Adoração em Espírito e em Verdade
Adoração em Espírito e em Verdade
Adoração em Espírito e em Verdade
e em Verdade
Série a Espada do Espírito
01 Oração Eficaz
02 Conhecendo o Espírito
03 O Governo de Deus
04 A Fé Viva
05 Glória na Igreja
06 Ministério no Espírito
07 Conhecendo o Pai
08 Alcançando o Perdido
09 Ouvindo a Deus
10 Conhecendo o Filho
11 Salvação pela Graça
12 Adoração em Espírito e em Verdade
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Adoração em Espírito e em
Verdade
Colin Dye
Sumário
Introdução 7
01 A prioridade do Pai 11
02 Louvor e adoração 25
03 A adoração no Antigo Testamento 39
04 A adoração nos Salmos 57
05 A adoração no Novo Testamento 71
06 Culto e adoração 87
07 Oferta e adoração 97
08 Regozijo e adoração 113
09 Adoração e criatividade 127
10 O Espírito Santo e a adoração 143
Introdução
Colin Dye
Parte Um
A Prioridade do Pai
O título deste volume, o décimo segundo da série A Espada
do Espírito, provém de um único versículo das Escrituras, das
palavras de Jesus à pecadora que Ele encontrou no poço de
Sicar.
João 4 descreve o encontro evangelístico de Jesus com essa
senhora e no volume Alcançando o Perdido, vemos de que
modo Ele estabeleceu contato com ela colocando-Se em sua
dívida, como Ele aguçou a sua curiosidade, deixando entrever
algo que era mais satisfatório do que a experiência presente
dela e como questionou a questão central de sua vida.
Parece que a contestação de Jesus beirou o incômodo, pois
– no versículo 20 – a mulher ‘despistou’ usando a religião. Os
judeus e os samaritanos tinham ideias diferentes acerca da
religião, principalmente quanto ao local correto de adoração, e
ela usou a questão como uma tática diversionista.
Mesmo assim, Jesus não ignorou a sua pergunta e – nos
versículos 21 a 24 – Ele lidou com o seu questionamento
usando palavras que esclarecem definitivamente a prioridade
que o Pai tem acerca da adoração.
As palavras de Jesus a esta pagã promíscua revelam o cora-
ção eterno de Deus para com todos os pecadores. Ele declarou
que o Pai busca verdadeiros adoradores, que o Pai busca pe-
cadores e pecadoras que O adorarão em espírito e em verdade.
Como muito do que analisamos nesta série, a adoração é
uma iniciativa inteiramente do Pai, é vontade e propósito Dele;
é Ele que está buscando vigorosamente adoradores para Si,
12 ADORAÇÃO EM ESPÍRITO E EM VERDADE
Adoração – em espírito
A adoração ‘em espírito’ é sempre uma profusão de palavras
confusas em resposta à experiência pessoal com o amor afável
do Pai, e surge dentro das pessoas somente quando o Espírito
Santo toca os seus espíritos humanos.
Por si mesmos, rituais esmerados e fórmulas definidas não
conseguem produzir adoração em espírito. Por exemplo, po-
demos ter canções excelentes e músicos talentosos, técnicas
proveitosas e estilos culturalmente relevantes, uma ordem de
culto bem planejada e líderes sábios, porém, não adoraremos
PARTE UM - A PRIORIDADE DO PAI 13
Adoração – em verdade
Em Sua luta com o diabo em um monte alto, conforme regis-
trado em Mateus 4:10, Jesus deixou claro a quem deveríamos
adorar e a quem deveríamos servir. É o único Deus verdadeiro
da Bíblia, o Deus de Abraão e Isaque, o Deus vivo que Jesus
revelou perfeitamente.
Êxodo 20:3–5 mostra que os dois primeiros mandamentos
de Deus a Israel exigem adoração exclusiva. O primeiro mostra
quem devemos adorar com exclusividade e o segundo revela
como devemos adorá-Lo de forma exclusiva. Devemos reco-
nhecer, contudo, que há dois aspectos para colocar-se o Deus
verdadeiro na frente de todos os outros deuses:
• Não devemos honrar ou adorar nada além do Deus ver-
dadeiro
• Devemos conhecer o Deus verdadeiro corretamente se
quisermos honrá-Lo e adorá-Lo acima de tudo o mais.
Assim como não conseguimos adorar a Deus ‘em espírito’ se
não tivermos sido tocados pelo Espírito, assim também não po-
demos adorá-Lo ‘em verdade’ se não conhecermos a verdade a
respeito dele. A adoração ‘em espírito’ deveria ser a nossa res-
14 ADORAÇÃO EM ESPÍRITO E EM VERDADE
O líder da adoração
Visto que a adoração autêntica é essencialmente uma resposta
humana a uma iniciativa divina, deveria estar claro que a ado-
ração em espírito e em verdade deve sempre ser conduzida e
dirigida pelo próprio Deus.
Quando Moisés pediu ao Faraó permissão para que os Isra-
elitas passassem alguns dias no deserto adorando a Deus, ele
teve de explicar ao líder egípcio que eles não saberiam que tipo
de adoração ofereceriam a Deus até que chegassem ao lugar de-
signado.
Êxodo 10:24–26 institui o princípio bíblico importante de que
se quiser realmente agradar ao Deus vivo em adoração, o povo de
Deus deve permitir que esta seja dirigida pessoalmente por Ele.
Isso significa que a verdadeira adoração cristã tem apenas um
líder – Deus, em Cristo, por meio do Espírito. Todos os ‘líderes’
de louvor humanos são meramente ‘líderes inferiores’, chamados
a transmitir a direção pessoal de Deus para a adoração e não as
próprias ideias e gostos.
Ao atrair as pessoas para adorá-Lo, o próprio Deus se faz pre-
sente na medida em que elas O adoram. Ele não é um inspetor
passivo que avalia nossa adoração para verificar se atende aos
PARTE UM - A PRIORIDADE DO PAI 19
Deus decide
O princípio bíblico de que ‘o povo de Deus deve permitir que Ele
direcione a adoração se quiser agradá-Lo com ela’ quer dizer que
somente Deus decide quais homens e quais mulheres, e também
quais dons naturais e espirituais, devem ser usados na adoração.
Na adoração pública da igreja as pessoas pregam, profeti-
zam, cantam, oram, contribuem, arrumam as flores, leem as
Escrituras, tocam um instrumento, limpam os bancos, recolhem
os hinários, cumprimentam os visitantes e assim por diante, exa-
tamente como são chamadas e guiadas pessoalmente pelo ver-
dadeiro líder da adoração. Isso garante a inexistência de espaço
para autopromoção por meio da adoração, e a inexistência da
criação de uma reputação humana. Somente o Deus santo é glo-
rificado na adoração que é oferecida em espírito e em verdade.
Cada aspecto da adoração pública da igreja tem o objetivo de
demonstrar que Deus é o único que dá início à adoração e que
é o Seu líder supremo:
• Todo dom espiritual deveria revelar que Cristo está no con-
trole total; que Ele concede o que escolhe, quando escolhe,
como escolhe e por meio de quem escolhe
• Cada palavra dita deveria soprar a vida de Deus na adora-
ção e moldar os adoradores, porque o interlocutor tem sido
inspirado a falar somente pelo Espírito doador de vida
• Cada ato discreto de culto deveria inflamar a adoração com
o amor e humildade de Deus, porque o servo tem sido tocado
a agir somente pelo Espírito modesto de Deus
• Todo milagre poderoso deveria estremecer e deslumbrar os
adoradores, porque aponta unicamente para a compaixão e
misericórdia de Deus, e não para uma técnica humana ou
mensagem egoísta.
