Tipos de Inspeção Pedagógica, Administrativa
Tipos de Inspeção Pedagógica, Administrativa
Tipos de Inspeção Pedagógica, Administrativa
Clara Lucas
Nota prévia
O presente artigo é extraído de um estudo de investigação sobre a intervenção da
Inspecção da educação, realizado no âmbito do Mestrado em Ciências de Educa-
ção, da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, da Universidade do Algarve.
Esperamos, assim, que esta reflexão crítica se apresente como um válido contri-
buto para a efectiva apropriação do significado da actividade inspectiva e para a
O Decreto-Lei n.º 253/80, de 25 de Julho, mais uma vez, evidencia a função de fis-
calização normativa da inspecção, sendo certo que tal documento foi regulamen-
tado com o objectivo de estabelecer algumas alterações à legislação em vigor no
domínio inspectivo, pois constatava-se que, segundo nele se afirma, aquele serviço
tinha necessidade de “inserir-se na perspectiva da futura lei de bases, devendo,
por isso, adaptar-se ao evoluir das grandes modificações que se espera venham a
dar-se no sistema educativo”. Nesta mesma perspectiva de controlo normativo, a
Lei de Bases do Sistema Educativo (Lei n.º 46/86, de 14 de Outubro) preconiza que
“a inspecção tem como função avaliar e fiscalizar a realização da educação escolar,
tendo em vista a prossecução dos fins e objectivos estabelecidos na presente lei e
demais legislação complementar”.
Esta nova filosofia exigiu uma reestruturação das actividades desenvolvidas pela
inspecção nas unidades organizacionais, consubstanciada em princípios orienta-
dores que evidenciam uma intervenção estratégica, integrada, intencional e con-
vergente, caracterizada pela articulação de interesses da avaliação interna das
escolas e da avaliação do corpo inspectivo, desenvolvendo um processo baseado
na cooperação e na partilha de responsabilidades, essencial para a dinamização
pedagógica.
Da atitude inspectiva fazem parte, entre outros aspectos, definir padrões de refe-
rência, combinar as prioridades nacionais com as prioridades das escolas, estimu-
lar a dimensão reflexiva naquelas organizações, orientar a gestão educativa para
resultados, cultivar a confiança nos outros e alimentar uma cultura de rigor, de
modo a que o inspector, parafraseando a actual Inspectora-Geral, mais do que uma
consciência crítica do sistema educativo, seja um construtor do sistema educativo,
fazendo o que é decisivo e importante, empreendendo com segurança e firmeza
uma lógica de eficácia inspectiva, direccionada para a cultura de rigor, de exigência
e de responsabilidade (Ramos, 2004).
3. Actividades da Inspecção
No sentido da operacionalização dos princípios paradigmáticos anteriormente
expendidos, a inspecção desenvolve diversos programas e actividades de modo a
assegurar a consecução da sua missão, dos quais resulta a produção de informa-
ção, devidamente trabalhada em relatórios, que contêm recomendações e propos-
tas que contribuem para a (re)formulação das políticas de educação e de formação
e que possibilitam a revisão ou a adopção de acções de melhoria do funcionamento
do sistema educativo, nomeadamente através da identificação de indicadores e
termos de referência.
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Básica nos Primeiros Anos, Desempenho Escolar dos Alunos, Segurança e Bem-estar nas
Escolas e Efectividade da Auto-Avaliação das Escolas.
Por fim, o programa Administração Geral tem por objectivo assegurar os meios e
os procedimentos necessários ao desenvolvimento da actividade da instituição
inspectiva, garantindo a organização e a actualização dos processos de pessoal, a
gestão orçamental e o aprovisionamento dos meios necessários ao funcionamento
dos diferentes serviços e unidades orgânicas.
4. A Intervenção do Inspector
No desenvolvimento das actividades supra identificadas, cada vez mais a actuação
do inspector se caracteriza pela observação focalizada em aspectos considerados
fundamentais e estratégicos, potenciadores de mais qualidade educativa, menos
orientada para verificar ou controlar conformidades e níveis mínimos de qualidade,
mas mais orientada para reforçar, em cada unidade escolar, a capacidade de orga-
nizar e oferecer um serviço educativo que responda, com exigência e qualidade,
às necessidades de cada contexto, bem como a capacidade de reflectir sobre a
própria prática e resultados, ou seja, sobre a intencionalidade da acção educativa e
o nível de consecução dos objectivos.
Através da triangulação dos dados recolhidos por observação directa, pelas entre-
vistas e pela análise documental, pretende-se assegurar uma apreciação susten-
tada e consistente, imprescindível para disponibilizar informação útil e válida e
para induzir uma cultura de auto-avaliação essencial para uma real autonomia de
acção e para uma capacidade de reflexão, de iniciativa e de inovação, promotoras
da motivação dos diversos actores.
