Imunologia Básica: Parte 1: para Todos Os Estudantes Da Área Da Saúde
Imunologia Básica: Parte 1: para Todos Os Estudantes Da Área Da Saúde
Imunologia Básica: Parte 1: para Todos Os Estudantes Da Área Da Saúde
ESTUDANTES DA
ÁREA DA SAÚDE
Uma Viagem Encantada
pelo Sistema Imunológico
IMUNOLOGIA BÁSICA:
PARTE 1
Silvia Fernandes Ribeiro da Silva
Sônia Leite da Silva
FORTALEZA-CE, 2021
ISBN
CIP
ISBN 978-65-00-16891-4
CDU 577.27
__________________________________________________________________________________________________
Índice para Catálogo Sistemático:
1. Imunologia: 577.27
ISBN: 978-65-00-16891-4
O presente e-book foi elaborado por várias mãos para proporcionar a você,
estudante da área da saúde, uma leitura leve e simples da ciência imunologia,
considerada por muitos complexa e difícil. A sua complexidade assusta quando o
leitor, que a está estudando pela primeira vez, depara-se com inúmeros
componentes do sistema imunológico (células sanguíneas, células teciduais,
receptores, citocinas e anticorpos) e com um emaranhado de informações e
mecanismos abstratos, que, na concepção do iniciante, não se conectam e não
têm uma razão ou motivo para tal. Dessa forma, o estudante se questiona e, às
vezes, não entende por que tem que estudar imunologia.
“Um certo dia perguntei a um aluno se ele estava
gostando de imunologia. A sua resposta veio rápida e
clara: não, não estou vendo uma lógica na
imunologia.”
É fato que uma banda de rock precisa estar com o grupo completo, e os seus
instrumentos devem ser tocados em harmonia para que a melodia não se perca.
Assim é a ciência imunologia. Deve-se estudá-la conhecendo os seus
componentes e fazendo conexões entre eles para que os mecanismos envolvidos
em uma dada resposta imunológica sejam compreendidos como um todo.
Foi com essa intenção que eu e a Profa. Sônia Leite, em parceria com nossos
ex-monitores e com alguns alunos, apaixonados pela imunologia, escrevemos
este e-book de imunologia básica em três partes: Parte 1 - Imunidade Inata;
Parte 2 - Imunidade Celular; e Parte 3 - Imunidade Humoral.
A paixão que tenho pela imunologia nasceu em sala de aula, quando ainda era
estudante, e vislumbrava o Professor Naidu Talapala desenhando os variados
e complicados mecanismos de defesa do sistema imunológico utilizando um giz
branco e o quadro negro. Confesso que, a princípio, não foi fácil. Muitas vezes, eu
balançava a cabeça me questionando o que era aquilo. Hoje eu sei: era arte! A
arte de ensinar! O Prof Naidu explicava aquilo tudo, muitas vezes, sorrindo, mas a
arte de ensinar que ele empregava naqueles desenhos despertou o amor pela
imunologia que até hoje pulsa em mim. Depois de muitos anos, tive a
oportunidade de estar com ele em uma banca de mestrado como colegas de
profissão e, naquela ocasião, foi o momento ideal para agradecê-lo e dizer que
ele foi o culpado de eu ter me tornado professora de imunologia. Meu eterno
agradecimento.
IFN - Interferon
IL - Interleucina
M - Macrófago
PMN - Polimorfonuclear
ROS - Espécie reativa de oxigênio
Th - Linfócito helper
A palavra "arte" vem do termo latino que significa técnica ou habilidade e pode
ser expressa de diversas maneiras: na pintura, na escrita, na música, no teatro, no
cinema e no desenho.
Como escrever sobre imunologia sem a arte dos desenhos? É impossível.
Como fazer o leitor compreender a diferença teórica entre uma célula em
repouso e ativada? Não é fácil.
