-sellers de escritores inter- outros, como Elis Regina, Milton Nas-
nacionais, como Gabriel García Márquez, cimento, Belchior, Fagner, MPB4, Clara
Agatha Christie e Richard Bach. Na litera- Nunes, Ney Matogrosso etc., passaram a
tura nacional fizeram sucesso livros de fic- fazer parte da renovada MPB.
ção, poesia, ensaios jornalísticos, entrevis- Ainda na música, outros gêneros se
tas e contos, que alavancaram a indústria destacaram, como o samba tradicional de
editorial local. O que explica esse boom Beth Carvalho, Martinho da Vila, Paulinho
literário foi o crescimento da classe média da Viola. O rock nacional também ganhou
e o aumento no nível de escolaridade. Há espaço, com destaque para Raul Seixas e
que se considerar também a existência de Rita Lee.
uma literatura marginal, composta de li- Os programas de auditório, chama-
vros mimeografados, vendidos em portas dos de cultura popular de massa, apresen-
de museus, teatros, cinemas e nas mesas tados por Chacrinha, Silvio Santos, Boli-
de bares. nha, entre outros, também tiveram espaço.
A partir de 1975, a censura ficou Com a revogação do Al-5 em janeiro
mais branda, e o apoio direto à cultura de 1979, abriu-se uma nova era para a cul-
nacional aumentou. Tudo isso ocorreu tura brasileira. Sem a censura ideológica,
dentro da estratégia do governo do gene- peças de teatro, músicas, livros de ficção,
ral Geisel (1974-1979), que previa uma reportagens e ensaios históricos puderam
abertura "lenta, gradual e segura". Havia ser livremente publicados e consumidos
também uma clara política nacionalista pela população. No mercado editorial,
na cultura, visando salvaguardar a cultura essa liberdade significou a produção de
nacional do imperialismo, sobretudo nor- cerca de 249 milhões de exemplares (mais
te-americano. de 13 mil títulos) em 1979.
Com esse abrandamento da censura,
os compositores de MPB puderam voltar
a compor canções de crítica ao regime.
Pela música, eram passados recados ao
governo e à população, com temas como
liberdade e justiça social compondo a tri-
lha sonora da abertura política. Nomes
proibidos no início da década (Chico Bu-
arque, Caetano Veloso etc.), a partir de
A Glcissárki
Mimeografia: técnica de cópia de
textos e desenhos feitos em papel
estêncil, um tipo de papel parafinado,
por meio da utilização de uma máquina
chamada mimeógrafo. Nessa técnica, o
papel estêncil é perfurado ou recortado
e fixado no mimeógrafo, por onde passa
a tinta que reproduz a mensagem ou
desenho recortado no estêncil para
outras folhas de papel. c-ravoçdo do prograoia Clube do 8otiiiia. idoio Co:
como Bolinha. São Paulo (SP), 1976.
251
Novos tempos da cuLtura:
democracia e gLobaLização
Nas décadas de 1980 e 1990 aumentou o nú- eletrônica, hip-hop e outros ritmos locais, que fo-
mero de bandas de rock nacional, que deram um ram ganhando espaço e destaque, como o forró pé
novo direcionamento à música no país. Surgiram de serra e o calipso (ritmo caribenho que ganhou
nomes como Blitz, Barão Vermelho, Paralamas do novos contornos no Brasil). A música brasileira,
Sucesso, Legião Urbana, Titãs, além de cantores na passagem para o século XXI, tornou-se cada
e cantoras que deram um impulso definitivo à in- vez mais eclética.
dústria do disco e dos shows no Brasil. No cinema, a década de 1980 foi marcada
pelo fim da Embrafilme, em 1987. A falta de incen-
tivo governamental fez a produção cínematográfica
passar por tempos difíceis. Sem dinheiro e com os
vários planos econômicos dificultando ainda mais,
o cinema nacional foi bastante prejudicado. Mas
na década de 1990, gradativa mente, foi tomando
novos rumos. A partir de 1994, o governo criou
leis de incentivo, possibilitando uma retomada de
sucesso para o cinema nacional.
Ao final do século XX, com a aceleração no
ritmo das mudanças e no contexto de uma socie-
dade globalizada e tecnológica, que proporciona
maior proximidade entre as diferentes culturas
mundiais, os hábitos, os costumes e o consumo
de cultura alteraram-se em escala global.
Hoje, encontramos cada vez mais oferta de
cultura a ser consumida, e as possibilidades de
Primeiro festival de música Rock in Rio, Rio de Janeiro (RJI, 1985. trocas virtuais acabam interferindo no comporta-
mento cultural.
Do ponto de vista musical, a década de 1990
A
pode ser considerada a primeira realmente demo-
crática desde o Golpe Militar de 1964. Diversos EcLético: que inclui uma mistura de elemen-
ritmos passaram a conviver: axé-music, pagode ro- tos selecionados em várias fontes.
mântico, sertanejo, lambada,grur'ige, funk, música
Organizando ideias
1. Relacione seus conhecimentos com o texto a descartável, todas as esferas da sociedade perdem
seguir e escreva um texto argumentativo sobre a vitalidade. Num mundo globalizado, lembrar das
a importância das manifestações culturais para
obras que os flOSSOS cidadãos escreveram, compu-
diferentes povos.
seram, filmaram, pintaram, esculpiram, encenaram,
Em qualquer sociedade, o campo cultural é um
significa dizer ao mundo que existimos e que temos
dos elementos estruturais básicos, tão importante
muito a oferecer para a cultura da humanidade.
quanto a vida política e econômica. Quando negli-
NAPOLITANO. Marcos. Cultura brasileira:
genciamos o passado da nossa cultura ou a vivemos
utopia e massificecâo [1950-19801.
unicamente dentro da esfera do lazer imediato e Sâo Paulo: Contexto, 2008. p. 129.
— 252
Resgate cuLtural
Mas se você quiser fazer rock 'n 'roil em português, isso
Rock brasileiro? é totalmente possível. Você pode até subverter a na-
O Brasil da década de 1980 foi marcado pelos tureza de um código. Se você tem um código mais...
movimentos urbanos. Uma grande parte da po- mais inadequado, você tem corno subverter isso atra-
pulação jovem das cidades mais populosas do vés do uso que você faz. A língua, você sempre pode
país nasceu em áreas urbanas, diferentemente torcer ela como você quiser. Essa torção é o traballo
das gerações anteriores, que em geral vinham artístico, na verdade.
do campo para se estabelecer nas cidades. Arnaldo Antunes. ln:ALém-mar: língua. Produção: IV Escola.
Nas cidades, as redes culturais conectam Brasil, 1999. Disponível em: <http://tvescola.mec.gov.br/tve/vid-
eo/atem-mar-tingua>. Acesso em: abr. 2016. [Começa em 30:381.
as pessoas a ideias e movimentos de lugares
muito distantes, como o rocknro11, ritmo mu- Sobre o uso de língua nativa na música, leia
sical originário dos Estados Unidos. A produção o trecho de uma entrevista com jovens rappers
artística desse período, no entanto, pôde se de Cabo Verde a respeito da importância do
distinguir por traduzir as inquietações e as criolo, língua cabo-verdiana, nas suas canções.
visões em relação ao Brasil de grande parte Começou com uns rapazes aí de São Vicente
da juventude nacional. [ilha de Cabo Verde], o Ice Company. Depois a
Influenciados por grupos de rock dos Estados gente ouviu eles a cantar, então a gente decidiu fa-
Unidos e da Europa, esses jovens criaram can- zer música em criolo também. Nós, antes, a gente
ções originais, nas quais destacam-se questões fazia música em inglês e tentava fazer nosso som,
sociais e políticas do país - e em língua portu- mas era mais ou menos difícil fazer o nosso som e
guesa! Sobre o uso do português em um ritmo demorava muito. Então a gente pegou aquele ins-
tão identificado com a língua inglesa, assim trumental e a gente metia nossas letras.
falou Arnaldo Antunes:
Black Naturo. In: Além-mar: língua. Produção: 1V Escola. Brasil,
1999. Disponível em: <h(tp://tvescota.mee.gov.br/ive/video/a[em-
Essa história de fazer rock ou fazer qualquer ou-
mar-linguci>. Acesso em: abr. 2016. [Começa em 26:501.
tro gênero... é muito mais urna questão de lingua-
gem do que urna questão de língua. Não é o código 1. Qual é o efeito da adaptação de produções es-
que vai determinar e sim o uso dele. trangeiras às línguas nativas das populações?
O inglês e o portu-
guês têm caracterísUca
diferentes, né? O inglês ' •
mais sintético e tem um -,
número muito maior dc
monossílabos, tudo isso.
