JOSÉ, R SEABRA, F - Ad Latinitatis Lumina (2010) - 230317 - 090949
JOSÉ, R SEABRA, F - Ad Latinitatis Lumina (2010) - 230317 - 090949
JOSÉ, R SEABRA, F - Ad Latinitatis Lumina (2010) - 230317 - 090949
AD LATINITATIS LVMINA
José R. Seabra F.
São Paulo
2010
2
INTRODUÇÃO
desinência número-pessoal (-s); em dicuntur um tema (dic-), uma simples ligação (-u-), uma
desinência número-pessoal (-nt-) e uma indicação final de forma passiva (-ur). Todas essas
noções concentradas numa só forma, nominal ou verbal, faz do latim língua sintética e
racional. A existência, nos nomes, de desinências casuais proporciona ordem bastante livre de
colocação das palavras na frase. Para dizer por exemplo “o agricultor conduziu ao campo o
rebanho” podem ser usadas as seguintes ordens dos termos: (1) agricola duxit gregem in
agrum; (2) agricola in agrum duxit gregem; (3) agricola gregem in agrum duxit; (4) duxit in
agrum agricola gregem; (5) gregem in agrum agricola duxit. As sequências (3) e (4) com o
verbo no fim da frase e o complemento (gregem) e a indicação de lugar para onde (in agrum)
antes poderiam ser as mais comuns num escritor clássico. Tanto por ser a palavra principal, de
afirmação do fato, como por ser desnecessário às indicações das funções - já expressas pelas
desinências causais nos nomes: nominativo -a, acusativo -m -, o verbo apareceria no fim. Com
relação a verbos, a concentração de indicadores também proporciona facilidade e economia na
comunicação: uma forma como legeremus apresenta sufixo modo-temporal (-re-) e desinência
número-pessoal (-mus); e entre por exemplo o futuro pellēris (serás empurrado) e o presente
pellĕris (és empurrado), a partir do tema (pell-): a mesma desinência passiva de segunda
pessoa do singular (-ris), uma indicação de tempo no futuro (um -e- longo), mas uma simples
ligação no presente (um -e- breve); e entre formas nominais do verbo tais como timentibus e
timendo, pode-se considerar um mesmo tema (time-) e características - a de particípio
presente (-nt-), a de gerúndio ou gerundivo (-nd-) -, e por fim desinências nominais (-ibus,
-o).
Toda essa base morfológica e suas variações - os casos nominais e as flexões verbais -
servem para uma sintaxe concisa, característica do latim clássico. Nota-se então vez por outra
construção especial, como: Miseret tui me (Terêncio) [tenho compaixão de ti (pode-se
entender literalmente “em relação a mim existe compaixão de ti”)]; nota-se também, em
períodos compostos, o uso - mais comumente que em português - de oração subordinada com
verbo no subjuntivo: Caesar exploratores centurionesque praemittit qui locum idoneum
castris deligant (César) [literalmente “César envia à frente exploradores e centuriões que
escolham local apropriado para o acampamento”]; e até, pela força desse subjuntivo latino, o
uso de oração subordinada justaposta, isto é, não introduzida por conjunção: Nolo exeas
(Plauto) [não quero /que/ saias]. Mais comum também é o uso de oração reduzida, seja a
infinitiva: /Metellus/ unius nominis litura se commotum esse dixerit (Cícero) [/Metelo/ teria
dito ter-se abalado pelo borrão de um único nome], seja o ablativo absoluto: Nemo illorum
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iudicum clarissimis uiris accusantibus audiendum sibi de ambitu putauit (Cícero) [nenhum
daqueles juízes, acusando /a Lúcio Murena/ os mais ilustres varões, pensou dever dar voto
favorável a respeito do que se pretendia]. A tais particularidades sintáticas pode-se acrescentar
a característica de uso mais abundante de formas passivas, como por exemplo o emprego do
gerundivo; daí uma frase como “devo ler o livro” em vez de librum legere debeo ficaria num
autor clássico liber mihi legendus est [frase que, bem literalmente, significa “existe para mim
o livro que deve ser lido”]. Pode-se acrescentar também aí, a partir desse exemplo com
gerundivo, a característica do abundante emprego de formas nominais do verbo. Veja-se por
exemplo o uso do particípio futuro laesurus, em conjugação com fueras, e do gerundivo
uiolanda, no dístico inicial da elegia tibuliana I, 9: quid mihi, si fueras miseros laesurus
amores, / foedera per diuos, clam uiolanda, dabas ? [que me davas, se havias de ter ferido
míseros amores, alianças em nome dos deuses, as quais secretamente deviam ser violadas ?].
Por vezes a frase latina se apresenta então tão sucinta, que se recorre, numa tradução, a nome
abstrato, para verter a ideia expressa por exemplo por uma forma nominal do verbo. Vejam-se
três exemplos - um particípio presente no genitivo fastidientis; um genitivo do gerúndio
peccandi; um ablativo do gerúndio suspicando; um gerundivo miscenda, em conjugação com
sunt; dois particípios presentes no dativo quiescenti, agenti; e dois gerundivos neutros
agendum, quiescendum, em conjugação com est - em trechos de Sêneca (Ad Lucilium, I, 2, 4;
I, 3, 3; I, 3, 6): fastidientis stomachi est multa degustare [degustar muitas coisas é próprio de
estômago que se enfastia]; fidelem si putaueris, facies: nam quidam fallere docuerunt, dum
timent falli, et illi ius peccandi suspicando fecerunt [se /a teu amigo/ tiveres considerado fiel,
fá-lo-ás /fiel/: pois uns ensinaram a enganar, enquanto temem ser enganados, e, pela suspeita,
deram a ele o direito de errar]; inter se ista miscenda sunt: et quiescenti agendum et agenti
quiescendum est [entre si estas coisas devem ser misturadas: tanto ao que descansa deve haver
ação, quanto ao que age deve haver descanso].
o texto latino vai muitas vezes ser vertido com auxílio de outras palavras. Falamos em
morfossintaxe, isto porque o estudo da morfologia do latim não pode ser anterior à leitura de
textos, mesmo que inicialmente de pequenos trechos, de autores clássicos. Decorar formas -
declinações e conjugações - por si só não dá a apreensão do idioma em sua essência: da frase,
das funções sintáticas, da colocação dos termos, do ritmo do discurso. Convém então falar
antes em estudo conjunto da morfologia e da sintaxe do latim, e estudo conjunto sempre com
base nos textos clássicos: aliás, sobre proporcionar maior conhecimento e domínio dos
recursos da língua portuguesa, a finalidade do ensino do latim hoje também está centralizada
na compreensão e tradução desses textos. A partir do texto, vai-se apreender aos poucos o
emprego da flexão nominal, da ampla conjugação verbal, da estrutura enfim morfossintática.
À parte a relação sintática indicada nos nomes pelas desinências casuais, há semelhanças
de formas entre latim e português. Veja-se o sistema pronominal: formas como por exemplo
tu, te, de nominativo e acusativo, são as mesmas nas duas línguas. Na gradação de adjetivos
também fica facilmente compreensível forma e significado do sufixo comparativo -ior
(maior, melior), e dos de intensidade -issimus, -limus, -rimus (dignissimus, facillimus,
pauperrimus). E da parte verbal, como já observamos acima, o essencial é a percepção dos
três temas, os quais servirão para a formação dos tempos todos e das formas nominais. Ora aí
uma diferença entre o latim clássico e as línguas neolatinas está nas formações verbais
passivas. No latim, só os tempos do perfectum apresentam passiva analítica, com o verbo esse
como auxiliar; os do infectum indicam a forma passiva por meio de desinência. Assim em
liber lectus est a ideia é “o livro foi lido”; em liber legitur, “o livro é lido”. Um confronto do
latim clássico com o português, conforme observamos para o estudo da morfologia, também
pode ser indicado para a sintaxe. Há concordâncias, mas também diferenças entre ambas as
línguas, quanto à regência verbal e nominal. Neste ponto fica imprescindível a consulta ao
dicionário; consultare por exemplo pode ser “consultar” em consulto matrem (consulto a
mãe), e pode ser “olhar por”, “tomar cuidado de”, em consulto matri (ocupo-me de minha
mãe). Aliquid pulchri pode ser vertido por “algo belo”, em vez de “algo de belo”, que seria
mais literal, traduziria a expressão partitiva, mas seria menos usual em português. Quanto às
construções das frases, existem as mais usuais do latim clássico, como comentamos acima.
