G1-0296 - Venerável Mestre - José Castellani

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VENERÁVEL MESTRE

Ir. José castellani

1. Origem do título

O título de Venerável Mestre, dado ao presidente de uma Loja maçônica, tem a sua
origem mais remota nos meados do século XVII, quando já começara a lenta, mas
progressiva, transformação da Franco-maçonaria de ofício, ou operativa, em Franco-
maçonaria dos aceitos, ou especulativa (1). Nessa época, porém, nem existia o grau de
Mestre Maçom, que só seria introduzido no século XVIII, a partir de 1724, e efetivado em
1738, e o presidente da Loja era escolhido entre os mais antigos e experientes
Companheiros --- que era um mestre-de-obras --- ou era o proprietário mesmo, o qual,
como dono da obra, era vitalício na direção dos trabalhos dos obreiros.

Derivado da palavra inglesa worship, que significa culto, adoração, reverência ---
como forma de tratamento --- quando usada como substantivo, e venerar, adorar,
idolatrar, quando usada como verbo transitivo, tem-se o vocábulo worshipful, que significa
adorador, reverente, venerável, como forma de tratamento. Dessa maneira, o presidente
da Loja passou a ter o título de Worshipful Master, que significa Venerável Mestre e que
seria adotado por todos os círculos maçônicos, embora o termo Venerável, de início,
fosse aplicado apenas às organizações de artesãos.

Adotando-se a cerimônia de Instalação, como faz a Maçonaria inglesa, é só depois


de passar por ela que o Venerável Mestre eleito pode se considerar empossado ---
instalação é sinônimo de posse --- e empossar os membros de sua administração,
entrando na plenitude de seus direitos exclusivos, entre os quais se inclui o de sagrar (2)
os candidatos à iniciação, à elevação, ou à exaltação. Tão rígido é tal dispositivo, que, em
uma sessão à qual não esteja presente o Venerável Mestre, sendo, ela, portanto, dirigida
pelo 1º Vigilante, que não seja um Mestre Instalado, ele deverá, no momento de sagrar o
candidato, solicitar, a um Mestre Instalado presente, que o faça, sem o que a cerimônia
não poderá ter validade.
2. Origens das atribuições litúrgicas

A origem mais remota dessa prática está na Cavalaria medieval, cujos integrantes, os
cavaleiros, só podiam ser sagrados por um rei, por um príncipe, ou por um alto dignitário
eclesiástico. Estes, para a sagração, colocavam a lâmina da espada sobre os ombros do
candidato, alternadamente (e terminavam, em alguns casos, com a acolada, que era uma
pancada no pescoço do candidato).

Apesar de alguns autores não admitirem influência da Cavalaria, das Ordens Militares
e dos Cruzados sobre a Maçonaria, existe, na realidade, uma similaridade muito grande
entre as práticas maçônicas da instalação e as práticas dessas instituições, pois é claro
que, embora não se possa, de maneira alguma, ligar as origens da Maçonaria aos
Cruzados, ou à Cavalaria, influências desses agrupamentos podem existir em qualquer
ramo do conhecimento humano.

Na época do apogeu da Cavalaria, no decorrer do século XI, ela possuía hierarquia,


graus e brasões. As Cruzadas acabariam contribuindo para o incremento do prestígio dos
cavaleiros, dando, à sua atividade, um forte cunho religioso, que se exteriorizava na
promessa de defender a Igreja, defender a cristandade e combater os infiéis, além do
compromisso de fidelidade ao senhor feudal, de proteção aos fracos, oprimidos, mulheres
e órfãos, de respeito à hierarquia e à disciplina e de combate à calúnia, à mentira e aos
vícios.

A educação do cavaleiro começava na infância e, depois de cuidadosamente


preparado,ele prestava o serviço militar, entre os 15 e os 21 anos de idade, primeiramente
como pajem, atendendo ao senhor feudal em todos os serviços domésticos do castelo, e,
posteriormente, como escudeiro, acompanhando ao seu senhor nas batalhas e lutando ao
seu lado.

Aos 21 anos, então, o escudeiro era armado cavaleiro, numa cerimônia à qual a Igreja
imprimiu um profundo caráter religioso. Para esta cerimônia, inicialmente, o candidato
ficava encerrado, durante toda a noite, na capela do castelo, orando e velando as armas;
ao romper da aurora, ele fazia a confissão, comungava e participava da missa, onde o
sermão principal destacava os deveres que ele assumiria, como cavaleiro.

Passava-se, em seguida, à cerimônia, realizada no pátio principal do castelo, ocasião


em que o cavaleiro era sagrado e armado, tendo, como padrinho, o senhor com o qual
aprendera a arte militar.
A ação da Igreja nessa cerimônia, na época de apogeu da Cavalaria (séculos XI e XII),
ainda é mostrada em outras práticas: o sacerdote benzia a espada do cavaleiro e
comunicava que ela sempre deveria ser usada para servir à Igreja e defender os fracos,
os oprimidos, as viúvas, os órfãos e, de maneira geral, todos os servidores de Deus,
contra "a crueldade dos pagãos".

O cavaleiro era purificado, através de um banho ritualístico, e recebia uma camisa de


linho branco, como símbolo da pureza, e uma túnica vermelha, como símbolo do sangue,
que deveria ser vertido a serviço de Deus.

Tais costumes mostram uma certa influência sobre muitos costumes maçônicos ---
não se pode esquecer que a Franco-maçonaria floresceu à sombra da Igreja --- como a
permanência na Câmara de Reflexão, a sua purificação, a cor branca do avental e das
luvas, a espada, a sagração, as preleções, o juramento, o voto de defesa dos fracos e
oprimidos.

Notas

1. Essa progressiva transformação iniciou-se no século XVII, quando, com a decadência


do estilo gótico --- e a concomitante ascensão do renascentista --- as organizações de
oficio começaram também a entrar em decadência. E, para tentar sobreviver, resolveram
aceitar, em suas Lojas, homens não ligados à arte de construir e que, por isso, foram
chamados de Maçons Aceitos. O processo de aceitação desenvolveu-se durante todo o
século XVII, a ponto de, no final dele, o número de aceitos sobrepujar, largamente, o de
operativos, o que propiciaria, em 1717, a criação da primeira Obediência maçônica da
História, a Premier Grand Lodge, em Londres.

2. Sagrar, aí, tem o sentido de conferir a dignidade do grau e não o de santificar, ou tornar
sagrado, como muitos pensam. É o mesmo com a sagração de templo: a cerimônia
confere, ao local, a dignidade de templo maçônico.

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