Minicontos 2021
Minicontos 2021
Minicontos 2021
1ª edição
IEL-Unicamp
CAMPINAS
2021
Universidade Estadual de Campinas
Reitor: Antonio José de Almeida Meirelles
Vice-Reitora: Maria Luiza Moretti
Publicações IEL
Coordenadora: Jacqueline Peixoto
Layout e Arte-Final: Setor de Publicações IEL
Ficha catalográfica
Universidade Estadual de Campinas
Biblioteca do Instituto de Estudos da Linguagem
Leandro dos Santos Nascimento - CRB 8/8343
B862m
Bueno, Matheus Felipe Xavier, 1997-.
Minicontos e minicontos digitais : potencialidades dos gêneros para o
desenvolvimento dos letramentos e multiletramentos / Matheus Felipe
Xavier Bueno ; Orientadora: Roxane Helena Rodrigues Rojo. – Campinas,
SP : Unicamp / Publicações IEL, 2021.
99 p.
ISBN 978-65-87407-05-0
E-book no formato PDF
CDD: 418.4
AGRADECIMENTOS
É fato: tudo só foi possível graças ao apoio de meus pais, Ismênia Lopes Xavier
Bueno e Paulo Sérgio Bueno. Minhas referências de esforço, postura e afeto. Não
tenho palavras para descrever o abrigo que seus braços representam para mim.
Agradeço por sempre estarem ao meu lado nesta difícil empreitada da graduação
e da vida. Não poderia deixar de agradecer ainda ao meu avô Amauri Xavier, pelo
modelo de força, e ao meu tio Abel Xavier, pelo modelo de arte. Amo todos vocês.
Também é certo que este estudo não teria sido realizado sem a valiosa
orientação da professora Roxane Rojo (a rainha dos multiletramentos, como
secretamente também costumo chamar). Obrigado imensamente pelas aulas
incríveis, por ter me aceitado como orientando, pelo carinho, pelos conselhos e
por ter me acalmado nos momentos de ansiedade. Roxane, você sempre será uma
grande fonte de inspiração e permanecerá em minha mente como um exemplo
genuíno de vivacidade, cultura e conhecimento.
Agradeço a chance de poder ter experienciado o que é ser estudante em uma
universidade pública e de qualidade e serei eternamente grato a todos os docentes
do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) que contribuíram significativamente
para a minha formação. Agradeço também a oportunidade de poder ter trabalhado
junto ao ProFIS (Programa de Formação Interdisciplinar Superior). Agradeço
a todos os colegas monitores, graduandos e pós-graduandos, pelo intercâmbio
de sabedoria; aos alunos do curso por serem modelo de uma juventude valente,
entusiasmada e resistente; finalmente, agradeço à professora Cynthia Agra de Brito
Neves por ter demonstrado na prática o que é ser resistente, pelo apoio carinhoso,
por todo o aprendizado proporcionado e por todos os comentários preciosos em
minha banca de defesa. Já que cito minha banca examinadora, aproveito também
para agradecer imensamente à Fabiana Marsaro pelas dicas e conselhos importantes
que, sem dúvida, me fizeram refletir e me ajudaram a aprimorar ainda mais minha
pesquisa.
Por último, um agradecimento especial aos amigos de graduação Ana Carolina
Ricco, Carol Fazio, Gabriela Lage, Mariana Pinezi, Matheus Medeiros, Pedro
Nasevicius, Rafaela Florenzano, Vanderson Rosário, e ao amigo virtual Lucas Lima.
Obrigado pelas conversas deliciosas, pelos encontros memoráveis, pelas risadas,
pela intensa troca de conhecimentos e experiências, enfim, por serem um reduto
de alegria e força quando tudo ia mal - mesmo que não soubessem que tudo ia mal
- e por serem estes preciosos exemplos de inteligência, sensibilidade e resistência.
Obrigado por tudo, vocês são os fogos de artifício que jamais quero esquecer.
“O efeito único do microconto é como um raio de sol que
se refrata em todas as cores do arco-íris”.
Rauer Ribeiro Rodrigues
SUMÁRIO
AGRADECIMENTOS .................................................................................................... 3
INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 9
Novas tecnologias, novos textos, novos letramentos ..................................................... 10
Questões de pesquisa, objetivos e justificativa ................................................................ 14
Base teórica ............................................................................................................... 16
Metodologia ............................................................................................................. 17
MINICONTOS .......................................................................................................... 33
Contextualização histórica .......................................................................................... 36
Miniconto no Brasil .................................................................................................... 38
Especificidades do miniconto ...................................................................................... 41
Miniconto digital: o gênero na contemporaneidade ................................................... 52
METODOLOGIA .......................................................................................................... 59
A análise documental ............................................................................................... 59
Apresentação dos objetos de análise e critérios de seleção .......................................... 59
Percurso analítico ....................................................................................................... 62
REFERÊNCIAS ............................................................................................................ 95
8
INTRODUÇÃO
12
De fato, nossas práticas e experiências de leitura/escrita já não são mais as
mesmas. Novos textos (multissemióticos) requerem novos letramentos. Novas
competências e capacidades (KLEIMAN, 2014, p. 81) de leitura e escrita são
necessárias para que os enunciados hipermodernos sejam compreendidos e
produzidos. Hoje, precisamos “saber de muito mais, tanto materialmente, quanto
semioticamente” e precisamos “saber como fazer diferentes tipos de coisas novas
(coletiva e individualmente)” (LEMKE, 2010[1998], p. 456). Afinal, os textos
hipermodernos – compostos por uma multiplicidade de linguagens e mídias – fazem
surgir ainda novos procedimentos – “curtir, comentar, redistribuir, compartilhar,
taguear, seguir/ser seguido, remidiar, remixar, curar, colecionar/descolecionar,
colaborar etc.” (BRASIL/MEC, 2018, p. 487) –, exigindo que novas habilidades de
produção (tratamento de imagem/vídeo, edição de som, diagramação etc.) e de
análise crítica (ROJO, 2012, p. 21) sejam desenvolvidas pelos sujeitos que desejam
se integrar às novas sociedades e atuar de maneira mais significativa nas diversas
situações comunicacionais atuais.
Um dos questionamentos essenciais para os propósitos desta pesquisa é: qual o
papel da educação escolar, enquanto agência de letramento, em todo esse contexto?
Se as novas tecnologias transformaram as sociedades, os textos e os letramentos,
precisamos estar atentos à forma como elas também podem transformar “nossos
hábitos institucionais de ensinar e aprender” (LEMKE, 2010[1998], p. 468). De fato,
se hoje é preciso que sejamos (multi)letrados para que possamos lidar com os
textos/enunciados contemporâneos, é imprescindível então que a escola repense
suas práticas e se preocupe em formar alunos leitores-produtores aptos a lidar com
as diversidades culturais e as diversidades semióticas constitutivas dos textos em
circulação na sociedade contemporânea. Entretanto, parece que alguns obstáculos
ainda precisam ser superados para que as instituições escolares possam de fato
promover esta formação multiletrada.