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Assim, para que possamos nos defender desses patógenos, contamos com um
sistema imunológico capaz de elaborar mecanismos de defesa que
proporcionem um estado de imunidade contra as infecções causadas por eles.
Introdução
A imunidade inata, como o próprio nome sugere, nasce com o indivíduo, é
natural, já está previamente pronta, ou seja, é independente de qualquer
exposição aos antígenos que venha a ocorrer após o nascimento.
Quando ocorre a invasão de microrganismos, a imunidade inata nos protege
nos primeiros minutos ou nas primeiras horas, sendo possível até nos primeiros
dias. Como descrito anteriormente, as células dessa defesa inicial estão
posicionadas no “front”, e os mecanismos utilizados pelos seus componentes
garantem uma resposta rápida e eficiente contra a invasão de antígenos.
Curiosidades
Você sabia que os PAMPs, ou padrões moleculares associados a patógenos, são
reconhecidos pelas células da imunidade inata? É dessa forma que essas células
reconhecem os microrganismos, porém não fazem a distinção entre eles.
Vale ressaltar que a imunidade inata não é formada somente por células. As
barreiras físicas e químicas também são importantes na proteção da primeira
muralha de Carcassonne.
Parte 1: Imunidade Inata
.
Curiosidades
Você sabia que a célula epitelial da nossa pele produz antibióticos naturais que
têm ação antimicrobiana? Pois é! Esse antibiótico é a defensina, que pode ter a
sua produção aumentada sob a influência de duas citocinas secretadas pelos
macrófagos, o TNF-alfa e a IL-1.
Parte 1: Imunidade Inata
Curiosidades
Você sabia que os transplantes de medula óssea são realizados com células-tronco
obtidas a partir da punção do osso das cristas ilíacas de um doador? Entretanto o mais
interessante é que o transplante é feito como se fosse uma transfusão sanguínea. As
células-tronco do doador são injetadas na veia do antebraço do receptor, e essas
células, quando se encontram na corrente sanguínea, dirigem-se para a medula, alojam-
se e, então, iniciam a hematopoese em sua nova casa.
Parte 1: Imunidade Inata
Curiosidades
Você sabia que a produção de neutrófilos pode ser acelerada na medula óssea
quando os precursores mieloides são estimulados pelas citocinas G-CSF (fator
estimulador de colônia de granulócitos) e GM-CSF (fator estimulador de colônia
de granulócito-macrófago)?
Você sabia que, no leucograma, 45,5% a 73,5% dos leucócitos são neutrófilos?
Pois é! Quando os seus valores estão acima de 73,5%, diz-se que o paciente está
com neutrofilia relativa, e abaixo de 45,5% de neutropenia relativa. As neutrofilias
ocorrem principalmente nos processos inflamatórios agudos, em resposta a
infecções bacterianas ou não, mas também se encontram na apendicite aguda e
no infarto agudo do miocárdio.
Eosinófilos
Quem sou eu? Sou bonito e gosto de me vestir bem. Cor? Adoro o
rosa! Gosto de andar em pequenos grupos e, às vezes, entro em
algumas paradas meio sinistras, que não cheiram bem, mas
enfrento-as com bravura.
.
.
Curiosidades
Você sabia que as citocinas GM-CSF, IL-3 e IL-5 promovem a maturação rápida
dos eosinófilos a partir dos precursores da linhagem mieloide presentes na medula
óssea? Pois é! Em uma infestação por helmintos, o Th2 secreta grandes
quantidades de IL-5, que estimulam a sua produção na medula óssea, com
consequente eosinofilia.
Parte 1: Imunidade Inata
Basófilos
B- Agranulócitos ou Mononucleares
Monócitos
Quem sou eu? Sou muito bonito e bem maior do que os meus
amigos leucócitos. Quando não estou me sentindo muito bem,
melhoro o astral indo para outro lugar e lá, rapidamente, me
transformo e fico ainda mais bonito. Gosto muito de comer. Juro
que não entendo os veganos!
.
