Língua Umbundo - Wikipédia, A Enciclopédia Livre
Língua Umbundo - Wikipédia, A Enciclopédia Livre
Língua Umbundo - Wikipédia, A Enciclopédia Livre
Atlântico-Congo
Volta-Congo
Benue-Congo
Bantóide
Meridional
Banto-estreito
Central
Njila
Njila do Sul
Cunene
Umbundu
Escrita: Alfabeto Latino
Códigos de língua
ISO 639-1: --
Umbundu[1][2][3][4] (umbundu; m'bundo, mbundu do sul, nano, mbali, mbari ou mbundu de Benguela)
é uma língua banta falada pelos ovimbundos povo originário das montanhas centrais de
Angola.[5] É a língua banta mais falada em Angola.[6][7]
O principal grupo étnico que a utiliza é o dos ovimbundos, que se concentra no centro-sul do
país. Um terço da população angolana pertence a este grupo étnico. Esta língua é usada por
cerca de 7 milhões[8] de pessoas como primeira ou segunda língua em Angola e é também
falada na Namíbia.
A grafia do nome da língua, sendo redigido umbundu no português angolano que este artigo
prioriza e umbundo em demais variações, como a portuguesa.
Difusão
Utilização
Umbundu, apesar de não ser reconhecido como uma das línguas nacionais de Angola, tem sido
usado extensivamente em projetos de alfabetização, incluindo um notavelmente conduzido pela
UNESCO em 1981-1982, que padronizou sua ortografia. Também é utilizado na Rádio Nacional
de Angola. É uma língua de comércio no país e se encontra em situação ativa,[8] classificada
como nível 3 na Escala de Interrupção Intergeracional Graduada Expandida (EGIDS).[10]
Enquanto 71,1% da população do país fala português, 23% fala umbundu, sendo as próximas
línguas mais faladas congo e quimbundo, com 8,2% e 7,8% de falantes respectivamente.[9]
Inventário Fonético
Consoantes
Consoantes do umbundu
Labial Alveolar Palatal Velar Glotal
simples p t t͡ʃ k
Plosiva
pré-nasal ᵐb ⁿd d͡ʒ ⁿg
Fricativa fv s h
Nasal m n ɲ ŋ
Aproximante w l j
Vogais
Vogais do umbundu
Anterior Central Posterior
Fechada iĩ uũ
Semifechada eẽ oõ
Aberta aã
Tons
Um tom alto é marcado pelo primeiro acento agudo (´) de uma palavra, enquanto um tom baixo
é marcado por acento grave (`). Todas as sílabas sem acento têm o mesmo tom da sílaba
anterior e, desde o começo de uma palavra até a ocorrência de um acento agudo, todas as
sílabas têm tom baixo.
Consoantes
Ocorrem algumas consoantes compostas no umbundu, que não contam como sendo duas
consoantes seguidas. Essas consoantes compostas são: ch, cuja pronúncia é [t͡ʃ], e nj, com
pronúncia [ⁿd͡ʑ].
Vogais
O encontro de dois sons vocálicos de duas palavras seguidas (no final de uma e no começo de
outra) causa modificações como mostradas a seguir:
a a a
a e e ou ae
a i e ou ai
a o a ou, raramente, u
a u o ou au
o qualquer vogal u
As combinações de vogal (como au, ai, eu, oi) apresentam acento tônico na penúltima vogal se
são finais na palavra. Se forem seguidas de consoante, o acento tônico está na ultima vogal.
Tanto i quanto u são semivogais quando seguidos de qualquer outra vogal.
Escrita
Alfabeto
Vogais
a e i o u
Consoantes Compostas
b c d f g j k l m ch
[ᵐb] [ʃ] [ⁿd] [f] [ⁿg] [d͡ʒ] [k] [l] [m] [t͡ʃ]
ny n p r s t v w y nj
[ɳ] [n] [p] [r] [s] [t] [v] [w] [j] [ⁿd͡ʒ]
Regras de escrita
No umbundu, palavras podem começar com vogais ou consoantes, mas terminam sempre em
vogais. Não ocorrem consoantes dobradas nem duas consoantes quaisquer seguidas
(consoantes compostas não são consideradas como duas consoantes seguidas), com exceção
de m antes de p e b ou n antes de g, j e d. Neste caso, m e n representam somente a nasalização
da consoante que o segue.[12]
Morfologia
Nomes
Gênero e classes
Gênero
Classes
Todos os nomes no umbundu são classificados por meio da atribuição de prefixos. São
chamados de prefixos nominais os que compõem o nome a que se referem e indicam classe e
número, variando com singular e plural. Já os prefixos chamados de pronominais se antepõem
a outros termos (como verbos, advérbios, adjetivos) que se referem a um nome para indicar
concordância entre o nome e o termo.