Mesmo que as novas tecnologias tenham se tornado onipresentes no cotidiano
hipermoderno e tenham de algum modo adentrado os espaços escolares, Prensky
(2001) e também Kleiman (2014) escrevem sobre a existência de certa desarmonia e
desalinhamento entre os alunos nativos digitais e os professores imigrantes digitais,
entre ações e projetos pedagógicos tradicionais e as novas mentalidades e práticas
letradas contemporâneas. As escolas necessitam compreender que “os alunos de
hoje – do maternal à faculdade – representam as primeiras gerações que cresceram
com esta nova tecnologia” (PRENSKY, 2001, s./p.), isto é, o alunado que chega hoje
à escola é um alunado que já cultiva as novas mentalidades, linguagens, técnicas
e práticas letradas acarretadas pela popularização das novas tecnologias digitais e
seria importante que a escola acolhesse esses novos aparatos tecnológicos e essas
novas práticas de letramento, alinhando-se às demandas contemporâneas de leitura
e escrita e às necessidades desses novos sujeitos hipermodernos, compreendendo
13
“o quão estreita e restritiva foi, no passado, nossa tradição de educação letrada
para que possamos ver o quanto a mais do que estamos dando hoje os estudantes
precisarão no futuro” (LEMKE, 2010[1998], p. 461).
E no futuro, que já se faz presente, é imprescindível que os alunos saibam ler,
interpretar e posicionar-se (KLEIMAN, 2014, p. 88) criticamente perante o mundo
globalizado, tecnologizado, digital e multissemiótico no qual vivemos, perante os
discursos e textos contemporâneos multiculturais e multissemióticos. Para que os
estudantes possam de fato desenvolver tais capacidades de leitura e interpretação,
possam assumir tal posicionamento crítico e, consequentemente, possam se inserir
na cultura escrita e responder às demandas contemporâneas, é fundamental então
que a escola repense suas metodologias e assuntos/conteúdos (PRENSKY, 2001)
e desenvolva novos projetos que captem “o caráter múltiplo e plural [ou seja, o
caráter contemporâneo] do fenômeno do letramento, no qual as relações de sentido
se definem pela multiplicidade de sistemas semióticos envolvidos” (KLEIMAN,
2014, p. 88), elaborando propostas multiletradas que levem em conta os aspectos
éticos, políticos, linguísticos, sociológicos e também estéticos envolvidos neste
futuro-presente digital e tecnológico (PRENSKY, 2001) vivenciado por nós, sujeitos
cidadãos alunos e/ou professores.
14
principalmente o desenvolvimento de habilidades e capacidades de leitura. Os
gêneros escolhidos foram: a) miniconto verbal impresso e b) miniconto digital.
Se as “múltiplas exigências que o mundo contemporâneo apresenta à escola
vão multiplicar enormemente as práticas e textos que nela devem circular e ser
abordados” (ROJO, 2009, p. 108), acreditamos que os minicontos verbais impressos
e os minicontos digitais frutos dos tempos hipermodernos são ótimos exemplares
desses novos textos que podem – e devem – adentrar as salas de aula. Ao manifestar-
se de forma impressa e também digital, mobilizando conteúdo estritamente verbal,
mas também outras linguagens, nossa hipótese é a de que o miniconto é um texto
literário que, absorvido pela escola, pode colaborar para o desenvolvimento dos
letramentos, letramentos literários e multiletramentos dos aprendizes, permitindo
que os estudantes exercitem capacidades e habilidades de fruição, compreensão/
leitura (crítica) e, posteriormente, capacidades de produção/escrita (crítica) e que,
de alguma forma, experimentem também outros mundos/esferas de circulação dos
discursos e de exercício das práticas letradas, no caso em questão a esfera artístico-
literária e a esfera de práticas de letramento literário. É importante ressaltar ainda
que, devido ao tom mais ácido da maioria dos minicontos impressos ou digitais,
aconselhamos que nossa pesquisa e análise inspirem projetos voltados não somente
mas especialmente a alunos que frequentam os últimos níveis de ensino (Ensino
Médio), dada a idade mais avançada deste alunado.
Ao investigarmos minicontos verbais impressos e também minicontos digitais,
uma de nossas pretensões também é demonstrar como é importante que os alunos
percebam “as possibilidades expressivas das diversas linguagens [semioses]”
(BRASIL/MEC, 2018, p. 478). Como já pontuado anteriormente, é realmente
fundamental que os alunos na contemporaneidade saibam colocar em relação
o texto verbal escrito com outras semioses (imagem estática ou em movimento,
música, cores, objetos 3D etc.), compreendendo de que forma estratégias de
construção de sentido próprias à semiose verbal escrita – como pontuação,
operadores argumentativos ou colocação dos adjetivos na frase – podem unir-
se à estratégias de construção de sentido inerentes a outras linguagens em prol
de múltiplos efeitos de sentido. Seria interessante que os aprendizes pudessem
atentar para essas nuances semióticas, pois desta forma tornar-se-ão competentes
leitores e produtores de textos multissemióticos.
Por fim, poderíamos dizer que o presente projeto se encontra ainda em
consonância com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). O documento
reconhece que “muito por efeito das novas tecnologias da informação e da
comunicação (TDIC), os textos e discursos atuais organizam-se de maneira híbrida
e multissemiótica” (BRASIL/MEC, 2018, p. 478). Ao discorrer especificamente sobre
a área de Linguagens e suas Tecnologias e sobre a disciplina de Língua Portuguesa
no Ensino Médio, a BNCC também menciona o miniconto como um possível
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gênero a ser trabalhado dentro das salas de aula e estabelece que o aluno precisa
ser levado a “analisar, de maneira cada vez mais aprofundada, o funcionamento
das linguagens, para interpretar e produzir criticamente discursos em textos de
diversas semioses” (BRASIL/MEC, 2018, p. 483). Desta forma, ao investigarmos
as potencialidades pedagógicas dos minicontos verbais escritos impressos e dos
minicontos digitais, acreditamos estar alinhados aos preceitos postos pelo mais
recente documento educacional promulgado pelo Ministério da Educação.
Base teórica
Metodologia
17
18
Letramentos, multiletramentos,
novos (multi) letramentos e letramento literáio
Como define Rojo (2009, p. 11), “o termo letramento busca recobrir os usos e
práticas sociais da linguagem que envolvem a escrita de uma ou de outra maneira,
sejam eles valorizados ou não valorizados, locais ou globais, recobrindo contextos
sociais diversos (família, igreja, trabalho, mídias, escola, etc.)”. O termo “social”
é uma palavra-chave quando estamos a tratar de letramento. De fato, os estudos
sobre o letramento – ou pelo menos aqueles estudos que levam em consideração
o modelo forte de letramento (SOARES, 1999[1998]) – buscam de alguma forma
analisar e enfocar os aspectos sociais, culturais e ideológicos envolvidos nos usos
que fazemos da língua escrita e, consequentemente, nos usos que fazemos do ler e
do escrever. Isto é, o conceito de letramento entende as práticas de leitura e escrita
como práticas socialmente situadas e, desta forma, é um conceito que vai além do
que os conceitos de alfabetização e alfabetismo postulam sobre as práticas escritas.
O que a concepção de letramento faz é fugir de um escopo estritamente individual
para entender os “usos, funções e propósitos da língua escrita no contexto social”
(SOARES, 1999[1998], p. 66-67), ou seja, o letramento pretende evidenciar os
aspectos sociais que atravessam os usos da língua escrita e as competências de
leitura/escrita e, ao fazê-lo, passa a ser entendido como um fenômeno cultural
(SOARES, 1999[1998]).
