IMprobidade Parecer AGU Irretroatividade Lei Improbidade
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ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO
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PARECER Nº BBL - 08
ADOTO, para os fins do art. 41 da Lei Complementar nº 73, de 10 de fevereiro de 1993, nos
termos do Despacho do Consultor-Geral da União nº 00583/2022/GAB/CGU/AGU, de 27 de setembro de
2022, do Despacho nº 00474/2022/DECOR/CGU/AGU, de 26 de setembro de 2022, e do Despacho nº
00007/2022/CNPAD/CGU/AGU, de 15 de setembro de 2022, o Parecer nº
00005/2022/CNPAD/CGU/AGU e submeto-o ao EXCELENTÍSSIMO SENHOR PRESIDENTE DA
REPÚBLICA, para os efeitos do art. 40, § 1º, da referida Lei Complementar, tendo em vista a relevância da
matéria versada.
Advogado-Geral da União
ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO
CONSULTORIA-GERAL DA UNIÃO
GABINETE
SAS, QUADRA 03, LOTE 5/6, 12 ANDAR - AGU SEDE IFONE (61) 2026-8557 BRASÍLIA/DF
70.070-030
DESPACHO n. 00583/2022/GAB/CGU/AGU
NUP: 00688.000720/2019-10
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(assinado eletronicamente)
Advogado da União
Consultor-Geral da União
ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO
CONSULTORIA-GERAL DA UNIÃO
DESPACHO n. 00474/2022/DECOR/CGU/AGU
NUP: 00688.000720/2019-10
ADVOGADO DA UNIÃO
Notas
2.Art. 2º Observado o seu âmbito temático de atuação, incumbe às Câmaras Nacionais: (...) § 3º
Cabe ao Departamento de Informações Jurídico-Estratégicas (DEINF) promover adequada divulgação e
consolidação dos trabalhos jurídicos das Câmaras Nacionais, podendo ser divulgados no sítio eletrônico da
Advocacia-Geral da União (AGU) ou pela Escola da AGU.
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CONSULTORIA-GERAL DA UNIÃO
DESPACHO n. 00007/2022/CNPAD/CGU/AGU
NUP: 00688.000720/2019-10
INTERESSADOS: DECOR
4. Dessa forma, sugiro, conforme entendimento colhido no âmbito da CNPAD, que a matéria seja
submetida ao Advogado-Geral da União e para posterior aprovação pelo Presidente da República, na
forma do artigo 40, §1º, da Lei Complementar nº 73, de 1993.
Advogado da União
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CONSULTORIA-GERAL DA UNIÃO
PARECER n. 00005/2022/CNPAD/CGU/AGU
NUP: 00688.000720/2019-10
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7. A retroatividade das alterações da LIA não pode prejudicar o ato jurídico perfeito,
reconhecendo-se no caso a aplicação da retroatividade temperada ou mitigada, por meio da qual a lei
nova alcança e atinge os efeitos "futuros" de situações passadas consolidadas sob a vigência da lei
anterior. As situações consolidadas na vigência da norma anterior submetem-se ao regime vigente ao
tempo do seu processamento e decisão.
8. As inovações promovidas pela Lei nº 14.230, de 2021, na Lei nº 8.429, de 1992, não retroagem
em relação às sanções disciplinares aplicadas pela autoridade competente por ato improbidade
administrativa na vigência da norma anterior.
9. Aos atos ímprobos anteriores às inovações legislativas trazidas pelaLei nº 14.230, de 2021, e
não julgados aplica-se as diretrizes da nova norma, diante a análise do caso em concreto, desde que a
nova redação seja mais benéfica ao acusado.
10. No caso de atos praticados em momento anterior ao advento da Lei nº 14.230, de 2021, e
não julgados pela autoridade competente até a edição da referida lei, aplica-se a norma incidente ao
tempo da prática dos respectivos atos (tempus regit actum), se, diante da análise do caso concreto, extrair-
se que a nova redação trazida pela Lei nº 14.230, de 2021, apresenta-se mais maléfica ao acusado, em
comparação com a redação anterior, insculpida na Lei nº 8.429, de 1992.
Referências: Artigo 37, § 4º da CF. Artigo 142, inciso I e § 2oda Lei no8.112, de 1990. Lei nº
14.230, de 25 de outubro de 2021. Artigos 6º e 24 da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro
(LINDB - Decreto-Lei nº 4.657, de 4 de setembro de 1942).
I - Relatório.
8. A Lei n° 14.230, de 2021, incluiu no artigo 1º da Lei nº 8.429, de 2 de junho de 1992, o § 4º, para
consignar expressamente a aplicação do Direito Administrativo Sancionador à improbidade:
12. Nesse panorama, a extratividade da lei penal é medida excepcional, admitida em situações
específicas e delimitadas.
13. Em razão da semelhança do caráter repressivo entre o Direito Penal e Direito Administrativo
14. A CF confere a garantia ao devido processo legal (artigo 5º, LIV), ao contraditório e à ampla
defesa (artigo 5º, LV), havendo garantias que a Lei Maior delimita particularmente ao Direito Penal, tal
como se dá com a legalidade estrita, tipicidade e anterioridade (artigo 5º, XXXIX) e com a irretroatividade,
ressalvada a retroação da lei penal mais benéfica (artigo 5º, XL).
16. Convém ressaltar que o fato de a inovação legislativa especificar a aplicação do Direito
Administrativo Sancionador à improbidade administrativa, não retira sua natureza cível, por isso não cabe a
aplicação de todos os princípios e reservas do direito penal à tutela civil da probidade.
O quadro acima resulta de normas constitucionais originárias. Não pode ser alterado pela lei
infraconstitucional.
Ademais, no cotejo entre garantias que têm diferente regime e diversos campos de aplicação
(artigo 5º, XXXIX e XL, e artigo 37, §4º), não são aceitáveis soluções que não promovam sua harmonização.
Uma das regras de hermenêutica mais conhecidas diz que a lei não tem palavras inúteis.
Inclusive a "lei" constitucional.
(...)
A correta exegese indica que a retroatividade da lei mais benéfica se circunscreve ao Direito
Penal (artigo 5º, XL da CF). Não se aplica à tutela da probidade. O artigo 37, §4º, da CF não tem tal previsão.
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Não convence, por outro lado, dizer que a retroação, na tutela da probidade, se funda na
isonomia, evitando injustiças. Essa é uma forma de fraudar a aplicação da lei sem declará-la
inconstitucional.