PARTE UM - A PRIORIDADE DO PAI 21
Nossa resposta
Como veremos na Parte Três, o povo de Deus no Antigo Testa-
mento vinha perante Ele, em adoração, não apenas para louvá-
-Lo e adorá-Lo, mas também para ser lavado e transformado por
Ele. Eles sabiam que não poderiam estar na presença santa do
Deus poderoso e permanecer igual. De fato, podemos pratica-
mente dizer que não é possível termos adorado em espírito e em
verdade se não tivermos sido modificados por meio da adoração.
Do mesmo modo que se inicia em expectativa santa, a ver-
dadeira adoração termina em obediência santa. Adoração não
é um meio de escapar dos rigores do mundo; é antes um con-
fronto com o chamado de Deus a servi-Lo neste mesmo mundo.
Como o profeta, em Isaías 6:8, é quando amamos Deus e temos
sido lavados e transformados por Ele que mais reconhecemos a
nossa necessidade de responder ao Seu chamado para servi-Lo
com a obediência ao Evangelho.
Como vimos, nossa adoração a Deus pode ter de vir em pri-
meiro lugar, mas também deve sempre levar a servirmos ao
próximo. Acima de tudo isso, a adoração autêntica sempre nos
atrai à dimensão espiritual e nos expõe às realidades do mundo
invisível. É na medida em que adoramos em espírito e em ver-
dade que somos impelidos a compartilhar com Cristo a aplica-
ção de Sua vitória contra os poderes demoníacos em qualquer
nível da vida.
Isso sugere que na verdadeira adoração sempre há uma pro-
gressão espiritual natural em ação. Por exemplo:
• Deus nos chama, pelo Espírito, a adorá-Lo
• Nós respondemos à convocação de Deus
• Nós ficamos face a face com o Senhor na adoração
• Seguimos Sua liderança e direção quanto ao modo de adorar
• Somos transformados por Sua presença durante a adora-
ção
• Recebemos as Suas ordens para servir e também a capa-
citação enquanto adoramos
• Vamos do adorar ao amar a Deus, servir ao próximo e apli-
car a vitória de Cristo.
22 ADORAÇÃO EM ESPÍRITO E EM VERDADE
Focar Deus
Deveria estar claro que, se a adoração é nossa resposta ao chama-
do de Deus, devemos ‘ouvir’ o Seu chamado a fim de podermos
responder. Analisamos esse aspecto no volume Ouvindo Deus e
estudamos como Ele se comunica com o Seu povo e como pode-
mos aprender a reconhecer o Seu modo de ‘falar’ conosco hoje.
Ao ‘ouvirmos’ ou ‘sentirmos’ o chamado de Deus para adorar,
devemos voltar toda a nossa atenção a Ele. Isso inclui aquietar
todas as nossas atividades humanamente iniciadas e concentrar-
mo-nos firmemente nele.Alguns crentes restringem esse ‘acalmar
humano’ e ‘focar em Deus’ aos poucos minutos que antecedem
o culto de adoração pública; mas esse ‘aquietar e focar’ deveria
sempre fazer parte da estrutura básica da vida de cada crente.
Como vimos no volume Ouvindo Deus, somos chamados a de-
senvolver um estilo de vida que ouve continuamente, a fim de
que todas as nossas palavras e atos tenham sua fonte em Deus.
Se realizarmos os negócios comuns da vida segundo a nos-
sa força e sabedoria, tenderemos a fazer o mesmo quando nos
reunirmos para adorar. Porém, se estivermos sempre totalmente
alertas ao mover de Deus – em casa e no trabalho, durante uma
viagem ou descansando, com a família e amigos, e assim por
diante – decerto teremos a mesma sensibilidade divina quando
nos unirmos a outros crentes para adorar.
Louvar a Deus
Veremos nas Partes Dois a Cinco, que Deus sempre atraiu o
Seu povo à adoração, encorajando-o a louvar tanto a Ele próprio
como as Suas obras.
O livro de Salmos, por exemplo, insta repetidas vezes o povo
do Antigo Testamento a louvar ao Senhor, e Hebreus 13:15 e
1Pedro 2:5–9 instruem o povo da nova aliança de Deus a ofere-
cer-Lhe sacrifício de louvor e declarar os Seus feitos maravilhosos
– focamos esse assunto na Parte Oito.
O louvor é importante não apenas porque proclama a gran-
deza de Deus, mas também porque envolve nossas emoções e
sentimentos. A verdadeira adoração sempre envolve a persona-
PARTE UM - A PRIORIDADE DO PAI 23
Louvor e Adoração
Alguns crentes usam a palavra ‘adoração’ sem entender o que
ela verdadeiramente significa. Eles normalmente pensam nela
com relação à adoração pública de suas congregações, em vez
do significado bíblico. Eles pressupõem que adoração é o que
fazem durante o culto de domingo, e seja o que for que façam
no culto de domingo, é adoração.
O resultado é um grupo de crentes associando adoração
com, por exemplo, espontaneidade livre e ruído alto, enquanto
outro a associa com liturgia definida e reverência silenciosa.
Entretanto, se quisermos entender o chamado bíblico de Deus
para adorá-Lo em espírito e em verdade, devemos ir além dos
argumentos modernos sobre as diferentes maneiras de adorar.
Devemos examinar o que as Escrituras querem dizer com ado-
rar a Deus.
Em primeiro lugar, vale a pena analisar a palavra ‘adoração’.
Ela deriva de uma palavra antiga, que significa ‘dignidade’ e
que é formada pela justaposição de duas palavras: ‘habilidade
de ser’ e ‘digno’. Isso sugere dar a alguém o reconhecimento ou
‘habilidade de ser digno’ que ele merece. Contudo, a palavra é
muito limitada e não capta integralmente a terminologia bem
mais rica das linguagens bíblicas ao descreverem a adoração.
A Bíblia usa uma ampla gama de palavras hebraicas e gre-
gas para definir e descrever ‘adoração’, mas o contexto essen-
cial tanto no Antigo como no Novo Testamento é sempre ‘culto/
serviço ativo’. A palavra hebraica abodah e a palavra grega
26 ADORAÇÃO EM ESPÍRITO E EM VERDADE
Serviço
A maioria das pessoas hoje em dia pensa que ‘adoração’ sig-
nifica uma coisa e que ‘serviço’ significa outra muito diferente
(muito embora fale comumente de ‘cultos de adoração’). Elas
pressupõem que ‘adoração’ signifique atividades espirituais
como cantar e orar, e que ‘serviço’ signifique ações práticas
como varrer o chão, arrumar as cadeiras etc.
Contudo, a Bíblia não faz tal distinção. No que diz respeito
às Escrituras, nossa adoração a Deus é nosso serviço a Ele; o
modo que O Servimos é o modo que O adoramos.
Abodah
O substantivo hebraico abodah é traduzido em algumas versões
da Bíblia como ‘trabalho’, em outras como ‘adoração’, e na
maioria como ‘serviço’. O mesmo ocorre com o verbo abad, que
é traduzido como ‘trabalhar’, ‘adorar’ ou ‘servir’.
Gênesis 14:4; 15:13,14; 25:23; 29:15–30 e Êxodo 1:14
mostram que o grupo de palavras abodah referia-se original-
mente ao trabalho prático de escravos ou servos contratados.
Toda vez que usam abad ou abodah com um objeto huma-
no, as Escrituras sempre se referem a uma atitude servil ou a
uma ação servil: Vemos isso, por exemplo, em Êxodo 21:2;
Jeremias 40:9 e Ezequiel 48:18,19.
Contudo, o Antigo Testamento quase sempre usa abad e
abodah para descrever o modo que o povo de Deus serve corre-
tamente ao Deus verdadeiro ou serve erroneamente aos deuses
falsos.
