O NOVO CÓDIGO DO PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO - Docx Compor
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Isto é uma consequência de um princípio que foi muito caro à Comissão que elaborou a
revisão do Código, o de que num País em que os cidadãos pagam impostos elevados a
Administração tem de ser contida nos seus gastos e não deve gastar dinheiros de que não
dispõe e, por isso, deve justificar os seus gastos.
O artigo 139º obriga à publicação no Diário da República de todos os regulamentos para que
eles sejam eficazes. Esta exigência não constava do Código anterior nem havia sido proposta
locais tenham de ser publicados no Diário da República. Devia bastar a sua publicação nos seus
-se
Constitui elemento essencial do conceito de regulamento ele visar produzir efeitos jurídicos
externos (artigo 135º). Isto significa que, pelo novo Código, ficam excluídos desse conceito
se um regulamento devido. E, por isso, se esse prazo não for respeitado, o particular pode
requerer ao órgão competente a emissão do regulamento (artigo 138º). O Projeto da Comissão
ia ainda mais longe e previa que o Ministério Público pudesse requerer ao tribunal
administrativo a intimação do órgão competente no sentido de emitir o regulamento.
É nova a Secção II
Da secção seguinte, a Secção IV do Capítulo I da Parte IV, extrai-se o novo regime de revogação
de regulamentos. Merece destaque o artigo 146º, nºs 2 e 3. Esses preceitos obrigam a que, em
caso de revogação de regulamentos que sejam necessários à execução das leis em vigor ou de
Direito da União Europeia, as respetivas matérias sejam objeto de nova regulamentação
simultaneamente com essa revogação, sob pena de continuarem, em vigor, até nova
regulamentação da matéria, as normas do diploma revogado das quais dependa a execução da
lei exequenda.
Também merece referência o nº 4 desse artigo 146º, que impõe que a revogação pelos
regulamentos seja expressa.
Este é, em nossa opinião, o domínio onde o Código mais inova (Parte IV, Capítulo II).
Em matéria de invalidade do ato administrativo, que está disciplinada na Secção III desse
capítulo II:
- acaba-se no Direito Administrativo Português com a distinção entre nulidades por natureza e
por cominação da lei. Os casos de nulidade passam a ser apenas os que estiverem
expressamente previstos na lei mas estende-se o leque exemplificativo dos atos nulos (artigo
161º);
atos nulos, embora agora em termos mais restritos do que no artigo 134º, nº 3, do Código
anterior (artigo 162º, nº 3);
- os atos nulos passam a poder ser objeto de reforma ou de conversão (artigo 164º, nº 2);
administrativa de um ato administrativo de modo a fazer coincidir o âmbito desse dever com o
do dever de executar a sentença judicial de anulação, que hoje se encontra regulado no artigo
173º, nº 1, do novo Código de Processo nos Tribunais Administrativos tal como este foi revisto
em 2015.
No que toca à revogação do ato administrativo, o novo Código traz muitas alterações em
relação ao Código antes em vigor. Essas alterações foram influenciadas pelo Direito
Comparado ou resultam do Direito da União Europeia. Vejamos as
- flexibilizam-se os prazos para a revogação e anulação tanto dos atos administrativos em geral
- reconhece-se que se torna necessário nas sociedades modernas uma revisão, uma
Esse equilíbrio é fundamental num Estado de Direito e, em Portugal, é imposto pelo artigo 26
6º, nº 1, da Constituição. Mas deve ser repensado o modo de se o alcançar. Numa sociedade
de mudanças rápidas, numa “sociedade de risco”, como é a dos tempos modernos, o interesse
público e os direitos dos particulares têm que encontrar novos padrões de compatibilização e
de coexistência. Há que manter, sem dúvida, um equilíbrio entre aquele e estes, mas em
termos tais que ele atenda ao condicionalismo dos tempos modernos. Por isso, permite-se a
face das quais, num caso ou noutro, eles não poderiam ter sido praticados, e com o direito do
fixarem diferentes prazos de anulação e de se definir o regime de reparação (artigo 168º, nºs
-fé sejam tratados em pé de igualdade. Isso atenta contra o princípio da proteção da confiança,
para além de constituir uma infração manifesta à letra do artigo 10º, como então foi dito;
- osatos constitutivos de direitos de conteúdo pecuniário contrários ao Direito da União
Europeia passam a poder ser objeto de anulação administrativa no prazo de cinco anos (artigo
nº 168º, nº 4, c). Isso dá satisfação à jurisprudência do TJUE firmada nos casos Deufil,
Milchkontor e Alcan, sobre a revogação de “ajudas do Estado” contrárias ao Direito da União.