Assim por exemplo para dizer “tenho muitos livros”, em vez de habeo multos libros, usa-se
expressão com o verbo esse mais dativo do possuidor e nominativo da coisa possuída mihi
sunt multi libri (literalmente “para mim muitos livros existem”). Aproveitando o exemplo
com esse, nota-se que às vezes a construção se mostra bem particular; assim frase como
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studium mihi laudi est apresenta o verbo com dois dativos, e a tradução literal soaria estranha
“o estudo é para mim para louvor”, mas o sentido é claro “o estudo me serve de louvor”. Na
concordância de tempos verbais entre a oração principal e a subordinada prevalecem as regras
básicas: a um tempo presente, futuro, futuro perfeito corresponde na subordinada um tempo
correspondente no subjuntivo (presente, perfeito, conjugação perifrástica): nescio quid agam
(literalmente “não sei o que eu faça”), nescio quid egerim (não sei o que eu tenha feito),
nescio quid acturus sim (não sei o que eu haja de fazer) - note-se apenas que enquanto em
latim é de praxe o subjuntivo, em português fica mais comumente o indicativo: “não sei o que
faço, o que fiz, o que farei”; a um tempo perfeito, imperfeito, mais-que-perfeito corresponde
um tempo correspondente no subjuntivo (imperfeito, mais-que-perfeito, conjugação
perifrástica): nesciebam quid agerem (literalmente “eu não sabia o que fizesse”), nesciebam
quid egissem (eu não sabia o que tivesse feito), nesciebam quid acturus esset (eu não sabia o
que houvesse de fazer) - também mais comum em português “eu não sabia o que fazia, o que
tinha feito, o que faria”. Com essa visão geral das sequências temporais completa-se um
quadro também geral da morfossintaxe do latim. Fora da frase, o estudo do léxico latino e de
todas as suas formas apresenta-se incompleto; no discurso, dentro das orações, completo e
lógico.
José R. Seabra F.
7
CONJUGAÇÕES
À parte esse e seus compostos (adesse, posse etc.), os verbos latinos podem ser
distribuídos em quatro conjugações distintas e uma conjugação mista. Exemplos:
narro, -as, -are, -aui, -atum (narrar)
mouěo, -es, -ēre, moui, motum (mover)
pello, -is, -ěre, pepŭli, pulsum (empurrar)
audǐo, -is, -ire, -iui(-ii), -ītum (ouvir)
rapǐo, -is, -ěre, rapŭi, raptum (arrebatar)
Pertencem à primeira conjugação os verbos que fazem o infinitivo em –are (narrare, amare,
laudare ...); à segunda os em –ēre (mouēre, delēre, uidēre ...); à quarta os em –ire (audire,
punire, dormire ...). Os verbos da terceira conjugação fazem o infinitivo em –ěre (com ě
breve) e primeira pessoa do presente em –o (pellěre, agěre, scriběre ...); os da conjugação
mista também fazem o infinitivo em ěre – com ě breve, como os da terceira –, mas
apresentam a primeira pessoa do presente em –io, como os da quarta.
ENUNCIAÇÃO
O verbo latino vai ser indicado no dicionário em até cinco formas, normalmente a partir
da primeira pessoa do presente do indicativo; esta, conforme o verbo, poderá terminar em –o,
-eo ou –io. Exemplo:
delěo, -es, -ēre, -ēui, -ētum (destruir).
As formas aí indicadas são as seguintes: 1ª. pessoa do presente (delěo, eu destruo); 2ª. pessoa
do presente (dēles, tu destróis); infinitivo (delēre, destruir); 1ª. pessoa do pretérito perfeito
(deleui, eu destruí); supino (delētum, para destruir). Note-se que no presente a 1ª. pessoa se
8
caracteriza pela desinência –o e a 2ª. pela desinência –s, e que no passado a 1ª. pessoa termina
por –i.
TEMAS
Denomina-se tema a parte verbal básica de todas as formas do verbo. Em português por
exemplo, do verbo estudar, o radical (parte invariável nos verbos regulares) é estud-, a vogal
temática (vogal que vem após o radical e caracteriza a conjugação) é -a-, o tema (radical mais
vogal temática) é estuda-. O que vier após o tema será a desinência: final que denota a flexão,
isto é, a variação para indicar pessoa, número, tempo e modo. Em latim são três os temas
verbais, como veremos a seguir.
Tema do infectum.
Também denominado tema do presente, o tema do infectum (= não feito, não concluído)
serve para a formação de tempos que indicam ação não-concluída: presente, imperfeito, futuro
imperfeito. Acha-se a partir da 2ª. pessoa do presente menos a desinência, conforme os
exemplos seguintes:
narro, -as ... narras > narra-s > narra-
mouěo, -es ... moues > moue-s > moue-
pello, -is ... pellis > pell-is > pell-
audǐo, -is ... audis > audi-s > audi-
rapǐo, -is … rapis > rapi-s ou rap-is > rapi- (ou rap-)
Na primeira conjugação, tema terminado em –a; na segunda, em –e; na quarta, em –i. A
terceira conjugação apresenta tema em consoante; para achá-lo, tira-se o –s, que é desinência
de segunda pessoa, e o -i-, que então será simples ligação fonética. Para a conjugação mista,
trabalha-se com dois temas: ou tema em consoante, como o verbo da terceira, ou tema em –i
como o verbo da quarta: cap- (capi-).
Tema do perfectum.
9
Também conhecido como tema do passado, o tema do perfectum (= concluído) serve para
a formação de tempos que indicam ação concluída, terminada: pretérito perfeito, pretérito
mais-que-perfeito, futuro perfeito. Acha-se a partir da primeira pessoa do pretérito perfeito
(na enunciação do verbo, a forma terminada em –i) menos a desinência –i. Exemplo:
narro, -as, -are, -aui, -atum narraui > narrau-i > narrau-
Conforme o verbo, o tema do perfectum pode ser em u, em s, com duplicação de sílaba, com
alteração de timbre vocálico, com redução da forma. Exemplos:
amare perf.: amaui tema do perfectum: amau-
scribere perf.: scripsi tema do perfectum: scrips-
pellere perf.: pepuli tema do perfectum: pepul-
facere perf.: feci tema do perfectum: fec-
corrumpere perf.: corrupi tema do perfectum: corrup-
Tema do supino.
O tema do supino serve para a formação dos particípios passado e futuro 1. Acha-se a partir
do supino ativo (na enunciação do verbo, a forma terminada em –um) menos a desinência –
um. Exemplos:
narrare supino: narratum tema do supino: narrat-
scribere supino: scriptum tema do supino: script-
EXERCÍCIOS
1
Sobre particípio e supino, conferir mais adiante em “formas nominais do verbo: os particípios” e em “formas
nominais do verbo: supino ativo e supino passivo”.
10
Presente do indicativo: tema do infectum mais as desinências número-pessoais -o, -s, -t,
-mus, -tis, -nt. Exemplos:
narrare narra- narro, narras, narrat, narramus, narratis, narrant
scriběre scrib- scribo, scribis, scribit, scribǐmus, scribǐtis, scribunt
O presente forma-se portanto sem desinência modo-temporal, só com o tema do infectum
mais as desinências número-pessoais. Entre estas e o tema podem ocorrer pequenas alterações
fonéticas, como nos exemplos acima: o (-a-) do tema desaparece na primeira pessoa em
verbos da primeira conjugação: ama + o > amao > amo (ocorre aí o processo de assimilação
regressiva); surge vogal de ligação (-i- ou -u-) entre o tema em consoante e a desinência, em
verbos da terceira conjugação: scrib-i-t, scrib-u-nt. Vogal de ligação também em verbos da
quarta (audi-u-nt) e da mista [rap(i)-t, rap(i)-u-nt].
Presente do subjuntivo: tema do infectum mais -e- (para a primeira conjugação) ou -a- (para
as demais) mais desinência número-pessoal. Exemplos:
narrem, narres, narret, narrēmus, narrētis, narrent (narr-e-nt)
audǐam, audǐas, audǐat, audiāmus, audiātis, audǐant (audi-a-nt)
Para a primeira pessoa a desinência número-pessoal é –m em vez de –o; na primeira
conjugação este tempo perde a característica temática, a vogal (-a-), assimilada então pela
vogal (-e-) característica aí de presente do subjuntivo.
11
Futuro imperfeito2: tema do infectum mais -bo, -bis, -bit, -bimus, -bitis, -bunt (para 1ª. e 2ª.
conjugações) ou -am, -es, -et, -emus, -etis, -ent (para as demais):
narrābo, narrābis, narrābit, narrabǐmus, narrabǐtis, narrābunt 3
audǐam, audǐes, audǐet, audiēmus, audiētis, audǐent 4
Imperativo futuro: apresenta 2ª. e 3ª. pessoas do singular e do plural (desinências -to, -to,
-tote, -nto):
narrāto, narrāto, narratōte, narrānto
audīto, audīto, auditōte, audiūnto
Note-se vogal de ligação na quarta, terceira e mista: audi-u-nto, pell-u-nto, rapi-u-nto.
2
Corresponde, em gramática portuguesa, ao futuro do presente.
3
A rigor, o sufixo de futuro imperfeito para a primeira e segunda conjugações é somente (-b-); pode vir em
seguida desinência pessoal (narra-b-o) ou vogal de ligação e desinência pessoal (narra-b-i-s, narra-b-u-nt).
4
Para a quarta, terceira e mista, a característica de futuro imperfeito é somente um -e- (-a- na primeira pessoa do
singular): audi-a-m, audi-e-s etc. Note-se na primeira pessoa forma coincidente com a do presente do subjuntivo.