É importante que nossa compreensão de ‘adoração em espí-
rito e em verdade’ esteja baseada no reconhecimento de que a
adoração bíblica engloba tanto ações práticas como atividades
espirituais. O Antigo Testamento usa o grupo de palavra abo-
dah, por exemplo:
PARTE DOIS - LOUVOR E ADORAÇÃO 27
Latreia
Latreia, ‘serviço’, e latreuo, ‘servir’, são os equivalentes gregos de
abodah e abad. Mais uma vez, seu significado original é o serviço
contratado de um escravo ou servo, mas é usado principalmente
no Novo Testamento para descrever o serviço ou adoração dos
humanos a Deus.
Esse grupo de palavras é usado, por exemplo, em Mateus
4:10; Lucas 1:74; 2:37; 4:8; Atos 7:7; 24:14; 26:7; 27:23;
Romanos 1:9; 9:4; 12:1; Filipenses 3:3; 2Timóteo 1:3; Hebreus
8:5; 9:1, 6, 14; 10:2; 12:28; Apocalipse 7:15 e 22:3.
Uma leitura cuidadosa dessas passagens mostra que as Es-
crituras usam uma mesma palavra para descrever a ‘adoração’
espiritual no tabernáculo, templo, céu etc., e o ‘serviço’ prático
no dia a dia.
O uso de latreia, em Romanos 12:1, engloba esses dois signifi-
cados: Somos chamados a apresentar os nossos corpos como um
sacrifício vivo a Deus em tudo que fazemos: não há distinção entre
as atividades denominadas ‘espirituais’ e ‘seculares’ – o nosso tra-
balho é a nossa adoração e a nossa adoração é o nosso trabalho.
Leitourgia – traduzida como ‘ministério’, ‘serviço’ ou ‘liturgia
– é outra palavra a se considerar. Não está etimologicamente vin-
culada a latreia, embora carregue uma ideia semelhante. É usada
no Novo Testamento em Lucas 1:23; 2Coríntios 9:12; Filipenses
2:17,30; Hebreus 8:6, 9:21 e 10:11. Leitourgia é uma palavra
que vem da vida secular e se refere ao serviço à comunidade ou
Estado, normalmente sem encargo ou remuneração financeira.
Mais uma vez, isso sugeriria que a adoração e o serviço cristão
são basicamente um.
Isso nos faz lembrar de que a adoração bíblica engloba a vida
por completo. É por isso que a visão de mundo cristã não pode
comportar qualquer ideia de divisão entre ‘sagrado e secular’ –
um cristianismo compartimentalizado em que a vida é dividida
em certas partes (ex.: ‘vida social’, ‘vida cristã’, ‘vida familiar’,
‘vida profissional’ etc.) com Cristo tendo o senhorio somente sobre
as ‘partes sagradas’. A verdade é que Jesus Cristo é Senhor de
todos e – conforme Paulo nos lembra em 1Coríntios 10:31 – isso
PARTE DOIS - LOUVOR E ADORAÇÃO 29
significa que seja lá o que for que façamos, devemos fazer ‘para
a glória de Deus’.
Curvar-se
Se o grupo de palavras abodah e latreia enfatiza a relação entre
adoração e serviço, o grupo de palavras shachah e proskuneo enfa-
tiza que a essência da adoração/serviço é o curvar-se perante Deus.
A palavra hebraica shachah e a palavra grega proskuneo nor-
malmente são traduzidas como ‘adoração’, e ambas revelam que
os servos de Deus devem ter a atitude de se curvarem diante dele
se quiserem oferecer a adoração/serviço que Ele espera e merece.
Literalmente, shachah significa ‘curvar-se a’, e proskuneo sig-
nifica ‘beijar a’. Juntas, elas mostram que nossa adoração/serviço
deveria nascer do temor reverente e da admiração e entusiasmo
que ternos.
Essas palavras deixam claro que Deus não está olhando mor-
mente para as atividades externas de orar, pregar, cantar, servir
etc.; em vez disso, Ele está buscando principalmente as atitudes
internas de temor reverente e amor fiel. Embora devamos tentar
garantir que nossa adoração pública tenha relevância cultural, as
discussões e desacordos sobre as diferentes formas de adoração
perdem o verdadeiro sentido do chamado de Deus.
A conversa de Jesus com a mulher samaritana, em João 4:1–
24, mostra que os aspectos externos da adoração não são a sua
essência. Proskuneo é usada sete vezes em João 4:20–24 para
destacar que Deus está mais preocupado com a atitude interior
correta de ‘beijá-Lo’, do que as questões de lugar e forma exterior.
Shachah
Shachah é usada quase sempre de modo literal no Antigo Testa-
mento para mostrar que o povo de Deus se prostrava fisicamente
ao apresentar-se diante dele: Eles curvavam as cabeças ou se
ajoelhavam, ou ainda se prostravam com o rosto em terra. Vemos
isso, por exemplo, em Gênesis 24:26, 48; Êxodo 4:31; 12:27;
34:8; 1Crônicas 29:20; 2 Crônicas 20:18; 29:30; Neemias 8:6;
Jó 1:20 e Salmo 95:6.
30 ADORAÇÃO EM ESPÍRITO E EM VERDADE
Proskuneo
Ocorre praticamente o mesmo com proskuneo, ‘beijar a’, no
Novo Testamento. Às vezes essa palavra é usada literalmente
para descrever uma ação física que significa temor reverente e
amor fiel; por exemplo, Mateus 2:11; 4:9; 28:9; Marcos15:19;
Atos 10:25; 1Coríntios 14:25; Apocalipse 7:11; 11:16; 19:4,
10 e 22:8.
Entretanto, proskuneo normalmente é usado para descrever a
atitude interior de reverência e adoração proveniente do coração.
Vemos isso, por exemplo, em Mateus 8:2; 9:18; 14:33; 15:25;
18:26; Marcos 5:6; João 4:22–24; 9:38; Atos 24:11 e Apoca-
lipse 4:10.
PARTE DOIS - LOUVOR E ADORAÇÃO 31
Outras palavras
Outras três palavras gregas são traduzidas como ‘adorar’ na
maioria das versões do Novo Testamento:
• sebomai significa ‘reverenciar’ e é usada em Mateus 15:9;
Marcos 7:7; Atos 16:14; 18:7, 13 e 19:27
• sebazomai significa ‘venerar’, e é usada em Romanos 1:25
• eusebeo significa ‘ser reverenciado’, e é usado em Atos
17:23. Também é usado em 1Timóteo 5:4 com referência a
filhos ‘mostrando piedade’ em casa
Assim como proskuneo, essas três palavras enfatizam um
sentimento interior de admiração ou devoção em vez de uma
ação exterior.
Vimos que a Bíblia usa a palavra ‘adoração’ muitas vezes,
mas nunca a define; contudo, as palavras distintas em hebraico
e grego para adoração sugerem que se trata de uma ação servil
que procede de uma atitude de temor reverente e adoração afe-
tuosa.
Podemos dizer, portanto, que adoração é um reconhecimento
direto da natureza, atributos, maneiras e pretensões de Deus,
os quais são sentidos internamente, além de manifestados em
ações espirituais e práticas.
Louvor
A Bíblia não apenas usa diversas palavras gregas e hebraicas
para pintar um quadro múltiplo da adoração bíblica como tam-
bém muitas palavras diferentes para louvor, a fim de apresentar
outra atividade multifacetada. Do mesmo modo que precisamos
ampliar a nossa compreensão moderna da adoração para incluir
serviço prático e atitudes interiores, precisamos também reco-
nhecer que louvor é mais que cantar músicas relativas a Deus.
