Valores Econômicos e Morais No Brasil
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Valores Econômicos e Morais No Brasil
SISTEMAS DE INFORMAÇÃO
FILOSOFIA
SÃO LUÍS – MA
2018
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Pela própria substância da discussão filosófica, os valores enquanto objeto de estudo, são
analisados desde Sócrates, uma vez que o filósofo grego insurge contra o relativismo moral
defendido pelos sofistas, à medida que expunha a grandeza dos valores universais. Seu
discípulo Platão conhecido pela teoria das ideias, de certo pode ser também a teoria dos
valores, porquanto concretiza na ideia de bem, o ápice de sua metafísica. Seguidamente o
aprendiz de Platão, Aristóteles foi quem sistematizou na teoria das virtudes, uma verdadeira
axiologia (não ainda como ramo da filosofia), quando traz os universais de seu mestre à
realidade empírica. Apesar disso, a palavra valor surgiu no contexto da economia com Adam
Smith, famoso economista inglês, referindo a lógica de mercado e seu funcionamento, onde
há trocas vantajosas para ambas às partes, pelo valor que há nos objetos que são trocados,
logo demonstrando que o valor também pode ser de ordem econômica. Por causa disso surgiu
o debate a respeito da origem dos valores, para os materialistas os valores são relativos, não
obstante para os seguidores da escola platônica, os valores existem em si mesmos enquanto
essências, daí seguem-se as linhas do debate axiológico, subjetivismo e objetivismo.
A linha axiológica subjetiva a respeito dos valores argumenta que o valor não existe em si
mesmo e, portanto, é uma criação advinda da necessidade humana, não abstrato, mas real, isto
é, com peso de ação histórica. Sintetizando, os valores dependem das valorações do sujeito.
Conquanto a linha objetiva de pensamento entende expressamente o contrário, o valor existe
em si mesmo e que por isso o objeto valorado, é valorado porque nele há características que o
permite ser, assim sendo independe do sujeito. Percebe-se que a análise unilateral do ponto de
vista objetivo e subjetivo apresenta fragilidade na percepção da questão. Isso se evidencia,
pois, ainda que histórico e concreto, é impossível que o ser humano possa pela própria
vontade do ser, inutilizar sua percepção dos valores morais, estéticos, utilitários, etc., isto é a
articulação entre o sujeito que valora e o objeto valorado jamais deixa de existir, pois essa
conexão independe, seja do sujeito, seja do objeto, assim sendo é objetivo. No entanto, apesar
dessa impossibilidade, o ser deliberadamente pode sempre ignorar os valores percebidos, bons
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ou maus, e agir contraditoriamente, pois nesse sentido prevalece a sua liberdade de valorar na
articulação entre o sujeito e o objeto. Por essa razão é subjetivo.
A despeito de toda essa discussão, ela se torna inútil se não houver alguém que a difunda, esse
papel é da alta cultura, que existe para não deixar cair no esquecimento às argumentações,
pois se não for assim, decorre que as novas gerações acabem por ter de “reinventar a roda” e a
termine por reinventa-la quadrada. Por esta razão a alta cultura é a pedagoga que ensina as
gerações o que de melhor se sabe, isso é, atualiza a sociedade histórica a respeito das altas
discussões nas várias linhas de debates. É ela que preserva os valores universais e os
conhecimentos de macro importância em todas as áreas do conhecimento. A alta cultura se
perpetua à medida que as gerações dão continuidade aos conhecimentos e os aprofundam no
presente, para então transmiti-las as futuras gerações, estabelecendo uma tradição de
conhecimento. Apesar disso, toda vez que se negligencia ou não se continua a tradição, a
médio, longo prazo erige-se uma subversão de valores e isto os faz perder a dimensão das
riquezas universais, e resulta no apego da sociedade as circunstâncias presentes e aos objetos
de prestígio e ostentação artificial.
A conjuntura histórica antiga das relações econômicas era pautada acima de tudo pela
confiança que havia entre os suseranos e vassalos. Vinda a modernidade através do advento
da Revolução Industrial que impactou o mundo sócio econômico com a maravilha dos
avanços técnico-científico os quais vislumbravam possibilidades infinitas de progresso.
Influenciando pela economia as relações sociais, em virtude do valor da confiança que antes
era direta e residia na ligação pessoal, agora se fez abstrato na materialização do papel-moeda.
É inegável a evolução tecnológica que a moeda representa nas relações econômicas, no
entanto é da mesma forma inegável sua grande responsabilidade na deterioração nos valores
sociais, subjacente na cristalização do status pela sobra ou escassez do valor monetário e
abandono do status pelo valor moral, o qual possui verdadeira substância real. Em decorrência
disso as amizades, tornaram-se mediadas não mais unicamente pelo sentimento de
afetividade, mas sim, pelo interesse implícito existente no elo fraterno, fato que antes era
peculiar, contudo, na contemporaneidade tornou-se generalizado como vaticina Jung Sung.
"Business is business!" (Negócio é negócio!), ou, "amigos, amigos, negócios à parte!" são
frases que revelam uma das características centrais das nossas sociedades modernas. Elas
mostram a separação que existe entre a amizade (e os valores morais) e a racionalidade
econômica. Não somente a separação, mas a subordinação dos valores como a amizade à
racionalidade econômica. Quando a amizade entra em conflito com interesse econômico, é
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esse que prevalece em detrimento do primeiro. (SUNG, Jung Mo. SILVA, Josué Cândido,
1958, p.55)
Desse modo, é inevitável falar que no Brasil, valores econômicos se tornaram soberanos e
cada vez mais hegemônicos, pois fazem pessoas ignorarem totalmente suas bases morais e
culturais em detrimento de questões econômicas, exemplos clássicos estão escancarados na
sociedade, como políticos corruptos que em suas atitudes deixam totalmente de lado suas
obrigações, seus valores morais e culturais com intuito de acumular dinheiro de forma
condenável.
A degradação da moralidade no Brasil está em um estágio tão elevado, que cada vez mais
brasileiros são adeptos do muito famoso, “jeitinho brasileiro”. A respeito disso Roberto
DaMatta fala
Assim, entre o “pode” e o “não pode”, escolhemos, de modo chocantemente antilógico, mas
singularmente brasileiro, a junção do “pode” com o “não pode”. Pois bem, é essa junção
que produz todos os tipos de “jeitinhos” e arranjos que fazem com que possamos operar um
sistema legal que quase sempre nada tem a ver com a realidade social. (DAMATTA,
Roberto, 1936, p.83).
REFERÊNCIAS
SUNG, Jung Mo. SILVA, Josué Cândido. Conversando sobre ética e sociedade. 18.ed. –
Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 2011. p-50
DAMATTA, Roberto. O que faz o brasil, Brasil? Rio de Janeiro: Rocco: 1986.