A isonomia quanto a certo regime jurídico deve ser verificada em relação ao seu tempo de
incidência e àqueles (sujeitos) que, então, se submetiam a ela. Não quanto à disciplina superveniente.
Comparar o que ocorreu no passado (vigência da lei anterior) com o que se verifica no presente (lei nova) é
por lado a lado situações heterogêneas. Seria como cotejar água e vinho esperando que a ambos ocorram
as mesmas reações químicas.
Todos que no passado incorreram em ilícitos devem ter o mesmo tratamento. Segue-se a lei
vigente na época em que a conduta foi praticada.
Como ensinam Carlos Enrico Paliero e Aldo Travi, é o princípio do favorlibertatisque justifica a
retroatividade da lei penal mais benigna, considerando-se a gravidade da pena de prisão e os efeitos que
tal medida produz sobre o condenado, só superados pelos efeitos da pena de morte. No direito
administrativo sancionador não há espaço para o argumento, sendo certo que a sanção administrativa não
pode consistir em pena de prisão. [...] Por tais fundamentos, não se pode transportar para o direito
administrativo sancionador a norma penal da retroatividade da lei que extingue a infração ou torna mais
amena a sanção punitiva." (Princípios Constitucionais do Direito Sancionador". Editora Malheiros, 2007. p.
153-156).
19. Fábio Medina Osório[2] defende que o dado o dinamismo inerente ao Direito Administrativo
Sancionador não se equipararia, de maneira irrestrita, ao Direito Penal em matéria de retroatividade da lei
mais benéfica.
21. A LIA possui natureza cível, sendo destinada à responsabilização dos agentes públicos e
terceiros, integrando o sistema que tutela a probidade, respaldado no artigo 37, § 4º, da CF e na Convenção
das Nações Unidas contra a Corrupção, promulgada pelo Decreto nº 5.687, de 2006.
22. Reconhece-se a retroatividade da lei benéfica, instituto atinente ao Direito Penal, no Direito
Administrativo Sancionador, considerando a similitude de ambas esferas. Entretanto, a retroatividade deve
respeitar os pressupostos do sistema constitucional que tutela a probidade. De maneira que a
interpretação das novas disposições deve observar as consequências da opção hermenêutica e sua
interferência na realidade subjacente. Além disso, é preciso considerar que as inovações trazidas pela Lei
n°14.230, de 2021, possuem abrandamento e agravamento, não sendo possível apenas a retroação de
parte da lei benéfica, o que não é admitido pela jurisprudência e doutrina dominantes.
23. As novas disposições possuem aplicação imediata da lei no que se refere aos seus aspectos
processuais, em relação aos processos pendentes de julgamento, mantendo-se os atos processuais já
praticados sob a égide da lei anterior, a teor do artigo 14 do Código de Processo Civil (CPC).
24. Dada a natureza híbrida da Lei nº 14.230, de 2021 (material e processual), conforme
jurisprudência assente do Supremo Tribunal Federal (STF), não é possível a conjugação de dispositivos
mais benéficos das normas para criar-se uma terceira hipótese, ainda que em matéria penal (HC
100.437/MG e HC 100.122/SP, Min. Ricardo Lewandowski; HC 98.766/ MG, Rel. Min. Ellen Gracie; RHC
94.806/PR e RHC 101.278/RJ, Rel. Min. Carmen Lúcia; RHC 94.802/RS e RHC 95.615/PR, Rel. Min. Menezes
Direito).
https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/despacho-do-presidente-da-republica-442916526 6/20
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anos e 4 (quatro) meses de reclusão, pela prática da conduta tipificada no art. 12, c/c o art. 18, I, ambos da
Lei 6.368/76. 2. Requer o impetrante a concessão da ordem de habeas corpus para a aplicação retroativa
da causa de diminuição de pena prevista no § 4º, do art. 33, da Lei nº 11.343/06. 3. O Supremo Tribunal
Federal tem entendimento fixado no sentido de que não é possível a combinação de leis no tempo.
Entende a Suprema Corte que agindo assim, estaria criando uma terceira lei (lex tertia). 4. Com efeito,
extrair alguns dispositivos, de forma isolada, de um diploma legal, e outro dispositivo de outro diploma
legal, implica alterar por completo o seu espírito normativo, criando um conteúdo diverso do previamente
estabelecido pelo legislador. (...). 6.
Diante do exposto, denego a ordem" (HC 96.430/SP, Relator Min. Ellen Gracie).
Habeas corpus. Tráfico ilícito de entorpecentes. Crime cometido sob a vigência da Lei nº
6.368/76. Impossibilidade de aplicação da redução de pena prevista no § 4º do art. 33 da nova Lei
Antidrogas (Lei nº 11.343/06) . Ordem concedida de ofício. (...) 3. Nos termos do parecer do Ministério
Público Federal, é inadmissível a conjugação da pena-base prevista na Lei nº 6.368/1976 e a causa de
diminuição contida na Lei nº 11.343/2006, visto que, agindo deste modo, o juiz atuaria como legislador
positivo, criando uma terceira lei, o que é vedado pelo nosso ordenamento jurídico. 4. Habeas corpus
denegado (...)" (HC 97.977/MG, Rel. Min. Dias Toffoli.
26. Vem a fortalecer a irretroatividade ampla da inovação legislativa na LIA o fato de o tema da
retroatividade ter sido proposto e não avançado na Casa Legislativa[3], o que é uma clara demonstração
que o legislador não pretendeu com a alteração normativa retroceder ao já decidido sob a égide legal
anterior.
27. Isto posto, reconhece-se a retroatividade da lei nova mais benéfica apenas para alcançar os
casos ainda não julgados no âmbito administrativo, pois a lei não retroagirá para atingir o ato jurídico
perfeito, conforme artigo 5º, inciso XXXVI da CF.
28. No âmbito administrativo disciplinar deve-se entender por situação constituída sob a égide
de lei anterior os casos já processados e julgados pela autoridade competente, ou seja, aqueles em que
foram aplicadas sanções disciplinares (publicação do ato sancionador) nos termos do artigo 141 da Lei nº
8.112, de 1990.
29. Nesse sentido cabe trazer precedente do Superior Tribunal de Justiça que bem fixou o
entendimento de que a sanção aplicada a servidor faltoso não está sujeita aos sabores de superveniente
legislação, mas aquela vigente no momento de sua aplicação:
1. O ora recorrente, Oficial de Justiça à época, foi investigado por exigir custas excessivas em
processo judicial. O Conselho da Magistratura demitiu-o em 1986, após o regular processo administrativo,
em decisão ratificada pelo Órgão Especial. Pleiteou-se a revisão do processo, em 1994, que, rejeitada por
maioria de votos, ensejou a impetração de Mandado de Segurança, o qual foi denegado.