No Antigo Testamento, ‘louvor’ normalmente significa um ato
de honra ou adoração que é oferecido a Deus por Suas criatu-
ras – geralmente, mas não sempre, por homens e mulheres. As
diferentes palavras hebraicas traduzidas como ‘louvor’ se referem
a tipos específicos de adoração, e nossa compreensão de louvor
deve englobar todas elas.
32 ADORAÇÃO EM ESPÍRITO E EM VERDADE
Halal
Halal é o verbo hebraico mais comum a ser traduzido como ‘lou-
var’, e significa basicamente ‘gritar de alegria’. Parece que ha-
lal era usado originalmente para referir-se ao choro de tristeza
na morte de um sacrifício, mas que depois se tornou a palavra
usada para descrever o grito de alegria diante da aceitação do
sacrifício por parte de Deus.
A essência de halal é fazer um ruído alto e é usada no Antigo
Testamento para descrever o louvor acerca de ou para:
• Um homem ou mulher – Gênesis 12:15; Provérbios 27:2;
28:4; 31:28, 30,31 e 2Samuel 14:25
• Falsos deuses – Juízes 16:24
• Deus– 1Crônicas 16:36; 2Crônicas 5:13; 20:19, 21;
30:21; Esdras 3:10,11; Neemias 5:13; Salmo 22:22,23;
35:18; 63:5; 69:30, 34; 119:164; 148:1–4, 7, 14; 150:1–
6; Isaías 62:9 e Jeremias 20:13
• O nome de Deus– Salmo 69:30; 74:21; 145:2; 148:5 e
Joel 2:26
• A Palavra de Deus – Salmo 56:4 e 10
Como veremos na Parte Três, o louvor e adoração na época
do Antigo Testamento era uma atividade normalmente coletiva,
e a ênfase bíblica no halal congregacional é clara em passagens
como Juízes 16:24; 1Crônicas 16:36; 23:5; 2Crônicas 23:12;
30:21; Esdras 3:11; Neemias 5:13; Salmo 22:22; 35:18;
102:18; 107:32; 109:30 e 117:1.
Hoje em dia nós geralmente associamos louvor com ação de
graças. É interessante que, entre as diferentes palavras hebraicas
para louvor, somente halal é associada à ação de graças. Parece
que quando as pessoas queriam agradecer a Deus em louvor,
elas o faziam com grandes brados de alegria. Vemos isso, por
exemplo, em 1Crônicas 16:4; 23:30; 25:3; 29:13 e Neemias
12:24.
A expressão Aleluia, ‘Louve ao Senhor’, é usada no Salmo
104:35 e 135:3, no início dos Salmos 106; 111; 112; 113;
135; 146–149, e no fim dos Salmos 104–106; 113; 115–117;
135 e 146–150.
PARTE DOIS - LOUVOR E ADORAÇÃO 33
Yadah
O verbo hebraico yadah normalmente é traduzido como ‘louvar’,
mas seu significado literal é ‘lançar’ – como em Lamentações 3:53.
Pode parecer intrigante, mas – em muitas partes do mundo –
as pessoas ainda reverenciam outras lançando-lhes coisas: por
exemplo, os norte-americanos reverenciam os heróis que retor-
nam para casa lançando sobre eles uma chuva de papel picado e
os europeus reverenciam os recém-casados lançando-lhes confe-
te, pétalas de flores e arroz.
Yadah é usada de duas maneiras complementares para sugerir
que:
• Gestos do corpo ou do espírito acompanham o louvor ofere-
cido pelo povo de Deus
• O louvor é essencialmente confessional ou declaratório
Algumas versões bíblicas traduzem yadah como ‘confessar’
(em, por exemplo, 1Reis 8:33–35; 2Crônicas 6:24–26; Jó 40:14
e Salmo 32:5) e como ‘dar graças’ (em, por exemplo, 2Samuel
22:50; 1Crônicas 16:4–8; Salmo18:49; 30:12; 136:1–3 e 26).
Entretanto, trata-se exatamente da mesma palavra traduzida nos
demais lugares como ‘louvar’.
Em diversos lugares, yadah é usada em uma sequência com
halal – como em 1Crônicas 29:13; 2Crônicas 31:2; Esdras 3:11
e Neemias 12:24. Em tais passagens, os tradutores normalmente
traduzem halal como louvar e yadah como dar graças para enfati-
zar a distinção entre as duas palavras. Essas passagens, contudo,
mostram que Deus espera que o nosso louvor inclua tanto o ruído
halal como os gestos yadah do corpo e do espírito.
Cada uso de yadah implica tanto em um gesto como em uma
declaração e precisamos assegurar que nosso entendimento do
louvor inclua gestos, além de reconhecer que as nossas palavras
de louvor podem estar na forma de ação de graças, confissão ou
ainda declaração pública: É tudo louvor.
Yadah é usada no sentido geral de louvor, por exemplo, em
Gênesis 29:35; 2Crônicas 7:3; Salmo 9:1; 42:5; 44:8; 54:6;
57:9; 86:12; 108:3; 118:28; 138:1,2; Isaías 12:1, 4; 25:1;
38:19 e Jeremias 33:11.
34 ADORAÇÃO EM ESPÍRITO E EM VERDADE
Zamar
Este verbo vem do ‘zumbir’ de um instrumento de cordas, e é
usado no Antigo Testamento quando o louvor é associado a can-
tar ou tocar um instrumento musical.
O substantivo mizmor deriva de zamar e é a palavra para ‘sal-
mo’. É usada no título de Salmos 57 para introduzir ‘uma canção
que é cantada para um acompanhamento musical’.
Zamar geralmente é traduzida como ‘cantar louvor’ e é usada,
por exemplo, em Juízes 5:3; 2Samuel 22:50; Salmos 7:17; 9:11;
47:6; 61:8; 98:4; 108:1; 144:9; 147:7; 149:3 e Isaías 12:5.
Shabach
Este verbo vem de uma raiz que significa ‘acariciar, acalmar ou
suavizar’, e é usado em Salmo 65:7; 89:9 e Provérbios 29:11
para descrever o ‘acalmar’ ou ‘aplacar’ da ira, do mar e dos ini-
migos. Em todos os outros lugares, shabach se refere a ‘acal-
mar Deus com louvores’: é usada, por exemplo, no Salmo 63:4;
117:1; 145:4 e 147:12. Uma palavra correspondente – sheba-
ch – é usada em Daniel 2:23; 4:34, 37; 5:4 e 23.
Shabach normalmente é traduzida como ‘louvar’, mas algu-
mas versões usam ‘abençoar’, ou ‘aclamar’, ou ‘glorificar’, ou
‘honrar’ – especialmente quando é usada em uma sequência com
halal. Isso sugere que o nosso louvor deveria incluir momentos
de tranquilidade shabach e também rompantes de ruído halal.
Todah
Este substantivo geralmente é traduzido como ‘ação de graças’,
mas às vezes aparece como ‘louvor’ – por exemplo, em Salmo
42:4; 50:23 e 56:12.
Embora haja muita sobreposição entre adoração, louvor e
ação de graças, essas palavras podem ser distinguidas de duas
maneiras.
• Adoração é o apreço da pessoa de Deus; louvor é o apreço
de Sua natureza e ação de graças é o apreço de Sua atividade.
• Adoração é uma expressão abrangente para toda palavra,
ato e atitude que flui do reconhecimento do valor supremo de
PARTE DOIS - LOUVOR E ADORAÇÃO 35
Louvor bíblico
A Bíblia é toda marcada por rompantes de louvor que parecem
surgir espontaneamente do simples temperamento alegre que
caracteriza a vida do povo de Deus ao longo da Escritura.