Segundo as pesquisas sobre o letramento, letrado não é aquele que
simplesmente reconhece o sistema alfabético e possui certos níveis de alfabetismo.
Letrado, na verdade, é aquele que “cultiva e exerce as práticas sociais que usam a
escrita” (SOARES, 1999[1998], p. 47), aquele que se apropria e se apodera dos usos
sociais da língua escrita. Para os estudos sobre o letramento, o que de fato importa
é investigar como os sujeitos aplicam socialmente as competências/habilidades de
leitura e escrita, de acordo com as demandas de uma sociedade urbanizada e de
acordo com os contextos sociais, culturais e ideológicos nos quais estão inseridos,
contextos que agem sobre o quê, como, quando e por quê escrevemos e lemos
(SOARES, 1999[1998]). Ao menos são essas as preocupações e pretensões dos
estudos que se baseiam em um modelo ideológico de letramento, como nomeia
o pesquisador Brian Street em 1984, ou um modelo forte, como escreve Soares
(1999[1998]) e como já havíamos pontuado anteriormente.
Com relação ao modelo ideológico de letramento, duas de suas características
merecem destaque. Devemos ressaltar que tal perspectiva também recebe a alcunha
de forte e revolucionária porque, ao reconhecer que as “práticas de letramento 19
são aspectos não apenas da cultura mas também das estruturas de poder numa
sociedade” (KLEIMAN, 1995, p. 38), o modelo em questão depreende que um
indivíduo letrado seria aquele que, consciente dos sentidos sociais da leitura/
escrita e também consciente dos sistemas e relações de poder que regem as práticas
letradas, poderia se empoderar e modificar esses mesmos sistemas e relações.
Outra noção inerente ao modelo de letramento ideológico é a de que “as
práticas letradas são determinadas pelo contexto social” (KLEIMAN, 1995, p. 55),
ou seja, a noção de que os letramentos são socioculturalmente situados e, por
esse motivo, variam de um contexto para o outro (ROJO, 2009; BEVILAQUA,
2013). Se variam de um contexto para outro, podemos consequentemente deduzir
que contextos sociais e comunicacionais múltiplos darão vazão à existência de
múltiplos letramentos. Assim, torna-se evidente o fato de que o termo letramento
não deveria ser mais empregado no singular, mas sim no plural – os letramentos
–, afinal, sob uma perspectiva social forte, sabe-se agora que o letramento não é
apenas um, mas vários, múltiplos, diversos, heterogêneos.
Por fim, se os letramentos dependem das condições sociais, culturais e
ideológicas das sociedades e variam através dos tempos, espaços e culturas,
poderíamos então nos questionar: que tipos de letramentos nosso tempo, espaço(s)
e cultura(s) contemporânea(s)/hipermoderna(s) faz(em) emergir, um tempo e
espaço(s) atravessados pelas novas TDIC? Como já havíamos assinalado em nossa
Introdução, uma sociedade transformada pelas novas tecnologias proporcionará
a existência de novos textos e consequentemente exigirá dos indivíduos novas
habilidades de leitura e escrita e novas práticas de letramento.
Graças às possibilidades tecnológicas, digitais e multi/hipermidiáticas
viabilizadas pelas TDIC, é correto afirmarmos que na contemporaneidade
produzimos e fazemos circular pelos ambientes digitais ou não digitais novos textos
que são essencialmente textos multissemióticos, ou seja, textos cujos sentidos
são construídos através da combinação de múltiplas semioses e linguagens, seja
linguagem “verbal oral e escrita, musical, imagética (imagens estáticas e em
movimento, nas fotos, no cinema, nos vídeos, na TV), corporal e do movimento (nas
danças, performances, esportes, atividades de condicionamento físico), matemática,
digital etc.”(ROJO, 2009, p. 119). Em verdade, os avanços tecnológicos e a natureza
multissemiótica dos textos contemporâneos são responsáveis por transformar
nossas práticas sociais letradas e nossas maneiras de ler e escrever, ampliando a
“noção de letramentos para o campo da imagem, da música [e] das outras semioses
que não somente a escrita” (ROJO, 2009, p. 107) e, assim, requisitando novas
competências de leitura/escrita aos sujeitos hipermodernos. Com efeito, nos dias de
hoje, para que possamos adentrar as práticas letradas contemporâneas e possamos
interpretar os textos multissemióticos em circulação, não basta que dominemos o
letramento da letra. Ao contrário, precisamos compreender o verbal em relação à
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outras semioses e dominar os letramentos multissemióticos. Em outras palavras,
nos dias atuais, é preciso que sejamos não só letrados, mas também multiletrados.
Realizadas tais ponderações, podemos então perceber que no mundo
contemporâneo – urbano, globalizado, tecnológico, digital – os múltiplos
letramentos tornam-se enfim multiletramentos.
O conceito de multiletramento foi cunhado no fim da década de 90 pelo Grupo
de Nova Londres, ou New London Group, um grupo de estudiosos dos letramentos
(ROJO, 2012) – principalmente estudiosos dos campos linguísticos e pedagógicos
(BEVILAQUA, 2013) – que, cientes de que a multiplicidade linguístico-cultural e a
multiplicidade de canais e meios (modos semióticos) (BEVILAQUA, 2013) através dos
quais os indivíduos se comunicam são características inerentes ao mundo e aos textos
contemporâneos, reuniram-se em Nova Londres (Connecticut, EUA) com o intuito
de discutir justamente como esta nova conjuntura social hipermoderna transforma
não só nossas práticas de letramento como também nossas práticas pedagógicas,
isto é, o grupo buscava debater as novas práticas letradas contemporâneas mas
também estava especialmente preocupado em entender como se dão os “efeitos do
contexto contemporâneo altamente diversificado e crescentemente tecnologizado
sobre a escola” (BEVILAQUA, 2013, p. 103). Assim, em 1996, o autodenominado
Grupo de Nova Londres publica um manifesto batizado A Pedagogy of Multiliteracies
– Designing Social Futures (Uma Pedagogia dos Multiletramentos - Desenhando
Futuros Sociais), documento que reúne as discussões realizadas pelo conjunto de
pesquisadores e que promove então os conceitos de Multiletramento/Pedagogia
dos Multiletramentos, conceitos que defendem a necessidade de a escola
contemplar “os novos letramentos emergentes na sociedade contemporânea, em
grande parte – mas não somente – devidos às novas TICs” (ROJO, 2012, p. 12),
levando em consideração os novos indivíduos (multiculturais) e os novos textos
(multissemióticos) em circulação na contemporaneidade.
Sobre os multiletramentos, Rojo (2013, p. 14) é pontual ao afirmar que o conceito
busca justamente apontar, já de saída, por meio do prefixo ‘multi’, para dois tipos de
‘múltiplos’ que as práticas de letramento contemporâneas envolvem: por um lado, a
multiplicidade de linguagens, semioses e mídias envolvidas na criação de significação para
os textos multimodais [multissemióticos] contemporâneos e, por outro, a pluralidade e
a diversidade cultural trazidas pelos autores/leitores contemporâneos a essa criação de
significação.
