O Estudo Da Literatura - Resumos PDF
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INTRODUÇÃO
Perguntas essenciais da Literatura:
Economia real
– Quem escreveu?
– O que escreve?
– Para quem escreve? Economia dos bens simbólicos
– Com que intenções? Se uma pessoa tiver uma sólida reputação,
– Sob que condicionalismos? poderá, eventualmente, trocar CAPITAL
SIMBÓLICO por CAPITAL REAL
Por exemplo, Luís de Camões, antes d’Os Lusíadas, não tinha CAPITAL SIMBÓLICO,
consequentemente, não tinha os fins para produzir uma edição apelativa1. A ECONOMIA DOS
BENS SIMBÓLICOS – de que a economia económica é apenas uma das dimensões – dá conta das
estratégias de acumulação, de reprodução e de reconversão das diferentes espécies de
CAPITAL por um indivíduo como objetivo de melhorar ou de conservar a sua posição no espaço
social. Enriquecimento ou transformação são:
• Tanto mais fáceis quanto o agente ocupe uma posição dominante (e, portanto,
um capital já consequente que lhe abre numerosas possibilidades);
• Tanto mais difíceis para os desprovidos de capital – os dominados;
• Inexistentes no caso dos “homens sem futuro”;
• Etc.
O CAPITAL nas suas diferentes espécies – SIMBÓLICO, CULTURAL e SOCIAL – é um
conjunto de direitos de preferência ou prioridade sobre o futuro; garante a alguns o monopólio
de certos possíveis, que são, contudo, oficialmente garantidos a todos (como o direito à
educação). Esta noção polimórfica de CAPITAL forjada por Pierre Bourdieu permite contruir um
modo de representação capaz de revelar a estrutura de todo o universo social.
Propriedades da economia das trocas simbólicas:
• Existe uma dualidade , uma contradição entre a verdade subjetiva e a realidade
objetiva. Esta é tornada possível e sustentada por uma self-deception coletiva
que se inscreve nas estruturas objetivas e nas estruturas mentais.
• Tabu da explicitação – censura do interesse económico
CAPITAL SIMBÓLICO:
• De forma a que o ato simbólico seja eficaz é preciso que um trabalho
preliminar, muitas vezes invisível, e em todo o caso esquecido, tenha
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A primeira edição d’Os Lusíadas vinha escrita com imensos erros ortográficos, em papel fanhoso e
esborratado e com as páginas mal seguras por um fio, sem capa.
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PERÍODO LITERÁRIO, o GÉNERO e o AUTOR
Com tudo isto, é, então, imperativo falar do ESPAÇO SOCIAL e dos vários CAMPOS e
subcampos aí presentes. Diz-se CAMPOS pois a sociedade é feita de grupos e de indivíduos em
constante competição entre si para obter CAPITAL.
Um CAMPO é um espaço de atividades específicas e de possíveis, que tende a orientar
a busca dos agentes, cujas relações estruturam o CAMPO. O que configura um campo são as
posições sociais – distribuídas entre dominados e dominantes e que constituem o espaço social
–, as lutas concorrenciais – que ocorrem tanto no interior de um CAMPO como entre CAMPOS
– e os interesses. Dependendo da posição que ocupam na estrutura do CAMPO, os agentes
usam estratégias – tendência que passa pela mediação dos seus habitus– que podem ser de
conservação ou de subversão.
Dentro de um CAMPO podem existir vários outros. Por exemplo, dentro do CAMPO
CULTURAL temos o CAMPO LITERÁRIO. Certos CAMPOS (religioso, artístico, político,
universitário) têm por finalidade a produção de bens simbólicos específicos (ainda que sempre
potencialmente convertíveis).
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Habitus – diz respeito aos sistemas de perceção/gosto que orientam os agentes nas suas ações.
Constituem princípios de classificação incorporados pelos agentes a partir das estruturas sociais presentes
num dado momento, num dado lugar, que vão orientá-los nas suas ações.
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Dóxica – doxa [Filosofia] conjunto de ideias e juízos generalizados e tidos como naturais por uma maioria.
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As modalidades de consagração/instâncias de consagração são as escolas, as academias, os salões, as
associações científicas e culturais, agências de financiamento, etc. e localizam-se no CAMPO DO PODER.
