Tecnicas de Acesso
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Odontologia Legal
Janaina Paiva CURI1, Oscar HEIT2, Thiago Leite BEAINI3, Edgard MICHEL-
CROSATO4, Rodolfo Francisco Haltenhoff MELANI4, Ricardo Henrique Alves
da SILVA5.
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RESUMO
Introdução: A Odontologia Legal ocupa importante espaço dentre as Ciências Forenses, oferecendo seus
conhecimentos específicos da Odontologia em prol da resolução de casos de natureza cível, criminal,
administrativa e trabalhista. O avanço da Odontologia Legal está diretamente ligado à busca pela
identificação humana, o que tornou possível a crescente presença do perito odontolegista nos Institutos
Médico Legais (IMLs), oficializada pela Lei 5081/66. O objetivo deste trabalho foi apresentar, por meio de
uma revisão de literatura, as principais técnicas de necropsia bucal com finalidade de permitir o exame de
identificação humana, bem como as diferentes vias de acesso, desenvolvidas ou utilizadas pelos
odontolegistas. As técnicas preconizam incisões em diversas regiões de cabeça e pescoço, com a
remoção ou não dos maxilares e são selecionadas para serem utilizadas de acordo com o estado de
degradação dos corpos e a necessidade de preservação das estruturas e tecidos faciais, já que em
diversos casos, os cadáveres deverão ser devolvidos aos seus familiares para serem velados
posteriormente. Conclui-se que o uso das técnicas de necropsia bucal é necessário para a análise
detalhada dos arcos dentais, de onde são retiradas as informações post-mortem para, em seguida, serem
confrontadas à documentação ante-mortem do cadáver. Essas técnicas devem ser escolhidas de acordo
com a praticidade e agilidade do exame, mas sob os critérios do estado inicial do corpo e a necessidade
estética final do procedimento.
PALAVRAS-CHAVE
Odontologia legal; Necropsia; Identificação humana.
1-4
à Justiça com embasamento jurídico para necropsia, tanto em cadáveres putrefeitos e
2-4
sua atuação . carbonizados, que a princípio se
Vítimas de incêndios que sofreram apresentavam irreconhecíveis, como em
14
carbonização, lacerações ou em estágio de corpos passíveis de identificação . Tais
putrefação são as mais frequentemente técnicas possibilitaram o acesso aos arcos
identificadas por meio de uma avaliação dentais, inclusive permitindo sua remoção,
5
odonto-legal . Nesses casos, a comparação facilitando, demasiadamente, o manuseio
dos dados do de exames ante-mortem com para obtenção de toda informação
os obtidos em análise post-mortem pode ser odontológica e o exame radiográfico post-
5 15-17
a única alternativa de identificação , pois mortem .
com a perda de tecidos, outros métodos Sendo crucial para a produção da
18
podem não oferecer resultados, tornando a prova pericial , o odontolegista deve
análise dental importante para conduzir a conhecer os variados tipos de incisões, bem
6,7
uma identificação positiva . como suas indicações. Estabelecer
Os corpos com destruição tecidual, adequadamente a finalidade e escolher a
rigidez cadavérica evidente ou técnica que melhor possibilite a realização
carbonização, podem apresentar do trabalho pericial, além de possibilitar a
dificuldades no acesso aos arcos dentais, devolução do corpo aos familiares em
demandando técnicas denominadas como condições de realizar os rituais fúnebres,
19
vias de acesso. sempre que possível .
No entanto, as técnicas de exame O presente trabalho tem o objetivo
odontolegal não se limitam a cadáveres que de fazer uma análise comparativa das
se apresentam em estado de conservação técnicas e vias de acesso utilizadas na
8
ruim . Existem técnicas de necropsia com necrópsia bucal, por meio de uma revisão
finalidade sanitária ou anatomopatológicas de literatura, concentrando-se naquelas
que têm por objetivo a avaliação de indicadas para casos de identificação
doenças e enfermidades. humana.
A necropsia odontológica
frequentemente faz parte dos exames com REVISÃO DA LITERATURA
finalidade jurídica, cujas funções podem ser Examinando uma ossada, não há
de avaliação do dano corporal e causa da dificuldades de acesso aos arcos dentais,
9-11
morte decorrente de trauma . Estas mas em casos de cadáveres com tecidos
preconizam incisões em diversas regiões da moles deverá proceder-se o acesso de
cabeça e do pescoço, sendo que em alguns maneira direta ou assistida por incisões.
casos, pode ser necessário devolver o corpo Considerando a necessidade de cada
à família para serem velados em urnas análise, o odontolegista pode proceder ao
12,13
funerárias abertas . exame no cadáver ou remover os maxilares
19,20
A Odontologia Legal tem como para fazê-lo externamente .
2
prerrogativa o desenvolvimento e uso de Sempre que o exame for executado,
técnicas inerentes ao processo de o profissional deve registrar adequadamente
as condições iniciais e a cada passo da horizontal (<), pode ser utilizada em ambas
técnica escolhida. as bochechas, com a abertura voltada para
Existem diversas metodologias para a região posterior, a partir da comissura
realizar a necropsia bucal que podem labial. Após retirada dos tecidos moles,
19
envolver incisões faciais ou cervicais , secciona-se os ramos ascendentes da
realizadas em cadáveres íntegros, mandíbula, desarticulando a ATM e
danificados ou putrefeitos, ou com a isolando-a completamente. A maxila
necessidade de manter a estética do também pode ser isolada por corte
cadáver que será devolvido à família, horizontal. As incisões nas bochechas
14,20
respeitando o caráter social do exame . tornam este procedimento difícil de ocultar
A técnica inframandibular, esteticamente, caso o cadáver deva ser
21,22
desenvolvida por Keiser-Nielsen (1963) , devolvido aos familiares (Figura 2- A).