32
MINICONTOS
Contextualização histórica
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Sobre o minimalismo, poderíamos pontuar que o movimento minimalista
foi realmente importante para o surgimento do miniconto contemporâneo.
Apesar de a corrente artística estar associada à cultura norte-americana e ter sido
formalmente nomeada como “minimalista” apenas nos anos 1960, a ideia de que a
simplificação das formas e a redução dos elementos de linguagem poderiam gerar
obras com máximos efeitos de sentido (SPALDING, 2008, p. 19-20) já era defendida
por muitos filósofos antigos e praticada por artistas europeus.
Enfim, seria correto afirmar que o encontro entre o minimalismo e a literatura
acelera o processo de miniaturização do conto. Nos EUA, por exemplo, Ernest
Hemingway e Raymond Carver são notáveis escritores que se apropriaram dos valores
minimalistas. Entretanto, é nas mãos de Monterroso que a estética é explorada ao
extremo e a mágica parece acontecer: ao publicar seu brevíssimo O dinossauro,
o autor guatemalteco reinventa e revoluciona o miniconto demonstrando que
apenas sete palavras são necessárias para que possamos contar uma história. É
desta forma que Monterroso possibilita uma abertura estrutural (PINTER, SILVA,
2012, p. 391) nunca vista antes e dita o futuro das microficções, influenciando a
produção e a disseminação de minicontos unifrásicos cada vez mais condensados.
De fato, o pontapé inicial dado pelo escritor já em 1959 impulsiona o florescimento
do miniconto contemporâneo e faz com que outros países – incluindo o Brasil –
passem a criar microficções à la Monterroso.
Miniconto no Brasil
É verdade que o Brasil não produziu tantos minicontos quanto outros países
latino-americanos, existindo poucas antologias ou trabalhos acadêmicos sobre o
tema publicados em terras tupiniquins (SPALDING, 2008; SILVA, 2013). Entretanto,
afirmar que o Brasil não possui uma tradição “minicontística” tão forte quanto
a tradição da América Latina não significa dizer que a miniaturização do conto
não tenha ocorrido também na literatura brasileira. Muitos textos brevíssimos já
estavam sendo produzidos por autores brasileiros desde o fim do século XIX e
parece certo que a “valorização da concisão e da velocidade como valores poéticos
[...] remetem, ainda, pelo menos aos modernos e modernistas [...]” (SPALDING,
2012a, p. 66-67).
Aqui, é importante que ressaltemos um fato. Mesmo que textos cada vez mais
condensados tenham sido escritos no Brasil durante o século XX, precisamos
sublinhar que tais produções brevíssimas não foram nomeadas ou reconhecidas
como minicontos pela crítica da época. É só nos primeiros anos do século XXI
que esse tipo de texto extremamente conciso é denominado especificamente como
miniconto e passa a ser diferenciado do “conto em si” (SPALDING, 2012a, p. 66).
Desta forma, se adotamos o termo “miniconto” em nossas próximas explicações
é porque nossos olhos contemporâneos conseguem reconhecer esses textos
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brevíssimos como tal, mas não porque foram taxados exatamente como minicontos
na época em que foram lançados.
Retornemos à brevidade e à concisão dos modernos e modernistas. Poderíamos
dizer que, de fato, no final do século XIX, um ideário minimalista já se fazia presente
em obras como as de Machado de Assis, por exemplo. Memórias Póstumas de Brás
Cubas (1881) já é um livro que contém capítulos mínimos, de uma página ou menos
(SPALDING, 2012a) e Um Apólogo (1885) é comumente indicado como o texto
precursor do miniconto no Brasil (SPALDING, 2008).
Algumas décadas mais tarde, Oswald de Andrade também desponta como um
relevante nome para as narrativas breves brasileiras. Influenciado pelo futurismo
italiano, Oswald defende a concisão das formas e cita a fragmentação, a agilidade
e a síntese como princípios que deveriam fundamentar o Modernismo brasileiro
(SPALDING, 2008). Assim, a partir dos anos 1920, a produção modernista do autor
paulista passa então a ser atravessada pelas noções de brevidade e velocidade e
Oswald escreve alguns textos que hoje poderiam ser qualificados como minicontos.
Embora a estética do mínimo tenha sido experimentada por Machado e
Oswald, é Dalton Trevisan quem mais energeticamente se apropria de concepções
minimalistas, tornando-se assim um dos autores mais importantes para a história
do miniconto brasileiro. Não poderíamos categoricamente garantir “que os textos
de Trevisan sejam os primeiros minicontos do Brasil, muito menos os únicos”
(SPALDING, 2008, p. 29), mas entre muitos pesquisadores parece ser consenso
que o escritor curitibano é peça-chave para o desenvolvimento do miniconto
contemporâneo na literatura brasileira.
A obra de Trevisan é uma obra corajosa e escorregadia, que desafia o limite entre
os gêneros literários (SPALDING, 2012a). Seria correto afirmar que a concisão é um
elemento constante em seus escritos e que a economia de recursos de linguagem é
praticada pelo autor desde muito cedo.
Dalton Trevisan estreia na literatura com o livro Novelas Nada Exemplares.
Lançada em 1959, a obra inaugural do ficcionista curitibano já contém textos
extremamente concisos que surpreendem a crítica da época (SPALDING, 2012a).
Nos anos seguintes, o autor passa a ser reconhecido pelos teóricos e pelo público e
torna-se um dos primeiros escritores brasileiros a figurar em antologias e pesquisas
– nacionais e internacionais – sobre as ficções brevíssimas. Alguns de seus textos
são incluídos em antologias brasileiras como O conto brasileiro contemporâneo,
por exemplo, organizada por Alfredo Bosi nos anos 70, e também em antologias
estrangeiras como Ficción Mínima: Muestra del cuento breve en América,
preparada pelo escritor venezuelano Gabriel Jiménez Emán, no final da década
de 90 (SPALDING, 2012a). Poderíamos entender esse reconhecimento nacional e
internacional de Trevisan como um indício da notoriedade que os contos mínimos
vinham conquistando no Brasil e no mundo.
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Trevisan é perito em recriar a narratividade de um conto em espaços ínfimos
(SPALDING, 2012a). A partir dos anos 60, o autor passa a apostar cada vez mais
na estética do mínimo e começa a desenvolver textos ainda mais condensados.
Entretanto, é na década de 90 que Trevisan leva o miniconto “a uma espécie de
limite” (SPALDING, 2012a, p. 71) e lança um dos livros que marcaria a história do
miniconto brasileiro.
Publicado em 1994, Ah, é? reúne 187 minificções, muitas delas unifrásicas, o que
o torna um livro precursor do miniconto à la Monterroso no Brasil (SPALDING,
2012a). Um dos grandes triunfos do volume foi ter possibilitado “uma espécie de
reinvenção do gênero [miniconto] na nossa literatura, reinvenção e revitalização
[...], suscitando novos debates e ampliando as possibilidades do gênero”
(SPALDING, 2012a, p. 72). Como pontua ainda Spalding (2008, p. 40), Ah, é? é uma
obra significativa porque “foi o impulso que faltava no Brasil para a miniaturização
do conto, fazendo com que uma onda de livros com micronarrativas fossem
publicados nos anos noventa”.
