DIFERENTES ABORDAGENS Da Adolescencia

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A VERDADE

A porta da verdade estava aberta,


mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.
Assim não era possível atingir toda a
verdade, porque a meia pessoa que entrava
só trazia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade
voltava igualmente com meio perfil.
E os meios perfis não coincidiam.

Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.


Chegaram ao lugar luminoso
onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em metades
diferentes uma da outra.
Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma das duas era totalmente bela.
E carecia optar. Cada um optou conforme
seu capricho, sua ilusão, sua miopia.
Carlos Drummond de Andrade
DIFERENTES ABORDAGENS SOBRE A
ADOLESCÊNCIA
Há quatro posições teóricas diferentes:
1) A perspectiva da tempestade e do estresse;
2) A perspectiva cognitiva;
3) A perspectiva que enfatiza o contexto onde ocorre o
desenvolvimento psicológico;
4) A perspectiva do modelo focal.
1) A PERSPECTIVA DA TEMPESTADE E DO
ESTRESSE
G. Stanley Hall – período caracterizado pelo ímpeto
e tempestade (romantismo- idealismo, paixão,
sofrimento, revolução e contestação da ordem
estabelecida) – estágio de turbulência, de
conflitos entre os impulsos e as demandas
sociais, que passa
– da selvageria para o mundo
civilizado.
- A adolescência é vista como o período mais
maleável de desenvolvimento, com um enorme
potencial para o crescimento e a mudança.

- Ao mesmo tempo acreditava que a


adolescência é um período de contínua e
significativa ruptura, caracterizada por
impulsos contraditórios e conflitos.
- Na dimensão física, é caracterizada por
períodos de extremo esforço mental e energia
alternando-se com períodos de fadiga e
apatia.
- Na dimensão psicológica, Hall afirmava que os
adolescentes vacilavam entre o egoísmo e o
altruísmo, a vaidade e a falta de confiança, a
virtude e o vício, a insensibilidade e a
indiferença, a curiosidade e a falta de
interesse.
- Esses conflitos caracterizam a ideia da
adolescência como tempestade e estresse,
agravados pela crescente urbanização do início
do século XX.
- Esse modo de ver era reflexo do modo de
pensar e das crenças da época, recebendo
legitimidade científica a partir dos estudos de
Hall. Seu trabalho capturou a imaginação
pública, popularizando a ideia da adolescência
como um período específico de
desenvolvimento.
A visão psicanalítica – confirma essa imagem conflituosa
- Freud modificou o conhecimento da época, ao afirmar
que a sexualidade não começa na puberdade e sim na
infância; com o término da latência e o ressurgimento
de impulsos sexuais, a partir da puberdade, inicia-se o
processo de alcance da sexualidade genital; retorno do
Complexo de Édipo, necessidade de distanciamento
emocional dos pais, voltando-se para os iguais e a
escolha de um parceiro.
- Como retomada, a adolescência tem um papel
secundário em relação à infância.
- Anna Freud – dá mais ênfase à adolescência, insuficiência dos
antigos mecanismos de defesa, gerando a necessidade de novos,
exclusivos dessa etapa.
- Ela liga a sexualidade infantil à maturação que ocorre na puberdade,
vendo-as como similar no aspecto em que ambas são fontes de
intensos conflitos intrapsíquicos: a maturação da puberdade envolve
uma recapitulação da sexualidade infantil, levando a reviver os
impulsos sexuais acompanhados da restauração do desejo edípico,
que estava adormecido no período da latência.
- O ressurgimento desses impulsos leva à tempestade e ao estresse
intrapsíquico.
- Os mecanismos de defesa desse período subordinam o
desenvolvimento emocional e cognitivo do adolescente
ao controle dos impulsos sexuais.
- Esses mecanismos de defesa incluem: ascetismo, que
assegura o controle do ego sobre o id;
intelectualização, pensamentos e reflexões filosóficas
sobre temas conflituosos – manipular conteúdos de
uma forma impessoal e distanciada; ambivalência –
conduta pouco previsível.
- Como sentimentos edípicos que ressurgem durante a
adolescência, sentimentos incestuosos em relação aos pais
abrem caminho para sentimentos de antagonismos,
resultando, inevitavelmente, em conflitos entre pais e filhos.
- Consequentemente, conflito e rebelião são considerados
necessários para que esses sentimentos edípicos sejam bem
resolvidos.
- O distanciamento dos pais leva à conquista de dois objetivos:
a resolução dos sentimentos edípicos e o encontro de
parceiros amorosos. Além disso, propões que uma autonomia
emocional saudável envolve separação e desapego dos pais,
uma noção perpetuada na visão popular sobre a
adolescência.
- Peter Blos – na adolescência ocorre um segundo processo de
individuação.
- Acredita que na infância há importantes distinções entre o eu e o outro.
Durante a adolescência essas distinções são revisitadas de uma forma
mais complexa, em um processo que resulta na conquista de um
sentido de identidade.
- Também acreditava ser necessária a separação dos pais para o
processo de individuação. A necessidade de se afastar dos pais
(desidealizados) gera um vazio a ser preenchido por ídolos, grupos de
amigos e grupos de fãs. Aqueles que experimentam uma adolescência
livre de conflito são descritos como imaturos ou estão adiando as
tarefas da adolescência.
- Hall, Freud, Anna F. e Blos veem que a rebelião dos jovens e
o conflito com os pais são normais, sendo característicos da
adolescência, sendo manifestações psicológicas das
mudanças biológicas da puberdade. Assim, veem a natureza
da relação pais-adolescentes como fundamentalmente
descontínua em relação à infância.
- A qualidade da relação na infância não prediz a qualidade
da relação na adolescência. Conflito e rebelião são
desejáveis para o desenvolvimento saudável e a separação
dos pais. Essa é uma visão criticada por se basear em uma
amostra clínica.
Erik Erikson – ênfase nos fatores sociais e
culturais – crise de identidade e
desenvolvimento do eu, contribuindo
para o desenvolvimento da
personalidade adulta.
2) A perspectiva cognitiva
Distanciada de uma visão marcada por tensões e
conflitos – uma nova forma de enfrentar
cognitivamente tarefas e conteúdos – capacidade de
pensar de maneira abstrata, considerando hipóteses
alternativas diante de uma situação ou problema,
testando-as e confirmando-as ou não de acordo com a
realidade.
3) A PERSPECTIVA QUE ENFATIZA O CONTEXTO ONDE OCORRE O
DESENVOLVIMENTO PSICOLÓGICO