Você se lembra do pus que citamos ao falar dos neutrófilos mortos? Pois é! Quem
limpa a bagunça deixada nessa batalha são os macrófagos, considerados os garis
do sistema imunológico.
C- Células Dendríticas
Quem sou eu? Sou muito antenada. Nada passa por mim sem que eu
perceba. Às vezes, as pessoas não me entendem porque eu não sei
guardar segredos. Mas garanto que só repasso coisas importantes.
Confie em mim...rsrsrsrsrs.
.
Curiosidades
Você sabia que, se as células dendríticas não funcionarem corretamente, a
imunidade tardia, chefiada pelos linfócitos T helper, terá dificuldade em defender
o nosso corpo? Os linfócitos T, apesar de poderosos, são dependentes das células
dendríticas para identificar o invasor. Dependência total!
As células ILCs não são linfócitos T helper CD4+, mas têm funções semelhantes
a eles. Por exemplo, os linfócitos T helper virgens, quando ativados, podem se
diferenciar em três subtipos de linfócitos T helper efetor: os Th1, Th2 ou Th7. E
cada um desses subtipos secreta diferentes citocinas e participa de diferentes
respostas imunes. Da mesma forma, as ILCs são também agrupadas em três
subtipos (ILC-1, ILC-2 e ILC-3), que diferem em função das citocinas que secretam
e dos seus papéis na nossa defesa.
Outra coisa que difere as ILCs dos linfócitos T é que as ILCs não expressam, em
suas membranas, um receptor típico dos linfócitos T, chamado TCR (receptor de
células T). Porém as ILCs pertencem à mesma linhagem dos linfócitos T, B e da
célula NK, ou seja, originam-se do mesmo progenitor linfoide na medula óssea.
Você sabia que o maior número de ILCs nas pessoas infectadas pelo SARS-CoV-2
foi associado com a menor chance de hospitalização e a menor duração de
hospitalização? Pois é! As ILCs têm um grande papel em manter a homeostase,
mantendo a integridade das barreiras epiteliais no pulmão e no intestino.
Você sabia que, com o aumento da idade, ocorre diminuição do número de ILCs
no nosso organismo? Pois é! Alguns autores acreditam que essa diminuição pode
explicar o fato de as infecções pelo SARS-CoV-2 serem mais graves nos idosos.
Mas também, aqui pra nós, de uma célula que tem um nome de “killer”, não
poderíamos esperar outra coisa, né? 😊😊
Parte 1: Imunidade Inata
Curiosidades
Você sabia que, na inflamação aguda, as células NK podem ajudar os
macrófagos, aumentando a sua capacidade microbicida? Sabe como?
Secretando uma potente citocina ativadora de macrófago chamada de
interferon-gama (IFN-gama).
F- Mastócitos
Quem sou eu? Todos dizem que tenho o pavio curto. Por qualquer
besteira, eu libero o conteúdo dos meus grânulos e, quando faço
isso, percebo que as pessoas não gostam muito. Ficam espirrando o
tempo todo. Desculpa aí! Prometo que vou me controlar.
.
Convite
Agora que você já conhece as principais células da imunidade inata, que tal
conhecermos um dos mecanismos utilizados pelos fagócitos para matar um
microrganismo: a FAGOCITOSE?
Parte 1: Imunidade Inata
Fagocitose
É um dos principais mecanismos utilizados pelas células da imunidade inata,
ditas fagócitos, para eliminação de patógenos do nosso corpo. A própria
palavra já nos dá essa pista do seu significado, já que o prefixo "fago" vem do
grego e quer dizer "devorar". É um processo ativo que ocorre com gasto de
energia. O seu objetivo final é a destruição de partículas grandes
(microrganismos) e de restos de células mortas.