12
Formados com o tema do infectum são portanto, em resumo, os seguintes tempos: presente do
indicativo, presente do subjuntivo, imperfeito do indicativo, imperfeito do subjuntivo, futuro
imperfeito, imperativo presente, imperativo futuro. Exemplos e traduções com scriběre:
scribo, -is, -ěre, scripsi, scriptum tema do infectum: scrib-
scribo, scribis ... escrevo, escreves ...
scribam, scribas ... que eu escreva, que tu escrevas ...
scribēbam, scribēbas ... eu escrevia, tu escrevias ...
scriběrem, scriběres ... se eu escrevesse, se tu escrevesses ...
scribam, scribes ... escreverei, escreverás ...
scribe, scribǐte 5 escreve, escrevei
scribǐto, scribǐto, scribitōte, scribūnto escrevem escreva, escrevei, escrevam
Perfeito do indicativo: tema do perfectum mais as terminações -i, -isti, -it, -imus, -istis,
-erunt (-ere) para qualquer verbo:
narrāui, narrauīsti, narrāuit, narrauǐmus, narrauīstis, narrauērunt (narrauēre)
pepŭli, pepulīsti, pepŭlit, pepulǐmus, pepulīstis, pepulērunt (pepulēre)
Notem-se duas formas para o plural: em –ērunt ou em –ēre.
Perfeito do subjuntivo: tema do perfectum mais as terminações -erim, -eris, -erit, erimus,
-eritis, -erint
narrauěrim, narrauěris, narrauěrit, narrauerǐmus, narrauerǐtis, narrauěrint
O sufixo deste tempo é exatamente (-eri-), ao qual se acrescentam as desinências número-
pessoais: narrau-eri-m, narrau-eri-s etc.
5
Em scribǐte o (-i-) da penúltima sílaba é simples vogal de ligação, e é normalmente breve; mas em audīte por
exemplo, verbo da quarta conjugação, o (-i-) faz parte do tema e é então longo.
13
Futuro perfeito: tema do perfectum mais as terminações -ero, -eris, -erit, -erimus, -eritis,
-erint
narrauěro, narrauěris, narrauěrit, narrauerǐmus, narrauerǐtis, narrauěrint
Com sufixo idêntico ao do perfeito do subjuntivo (-eri-), o futuro perfeito só se lhe diferencia
na primeira pessoa, visto ser aí a vogal final do sufixo (-i-) assimilada pela desinência
número-pessoal (-o).
Resumo dos tempos do perfectum com respectivas traduções (exemplo com o verbo scriběre):
scribo, -is, -ěre, scripsi, scriptum tema do perfectum: scrips-
scripsi, scripsisti … escrevi, escreveste … (tenho escrito, tens escrito …)
scripserim, scripseris ... que eu tenha escrito, que tu tenhas escrito ...
scripseram, scripseras ... escrevera, escreveras ... (tinha escrito, tinhas escrito ...)
scripsissem, scripsisses ... se eu tivesse escrito, se tu tivesses escrito ...
scripsero, scripseris ... terei escrito, terás escrito ...
em latim pelo presente ou imperfeito do subjuntivo: quis lectionem faciat ? (quem faria a
lição ?); si uellem, facerem (se eu quisesse, faria); a idéia do passado do condicional (futuro
do pretérito composto) pode ser expressa pelo mais-que-perfeito do subjuntivo: si lectionem
fecisses, errauisses (se tivesses feito a lição, terias errado).
EXERCÍCIOS
Particípio passado: forma-se com o tema do supino mais a desinência –us, conforme os
exemplos abaixo:
narro, -as, -are, -aui, -atum tema do sup.: narrat- partic. pass.: narratus
scribo, -is, -ere, scripsi, scriptum tema do sup.: script- partic. pass.: scriptus
Assim formado, o particípio passado funciona como verdadeiro adjetivo da primeira classe;
apresenta então as formas masculina, feminina e neutra (narratus, -a, -um; scriptus, -a, -um),
e se declina como dignus, -a, -um (forma masculina na segunda declinação, feminina na
primeira, neutra na segunda de nome neutro).
EXERCÍCIOS
6
O particípio presente forma-se exatamente com o sufixo (-nt-) acrescentado ao tema do infectum. Seguido de
/s/, fonema que segundo a morfologia histórica do latim marcaria o final do nominativo singular na terceira
declinação, o /t/ não se mantém; daí a forma narrans, resultante de *narrants.
7
Verbo de forma passiva e significado ativo, analisado mais adiante.
17
Para os tempos que indicam ação não-concluída (formados portanto pelo tema do
infectum), a voz passiva forma-se com auxlílio de desinências passivas. No exemplo abaixo,
note-se a distinção entre formas ativas e formas passivas:
laudo (louvo) laudor (sou louvado)
laudas (louvas) laudāris (és louvado)
laudat (louva) laudātur (é louvado)
laudamus (louvamos) laudāmur (somos louvados)
laudatis (louvais) laudāmǐni (sois louvados)
laudant (louvam) laudāntur (são louvados)
Exemplo de aplicação:
Discipuli magistrum laudant (os alunos elogiam o professor) – voz ativa.
Magister a discipulis laudatur (o professor é elogiado pelos alunos) – voz passiva.
Notas:
18
Para os tempos de ação concluída, a voz passiva é formada por meio de locução verbal –
particípio passado do verbo que se está conjugando mais verbo esse como auxiliar. Assim por
exemplo a frase ativa discipuli magistrum laudauerunt (os alunos elogiaram o professor) fica
na voz passiva magister a discipulis laudatus est (o professor foi elogiado pelos alunos).
Notas:
a) o particípio concorda em gênero e número com o sujeito:
puer a matre admonǐtus est (o menino foi advertido pela mãe)
puella a matre admonǐta est (a menina foi advertida pela mãe)
uinum a conuiuatore laudatum est (o vinho foi elogiado pelo anfitrião)
puellae a matre admonǐtae sunt (as meninas foram advertidas pela mãe)
b) distingua-se presente e passado:
Alexander ab Aristotele erudītur (Alexandre é instruído por Aristóteles)
Alexander ab Aristotele erudītus est (Alexandre foi instruído por Aristóteles)
EXERCÍCIOS
com o auxiliar esse; c) mescla de formas, desinência passiva; d) desinência passiva, mescla de
formas.
VERBO DEPOENTE
Existem em latim alguns verbos que só se apresentam em formas passivas mas que se
traduzem com significação ou ativa ou reflexiva: são os chamados verbos depoentes.
Exemplos:
verbo depoente transitivo: imitor exemplum patris (imito o exemplo do pai),
verbo depoente intransitivo: morior (eu morro),
verbo depoente com significado reflexo: uescor (eu me alimento), nitor (esforço-me)8.
8
Mais raramente pode aparecer verbo de forma ativa e sentido passivo, ao contrário pois do depoente; por
exemplo uapŭlo (sou açoitado), ueněo [sou vendido (literalmente: vou à venda)].
21
Notas:
a) em sua enunciação, no dicionário, o verbo depoente é indicado portanto em formas
passivas:
imǐtor, -āris, -āri, -ātus sum (imito, imitas, imitar, imitei);
b) aparecem depoentes em todas as conjugações; exemplos:
moror, -āris, -ari, -ātus sum (1ª.)
mereor, -ēris, -eri, merǐtus sum (2ª.)
loquor, -ěris, loqui, locūtus sum (3ª.)
partǐor, -īris, -iri, -ītus sum (4a.)
patǐor, -ěris, pati, passus sum (mista)
c) em verbo depoente, atenção para as formas do imperativo presente:
imitāre (imita)
imitamǐni (imitai)
VERBO SEMIDEPOENTE
EXERCÍCIOS
22
EXERCÍCIOS
10
Note-se no entanto que a oração toda “derrubada a árvore (deiecta arbore)” – a oração toda e não seus termos
individualmente – tem relação com a oração principal: funciona-lhe como uma espécie de adjunto circunstancial;
neste exemplo, um adjunto adverbial de tempo.
24
II) Distinguir11:
1. Aqua feruente cenam praeparabimus.
2. Aqua feruenti cenam praeparabimus.
Notas:
11
Para resolver o exercício, convém observar que como adjetivo uniforme da segunda classe, o particípio
presente segue a terceira declinação; com o valor de adjetivo, faz o ablativo em (-i); com o valor de particípio, na
oração reduzida, faz o ablativo em (-e).
12
Note-se também no exemplo que o adjetivo (utile) está na forma neutra, pois se refere ao infinitivo (legěre),
que funciona então como nome neutro. Uma frase equivalente pode ser lectio utilis est (leitura é útil).