A Bíblia deixa claro que Deus Se deleita em Sua criação, e
que toda criação deve expressar a sua alegria em louvor. Vemos
isso, por exemplo, em Gênesis 1; Salmo 90:14–16; 104:31;
Provérbios 8:30,31; Jó 38:4–7 e Apocalipse 4:6–11.
O louvor é uma das principais marcas distintivas do povo de
Deus, e os não crentes evidenciam a sua falta de fé pela recusa
em louvar. Vemos isso em Romanos 1:21; 1Pedro 2:9; Efésios
1:3–14; Filipenses 1:11 e Apocalipse 16:9.
A Bíblia mostra que a vinda do reino de Deus é marcada pela
restauração da alegria profunda e louvor genuíno do povo de
Deus e de toda a criação – Isaías 9:2; Salmo 96:11–13; Lucas
2:13–14 e Apocalipse 5:9–14.
Na Parte Três, veremos que o louvor e a adoração no taber-
náculo e no templo eram um prenúncio do louvor do reino, e
que surgia da alegria do povo em estar na presença redentora
de Deus– Vemos isso, por exemplo, em Deuteronômio 27:7;
Números10:10 e Levítico 23:40.
Jó 1:21, porém, mostra que o louvor bíblico não apenas ex-
pressa uma atitude de alegria, pois o povo era, muitas vezes,
instruído a regozijar-se perante Javé, independente de seus sen-
timentos e das circunstâncias – como em Deuteronômio 12:7
e 16:11–12.
Arranjos cuidadosos eram feitos para o louvor no templo,
PARTE DOIS - LOUVOR E ADORAÇÃO 37
O sacrifício de louvor
Hebreus 13:15 menciona um ‘sacrifício de louvor’. Isso reme-
te a Levítico 7:11–21, que definiu o lugar de ação de graças
nos sacrifícios rituais do Antigo Testamento, e a Deuteronômio
26:1–11, que mostra que gratidão deve ser o motivo fundamen-
tal para se trazer ofertas ao altar.
Neste capítulo, nós examinamos as diferentes palavras bíbli-
cas para louvor e adoração, e começamos a avaliar a extensão
e profundidade de seus significados na Bíblia. Devemos ter em
mente esse entendimento amplo à medida que avançamos na
análise da adoração/serviço em todo o Antigo e Novo Testamen-
tos e os aplicamos às nossas vidas hoje.
Parte Três
Adoração no Antigo
Testamento
No Antigo Testamento, adoração é a resposta do povo de Deus
à revelação de Sua natureza; e a natureza plena de Deus – Sua
santidade – determina o caráter da resposta de Seu povo. Por
exemplo:
• Por que Deus é poderoso e perfeito, a adoração deve respei-
tar a Sua santidade
• Porque Deus é justo e bom, a adoração deve encarar o pro-
blema do pecado humano
• Porque Deus é misericordioso e amável, o adorador arre-
pendido pode buscar o Seu perdão e a promessa de nova vida
A maneira precisa de como essas ideias se relacionam umas
às outras varia de uma ocasião de adoração a outra, mas toda a
adoração no Antigo Testamento começa com o reconhecimento
de que Javé é quem Ele é, e que essas pessoas são o que são –
de que Ele é santo e elas não.
O tema adoração está bem no topo da lista dos Dez Manda-
mentos, as dez frases imperativas que podem ser consideradas
uma síntese da lei de Deus para o Seu povo. O primeiro man-
damento – Êxodo 20:3 – proíbe a adoração de deuses falsos e
nos exorta a adorar somente a Javé. Porque Javé é o único Deus
verdadeiro, a adoração deve ser direcionada a Ele. O segundo
mandamento – 20:4 – continua com o foco na adoração, di-
40 ADORAÇÃO EM ESPÍRITO E EM VERDADE
Lugares de adoração
Como vemos no volume Glória na Igreja, os modernos locais
cristãos de adoração são simplesmente edifícios onde as pessoas
podem se reunir. O tamanho, formato e localização desses locais
são decididos mais pela conveniência social do que por conside-
rações espirituais. Os cristãos podem adorar em qualquer lugar
e muitos grupos encontrarem-se para adorar em escolas, salões
públicos e até ao ar livre.
Não era assim no Antigo Testamento. A adoração era ofereci-
da somente em um local específico, onde Deus tinha Se revelado
previamente de algum modo tangível. As pessoas supunham que
a santidade de Deus poderia seguramente interagir com o mun-
do pecaminoso naquele lugar específico.
Quando viu a sarça ardente, em Êxodo 3:5,6, Moisés reco-
nheceu imediatamente que era um lugar santo onde Deus pode-
ria e deveria ser adorado. Esse local nunca se tornou um lugar
típico de adoração, porque a sarça era longe de Israel; gerações
posteriores, porém, tiveram muitos locais semelhantes onde ado-
ravam a Deus porque Ele se revelara ali aos líderes de Israel.
O tabernáculo e a arca
Êxodo 33:7–40:38 registra o modo que os judeus que esca-
param do Egito adoravam a Deus em uma tenda especial que
armaram no meio do arraial. Eles a chamaram de ‘a tenda da
presença do Senhor’ ou ‘o tabernáculo’.
Nós normalmente associamos a palavra ‘tabernáculo’ com
um edifício fixo, mas é a palavra bíblica para uma tenda móvel,
que Deus encheu com a Sua presença, com uma nuvem visível
PARTE TRÊS - A ADORAÇÃO NO ANTIGO TESTAMENTO 41
Santuários locais
As pessoas sempre gostaram de adorar perto do local onde
vivem, e o Antigo Testamento sugere que a maior parte das
cidades e vilarejos da época possuía originalmente algum tipo
de local para adoração – normalmente era um altar ao ar livre
onde se podiam oferecer sacrifícios.
Gênesis 13:18; 18:1–15; 26:23–26; 28:10–22; 31:43–
55; Juízes 20:18–28; 1Samuel 1:1–3:21; 7:16,17; 10:3,
17–27; 11:14,15; 13:8–15; 1Reis 3:4–15; 5:1–6:37;
12:29–13:32; Amós 3:14; 5:5,6 e 7:16,17 se referem a san-
tuários locais em Hebron, Berseba, Mispa, Betel, Gilgal, Ramá,
Siló e Gibeão.
Esses santuários faziam parte da vida religiosa de Israel an-
tes do êxodo, mas foram condenados quando entraram em Ca-
naã. Deus queria que o povo adorasse em um local escolhido
por Ele e não o contrário.
Apesar dessa desaprovação divina, os santuários floresce-
ram até serem encobertos pela sombra do templo de Jerusa-
lém. O imenso número de sacerdotes e músicos que cuidavam
da adoração era tão impressionante que as pessoas começaram
a ignorar os santuários e a fazer peregrinação ao templo.
Infelizmente, muitos dos santuários locais encorajavam a
adoração de falsos deuses: eles eram condenados pelos pro-
fetas e foram fechados à força. Vemos isso em 2Reis 18:1–8;
21:3; 23:1–20 e Jeremias 2:20.
O templo de Jerusalém
1Reis 6:1–7:51 e 2Crônicas 2:17–5:1 descrevem a constru-
ção do templo. Seu layout geral era semelhante ao tabernáculo,
com o santo dos santos no centro, rodeado de outros comple-
mentos. A maior parte da adoração ocorria nesses recintos,
que geralmente eram decorados mais para refletir as alianças
políticas das nações do que para celebrar Javé. Vemos isso, por
exemplo, em 2Reis 16:10-18; 18:1-7 e 21:1-18.
Havia uma conexão forte entre os reis e o templo, e 2Reis
16:18 revela que uma passagem secreta ligava o palácio ao
PARTE TRÊS - A ADORAÇÃO NO ANTIGO TESTAMENTO 43
templo. Isso quer dizer que o templo era mais que um lugar de
adoração espiritual; ele também simbolizava o poder político
da família real.