O umbundu tem nove classes, cada uma com um prefixo para o singular e um para o plural, com
três classes tendo duas versões (ver classes completas e reduzidas na seção de artigos). Essas
classes abrangem diferentes tipos de substantivos, como seres animados, partes do corpo
humano, utensílios, termos abstratos e diminutivos.
Classe
Prefixos
Prefixos nominais
(numeração pronominais
varia de Abrange
acordo com Muito ou
Singular Plural Singular Plural
autores) pouco usada
partes do corpo
humano e termos
3a i- ova- pouco abstratos que vêm em
números grandes ou em
li- a-/va-
pares
grandezas, partes do
3b e- a- muito corpo humano e termos
abstratos
muito usada,
mas com
diminutivo e coisas
7 oka- otu- poucos ka- tu-
pequenas
termos
originais
oku-
(prefixo mais
partes do corpo
usado para
9 ova- pouco ku- a-/va- humano e expressões
indicar
verbais
infinitivo em
verbos)
Artigos
O o- que precede muitos dos prefixos é o único artigo presente na língua. Ele é um artigo
definido e não sofre flexão de gênero nem de número. As classes em que ambos os prefixos
nominais (singular e plural) contêm esse artigo são consideradas em forma completa, enquanto
as que não os têm são chamadas de forma reduzida. Classes com um prefixo contendo o artigo
e outro não são chamadas de semirreduzidas. Para as classes que têm formas completas e
formas reduzidas ou semirreduzidas, a forma semirreduzida ou reduzida é mais usada.
Derivação nominal
Por via de regra, substantivos derivam de verbos (e nunca o contrário) e, muito raramente, de
outros substantivos.
A derivação a partir de outros substantivos acontece pela troca de um prefixo nominal por outro
e, também, pela modificação da última vogal do radical.
Substantivos simples
oku-kava
Troca do prefixo indicador do infinitivo do verbo (oku-) para o
(estar
prefixo da classe 1b (u-, a-) correspondente e modificação da
Agentes de verbo cansado)
última vogal do radical para o correspondente da classe 3b (e-,
para e-kavo
a-) e modificação da última vogal do radical para o.
(cansaço)
oku-tunga
Objeto de uma Troca do prefixo para o correspondente da classe 4 (edificar)
ação expressa (otchi-/otxi-, ovi-) e modificação da última vogal do radical para para ochi-
pelo verbo u ou i . tungu
(edifício)
oku-landa
Para a (comprar)
Troca do prefixo para o correspondente da classe 5 (o-, olo-) e
ação para o-
modificação da última vogal do radical para a.
Nome em si ndanda
descritivo (compra)
de uma oku-imba
ideia Para o (cantar)
verbal agente Troca do prefixo para o correspondente da classe 5 (o-, olo-) e para
da modificação da última vogal do radical para i.
o-muimbi
ação
(cantor)
o-ngombe
Derivação (boi) para
Troca do prefixo para o correspondente da classe 1b (u-, a-) e
substantivo-
modificação da última vogal para i, o ou a. u-ngombo
substantivo
(pastor)
Substantivos compostos
Situação inicial:
o-njo i-a o-
hango*
a casa ela de
conversação
(casa de conversação)
União do
Ocorre por meio da supressão do conector resultando em
substantivo
alteração das vogais finais da 1ª palavra e/ou iniciais da Situação final:
e seu
2ª. o-njohango*
descritor
sala
(ocorrência de
supressão do final
de njo, e do ligante, i-
a)
oku-linga u-pange
Junção de
Troca do prefixo para o correspondente da classe 5 (o-, (fazer trabalho) para o-
um verbo e
olo-). ndingupange
seu objeto
(trabalhador)
Dote,
och-sok (auxílio) para
profissão Adição da palavra “possuidor” (ukua) a substantivos que
uku’-ochisoko
ou representam qualidades ou vocações.
(ajudante)
propriedade
*uma palavra cuja grafia termina por ter nk acaba sendo, em realidade, pronunciada como [h].
Por esse motivo, apesar de esta letra (h) não figurar no alfabeto apontado, alguns autores
escolhem grafar a pronúncia diferenciada desta maneira.
Adjetivos qualificativos
Como na maioria das línguas bantu, a quantidade de adjetivos é pequena e eles, no geral,
indicam características como natureza, dimensão e idade. Os adjetivos aparecem pospostos ao
termo que descrevem, concordando com eles somente por meio dos prefixos pronominais.