253
2 Viajando peLa história
A história da comunicação
graças a mensagens mais detalhadas, ou seja, ao
Desde os tempos mais remotos, a comuni- imprevisto. Antes da época da escrita existia ape-
cação esteve presente nas sociedades. A difusão nas um canal: a palavra apoiada na memória.
da informação por meio da transmissão dos sa- O acontecimento mais simbólico dessa for-
beres sempre foi muito importante para o conví- ina de comunicação é o episódio do corredor
vio das pessoas. de Maratona, em 490 a.C.: após a vitória dos
Gregos sobre os Persas, o mensageiro percorreu
Os meios e as técnicas utilizados para comu-
42,195 quilômetros até Atenas onde, depois de
nicação partiram de uma fórmula básica: a lingua- anunciar de um sopro o sucesso da sua pátria,
gem do corpo humano, a voz e os gestos. E, com morreu de esgotamento.
base nisso, surgiram inúmeras formas de expressão,
JEANNENEY, Jean-Nãet. Uma história da comunicação
de transmissão de informações. A escrita é uma de- sociaL Lisboa: Terramar, 1996. p. 15-16.
las, porém, mesmo antes de seu advento, as infor-
maçõesjá eram transmitidas. Os povos sem escrita
utilizaram, como forma de comunicação, imagens Quando os seres humanos desenvolveram
— como as pinturas rupestres — e também a oralida- a escrita - e isso ocorreu de diferentes maneiras
de, transmitindo mitos e lendas para gerações. Foi e em diferentes tempos e espaços —, a memória
assim com os indígenas brasileiros, por exemplo. passou a não ser mais a única forma de guardar
informações. Aos poucos, com o desenvolvimen-
to do alfabeto, que variava de língua para língua,
Partamos de uma observação simples. A dife-
tornou-se possível registrar e transmitir diversos
rença principal entre o animal e o homem é que o
primeiro reage sempre a um acontecimento exte- saberes não só a seus contemporâneos mas tam-
rior de forma instintiva, enquanto que é próprio bém às gerações que viriam depois.
do homem tomar decisões para as quais se serve Entre os exemplos de utilização da escrita na
da razão, a par do instinto. Portanto, apoia-se for- Antiguidade, há o dos egípcios - que em 3500 a.C.
çosamente sobre o mais preciso conhecimento usavam hieróglifos, sistema baseado em símbolos
possível do inundo exterior, que os seus sentidos — e o dos chineses — que por volta do ano 4000 a.C.
não podem perceber diretamente, um mundo em já contavam com um sistema de correio.
que intervêm incessantemente modificações nas-
cidas quer das mudanças inesperadas da natureza,
quer da agressão de grupos exteriores. [ ... ] &Ç.' .Zt7'
.r
Se começarmos pelo mais primitivo, pela
origem, o primeiro dos meios de comunicação ---
'
social é a indicação pública de um fato muito
-
simples e que podemos prever num tempo em j
que a escrita não existe. Um corte numa árvo-
si t5t
re, uma pedra colorida, um ramo quebrado
significam aos olhos dos homens primitivos a r ii-,seL -°'-
aproximação do inimigo ou, então, que a caça
passou por ali ou irá passar por ali. Vários sinais iJjti '4 V'bl
1 ÍL l 1
ópticos figuram na mesma categoria, por exem- .J1
— 254
O correio foi uma das formas mais eficazes veicular temas que pudessem incitar o povo contra
empregadas para vencer distâncias. Diferentes so- os governantes. A Suécia foi a pioneira na contes-
ciedades da Antiguidade utilizavam esse serviço. tação dessa prática, quando em 1776 promulgou
Cerca de 2400 anos antes de Cristo, os faraós egíp- uma lei que protegia a liberdade de imprensa.
cios usavam mensageiros para difundir ordens e Com a invenção do telégrafo, por Samuel
decretos entre a população. Já os cretenses e os fe- Morse, em 1835, a transmissão de informações
nícios desenvolveram um sistema postal que utiliza- ganhou impulso. Era possível enviar mensagens a
va pombos e andorinhas como mensageiros. Entre qualquer lugar. Com isso, os jornais se beneficia-
os romanos, a vasta rede de estradas possibilitou ram e se espalharam pelo mundo inteiro, pois o
um sistema postal bastante desenvolvido. novo sistema propiciava a transmissão de infor-
Durante a Idade Média, em geral as comu- mações em longa distância, e as notícias fluíam
nicações eram feitas em praça pública, e já havia mais rapidamente.
livros, transcritos um a um pelos copistas. No sé- Inspirado no invento de Samuel Morse,
culo XV, com a invenção da imprensa, foi possível em 1876 o escocês Alexander Graham BeIl apro-
iniciar a reprodução em série. A prensa, finalizada priou-se dos estudos do italiano Antonio Meucci
por Gutenberg em 1447, possibilitou a reprodução para patentear um invento revolucionário para
dos escritos de forma mais rápida e eficaz. Assim, a comunicação: o telefone, que se tornou rapida-
uma mensagem escrita podia ser repassada a mui- mente um acessório muito desejado.
tas pessoas ao mesmo tempo. Outro invento importante foi o rádio, que
até hoje é um dos mais popu lares veículos de co-
municação. Em 1888, o físico alemão Heinrich
Hertz conseguiu produzir as primeiras ondas de
rádio. Essa descoberta foi tão importante que
o sobrenome dele nomeia a unidade de medida
dessas ondas. Mas foi o italiano Guglielmo Mar-
coni, em 1894, que concretizou essa descoberta.
Estimulado pelos escritos de Hertz e com equipa-
mentos similares, ele produziu o primeiro aparelho
de rádio da história.
255
Na primeira metade do século XIX, Loius- aparelho de telefone celular foi desenvolvido por
-Jacques Daguerre e Joseph Nicéphore Niepce uma empresa norte-americana em 1956, com o
criaram a fotografia, e no decorrer do século, em intuito de ser instalado em porta-malas de carros.
1895, os irmãos Louis e Auguste Lumière inven- Em 1973 surgiu, também nos Estados Unidos, o
taram, na França, o cinema, que revolucionou a primeiro aparelho de telefonia realmente móvel,
produção artística da época e serviu de trampo- que media 25 cm e pesava cerca de 1 kg.
lim para outras invenções. Atualmente, a tecnologia empregada na pro-
Outra grande revolução na comunicação dução dos celulares avançou muito, e os apare-
foi a invenção da televisão. Em 1923, o cientista lhos, utilizados em conjunto com a internet, vêm
russo Viadimir Zworykin foi contratado pela em- tornando cada vez mais instantânea a comunica-
presa norte-americana RCA para produzir o pri- ção entre as pessoas.
meiro tubo de TV baseado em seu iconoscópio. Apesar disso, grande parte da população não
Em 1935 ocorreu a primeira transmissão oficial tem acesso a esse tipo de tecnologia, tendo em
na Alemanha e, no mesmo ano, na França. vista o padrão econômico necessário para que as
Uma grande inovação nas telecomunicações pessoas paguem os valores exigidos pelas empresas
ocorreu no contexto da Guerra Fria. Nos Esta- que administram o acesso à internet, por exemplo.
dos Unidos, a corrida tecnológica possibilitou a Isso também ocorre com os aparelhos eletrônicos.
fabricação de computadores cada vez mais avan- Nenhuma forma de comunicação eletrô-
çados, que passaram a funcionar também como nica funcionaria hoje se não fossem os satélites
meios de comunicação por causa do desenvolvi- artificiais que circulam ao redor da Terra com a
mento da Internet entre os anos 1960 e 1970. função de enviar e receber mensagens. Se essa
A telefonia móvel começou a ser pensada tecnologia não existisse, também não seria pos-
com o desenvolvimento de tecnologias destina- sível a existência da internet, a rede mundial de
das à propagação de mensagens pelo ar, inicial- computadores que revolucionou a comunicação
mente voltadas às emissoras de rádio. O primeiro e encurtou distâncias.
.o. Aparelhos como esse são utilizados na transmissão de dados para diversos locais do planeta.
Aj GLossário
Iconoscópio: tubo de elétrons utilizado em televisores para converter a imagem em sinais elétricos.
256 HuIo9
rgafl
T FT rfr ._--- _,_--
1. Depois de ler a história em quadrinhos, responda õs questões.
wI Ã O
o
(Qo
-,J_--
'o
LI
ri
Faça um levantamento dos meios antigos e modernos de transmissão de informações recorrendo a sua
memória e perguntando sobre eles a pessoas mais próximas. Você pode citar os que viu em filmes ou
na televisão, em revistas, livros etc. Compare os meios de transmissão de informações modernos
e antigos considerando o número de pessoas beneficiadas e a eficiência da informação.
257
Informação: direito aos saberes
A informação e a transmissão dos saberes Por outro lado, a função da comunicação
fazem parte da cultura e da identidade histórica ainda é a mesma dos tempos mais remotos, ou
de todos os povos. A maneira pela qual ocorre a seja, integrar o indivíduo na sociedade em que
comunicação e o domínio das formas de trans- ele vive. Não há nenhum tipo de integração -
missão de conhecimentos estão intrinsecamente econômica, social, política ou cultural - sem que
relacionados com o poder, sobretudo, atual- haja comunicação.
mente, com o poder político representado pela Por isso, o desenvolvimento da imprensa
figura do Estado. Esse domínio da informação teve papel de destaque como agente de transfor-
serviu tanto para construir formas democráticas mação das comunicações.
de convivência como para criar ou manter regi- A novidade iniciada no século X"v' possibilita-
mes totalitários. va uma rapidez antes não imaginada para trans-
Na sociedade atual, as possibilidades de mitir as informações. O acesso aos saberes foi gra-
troca de informações e de conhecimento assu- dativamente facilitado, visto que, com a produção
miram uma proporção gigantesca em virtude em série, o custo dos livros passou a ser menor.
das inovações tecnológicas, como a rede mun- O desenvolvimento da imprensa acompa-
dial de computadores, a internet. Entretanto, nhou as mudanças ocorridas com o avanço in-
a transmissão de saberes, principalmente por dustrial e capitalista. A própria imprensa acabou
meio da tecnologia, não atinge todos da mesma se tornando uma indústria capitalista, transfor-
forma; sendo assim, o direito à informação é um mando assim a informação em um tipo de merca-
dos direitos humanos a serem pleiteados por to- doria. Hoje isso fica patente quando literalmente
das as nações no século XXI. pagamos pelas informações.