O próprio Presidente da República pode funcionar como uma instância de consagração, por exemplo, ao
dar uma opinião positiva de um livro que leu ou tirar fotografias numa feira qualquer. Uma celebridade é
também uma instância de consagração ao permitir o uso da sua imagem para um anúncio de algo.
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A este desprezo Bourdieu atribui a designação de tabu da explicitação.
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Um grupo bem organizado pode funcionar como uma classe social (move-se por objetivos comuns).
Um grupo pode também tentar associar-se a outro detentor de uma maior quantidade/qualidade de
CAPITAL SIMBÓLICO de forma a subir no espaço social e chegar ao CAMPO DO PODER.
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Classifica também a desigualdade nas performances das crianças oriundas de diferentes classes sociais,
ou seja, remete para o êxito escolar. Devido a isso, o sistema escolar acentua as desigualdades culturais
dos alunos, pois os mais ricos irão para uma escola privada com uma qualidade de ensino superior à de
uma escola público.
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Existe uma conversão, uma troca de moeda por outra.
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Rede de ligações - produto de estratégias de investimento social, [] a fim de criar relações das quais
pode retirar lucros materiais ou simbólicos
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LITERATURA
– Origens e evolução –
O lexema literatura deriva do lexema latino literatura – derivado do radical littera (letra,
carácter alfabético) – que significa saber relativo à arte de escrever e ler, gramática, instrução,
erudição. Na segunda metade do século XV, os lexemas daqui derivados surgiram sob feições
muito semelhantes umas às outras nas principais línguas europeias. Até ao século XVIII,
Literatura designava de modo geral o que estava escrito e o seu conteúdo, o conhecimento.
No século XVIII, ocorreram profundas transformações socioculturais e evoluções no
campo da ciência que determinaram a evolução semântica deste termo. Isto abalou a ideia que
até então se tinha de Literatura e determinou a evolução semântica do conceito de maneiras
que ainda hoje são analisadas e tidas em conta. Este impacto demonstrou que a Literatura é
indissociável das circunstâncias culturais em que se desenvolve.
TRANSFORMAÇÕES SOCIOCULTURAIS
O alargamento do poder da burguesia expandiu de igual modo o público leitor, tanto
que, pela primeira vez na história, surgem os autores capazes de viver dos rendimentos
proporcionados pelos seus trabalhos. Para além disso, a vida cultural das cortes e dos
salões substitui o humanista, o erudito ou o letrado; agora, a cultura, impregnada pelo
gosto do lúdico do Barroco e do estilo mundano do homem de corte, adquire uma tónica
fortemente marcada pela necessidade de agradar, de dar prazer estético. A Literatura
passa a ter uma função pedagógica e de interveniente nos problemas ideológico-
políticos enfrentados na altura. Para além disso, nas primeiras décadas deste século,
surgiu o pré-romantismo e com ele produções como o romance e a novela,ou seja, novos
géneros literários do campo da prosa. O termo poesia deixou, então, deser aplicável a
todos os textos literários, tonando-se, assim, específico daqueles que tivessem
determinadas características técnico-formais. Literatura era uma designação genérica
mais extensiva, que incluía tanto os textos escritos em verso como aqueles em prosa.
EVOLUÇÕES NO CAMPO DA CIÊNCIA
Os progressos técnico-científicos, e a crescente dependência da observação e da
experiência, levaram a que o lexema ciência adquirisse um significado mais estrito, de
tal modo que frequentemente se opõem os conhecimentos por esta confirmados aos
que são apenas de origem livresca. Deste modo, tornou-se impossível associar os textos
científicos aos das belas-letras e o mesmo sucedeu com os de outras áreas como a
música, a arquitetura, etc., ou seja, mais técnicos. Na verdade, a Literatura fazia questão
de se demarcar dos valores da ciência, da técnica e da civilização burguesa, na
antinomia cultura linguística versus cultura científico-tecnológica. Esta teria a
capacidade de ser substituto de códigos éticos e credos religiosos.