-mbumbulu curto
Pronomes pessoais
A segunda classe é constituída de sufixos que se antepõe a verbos para indicar o sujeito de
uma ação, não podendo ser usados independentemente.
Já a terceira classe é composta por infixos que se incluem também em verbos, mas entre os
pronomes da classe 2 e os radicais verbais, a fim de indicar o objeto de um verbo.
Um exemplo de uso de pronomes da primeira classe é ame António (eu sou António), já que
esse pronome pode ser usado com ou sem presença de um verbo. Com presença verbal, dois
exemplos são ame ndi-tanga (eu estudo) e ame ndi-lila (eu choro).
Dois exemplos de pronomes da segunda classe são: tu-feta (nós pagamos) e o-mona (ele vê).
Um exemplo de pronome da terceira classe é: ndi-u-ipa (eu o mato), pertencendo o sufixo ndi à
segunda classe e sendo equivalente ao "eu", enquanto o infixoo -u- é da terceira classe e
equivale ao "o", indicando o objeto de "mato".[13]
eu ame
Singular
comigo l'ame
1ª
nós etu
Plural
conosco l'etu
tu ove
Singular
contigo k'ove
2ª
vós ene
Plural
convosco k'ene
ele/ela eie
Singular
com ele/com ela v'eie
3ª
eles/elas ovo
Plural
com eles/com elas v'ovo
Classe 2: Se antepõem a verbos para indicar concordância em relação ao sujeito, não são
usados independentemente
ndi-
singular
1ª ngi- ou ngu- são usados raramente
plural tu-
u- antes de vogal
singular
2ª o- antes de consoante
3ª
u- antes de vogal
(só se aplicam a seres da 1ª classe,
singular o- antes de consoante
para as demais se usam seus prefixos
pronominais correspondentes)
plural va-
Classe 3: Infixos postos entre prefixo pronominal do sujeito e radical verbal para indicar o
objeto do verbo
-ngu-
singular
1ª -ndi- é menos usado
plural -tu-
singular -ku-
2ª
plural -u- ou, raramente, -vu-
3ª
-u- antes de vogal
(só se aplicam a seres da 1ª classe,
singular -o- antes de consoante
para as demais se usa seus prefixos
pronominais correspondentes)
plural -va-
Pronomes possessivos
1. meu: ange
2. teu: ove
4. nosso: etu
5. vosso: ene
Verbo
Em umbundu, as concordâncias do verbo com pessoa e número são indicadas pelos pronomes
pessoais da segunda classe. Esses precedem um radical verbal e carregam em si a informação
do número e pessoa do sujeito do verbo.
Tempo e modo
O umbundu possui cinco tempos verbais, passado remoto, passado próximo, presente, futuro
simples e futuro composto, representados, em geral, pela adição de partículas além dos
prefixos pronominais e do radical verbal. Em relação a modos verbais, a língua tem quatro, o
indicativo, o imperativo, o subjuntivo e o infinitivo.
Tempo verbal
para o indicativo,
Nada é adicionado, nem removido da forma verbal que se forma por exemplo: tu-
Presente
na indicação do modo. feta (nós
pagamos)
*Obs: o passado remoto é mais usado em conversas informais, muitas vezes assumindo a
posição do passado próximo.
Modo verbal
ndi-feta (eu
pago) para ndi-
Subjuntivo O radical tem sua última vogal mudada para e.
fete (que eu
pague)
oku-mona (ver) e
Infinitivo O radical é precedido do prefixo oku-.
oku-feta (pagar)
Além de conjugações de tempo e modo, o umbundu apresenta outras formais verbais para
indicar diferentes fenômenos. São elas: a forma causativa, a forma passiva, a forma relativa, a
forma reflexa e a forma duplicada.
Forma causativa
A forma causativa é usada para indicar uma situação em que o sujeito não é necessariamente o
agente de uma ação, mas sim o causador de uma ação, como, por exemplo, quando o sujeito é
o mandante de uma ação efetuada por outras pessoas. Essa forma é indicada por meio da
substituição da vogal final por -isa, como no exemplo a seguir: -mona (ver) para -monisa
(mandar ver).
Forma passiva
A forma passiva é, como no português, usada para indicar que o sujeito é quem sofre a ação.
No umbundu, a passividade é mostrada por meio da substituição da vogal final por -iua. Um
exemplo dessa construção é -kuata (agarrar) que se torna -kuatiua (ser agarrado).