Em suma: o livro de Trevisan foi um divisor de águas e permitiu que o gênero
miniconto se consolidasse e se popularizasse no Brasil, principalmente a partir da
década de 1990. Com efeito, depois do lançamento de Ah, é? em 1994, muitos outros
livros de minificções começaram a emergir no cenário literário nacional. Em 1996,
Maria Lúcia Simões lança Contos Contidos, por exemplo; em 1998, são publicados
O filantropo, de Rodrigo Naves, e Pérolas no Decote, de Pólita Gonçalves; ainda em
1998, João Gilberto Noll passa a escrever micronarrativas para a Folha de S. Paulo,
reunindo-as mais tarde no livro Mínimos, Múltiplos, Comuns; e finalmente, em
1999, Luiz Arraes também começa a experimentar a estética do mínimo.
Segundo Spalding (2012a), 2001 é outro importante período para a maturação
do miniconto brasileiro: Carlos Herculano Lopes lança Coração aos Pulos; Fernando
Bonassi, Passaporte; Luiz Rufatto publica Eles Eram Muitos Cavalos; e Ítalo
Moriconi inclui algumas minificções em seu Os Cem Melhores Contos Brasileiros do
Século. A presença de minicontos na antologia de Moriconi é significativa porque
representaria certa “canonização dos minicontos, ou pelo menos [...] uma aceitação
dessa possibilidade estética para o ‘conto em si’” (SPALDING, 2008, p. 45).
Enfim, traçar esse pequeno histórico do miniconto no Brasil é essencial para
que possamos perceber como os textos brevíssimos, produzidos particularmente
a partir dos anos 90, exploraram e fortaleceram a estética da extrema concisão,
abrindo passagem para que, posteriormente, os minicontos contemporâneos
surgissem tal como os conhecemos hoje, ainda mais enxutos e ainda mais elípticos,
como diria Spalding (2008, p. 46).
Todo esse processo histórico de amadurecimento do miniconto brasileiro
resulta em obras contemporâneas como Os Cem Menores Contos Brasileiros do
Século, por exemplo, antologia organizada por Marcelino Freire em 2004, primeira
40
publicação no Brasil a reunir minicontos tão brevíssimos, de até cinquenta letras;
ou também Adeus Contos de Fadas (2006), de Leonardo Brasiliense, livro que reúne
microficções juvenis e vence o Prêmio Jabuti em 2007. No final, poderíamos dizer
que a existência desses volumes é uma prova de que no século XXI o miniconto
já havia se consolidado enquanto gênero literário particular, sendo especialmente
celebrado e produzido por muitos autores contemporâneos.
Especificidades do miniconto
42
microficção apresente uma alta carga dramática e narrativa e consiga impactar o
leitor.
A propósito, a narratividade é a segunda característica essencial ao miniconto
listada por Spalding em sua Pequena Poética. Com efeito, se estamos a entender “o
‘miniconto’ como uma espécie de conto em miniatura é preciso que além de breve
ele conte uma história” (SPALDING, 2008, p. 53, ênfase adicionada), ou seja, é
preciso que, além de breve, o miniconto seja narrativo. A narratividade refere-se
exatamente a essa competência narrativa do miniconto, à sua capacidade de relatar
uma história, de “narrar algo, contar a passagem de uma personagem de um estado
a outro, implicitamente [...] ou explicitamente [...]” (SPALDING, 2007, s./p.).
A narratividade é de fato uma qualidade fundamental às microficções, é o
elemento que dá vida ao gênero. Um miniconto que não é narrativo perde sua força
vital e torna-se uma mera descrição de cena, causando muito pouco impacto sobre
os leitores (SPALDING, 2007). Além disso, a narratividade ainda é importante
porque seria a propriedade que diferenciaria o miniconto de outros tipos de textos
curtos que não precisam necessariamente contar uma história, como haikais ou
poemas em prosa, por exemplo (SPALDING, 2007).
10 Tradução nossa:
Poderíamos dizer que um grande desafio enfrentado pelos estudiosos é “The challenge of
flash fiction is to tell
justamente entender como um texto extremamente diminuto como o miniconto a complete story in
which every word is
consegue mobilizar princípios narrativos e transmitir uma boa história em espaço absolutely essential,
tão exíguo (SPALDING, 2008, p. 5). Seria mesmo possível narrar algo em tão poucas to peel away the
frills and lace until
palavras? A fim de buscar respostas a essas incertezas, Spalding (2008) decide you’re left with
nothing but the hard,
investigar mais a fundo questões relativas à narratividade do miniconto e em sua clean-scraped core
of a story” (GURLEY,
tese de mestrado nos apresenta uma de suas principais ponderações sobre o gênero, 2000, s./p.).
Por funcionar como uma rápida síntese dos tópicos já desenvolvidos por
nós, finalizamos nossa exposição com esta citação e partimos então para nossas
elucidações acerca da emergência do miniconto digital, isto é, acerca da relação
entre o miniconto e as possibilidades digitais proporcionadas pelo mundo
conectado e tecnologizado no qual vivemos.
20 Disponível
em: <http://www.
samirmesquita.com.
br/>. Acesso em: 24
set. 2019
21 Disponível
em: <http://www.
samirmesquita.com.
br/doispalitos.html>.
Acesso em: 24 set.
2019
22 Disponível em:
<http://www.litera-
turadigital.com.br/
minicontoscolori-
dos/>. Acesso em: 24
set. 2019
57
58
METODOLOGIA
A análise documental
Percurso analítico
63
64
ANÁLISE DE DADOS
Heroísmo Inútil
Quando soltou os pulsos, o trem já estava em cima.
70 (SCHNEIDER, 2004)
A microficção de Schneider sem dúvidas é concisa, narrativa, exata, gera efeitos
e, o mais importante, está apinhada de aberturas e espaços em branco que devem
ser preenchidos pelo leitor. Seria correto alegar que o miniconto em questão
foi deliberadamente elaborado para ser dúbio e incerto. A narrativa unifrásica
contém tantas brechas e indeterminações que se constitui como um prato cheio
para a imaginação de quem a lê. São tantas lacunas e tão poucas micropistas
textuais que poderíamos afirmar que ao contrário das microficções analisadas
anteriormente, a criação de Schneider oferece uma maior liberdade à criatividade
do leitor, permitindo que ele interprete a história com base em conhecimentos
muito mais íntimos e subjetivos e conforme suas visões particulares de mundo. No
fim, tal liberdade interpretativa consequentemente implicará em uma pluralidade
interpretativa, afinal diferentes leitores, com diferentes repertórios de mundo,
compreenderão o mesmo miniconto de diferentes formas.