Curiosidades
Você sabia que, no fagolisossomo, existem substâncias potencialmente
microbicidas que estão envolvidas na destruição dos microrganismos? São as
espécies reativas de oxigênio ou ROS: peróxido de hidrogênio (H2O2), ânion
superóxido (O2-), radicais hidroxila (OH-) e oxigênio singlete (1O2). Além dos ROS,
existem as espécies reativas de nitrogênio ou RNS: óxido nítrico - (NO) e as
enzimas proteolíticas (lisozima, elastase e catepsina).
Você sabia que o processo de formação dos ROS é chamado de explosão
oxidativa? Pois é! No lisossomo, há um complexo enzimático chamado de fagócito
oxidase (NADPH-oxidase), que capta o O2 molecular e o transforma em ROS,
sendo o H2O2 muito utilizado como antisséptico e alvejante.
Receptores de Reconhecimento
Como já relatado anteriormente, a primeira etapa que ocorre durante o
processo da fagocitose é o reconhecimento do microrganismo invasor ou de
células danificadas do nosso corpo. Esse reconhecimento é feito por receptores
expressos pelos fagócitos, como mostrado no macrófago da figura abaixo
(Figura 12).
receptores de membrana:
Toll-like (Toll);
Scavenger;
NOD-like (NLRs);
receptor transmembrana 7-alfa-hélice;
receptor de manose.
receptores ou sensores citoplasmáticos:
NOD-like (NLRs).
receptores presentes no endossomo:
Tipo RIG;
Toll-like.
Curiosidades
Você sabia que, durante uma infecção, várias células são danificadas pelos
microrganismos? Além disso, você sabia que, durante uma resposta inflamatória,
milhares de neutrófilos morrem em combate? Pois é! O sistema imunológico
precisa, a partir do reconhecimento dos DAMPs, retirar esses restos celulares para
que o tecido possa ser recuperado e restaurado.
Curiosidades
Você sabia que as células, quando se encontram em repouso, inativas, são
incapazes de secretar citocinas? Pois é! Isso vale para todas as células do nosso
sistema imunológico. Elas somente passam a produzir e a secretar citocinas
quando se encontram ativadas. Nunca se esqueça disso!
Opsonização
Por definição, é o processo de facilitação da fagocitose pela deposição de
opsoninas sobre a parede do microrganismo.
Convite
Agora que você já conhece os componentes celulares da imunidade inata,
incluindo os receptores de reconhecimento de padrões e os processos de
fagocitose e opsonização, vamos conhecer, a seguir, os dois principais
mecanismos pelos quais a imunidade inata pode nos proteger contra a invasão e
a infecção por microrganismos:
A INFLAMAÇÃO AGUDA e a DEFESA ANTIVIRAL.
Parte 1: Inflamação Aguda
Adah Sophia Rodrigues Vieira
Silvia Fernandes Ribeiro da Silva
Curiosidades
Você sabia que o patologista, quando visualiza a lâmina de um corte histológico
ao microscópio óptico, pode diferenciar uma inflamação aguda da crônica? Pois
é! Na inflamação aguda, o tecido fica repleto de neutrófilos, enquanto, na
crônica, as células predominantes são linfócitos e monócitos. Fica a dica!
Resposta Inflamatória
Estímulo Inicial
Para iniciarmos o estudo sobre inflamação aguda, vamos levar em
consideração o desenrolar da história de Alice para que, assim, possamos
responder, ao final deste capítulo, o que que aconteceu no tecido ao redor do
corte.
Curiosidades
Para entendermos melhor como funciona a quimiotaxia, vamos imaginar uma
situação em que você chega a sua casa depois de um dia longo na faculdade,
com muita fome e, ao abrir a porta, sente um cheiro de lasanha à bolonhesa.
Instintivamente, você segue o cheiro até o seu local de origem, a cozinha! Nesse
exemplo, você é a célula, o cheiro é a quimiocina, e a cozinha é o local para onde
a quimiocina quer que você vá. Fácil né?