Hoje é comum o convívio com as novas tec- Com as inovações tecnológicas desenvolvi-
nologias usadas no tratamento e na transmissão das pela sociedade industrial, o processo de edi-
de informações. Pode-se afirmar que a tecnologia ção e impressão de publicações periódicas, como
vence as barreiras de tempo e espaço. jornais e revistas, modificou-se. Com o surgimen-
to da máquina a vapor, houve o
RI
aumento na tiragem e diminuição
no intervalo entre as edições dos
jornais; assim, reduziram-se os cus-
tos e houve aumento do número de
leitores.
O desenvolvimento de ou-
tros meios de comunicação, como
o telégrafo e o telefone, foi grande
facilitador na transmissão de in-
formações, encurtando espaços e
diminuindo o tempo. Hoje, com as
novas tecnologias, podemos acom-
panhar até mesmo uma guerra que
ocorre do outro lado do mundo em
tempo real.
258
Leia o texto e responda às questões. forma como toda aFrça toma consciência da
mi portància deste episódio e imediatamente o
A imprensa e a Revolução Francesa institui como símbolo. [ ... ]. O 14 de julho de 1789
em Paris é totalmente diferente. Já existem vários
No século XVIII, a Revolução Francesa pro-
diários livres. Ao que parece, o primeiro a falar
tagoniza uma profunda mudança, instalando
deste assunto é o Courrier de Versailles €i Paris,
três importantes ideias, que vão marcar toda a
de Antoine-Louis Gorsa, no número que é publi-
ação dos jornalistas desse tempo.
cado na aurora do dia 15 de julho. O jornalista
A primeira ideia é de que o segredo é sempre trabalhou a noite toda, ainda dispõe de poucas in-
detestável, é a proteção dos privilégios, a mura-
formações exatas, mas afirma a sua convicção de
lha que as monarquias absolutas erguem a sua
que os acontecimentos que tiveram lugar na vês-
volta para dissimular as iniquidades que ainda
pera são de importância capital. Escreve: "Recor-
conservam. O segredo é, por esséncia, contrar-
daremos sempre o dia de ontem, talvez abra ca-
revolucionário. Consequentemente, o novo re-
minho para as maiores e mais felizes revoluções".
gime tem como primeira ambição permitir e
[ ... ] A velocidade com que o 14 de julho de 1789
merecer a transparência dos assuntos públicos.
foi julgado como fundador é surpreendente para
Não é suficiente dizer que doravante a soberania
qualquer reflexão sobre a relação que se instaura
já não é imposta de cima e que provém do povo;
entre fatos, o reflexo que a imprensa dá a estes e,
é necessário que tudo se passe em público, sob o
finalmente, a influência deste mesmo reflexo so-
olhar atento e severo do cidadão. A Constituinte
bre seu lugar posterior na memória coletiva.
afirma desde o início que o povo tem direito a
ter acesso a tudo o que é dito nos seus comícios. JEANNENEY, Jean-Noel. Uma história da
Em segundo lugar, a Revolução presta cons- comunicação social. Lisboa: Terramar, 1996. p. 50-53.
tantemente homenagem a um modelo domi-
nante: o da Antiguidade, e às formas de demo- No contexto, o que significa "correio de
cracia direta que existiam nas cidades gregas ou leitores"?
na antiga Roma [ ... ]. Compreende-se melhor
que, num tal clima, os contemporâneos tenham O autor considera a imprensa o ator central
encarregado a imprensa da tarefa de estabelecer no processo revolucionário francês. O que
um contato direto com os leitores-cidadãos. O isso significa? A imprensa brasileira tem
fato de o "correio de leitores" ser muito mais esse papel atualmente?
abundante nos jornais da época da Revolução
Francesa do que o é atualmente é muito signifi- Para o autor, qual é a importância da di-
cativo. Trata-se de um vaivém de trocas entre os vulgação imediata das informações sobre
jornalistas e seu público. [ ... ] Isto mostra que se a Tomada da Bastil.ha?
descobriu que os jornais são, de longe, os laços
mais eficazes entre os representantes do povo e O que a Tomada da BastiUia significa na
o próprio povo, os únicos que permitem que a memória coletiva e como o autor posiciona
soberania popular se exerça concretamente, que a imprensa francesa nessa questão?
não seja um logro. [ ... j
A terceira ideia que rege a história da impren- S. Forme um grupo com uns colegas e, jun-
sa na França durante a Revolução é o fato de não tos, analisem e debatam as questões a
constituir apenas um espelho do jogo político, seguir. Depois, registrem suas respostas.
mas ser também um ator central, ao contribuir
para dar aos acontecimentos este ritmo acelera- Existe liberdade de imprensa no Brasil?
do, essa precipitação nas emoções que surpreen-
A liberdade de imprensa tem o mes-
deu OS contemporâneos e à qual os historiadores
mo significado para quem divulga as
continuam a ser muito sensíveis. [ ... ]
Sob esta luz, o primeiro grande momento é o informações e para quem as recebe?
da Tomada da Bastilha. É-se surpreendido pela Justifique.
Jogue as embalagens
/ de papel, plástico e
Para o exercício continuado do poder, faz-se
fundamental dispor de meios de comunicação metal no
de massa comprometidos com a manutenção do
"sistema" e de um sistema educacional que per-
petue o pensamento dominante, de forma que Faça de seu gesto um exemplo de cidadania
o condicionamento seja cada vez mais implíci-
to que explícito - mais aceito como natural que
aceito por convencimento. O poder da impren-
sa, do rádio e da televisão deriva, como o da reli-
gião, da organização; seu principal instrumento Propaganda de incentivo à reciclagem em Vahnhos (SP). 201
de imposição, como o da religião, é a crença - o
condicionamento social.
— 260
Assim, faz-se necessário analisar os meios de Portanto, é importante analisar as informa-
comunicação como detentores de poder social e ções e os saberes transmitidos por eles, procuran-
político, que servem para legitimar ou condenar do captar nos discursos o que realmente é dito, o
valores e práticas sociais. Esse é o caráter perigo- que não é dito, como e por que é dito. Tudo isso
so da comunicação. para que seja possível identificar a realidade e per-
A informação favorece e gera poder. Por isso, ceber quais são as ideologias explícitas e implícitas
cabe aos receptores fazerem uso das capacidades no conteúdo comunicado.
crítica e reflexiva para analisar os meios de comu- Ainda assim, os meios de comunicação de
nicação tanto como produtos criados com um massa proporcionam o acesso a diversos saberes,
propósito quanto como responsáveis por grande ampliando sobremaneira a democratização do
parte de nosso entendimento da realidade. conhecimento.
rganizando ideias
Leia os trechos da Letra da música a seguir De que forma os compositores descrevem a
e, depois, faça o que se pede. televisão?
261
~o Debate interdiscipLinar
As redes socïais e a Linguagem da internet
Todos os anos a editora da Universidade de A ideia foi concebida para resolver um mal-enten-
Oxford, no Reino Unido, elege uma palavra que dido. Na época [19821, o professor [Scott Fahlman, da
representa os sentimentos e acontecimentos mais Universidade Carnegie Meilon, nos EUA] fazia parte
significativos do ano que passou. Em 2015, a es- de urna plataforma de mensagens on-line rudimen-
colha dosjurados foi esta: tar, formada por colegas do departamento de física da
universidade. O grupo de discussões tinha por hábito
propor enigmas científicos para que outros membros
resolvessem.
Um deles lançou o seguinte problema: "Um eleva-
dor tem uma vela acesa presa na parede e uma gota de
mercúrio do chão. O cabo do elevador se rompe e ele
cai. O que acontece com a vela e o mercúrio?". Outro
colega respondeu com uma mensagem brincalhona,
que dizia: "ATENÇÃO! Devido a um experimento de
física recente, o elevador mais à esquerda está conta-
minado com mercúrio. Há também um dano super-
A evolução da comunicação foi tão incrível nos úl- ficial causado por fogo. A descontarninação deve ser
timos anos, que a palavra do ano de 2015 escolhida concluída até 8h de sexta-feira."
pelo dicionário de Oxford não foi urna palavra, mas O texto era irônico, mas muita gente na institui-
sim o emoji tears ofjoy (lágrimas de alegria)! ção levou a sério. Por essa razão, os usuários da pla-
1...1 taforma de mensagens começaram a sugerir simbolos
I)esde 2004, todos os anos a equipe do dicionário que deixassem claro quando o conteúdo era brinca-
mais um grupo de léxicos, o pessoal do editorial, mar- deira. Foi então que o professor Scott Fahlman pro-
keling e propaganda se reúnem para discutir as opções pôs o ícone :-) para identificar mensagem de piada e
e escolher a palavra/ expressão/emoji que reflete o ca- :-( para as sérias.
ráter, humor ou preocupações do ano.