25
a) para obter a forma passiva do infinitivo presente, em verbos da primeira, segunda e quarta
conjugações, troca-se por (-i) o (-e) final da forma ativa:
amare (amar) amari (ser amado)
mouēre (mover) mouēri (ser movido)
punire (punir) puniri (ser punido)
b) para a forma passiva do infinitivo presente em verbos da terceira conjugação e da
conjugação mista, troca-se por (-i) o final (-ěre):
scriběre (escrever) scribi (ser escrito)
facěre (fazer) faci (ser feito)
c) o infinitivo perfeito ativo forma-se com o tema do perfectum mais o final (-isse):
amauisse (ter amado)
scripsisse (ter escrito)
d) o infinitivo perfeito passivo forma-se com o particípio passado no acusativo mais o
infinitivo do verbo “ser” (esse); o particípio, sempre no acusativo13, varia em gênero e
número:
amatum (-am, -um; -os, -as, -a) esse [ter sido amado(-a,-os,-as)]
scriptum (-am, -um; -os, -as, -a) esse [ter sido escrito(-a,-os,-as)]
e) o infinitivo futuro ativo forma-se com o particípio futuro no acusativo – variando em
gênero e número – mais o infinitivo de “ser” (esse):
amaturum (-am, -um; -os, -as, -a) esse (haver de amar)
f) o infinitivo futuro passivo forma-se com o supino em (-um) mais (iri)14
amatum iri (haver de ser amado)
g) com os acréscimos dos infinitivos das conjugações perifrásticas ativa e passiva, tem-se um
total de nove formas para esse aspecto nominal do verbo latino (ver mais adiante: páginas 33
a 35 e notas 16 e 17).
EXERCÍCIOS
II) Traduzir.
13
Porque vai aparecer na oração infinitiva, explicada no capítulo seguinte desta apostila.
14
Iri, forma passiva de ire, só aparece neste tipo de construção: na formação do infinitivo futuro passivo.
26
h) Com verbo de vontade, pode-se ter como complemento verbal tanto um infinitivo quanto o
emprego de oração infinitiva:
Iudex cupit esse clemens, o juiz deseja ser clemente (infinitivo objetivo).
Iudex cupit se esse clementem, o juiz deseja ser clemente (oração infinitiva).
i) Em vez do infinitivo futuro ativo de algum verbo que se queira empregar, pode aparecer
este circunlóquio com futurum esse ou fore [infinitivo futuro do verbo esse]: fore ut ou
futurum esse ut mais presente do subjuntivo ou imperfeito do subjuntivo do verbo a ser
empregado; exemplos: “creio que o mestre escreverá” fica credo magistrum scripturum esse
ou credo fore ut magister scribat [literalmente “creio haver de ser que o mestre escreva”]; “eu
pensava que o mestre escreveria” fica credebam magistrum scripturum esse ou credebam fore
ut magister scriberet [literalmente “eu pensava haver de ser que o mestre escrevesse”].
j) Note-se a distinção:
Fabius dicit se esse aegrotum, Fábio diz estar doente.
Fabius dicit Antonium esse aegrotum, Fábio diz que Antônio está doente.
Fabius dicit eum esse aegrotum, Fábio diz que aquele (Antônio) está doente.
Note-se que o acusativo se é reflexivo, é pronome que se refere ao próprio sujeito Fabius; o
acusativo eum não é reflexivo, pois é pronome que se refere a outrem, a Antônio.
k) A oração reduzida infinitiva pode aparecer como sujeito de verbos unipessoais15:
Oratorem irasci minime decet (Cícero).
De modo algum convém o orador irritar-se (= que o orador se irrite).
Constat ad salutem ciuium inuentas esse leges (Cícero).
Consta que as leis foram inventadas para a salvação dos cidadãos.
l) Como particularidade, existe a oração infinitiva com sujeito no nominativo; ocorre quando
o verbo da oração principal está na voz passiva. Por exemplo, a frase “dizem que Homero foi
o maior poeta” pode ser construída com infinitiva normal (dicunt Homerum maximum fuisse
poetam, dizem Homero ter sido o maior poeta) ou com infinitiva com sujeito no nominativo
(dicitur Homerus maximus fuisse poeta, “diz-se que Homero foi o maior poeta”, ou, bem
literalmente, “Homero é dito ter sido o maior poeta”). Outros exemplos:
Augustus iustissimus fuisse traditur, conta-se Augusto ter sido muito justo (conta-se que
Augusto foi muito justo).
Tu iubēris a iudice abire, pelo juiz tu és ordenado a ir embora (o juiz ordena que vás embora).
15
Verbos ou expressões que se apresentam na forma da terceira pessoa do singular e que têm como sujeito ou um
infinitivo ou uma oração: convém estudar; sabe-se que o estudo é útil; é certo que o estudo traz progresso.
29
EXERCÍCIOS
I) Traduzir o período e indicar duas características da oração infinitiva:
Philosophi Graecorum dixerunt studium esse fructuosum.
GERÚNDIO
Nota: O gerúndio em acusativo é regido pela preposição ad (raramente inter, in, ob, ante,
circa); indica um complemento de fim ou de movimento:
ad dimicandum paratus, preparado para combater
ire ad oppugnandum, ir para travar batalha
inter bibendum et inter cenandum (Tito Lívio)
entre o beber e entre o cear
ablativo: legendo libros delector, deleito-me com o ler livros (deleito-me lendo livros) (=
deleito-me com a leitura de livros)
EXERCÍCIOS
GERUNDIVO
com o tema do infectum mais a característica -nd- (igual à do gerúndio) mais desinência de
adjetivo da primeira classe, conforme os modelos seguintes:
amandus (ama-nd-us) amandus, -a, -um
scribendus (scrib-e-nd-us) scribendus, -a, -um
Exemplos:
liber legendus, livro que deve ser lido (livro que se deve ler)
superstitio tollenda, superstição que deve ser abolida
bellum gerendum, guerra que deve ser feita
ars administrandi rem publicam est difficilima (gerúndio) “a arte de adminsitrar a república é
dificílima”
ars administrandae rei publicae est difficilima (gerundivo) “a arte da república que deve ser
administrada é dificílima”
Obs.: A tradução acima, muito literal, serve para maior compreensão da construção latina;
mas, em português mais fluente, ambas as frases podem ser traduzidas “é muito difícil a arte
de administrar a república”.
EXERCÍCIOS
I) Traduzir a frase (quando necessário, apresentar duas traduções: uma literal, outra mais
fluente).
1. Difficultas pontem faciendi magna erat.
2. Difficultas pontis faciendi magna erat.
3. Libros inutiles legendo boni mores facillime corrumpuntur.
4. Libris inutilibus legendis boni mores facillime corrumpuntur.
5. Tuum promptum animum perspexi ad defendendam rempublicam (Cícero).
Exemplos:
Vou escrever (estou para escrever, tenho de escrever, hei de escrever, devo escrever):
scripturus sum.
Cícero estava para fugir (ia fugir, tinha de fugir, devia fugir): Cicero fugiturus erat.
Notas:
a) Atenção para a diferença: amabo (amarei); amaturus sum (tenho de amar, tenciono amar,
vou amar etc.).
b) Deve-se lembrar que o particípio futuro, quando desacompanhado do verbo esse, funciona
só como adjetivo, sempre com significação de ação futura:
Hostes appropinquant urbem oppugnaturi, os inimigos que vão assaltar a cidade se
aproximam (= os inimigos se aproximam para assaltar a cidade).
Heluetii patriam reliquerunt nouas sedes quaesituri, os helvécios que vão procurar novas
moradas deixaram a pátria (= os helvécios deixaram a pátria para procurar novas moradas).
16
Só duas formas portanto de infinitivo na conjugação perifrástica ativa: infinitivo presente (particípio futuro +
esse); infinitivo perfeito (particípio futuro + fuisse). Nas duas formações o particípio futuro fica no acusativo,
concordante com o sujeito da oração infinitiva em que esses infinitivos vão aparecer. Note-se ainda que o
chamado “infinitivo presente” da conjugação perifrástica ativa é o mesmo “infinitivo futuro ativo” das seis
formas de infinito analisadas mais acima, na conjugação normal (página 24).
35
A conjugação perifrástica passiva se constrói com o gerundivo mais formas do verbo esse,
conforme os exemplos a seguir:
infinitivo presente: laudandum (-am, -um; -os, -as, -a) esse “haver de ser louvado”
infinitivo perfeito: laudandum (-am, -um; -os, -as, -a) fuisse “haver de ter sido louvado”17
17
Só dois infinitivos também na conjugação perifrástica passiva: infinitivo presente (gerundivo no acusativo +
esse); infinitivo perfeito (gerundivo no acusativo + fuisse). O gerundivo fica no acusativo porque esses
infinitivos aparecem na oração infinitiva. Juntando-se a conjugação normal mais a perifrástica, o infinitivo latino
vai apresentar até dez possíveis formas. Exemplos com amare: amare (amar), amari (ser amado), amauisse (ter
amado), amatum esse ou amatum fuisse (ter sido amado), amaturum esse (haver de amar), amatum iri (haver de
ser amado), amaturum fuisse (haver de ter amado), amandum esse (haver de ser amado), amandum fuisse (haver
de ter sido amado). O infinitivo presente ativo da perifrástica (amaturum esse) é o mesmo infinitivo futuro da
conjugação normal; o infinitivo presente passivo da perifrástica (amandum esse) e o infinitivo futuro passivo da
conjugação normal (amandum iri) têm a mesma tradução; o infinitivo perfeito passivo da conjugação normal
apresenta duas formas: amandum esse ou amandum fuisse.
18
Para compreensão do uso aí do dativo, faz-se mister tradução exageradamente literal: “Moças que devem ser
elogiadas (puellae laudandae) existem (sunt) para mim (mihi)”. Essa é a ideia, mas em tradução fluente fica “as
moças devem ser elogiadas por mim”.