Curiosidades
Você sabia que, como o TNF-α é uma citocina pró-inflamatória, existe uma
terapia medicamentosa (anti-TNF) que pode ser usada para tratar patologias
inflamatórias crônicas, como a artrite reumatoide? Pois é! Essa terapia é muito
utilizada na reumatologia.
IL-1 - Interleucina 1
Assim como o TNF-α, a IL-1 é uma importante citocina da resposta inflamatória
aguda, e sua principal fonte são macrófagos, monócitos e vários outros tipos
celulares.
Além de suas funções serem semelhantes às do TNF-α, a IL-1 também estimula
a síntese hepática de proteínas de fase aguda, cuja concentração aumenta em
resposta à inflamação (proteína C reativa, proteína ligadora de manose,
proteínas do complemento C3, fibrinogênio, componente sérico amilóide P). A
IL-1 age sobre as células-tronco, estimulando a medula óssea a aumentar a
produção de neutrófilos.
Curiosidades
Você se lembra do termo que utilizamos quando, no leucograma, o número de
neutrófilos está acima dos seus valores normais? Neutrofilia é o termo. Veja aí que
uma citocina, a IL-1, secretada pelo macrófago pode estimular a produção de
neutrófilos melhorando a eficácia do combate aos invasores.
Show, né? Um verdadeiro trabalho em equipe!
Parte 1: Inflamação Aguda
IL-6 - Interleucina 6
É uma citocina essencial para a progressão da resposta inflamatória. É
produzida por macrófagos, fibroblastos e células endoteliais em resposta tanto
aos PAMPs quanto ao TNF-α e à IL-1, exemplificando o efeito em cascata que
comentamos anteriormente. As principais funções dessa citocina são
semelhantes às da IL-1 (Figura 19), ou seja:
síntese hepática de proteínas de fase aguda (proteína C reativa, fibrinogênio e
proteína C3);
aumento da produção de neutrófilos na medula óssea;
participação da diferenciação dos linfócitos TCD4+ em Th17, que são os
linfócitos T secretores de IL-17.
Curiosidades
Você sabia que a proteína C reativa é muito usada na clínica como marcador da
inflamação aguda? O valor normal dessa proteína é < 0,5 mg/dL, mas, em uma
resposta inflamatória, o seu valor pode se apresentar 100 vezes acima do seu valor
normal, ou seja, quanto maior a intensidade do processo inflamatório maior a
quantidade de IL-6 produzida e maior a produção dessa proteína pelo fígado.
Convite
Agora que você foi apresentado às principais citocinas pró-inflamatórias, vamos
conhecer melhor duas células teciduais que participam diretamente da migração
dos neutrófilos do sangue para o tecido inflamado: os MACRÓFAGOS e os
MASTÓCITOS.
Macrófagos
Mastócitos
O mastócito é uma célula tecidual que, como já citado no
início deste capítulo, contém grânulos ricos em aminas
vasoativas, sendo as mais conhecidas a histamina e a
heparina, esta última com função anticoagulante. Esses
mediadores são liberados por um processo denominado
“degranulação” (Figura 21).
REVISANDO: antes de seguirmos com o nosso aprendizado, que tal fazer uma
breve recapitulação do que vimos até agora? Então, vamos voltar o raciocínio
para o corte no dedo de Alice. A ilustração a seguir resume brevemente o que
sabemos até agora (Figura 22). Veja o macrófago e o mastócito secretando seus
mediadores pró-inflamatórios em resposta à invasão tecidual por patógenos
(PAMPs) e à lesão tecidual (DAMPs), preparando o vaso sanguíneo e o endotélio
para a migração do neutrófilo do vaso para o tecido inflamado.
Selectinas
As selectinas são moléculas de adesão expressas nas células endoteliais em
resposta às citocinas TNF-α e IL-1 secretadas pelos macrófagos. Sob a ação
dessas citocinas, as células endoteliais passam a expressar as E-selectinas para
dentro do vaso, cujo ligante encontra-se nos neutrófilos, as L-selectinas. Porém
vale ressaltar aqui que essas moléculas têm baixa afinidade.