2. A demissão a bem do serviço público do recorrente foi confirmada pelo órgão especial
em1987, e o ato demissório deu-se em 1989. O pedido de revisão ocorreu mais de cinco anos depois,
porquanto admissível sua propositura, uma única vez, a qualquer tempo (art. 249 da Lei 10.098/1994).
3.In casu, quando julgado o processo administrativo (1986), não havia norma sobre prescrição no
Código de Organização Judiciária (Lei Estadual 5.256/1966), que tratou da Ação Disciplinar (arts. 756 e ss.).
O acórdão recorrido valeu-se de dupla remissão para aplicar a prescrição prevista na legislação penal.
https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/despacho-do-presidente-da-republica-442916526 7/20
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Essa lacuna normativa perdurou até a edição da LCE 10.098/1994, que passou a regulamentar
expressamente a prescrição da Ação Disciplinar em prazo mais curto, favorável ao recorrente.
4. Caso a lacuna da legislação local tivesse sido suprida ao longo do PAD mediante edição de lei
nova que regulasse a prescrição no âmbito administrativo, estar-se-ia diante de norma superveniente que
seria levada em consideração no julgamento do processo administrativo e poderia resultar na sua
extinção.
5. Contudo, o pedido de revisão tem prazo aberto e pode ser apresentado a qualquer momento.
A valer a proposição do recorrente, passados 5, 10, 20 ou 40 anos, havendo mudança na lei a respeito dos
prazos prescricionais, todos os processos administrativos que ensejassem de advertência a demissão
poderiam ser rejulgados, adotando-se a legislação eventualmente mais benéfica.
9. Recurso Ordinário não provido. (STJ. RMS 33.484. Relatór Ministro Herman Benjamim.
30. Oportuno citar precedente do Supremo Tribunal Federal que, mesmo diante de lei penal
mais benéfica, entendeu que a retroatividade não se opera para alcançar pena já cumprida:
No que concerne a retroatividade da lei mais benigna, o agravante também não logrou êxito em
afastar os argumentos da decisão agravada, posto que esta retroatividade não se opera para alcançar a
pena já cumprida, conforme o Rel. Néri da Silveira, no julgamento do RE 100.530, 1ª T., DJ 13.12.85,
consignou em seu voto:
"Penso, data venia, que a lei nova (Lei nº 7.209/1984) não pode ser aplicada à presente espécie.
Não há falar, aqui, em execução de pena. A pena imposta ao recorrente foi executada, já faz muito tempo.
Não se encontra o feito em fase de execução de sentença. Não cabe inovar a lei mais benigna, a fim de
reduzir a pena imposta, em face de novos limites estabelecidos ou de nova classificação - Se coubesse
admitir tal, então estaria aberto, a todos aqueles no País, que, na vigência do Código de 1940, revogado na
Parte- Geral, foram punidos por peculato, (com imposição de pena acessória de perda de cargo transitada
https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/despacho-do-presidente-da-republica-442916526 8/20
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a decisão em julgado e já executada) viessem pedir a aplicação da Lei nº 7.209/1984. Não se trata, aqui, de
pleitear qualquer providência, no juízo de execução de pena, porque esse já exauriu sua competência,
desde o momento em que as penas se cumpriram. Data Venia, a lei mais benigna pode ser invocada, como
se tem entendido, perante o juízo das execuções, não depois de já finda a execução da pena.
De outra parte, não estabelece a lei nova qualquer anistia, quanto aos punidos, em casos
anteriores, em que já se deu a execução integral das penas impostas. Se se entendesse, diferentemente,
todos os que perderam o cargo público por pena acessória, desde que não tenham sido condenados a
mais de quatro anos de reclusão, estariam intitulados a pedir revisão criminal, qualquer que fosse o tempo
passado, em ordem a ver cancelada essa sanção acessória. Todos 05 casos de peculato poderiam ser
submetidos a revisão, com vistas ao cancelamento da pena acessória, já executada, juntamente com a
pena principal."
32. Embora tecnicamente o instituto da coisa julgada não exista na via administrativa, e sim
somente na via judicial, haja vista a adoção do sistema de jurisdição única pelo ordenamento jurídico
pátrio, tal fato não significa que no Direito Administrativo Sancionador inexista respeito ao direito adquirido
e ao ato jurídico perfeito, sendo estes princípios aplicáveis ao processo administrativo.
33. Assim, no âmbito administrativo disciplinar, adota-se como decisão final aquela que termina
o processo em seu mérito. Embora o mérito possa ser revisto na via judicial ou até mesmo pela própria
Administração no seu poder de autotutela, tal circunstância não retira o seu caráter de decisão definitiva
no âmbito administrativo.
34. Quanto à estabilização das relações jurídicas no âmbito administrativo, cabe trazer à colação
precedente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que entendeu que a decisão administrativa exaure
aquela instância, podendo o ato ser revisto pelo Poder Judiciário:
(...)
5. "A decisão que aprecia as contas dos administradores de valores públicos faz coisa julgada
administrativa no sentido de exaurir as instâncias administrativas, não sendo mais suscetível de revisão
naquele âmbito. Não fica, no entanto, excluída de apreciação pelo Poder Judiciário, porquanto nenhuma
lesão de direito pode dele ser subtraída". (STJ. Resp 472399. Relator Ministro José Delgado. Primeira Turma.
DJ 19/12/2002 p. 351).
35. Registra-se que o pedido de revisão não é propriamente um recurso, mas um requerimento
a partir de fatos novos ou circunstâncias que visa desconstituir o ato administrativo deliberado em
processo administrativo sancionador já findo, que inaugura um novo processo. Por essa razão, tal previsão
não deve ser tida como ausência de término do processo disciplinar, mas como possibilidade de rescindir
decisão anterior diante de outros fatos não analisados no processo decidido anteriormente.
36. Assim, tendo havido tempestiva intervenção sancionadora disciplinar sob a égide da norma
anterior com o julgamento e aplicação da sanção pela autoridade competente, deve-se prestigiar o
interesse público resguardado sob a norma anterior.