Passagens como 2Samuel 7:5–7; Jeremias 7:1–27;
35:1–19 e Isaías 66:1 sugerem que os profetas eventualmen-
te se desgostavam do templo. Às vezes, como Jesus, em Lu-
cas19:45,46, os profetas se opunham ao que estava acon-
tecendo no templo, ou reclamavam que as pessoas estavam
confiando mais no templo do que em Deus. Alguns dos pro-
fetas, porém, parecem ter crido que a fé pactual em Javé era
mais bem atendida por uma tenda simples do que um templo
esplêndido.
Apesar disso, os judeus mais comuns eram profundamente
comprometidos com o templo. Embora soubessem que Javé
não vivia literalmente no templo, eles ainda acreditavam que
era o lugar onde poderiam sentir a Sua presença mais direta-
mente. Vemos isso, por exemplo, em 1Reis 8:27–30; Salmos
11:4; 26:8; 63:1–5; 84:1–4 e 122:1.
Sinagogas locais
Os livros de Esdras e Neemias descrevem os judeus retornando
do exílio e a reconstrução do templo de Jerusalém. A adoração
ali, entretanto, nunca foi igual à dos tempos dos reis, pois o
centro real de adoração logo se transferiu para as sinagogas
locais.
A adoração na sinagoga era diferente da adoração no tem-
plo. Por exemplo:
• Baseava-se nas comunidades locais e ocorria em menor
escala
• Não incluía quaisquer sacrifícios rituais
• Seus aspectos principais eram a oração e a leitura e inter-
pretação da ‘lei e dos profetas’
Ninguém sabe como as sinagogas foram criadas, mas a ên-
fase de Esdras à leitura e interpretação da Lei parece ter sido
um fator importante. A consciência de que Deus estivera com
as pessoas durante o exilio, de que aceitara sua adoração ‘sem
44 ADORAÇÃO EM ESPÍRITO E EM VERDADE
Tipos de adoração
Vemos no volume Oração Eficaz e Salvação pela Graça que a
oração e o sacrifício eram aspectos importantes da adoração
no Antigo Testamento. Jeremias 6:20 e Amós 4:4 sugerem que
incenso e oferta também estavam inclusos, e o livro de Sal-
mos registra que canto, dança, gritos e procissões eram parte
integrante da adoração. Contudo, o Antigo Testamento nunca
oferece um relato detalhado de um culto completo.
Sacrifício
Passagens como Levítico 1:1–7:38; Números 15:1–31 e
28:1–29:40 registram as instruções específicas para a oferta
de sacrifícios, e esse aspecto é analisado com algum detalhe no
volume Salvação pela Graça.
Gênesis 4:3–5 e 8:20 mostram que as pessoas adoravam
a Deus com sacrifícios desde os primórdios, e que Deus se
encontrava com elas no momento e local do sacrifício. Abraão
deve ter oferecido sacrifícios muitas vezes ou Isaque não teria
perguntado sobre o cordeiro, em Gênesis 22:7.
Mais tarde, os egípcios sofreram uma série de pragas por-
que o Faraó não queria permitir que os israelitas fossem ao
deserto para adorar a Deus com sacrifícios. Êxodo 10:24–26
revela dois princípios-chave da adoração sacrificial no Antigo
Testamento.
Primeiro, as pessoas tinham de deixar Deus dirigir os seus
sacrifícios e, segundo, podiam oferecer somente animais lim-
PARTE TRÊS - A ADORAÇÃO NO ANTIGO TESTAMENTO 45
Cântico e música
O livro de Salmos ensina mais a respeito da adoração pelo povo
de Deus do que qualquer outra parte do Antigo Testamento, e
analisamos este aspecto em detalhe na Parte Quatro. Quando
olhamos os Salmos e outras descrições sobre adoração no Anti-
go Testamento, vemos que o cântico e a música eram elemen-
tos importantes.
1Reis 18:27–29 relata que outras religiões antigas usavam
a música para chegarem a um frenesi; 1Samuel 10:1–13 suge-
re que alguns dos profetas de Deus às vezes usavam a música
desse modo também, e Amós 5:23 insiste que Deus não se
agrada de todos os cânticos e músicas espirituais. Contudo,
o povo de Deus não poderia louvá-Lo bem sem o cântico e a
música alegres.
Passagens como Salmos 22:3 e 63:5 mostram que é natu-
ral que respondamos ao caráter santo de Deus com esse tipo de
adoração, e a consciência de Sua boa presença sempre leva as
pessoas a adorá-Lo com canções alegres de louvor.
1Crônicas 15:16–24; 16:4–7; Esdras 2:41, 70 e 3:10,11
se referem a corais especiais que participavam da adoração, e
muitos dos Salmos têm um refrão que sugere que uma parte
da canção seria cantada por adoradores e o restante pelo coral.
Vemos isso, por exemplo, em Salmos 42, 43 e 46.
2Samuel 6:5; 1Crônicas 25:1–5; Salmo 43:4; 68:25;
81:1–3; 98:4–6; 150:3–5 e Isaías 30:29 mostram que as
pessoas tocavam tamborins, harpas, liras, trompetes, choca-
lhos, cornetas, flautas e címbalos em louvor a Deus. A adora-
PARTE TRÊS - A ADORAÇÃO NO ANTIGO TESTAMENTO 47
Dança e teatro
Alguns dos Salmos parecem pressupor a dança, enquanto ou-
tros a encorajam vigorosamente – Vemos isso, por exemplo, nos
Salmos 26:6; 149:3 e 150:4. E 2Samuel 6:1–22 relata como
o rei Davi participou da dança pública e foi arguido por sua es-
posa por parecer um tolo.
Os Salmos 26:6; 42:4; 48:12–14; 68:24–27 e 118:19 des-
crevem procissões em que os adoradores marchavam para den-
tro e para fora do templo e pela cidade como um ato de louvor.
Os Salmos 46:8–10; 48:8 e 66:5 sugerem que os atos de
Deus poderiam ser reencenados durante a adoração para ensi-
nar sobre o Seu poder; o Salmo 26:6 mostra que ações simbó-
licas tinham um papel na adoração. Falamos sobre o papel da
criatividade e das artes na adoração na Parte Nove.
Oração
O Novo Testamento registra que havia horários regulares de ado-
ração no templo, mas esses horários não são mencionados no
Antigo Testamento, mesmo assim a oração sempre foi parte vital
da adoração em Israel.
Por todo o Antigo Testamento se vê claramente que pessoas
comuns como Ana podiam trazer os seus problemas a Deus–
bem como profetas e reis. Vemos isso em 1Samuel 1:1–18;
1Reis 8: 22–61 e 18:36,37.
Deuteronômio 26:5–10 mostra que ‘a Lei’ continha orações
a serem usadas em ocasiões especiais, e o livro de Salmos con-
tém muitas orações que eram usadas por indivíduos e grupos
de adoradores.
1Samuel 1:26; 1Reis 8:22, 54; Salmo 5:7; 51:17; 63:4
e Isaías 1:15 mostram que diversas posições corporais eram
usadas na oração: A atitude interior era sempre mais importante
do que a postura exterior.
48 ADORAÇÃO EM ESPÍRITO E EM VERDADE
O Sábado
A palavra hebraica sabbat significa ‘cessação’ ou ‘descanso’,
e Gênesis 2:2; Êxodo 20:11 e 31:17 afirmam que Deus ‘des-
cansou’ de Sua obra da criação e foi ‘renovado’.