Deste modo, e numa perspectiva que assume o acto inspectivo como um pro-
cesso relacional, indutor de desenvolvimento pessoal e profissional, no decorrer
da intervenção o inspector procura contextualizar os juízos de valor efectuados e
incrementar uma metodologia de trabalho colaborativa, formativa e reflexiva, fun-
damentada numa acção cognitiva em que o saber e o desempenho profissional
se constroem pela via da resolução de problemas concretos, assente em interac-
ções profissionais positivas, estabelecidas numa atmosfera envolvente de relações
interpessoais. Neste sentido, e atentos os pressupostos inerentes à perspectiva
ecológica de desenvolvimento (Bronfenbrenner, 1979), que acentua que a aprendi-
zagem e o desenvolvimento dos intervenientes de um processo será mais profícua
se atender à personalidade e aos estádios de desenvolvimento daqueles interve-
nientes, bem como aos seus níveis de auto‑conhecimento, a actuação do inspector
pretende promover uma atmosfera envolvente, provocadora de um clima afectivo-
relacional positivo, de entreajuda, aberto, espontâneo e empático.
Não nos restam dúvidas de que é muito amplo, multifacetado e complexo o uni-
verso da inspecção e que o âmbito de intervenção do inspector não se enquadra em
parâmetros sem a elasticidade necessária para poder agir quando e enquanto for
útil. Desde a colaboração directa e orientadora, em direcção aos mais altos repre-
sentantes do poder instituído, até à disponibilidade para atender o mais humilde
dos cidadãos, entendemos que tudo pode ser função do inspector da educação;
concebemo-lo como um interlocutor válido e sempre disponível, perante a comu-
nidade, a escola e o docente, tanto sob o ponto de vista profissional como social,
com um estatuto que lhe permite contactar os locais onde se pratica ou gere a
educação, com o fim de analisar as situações e deixar incentivos para que os inter-
venientes se ultrapassem a si próprios, em termos de realização dos superiores
objectivos da educação.
Bibliografia
Afonso, N. (2002). A avaliação do serviço público de educação: Direito do cidadão e dever
do Estado. In Conselho Nacional de Educação (Ed.). Qualidade e avalia-
ção da educação: Seminários e colóquios (pp. 95-104). Lisboa: Ministério da
Educação/CNE.
Bronfenbrenner, U. (1979). The ecology of human development: Experiments by nature and
design. Cambridge: Harvard University Press.
Clímaco, M. C. (2002). A IGE e a avaliação integrada das escolas. In Conselho Nacional de
rpp, ano 42-1, 2008 25
Legislação referenciada
Decreto-Lei n.º 408/71, de 27 de Setembro
Decreto-Lei n.º 540/79, de 31 de Dezembro
Decreto-Lei n.º 253/80, de 25 de Julho
Lei n.º 46/86, de 14 de Outubro – Lei de Bases do Sistema Educativo
Decreto-Lei n.º 304/91, de 16 de Agosto
Decreto-Lei n.º 133/93, de 14 de Abril
Decreto-Lei n.º 140/93, de 26 de Abril
Decreto-Lei n.º 271/95, de 23 de Outubro
Lei 18/96, de 20 de Junho – Lei Orgânica da Inspecção-Geral da Educação
Decreto-Lei n.º 233/97, de 3 de Setembro
Decreto-Lei n.º 70/99, de 12 de Março
Decreto-Lei n.º 208/2002, de 17 de Outubro
Resumé
Un travail qualifiée, critères et logique d’inspection peuvent mener à une
amélioration des niveaux réels de la qualité d’éducation, si être persuasif et
conformé dans ses interventions; si, à l’égard pour l’autonomie du concer-
nant des organismes d’école et ses professionnels, pour savoir pour motiver
et mobiliser les acteurs éducatifs pour plus d’exiger des buts quantitatifs et
qualitatifs; si elle sera capable pour fomenter, à côté de ceux concernant des
unités d’école, l’autodéfinition des stratégies de l’amélioration et les enga-
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ABSTRACT
A qualified, criteria and coherent inspection work can lead to an impro-
vement of the actual levels of education quality, if will be persuasive and
consistent in its interventions; if, in the respect for the autonomy of the per-
taining to school organizations and its professionals, to know to motivate
and to mobilize the educative actors for more demanding quantitative and
qualitative goals; if it will be capable to foment, next to those pertaining to
school units, the auto-definition of strategies of improvement and commit-
ments with more progress, more quality, better performance of the pupils
and the institution; if, at last, in a auto-requirement process, to improve its
levels of interrelation and communication.