37. O interesse público é um conceito recepcionado na CF, estando presente no capítulo próprio
dos Direitos e Garantias Fundamentais (artigo 19, inciso I), no capítulo dedicado à Administração Pública
(artigo 37, inciso IX), na disciplina das leis (artigo 66, § 1º), na atividade de gestão da função pública na
Magistratura (artigo 93, inciso VIII, e artigo 95, inciso II) e no Ministério Público (artigo 128, § 5º, inciso I,
alínea "b"). Esta presença constitucional significa que aos intérpretes não é dado ignorar ou reduzir sua
relevância no sistema jurídico, devendo cumprir a função de demonstrar as suas projeções normativas no
processo de concretização constitucional, sendo o Direito Administrativo Sancionador um dos
instrumentos dedicados a otimizar a realização do interesse público.
38. No resguardo do interesse público, muitas vezes torna-se imperioso a Administração utilizar
o seu poder sancionador disciplinar, com a aplicação de sanção de demissão do cargo público ou
cassação de aposentadoria contra aqueles que atentam contra bens jurídicos basilares e que atuam em
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12/11/22, 06:07 DESPACHO DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA - DESPACHO DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA - DOU - Imprensa Nacional
39. A sanção administrativa disciplinar não tem finalidade única, sendo uma das mais relevantes
a proteção do interesse público, com o concomitante resguardo dos direitos fundamentais dos
administrados. Nesse cenário, considerando que a sanção disciplinar é um meio de gestão institucional, e
não um fim em si mesmo, bem como que o corpo funcional deve sempre se adequar às exigências
impostas no ordenamento vigente da época, não é aceitável que determinados ilícitos tipificados,
praticados e sancionados sob norma anterior, sejam plenamente exculpados por força de retroação de
nova lei. Admitir-se tal hipótese é negar subordinação do Direito Administrativo Sancionador aos princípios
constitucionais da eficiência, proporcionalidade e economicidade, bem como negar o direito de os
cidadãos usufruírem de uma Administração com moralidade administrativa.
40. Com esta compreensão, o Direito Administrativo Sancionador não está submetido ao Direito
Penal, não podendo esse desnaturar a índole administrativista dos sistemas sancionadores administrativos.
41. O Direito Administrativo Sancionador tem a função de promover o atendimento aos valores
de coerência, racionalidade e segurança jurídica na tutela dos objetivos de interesse público. Não pode
eventual alteração legislativa ser utilizada para rever ato disciplinar aplicado sob lei anterior que teve
adequada legitimidade e eficiência na indispensável tutela do interesso público, sendo ato jurídico
perfeito.
42. O ato jurídico perfeito é o já consumado, que seguiu a norma vigente ao tempo em que se
efetuou e que o tornou apto a produzir efeitos, sendo expressão da garantia à segurança jurídica, a qual
assegura que as situações disciplinadas por uma lei continuarão protegidas mesmo que essa lei seja
revogada ou substituída por outra.
43. A vedação à retroatividade plena dos dispositivos inaugurados pela Lei nº 14.230, de 2021,
guarda submissão à tutela constitucional da probidade administrativa fixada no artigo 37, § 4º da CF. De
maneira que a consolidação de decisão proferida em processo disciplinar que condena servidor faltoso
não pode estar sujeita à superveniência da legislação, sob pena de causar instabilidade no relevante
interesse público de a Administração Pública manter em seus quadros apenas os servidores que
respeitem as normas constitucionais e infraconstitucionais no exercício de suas funções.
44. O princípio da segurança jurídica no seu aspecto objetivo, da estabilidade das relações
jurídicas, e no seu aspecto subjetivo, da proteção à confiança, leva em conta a boa-fé da sociedade que
acredita e espera que os atos praticados pelo poder público sejam lícitos e, nessa qualidade, serão
mantidos e respeitados pela própria Administração, ainda quando se está a falar do direito difuso que é a
probidade administrativa.
45. E nesse diapasão, o Direito Administrativo acabou por influenciar o contido no art. 927, §§ 3º
e 4º do CPC, o qual tem menção expressa à proteção da confiança para determinar que "na hipótese de
alteração de jurisprudência dominante do STF e dos tribunais superiores ou daquela oriunda de julgamento
de casos repetitivos, pode haver modulação dos efeitos da alteração no interesse social e no da segurança
jurídica". E ainda que "a modificação de enunciado de súmula, de jurisprudência pacificada ou de tese
adotada em julgamento de casos repetitivos observará a necessidade de fundamentação adequada e
específica, considerando os princípios da segurança jurídica, da proteção da confiança e da isonomia".
46. Na espécie, é preciso realçar que a improbidade na esfera disciplinar possui previsão
específica no artigo 132, inciso IV, da Lei nº 8.112, de 1990, sendo a utilização da Lei nº 8.429, de 1992,
apenas subsidiária. Além disso, as sanções administrativas aplicadas se deram em consonância com a
firme interpretação dada à norma pelos Tribunais Superiores acerca dos requisitos legais necessários para
definição do ato de improbidade.
48. Nesse panorama, convém trazer à colação a LINDB, ao preceituar, nas revisões
administrativas, a observância das orientações vigentes à época de sua prática:
https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/despacho-do-presidente-da-republica-442916526 10/20
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Art. 6º A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito
adquirido e a coisa julgada.
(...)
Art. 24. A revisão, nas esferas administrativa, controladora ou judicial, quanto à validade de ato,
contrato, ajuste, processo ou norma administrativa cuja produção já se houver completado levará em
conta as orientações gerais da época, sendo vedado que, com base em mudança posterior de orientação
geral, se declarem inválidas situações plenamente constituídas.
49. A norma acima vem proteger a segurança jurídica nos aspectos objetivo (estabilidade das
relações jurídicas) e subjetivo (confiança legítima quanto à validade dos atos emanados do poder público).
50. No que concerne à sanção a servidores públicos, é oportuno destacar que a Lei nº 8.112, de
1990, em seu artigo 132, inciso IV, previu, desde sua redação original, a pena de demissão para quem tenha
incidido em improbidade administrativa. A redação do Estatuto é anterior à Lei 8.429, de 1992, mas isso
não significa ausência de tipicidade da conduta, pois, desde 5 de outubro de 1988, a CF prevê o repúdio a
atos que atentem contra os princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência
(no seu artigo 37,caput). E o repúdio à improbidade administrativa não foi inaugurado pela Lei nº 8.429, de
1992. No passado, as Leis Pitombo Godoy Ilha e Bilac Pinto (Leis nºs 3.164, de 1º de junho de 1957 e 3.502,
de 21 de dezembro de 1958) instituíram a responsabilização por improbidade.