E o que isso quer dizer? No momento que o neutrófilo é atraído para a margem
do vaso sanguíneo pelas quimiocinas, a ligação entre a E-selectina e a L-selectina
ocorre, mas como é uma ligação de baixa afinidade e fraca, o fluxo sanguíneo
arrasta o neutrófilo, ele se desprende da parede do vaso e volta para o sangue. A
seguir, o neutrófilo tenta de novo se fixar na parede do vaso, mas, enquanto
existirem somente selectinas, ele ficará rolando sobre o endotélio e não
conseguirá se fixar.
Dica: E-selectina de “Endotélio” e L-selectina de “Leucócito”.
Integrinas
As integrinas, assim como as selectinas, são moléculas de adesão, porém de
alta afinidade. A integrina já é expressa na superfície dos neutrófilos, mas em
estado não ativado, ou seja, de baixa afinidade. Essa integrina só se torna ativa,
apresentando alta afinidade pelo seu ligante que está no vaso, chamado de
ligante de integrina, após a ação das quimiocinas secretadas pelo endotélio e
pelos macrófagos ativados. Por outro lado, os ligantes de integrina somente são
expressos na parede dos vasos sob a influência do TNF-α e da IL-1.
Parte 1: Inflamação Aguda
Curiosidades
Você sabia que o neutrófilo pode imobilizar o invasor e até mesmo matá-lo por
meio da extrusão de seu DNA e do conteúdo de seus grânulos ricos em enzimas
microbicidas? Pois é! Ao realizar isso, cria uma rede extracelular (NET), na qual o
patógeno fica preso e é destruído. Esse mecanismo somente é possível quando o
neutrófilo está ligado à matriz tecidual pela sua integrina. Porém esse processo,
apesar de eficiente, tem a desvantagem de acarretar a morte do neutrófilo.
Convite
A partir de agora, vamos abordar resumidamente os outros mediadores
produzidos durante a inflamação e que têm também importância nesse processo.
Bon courage à tous!
Mediadores da Inflamação
Os mediadores da inflamação são substâncias que regulam e controlam o
processo inflamatório. Eles podem estar presentes no plasma ou podem ser
produzidos por uma célula após um dado estímulo. Não vamos nos aprofundar
muito sobre esse assunto, apenas citaremos os principais mediadores e algumas
funções:
aminas vasoativas (ver tópico "Mastócito”): histamina e heparina;
citocinas (ver tópico “Citocinas”);
derivados do ácido araquidônico: prostaglandina: causa vasodilatação,
aumenta a permeabilidade vascular, induz febre e participa da quimiotaxia;
leucotrieno: causa vasoconstrição, estimula a quimiotaxia e aumenta a
permeabilidade vascular;
cininas: bradicinina: causa vasodilatação, aumenta a permeabilidade vascular
e acarreta dor;
sistema complemento (veja Parte 3: Imunidade Humoral).
Curiosidades
Você sabia que o ácido araquidônico é um componente dos fosfolípides da
membrana? Quando ocorre um estímulo, a fosfolipase A2 é ativada e vai atuar na
membrana, liberando o ácido araquidônico. Este, por sua vez, pode sofrer a ação
da cicloxigenase, dando origem às prostaglandinas, ou da lipoxigenase,
produzindo leucotrienos.
Parte 1: Inflamação Aguda
Mas não fique preocupado, pois, mais adiante, discutiremos isso com detalhes.
O que precisa ficar bem claro agora é que, se a imunidade inata falhar, a célula
dentrítica entrará em ação e fornecerá todas as informações sobre o antígeno,
nos mínimos detalhes, ao "todo poderoso linfócito T CD4+", que é o centro do
universo imunológico. Pense num cabra bom!