O conceito de Literatura foi associado com algumas ideias negativas. Por exemplo,
Voltaire fazia questão de distinguir o conceito de literatura e de literato do conceito de génio,
sendo o primeiro inferior à grandeza do última. A Literatura era classificada por ele como «uma
luz muitas vezes enganosa». Para além desta diferenciação, Voltaire procedeu a uma
comparação entre o conhecimento representado pela Literatura e aquele representado pela
filosofia e pela ciência, sendo este mais exigente. Assim, a Literatura dizia respeito a objetos
caracterizados pela beleza – belle littérature. Desta forma, a crítica e a cronologia, livros técnicos
sobre, por exemplo, a música ou a pintura, não poderiam ser considerados textos
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PERÍODO LITERÁRIO, o GÉNERO e o AUTOR
literários por carecerem de valores estéticos. Diderot foi de uma opinião semelhante,
considerando a Literatura como sendo a arte e as manifestações dessa arte, tratando-se do
conjunto de textos que se singulariza pela presença de determinados valores estéticos.
Ao longo dos séculos XIX e XX, a Literatura foi adquirindo as seguintes aceções:
a) Conjunto de produção literária de uma época – literatura do século XVIII, literatura
vitoriana – ou de uma região – pense-se na famosa distinção de M.me de Staël entre
«literatura do norte» e «literatura do sul».
b) Conjunto de obras que se particularizam e ganham feição especial quer pela sua
origem, quer pela sua temática ou pela sua intenção: literatura feminina, literatura de
terror, literatura revolucionária, literatura de evasão, etc.
c) Bibliografia existente acerca de um determinado assunto.
d) Retórica, expressão artificial. Verlaine, no seu poema Art Poétique, escreveu: «Et tout
le reste est littérature», identificando pejorativamente literatura com expressão
retórica, falsa e artificial.
e) Por elipse, emprega-se simplesmente literatura em vez de história da literatura.
f) Por metonímia, literatura significa também manual de história da literatura.
g) Literatura pode significar ainda conhecimento sistematizado, científico do fenómeno
literário. Trata-se do significado caracteristicamente universitário do lexema e ocorre
em sintagmas como literatura comparada, literatura geral, etc.
– Literariedade –
O conceito de literariedade foi uma tentativa de definir a Literatura. Este seria o
conjunto de características que tornam um texto literário, pegando nos textos e procurando
qualquer qualidade intrínseca, mesmo antes de chegar ao leitor, que os torne literários. Este
termo foi fundado por Roman Jakobson em 1921, numa altura em que as teorias positivistas da
Literatura vigoravam. Foi uma contraproposta à resposta deste últimos que consideraram como
sendo Literatura «toda a obra que representasse a civilização de qualquer época e de qualquer
povo, independentemente de possuir ou não características estéticas, poderia ser aceite como
sendo literatura».
Segundo este teórico, a literariedade seria o verdadeiro objeto de estudo da Literatura,
ou seja, aquilo que faz de uma dada obra uma obra literária. Aquando da classificação de um
texto, é também rejeitada uma abordagem psicológica, filosófica ou sociológica, considerando
que uma obra não pode ser explicada a partir da biografia do seu autor, nem a partir de uma
análise da vida social contemporânea.
Jakobson criou um sistema que, supostamente, todos os textos verdadeiramente
literários, seguiriam. Num modelo de comunicação existiam seis fatores: um destinador (1) que
envia uma mensagem (2) a um destinatário (3), num dado contexto (4); a mensagem requer um
código (5), partilhado em maior ou menor grau pelos dois participantes da comunicação, e um
canal ou contacto (6) entre eles. Cada um desses fatores originaria uma função linguística
diferente «centrada sobre», ou «visando», um deles – emotiva (1), poética (2), conativa ou
apelativa (3), referencial (4), metalinguística (5) e fática (6).
No entanto, não existe qualquer qualidade comum a todos os textos literários, para
além de que estes só existem enquanto objeto através de um processo mental de quem os lê.
Já para não mencionar que este método de raciocínio nos levaria a excluir muitos textos que
considerámos como sendo literários. Para além disso, o contexto em que uma dada obra é
escrita é de extrema importância para a sua interpretação, pois dadas épocas vêm com mais
limitações/restrições ou liberdades de expressão, entre outros fatores.
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CÂNONE
1º sentido: conjunto de regras eclesiásticas que regiam as primeiras igrejas cristãs
a) Há expressões com significados que derivam deste primeiro sentido
• HORAS CANÓNICAS (momentos do dia destinados à oração)
• CANONIZAÇÃO (reconhecimento póstumo da santidade de alguém)
• NA MÚSICA (repetição regular de uma música)
O C. pode ser considerado como sendo a lista de autores de obras consideradas ótimas,
mas que sejam também modelos de comportamento. No entanto, isto é algo que parece variar
consoante o ponto de vista do crítico que estuda os textos. O Crítico A pode não considerar o
Escritor 1 como um autor literário, ao contrário do Crítico B que já é capaz de o fazer. De acordo
com aquilo que queremos consagrar, criamos um novo cânone – PERMANENTE
RECONFIGURAÇÃO.