36
d) Ainda que o verbo tenha sujeito, a construção acima continuará a mesma, colocando-se no
dativo o sujeito: Devemos correr (nobis currendum est)19.
EXERCÍCIOS
SUPINO ATIVO
19
Novamente construção latina estranha em português. Para maior compreensão da frase, como está em latim,
considera-se literalmente: “Para nós (nobis) deve haver corrida” ou “deve haver o ato de correr (currendum est)”.
37
SUPINO PASSIVO
O supino apresenta ainda uma forma em –u (laudatu, scriptu, dictu, factu, auditu, uisu ...),
geralmente de sentido passivo. Este chamado supino passivo serve para completar adjetivos
(facilis, difficilis, incredibilis, optimus, turpis ...) ou algumas palavras (fas, nefas, pudet, opus
est ...). Exemplos:
liber iucundus lectu, livro agradável de ler (= de ser lido)
res mirabilis uisu, coisa admirável de ver (= de ser vista)
EXERCÍCIOS
5. Difficile dictu est quantopere conciliet animos hominum comitas affabilitasque sermonis.
6. Legati Romani in castra Aequorum uenerunt questum iniurias et ex foedere res repetitum.
7. Eo dormitum (Horácio).
8. Cubitum discessimus (Cícero).
III) “A menina que lê”: a) puella lecta; b) puella lectura; c) puella legenda; d) puella legens.
VERBOS IRREGULARES
ědo, edis /es/, edit /est/, eděre /esse/, edi, esum (comer)21
confěro, -fers, -ferre, contŭli, collatum /conlatum/ (trazer juntamente, reunir, conferir)
diffěro, -fers, -ferre, distŭli, dilatum (levar para diferentes lados, dispersar, diferir)
fio, fis, fiěri, factus sum (ser feito, fazer-se, tornar-se, acontecer)
20
Indicam-se a seguir alguns dentre os mais usados; mais abaixo, a conjugação de sum. Para conferir a
conjugação completa dos demais verbos irregulares, pode-se consultar de preferência: E. Faria, Gramática
superior da língua latina, Rio, Acadêmica, 1958, pp.207-228.
21
Não confundir com ēdo, -is, -ěre, -dǐdi, -dǐtum (editar, publicar).
39
Conjugação de sum.
sum, es, est, sumus, estis, sunt sou, és ...
sim, sis, sit, sīmus, sītis, sint seja, sejas ...
eram, eras, erat, erāmus, arātis, erant era, eras ...
essem, esses, esset, essēmus, essētis, essent fosse, fosses ... (seria, serias ...)
ero, eris, erit, erǐmus, erǐtis, erunt serei, serás ... (for, fores ...)
fui, fuīsti, fuit, fuǐmus, fuīstis, fuērunt (fuēre) fui, foste … (tenho sido, tens sido …)
fuěrim, fuěris, fuěrit, fuerǐmus, fuerǐtis, fuěrint tenha sido, tenhas sido ...
fuěram, fuěras, fuěrat, fuerāmus, fuerātis, fuěrant fora, foras ... (tinha sido, tinhas sido ...)
fuīssem, fuīsses, fuīsset, fuissēmus, fuissētis, fuīsent tivesse sido ... (teria sido, terias sido ...)
fuěro, fuěris, fuěrit, fuerǐmus, fuerǐtis, fuěrint terei sido, terás sido ... (tiver sido ...)
imperativo presente: es, este sê (tu), sede (vós)
imperativo futuro: esto, esto, estote, sunto sê (tu), seja (ele), sede (vós), sejam (eles)
infinitivo presente: esse ser
infinitivo perfeito: fuisse ter sido
infinitivo futuro: futūrum esse (fore) haver de ser
particípio futuro: futūrus que há de ser, que será, futuro
22
Distinguir eo, eu vou (verbo) de eo (advérbio) e de eo (ablativo do pronome anafórico is, ea, id); distinguir is,
tu vais (verbo) de is (nominativo do anafórico).
23
Não confundir com uolo,-as,-are,-aui,-atum (voar) nem com o nome uolo,-ōnis (voluntário).
40
Observação:
Quanto à existência ou não de sujeito, é possível distinguir mais rigorosamente quatro tipos de
verbos:
I) Verbo pessoal: aquele que se conjuga, que apresenta sujeito expresso na frase ou implícito
na forma verbal: amo, deleo, scribo etc.
II) Verbo impessoal: aquele que não tem sujeito: fulget (relampeja), pluit (está chovendo) etc.
III) Verbo unipessoal: aquele que, usado na terceira pessoa, apresenta como sujeito ou um
infinitivo ou uma oração:
Convém estudar.
Ocorreu-nos que não há progresso sem estudo24.
Em latim são unipessoais os verbos indicativos de dever, necessidade, prazer: libet (apraz),
licet (é lícito), oportet (é preciso), decet (convém), dedecet (não convém) etc.
IV) Verbo acidentalmente unipessoal: aquele que, embora pessoal, pode vez por outra
empregar-se na terceira pessoa como se fosse unipessoal (quer dizer: com sujeito oracional).
Exemplo com liquēre (ser líquido, ser claro):
pessoal: uolo ut liqueant omnia [quero que todas as coisas fiquem claras (quero que tudo se
esclareça)]
unipessoal: non liquet mihi an debeam ... (não me é claro se eu deva ...)
a) Vimos que o verbo unipessoal apresenta como sujeito um infinitivo ou uma oração. Note-se
agora, como exemplificação a mais, a seguinte frase de Plauto:
Non decet esse te tam tristem (não convém estares tão triste).
A oração infinitiva esse te tam tristem exerce aí a função de sujeito de non decet.
Quanto a alguns verbos comuns que podem funcionar também como unipessoais, note-se
estoutro exemplo, agora com iuuare (agradar, ajudar, servir, auxiliar, ser útil etc.):
pessoal: iuuat liber discipulos meos (o livro ajuda meus alunos)
unipessoal: iuuat me discipulos meos legere (agrada-me que meus alunos leiam)
b) Verbos que indicam sentimento ou estado de ânimo (miseret, paenitet, piget, pudet, taedet)
se constroem geralmente com acusativo da pessoa que manifesta o sentimento e genitivo da
24
No primeiro exemplo o infinitivo “estudar” é sujeito de “convém”; no segundo a oração “que não há progresso
sem estudo” é sujeito oracional de “ocorreu-nos” (é o que nos ocorreu, o que nos veio à lembrança).
41
coisa sentida. Por exemplo “eu tenho vergonha da minha escola” ficaria “me pudet scholae
meae” 25.
e) Expresso por pronome aquilo de que alguém se arrepende, se enfada etc., pode também
ficar no acusativo: non te id pudet ? não te envergonhas disso ?
f) Os verbos decet (convém, fica bem) e dedecet (não convém, fica mal) também se usam
como pessoais, e daí podem aparecer até no plural:
superbia ne sapientem quidem decet (a soberba nem sequer ao sábio fica bem)
haec me decent (estas coisas me convêm)
EXERCÍCIOS
26
Offero /obfero/, -fers, -ferre, obtuli, oblatum. Notar a assimilação regressiva (ob + fero > obfero > offero) que
vai ocorrer no presente e nos demais tempos derivados do infectum.
43
b) Muitas vezes em latim aparece subjuntivo, em português indicativo; algumas vezes, vice-
versa. Exemplos:
Nescio quid dicas (não sei o que digas): em português pode-se traduzir “não sei o que dizes”.
Discipulus meus nescit quis fuerit Caesar (meu aluno não sabe quem tenha sido César): pode-
se traduzir “meu aluno não sabe quem foi César”.
... ante quam ex hac uita migro (Cícero) – indicativo
(... antes que eu migre desta vida) – subjuntivo
e) infinitivas
infinitiva subjetiva
legem breuem esse oportet (Sêneca)
convém ser breve a lei
(convém que a lei seja breve)
a) temporais
tempo: cum (quando); ubi (no momento em que, quando); ut (desde que, logo que); quando
(quando); dum (enquanto, até que); donec (enquanto); postquam (depois que); quoad (até
que); antequam (antes que); priusquam (antes que); simul ac (logo que, apenas, assim que)
obs.: cum (= quom); postquam (= posteaquam); simul ac (= simul atque, simul ut)
Essas as principais conjunções que introduzem as orações que exprimem a noção de tempo.
Nessas orações temporais, o verbo poderá ficar no indicativo ou no subjuntivo (mais no
indicativo, pois na maioria das vezes as temporais exprimem fato real). Exemplos:
cum Caesar in Galliam uenit, alterius factionis principes erant Haedui (César)
quando César chegou à Gália, os éduos eram os chefes de um dos partidos
[cum Caesar in Galliam uenit (quando César chegou à Gália): fato certo, uso do indicativo]
is qui non defendit iniuriam neque propulsat, cum potest, iniuste facit (Cícero)
aquele que não rechaça nem repele a injúria, quando pode, age injustamente
priusquam hostes se ex terrore ac fuga reciperent, Caesar exercitum in finem Suessionum
duxit (César)
antes que os inimigos se recuperassem do terror e da fuga, César conduziu para o território
dos suessões o exército
46
b) causais
Vejam-se a seguir as possibilidades de construção (conjunção e modo verbal) da oração
causal em latim.
por que aqueles corruptos não são presos, quando (= já que) teriam sido condenados ?