E a palavra do ano é... um Emoji! Exame, 21 nov. 2015. Disponível Já os Emojis surgiram no Japão da década de 90
em <http://exame.abriLcom.br/tecnologia/noticias/e-a-palavra - e são caracterizados por pertencerem a uma biblio-
do-ano-e-um-emoji>. Acesso em: abr. 2016.
teca de figuras prontas. Eles foram concebidos por
Quando falamos com alguém, parte da Shigetaka Kurita, que elaborou a palavra a partir das
comunicação reside em elementos não verbais, expressões japonesas "e" (imagem) e "moji" (perso-
como o tom da voz, os gestos, a velocidade da nagem), significando em português "pictograma".
fala, entre outros. Esses elementos integram um Por essa razão, os emojis também agrupam o smiley
largo conjunto de estratégias para aproximar o e outros simbolos originalmente considerados erno-
interlocutor em uma comunicação que ocorre a tícons, porém apenas em suas versões em desenho.
distância, como no caso da internet, na qual o [ ... j. A primeira biblioteca reuniu 176 imagens
uso de emojis e emoticons é muito frequente. com 12 x 12 pixeis de resolução, tendo em comum a
capacidade de expressar as emoções humanas.
Enioticon é um termo criado a partir das palavras
FREIRE, Raquel. Entenda a diferença entre smiley, ernoticon e emoji.
inglesas emotion (emoção) e icon (icone). Em outras pa-
Techtudo, 31 jul. 2014. Disponível em: <www.techtudo.com.br/noti
lavras, eles servem para expressar emoções, o que se dá cias/noticia/201 é/07/entenda-diferenca-entre-smiley-emoticon-e-
essencialmente por meio de caracteres tipográficos. [ ... ] emoji.html>. Acesso em: abr. 2016.
-262
Na internet, ao utilizar a
linguagem escrita, o usuário põe
a favor de sua comunicação al-
guns recursos para aproximar o
texto da oralidade (escrever "cê
tá" em lugar de 'você está" é um
exemplo desse recurso), apres-
sar a leitura (como ao escrever -
-.: 1
em lugar de "também") e/
ou, ainda, expressar emoções -
a ironia pode ser registrada, por
exemplo, no emoticon ";)" colo- Ás
cado no fim da frase.
Ernoticons e emojis são parte
da linguagem pictográfica - em
lugar de textos verbais, usam-
-se os pictogramas. Como pode Em 2. co' LoHrm IP II', 1151111', o il,1r11 1 (0J o ombro lo.'r 105
- cartazes elaborados o ou dc r',UujS los - mc in S e,uo/;,c oniecaram 1 11111 00 1 OtPi 111
ser visto, eles estao muito rela- para ocupar novos esjzaços
cionados à expressão de afeto e
de emoção em comunicações virtuais. Há, ainda, da língua falada pelo leitor e de sua cultura. São,
outra razão para o uso desses pictogramas ser portanto, recursos visuais perfeitamente ajustá-
cada vez mais intenso: seu significado é constru- veis às condições de circulação de informação em
(do globalmente e, em geral, independentemente redes globais, como a internet.
11) (2)
44
-
1
iII )
511
Cartaz aiusivo
ao estado de
ucil
i:
o (i hIso.hol vendidas como suvenir na cidade de Nov. Yoik MG
1.4 figura 1 mostra uma frase muito utilizada em souvenirs comprados por turistas na cidade de
Nova York. Há alguns anos, os dicionários de língua inglesa registraram o verbo to heart devido
ao grande uso desse (cone de coração com o significado de gostar de'. Nesse contexto, como
você caracteriza o uso do (cone do pão de queijo no cartaz número 2?
2. O cartaz número 2 faz uma referência explícita à frase da cidade de Nova York. Como você avalia
esse uso quanto à globalização da comunicação?
263
Testando seus conhecimentos Responda no caderno
— 264
O informante, direção de Michael Mann, EUA,
(para você ler ío 1999, 157 mm. Baseado em uma história real, o
filme parte da entrevista de um ex-funcionário
da indústria do tabaco a uma grande rede de
Cultura brasileira: utopia e massificação (1950-
TV para mostrar corno empresas poderosas
1980). de Marcos Napolitano. São Paulo: Contexto,
conseguem interferir na veiculação de infor-
2008. Essa obra delineia a história da producão
mações, mesmo que o compromisso com a
cultural brasileira mapeando os vários caminhos
verdade seja afetado.
pelos quais transitou a vida cultural do país entre
1950 e 1980. Aborda o processo de socialização O mercado de notícias, direção de Jorge Fur-
e massificação da cultura e a arte como meio de tado. Brasil, 2014, 94 mm. Documentário sobre
representação dos desejos da sociedade e como jornalismo, o filme traz depoimen (os de reno-
ferramenta na luta contra a Ditadura Militar. mados jornalistas brasileiros sobre o sentido e
a prática de sua profissão, as mudanças na ma-
Indústria cultural; uma introdução, de Rodri-
neira de difusão e consumo de notícias, o futuro
go Duarte. Rio de Janeiro: FGV, 2010. Por meio
do jornalismo, e também sobre casos recentes
de uma revisão histórica, o autor mostra que
da política brasileira, em que a cobertura da im-
a demanda por entretenimento já existia antes
prensa teve papel de grande desta que.
mesmo de surgirem os meios típicos da primei-
ra fase da indústria cultural, como o cinema e Tropicália, direção de Marcelo Machado. Bra-
o rádio. De modo simples e direto, discute as sil, 2012, 89 mm. O documentário analisa o
práticas e os produtos dessa indústria e reflete movimento musical conhecido como Tropicá-
sobre a atualidade e a possível pertinência das lia, liderado por Caetano Veloso e Gilberto Gil
críticas feitas a ela, tendo em vista as trans for- nos anos 1960, e a cena musical e política do
mações provocadas pela globalização. período da Ditadura Militar, que levou os dois
músicos ao exílio.
O nascimento da imprensa brasileira, de Isa-
bel Lustosa. Rio de Janeiro: Zahar, 2003. O livro
aborda o poder da imprensa no Brasil. Do sur-
gimento do primeiro jornal brasileiro, em 1808,
ao princípio do Império (1822), esse volume
mostra como a imprensa influenciou o proces-
r
Para você navegar
so de independência da nação, em um período Anos 60: a época que mudou o mundo. Dispo-
em que política e imprensa se confundiram de nível em: <http://almanaque.folha.uol.com.br/
forma radical. anos60.htm>. Acesso em: abr. 2016. O site res-
gata a história dos anos 1960 no Brasil e no mun-
do, período em que a prosperidade econômica e
rPara você assistir LJWIN
a euforia do pós-guerra trouxeram mudanças ao
comportamento e à cultura dos jovens, influen-
Consuming kids: a comercialização da infância, ciados pelos ideais de liberdade delineados no
direção de Adriana Barbaro e Jeremy Earp, EUA, livro Pé na estrada, do americano Jack Kerouac.
2008, 66 mm. O documentário explica como Observatório da imprensa. Disponível em: <www.
grandes corporações aproveitam-se da infância observatoriodaimprensa.com.br >. Acesso em:
para promoverações de marketing cujo objetivo abr. 2016. O Observatório da Imprensa é uma
é maximizar os lucros de qualquer modo. Isso entidade que tem o objetivo de acompanhar o de-
é feito por meio do incentivo a padrões de vesti- sempenho da mídia brasileira. Funcionando como
menta, alimentação e diversão, afetando direta- um fórum permanente em que os usuá rios da
mente o desenvolvimento físico e intelectual de mídia podem participar ativamente no processo
crianças e jovens. de construção da notícia, a entidade atua como
mediadora entre a mídia e a sociedade civil.
265
1 Direito à liberdaC
LJ osatio da e ai
, ~,, -,.,. ,
'rJT1
r
Qv
&
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a diversidade humana.
Pode-se afirmar que este é um dos A tolerância é o respeito, a aceitação
principais objetivos da humanidade: o e o apreço da riqueza e da diversidade das
respeito e a aceitação à diversidade. Na in- culturas de nosso mundo, de nossos modos
tenção de superar esse desafio, governan- de expressão e de nossas maneiras de expri-
tes e organismos internacionais procuram mir nossa qualidade de seres humanos. É
estabelecer regras, tratados, acordos que fomentada pelo conhecimento, a abertura
de espírito, a comunicação e a liberdade de
possam levar ao fim da intolerância.
pensamento, de consciência e de crença. A
O modo mais efetivo de construir
tolerância é a harmonia na diferença. Não
uma sociedade pautada nos princípios
só é um dever de ordem ética; é igualmen-
da tolerância se faz pela educação, seja te uma necessidade política e jurídica. A
ela escolar, seja familiar, social, religiosa; tolerância é uma virtude que torna a paz
enfim, partindo de todos os grupos de possível e contribui para substituir uma
convivência social. cultura de guerra por uma cultura de paz.
Um dos meios para disseminar os
UNESCO. Artigo 1" da Dectaraçáo de Princípios
princípios da tolerância é a promoção de sobre a Tolerância. In: KUNSCH, Margarida Maria
ações i mpetradas por governos, organismos Kroh[ing; FISCHMANN, Roseti. Midia e tolerância:
a ciência construindo caminhos de liberdade.
internacionais e também pela sociedade Sâo Pauto: Edusp. 2002. p. 157.
civil, visando mudar a mentalidade vigente
E
8
v
iS...,
r.,.
E.
Estudantes de origens
- étnicas diversas reunidos
L em escadaria.
ntoterância: atitude agressiva ou repressora de uma pessoa para com a outra, motivada
pela diferença, seja ela étnica, religiosa, seja de gênero, de opinião, no modo de ser etc.
O preconceito e a discriminação são manifestações de intolerância.
268 tuto 10
Essa declaração foi escrita com base nos prin-
cípios da Declaração Universal dos Direitos Hu- sua liberdade de opinião e de expressão, todos
comportamentos que ameaçam a consolidação
manos, que estabelece ser toda pessoa livre e igual
da paz e da democracia no plano nacional e
em relação a direitos. Portanto, todos têm direito
internacional e constituem obstáculos para o
à liberdade de pensamento, consciência e religião,
desenvolvimento. [...}
opinião e expressão.