«[…] quer pensemos nos cânones como condenáveis porque formados ao acaso ou para servirem certos
interesses em detrimento de outros, quer suponhamos que os conteúdos dos cânones são
providencialmente escolhidos, não pode haver dúvidas de que sem recurso a eles, não acharíamos
maneira de ordenar o nosso pensamento acerca da história da literatura e da arte.»
Por quanto mais tempo um dado autor estiver nesta lista de autores consagrados
maior será a dificuldade de o remover. Por exemplo, Sá de Miranda foi o primeiro escritor a
escrever sonetos em português, sendo, desta forma, algo para o qual se olha e se sente orgulho.
Outro exemplo, e quase desnecessário de tão obvio que é, são Os Lusíadas. Estes narram a
viagem de Vasco da Gama na época áurea de Portugal: os Descobrimentos: IDENTIDADE
NACIONAL.
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PERÍODO LITERÁRIO
– O que é um Período Literário –
«O conceito de período literário constitui um instrumento indispensável adentro de uma compreensão
histórica do fenómeno literário, bem como das interações e relações que ele mantém com os restantes
fenómenos culturais e sociais.»
Houve sempre uma necessidade de encaixar as diversas literaturas em grupos temporais
específicos e bem delimitados. Não basta uma lista de textos a serem estudados, é necessário
encaixá-los em períodos de tempo, organizando-os de forma sequencial para dar sentido ao
conhecimento. No entanto, esta não foi uma divisão feita de uma forma estável e única. Não há
um único crítico que divida a vida da Literatura da mesma forma, e o que acontece é que, devido
ao ponto de vista de alguns críticos, certos escritores são perdidos no tempo e excluídos.
A Literatura é indissociável da História – pois enquanto produção humana a Literatura
é produzida num tempo, faz parte do devir histórico –, rejeitar a necessidade de dividir a
primeira é negar a racionalidade e inteligibilidade da última. A Literatura evolui com a História,
mas isso não significa que está absolutamente dependente dela, isto é, o nascer de uma
determinada era não determina o florescimento ou falecimento de valores estéticos. Desta
forma, isolar a Literatura em “unidades” de análise10 como SÉCULO ou ACONTECIMENTOS
POLÍTICOS E SOCIAIS simplesmente não funciona pois ou raramente coincide com o início ou
final de uma corrente literária ou raramente dá conta da diversidade de formas e de
acontecimentos que podem coexistir sob a mesma designação.
Ao organizar a História da Literatura em períodos históricos, é criada uma certa
coincidência com acontecimentos históricos que muitas vezes nada tem a ver com as
mudanças no campo literário. Por exemplo, um dos episódios mais marcantes da História
portuguesa foi o Terramoto de 1755, e, aparentemente, segundo alguns críticos, este
acontecimento teve também o seu dizer na Literatura. No entanto, se se for a ver com atenção,
a Literatura “pré-Terramoto” e a Literatura “pós-Terramoto” não apresentam quaisquer
diferenças entre elas.
«Um período não se caracteriza por uma perfeita homogeneidade estilística, mas pela prevalência de
um determinado estilo.»
Dois sistemas de normas não se limitam a coexistir, mas fundem-se no mesmo artista ou na
mesma obra. Por exemplo, apesar de Os Maias serem, essencialmente uma obra do realismo, esta
apresenta ainda padrões do romantismo, tal como no romantismo prevalecem elementos neoclássicos.
Assim, é possível ver que os PERÍODOS LITERÁRIOS não se sucedem de forma rígida ou linear, sucedem-
se, isso sim, através de zonas difusas de interpretação. Todo o acontecimento deriva de um ou mais
factos anteriores e teve como consequência os acontecimentos que se lhe seguiram. UM SISTEMA DE
NORMAS NÃO SE EXTINGUE ABRUPTAMENTE, TAL COMO NÃO SE FORMA SUBITAMENTE.
Para além disso, alguns críticos parecem ver a evolução dos géneros literários como
sendo universal, isto é, a evolução de um género de literário de um país é aplicável a outros, mas
lá porque houve pré-romantismo na França, não quer dizer que também o haja em Portugal.