(cur non in carcerem illi corrupti mittuntur, cum condemnati sint ?)
causa: quod (= porque): indicativo (causa real); subjuntivo (causa não-certa, hipótese, opinião
alheia)
Heluetii quoque reliquos Gallos uirtute praecedunt, quod fere cotidianis proeliis cum
Germanis contendunt (César)
os helvécios também precedem os restantes gauleses em bravura, porque combatem com os
germanos em batalhas quase cotidianas
denique exorauit tyrannum ut abire liceret, quod iam beatus nollet esse (Cícero)
enfim solicitou ao tirano que /lhe/ fosse permitido ir embora, porque já não quisesse ser feliz
sapiens legibus non propter metum paret, sed eas sequitur, quia salutare maxime esse
iudicat (Cícero)
o sábio às leis não por medo obedece, mas as segue, porque julga ser maximamente salutar
[em resumo, para quod e para quia: indicativo (causa real e verdadeira), subjuntivo (causa ou
como opinião alheia ou como não-real)]
causa: quoniam (pois que); quando (uma vez que); quandoquidem (uma vez que realmente);
siquidem (visto que, já que): indicativo
deum te igitur scito esse, siquidem est deus qui uiget, qui meminit ... (Cícero)
sabe portanto que tu és um deus, visto que é um deus quem está vigoroso, quem se recorda ...
nunc demum istuc dicis, quoniam ius meum esse intellegis (Plauto)
agora enfim dizes isso, pois que entendes ser direito meu
c) condicionais
A lógica da construção da oração condicional no período composto latino funciona como em
português; deve-se-lhe observar no entanto:
- o uso do si também com o presente do subjuntivo,
- não existir o futuro do pretérito (condicional),
- não existir o futuro do subjuntivo.
Conjunções: si (se); nisi (a não ser que, se não); dum (contanto que).
[obs.: o escritor considera aí como real uma condição e como real também uma consequência]
d) consecutivas
Oração consecutiva: mostra a consequência e tem, em latim, o verbo no subjuntivo. Exemplo:
Quem é tão demente que por vontade própria se entristeça ?
Quis tam demens est ut sua uoluntate maereat ? (Cícero)
in naturis hominum dissimilitudines sunt ut alios dulcia, alios submara delectent (Cícero)
nas naturezas dos homens há diferenças, de sorte que a uns as coisas doces, a outros as meio
amargas deleitem
[às vezes, como nesse exemplo de Cícero, não aparece um correlativo (tam, tantum, tales) na
oração principal; daí, isolada, a conjunção ut significa “de sorte que”]
e) concessivas
A oração concessiva indica que se faz uma concessão relativamente ao que se afirma na
oração principal. Conjunções que usualmente iniciam uma concessiva:
49
etsi (ainda que), tametsi (se bem que): com indicativo em geral
cum (conquanto), ut (posto, posto que), licet (embora), quamuis (dado que), etiamsi (ainda
que): em geral subjuntivo, mais raramente indicativo
f) comparativas
A oração comparativa apresenta o verbo no indicativo ou no subjuntivo, mais comumente no
indicativo, porque é oração de subordinação fraca. Conjunções usuais: ut (como), sicut (assim
como), quomŏdo (como, de modo que), quemadmodum (do mesmo modo que), tamquam (tal
qual), tamquam si (como se), quasi (como se, como que, da mesma forma que), quam (que,
do que, quanto)
g) finais
A oração final indica o fim ou a intenção do que se enuncia na oração principal. Conjunções:
ut (para que, a fim de que); quo (para que, para que assim); ne (para que não). Verbo
comumente no subjuntivo.
obs.: a oração final negativa é introduzida por ut ne /uti ne/ ou ne (a fim de que não):
uitem deligato recte flexuosa uti ne sit (Catão)
amarra direito a vinha para que não fique tortuosa
Carthaginienses, prima luce oppugnaturis hostibus castra, saxis undique congestis augent
uallum
51
Obs.: Note-se nestúltima frase raro exemplo de ablativo absoluto com particípio futuro
oppugnaturis hostibus castra “havendo os inimigos de assaltar o acampamento” (= porque os
inimigos estavam para assaltar o acampamento).
animi hominum terrentur stellis iis quas Graeci cometas nostri crinitas stellas uocant
(Cícero)
os ânimos dos homens são aterrados por aquelas estrelas que os gregos chamam cometas, os
nossos estrelas de crina
b) relativas finais
c) relativas consecutivas
quae tam firma ciuitas est, quae non odiis funditus possit euerti ? (Cícero)
qual Estado é tão firme que pelos ódios não possa ser revolvido desde os alicerces ?
52
d) relativas concessivas
quis est qui C. Fabricii, M. Curii non cum caritate aliqua beneuola memoriam usurpet, quos
nunquam uiderit ? [= cum (quamuis) eos nunquam uiderit ?]
quem é aquele que não com alguma benévola ternura se empregue na recordação de Caio
Fabrício, de Marco Cúrio, aos quais nunca tenha visto ? [= embora nunca os tenha visto ?]
e) relativas condicionais
III) quais as bases (temas) que se podem considerar para estudo das formas verbais ?
exemplificar com ago, -is, -ere, egi, actum
cumque Aristoteles itemque Theophrastus, excellentes uiri, cum subtilitate, tum copia, cum
philosophia dicendi etiam praecepta coniunxerint, nostri quoque oratorii libri in eumdem
numerum referendi uidentur; ita tres erunt de oratore, quartus, Brutus, quintus, orator
(Cícero, De diuinatione II, 1, 4)
Em gramática latina, caso significa função sintática. Definido doutra maneira, caso é a forma
que a palavra variável (nome ou pronome) adquire de acordo com sua função sintática na
frase. Assim uma palavra como puella (menina) pode aparecer em formas tais como puella,
puellam, puellarum etc., conforme esteja funcionando como sujeito, objeto direto, adjunto
adnominal etc. O caso é indicado pela terminação (desinência casual) da palavra: puella,
puellam, puellarum.
São seis os casos, indicados a seguir com suas primeiras correspondentes funções sintáticas:
nominativo: caso do sujeito e do predicativo do sujeito; é antes de tudo o nome, isto é, a
primeira forma da palavra latina
vocativo: caso do vocativo (quando a palavra é usada para interpelar, para chamar a atenção)
acusativo: objeto direto e predicativo do objeto direto
ablativo: corresponde a vários tipos de adjuntos adverbiais
dativo: complemento “para quem” (objeto indireto ou complemento nominal com as
preposições “a” ou “para”)
genitivo: adjunto adnominal de posse
O quadro acima é incompleto; as demais funções sintáticas correspondentes aos casos serão
apreendidas na sequência deste estudo.
27
Em princípio, o advérbio pode sofrer variação de grau. Por exemplo: de rapide (rapidamente) forma-se
rapidissime (rapidissimamente).
28
E ainda em grau, no que diz respeito aos adjetivos.
29
No dicionário o substantivo aparece em duas formas, no nominativo e no genitivo: puella,-ae; dominus,-i;
homo,-inis; sensus,-us; dies,-ei. O nominativo é a primeira forma; o genitivo caracteriza a declinação a que
55
PRIMEIRA DECLINAÇÃO
A primeira declinação compreende nomes femininos (puella, magistra, mensa, insula, terra,
stella ...) e alguns masculinos (nauta, pirata, poeta ...). Caracteriza-se pela desinência -ae de
genitivo do singular.
singular plural
nom. puella puellae
voc. puella puellae
acus. puellam puellas
abl. puellā puellis
dat. puellae puellis
gen. puellae puellarum
Observações:
a) A primeira declinação apresenta portanto nomes em -a (genitivo -ae); esses nomes são de
gênero gramatical feminino (puella, regina, magistra, schola), salvo os que designam rios,
homens e atividades masculinas (Sequana, Catilina, Cinna, agricola, nauta).
b) Aparece às vezes genitivo singular em -ai (puellai por puellae).
c) Antigo genitivo singular em -as em expressão como paterfamilias (pai de família) e
algumas outras desse tipo.
d) Ablativo e dativo do plural em -abus nas palavras filia e dea: filiabus, deabus.
SEGUNDA DECLINAÇÃO
singular plural
nom. dominus domini
voc. domine domini
acus. dominum dominos
abl. domino dominis
dat. domino dominis
gen. domini dominorum
Observações:
a) Os nomes próprios em -ǐus (i breve) têm o vocativo em -ī (i longo): Antonǐus, voc. Antonī.
A mesma regra para meus e filius. Mas atenção: Darīus (i longo) faz o vocativo Darie.
b) O genitivo singular em -ii pode aparecer contraído em -i. Exemplo: ingenium, gen. ingeni.
c) Exceções: deus é nome irregular; humus é feminino; uulgus, uirus e pelǎgus são neutros e
defectivos.