51. O ato ímprobo é fato jurídico passível de apuração e penalização nas esferas penal, civil e
administrativa. A diretriz constitucional estampada no artigo 37, 4º criou um sistema de combate a atos
ímprobos e, no que concerne ao servidor público, a sanção é devida uma vez atendida a exigência
constitucional fixada no artigo 41, § 1º, inciso II.
53. A corroborar a não aplicação da retroatividade das novas disposições da LIA aos casos
disciplinares já julgados no âmbito administrativo, convém trazer o entendimento do STJ de que a previsão
na lei estatutária de sanção disciplinar por ato de improbidade (artigo 132, IV) não é idêntica e não segue a
mesma natureza do previsto na Lei nº 8.429, de 1992 (MS 15.054/DF, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES
MAIA FILHO, Rel. p/ Acórdão Ministro GILSON DIPP, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 25/05/2011, DJe
19/12/2011), tendo concluído a Corte Superior que o tipo previsto no artigo 132, inciso IV da Lei nº 8.112, de
1990, continua válido sendo sanção disciplinar autônoma em relação à LIA. Isso porque, no procedimento
administrativo, o servidor responde por transgressão ao dispositivo legal que determina ser seu dever
proceder na vida pública e privada de forma que dignifique a função pública.
1. A chamada "Lei de Improbidade Administrativa", Lei 8.429/92, não revogou, de forma tácita ou
expressa, dispositivos da Lei 8.112/90, que trata do Regime Jurídico dos Servidores Públicos Civis da
União, das Autarquias e das Fundações Públicas Federais. Aquele diploma legal tão somente buscou
definir os desvios de conduta que configurariam atos de improbidade administrativa, cominando penas
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que, segundo seu art. 3º, podem ser aplicadas a agentes públicos ou não. Em conseqüência, nada impede
que a Administração exerça seu poder disciplinar com fundamento em dispositivos do próprio Regime
Jurídico dos Servidores, tal como se deu no caso vertente.
(...)
(MS 12.262/DF, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em
27/06/2007, DJ 06/08/2007, p. 461)
(...)
(...)
7. Segurança denegada. Agravo regimental prejudicado. (MS 12.536/DF, Relatora Ministra Laurita
Vaz, DJ de 26/9/2008)
[...]
IV - improbidade administrativa;"
E, como a Lei do Regime Jurídico Único não esmiúça as condutas passíveis de configurar
improbidade administrativa, o Administrador, validamente, se utilizou, de forma subsidiária, dos conceitos e
definições contidas na Lei nº 8.429/92, de onde se lê:
"Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da
administração pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres de honestidade, imparcialidade,
legalidade, e lealdade às instituições [...]."
"A conduta do autor foi tipificada no artigo 132, inciso IV, da Lei n.º 8.112/90. A CI, seguindo
entendimento já expresso pela Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional - Parecer PGFN/ CJU/N.º
155/2000, utilizou-se tão-somente dos conceitos contidos na lei n.º 8.429, de 1992.
[...]
https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/despacho-do-presidente-da-republica-442916526 12/20
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Como se vê, a Lei nº 8.112/90, de 1990 apenas se socorre subsidiariamente da Lei nº 8.429, de
1992 para conceituar o que é improbidade administrativa. Ademais, inclusive o processamento do
apuratório, atém-se ao rito definido na própria Lei nº 8.112/90, de 1990."
55. Cabe trazer trecho do voto do Ministro Gilson Dipp no MS 15054 que bem distinguiu a
infração disciplinar do ato de improbidade sujeito a processo judicial, afirmando a autonomia da sanção
disciplinar:
Em resumo, é possível admitir que uma infração disciplinar possa ser reconhecida como ato de
improbidade e sujeitar-se ao processo judicial correspondente, assim como reconhecê-la como crime e
sujeitá-la à ação penal, sem que, por uma ou outra circunstância, seja inviabilizada a autonomia da
investigação administrativa disciplinar.
Tanto é assim que a Constituição dispôs no art. 37, § 4º, com relação aos servidores, que os atos
de improbidade importarão na suspensão dos direitos políticos, perda da função pública, indisponibilidade
(e perda) de bens e ressarcimento ao erário.
Embora a lei estatutária do servidor também tenha previsto como causa de demissão o ato de
improbidade (art. 132, IV), daí não se segue que tenham uma só e mesma natureza como propõe o Ministro
Relator, visto que a infração disciplinar e o ato de improbidade legalmente submetem-se cada qual a
regime peculiar, e sobretudo, por essa mesma razão, não se excluem.
(...)
Isso significa dizer que as improbidades não previstas ou fora dos limites da Lei nº 8.429/92,
continuam sujeitas à lei estatutária funcional, ou até mesmo quando identificadas na lei de improbidade,
mas que pela importância ou envergadura não se sujeitem às penas ali cogitadas admitem a sanção
administrativa.
Assim, quando se pretende a caracterização de ato de improbidade previsto nos arts. 9º, 10 e 11
da Lei nº 8.429/92 e se pretende a aplicação das penalidades ali previstas além da demissão, a
investigação deve ser judicial. Ao contrário, se a improbidade é de menor importância que não resulte na
penalização da Lei de Improbidade ou não constitua improbidade contra a administração ou o erário, a
pena administrativa, inclusive de demissão poderá ser imposta em processo administrativo .
56. No mesmo sentido é o entendimento do STF. Extrai-se do voto do Ministro Roberto Barroso:
3. Anoto que a Lei nº 8.429/1992 não derrogou os dispositivos da Lei nº 8.112/1990 no que
tange à improbidade administrativa. Isso porque aquela lei trata de responsabilidade civil, enquanto a
segunda regula o regime jurídico-administrativo dos servidores públicos. Isto é, as normas disciplinam
responsabilidades distintas, pelo que não se confundem a pena administrativa de demissão por
improbidade, do estatuto dos servidores públicos, e a sanção civil de perda da função pública, da lei de
improbidade administrativa. São normas que convivem pacificamente no ordenamento jurídico, tendo em
vista a independência das instâncias. (...)