O princípio sabático do Antigo Testamento referente à inter-
rupção do trabalho um dia por semana se baseia no exemplo
pessoal do descanso sabático de Deus. É claro, Deus não era
um trabalhador cansado que precisava de descanso; Sua ação
imprimiu à humanidade um exemplo importante a seguir. Êxo-
do 23:12 e 34:21 mostram que o Sabat começou como um
dia de descanso em que todos – inclusive escravos e estrangei-
ros – podiam renovar-se para o trabalho.
Parece que a adoração era parte desse processo sabático de
renovação. Passagens como Levítico 19:30; Números 28:9,10;
2Reis 11:5–8; Isaías 1:13; 2:11; Jeremias 17:21,22 e Amós
8:5 descrevem o que acontecia no Sabat, e mostram que as
atividades nem sempre agradavam a Deus.
Para os judeus, o Sabat era um dia para refletir sobre as
raízes nacionais, celebrar a grandeza de Deus e renovar o com-
promisso com a fé pactual. É por isso que a Lei, Êxodo 20:8–
11, ordena ao povo de Deus que observe o Sabat e dedique o
dia inteiro a Javé.
Êxodo 31:12–17 e Deuteronômio 5:13–15 descrevem o
ensinamento bíblico sobre o Sabat, e Isaías 58:13,14 mostra
que devia ser um dia de celebração feliz.
PARTE TRÊS - A ADORAÇÃO NO ANTIGO TESTAMENTO 49
A Páscoa
O povo de Deus se recordava continuamente do livramento
da escravidão no Egito. Eles marcavam esse dia com uma co-
memoração anual que realizavam em suas casas. Essa come-
moração celebrava o modo que o relacionamento de pacto ou
aliança de Deus com eles fora evidenciado nos episódios do
êxodo.
Primeiro, sacrificava-se um cordeiro na casa de cada fa-
mília e a festa era celebrada de modo inteiramente privado.
Mais tarde, porém, sacrificavam cordeiros no templo com todo
o esplendor de uma grande ocasião espiritual, e então eram
comidos em casa, em celebrações da família – isso enfatizava
o elo entre os elementos nacionais e familiares da libertação
do êxodo.
Essa festa era considerada tão importante que havia uma
cláusula especial que qualquer um que perdesse a Páscoa,
porque estava ritualmente impuro, poderia celebrá-la um mês
após a data correta. Passagens como Números 9:1–4; Deu-
teronômio 16:1–8; 2Reis 23:21,22; 2Crônicas 30:1–27 e
35:1–19 ilustram o lugar que a Páscoa tinha na adoração no
Antigo Testamento.
Festas da colheita
O Antigo Testamento menciona três festas solenes que pare-
cem ter sido relacionadas com o ano agrícola. Contudo, as
Escrituras as relacionam mais com os grandes eventos da his-
tória de Israel do que com o ciclo das estações.
O pão ázimo se relacionava à colheita de cevada, mas era
celebrado na mesma época do ano que a Páscoa. Isso signifi-
cava que as duas festas eram intimamente ligadas e comemo-
ravam juntas a fuga do Egito. Vemos isso em Levítico 23:9–14
e Números 28:16–25.
Os Sete Dias ou Pentecostes comemoravam o fim da colhei-
ta de trigo e se faziam ofertas especiais em todos os santuá-
rios. Com o tempo, isso se tornou a festa de quando o povo de
50 ADORAÇÃO EM ESPÍRITO E EM VERDADE
Outras festas
Todo ano, o povo de Deus também celebrava outras três festas
importantes, que não eram relacionadas ao ano agrícola.
Trombetas – o dia das trombetas é mencionado em Núme-
ros 29:1 e Levítico 23:24. Era chamado de ‘memorial com
sonidos de trombetas’ e ‘um sabat’. Nesse dia, o povo de Deus
descansava do trabalho, adorava com seus sacrifícios e cele-
brava a sua cidadania.
Purim – esta festa foi adicionada posteriormente ao ano re-
ligioso judeu, e está descrita em Ester 9. Foi estabelecida por
Mardoqueu para celebrar o incrível livramento que os judeus
tiveram das conspirações de Hamã, e era um dia de festa,
regozijo e brincadeiras.
Expiação – o dia da expiação está descrito em Levítico 16.
Era um sacrifício nacional anual – em contraste aos sacrifícios
pessoais regulares pelo pecado. Era o dia mais importante no
ano judeu, e a única ocasião em que ‘o santo dos santos’ era
adentrado, e somente pelo sumo sacerdote.
O sumo sacerdote tomava dois carneiros para expiar pelos
PARTE TRÊS - A ADORAÇÃO NO ANTIGO TESTAMENTO 51
Adoração variada
Vimos que a adoração no Antigo Testamento era uma experiên-
cia muito variada, mas não incluía a pregação.
Neemias 8:7–9 mostra que depois do retorno do exílio, a
Lei era explicada durante a adoração, mas a ênfase principal
naqueles dias era sempre o louvor e celebração.
A adoração era a resposta do povo a Deus, visto que Ele se
fizera conhecido por meio dos eventos da História e na experi-
ência cotidiana deles. À medida que adentravam os santuários,
eles eram lembrados da bondade de Deus no passado e assim
recebiam esperança renovada para as suas vidas. Entretanto,
eles também eram desafiados pela santidade de Deus na me-
dida em que enfrentavam a necessidade de arrependimento e
perdão e ofereciam sacrifícios para garanti-los.
Com o passar do tempo, a natureza repetitiva de grande
parte da adoração no Antigo Testamento levou os profetas a
questionarem a sua eficácia e a vê-la meramente como um
estágio no caminho de um relacionamento pactual mais íntimo
e profundo com Deus.
Reis
Em toda a história de Israel e Judá, os reis desempenhavam um
papel importante na adoração pública. Por exemplo, os reis:
• Fundaram centros de adoração – 2Samuel 6:17; 24:25;
1Reis 5:1 – 6:14; 12:26–33 e Amós 7:13
• Assumiram a responsabilidade pela criação de política reli-
giosa – 1Reis 15:11–15; 2Reis 1: 1–18; 16:1–18; 18:1–7;
21:1–9 e 22:3–23:23
• Dirigiram a adoração – 1Samuel 13:8–10; 14:35; 2Sa-
muel 6:1–19; 24:25; 1Reis 3:3,4; 8:14–66; 12:32 – 13:1;
2Reis 16:1–16 e 19:14–19
Sacerdotes
Após o exílio e final da monarquia, os sacerdotes se tornaram
líderes políticos, mas as suas funções espirituais ainda eram a
parte mais importante do trabalho. A Bíblia mostra que os sa-
cerdotes:
• Cuidavam dos santuários em toda a terra – Juízes 17:1–13;
1Samuel 1–3:21 e Amós 7:10–13
• Davam conselho quando consultados – 1Samuel 9:3–16
• Davam instruções acerca da adoração – Levítico 10:8–11;
13:1–8; Ezequiel 22:26; 44:23 e Ageu 2:11–14
• Celebravam os sacrifícios e aspergiam o sangue sacrificial no
altar – Levítico 1:1–7:38; Números15:1–31 e 28:1–29:40
• Eram os guardiões da arca e da Lei – Josué 3:6–17 e 4:9–
11
• Mediavam entre Deus e as pessoas – Números 6:22–26 e
1Samuel 1:17
Essa função como mediador era a mais típica do papel reli-
gioso. Por serem consagrados de maneira especial a Deus, os sa-
cerdotes podiam lidar com a santidade de um lugar de adoração.
Por intermédio da mediação do sacerdote, Deus e as pessoas
eram unidos de um modo tangível na adoração.