Os adjetivos ditos “da primeira classe” seguem as duas primeiras declinações. Apresentam, no
nominativo singular, três terminações: -us ou -er (forma masculina), -a (feminina), -um
(neutra). Exemplos:
No masculino, esse tipo de adjetivo segue a segunda declinação e se declina portanto como
dominus; no feminino, a primeira como puella; no neutro, a segunda de nome neutro como
templum.
Em latim o adjetivo concorda em gênero, número e caso com o substantivo ao qual se refere;
a declinação do adjetivo pode ser diferente da do substantivo:
poeta bonus
puella pulchra
pinus alta
templum altum
libri poetarum bonorum
agricolas laboriosos et magistros seueros laudamus
TERCEIRA DECLINAÇÃO
58
A terceira declinação abrange nomes dos três gêneros gramaticais; caracteriza-os o genitivo
singular em -is. Exemplos de nomes indicados no nominativo e no genitivo:
homo, hominis
libertas, libertatis
tempus, temporis
lex, legis
gens, gentis,
libido, libidinis
orator, oratoris
auris, auris
hostis, hostis
tempus, temporis
animal, animalis
mare, maris
Note-se que esses nomes têm terminação variada no nominativo singular. O genitivo (menos a
desinência -is) dá o radical:
singular plural
nom. homo homines
voc. homo homines
acus. hominem homines
abl. homine hominǐbus
dat. homini hominǐbus
gen. hominis hominum
Observações:
59
Os adjetivos ditos “da segunda classe” seguem a terceira declinação e são do tipo ou triforme
ou biforme ou uniforme. O triforme apresenta, no nominativo singular, três terminações (uma
para cada gênero); o biforme, duas (uma para masculino e feminino, outra para o neutro); o
uniforme, uma só para os três gêneros:
campester (m.), campestris (f.), campestre (n.)
fortis (m./f.), forte (n.)
uelox (m./f./n.), gen. uelocis
prudens (m./f./n.), gen. prudentis
QUARTA DECLINAÇÃO
61
A quarta declinação compreende sobretudo nomes masculinos (exercitus, fructus, status ...),
alguns femininos (manus, socrus ...) e alguns neutros (cornu, ueru ...). Tais nomes se
caracterizam pelo genitivo singular terminado em -us.
singular plural
nom. manŭs manūs
voc. manŭs manūs
acus. manum manūs
abl. manu manǐbus
dat. manŭi manǐbus
gen. manūs manŭum
Observações:
a) Os neutros fazem o nominativo em -u.
b) Alguns nomes fazem em -ŭbus o plural de ablativo e dativo; exemplos: partus, abl. e dat.
pl. partŭbus; portus, abl. e dat. pl. portŭbus
c) Não confundir com nome da 2ª. declinação. Distinguir: senatus,-us (4ª.); capillus,-i (2ª.).
d) Alguns poucos nomes com duplicidade de temas (-o) (-u) hesitam entre a 4ª. e a 2ª.
declinação; exemplo: domus,-us e domus,-i – acus. pl. domūs e domos; abl. sing. domu e
domo ...
QUINTA DECLINAÇÃO
62
singular plural
nom. dies dies
voc. dies dies
acus. diem dies
abl. die diēbus
dat. diēi diēbus
gen. diēi diērum
OS SEIS CASOS
uitam regit fortuna, non sapientia (a sorte, não a sabedoria, rege a vida)
o beate Sesti, uitae summa breuis spem nos uetat inchoare longam (Horácio)
[ó opulento Séstio, a suprema brevidade da vida nos impede de iniciar esperança longa]
nate, quis indomitas tantus dolor excitat iras ? (Virgílio)
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O ablativo corresponde a vários tipos de adjuntos adverbiais; é o caso que exprime mormente,
dentre outras, as expressões que indicam “com quê” e “por meio de quê”, traduzidas, em
português, geralmente com preposições (em, com, por etc.) ou com locuções prepositivas (por
meio de, através de etc.). Exemplo:
qui gladio ferit, gladio perit (quem com gládio fere, com gládio perece)
discipuli pecuniam dare uoluerunt magistro (os alunos quiseram dar dinheiro ao professor)
parua manus Graecorum ingentem exercitum Persarum deuicit (a pequena tropa dos gregos
arrasou o ingente exército dos persas)
EXERCÍCIOS
II) Idem.
Muscas araneae deuorant.
Agricolae uitam amant rusticam.
Magistra educabat discipulas suas.
Magistras seueras et puellas sordidas fugio.
III) Idem.
Famula areolas irrigat nassiterna.
Agricolae feras sagittis necant.
Patriam industria nostra illustramus.
IV) Idem.
[1ª. declinação; 2ª. declinação; adjetivos da 1ª. classe]
Numerus Persarum in proelio Marathonio magnus fuit.
Homerus et Aeschylus poetae clari Graecorum erant.
Romani oppida uallis fossisque muniebant.
Pueri, audite consilia bona fidi amici.
In Sicilia, insula magna Italiae, multa oppida sunt.
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substantivo
numerus,-i, m. número Persae,-arum, m.pl. os persas
proelium,-ii, n. combate poeta,-ae, m. poeta
Graeci,-orum, m.pl. os gregos Romani,-orum, m.pl. os romanos
oppidum,-i, n. fortaleza uallum,-i, n. paliçada, trincheira
fossa,-ae, f. fosso, cova puer,-i, m. menino, criança
consilium,-ii, n. conselho amicus,-i, m. amigo
Sicilia,-ae, f. Sicília insula,-ae, f. ilha
adjetivo
magnus,-a,-um (grande) Marathonius,-a,-um (de Maratona)
clarus,-a,-um (famoso) bonus,-a,-um (bom)
fidus,-a,-um (fiel) multus,-a,-um (muito)
verbo
fuit (foi) erant (eram)
muniebant (fortificavam) audite (ouvi)
sunt (existem)
palavra invariável
in, prep. com abl. em et, conj. e
V) Idem.
Ars longa, uita breuis.
Amicorum bona communia sunt.
Discipulis omnibus placent dulcia carmina nobilium poetarum.
Elephanti dentes ebur praebent.
VII) Leitura.
Caesar equitatum in campo, legionem in saltu constituerat (tinha colocado). Galli impetum in
Romanos fecerunt (fizeram): simul ex cunctis urbis partibus clamor ortus est (levantou-se).
Romani repentino tumultu perterriti ascensu et cursu et iniquitate loci fatigati fugerunt
(fugiram). Caesar, cum uideret (visse) euentum pugnae, receptui cani (ser tocada) iussit
(mandou). Fortitudo Vercingetorigis, principis Gallorum, exercitui Romanorum magnam
cladem intulit (infligiu).
in, prep. com abl. em per, prep. com acus. por, através de
et, conj. e
XII) Idem.
1. Antiqua fabula.
2. Noua et antiqua beneficia.
3. Est aqua in riuis, sunt herbae in agris.
4. Discipulus non est super magistrum.
5. Graecorum et Romanorum discipuli sumus.
6. Romanis non deerant hastae et gladii.
[non deerant “não faltavam” (c/ dat.)]
7. Bona memoria est magnum Dei beneficium.
8. Praedones uiatoribus saepe magna pericula parant.
9. Bonos mores corrumpunt colloquia mala.
10. Equus Troianus firma latera habebat.
11. Elephanti magna capita, latos pedes, paruos oculos habent.
12. Multi liberi principium Galliae erant obsides Caesaris.
13. Anseres Iunonis clamore suo custodes Capitolii fuerunt.
14. Libertas tua meae libertati non sit noxia.
15. Per noctes hiemis claram siderum lucem saepe uidemus.
16. Dei beneficio neque cibus neque potio homines deficit.
17. Veterani robur erant Romanorum exercituum.
18. In Barbarorum exercitu uictus inopia questus acerbos et insolitos motus concitabat.
19. Fortitudo Vercingetorigis, principis Gallorum, exercitui Romanorum magnam cladem
intulit.
20. Diu Athenienses imperii maritimi principatum tenuerunt.
21. Vrsi in specubus altis recessus habent.
22. Lux diei.
23. Materies rerum.
24. Rara est fides.
25. Beneficia fidei magna sunt.
26. In libro non speciem sed fidem quaero.
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PRONOME
- do pronome pessoal
nom acus abl dat gen
ego me me mihi mei
tu te te tibi tui
/ego/ laboro
ego laboro, tu ludis
pater te castigabit
studium mihi benignum est
pater mihi pulchrum librum dedit
mei potens sum
não há pronome de tratamento: “você e eu” fica ego et tu
--- se se sibi sui
nos nos nobis nobis nostri (nostrum)
uos uos uobis uobis uestri (uestrum)
--- se se sibi sui
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Com exceção dos pessoais e dos possessivos, todos os demais pronomes têm o genitivo do singular em –ius e
o dativo singular em –i.