4. No caso, ao contrário do alegado, o agravante não foi punido com base na Lei nº 8.429/1992.
A autoridade administrativa apenas utilizou a definição de improbidade administrativa prevista na Lei nº
8.429/1992 para enquadrar as condutas do agente, mas ao fim, e dentro de suas atribuições
administrativas, aplicou-lhe a sanção prevista no art. 132, IV, da Lei nº 8.112/1990. Friso que, prevista a
prática de improbidade administrativa como ilícito disciplinar, com a respectiva penalidade, não poderia a
Administração Pública deixar de aplicá-la após regular processo administrativo. Seja como for, a demissão
do impetrante pautou-se também no art. 132, XIII, por transgressão ao art. 117, IX ("valer-se do cargo para
lograr proveito pessoal ou de outrem, em detrimento da dignidade da função pública"), ambos dispositivos
da Lei nº 8.112/1990. (STF.
RMS 33865 AGR/DF. Relator Ministro ROBERTO BARROSO. Primeira Turma. DJE 23/09/201).
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57. Dessa forma, considerando que a apuração disciplinar não se confunde com a ação de
improbidade probidade, por consequência tendo a falta disciplinar devidamente apurada em processo
disciplinar que acarretou sanção ao servidor, não cabe a revisão da penalidade com base na alteração
legislativa da LIA.
58. Importante ressaltar que é dever indeclinável da Administração apurar e punir os servidores
que vierem a cometer ilícitos de natureza disciplinar, por força do artigo 143 da Lei nº 8.112, de 1990, sendo
certo que, nos termos da remansosa jurisprudência do STJ, a Administração, diante de conduta
administrativa tipificada na Lei Estatutária, não tem discricionariedade na aplicação da sanção de
demissão, sendo ato vinculado:
(...)
(...)
8. Ordem denegada (STJ. MS 17.868/DF. Relator Ministro SÉRGIO KUKINA, PRIMEIRA SEÇÃO. DJe
de 23/03/2017).
(...)
11. Não obstante os procedimentos administrativos estarem sujeitos a controle judicial amplo
quanto à legalidade, uma vez verificado que a conduta praticada pelo servidor se enquadra em hipótese
legal de demissão (art. 132 da Lei 8.112/1990), a imposição dessa sanção é ato vinculado, não podendo o
administrador ou o Poder Judiciário deixar de aplicá-la ou fazer incidir sanção mais branda amparando-se
em juízos de proporcionalidade e de razoabilidade. Na mesma linha: AgInt no RMS 54.617/SP, Rel. Ministro
Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, DJe 12.3.2018; AgInt nos EDcl no RMS 50.926/BA, Rel. Ministra
Regina Helena Costa, Primeira Turma, DJe 27/11/2017; MS 21.197/RJ, Rel. Ministra Assusete Magalhães,
Primeira Seção, DJe 10.2.2016; EDcl no REsp 1.283.877/PR, Rel. Ministro Og Fernandes, Segunda Turma,
DJe 8.9.2014; MS 18.504/DF, Rel. Ministro Herman Benjamin, Primeira Seção, DJe 2.4.2014; MS 18.122/DF,
Rel. Ministro Humberto Martins, Primeira Seção, DJe 20.2.2013; MS 15.690/DF, Rel. Ministro Benedito
Gonçalves, Primeira Seção, DJe 6.12.2011; MS 15.437/DF, Rel. Ministro Castro Meira, Primeira Seção, DJe
26.11.2010; MS 11.093/DF, Rel. Ministro Rogerio Schietti Cruz, Terceira Seção, DJe 2.6.2015; RMS 35.667/PR,
Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, DJe 30.9.2013, e AgRg no REsp 1.279.598/SP, Rel. Ministro
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Benedito Gonçalves, Primeira Turma, DJe 31.10.2014. 12. No caso dos autos, o raciocínio é o mesmo, pois a
destituição de cargo em comissão será aplicada nos casos de infração sujeita às penalidades de
suspensão e de demissão, nos termos do art. 135 da Lei 8.112/1990.
(...)
17. Mandado de Segurança denegado (STJ. MS 24672/DF. Relator Ministro HERMAN BENJAMIN.
Primeira Seção. DJe 05/08/2020).
60. A proteção do patrimônio público e uma gestão pública honesta integra o rol de direitos
fundamentais, pois é o meio que se alcança o bem comum e a justiça social. Nesse panorama, para admitir
a retroatividade da lei mais benéfica no âmbito do Direito Administrativo Sancionador na tutela da
probidade administrativa é necessário partir do pressuposto de que a retroação guarde compatibilidade
com a CF e observe o princípio da concordância prática.
61. A probidade administrativa foi alçada a direito difuso fundamental no sistema de combate à
corrupção definido pela CF, o que impede a retroatividade da norma de forma irrestrita, sob pena de
violação do princípio da vedação ao retrocesso no enfrentamento de irregularidades.
62. Leciona José Antonio Remedio[4] acerca do direito difuso probidade administrativa:
A propósito, considera Pedro Roberto Decomain (2014, p. 27) que "tanto o patrimônio público
quanto o direito a que, no exercício de suas atividades funcionais, os agentes públicos atuem com a mais
estrita observância da probidade administrativa apresentam os elementos característicos dos direitos
difusos". Sobre o tema, Adriano Andrade, Cleber Masson e Landolfo Andrade (2016, p. 701-702) afirmam
que:
Não é difícil perceber, pois, que a tutela da probidade administrativa, interesse jurídico
titularizado por toda a sociedade, se insere na órbita dos interesses difusos, apresentando as suas
características marcantes, quais sejam:
(...)
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É inegável, nesse prisma, o direito fundamental do povo a um governo probo. A esse respeito,
considera o saudoso Teori Albino Zavascki (2017, p. 100):
O direito a um governo honesto, eficiente e zeloso pelas coisas públicas, tem, nesse sentido,
natureza transindividual - decorrendo, como decorre, do Estado Democrático, ele não pertence a ninguém
individualmente: o seu titular é o povo, em nome e em benefício de quem o poder deve ser exercido.
63. O Estado, na aplicação dos direitos fundamentais, também deve garantir à sociedade a
eficiência e a segurança, evitando-se a impunidade. O dever de garantir a segurança não está em apenas
evitar condutas criminosas que atinjam direitos fundamentais, mas também na apuração do ato ilícito e,
em sendo o caso, na punição do responsável.
64. Dessa forma, não obstante a aplicação da retroatividade da lei mais benéfica no Direito
Administrativo Sancionador, eventual eliminação de infração administrativa não induz, por si só, à
revogação da conduta, sendo essencial análise da questão sob o aspecto da proteção contra o retrocesso
referente aos atos de corrupção, conforme prevê o artigo 65, item 2, da Convenção de Mérida, bem como
do princípio da proporcionalidade e da razoabilidade, os quais são linhas a serem utilizadas contra a
proteção insuficiente dos direitos fundamentais, sendo a proteção ao patrimônio público e o direito à
gestão pública proba inequivocamente abarcados nessa proteção.