Curiosidades
Você sabia que temos dois tipos de moléculas do MHC, as de classe I e as de
classe II? E que cada uma apresenta peptídeos para linfócitos T diferentes? Pois
é! As moléculas de classe I apresentam os peptídeos para os linfócitos T
citotóxicos ou T CD8+, e as de classe II, para os linfócitos T CD4+. Falaremos mais
sobre isso no capítulo de Imunidade Celular (Parte 2).
Convite
Nas páginas seguintes, abordaremos a DEFESA ANTIVIRAL e os mecanismos
envolvidos para combater os vírus. Boa leitura!
Parte 1: Defesa Antiviral
Giovana Barroso de Melo Rios
Silvia Fernandes Ribeiro da Silva
Shirley Cristina Reis Ferreira
II - Defesa Antiviral
A defesa imune inata contra infecções virais ocorre pela ação dos interferons
do tipo I com a participação das células natural killer ou células NK.
Interferon do tipo I
Os interferons (IFN) do tipo I são citocinas produzidas por diferentes tipos de
células em resposta à infeção viral, sendo um importante mecanismo inato da
nossa defesa antiviral. Existem dois tipos de IFN tipo I: o alfa (IFN-α) e o beta
(IFN-beta), sendo que os IFN-α são os mais importantes na defesa antiviral e,
portanto, serão abordados com mais detalhe neste capítulo.
Quando um vírus injeta o seu material genético (RNA ou DNA) em uma célula
sadia, essa célula é estimulada a produzir e a secretar o IFN-alfa no meio
extracelular (Figura 26), que se liga a receptores específicos presentes nas
células vizinhas ainda não infectadas. Essa ligação ativa dois mecanismos: um,
que interfere na síntese das proteínas do vírus, bloqueando a sua replicação; e
outro, que ativa uma endorribonuclease, que decompõe os RNAs mensageiros
dos vírus, interferindo também na síntese dos produtos virais.
Curiosidades
Você sabia que o IFN-α, quando inibe a replicação viral, permite que as células
não infectadas formem um cordão de isolamento ao redor das células infectadas,
impedindo a disseminação do vírus? Bem pensado! Ponto para o sistema
imunológico inato!
Curiosidades
Você sabia que o IFN-α é muito usado na clínica? Pois é! Os infectologistas usam
o IFN-alfa como antiviral na terapêutica da hepatite C, e os oncologistas também
o usam no tratamento de alguns tumores.
Você sabia que, no início da pandemia da CoVid-19, a terapia com IFN-α foi
cogitada para inibir a replicação do vírus nos pacientes com infecção grave?
Agora que temos uma noção básica da ação dessa citocina, podemos perceber
que há uma lógica nessa tentativa de conter a infecção viral. O que você acha?
E se eu disser que um dos mecanismos de escape do SARS-CoV-2 é inibir a
produção do IFN-α pela célula infectada?
Ê! Ê! Eu odeio esse coronavírus!
Parte 1: Defesa Antiviral
Curiosidades
Você sabia que alguns vírus podem produzir proteínas que se ligam ao receptor
inibidor da célula NK? Pois é! Essas proteínas virais funcionam como ligantes do
receptor de inibição e, assim, inibem a ativação das células NK. Como
consequência, o vírus escapa do ataque da célula NK. Ponto para o vírus!
Convite
As páginas seguintes foram elaboradas para você com muito carinho. Elas
contêm questões para treinamento e immunogames. O objetivo inicial é testar o
seu conhecimento e, ao final, a ordem é se divertir um pouco com os
immunogames. As respostas encontram-se no final do e-book.
Parte 1: Questões para Treinamento
.
Parte 1: Immunogames
Parte 1: Immunogames
Parte 1: Immunogames
Parte 1: Nossas Referências
1. Resposta: b)
O item a) está incorreto, pois são os neutrófilos as principais células na inflamação
aguda, e não os linfócitos; o item b) está correto; o item c) está errado, pois são
liberadas IL-1 e TNF-alfa pelos macrófagos; Já o item d) também está incorreto, pois
esses são elementos da imunidade inata, e não da adquirida.