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- do pronome possessivo
meus, mea, meum
tuus, tua tuum
suus, sua, suum
noster, nostra, nostrum
uester, uestra, uestrum
suus, sua, suum
observações:
a) seguem a declinação do adjetivo da primeira classe;
b) o vocativo singular de meus e mi;
c) na terceira pessoa a forma reflexiva é uma só, para singular e plural (suus, sua, suum)
1. Fabius se interfecit.
2. Fabius eum interfecit.
3. Omnes formidant homines eius ualentiam (Névio).
4. Omnes formidant homines suam ualentiam.
5. Magister discipulum suum laudat.
6. Magister discipulum eius laudat.
7. Sapientes nunquam de suis uirtutibus multa praedicant.
8. Brasilia est communis omnium nostrum patria.
9. Horatius et Virgilius elegantissimi poetae fuerunt; omnes homines eorum opera libenter
legunt.
10. Heluetii cum Germanis contendunt, eos suis finibus prohibent aut ipsi in eorum finibus
bellum gerunt (César).
O pronome relativo latino inicia a chamada oração relativa ou oração adjetiva; concorda em
gênero e número com seu antecedente; o caso do pronome relativo depende da função
sintática que ele estiver exercendo na oração adjetiva. Exemplos:
uir qui patriam defendit ciuis bonus est (o varão que defende a pátria é cidadão de bem)
[qui, pron. rel. no nom. sing. masc., sujeito de defendit da oração qui patriam defendit]
uir quem laudamus patriam defendit (o varão que elogiamos defende a pátria)
[quem, pron. rel. no acus. sing. masc., complemento direto de laudamus]
singular
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plural
- do pronome indefinido
os indefinidos unus, alter, alius, solus, nullus, ullus e neuter seguem a declinação dos
adjetivos da primeira classe, mas fazem o genitivo do singular em -ius e o dativo do singular
em -i
- do advérbio de modo
Exemplos:
dignus dign- digne (dignamente, de maneira digna)
fortis fort- fortǐter (bravamente, corajosamente)
igualdade e inferioridade
tam doctus quam
minus doctus quam
superioridade
a) forma analítica com magis ... quam (o comparativo), maxime (o superlativo)
magis doctus quam
maxime doctus
b) forma sintética, com sufixos: -ior (para o comparativo), -issimus (para o superlativo
doctior (mais douto)
doctissimus (doutíssimo, o mais douto)
- graus do advérbio
distingua-se:
Cato prudentissimus uir fuit (Catão foi varão prudentíssimo)
Cato prudentissime egit (Catão agiu prudentissimamente)
EXERCÍCIOS
- do numeral
- cardinais
unus, duo, tres, quattuor, quinque, sex ...
- ordinais
primus, secundus, tertius, quartus, quintus, sextus ...
- distributivos
singuli, bini, terni, quaterni, quini, seni ...
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Os distributivos indicam a distribuição em grupos (um a um, dois a dois etc.) dos seres ou das coisas: Veterani
bina sestertia acceperunt (os veteranos receberam cada um dois mil sestércios).
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- da preposição
As flexões casuais não se mostram suficientes, em latim, para indicar as várias possibilidades
de relações sintáticas entre os termos da oração. Daí a ordem das palavras às vezes se mostra
necessária para a distinção entre as funções de cada uma, como neste trecho de Terêncio:
Socrus oderunt nurus (as sogras odeiam as noras). Daí também algumas expressões
adverbiais se exprimirem com exatidão só com o auxílio de preposições.
Preposições que regem ablativo:
a (ab) (abs), de, e (ex), cum pro, sine ...
Observações:
a) A preposição portanto vai reger o caso da palavra por ela determinada; as seguidas de
palavra no ablativo indicam a idéia geral de afastamento [exire a schola (sair da escola)], as
com acusativo, a ideia geral de movimento [ire ad scholam (ir à escola)].
b) Algumas preposições são empregadas também como advérbios [ut hi misěri, sic contra illi
beati (Cícero), assim como estes /são/ míseros, aqueles, ao contrário (contrariamente), são
opulentos].
- da conjunção
EXERCÍCIOS
II) traduzir
1. equi coercendi
2. equi coercendi sunt
V) traduzir
1. discipula lectura
2. discipula lectura est
X) sublinhar o supino
1. hostes oppugnatum patriam nostram uenerunt
2. uulgus Atheniensium in terram praedatum exierat
3. difficile dictu est quantopere conciliet affabilitas sermonis
XII) idem
1. ubi ad ipsum ueni deuorticulum, constiti (Terêncio)
2. donec eris felix, multos numerabis amicos (Ovídio)
3. gratulor tibi cum tantum uales apud Dolabellam (Cícero)
4. quoniam Miltiades ipso pro se dicere non posset, uerba pro eo fecit frater eius Tisagoras
(C. Nepos).
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Regem dativo muitos adjetivos que indicam “utilidade” (aptus, utilis, gratus ...): Id gratum est mihi (Plauto),
isso me é grato.
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XIII) idem
1. genua anus metu tremebant
2. omnium sensuum caput est sedes
3. fundamentum iustitiae est fides (Cícero)
4. auis serpentium adlapsus timet (Horácio)
5. Cato uino laxabat animum (Sêneca)
Post Tullum Hostilium Ancus Martius, Numae Pompilii nepos, rex creatus est. Contra Latinos
pugnauit. Carcerem primum aedificauit. Auentinum et Ianiculum montes urbi adiecit et muro
lapideo eam circumdedit. Ad Tiberis fluminis ostia urbem condidit, et Ostiam uocauit.
Vicesimo quarto imperii anno, morbo obiit.
XXIV) mudar a forma do adjetivo entre parênteses para fazê-lo concordar com o substantivo
operibus (pulcher, -chra, -chrum)
flos (rarus, -a, -um)
aquae (purus, -a, -um)
fide (magnus, -a, -um)
manu (liber, -a, -um)
hominem (omnis, -e)
labori (facilis, -e)
uina (mitis, -e)
deorum (immortalis, -e)
amicos (fidens, -entis)
XXV) verter para o latim, empregando o caso adequado: ablativo, dativo ou genitivo
1. com palavras vulgares
2. para todas as mulheres
3. /exemplo/ da fidelidade feminina
4. com belas flores
5. a um prudente camponês
palavra – uerbum, -i, n. vulgar – uulgaris, -e, adj.
mulher – mulier, -eris, f. todo – omnis, -e, adj.
fidelidade – fidelitas, -atis, f. feminino – femininus, -a, -um, adj.
flor – flos, floris, m. belo – pulcher, -chra, -chrum, adj.
camponês – agricola, -ae, m. prudente – prudens, -entis, adj.
exemplo – exemplum, -i, n.
substantivo
numerus,-i, m. número Persae,-arum, m.pl. os persas
proelium,-ii, n. combate poeta,-ae, m. poeta
Graeci,-orum, m.pl. os gregos Sicilia,-ae, f. Sicília
puer,-i, m. menino, criança consilium,-ii, n. conselho
amicus,-i, m. amigo insula,-ae, f. ilha
adjetivo
magnus,-a,-um (grande) Marathonius,-a,-um (de Maratona)
clarus,-a,-um (famoso) bonus,-a,-um (bom)
fidus,-a,-um (fiel) multus,-a,-um (muito)
verbo
fuit (foi) erant (eram)
muniebant (fortificavam) audite (ouvi)
sunt (existem)
palavra invariável
in, prep. com abl. em et, conj. e
86
ÍNDICE
87
Introdução, 2
Primeira parte – morfossintaxe do verbo, 7
Conjugações, 7
Enunciação, 7
Temas, 8
Tema do infectum, 8
Tema do perfectum, 8
Tema do supino, 9
Formação dos tempos, 10
Formas nominais do verbo: os particípios, 15
Voz passiva dos tempos do infectum, 17
Voz passiva dos tempos do perfectum, 18
Verbo depoente, 20
Verbo semidepoente, 21
Sintaxe: ablativo absoluto, 22
Formas nominais do verbo: os infinitivos, 24
Sintaxe: oração infinitiva, 26
Formas nominais do verbo: gerúndio e gerundivo, 29
Gerúndio, 29
Gerundivo, 31
Conjugação perifrástica ativa, 33
Conjugação perifrástica passiva, 35
Formas nominais do verbo: supino ativo e supino passivo, 36
Supino ativo, 36
Supino passivo, 37
O verbo latino – resumo, 37
Verbos irregulares, 38
Sintaxe: o modo verbal na oração subordinada, 42
Orações substantivas, 43
Orações adverbiais, 45
Orações relativas, 51
Segunda parte – morfossintaxe dos nomes, 54
As declinações dos substantivos e dos adjetivos, 55
Primeira declinação, 55
88
Segunda declinação, 56
Adjetivos da primeira classe, 57
Terceira declinação, 58
Adjetivos da segunda classe, 60
Quarta declinação, 61
Quinta declinação, 62
Os seis casos, 62
Pronome, 68
Do pronome pessoal, 68
Do pronome demonstrativo anafórico, 69
Do pronome possessivo, 70
Do pronome relativo, 71
Do pronome indefinido, 73
Do pronome indefinido-interrogativo, 73
Do advérbio de modo, 74
Da gradação de adjetivos e advérbios de modo, 75
Graus do advérbio, 76
Do numeral, 77
Da palavra invariável: preposição, conjunção, interjeição, 78
Da preposição, 78
Da conjunção, 79
Da interjeição, 80