65. Nesse sentido é a ORIENTAÇÃO Nº 12/5ª CCR lavrada pela 5ª Câmara de Coordenação e
Revisão - Combate à Corrupção:
01. Não se aplicam os novos dispositivos dos artigos 9º, 10 e 11 da LIA alterados pela Lei
14.230/2021 a atos de improbidade ocorridos anteriormente ao início de sua vigência, pois, sendo as
regras originais parâmetros de garantia e efetividade da probidade, as novas condutas típicas, se
retroagirem, promoverão retrocesso no sistema de improbidade, cujas bases são constitucionais (artigo 37
- §4º), atentando também contra os compromissos assumidos pelo Brasil nas Convenções Internacionais
contra a Corrupção (OCDE, OEA e ONU), internalizadas como normas supralegais.
66. Portanto, uma vez aplicada a sanção administrativa, no exercício do Direito Administrativo
Disciplinar e na vigência da norma anterior não se aplica a retroatividade, pois a tutela constitucional da
probidade administrativa possui a eficácia para o futuro, sem a retroatividade da lei mais benéfica.
67. Assim, a mudança dos elementos normativos não incide sobre os processos administrativos
já julgados e as inovações condicionam o direito-dever de agir estatal somente daqui para frente.
68. A interpretação sistemática das inovações legislativas na LIA indica que não se estabeleceu
uma derrogação de todo e qualquer dispositivo presente em outra esfera que estabeleça sanção por ato
ímprobo, tampouco foi o objetivo criar lei mais benéfica ao acusado, pois seria inconcebível que uma lei
redigida para punir com rigor a improbidade administrativa no nosso País tenha terminado por enfraquecer
seu repúdio.
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69. A retroatividade da nova lei de improbidade não pode prejudicar o ato jurídico perfeito,
reconhecendo-se no caso a aplicação da retroatividade temperada ou mitigada, por meio da qual a lei
nova alcança e atinge os efeitos "futuros" de situações passadas consolidadas sob a vigência da lei
anterior. Em relação às situações consolidadas na vigência da norma anterior submetem-se ao regime
vigente ao tempo do seu processamento e decisão.
71. Cabe mencionar precedentes do STF que, mesmo diante de lei penal mais benéfica de
natureza mista (material e processual), reconheceram a validade de atos praticado sob a égide de lei
anterior, de forma que a aplicação da lei penal não necessariamente retroagirá em seu grau máximo,
observando-se o postulado dotempus regit actum:
(...)
5º).
4. Agravo Regimental a que se nega provimento. (HC 170.305 AgR/PR, Rel. Min. ALEXANDREDE
MORAES, Primeira Turma, j. 16/08/2019, DJe de 03/09/2019)
72. A reforçar que os princípios do Direito Penal não se aplicam ao caso em debate sem
temperamento e que nas causas de natureza cível se regulam pelo princípio dotempus regit actum,
colaciona-se precedente do STF em que ficou assentado que a retroação da norma mais benéfica é um
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princípio exclusivo do Direito Penal e que para causas de natureza cível se aplica a norma vigente à época:
II - O caráter jurisdicional do julgamento da prestação de contas não atrai, por si só, princípios
específicos do Direito Penal para a aplicação das sanções, tais como o da retroatividade da lei penal mais
benéfica.
III - Questão que se interpreta com base na Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro
(Decreto-Lei 4.657/1942), sendo esta a norma que trata da aplicação e da vigência das leis, uma vez que
não há violação frontal e direta a nenhum princípio constitucional, notadamente ao princípio da não
retroatividade da lei penal (art. 5°, XL, da CF/1988).
V - Agravo regimental a que se nega provimento. (STF. ARE 1019161 AgR, Relator Ministro
RICARDO LEWANDOWSKI, Segunda Turma. DJe de 12/5/2017).
73. A probidade administrativa está ligada à realização do interesse público, limitando à atuação
dos agentes estatais, bem como deve nortear a prática de todos os atos administrativos, constituindo-se
como direito fundamental difuso em virtude de sua transindividualidade e da indeterminabilidade de seus
titulares.
74. Assim, eventual atipicidade superveniente resulta apenas que em relação a eventos
passados praticados na vigência da lei anterior e que não foram à época sancionados não mais podem ser
punidos, pois a nova lei mais benéfica torna inviável a aplicação da sanção, que deixou de existir no
momento do julgamento, sendo a inovação legislativa aplicável para situações futuras.
75. A repressão à improbidade goza de proteção contra o retrocesso legislativo, conforme artigo
65, nº 2 da Convenção da ONU de Combate à Corrupção (Convenção de Mérida), de modo que a
revogação dos tipos outrora existentes ou a mudança dos elementos normativos não incidi sobre os
processos já julgados.
77. Por fim, em reforço argumentativo, convém trazer parte da NOTA TÉCNICA Nº 01/2021 - 5ª
CCR lavrada pela 5ª Câmara de Coordenação e Revisão - Combate à Corrupção que bem resumiu os
fundamentos que impedem a retroação absoluta das inovações promovidas na LIA:
4.4 O princípio da culpabilidade (artigo 5º, inciso LIV, e artigo 37, §4º da CF) demanda que lei
nacional indique ou afaste, na estrutura das condutas típicas, de forma expressa ou implícita, a forma de
elemento subjetivo (dolo, culpa, e suas modalidades, incluindo a voluntariedade), e, de forma excepcional
e justificada, explicite a configuração de responsabilidade objetiva na atividade sancionadora.
4.5 O princípio da irretroatividade (artigo 5º, inciso XL, e artigo 37, §4º da CF) exige que normas
nacionais materiais, ao disciplinar ilícitos e sanções, de forma mais gravosa, somente sejam aplicados para
atos de improbidade praticados após o início de sua vigência.
4.6 O princípio da retroatividade de norma mais benéfica (artigo 5º, inciso XL, e artigo 37, §4º da
CF) aplica-se de forma diferenciada no campo do direito administrativo sancionador, que não busca
primariamente a reprovabilidade de condutas ilícitas, sob a perspectiva retrospectiva, mas, ao contrário,
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constitui modelos normativos que tutelam bens jurídicos públicos (interesses públicos), de forma
prospectiva, valorando em grau superior a prevenção, dissuasão e repressão de atos ilícitos, exigindo que a
retroatividade seja disciplinada expressamente pela lei.