É certo que a palavra “heroísmo” no título – e aqui notamos mais uma vez
a importância do título enquanto gerador de sentidos – e o elemento narrativo
“trem” poderiam direcionar o entendimento dos leitores. De algum modo, tais
informações podem remeter o leitor aos clássicos filmes de super-heróis em que
o protagonista superpoderoso deve salvar uma vítima em perigo que foi amarrada
nos trilhos de um trem. Em verdade, essa interpretação só parecerá coerente para
aqueles leitores cujo repertório cultural se relacionar com o universo temático
dos super-heróis, e ainda que esse universo seja mobilizado, muitas histórias
ocultas diferentes poderiam ser imaginadas por aqueles que lerem o miniconto de
Schneider: seria a mocinha a vítima presa no trilho do trem, e o herói, ao tentar
salvá-la, não consegue desfazer as amarras a tempo de evitar a tragédia? Ou seria
o próprio super-herói que teria sido amarrado junto ao trilho pelo vilão? Ou ainda,
não há ninguém preso aos trilhos e a expressão “já estava em cima” se refere a um
trem que corre desgovernado em direção a uma cidade e o herói, preso em alguma
armadilha arquitetada pelo super-vilão, só consegue se libertar quando é tarde
demais e o trem já não pode ser mais parado? Isso se levarmos em consideração a
temática dos super-heróis. Se não, outros cenários, tramas e personagens poderiam
ser imaginados. Enfim, ler o miniconto Heroísmo Inútil é uma ótima oportunidade
de presenciarmos o poder das aberturas e também o leitor em ação.
A microficção de Jorge Furtado também viabiliza uma pluralidade de
sentidos e permite que o leitor seja livre para interpretar a história segundo seus
conhecimentos e experiências pessoais.
Aqui, o leitor será mais uma vez responsável por determinar as molduras
narrativas da trama e o fará segundo suas concepções particulares sobre a temática 71
do miniconto, a saber, relacionamentos amorosos: quem seriam os personagens?
Cônjuges? Amantes? Namorados? Um leitor mais ingênuo poderia supor que a
ligação telefônica entre os personagens está realmente comprometida, enquanto
outra pessoa pode entender que a falha no serviço de comunicação nada mais
é do que um subterfúgio projetado pelo personagem que não quer encarar um
iminente rompimento amoroso. Dentre as possibilidades interpretativas, fica a
critério de quem lê decidir qual é a mais coerente e qual fundamentá um possível
posicionamento ativo-responsivo do leitor.
Se os minicontos de Henrique Schneider e Jorge Furtado estimulam a
imaginação do leitor e permitem que ele maneje as aberturas de maneira mais
livre, não poderíamos dizer que as duas microficções apresentadas a seguir
fazem o mesmo. Como contraexemplos de certa “liberdade interpretativa”,
reproduzimos dois minicontos que, de algum modo, não autorizam interpretações
completamente pessoais por parte dos leitores. Ao contrário, exigem que eles
mobilizem conhecimentos de mundo precisos e específicos, ou seja, para que
possam compreender os sentidos do texto, o leitor deve ativar forçosamente
determinados saberes enciclopédicos e não outros. Vejamos.
20.
O tico-tico, ao dar com o negro filhote de chupim, não expulsa do ninho a
fêmea inocente?
(TREVISAN, 1994)
94.
Melhora muito o convívio de Sócrates e Xantipa assim que um deles bebe
cicuta.
(TREVISAN, 2000)
Vigília
Pronto nos olhos, o pranto só espera a notícia.
(CARRASCOZA, 2004)
Torpedo
— Foda-se!
Bel
21 9957-3280
13/12/03 23:45
(CUNHA, 2004)
74
Composto por imagens, objetos em movimento e determinados efeitos sonoros,
o site Dois Palitos nos parece especialmente interessante uma vez que proporciona
aos leitores novas experiências de leitura, permitindo que os internautas interajam
com os elementos dispostos em tela.
Seria correto afirmar que o ponto alto do projeto é seu caráter interativo: ao
acessar o endereço eletrônico, o leitor precisa clicar na imagem de uma caixa de
fósforos localizada exatamente no centro da homepage do site; ao fazê-lo, a caixa
se abre e revela vários palitos que guardam algumas microficções de Mesquita; o
leitor então deve explorar os palitos clicando sobre cada um deles; ao clicar em um
dos fósforos, o palito automaticamente se levanta, risca a caixinha – o movimento
é acompanhado pelo som de um fósforo riscando – e revela um dos minicontos do
autor que deve ser lido enquanto o palito queima ao lado da caixa – aqui, a ação é
também ilustrada pelo efeito sonoro do fogo corroendo o pequeno corpo de madeira
do fósforo. Com efeito, é necessário que o leitor leia o miniconto selecionado na
mesma velocidade em que o palito é consumido pelo fogo, visto que uma vez
queimado, o fósforo desaparece da tela levando consigo a microficção que não
pode ser mais revisitada pelo leitor, a não ser, é claro, que ele reinicie e recarregue
o site. É evidente que tal brincadeira nos remete à natureza fugaz do miniconto, um
texto brevíssimo e rápido lido num piscar de olhos – ou num queimar de fósforos –
e que, por essas razões, pode ser entendido como um texto que reflete os preceitos
das sociedades contemporâneas que prezam pela velocidade e dinamicidade das
comunicações.
Se a interatividade do site é um aspecto marcante e significativo, é importante
observarmos agora se o projeto também utiliza e relaciona variadas linguagens/
semioses de maneira produtiva. É verdade que o site é multissemiótico e que
os elementos empregados em sua elaboração – imagem estática (a caixa de
fósforos), imagens em movimento (o movimento do fósforo riscando e definhando
conforme é consumido pelo fogo), efeitos sonoros, o texto verbal das microficções
– contribuem e são essenciais para que os processos interativos se tornem tão
atrativos e interessantes. Entretanto, apesar de Spalding (2010) argumentar
que a iniciativa de Mesquita constitui-se como um projeto literário uno – e não
discordamos dessa afirmação –, poderíamos dizer que o conteúdo verbal e não 75
verbal do site não se conectam de forma intrínseca, isto é, os elementos verbais e
os elementos imagéticos e sonoros não multiplicam efeitos de sentido de maneira
mútua e os textos das microficções não completam ou não são complementados
pelo universo temático sugerido pela caixinha de fósforos. Apesar disso, é
extremamente necessário ressaltarmos que tal análise não diminui nem um pouco
o valor e a qualidade do projeto e dos minicontos de Mesquita. A título de exemplo,
observemos as duas microficções a seguir, retiradas do site Dois Palitos.
Compaixão
— Meus pêsames, não deviam existir caixões deste tamanho.
(MESQUITA, 2010 [2007])
76
Figura 3: 18:30, Samir Mesquita. Disponível em: http://www.samirmesquita.com.br.
Acesso em: 28 set. 2019.
Para que possa ler os minicontos, a tarefa do leitor é viajar com o cursor do
mouse pelo cenário a fim de encontrar dentre tantos carrinhos estagnados no
trânsito urbano aqueles que são clicáveis, pois só esses guardam as microficções de
Mesquita. Apesar dos valiosos componentes imagéticos, os objetos que compõem
a homepage não se movimentam, ou seja, a estaticidade aqui é maior do que no site
Dois Palitos. O único movimento relevante reproduzido pelo site é o movimento de
câmera zoom, que amplifica a imagem dos automóveis quando esses são clicados
pelo leitor. Localizado em um letreiro no canto inferior esquerdo do site, o subtítulo
“Um site estático em razão do horário” tenta ao mesmo tempo explicar a natureza
imóvel do endereço e reforçar o universo temático mobilizado por Mesquita.