Essa jurisprudência obriga os tribunais dos Estados membros. Com a inovação que o CPA agora
traz, dá
da sua jurisprudência anterior à entrada em vigor do novo CPA, andou à procura de um prazo
que fosse mais dilatado do que o prazo de um ano (que resultava da referência ao prazo do
na dimensão desse prazo. Agora o novo CPA dá ao STA o prazo de que ele andava à procura
- por sua vez, o novo artigo 168º, nº 7, vem, também em sede de prazo para a anulação
Esta questão carece de explicação mais desenvolvida, que não cabe neste lugar. Veja
Europeia, 2ª. ed., Coimbra, Almedina, 2013, pgs. 668 e segs., e o nosso comentário em
Comentários, atrás
citado,
pgs. 358 e segs.. Nos dois lugares estudamos a jurisprudência do STA a que nos referimos no
texto.
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que essa jurisprudência prejudicial daquele Tribunal obriga os Estados membros da União
Europeia
- outra inovação importante do Código é a do seu artigo 167º, nº 5, 2ª parte. Este preceit
incorpora, pela primeira vez, no Direito Administrativo positivo português de caráter geral, o
enteignungsgleicher Eingriff
, no Direito
Administrativo alemão, onde o conceito nasceu e onde tem vindo a ser elaborado
, há muitas
Administrativo federal, com apoio da doutrina). Esse conceito foi transposto pela
taking
, e pela jurisprudên
cia arbitral
expropriação indireta
atteintes
substantielles
(“interferências na substância
Em grande parte, esta construção teve a sua fonte no artigo 19º, nº 2, da Lei Fundamental de
Bona (
Grundgese
tzt
-GG
Wesensgehalt
”) de
do
da Constituição Portuguesa de 1976 quando redigiu o seu artigo 18º, nº 3, que, todavia, não
tem merecido, na nossa doutrina e na nossa jurisprudência, a mesma importância que obteve
na Alemanha o referido preceito da GG. De harmonia com essa construção, e para sermos
breves, os atos que, sem serem formalmente ablativos de direitos, isto é, sem serem
Substanzverlust
”) ou, de al
6
Die Wesensgehaltsgarantie des Artikel 19 Abs. 2 Grundgesetz.: Zugleich ein Beitrag zum
institutionellen
Verständnis der Grundrechte und zur Lehre vom Gesetzesvorbehalt, Friburgo, Mül
ler, 1983.
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qualquer afetação do direito que confere direito a indemnização, mas sim e só a afetação do
muitos anos,
. Mais
10
- os atos administrativos podem ser objeto de anulação administrativa oficiosa mesmo quando
confronto com o a
ntigo CPA:
- confrontando o artigo 149º do Código anterior com o artigo 176º, nº 1, do novo Código vê
-se
que, ao fazer
na lei, o novo Código pôs de lado o privilégio da execução prévia. Ou seja, a execução de um
ato será regulada em cada caso por lei, salvo na hipótese de urgente necessidade pública,
devidamente just
diploma a ser publicado dentro de 60 dias a contar da entrada em vigor do Código, isto é, 8 de
abril de 2015, regulará essa execução. Esse diploma ainda não foi publicado e
, em nosso
Expropriação por utilidade pública, Dicionário Jurídico da Administração Pública, vol. IV, Lisboa,
1991, pgs. 306 e
segs..
Ver a nossa monografia A protecção da propriedade privada pelo Direito Internacional Público,
Coimbra, 1998,
sobretudo, pgs. 205 e segs. e 535 e segs. (com sumário em inglês).
10
-350.
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O Código não toma posição, nem tinha que o fazer, sobre se o recurso hierárquico necessário
deixou de existir e, muito menos, sobre se ele hoje é ou não inconstitucional. Trata
-se de uma
matéria que tem dividido a doutrina e a jurisprudência. O CPA apenas tem de dispor sobre o
regime do recurso hierárquico quando, e como, ele for previsto na lei. É o que s
e faz.
se o antigo recurso
para o d
elegante e para o subdelegante, nos casos expressamente previstos na lei (artigo 199º,
nº2). Trata
Projeto da Comissão, que não se sabe onde nasceu, que não faz qualquer sentido e que colide
com o regime geral da delegação de poderes definido nos artigos 44º e seguintes,
Ocupa
-se deles a Parte IV, Capítulo III, do Código (artigos 200º a 202º). Aqui o novo Código
teve que levar em conta que existe hoje o Código dos Contratos Públicos (CCP) e teve que se
adaptar a este.
- esses contratos, uns, são contratos administrativos, outros, são contratos de Direito Privado;
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- os contratos administrativos são aqueles que o CCP qualifica como tais, como subespécie
Administração
regem
-se pelas normas do CPA que concretizem preceitos constitucionais e os princípios gerais
aqui o CPA tem também a vantagem de não acompanhar a constante desatualização do CCP,
que ocorre por força da entrada em vigor, de modo contínuo, de novas diretivas da União
4. Concl
usão
São estas, pois, em síntese, as principais modificações trazidas pelo novo Código do
Procedimento Administrativo de Portugal, de 2015. Através delas, Portugal passou a ter um
CPA que dá satisfação aos desafios que nos tempos modernos se colocam à Adm
inistração
Pública num Estado Democrático evoluído e, sobretudo, que permite à Administração cumprir
trados.
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