A LITERATURA TEM A SUA PRÓPRIA LÓGICA: A LÓGICA DOS BENS SIMBÓLICOS
Retomando a afirmação “A Literatura é indissociável da História”, é quase impossível
falar do “poeta” sem falar do “historiador” e vice-versa. Esta associação é feita porque:
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Outra unidade de análise é a IDADE: pressupõe uma analogia entre a vida humana e a vida da
Humanidade.
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Nominalismo – conceito de período como uma simples etiqueta desligada de qualquer conteúdo real,
uma solução de tipo metafísico a qual os períodos literários são concebidos como entidades trans-
históricas. A atitude nominalista é uma atitude cética que reduz a histórica literária a um acervo
assignificativo de factos concretos e singulares, desconhecendo a existência de estruturas genéricas que
possibilitam a obra individualizada.
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Homeostase (= homeostasia) – processo de regulação pelo qual um organismo consegue a constância
do seu equilíbrio.
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Homeorrese – trata-se de uma "transformação", ou um equilíbrio dinâmico decorrente de novas
contingências impostas por alterações acentuadas do meio, as quais produzem desequilíbrios tais, que
somente uma reconstrução ou reestruturação podem reequilibrar.
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Semiótico – ciência dos modos de produção, de funcionamento e de receção dos diferentes sistemas
de sinais de comunicação entre indivíduos ou coletividades.
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Algumas destas divisões chegam a ser extremamente confusas e sem qualquer razão
aparente. Por exemplo, Aubrey Bell, na sua Literatura Portuguesa – História e Crítica, dedica um
capítulo aos “seiscentistas”, mas delimita-o entre os anos de 1580 e 1706. Outro possível é o
capítulo supostamente dedicado à Literatura do século XVIII, mas que se encontra entre os anos
1706 e 1816, sendo que a escolha deste último se deve à morte de D. Maria I, “a Louca”. Esta
divisão passa a fazer ainda menos sentido quando se considera o facto de D. Maria já nem ocupar
o trono devido à sua “invalidez”.
Isto sem explorar a questão dos autores. Muitos autores são excluídos por não serem
considerados suficientemente relevantes ou representativos para terem o direito de ocupar
um lugar na História da Literatura do seu país. Pegando mais uma vez no exemplo de Portugal,
muitos escritores bilingues – que escreveram tanto em português como em castelhano – não
foram incluídos por violarem o caráter da NACIONALIDADE.
Muitas vezes são também incluídos autores e textos que não faz sentido algum
estarem lá. As Cartas da Religiosa Portuguesa é um bom exemplo. O estilo não corresponde ao
estilo português, já para não mencionar que a primeira edição veio escrita em francês, apesar
das referências serem de Portugal. É importante perceber a história por trás desta obra para
perceber a razão de eu a ter usado para ilustrar este meu ponto de vista. Em traços muito largos,
houve uma freira de Beja, Mariana Alcoforado, que se apaixonou por um soldado francês que lá
tinha passado. Ela ter-lhe-ia escrito várias cartas de amor que, de alguma forma, acabaram nas
mãos de alguém. O problema com esta “obra” é que o que foi publicado foi fruto de tantas
transformações e rescrições que é implausível que seja 100% original.
– Os critérios de avaliação –
Anteriormente, foram referidos os critérios da NACIONALIDADE, da ORIGINALIDADE e
da LÍNGUA. No caso português, a constante busca pelo respeito a estes valores condicionou
gravemente a História da Literatura do nosso país e estas repercussões duram até aos dias de
hoje. Os motivos invocados para essa desvalorização não foram sempre os mesmos, nem os
julgamentos negativos incidiram sempre sobre as mesmas épocas.
Por um lado, na busca das manifestações do génio, da originalidade e de condutas
exemplares, o centro de interesse da História Literária situou-se muito mais na biografia dos
autores e nas circunstâncias exteriores às obras, do que nos textos. Por outro, o facto de se
procurarem obras isentas de influências extra-nacionais numa literatura desde sempre
permeável às culturas das outras regiões peninsulares, e ideias “originais” em produções
resultantes em grade medida de interpretações locais de correntes de pensamento de
circulação europeia, levou a que grande parte da produção literária portuguesa dos séculos
XVI, XVII e XVIII fosse desprezada.
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