Além disso, o projeto não se vale de efeitos de som, embora consideremos que
algum áudio pudesse agregar sentidos ao site, pois de fato muitas possibilidades
sonoras – buzinas, motores de carro etc. – poderiam ser exploradas dado o contexto
– trânsito engarrafado – representado no endereço eletrônico. No final, o fato de o
site trabalhar com o estático e o silencioso justifica nossa afirmação inicial de que
apesar de a página permitir certa interatividade, tais experiências interativas não
eram tão marcantes quanto poderiam ser.
Ainda que objetos em movimento e efeitos sonoros não tenham sido
elementos muito explorados pelo site, consideramos que em compensação – e ao
contrário do projeto Dois Palitos –, 18:30 é uma iniciativa de literatura digital que
consegue concatenar muito bem linguagem verbal e não verbal, aproximando
textos e imagens de maneira frutífera e significativa. No projeto em questão, os
elementos estritamente verbais e os imagéticos atuam em conjunto, isto é, o
encontro entre textos e imagens multiplica os efeitos de sentido de ambas as
semioses e o conteúdo verbal escrito dos minicontos e o conteúdo imagético
77
que compõem o site se complementam mutuamente. Com efeito, Mesquita
constrói suas microficções de modo que os sentidos evocados pelos textos e
pelas imagens possam se completar: se os minicontos verbais escritos escondidos
sob os carrinhos clicáveis se constituem como microficções temáticas, ou seja,
microficções que se conectam e se apropriam do universo temático – trânsito
engarrafado – materializado pelos elementos visuais do site e, ao mesmo tempo,
reforçam o imaginário automobilístico evocado pelas ilustrações do mapa, os
objetos imagéticos que constituem a homepage do projeto, por sua vez, também
cumprem papel fundamental e são responsáveis por completar os sentidos
dos minicontos escritos, contribuindo para que a narratividade, a exatidão, as
aberturas e os efeitos se concretizem de maneira eficaz e produtiva.
Assim, para que possam apreender os significados dos microtextos e possam
se posicionar ativamente diante das microficções de 18:30, é preciso que os leitores
levem em consideração em suas interpretações o modo como o verbal se relaciona
com o não verbal, compreendendo os texto e imagens do site como elementos que
se complementam. É essencial que o leitor atente-se para os sentidos acarretados
por essa aproximação de linguagens, pois só assim poderá entender as narrativas,
acessar as histórias ocultas e ser impactado pelos efeitos dos minicontos. Analisemos
alguns exemplos.
Levava todo mundo. Mas ele mesmo não sabia para onde ir.
(MESQUITA, 2011)
80
Na descrição do site, Spalding nos revela que as cores passíveis de serem
combinadas pelos leitores – ou seja, as cores vermelho, verde e azul – correspondem
às três cores primárias da luz. Tais cores compõem o que comumente denominamos
de escala de cores RGB – R representa Red (vermelho), G, Green (verde) e B indica
Blue (azul). É interessante destacarmos essas informações porque o sistema de
cor luz ou RGB é justamente o sistema de cor que torna possível a reprodução de
imagens coloridas em qualquer tipo de aparelho eletrônico com tela luminosa, isto 24 Aqui, é importante
ressaltarmos que as
é, é o sistema de cor empregado em televisores, computadores, aparelhos celulares, cores por si mesmas,
câmeras digitais, tablets etc. Ao assimilarmos tal curiosidade, podemos perceber enquanto percepções
visuais, talvez
que, de algum modo, o projeto idealizado por Marcelo Spalding constitui-se como não pudessem ser
consideradas como
um projeto metalinguístico – para pintar minicontos combinando tonalidades do uma linguagem/
semiose particular.
sistema de cor RGB, o leitor acessa um site que só roda graças a este mesmo sistema, Entretanto, no
ou seja, o leitor é levado a brincar com elementos que atravessam a estrutura e a projeto idealizado
por Marcelo Spalding,
natureza do próprio site – que reafirma a conexão existente entre os minicontos e seria correto dizer
que, de certo modo,
as tecnologias digitais contemporâneas, dado o fato de que as microficções podem o autor trata as cores
como uma linguagem,
ser amplamente acessadas e podem experimentar grande popularidade hoje devido encarando-as como
a esses aparelhos eletrônicos luminosos que permeiam o nosso dia a dia. signos não verbais
que se conectam aos
Com relação ao caráter multissemiótico do projeto, consideramos que Spalding signos verbais.
25 A título de
realiza um movimento interessante ao conectar o conteúdo verbal dos minicontos curiosidade e tendo
em vista nossa
escritos não à imagens figurativas – como fósforos ou automóveis –, mas sim à anterior discussão
cores, elementos sígnicos mais abstratos e intangíveis24, mas que podem evocar uma teórica sobre
os precursores
multiplicidade ainda maior de referentes e também de emoções dependendo dos brasileiros do
miniconto, é
conhecimentos, experiências e subjetividade de quem os aprecia. Com efeito, se as importante
pontuarmos que, em
cores podem evocar uma multiplicidade de objetos e sensações subjetivas, cremos que meados dos anos 50
também múltiplos e mais sutis serão os efeitos de sentido gerados pela aproximação e 60, muito antes da
grande popularização
entre texto e cor. É por essa razão que os minicontos coloridos de Spalding nos e aprimoramento
dos aparatos digitais,
parecem tão instigantes, pois propiciam uma sinestésica experiência de leitura que a Poesia Concreta
no Brasil já era
permite que as microficções sejam sentidas e interpretadas de variadas formas a palco de pioneiros
depender da sensibilidade dos leitores para com as cores e, consequentemente, para experimentos em
que textos e cores
com as possíveis relações entre cor e texto. Se levarmos em conta que, por motivos eram concatenados
em nome de novas
genéticos, uma mesma cor pode ser visualmente processada de distintos modos por experiências estéticas
e de leitura. Como
distintas pessoas, ainda maiores serão as possibilidades interpretativas e os sentidos exemplo, poderíamos
possíveis de serem atribuídos às conexões entre palavras e cores. citar algumas das
poesias produzidas
Associar cor e miniconto25 é realmente um empreendimento sedutor. por Augusto de
Campos, um dos
Entretanto, é necessário reconhecermos que dentre as associações cromático- maiores nomes
concretistas do país.
textuais materializadas pelo site, algumas nos parecem mais interessantes do
que outras. Em nossa percepção, certas aproximações se dão de maneira mais
simples e as relações estabelecidas entre texto-cor, apesar de esteticamente
consideráveis, não são tão ricas a ponto de fazer com que os leitores reflitam mais
profundamente sobre elas. Nesses casos menos instigantes, as cores empregadas
apenas ilustram referentes materiais trazidos pelos textos: uma cor de fundo verde
81
acompanhando um miniconto que discorre sobre árvores seria um desses casos
em que os efeitos estéticos podem ser produtivos, mas a conexão entre miniconto
e cor não exige maiores reflexões. Por outro lado, outras aproximações parecem
ter sido mais cuidadosamente elaboradas e as microficções e cores concatenadas
se complementam de maneiras um pouco mais significativas, gerando efeitos
estéticos e de sentido mais empolgantes.
A seguir, analisaremos alguns minicontos coloridos do site a fim de elucidarmos
como as relações (mais ou menos interessantes) entre textos e cores podem se
concretizar. Tomemos como primeiros exemplos as duas microficções abaixo, ambas
escritas por Marcelo Spalding. Além dos exemplares, também reproduziremos as
combinações de cores que devem ser necessariamente realizadas pelos leitores para
que possam ter acesso aos minicontos em análise, assim como as cores resultantes
de tais combinações.