- Urie Bronfenbrenner – principal autor. As ideias


principais dessa perspectiva são:
- O contexto (ecologia) é fundamental para a
compreensão do desenvolvimento humano –
importância do ambiente, incluindo a família, os
aspectos geográficos, políticos, sociais e históricos, ou
seja o local onde o adolescente se encontra;
- tempo – a importância de se marcar o quando dos
eventos, o que também revela o seu
significado na vida do adolescente;
- a continuidade do desenvolvimento humano –
observar a similaridade e as diferenças entre os
estágios de desenvolvimento, comparando as
transições;
- os indivíduos e suas famílias influenciam-se
mutuamente – por exemplo, a transformação da
criança em adolescente muda a família, ao
mesmo tempo em que as alterações na família
mudam o desenvolvimento do adolescente;
- os indivíduos são agentes do seu desenvolvimento,
oferecendo sua forma característica. Os adolescentes
constroem a sua adolescência. Essa visão tem
implicações para a pesquisa e a formulação de teorias
sobre a adolescência, já que reforça a necessidade de
incluir o ponto de vista de quem a experimenta;
- o estudo da interação entre a pessoa e o contexto está
embasado na ideia do “bom encaixe” – em que medida as
necessidades individuais são congruentes com o contexto
– adaptação, sendo o resultado dependente do modo
como esses dois sistemas trabalham juntos. Ex: o
monitoramento e a supervisão dos pais funcionam melhor
à medida que há cooperação do adolescente.
4) A PERSPECTIVA DO MODELO FOCAL

- John Coleman – principal referência – é um modelo baseado


nos estudos sobre o desenvolvimento normal do
adolescente, que não confirmam a visão da adolescência
como um período de turbulência.
-crítica às teorias baseadas em uma amostra clínica.
- os comportamentos desajustados têm mais espaço na mídia
e assustam os adultos, gerando maior preocupação e
atenção por parte deles.
- a ideia dessa teoria é a de que as dificuldades não costumam se
apresentar de forma simultânea, fazendo com que o adolescente lide
com cada desafio por vez; após a puberdade, a sequência dos eventos
varia de acordo com a cultura.
- o estresse ocorre quando esses desafios são apresentados
simultaneamente e não encontram suporte familiar e social.
-de todo modo, em qualquer circunstância, acredita-se na participação
ativa do adolescente (agência) para a construção de seu processo de
desenvolvimento, o que ajuda a construir uma estrutura conceitual mais
realista sobre o modo como os adolescentes lidam com os desafios que
se apresentam nessa fase.

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