Forma relativa
A forma relativa é usada para indicar que dois verbos com significados diferentes são
relacionados. Essa forma é indiciada por meio da substituição da vogal final por -ela, -ila, -ola, -
oka, -ula ou -uka. Um exemplo da forma relativa são os verbos -lava (guardar), -lavela (velar) e -
lavoka (esperar).
Forma reflexa
A forma reflexa é usada para expressar uma ação que tem como agente e alvo a mesma
pessoa, em que alguém faz algo a si mesmo. Essa forma é indicada por meio do pronome
reflexivo -li- entre o pronome pessoal e o radical verbal, como em -teta (cortar) que passa a ser -
li-teta (cortar-se).
Forma duplicada
A forma duplicada indica que uma ação é habitual ou acontece frequentemente. Ela é indicada
por meio da duplicação do radical do verbo, como exemplificado na transformação de -popia
(falar) para -popia-popia (falar habitualmente).[12][14]
Sintaxe
Em sua grande maioria, as frases seguem a seguinte ordem: em primeira posição, vem a palavra
dominante ou mais importante, que é sempre o termo ao qual todos os outros se subordinam e,
geralmente, é o sujeito da frase, sendo seguida de seus modificadores. No caso do termo
dominante não ser o sujeito, este aparece na segunda posição, também junto de seus
modificadores. Na última posição é posto o predicado junto de seus atributos. Quanto ao sujeito
da frase, todos os termos da oração devem concordar com este em número e classe, mesmo
quando o termo é omitido. Pronomes pessoais não constituem o sujeito de uma frase, exceto
quando se quer enfatizar quem é o agente de uma ação.
Frases comparativas
No umbundu, existem estruturas específicas para estabelecer comparações entre dois termos.
Essas formas podem expressar igualdade entre os termos, a superioridade de um dos termos
ou a inferioridade de um dos termos. Dentre essas três relações estabelecidas, existem muitas
estruturas possíveis, incluindo o uso de verbos, advérbios, adjetivos, locuções e da duplicação
de termos.
Relação
Estrutura
estabelecida
Por meio do verbo kurisoka (ser igual) no pretérito (viarisoka) posposto aos
termos que se quer comparar.
Igualdade
Por meio da conjunção nda (como), que aparece depois de um termo e de uma
característica e é seguido por um outro termo.
Por meio do advérbio vari (mais), vindo depois da listagem dos termos, todos
precedidos pela conjunção la, sendo seguido pelo adjetivo que explica no que
um termo é superior e da repetição do termo superior.
Por meio da locução kusala nyima (ficar atrás). O primeiro termo é seguido da
característica na qual é superior e, em seguida, vem o termo inferior, seguido da
Inferioridade locução.
Amostra de texto
Artigo 1º da Declaração Universal dos Direitos Humanos:
“Omanu vosi vacitiwa valipwa kwenda valisoka kovina vyosikwenda komoko. Ovo vakwete
esunga kwenda, kwenda olondunge kwenje ovo vatêla okuliteywila kuvamwe kwenda vakwavo
vesokolwilo lyocisola.”
“Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão
e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade.”
Ver também
Línguas de Angola
Kimbundu
Línguas africanas
Linguística
Referências
5. umbundo in Dicionário infopédia da Língua Portuguesa [em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-
2019. [consult. 2019-07-21 03:42:16]. Disponível na Internet:
https://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/umbundo
12. Nascimento, José Pereira do (1894). Grammatica do Umbundu, ou lingua de Benguella (http
s://play.google.com/books/reader?id=CLkxAQAAMAAJ&hl=en_GB&pg=GBS.RA1-PP1) . [S.l.]:
Impr. Nacional
14. Magalhaes, Antonio Miranda (1922). Manual de Lenguas Indigenas de Angola (http://archive.
org/details/rosettaproject_umb_morsyn-3) . The Long Now Foundation. [S.l.: s.n.]
Ligações externas
Dicionários
Nascimento, José Pereira do (1894). Grammatica do Umbundu, ou lingua de Benguella (https://
play.google.com/books/reader?id=CLkxAQAAMAAJ&hl=en_GB&pg=GBS.RA1-PA1) . [S.l.]:
Impr. Nacional (páginas 113-165)
https://glosbe.com/umb/pt
Outros
https://glottolog.org/resource/languoid/id/umbu1257
http://www.multitree.org/codes/umb.html
https://www.ethnologue.com/language/umb
https://archive.org/details/ERIC_ED256170/page/n137/mode/2up
https://www.ovimbundu.org/categoria/educacao
Obtida de "https://pt.wikipedia.org/w/index.php?
title=Língua_umbundo&oldid=64263656"
Última modificação há 23 dias por Dušan Kreheľ (bot)