2. Resposta: 2-5-7-6-1-4-3
O nome do eosinófilo é devido ao fato de ele ser corado pela eosina (corante rosado). É
de fundamental importância na defesa contra helmintos e nos processos alérgicos. A
célula dendrítica é a principal apresentadora de antígeno no nosso sistema imunológico
e, apesar de fazer parte da imunidade inata, ela faz a apresentação para células da
imunidade adquirida. O mastócito é rico em grânulos, sendo crucial na produção de
mediadores inflamatórios, como na cascata do ácido araquidônico. A natural killer,
apesar de fazer parte da imunidade inata, é um linfócito. Rica em grânulos (perforinas e
granzimas), que age na indução da apoptose de células infectadas. Os monócitos são
fagócitos mononucleares que ficam na corrente sanguínea e, ao passarem para os
tecidos, amadurecem em macrófagos que podem residir naquele tecido e realizar
fagocitose quando necessário. Por fim, o basófilo é rico em grânulos negros de heparina
e histamina e fica na corrente sanguínea.
3. Resposta: item a)
A ordem correta das etapas da fagocitose é: primeiro, o reconhecimento por meio dos
receptores de DAMPS e PAMPS; depois, o fagócito emite pseudópodes (braços) para
englobar aquele patógeno; ao englobá-lo, há a formação do fagossomo (vesícula
endossômica) que, apenas em seguida, vai se fundir com o lisossomo e formar o
fagolisossomo; dentro dessa vesícula é que vai ocorrer a destruição do patógeno.
4. Resposta: item b)
O item a) está incorreto, pois a célula NK não é fagocítica, seu mecanismo de morte é
por meio da liberação de granzimas e perforinas; o item b) está correto; o item c) está
incorreto, pois tanto o mastócito quanto o eosinófilo não realizam fagocitose, uma vez
que seus mecanismos de morte baseiam-se na degranulação; o item d) está errado,
pois não cita a célula dendrítica como fagócito.
5. Resposta: item d)
O mecanismo de ataque do macrófago consiste na fagocitose, processo intermediado
por receptores reconhecedores de padrão (RRPs) e pseudópodes, os quais levam à
formação do fagolisossomo e à posterior destruição do patógeno por espécies reativas
de oxigênio, enzimas lisossomais e óxido nítrico.
6. Resposta: item c)
Existem três tipos de células com capacidade de apresentar antígenos: a célula
dendrítica, o macrófago e o linfócito B. Entretanto as que fazem parte do sistema
imunológico inato são a célula dendrítica e o macrófago, sendo a célula dendrítica a
mais eficaz entre as três.
Parte 1: Comentários das Questões
7. Resposta: item b)
Os interferons (IFN) do tipo I são citocinas produzidas por diferentes tipos de células em
resposta à infeção viral. Dentre eles, o mais importante na indução do estado viral é o
IFN-alfa. O item a) está incorreto, pois o IFN-y é responsável pelo aprimoramento da
função fagocítica do macrófago; o item b) está correto; os itens c) e d) estão incorretos,
pois apresentam citocinas pró-inflamatórias, uma vez que geram o início da cascata
inflamatória junto à IL-1.
8. Resposta: item b)
A célula NK é uma célula linfoide do sistema imunológico inato, responsável pela defesa
antiviral. Seu mecanismo de morte consiste na liberação de grânulos que levam à morte
celular por apoptose. Esses grânulos são as perforinas (proteínas que “perfuram” a
membrana da célula, iniciando um processo de lise osmótica) e as granzimas (proteases
que danificam o DNA da célula, levando à ativação das caspases e posterior apoptose
celular).
Parte 1: Resoluções dos Immunogames
CONVITE
Não PERCA!
Imunologia Básica:
Parte 2 e Parte 3
Parte 2: Imunidade Celular
Parte 3: Imunidade Humoral