UNESCO. Preâmbulo da Declaração de Princípios sobre
Partindo do pressuposto de que a educação
a Tolerância. In: KUNSCI-1. Margarida Maria Krohling;
deve ser efetivada visando à compreensão e à to- FISCHMANN, Roseli. Mídia e tolerância: a ciência
lerância, temos direito à amizade entre todas as construindo caminhos de liberdade. São Paulo:
Edusp, 2002. p. 157.
nações e todos os grupos étnicos ou religiosos.
Sendo assim, a Declaração foi um passo impor-
tante na recomendação da aceitação e do respei-
De acordo com esse documento, a efetivação
to à diversidade, por instruir as pessoas a agirem
dos princípios de tolerância é urgente e necessária
dentro desses princípios.
para a humanidade, pois busca o reconhecimento
O preâmbulo da Declaração de Princípios
e a aceitação dos direitos universais e das liberda-
sobre a Tolerância deixa claro o que motivou a
des fundamentais de todos os seres humanos.
aprovação desse documento:
É preciso ter consciência de que a tolerância
não é um privilégio concedido a alguém, bem
[A] intensificação atual da intolerância, da como não é um benefício ou consentimento.
violência, do terrorismo, da xenofobia, do Trata-se de atitudes efetivas que devem ser pratica-
nacionalismo agressivo, do racismo, do antis- das por todos. É, antes de tudo, uma mudança na
semitismo, da exclusão, da marginalização e forma de ver e de pensar, de agir com relação ao
da discriminação contra minorias nacionais, outro. É compreender que todos são livres e iguais
étnicas, religiosas e linguísticas, dos refugiados,
em direitos, aceitando e respeitando a realidade
dos trabalhadores migrantes, dos imigrantes e
da diversidade humana em todos os seus aspectos.
dos grupos vulneráveis da sociedade e também
Um dos grandes desafios do século XXI é pôr
pelo aumento dos atos de violência e de intimi-
dação cometidos contra pessoas que exercem fim ao preconceito e à discriminação e garantir a
todos o usufruto da liberdade plena.
Organizando ideias
Leia o texto a seguir, faça o que se pede e De acordo com o conteúdo exposto até ago-
depois debata o assunto com os colegas e o ra e complementado no texto, todos são ao
professor. mesmo tempo iguais e diferentes. Explique
o que isso significa.
Articular o direito de igualdade com direitos de
diferença é uma questão fundamental no momento
O que significa lutar contra as formas de
presente. Atualmente não podemos falar de igual-
dade sem incluir as questões relativas à diversida- desigualdade, preconceito e discriminação?
de, nem podemos falar de diferença dissociada da A quem cabe esse papel e como isso deve
afirmação de igualdade, o que supõe lutar contra ser feito?
todas as formas de desigualdade, preconceito e
discriminação. [...] Como é possível concretizar a afirmação da
primeira frase do texto? Converse com os
CANDAU, Vera Maria. Educação em direitos humanos no
Brasil: gênese, desenvolvimento e desafios atuais. n: PAIVA, colegas e o professor e levantem hipóteses.
Angela Randolpho (Org.l. Direitos humanos em seus
desafios contemporâneos. Rio de Janeiro:
PUC-Rio, PalIas, 2012. p. 33.
269
2 Viajando pela história
organização, a ordem e a racionalidade; já
O desrespeito ao outro os persas representavam a desorganização,
O preconceito e a discriminação são o caos e o misticismo. A pesquisa histórica,
quase tão antigos quanto a humanidade. porém, revela-nos que, na sociedade grega,
São vários os exemplos, em diversas socie- havia a escravização de gregos; mesmo em
dades, no decorrer da história que podem Atenas, a democracia era para poucos (es-
sustentar essa afirmação. Nesta seção cita- cravos, mulheres e estrangeiros estavam ex-
mos alguns deles. cluídos do processo); Esparta tinha um go-
Documentos do Egito Antigo relatam verno oligárquico e totalitário, e na maioria
que no reinado de Snefru, da 1V Dinastia, das cidades gregas predominavam regimes
por volta de 2680 a.C., o faraó viu suas tirânicos. O Império Persa, em comparação
tropas regressarem com 7 mil prisioneiros a outros regimes da Antiguidade, caracteri-
oriundos da Núbia, os quais passaram a ser zou-se por certa "tolerância" para com os
escravos. O número de escravos era relati- vencidos. Mas isso não significa que, entre
vamente pequeno e, embora não haja docu- os persas, não tenha havido preconceito.
mentação comprovando que a escravidão A exemplo dos gregos, na Roma An-
era étnica - como na História Moderna -, tiga os que eram considerados cidadãos
havia tensão, e o "estrangeiro" era visto também se posicionavam como superio-
com reservas. A sociedade egípcia conside- res a outros povos e, por isso, nas regiões
rava viver na terra dos deuses e nutria certo conquistadas, procuraram difundir a
desprezo por habitantes de outras terras. romanização, ou seja, impor sua cultura,
Data da Grécia Antiga o uso do vo- que consideravam melhor que a dos outros.
cábulo bárbaro para se referir ao "outro". Não eram, contudo, inflexíveis, pois muitas
Heródoto de Halicarnasso, que viveu no vezes incorporavam aspectos culturais dos
século V a.C., ao relatar o conflito entre povos vencidos. Os romanos conquistaram
gregos e persas, estabeleceu uma distin- a Grécia, por exemplo, pelas armas, porém
Escravos ção muito clara: os gregos eram homens foram profundamente influenciados pela
servindo em
um banquete, livres; enquanto os persas, escravos, pois cultura hetenistica.
Mosaico do tinham de se submeter a uma autoridade É importante destacar que em Roma
Da despótica. Entre os gregos, Heródoto via a e na Grécia pessoas de qualquer etnia,
condição social, nível intelectual ou cre-
do religioso podiam ser escravizadas. Na
Roma Imperial, por exemplo, era possível
encontrar entre os escravos um médico
grego, um gladiador originário da Arábia,
uma cozinheira germânica ou uma dan-
çarina africana. Na escravidão, não havia
predominância do componente étnico.
., .-
270 u10 10
Na Idade Média, no mundo europeu, ser concorridos autos de fé - ou durante as guerras
cristão era essencial para ter direitos mínimos. Os religiosas na França, culminando, por exemplo,
judeus eram segregados, forçados a viver em bair- no massacre de huguenotes na Noite de São Bar-
ros separados e a usar sinais distintivos. Na França tolomeu (24 de agosto de 1572).
governada por Luís XI (1 214-1 270), o símbolo dos O que caracteriza todos esses exemplos é o
judeus era uma estrela amarela, que reapareceu na desrespeito às diferenças, seja elas culturais, sociais,
Alemanha nazista (1933-1 945). econômicas, seja religiosas; enfim, são exemplos de
Os que divulgavam concepções que não es- intolerância.
tavam em concordância com os dogm da Igreja
eram chamados de hereges. Para combatê-los, foi
Os autos de fé eram solenidades celebradas
criada a Inquisição, que funcionou em países católi-
pelo Tribunal da Inquisição. Nelas, os peniten-
cos até o começo do século XIX. Com isso, os pi'.gaos
ciados do Santo Ofício tinham suas sentenças
e os hereges eram discriminados e perseguidos. proclamadas e eram executados: os arrepen-
Na Idade Moderna, com a conquista da Amé- didos eram mortos por estrangulamento, antes
rica, os povos nativos foram dominados econômica, de serem queimado5 na fogueira; os considera-
política e culturalmente. Suas terras foram tomadas dos hereges, bruxas etc. eram queimados vivos.
pelos europeus, seu modo de vida alterado e sua
cultura, desprezada. Por dominarem determinadas
técnicas, os europeus acreditavam que a civilização
que representavam era superior. No plano da religião,
por exemplo, os membros da Igreja Católica conside-
ravam que deveriam "salvar a alma dos indígenas",
sem, contudo, entender que esses povos já tinham
suas próprias crenças e práticas religiosas.
Os europeus que chegaram à América se
horrorizavam com práticas como as da religião
asteca, que exigia o sacrifício de pessoas ao deus
da guerra (Huitzilopchtli), com os hábitos dos
tupinambás e de outros povos, que praticavam
a antropofagia, ou ainda com os costumes dos
maias, que eram ferozes guerreiros, e em nome
dessas diferenças praticaram várias ações, como
a destruição e a catequização dos nativos. Con-
bruxis de Sa(cn uma menina enfeitiçada em 1 (392.
tudo, esses mesmos religiosos não reconheciam
Litografia colorida.
intolerâncias presentes em sua própria religião,
como as praticadas pela Inquisição espanhola
- que investigava, julgava e condenava pessoas
Organizando ideias
consideradas hereges, judaizantes e bruxas em
1. De acordo com as informações do texto, o
que é possível afirmar sobre a intolerância
A1 GLoss ao longo da história?
Dogma: ponto básico de doutrina religiosa.
HeLenístico: relativo à civilização grega no 2 O texto revela uma contradição da Igreja
período anterior à dominação romana. Católica ao destacar a postura da entidade
Herege: pessoa que professa ou sustenta na América e na Europa.
alguma doutrina que se opõe ao que a Igreja
estabelece em matéria de fé. a) Que contradição é essa?