propõe uma incisão em ferradura, 2 a 3 Há técnicas em que é realizada a
centímetros abaixo da base da mandíbula, dissecação de todos os tecidos moles que
seguindo o contorno do ramo ascendente circundam a cavidade oral, no entanto sem
(Figuras 1-A e B). Uma segunda incisão retirar a maxila ou a mandíbula. A Técnica
23
inicia-se ao longo da superfície óssea de Morlang (1982) é realizada por meio de
externa do corpo da mandíbula até a base duas incisões paralelas, uma acima e outra
do vestíbulo inferior (Figura 1-C), abaixo dos lábios. Aprofundando a incisão
seccionando a inserção inferior do músculo inferior, consegue-se isolar a mandíbula. Em
masseter e os ramos da mandíbula, o que razão das incisões supra e infralabiais e nas
permite desarticular a articulação bochechas, este procedimento também é de
23,24
temporomandibular (ATM). Outra incisão em difícil ocultação (Figura 2-B).
ferradura é feita internamente Uma técnica preferencial para a
acompanhando o rebordo inferior da utilização em cadáveres carbonizados que
mandíbula, até o assoalho da boca, envolve duas incisões lineares, bilaterais,
isolando-a completamente (Figura 1-D). A entre a comissura labial e o trago auricular é
20,25
maxila é isolada por meio de um corte a Técnica de Correa Ramirez (1990) . Os
horizontal, feito com auxílio de serra e tecidos moles são rebatidos, com auxílio de
escopro, que inicia acima da espinha nasal separadores, deixando toda a mandíbula e
anterior, elevando-se ligeiramente no final maxila expostos (Figura 2- C).
do corte para evitar as raízes dos molares. A Técnica de Nossintchouk et al.
26
Caso não seja oportuno devolver a porção (1993) propõe duas incisões curvas,
removida após o exame, os espaços bilateral, do osso hioide até a apófise
deixados com a retirada podem ser mastoide. A partir destas incisões, a região
preenchidos com algodão, antes da sutura é dissecada por planos, com auxílio de um
cutânea, de modo a restaurar o aspecto bisturi, separando a face lateral da
16
anterior . mandíbula. Outra incisão, acompanhando a
A Técnica de Luntz e Luntz curvatura da mandíbula, permite a sua
12,20
(1973) , de incisão em forma de “V” remoção. Já a maxila é isolada por um único
corte, praticado com fresa. A utilização possa haver alguma deformidade facial
desta técnica permite uma excelente quando as cavidades criadas pela retirada
exposição dos tecidos orais, porém o maior dos ossos são preenchidas com algodão
inconveniente é o trabalho de dissecação. (Figura 2-D).
As incisões são fáceis de ocultar, embora
21,22
Figura 1 – Técnica de Keiser-Nielsen (1963) , Incisão na base da mandíbula (A, B); Incisão
maxilar (C); Incisão submandibular (D).
A B
C D
12 23
Figura 2 – Técnica de Luntz e Luntz (1973) (A); Técnica de Morlang (1982) (B); Técnica de
25 26
Correa-Ramirez (1990) (C); e Técnica de Nossintchouk (1993) (D).
A B
28 29
Figura 3 – Técnica de Fereira et al. (1997) (A); Técnica de Heit (2014) (B).
Quadro 1 – Técnicas usadas em necropsia oral de acordo com a indicação de remoção dos arcos
dentais
Tipo Autor Ano Característica Indicação
Keiser 1963 Técnica inframandibular. Cadáveres
21,22
Nielsen Maxila é isolada com auxílio de serra e carbonizados,
escopro. putrefeitos ou não
12
Luntz 1973 Técnica com incisão em “V” deitado, Cadáveres
bilateral nas bochechas. carbonizados e
Maxilares isolados com auxílio de serra e putrefeitos
escopro.
Com remoção dos arcos dentais
30
Nakayama 2000 Técnica de miotomia de acesso: secção Cadáveres
de músculos da face com auxílio de íntegros, que
Sem remoção dos arcos dentais
29
Heit 2014 Técnica de “Subângulo Mandibular”, com Frescos ou
duas incisões, bilateral, e secção dos intactos
ramos na altura da ATM.
23
Morlang 1982 Incisões amplas, supra e infralabial, e nas bochechas.
Procedimento difícil de ocultar, para fins estéticos.
25
Correa Ramirez 1990 Incisões simples nas bochechas, lineares.
Procedimento difícil de ocultar para fins estéticos.
28
Não conservadoras
ABSTRACT
Forensic Dentistry plays an important role within the Forensic Sciences, offering its expertise in Dentistry
for the resolution of cases for civil, criminal, administrative and labor. The advancement of Forensic
Dentistry is directly linked to the search for human identification, which is made possible the growing
presence of the forensic odontologist in the Medical Legal Institutes (IMLs), a right granted by the Brazilian
Federal Law n. 5081/66. The objective was to present, through a literature review, the main techniques of
oral autopsy, and the various access ways, developed and used by dental examiners in order to facilitate
and expedite the identification of bodies. Such techniques recommends incisions in various regions of the
head and neck, with or without removal of the jaws, and are selected according to the state of preservation
of the bodies, and the need for preservation of facial tissues and structures since, in many cases, the
bodies must be returned to their families later to be veiled. It is concluded that the use of oral necropsy
techniques is necessary for a detailed analysis of the dental arches, where postmortem data can be
acquired and then confronted to the documented antemortem data of the corpse. The techniques are
chosen by a practical and less time consuming criteria, but under the initial state of preservation and
necessity of final aesthetic variables.
KEYWORDS
Forensic dentistry; Autopsy; Human identification.
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