4.7 Demais disso, no campo da tutela da probidade administrativa, o artigo 37, §4º da CF impede
a retroatividade de novas normas mais benéficas como instrumento de vedação ao retrocesso no
enfrentamento de condutas ímprobas ou práticas corruptivas (em sentido amplo), e, mesmo que lei
nacional disponha sobre a retroatividade, é necessário juízo sobre a manutenção da conduta ilícita no
ordenamento jurídico como atentado ao princípio da moralidade administrativa.
4.8 Quando a lei nacional nada dispõe sobre a retroatividade - como foi o caso da Lei nº
14.230/2021, a alteração de tipos gerais e especiais exige igualmente este juízo sobre a continuidade
típica do ilícito, seja na própria Lei nº 8.429, seja à luz do artigo 37, §4º da CF.
4.9 Além da expressa previsão legal e da análise da continuidade típica, a retroatividade será
vedada quando as modificações legislativas nos elementos do sistema de responsabilização (ilícito e
sanção) foram relevantes e extensas, acarretando normas desfavoráveis e favoráveis e resultando na
reformulação complexa de tipos e sanções - como foi o caso da Lei nº 14.230/2021, de forma que não é
dado ao Poder Judiciário optar pela aplicação de um ou outro segmento do sistema de responsabilidade,
apenas para beneficiar os infratores, sob pena de o juiz competente acabar por instituir sistema não criado
pelo Poder Legislativo. Nesta hipótese, o Poder Judiciário deverá aplicar o sistema reconfigurado a partir
da vigência das modificações relevantes nele engendradas por lei nacional.
(...)
6. Não se aplicam os novos dispositivos alterados pela Lei nº 14.230/2021, que constam dos
artigos 9º, 10 e 11 da LIA, a atos de improbidade ocorridos anteriormente ao início de sua vigência, na
medida em que, constituindo parâmetros de garantia e efetividade da probidade, as novas condutas
típicas podem retroagir, promovendo retrocesso no sistema de improbidade, que mantém suas bases
constitucionais (artigo 37, §4º), retrocesso que igualmente atenta contra os compromissos internacionais
assumidos pelo Estado Brasileiro, nas Convenções Internacionais contra a Corrupção (OCDE, OEA e ONU),
internalizadas no ordenamento brasileiro como normas supralegais.
(...)
8. Não cabe a aplicação direta de princípios formulados no Direito Penal no campo normativo da
improbidade administrativa, por expressa disposição constitucional (artigo 37, §4º) e legal (artigo 1º, §4º da
LIA).
(...)
14. As normas de exclusão de responsabilidade, previstas no novo artigo 1º, §§ 3º e 8º, aplicam-
se somente para fatos ocorridos após a vigência da Lei nº 14.230/2021.
79. Por fim, cabe acrescentar que às alterações da LIA não se aplica o princípio penal doabolitio
criminis. Isso porque improbidade administrativa não se equipara a crime, conforme distinção feita pela CF
em seu artigo 37, § 4º. Dessa maneira, continuam regidas pela antiga normativa vigente à época em que
praticadas as condutasdolosasouculposas, bem como as suas respectivas sanções, que se adequavam às
tipologias e seus respectivos sancionamentos constantes da redação anterior da Lei nº 8.429, de 1992. Por
sua vez, as inovações da Lei nº 14.230, de 2021, serão aplicáveis somente aos fatos cometidos após a
entrada em vigor daquela Lei, isto é, a partir de 26 de outubro de 2021, bem como aqueles que, ainda que
praticados sob a norma anterior, não foram devidamente sancionados.
V - Conclusão
a) as inovações promovidas pela Lei nº 14.230, de 2021, na Lei nº 8.429, de 1992, não retroagem
em relação às sanções disciplinares aplicadas pela autoridade competente por ato improbidade
administrativa na vigência da norma anterior;
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b) aos atos ímprobos anteriores às inovações legislativas trazidas pela Lei nº 14.230, de 2021, e
não julgados aplica-se as diretrizes da nova norma, diante a análise do caso em concreto, desde que a
nova redação seja mais benéfica ao acusado.
c) aos atos ímprobos anteriores ao advento da Lei nº 14.230, de 2021, e não julgados até a
edição da referida lei, aplica-se a norma incidente ao tempo da prática dos respectivos atos (tempus regit
actum), se, diante da análise do caso concreto, extrair-se que a nova redação trazida pela Lei nº 14.230, de
2021, apresenta-se mais maléfica ao acusado, em comparação com a redação anterior, insculpida na Lei nº
8.429, de 1992.
À consideração superior.
Relatora
2. OSORIO, Fabio Medina. Direito administrativo sancionador. 5ª ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2015.
3. Emenda 40 PL 2505/2021 apresentada pelo Senador Dário Berger foi rejeitada na 12ª
Reunião Extraordinária realizada em 30/09/2021 no Senado. Eis o teor da proposta rejeitada:
"Acrescente-se ao Projeto de Lei (PL) nº 2.505, de 2021, onde couber, o seguinte artigo, dando-
lhe a numeração devida: "Art. Aplicam-se integralmente as disposições desta Lei aos processos em
andamento".
JUSTIFICAÇÃO
A presente emenda tem o objetivo de deixar expresso que as disposições da lei que resultar da
aprovação do PL nº 2.505, de 2021, que altera a Lei de Improbidade Administrativa (LIA), serão aplicadas
integralmente aos processos em andamento. BRASIL. Senado Federal, Comissão de Constituição, Justiça e
Cidadania. Parecer SF nº 14, de 2021, 29 de setembro de 2021, Relator Senador Weverton, p. 44. Disponível
em https://legis.senado.leg.br/sdleg-getter/documento?
dm=9022430&ts=1635251854642&disposition=inline. Acesso em: 12 abril 2022.
5. Expressão dada por Douglas Fischer - FISCHER, Douglas. Garantismo penal integral (e não o
garantismo hiperbólico monocular) e o princípio da proporcionalidade: breves anotações de compreensão e
aproximação dos seus ideais. Revista de Doutrina da 4ª Região , Porto Alegre, n. 28, mar. 2009. Disponível
em: http://www.revistadoutrina.trf4.jus.br/artigos/edicao028/douglas_fischer.html
https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/despacho-do-presidente-da-republica-442916526 20/20