Pagào: adepto de qualquer religião que não ado-
ta o sacramento do batismo ou adota o politeísmo.
bi De que modo ela é apontada no texto?
2
271
O desrespeito aos nativos brasiLeiros
Na História do Brasil, como já citado, tam-
bém houve o desprezo pelo outro. Após a che- os animais domésticos que encontravam e des-
gada dos portugueses nações inteiras de nativos truído as pontes.
272
Entre os religiosos europeus havia um gran- mitações, muita coisa já foi feita. Algumas áreas
de conflito interno. Enquanto uns defendiam os foram demarcadas, e a posse desses territórios foi
direitos dos indígenas e sofriam por causa da vio- garantida aos nativos. Embora ainda ocorram in-
lência empregada contra eles, outros apoiavam vasões e arbitrariedades, os indígenas têm se or-
uso da violência pelos colonizadores em defesa ganizado e lutado por seus direitos.
da soberania dos direitos dos portugueses sobre Por preconceito ou falta de informação,
território ocupado. muitas pessoas ainda questionam as mudanças
Em todos os períodos políticos da História de hábitos dos indígenas, que, com o passar do
do Brasil - Colônia, Império e República -, o direi- tempo, assimilaram vários aspectos de culturas
to dos indígenas à vida e à liberdade foi desrespei- diferentes, influenciados pela convivência com
tado. Em muitos conflitos, a tônica foi a posse da outros povos. Mas é claro que eles não deixam
terra, pois, ao expulsar ou matar grupos indígenas, de ser indígenas por causa disso. Assim como
os europeus e seus descendentes poderiam usu- qualquer pessoa, eles têm direito a usar roupas
fruir desse pedaço de chão sem resistências. Isso diversas, utilizar aparelhos eletrônicos, acessar a
ocorreu em todo o território que hoje forma o Bra- internet, frequentar escolas e universidades, entre
sil. Podem ser citados vários exemplos, como o dos outras coisas comuns à sociedade atual.
imigrantes que, ao chegarem à região sul do país,
foram autorizados pelo imperador a dizimar as
O destino de cada cultura e de cada povo
populações nativas e a se apossar das terras para
pertence a eles; só eles podem dizer o que querem
colonizá-las e fazê-las produzir. Há indícios inclusi- fazer. Os índios têm todo o direito de se modificar
ve de que os imigrantes distribuíam aos indígenas como nós nos modificamos. O brasileiro de hoje
roupas infectadas com o vírus da varíola, contra o não é o brasileiro do século XVIII.
qual os nativos não tinham resistência.
Dl FELICE, Massimo. Sociologia Ciência & Vida.
A Constituição de 1988 garantiu aos indíge- São Paulo, ano 1, o. 3, p. 45. 2007.
nas a demarcação de suas terras. Apesar das li-
Joaquim José de
Miranda.
A expedição do
tenente-coronel
Afonso Botelho
e Souza aos
sertões do Tibagi.
c. 1771-1773.
Aquarela.
42,5cm x 55cm.
A imagem destaca
a suposta gentileza
dos portugueses
com os indígenas, j
que se mostram 1
interessados nos
objetos oferecidos
a eles. Assim.
procurava-se
divulgar uma imagem
de colonização
pacífica empreendida
pelos portugueses na
América.
- L-
cs0iqenns na Universidade Federal do Acre (Ufac). Rio Branco AO;. 201 4
Organizando ideias
Leia os textos e, em seguida, faça o que se Foi durante o funcionamento do SPI que ocorreu o
pede. Massacre do Paralelo Onze (1963). Havia interesses
em expandir o capital até a região de Aripuanã - MT,
Texto 1
para isso pensou-se em montar diversas expedições
História sobre os Maxakali e a terra colonizadoras, capazes de atrair nligrantes de outras
Antigamente os maxakali mudavam muito. Foi- or regiões do Brasil para Mato Grosso. Como nessa área
que os maxakali mudavam muito? Há muito tempo almejada habitavam os índios Nambiquara, neces-
atrás tinha muita terra. A terra maxakali era muito sário se fez cuidar de sua expulsão. Naturalmente,
grande e os maxakali viviam mudando de um lugar os índios se negaram a deixar suas terras.
para outro. Os poucos antepassados que ainda exis- Certo dia, foram surpreendidos por aviões que
tiam vieram de uma parte e de outra e se encontraram dinamitaram suas aldeias e por indivíduos que
aqui [ ... ]. Enquanto os maxakali estavam aqui, com praticaram uma série de atos violentos contra a po-
as terras grandes para eles» vieram os fazendeiros, pulação que sobreviveu. Após tais atos de terror, os
tomaram as terras e dividiram-nas entre si. índios sobreviventes foram levados para outras terras,
cedendo lugar a interesses do capital. Nessa ocasião,
MAXACALI. Gilberto et ai. O Livro que conta histórias de
antigamente. BeLo Horizonte: MEC; Secretaria de Estado da
deputados denunciaram publicarnente este bárbaro
Educacáode Minas Gerais; Projeto Nordeste/Pnud. 1998. p. 71. assassinato, chegando mesmo a chamar os Nambi-
quara de "biafras brasileiros", tal o nível de pobreza e
Texto 2 miséria a que ficaram reduzidos depois do episódio.
SIQUEIRA, Etizabeth Madureira; COSTA. Lourenço Alves da;
O massacre do Paralelo Onze
CARVALHO, Cathia Maria Coelho, O processo histórico de Mato
O SPI (Serviço de Proteção ao Índio, criado em Grosso. Cuiabá: U[MT, 1990. p. 280.
1910) funcionou até 1967, momento em que foi cria-
da a Funai - Fundação Nacional do Índio. Quando
Qual é o assunto comum aos dois textos?
SPI encerrou seus trabalhos, várias denúncias ha-
viam sido feitas com relação às corrupções, vendas
Situações como as citadas nos textos ainda
e concessões ilegais de terras indígenas. Foi aberta
uma sindicáncia para se apurar as denúncias e na ocorrem? Exemplifique.
ocasião foi montada uma Comissão de Investigações
que tentou, através de inquéritos, detectar e identifi- Relacione a questão de terras indígenas com
car os responsáveis por tais irregularidades e crimes. direito à liberdade.
274 tutolO
Escravidão e racismo
A escravização ocorreu desde a Antiguidade, Sem dúvida, a pior herança que a escravidão
mas ganhou os contornos que a caracterizaram a deixou para o Brasil foi o racismo, nem sempre
partir do século XVI com o comércio internacional explícito, o que levou alguns mais ufanistas a pro-
de seres humanos. O tráfico provocou um dos clamar que, em nosso país, havia uma "democracia
maiores deslocamentos populacionais de toda a racial". O racismo esteve presente - e infelizmente
história humana. Do século XVI ao XIX, mais de ainda está - em nossas relações sociais.
12,5 milhões de africanos foram retirados à força Juridicamente, o racismo é crime no Brasil
de seu continente e levados principalmente para desde a Lei Afonso Arinos, de 1951. A Consti-
a América. Destes, cerca de 4,9 milhões vieram tuição de 1988, no artigo 5 inciso XLII, passou a
para as terras que hoje formam o Brasil, ou seja, considerar a prática do racismo crime inafiançável
mais de 45% do total de escravizados. e imprescritível. Apesar do rigor da lei, as conde-
O apogeu do tráfico de escravos ocorreu em nações ainda são raras.
meados do século XVIII. Entretanto,já no final desse O crime de injúria racial está previsto no ar-
século começou sua decadência, em virtude da Re- tigo 140 do Código Penal entre os crimes contra
volução Francesa (1789) e da Revolução Haitiana. a honra, que são aqueles que atingem os atribu-
No Brasil, o tráfico só foi formalmente proibido em tos intelectuais, físicos e morais de uma pessoa,
1850 e, em 1888, foi abolida a escravatura. desmerecendo-a perante a coletividade.Já o crime
de racismo, regulamentado em lei
especial, somente será aplicado
quando as ofensas menospreza-
rem determinada raça, cor, etnia,
religião ou origem, agredindo
um número indeterminado de
pessoas. Preterir um candidato
a um emprego por causa de sua
•
etnia é crime de racismo, enquanto
ofender alguém com expressões
racistas é injúria racial.
Em 2003, o governo federal
criou a Secretaria Especial de Pro-
moção de Políticas para a Igua Ida-
de Racial, que procura desenvolver
- políticas públicas visando reparar
desníveis sociais por meio de
- ações afirmativas compensatórias.
Um exemplo dessas políticas é o
- -
estabelecimento de cotas para a
O trato dos escravos, imagem integrante da obra Diário da descoberta dos recursos do Nilo entrada de afrodescendentes nas
do cotonizador John Hanning Speke, publicada em 1863.
universidades públicas.
A GLossáro
Imprescritível: que não caduca, que não perde a força, que não envelhece.
Inafiançável: que não pode ser objeto de fiança.
Injúria: ato insultuoso, ofensivo.
Ufanismo: patriotismo exagerado; exaltação extrema de algo.
Forme uma dupla com um colega e, juntos, da, no Brasil, e sobre a consequente pobreza que
leiam os textos. Depois, façam o que se pede. assola a maioria da população nacional precisa ser
compreendida em sua dimensão etnorracial. E isto
Texto 1
porque, segundo eles, a divisão da sociedade bra-
Tez de cor azeitonada sileira entre brancos e não brancos sempre existiu.