Ela nunca perdoaria o marido por ter comprado aquela piscina sem antes ter
ensinado Marquinhos a nadar.
(SPALDING, 2013)
82
Figura 6: Minicontos Coloridos, Marcelo Spalding (Org.). Disponível
em: http://www.literaturadigital.com.br/minicontoscoloridos/miniconto.
php?vermelho=0&verde=50&azul=100&button=Pinte+seu+Miniconto. Acesso em: 29 jan. 2020.
83
Figura 7: Minicontos Coloridos, Marcelo Spalding (Org.). Disponível
em: http://www.literaturadigital.com.br/minicontoscoloridos/miniconto.
php?vermelho=50&verde=50&azul=75&button=Pinte+seu+Miniconto. Acesso em: 29 jan. 2020.
A cor está escolhida, mas e o tecido, mãe? Viscose, seda, cetim ou linho? A
festa já é amanhã! Saem com quatro sacolas. Na calçada, evitam o olhar da criança
com a roupa rasgada. (COUTO, 2013)
84
Figura 8: Minicontos Coloridos, Marcelo Spalding (Org.). Disponível
em: http://www.literaturadigital.com.br/minicontoscoloridos/miniconto.
php?vermelho=75&verde=0&azul=100&button=Pinte+seu+Miniconto. Acesso em: 29 jan. 2020.
No miniconto acima, de Ângela Couto, podemos perceber que a cor roxa sobre
a qual o miniconto se assenta não apenas ilustra algum objeto descrito pelo texto,
mas sim completa determinadas lacunas e aberturas da história: se a personagem
afirma que já escolheu a cor do vestuário que irá comprar para a festa, a coloração
da tela nos indica que roxo foi a cor escolhida por ela. Essa nos parece ser uma
aproximação mais produtiva entre texto e cor justamente porque aqui a tonalidade
que acompanha o miniconto funciona como uma pista que guia a interpretação do
leitor até os sentidos pretendidos pelo autor.
No caso da microficção em questão, seria correto afirmar que a cor roxa
potencializa os efeitos de sentido do texto ainda de outra forma: se ativarmos
determinados conhecimentos de mundo e compreendermos que o roxo é
muitas vezes entendido como símbolo de riqueza, nobreza, suntuosidade e luxo,
perceberemos então que no miniconto de Couto a cor roxa serve para acentuar a
disparidade entre a personagem com poder aquisitivo, que compra as melhores
roupas para frequentar as melhores festas, e a criança de rua, que veste roupas
velhas e rasgadas para frequentar as sarjetas da cidade. Sublinhada pela cor roxa, a
temática social abordada pela narrativa poderá impactar ainda mais os leitores. No
fim, se a cor associada ao miniconto de Couto fosse outra que não a roxa, seriam
outros também os possíveis sentidos transmitidos pelo texto.
Na microficção de Sandra Regina Guedes reproduzida abaixo, a cor de fundo
que acompanha o miniconto também orienta a interpretação dos leitores, e em
comparação ao microtexto anteriormente analisado, completa espaços em branco
da história de uma maneira um pouco mais interessante.
85
Figura 9: Minicontos Coloridos, Marcelo Spalding (Org.). Disponível
em: http://www.literaturadigital.com.br/minicontoscoloridos/miniconto.
php?vermelho=50&verde=0&azul=25&button=Pinte+seu+Miniconto. Acesso em: 29 jan. 2020.
87
confundindo-as. Além de conhecimentos sobre o daltonismo, certos saberes
sobre o funcionamento das regras e sinalizações de trânsito também deveriam ser
mobilizados pelos leitores para que pudessem interpretar o miniconto, visto que
o material linguístico do texto nos indica que um cruzamento é o local onde a
história acontece. Só em posse dessas informações o leitor compreenderá a trágica
narrativa, poderá ser impactado pela história e reconhecerá que a cor verde que
acompanha o miniconto é peça-chave para o entendimento do enredo e para a
construção dos sentidos.
No caso em análise, a cor mais uma vez não é mera ilustração, mas sim elemento
que desvela as histórias ocultas e completa os sentidos do texto. Ao levarmos em
consideração nossos conhecimentos de mundo e ao associarmos o conteúdo verbal
do miniconto à cor verde que o acompanha, podemos finalmente entender o porquê
daquele não ter sido mais um simples cruzamento para o menino daltônico: dado
o cenário da história – um cruzamento –, entenderemos que a cor verde de fundo
se refere às cores de um semáforo; conhecendo o funcionamento de um semáforo
para pedestres, saberemos que sua luz verde indica passagem livre, enquanto que
a cor vermelha avisa que devemos permanecer parados, pois o fluxo de carros
na rua torna a passagem perigosa; sabendo que uma pessoa daltônica confunde
cores, principalmente as cores verde e vermelha, o leitor captará que no miniconto
de Andrade o menino daltônico possivelmente foi vítima de um atropelamento,
uma vez que sua doença fez com que enxergasse o semáforo verde, quando na
verdade ele estava vermelho; assim, seremos fortemente impactados pela narrativa
ao entendermos que a cor verde de fundo não representa a cor que o semáforo de
fato sinalizou, mas representa a cor do semáforo segundo a perspectiva visual do
garoto daltônico. Assim, o verde elétrico que acompanha o miniconto torna-se
mais triste na medida em que percebemos que por trás dele há na realidade um
semáforo vermelho que teria impedido o acidente que acometeu o personagem
da trama. De certo modo, a microficção digital permite que enxerguemos pelos
olhos da personagem e é isso o que torna o miniconto colorido um pouco mais
comovente e provocador. A cor verde aqui, além de salientar certas informações
implícitas necessárias para o entendimento da narrativa, de alguma forma também
realça os efeitos dramáticos da história.
Em seguida, observemos o miniconto digital de Barbara Sanco:
88
Figura 11: Minicontos Coloridos, Marcelo Spalding (Org.). Disponível
em: http://www.literaturadigital.com.br/minicontoscoloridos/miniconto.
php?vermelho=100&verde=0&azul=75&button=Pinte+seu+Miniconto. Acesso em: 29 jan. 2020.
91
92
DISCUSSÃO DOS RESULTADOS E CONSIDERAÇÕES FINAIS
94
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Sobre o autor
Era uma vez um menino que queria dormir. Era uma vez um menino que
queria falar. Era uma vez um texto que queria sair. E essa é a história de como mais
uma noite foi passada em claro.
Matheus Felipe Xavier Bueno vive em Santa Bárbara d´Oeste (SP). Descobriu
seu amor pelas histórias que as palavras podem nos contar ao escrever, aos
sete anos, sua primeira fábula, na máquina de escrever de seu avô. Técnico em
Comunicação Visual, graduado em Letras pela Universidade Estadual de Campinas
(2019) e atual aluno no Programa de Pós-Graduação em Linguística Aplicada (PPG-
LA) da mesma instituição, continua a pesquisar sobre seu maior interesse teórico e
prático: uma formação educacional multiletrada que permita um trabalho criativo
e crítico com as múltiplas linguagens em sala de aula.
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