O trem parara e eu abstinha-me de saltar. Urna Na defesa de seus pontos de vista, lembram os
vez, porém, o fiz; não sei mesmo em que estação. partidários das ações afirmativas que, no Brasil, a
Tive fome e dirigi-me ao pequeno balcão onde havia ascensão pela miscigenação, quando se deu, foi em
café e bolos. Encontravam-se lá muitos passageiros. ocorrências isoladas.
Servi-me e dei urna pequena nota a pagar. Como se Aqui, pelo menos até o fim da época imperial,
demorassem em trazer-me o troco, reclamei: "Oh!" a mestiçagem entre "brancos" e "não brancos",
Fez o caixeiro indignado e em tom . j . "Que quando aconteceu, foi, em geral, no âmbito da
pressa tem você. Aqui não se rouba, fique sabendo!" superioridade dos primeiros sobre os outros, enco-
Ao mesmo tempo, a meu lado, um rapazola alourado berta sob o manto do temor reverencial, através da
reclamava o dele, que lhe foi H en- imposição do poder sobre o corpo: do estupro, real
tregue. O contraste feriu-me, e com os olhares que os ou presumido. Sem falar dos momentos em que a
presentes me lançaram, mais cresceu a minha indigna- miscigenação foi vista como uma solução eugênica,
ção. Curti, durante segundos, uma raiva muda, e por como possibilidade de resolução de um problema,
pouco ela não rebentou em pranto. 1 pqo e tonto, dentro da perspectiva que tinha a sociedade brasi-
embarquei e tentei decifrar a razão da diferença dos leira de "melhorar a raça" - para usar a expressão
dois tratamentos. Não atinei; em \'ão passei em revista empregada, ainda em 2008, por um senador da
a minha roupa e a minha pessoa. Os meus dezenove República em relação ao casamento interétnico de
anos eram sadios e poupados, e o meu corpo regular- um colega seu afrodescendente.
mente talhado. Tinha os ombros largos e os membros [ ... ]
ágeis e elásticos. As minhas mãos com dedos O caso é que, na sociedade brasileira, salvo ra-
afilados e esguios, eram herança de minha mãe, que ríssimas exceções conhecidas, a efetiva mestiçagem
as tinha tâo valentemente bonitas que se mantiveram da população só se verifica nos estratos mais baixos,
assim, apesar do trabalho manual a que a sua condição entre aqueles que não têm acesso à mobilidade social
obrigava. Mesmo de rosto, se bem que os meus traços ascendente. Então, ela é sempre um fator de perpetua-
não fossem extraordinariamente regulares, eu não era ção da exclusão - diz a moderna militância negra.
hediondo nem repugnante. Tinha-o perfeitamente
LOPES, Nei. História e cuLtura africana e afro-brasiteira.
oval, e a ez de cor pronunciadamente São Paulo: Barca Planeta, 2008. p. 138-139.
LIMA BARRETO, Afonso Henrique de. Recordações do escrivão
tsaías Caminha. São Paulo: Escala, 2007. p. 24-25.
Na descrição do texto 1, vocês consideram
que houve preconceito? Expliquem.
Texto 2
Azeitonado: diz-se do que tem cor ou aspecto Prazenteiramente: de modo a demonstrar alegria,
parecido com o da azeitona. No sentido utilizado no prazer.
texto, refere-se a pessoas de pele negra. Tez: pele, em especial a do rosto.
Desabrido: agressivo, tempestuoso. Trôpego: que tropeça, que não se sustenta nas
Fidalgo: aquele que tem título de nobreza. pernas.
276 lulolO
A questão da Liberdade reLigiosa
A perseguição de pessoas em decorrência de
suas crenças religiosas também é uma forma de não é pecado), ao conteúdo dos livros canônicos
(Deus não criou o céu e a terra; Jesus não man-
preconceito. Os adeptos do cristianismo, por exem-
dou nenhum discípulo pregar). Ou seja: aquele
plo, foram perseguidos pelas autoridades romanas
que recusa OS símbolos da fé, os decretos da Igre-
durante os três primeiros séculos da Era Cristã.
ja e os livros sagrados. Isso significa que herege
Sabemos que, de forma geral, o Império Romano qualifica quem se opõe ao clero, aos padres, aos
tolerava as crenças dos povos dominados. Contu- bispos, ao papa [.1.
do, os cristãos foram perseguidos pelo fato de não
ONFRAY, Michet. O cristianismo hedonista. Sào Pauto:
cultuarem o imperador como uma divindade; por Martins Fontes, 2008. p. 76. IConfra-História da Filosofia, v. 21.
integrarem uma religião que, em seus primórdios,
congregava os oprimidos (estrangeiros, mulheres,
libertos, escravos e pobres); por condenarem o mi- A Idade Média é chamada por alguns histo-
litarismo e o modo de vida dos romanos (lutas de riadores de "Idade da Fé". De fato, foi um período
gladiadores, banhos públicos, liberalidade sexual, marcado por extrema religiosidade e também intole-
divórcio etc.); e por praticarem seus cultos em lo- rância. Em "nome de Deus", cristãos e muçulmanos
cais secretos. Em outras palavras, os cristãos, para se digladiaram nas Cruzadas. No mundo ocidental,
o Estado romano, eram subversivos e, como tais, heréticos, "bruxas", rebeldes e doentes mentais foram
deveriam ser punidos. executados. Pensar criticamente ou viver de forma al-
Mesmo com a repressão, o cristianismo se ternativa era considerado demasiadamente perigoso.
expandiu. A crença na imortalidade da alma, o
zelo dos cristãos, a moralidade pura e austera, a
unidade do Império e a misericórdia para com os
necessitados foram alguns dos fatores que contri-
buíram para a propagação do cristianismo.
Além disso, o imperador Constantino (2 72-
-337) passou a favorecer o cristianismo, que, com
Teodósio (346-395), tornou-se a religião oficial
do Império Romano. Ao longo do século IV, cul-
tos pagãos foram proibidos, textos queimados,
sacerdotes assassinados, tudo com a anuência
do Estado e da Igreja. A Igreja cristã passou de
perseguida a perseguidora.
277
No mundo islâmico também houve a adoração a outras divindades. Ojudaísmo
embates, entre sunitas e xiitas, e guerras de acabou influenciando sobremaneira duas
conquistas consideradas "guerras santas". novas religiões monoteístas: o cristianismo
Em meio a tantas calamidades, os judeus e o islamismo. Apesar da origem comum
também foram vítimas de perseguição, prin- dessas três doutrinas, podemos observar
cipalmente em remos considerados cristãos. que, com o triunfo das religiões monoteístas,
A imposição da crença em um único ocorreu a imposição de dogmas, correntes
deus já gerou inúmeros conflitos ao longo antagônicas foram perseguidas e surgiram as
da história. No Egito, por exemplo, quando "guerras de religiões", a maioria provocada
o faraó Amenófis lV(1363 a.C.-1 347 a.C.) por questões não apenas religiosas mas tam-
fez de Aton (o disco solar) a única divinda- bém econômicas, políticas e sociais.
de, templos de outros deuses foram fecha- No século XVI, entre outras transfor-
dos, cultos suprimidos e os sacerdotes dos mações, ocorreu a Reforma Protestante,
"deuses falsos" sofreram graves consequên- cujos personagens mais expressivos foram
cias. O atonismo - culto a Aton -, porém, Martinho Lutero, Ulrich Zwingli eJoão Cal-
não sobreviveu à morte desse faraó, e o vino. Nessa época, também predominou a
politeísmo foi restabelecido. intolerância contra as religiões. Além dos
O deus dos hebreus, conforme as pas- conflitos entre protestantes e católicos,
sagens do Antigo Testamento, não tolerava foi durante a Idade Moderna que ocorreu
a caça às bruxas que vitimou
em torno de 60 mil mulheres.
Foram executadas mulheres
na Inglaterra anglicana, na
Alemanha protestante e na
Espanha católica.
Nessa época, os portu-
gueses iniciavam a coloniza-
ção do Brasil. Missionários
católicos, a maioria jesuítas,
começaram a catequização
dos nativos. Colonização e
catequese andavam juntas.
Nos primeiros tempos havia
uma crença na Igreja de que
a mente dos ameríndios era
como um papel em branco e
que seria fácil torná-los "bons
cristãos". No entanto, muitos
indígenas resistiram e manti-
veram suas antigas práticas
sociais e religiosas.
278 :0uo 10
Quanto aos africanos trazidos para o Brasil
como escravos, havia uma grande variedade étnica como supersticiosas e ofensivas à "moral pública",
- congos, mandingas, manjacos, saracolês, iorubás, à "ordem" e às leis; mas havia sempre os casos dos
que chegavam a tolerar, seguindo uma tradição
jejes, fantis, axantis etc. - e, por isso, a diversidade
colonial, certas danças e festas, de preferência se
religiosa era enorme. Praticava-se o culto às di- fossem "honestas", objetivando evitar males maio-
vindades iorubás (os orixás), bem como a religião res -, caso fossem drasticamente cerceadas.
slâmica. Contudo, o escravo era considerado pro- A tolerância de muitas autoridades e os meca-
priedade de seu senhor, sendo, por isso, obrigado nismos de pressão de vários grupos de candomblé
a "converter-se" ao catolicismo. foram os canais de sua afirmação ao longo do
Apesar dos esforços dos religiosos católicos, século XIX.
foi intenso o sincretismo religioso, não só das re- ABREU, Martha. In: VAINFAS, Ronaldo IDir).
ligiões africanas com o catolicismo como também Dicionário do Brasil Imperial (1822-1889).
Rio de Janeiro: Objetiva. 2002. p. 115.
entre crenças africanas e indígenas. O candomblé,
por exemplo, abrange um conjunto de religiões de
origem africana que foram recriadas aqui. Cabe Com a República, mesmo após o Brasil se
salientar que há diferença entre o sincretismo (fusão tornar um país laico, as perseguições continuaram.
de elementos de diferentes religiões) e a dissimula- O escritor Jorge Amado, em sua obra ficcional
ção como estratégia contra a opressão. Tenda dos milagres, baseia-se em fatos reais para
O candomblé ficou conhecido como batu- discorrer sobre como a religiosidade popular era tra-
que, no Rio Grande do Sul, e xangô, em Pernam- tada pela elite das primeiras décadas do século XX.
buco.Já a umbanda é um exemplo de sincretismo,
pois funde elementos das religiões africanas, do Uma guerra santa: os cruzados partiram naque-
catolicismo e do espiritismo (doutrina criada na la noite de Xangô para acabar com infiéis. Além
França no século XIX por Alan Kardec). dos quatro intrépidos da batida no reduto do bi-
Durante o Período Colonial, os encontros cheiro, formavam nas hostes latinas da civilização
religiosos de africanos e afrodescendentes, como os nobres cavaleiros Leite de Mãe, assim chamado
os calundus, eram reprimidos, pois as autoridades por ter o costume de bater na própria mãe, e Beato
Ferreira, especialista em sovas de facão nos presos,
relacionavam-nos à feitiçaria. Durante o Império,
igualmente lídimos representantes da cultura
apesar de a Constituição de 1824 assegurar a li- defendida a ferro e fogo pelo delegado auxiliar.
berdade de culto religioso, isso de fato não ocorria. Saíram cedo, cada qual com seu cacete, pau de
criar bicho, moderna lança daqueles beneméritos
[ ... ] No cotidiano repressivo, entretanto, fo- cruzados, e fizeram bom serviço. Nas três primei-
ram os códigos das posturas municipais os mais ras casas de santo que invadiram, foi-lhes fácil a
sistematicarnente acionados. A partir de 1830, tarefa: axés pequenos, terreiros modestos, festas em
legislaram sobre a proibição ou o cerceamento começo. Baixaram o porrete, os gritos de velhos e
de candomblés, batuques, zungus, maracatus, mulheres, música maviosa, animavam os guerreiros
"danças de pretos", "casa de dar fortuna" etc. As no prosseguimento da missão civilizadora. Quando
penas envolviam multas, um certo tempo de cadeia já não tinham a quem espancar, divertiam-se na
e mesmo açoites, se o infrator fosse escravo. As destruição dos atabaques, dos pejis, das carnarinhas.
opiniões e ações sobre os candornblés, assim como A notícia da diligência começou a andar na
sobre os batuques negros, nunca conseguiram una- frente dos policiais, emudecendo orquestras,
nimidade, expressando os impasses das estratégias dissolvendo rodas de feitas e iaõs, apagando as
de controle sobre escravos e libertos. luzes, terminando obrigações e festas. Cabisbaixos,
Algumas autoridades consideravam os encon- homens e mulheres recolhiam-se às suas casas
tros religiosos propícios a sublevações, posto que enquanto os orixás retornavam à montanha, à
podiam criar solidariedades entre os negros, entre floresta, ao mar, de onde haviam vindo para a
escravos e libertos, entre crioulos e africanos; outras dança e o canto nos terreiros.
não suportavam as livres apropriações negras dos AMADO. Jorge. Tenda dos milagres.
santos católicos através de danças e músicas vistas Rio de Janeiro: Record, 2001. p. 231.
280 fulo LI
Leia os textos a seguir e faça o que se pede
Eis o que diz um dos principais trechos do texto:
Texto 1
"A palavra Deus é, para mim, nada mais do que
Um dos aspectos mais revolucionários da re-
a expressão e o produto das fraquezas humanas, e a
ligião no mundo moderno é a transformação das
Bíblia uma coleção de lendas honradas, ainda que
religiões mundiais na medida em que foram trans-
primitivas, e que de qualquer maneira são bastan-
portadas ao redor do globo. O próprio significado
te infantis. Nenhuma interpretação, por mais sutil
de "religião mundial" mudou, já que o judaísmo,
que seja, é capaz de (para mim) mudar isso. Essas
hinduísmo, o ioruba e outras religiões identifi-
interpretações cheias de sutilezas são muito varia-
cadas com culturas ou comunidades particulares
das, de acordo com sua natureza, e não têm quase
também se espalharam [..j junto com o movimen-
nada a ver com o texto original. Para mim, a reli-
to de pessoas. E ... ]
gião judaica, assim como todas as outras religiões,
Das primeiras evidências da consciência hu-
é uma encarnação das mais infantis superstições.
mana e da comunicação com forças espirituais,
E o povo judeu, ao qual fico muito feliz de perten-
as pessoas buscaram se localizar como indivíduos
cer e com cuja mentalidade tenho uma profunda
e comunidades no universo. As religiões têm sido
afinidade, não tem nenhuma qualidade diferente,
construídas como maneiras múltiplas de se ter
para mim, do que qualquer outro povo. Até onde
acesso ao poder divino com a intenção de buscar
vai a minha experiência, eles não são melhores do
benefícios para os vivos e conforto para os mortos.
que qualquer outro grupo humano, embora este-
Pregadores e profetas carismáticos atraíram segui-
jam protegidos dos piores cânceres por sua falta de
dores para suas ideias e as instituições se desenvol-
poder. Fora isso, não consigo ver nada de 'escolhi-
veram para promover novas fés. Até mesmo para
do' neles."
os movimentos religiosos no mundo contemporâ-
neo que se focam em uma experiência individual, Anônimo arremata carta de Einstein sobre religião por
US$3 mithôes. FoLha de S.PauLo, São Pauto, 26 out.
como o pentecostalismo, a habilidade de alcançar 2012. Ciência. Disponível em: <http://f5.folha.uot.com.br/
grandes audiências em lugares distantes por meio estranho/li 75652-anonimo-arremata-carta-de-
de comunicação eletrônica expandiu drasticamen- einstein-sobre-religiao-por-us-3-milhoes.shtmt>.
te as comunidades de fiéis e moldou identidades Acesso em: abr. 2016.
Um comprador anônimo arrematou E ... ] uma Você já sofreu discriminação religiosa ou dis-
carta do físico Albert Einstein (1879-1955), na qual criminou alguém por esse motivo? Justifique.
gênio alemão de origem judaica ataca a ideia de
Deus, a Bíblia e o próprio judaísmo.
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-
-282
Art. 231. São reconhecidos aos índios sua organiza- sobre o assunto, tem competência para fazer um
ção social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os estudo técnico sobre aquela comunidade.
direitos originários sobre as terras que tradicionalmente Esse estudo compreende uma série de eta-
ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fa- pas: ida ao local da possível demarcação, análise
zer respeitar todos os seus bens.
da documentação referente à terra e entrevistas
DisponíveL em: <wwi.pLanalto.gov.bc/cciviiO3/constituicao/cons1i- com os moradores da região (principalmente
tuicao.htm>. Acesso em: abc 2016.
com as lideranças mais antigas). Com base nes-
De acordo com esse artigo, as terras indígenas sas informações, é elaborado um relatório cir-
tradicionalmente ocupadas são aquelas necessá- cunstanciado de identificação e delimitação das
rias à reprodução física e cultural dos nativos e, por terras. Esse relatório é submetido a uma aprecia-
isso, são destinadas à posse e ao usufruto perma- ção da Funai e, se aprovado, é encaminhado por
nente da comunidade indígena, garantindo a seus despacho ao Ministério da Justiça para que o mi-
membros o direito à vida e à diversidade cultural. nistro declare a posse permanente da terra àquela
que é uma autarquia vinculada ao Ministério da que a terra é demarcada, ninguém pode invadi-
Justiça, constituir um grupo de trabalho que in- -la (e é competência do governo federal garantir
vestigará se a área reclamada pela comunidade direito dos indígenas a ela), e os nativos não
indígena é mesmo tradicionalmente ocupada por podem ampliar a área demarcada (por exemplo,
ela. Esse grupo de trabalho é sempre coordenado anexando terras que a princípio não constavam
Da chegada dos europeus até o século XX, a paisagem natural brasileira passou por inúmeras
modificações que resultaram na migração de vários povos indígenas para as cidades. No entan-
to, com a política de demarcação de terras indígenas, os nativos e seus descendentes puderam
retornar aos locais de origem de suas etnias, preservando assim suas especificidades culturais.
1.0 gráfico a seguir traz dados dos censos de 1991, 2000 e 2010 sobre o número de indígenas no
Brasil e a localização da residência deles (zona rural ou urbana). Com base na observação dele,
faça o que se pede.
d) Faça uma pesquisa sobre a demarcação de terras indígenas enfocando os conflitos de terra
que envolvem fazendeiros e nativos. Apresente os resultados ao restante da turma em forma
de seminário.
283
Testando seus conhecimentos Responda no caderni
— 284
Responda no caderno
II. A persistência do trabalho escravo ou se- nas áreas social, econômica e política pertinentes à
miescravo no Brasil, não obstante a legis- História do Brasil, além de instituir, no calendário
lação que o proibe, explica-se pela intensa escolar, o dia 20 de novembro como data comemo-
competitividade do mercado globalizado. rativa do "Dia da Consciência Negra'
285
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