Os sacerdotes eram os únicos que ministravam exclusivamen-
te para Deus. Êxodo 19:4–6 mostra que o propósito supremo de
Deus era ter uma nação inteira de sacerdotes que vivessem para
PARTE TRÊS - A ADORAÇÃO NO ANTIGO TESTAMENTO 53
Profetas
Alguns crentes modernos parecem pensar que os sacerdotes e
profetas se opunham entre si, que os sacerdotes se preocupavam
apenas com um ritual sem sentido, e que os profetas traziam a
mensagem divina doadora de vida. Porém, Jeremias 18:18 mos-
tra que os sacerdotes e profetas se complementavam.
Ao mesmo tempo em que é verdade que alguns profetas cri-
ticavam a formalidade morta – como em Isaías 1:10–17; Amós
5:21–24; Oseias 6:6 e Miqueias 6:6–8 – eles também estavam
envolvidos com a adoração organizada da nação. Por exemplo:
• Sacerdotes e profetas trabalhavam lado a lado – Jeremias
5:31; 23:11; 26:7, 16; 29:26; Lamentações 2:20 e Zaca-
rias 7:1–3
• Alguns profetas tinham uma sala no templo – Jeremias
35:3,4
• Os profetas geralmente entregavam as suas mensagens no
contexto da adoração organizada e as relacionavam muitas
vezes às festas principais
54 ADORAÇÃO EM ESPÍRITO E EM VERDADE
As pessoas
A maioria dos adoradores não era profeta, sacerdote ou rei, a
maioria era trabalhador e trabalhadora simples nas pequenas
cidades e vilarejos de Israel. A maior parte do Antigo Testamento
nos diz pouco acerca dos detalhes precisos da adoração; um
livro, porém, se sobressai e é fundamental para a nossa com-
preensão da adoração de pessoas comuns – e para a nossa
adoração hoje.
O livro de Salmos parece um relato detalhado das atividades
de adoração no templo de Jerusalém no período de reis, antes
do exílio na Babilônia. Esse livro extenso do Antigo Testamento é
tão básico para a adoração bíblica em espírito e em verdade que
agora prosseguiremos analisando-o com mais detalhe.
Parte Quatro
Títulos de Salmos
Na maioria das Bíblias inglesas, quase todos os Salmos parecem
ter um título. Embora não fossem parte dos Salmos bíblicos ori-
ginais, esses títulos preservam as ideias judaicas tradicionais a
respeito deles.
Alguns títulos contêm instruções musicais; por exemplo, Mich-
tam nos Salmos 56 a 58 provavelmente signifique ‘cantar em voz
baixa’. Outros títulos estipulam o tom a ser usado; por exemplo,
56, ‘a pomba nos terebintos distantes’, 57, ‘não destruas’, 60, ‘os
lírios do testemunho’. E alguns títulos descrevem os instrumentos
especiais que deveriam ser tocados – por exemplo, 4, 5 e 6.
Alguns títulos vinculam o Salmo a uma pessoa específica; por
exemplo, 88, Hemã, 89, Etã e 90, Moisés. Outros títulos identi-
ficam o tipo de Salmo, por exemplo, 145, louvor, 100, ação de
graças, 89, contemplação, 90, oração, 45, canção de amor e as-
sim por diante. Outros títulos relacionam o Salmo a um evento
específico – por exemplo, 50, 51, 54, 56 e 57.
Salmos de Davi
Não sabemos o que significa alguns dos títulos tradicionais. Por
exemplo, a frase ‘um Salmo de Davi’ (que aparece no título de
73 Salmos) poderia, às vezes, significar que foi escrito para Davi,
outras, que foi escrito por Davi e eventualmente, que fazia parte
de uma coleção publicada pelo palácio.
O texto em 1Samuel 16:16–23 relata que Davi era um músico
e poeta talentoso, e 1Crônicas 25:1–8 mostra seu grande inte-
resse na música profética, por isso é certamente provável que ele
PARTE QUATRO - A ADORAÇÃO NOS SALMOS 59
tenha escrito muitos dos Salmos que lhe são tradicionalmente atri-
buídos. De fato, o Salmo18 é simplesmente uma versão revisada
de seu poema em 2Samuel 22.
Diversos Salmos são intimamente relacionados a eventos espe-
cíficos da vida de Davi, e parecem expressar os seus sentimentos
pessoais e respostas a Deus, por exemplo:
• Salmo 59 com 1Samuel 19:11–24
• Salmo 34 com 1Samuel 21
• Salmo 57 e 142 com 1Samuel 22:1–5 e 24:3–15
• Salmo 52 com 1Samuel 22
• Salmo 54 com 1Samuel 23:19–29
• Salmo 63 com 1Samuel 24:1,2, 22 e 2Samuel 15:13–37
• Salmo 60 com 2Samuel 8:13
• Salmo 32 e 51 com 2Samuel 11–12
• Salmo 3 com 2Samuel 15:13–37
• Salmo 18 com 2Samuel 22
Tipos de Salmos
Os Salmos parecem expressar toda a gama dos sentimentos hu-
manos e experiências, desde a depressão profunda até um êxtase
de felicidade. Alguns Salmos (como o 145 ao 150) são hinos ma-
ravilhosos de louvor a Deus, e são canções que podem ser usadas
por adoradores que estão em paz com Deus e com o mundo. Ou-
tros Salmos, contudo, refletem os momentos escuros e dolorosos
da experiência humana.
Alguns (como 51 e 130) são para adoradores que reconhecem
que a culpa pessoal é a causa de seu problema. Enquanto outros
(como 13 e 71) são para adoradores que pensam que são inocen-
tes e não deveriam estar sofrendo de jeito nenhum.
Muitos Salmos (como 44, 74, 80 e 83) permitem à nação
inteira responder a Deus em conjunto numa época de incerteza
ou desastre. Alguns (como 45) ajudam as pessoas a celebrarem
juntas em um grande evento como em uma coroação ou um ca-
samento real. Enquanto outros (como 30, 92 e 116) são can-
ções que possibilitam aos indivíduos expressarem a sua gratidão a
Deus ao serem livrados de uma prova pessoal.
60 ADORAÇÃO EM ESPÍRITO E EM VERDADE
Poemas hebraicos
Se quisermos entender corretamente os livros dos Salmos e usá-los
de modo proveitoso na adoração de hoje, devemos perceber que
se trata de uma coletânea de poemas hebraicos inspirados que
devia ser usada na adoração. Os Salmos não são sermões para
se ler, nem teses doutrinárias para serem discutidas; são canções
para serem cantadas. De fato, a maioria dos estudiosos considera
o livro como o hinário de cinco volumes do segundo templo.
Muitas pessoas em nossos dias acham que a poesia é um tan-
to remota e intelectual. A poesia hebraica, contudo, estava muito
mais próxima da oratória moderna do que a poesia moderna. Por
exemplo, Juízes 5:30 utiliza a reiteração para tornar a passagem
memorável e impressiva de modo muito semelhante ao que Wins-
ton Churchill utilizou em seus discursos clássicos da época da
guerra.
A poesia hebraica difere da nossa basicamente pelo uso do pa-
ralelismo – o eco do pensamento de uma linha em uma segunda
que lhe é par – por exemplo, Números 23.19. Esse dispositivo
comunica, de alguma forma, grande dignidade e cria uma impres-
são de espaço que permite tempo para o pensamento impactar o
ouvinte. Também permite ao poeta apresentar mais de uma faceta
de uma mesma questão, como em Isaías 55:8.
Alguns aspectos da poesia hebraica se perdem completamente
na tradução. O Salmo119, por exemplo, é um poema alfabético
com 22 seções de uma mesma largura (oito versos modernos),
em que cada uma começa com as 22 letras do alfabeto hebraico
– Salmos 34, 111, 112 e 145 usam o mesmo mecanismo.
O paralelismo e o uso do refrão (como 46 e 136) sobrevivem
à tradução em qualquer língua e são usados ao longo dos Salmos
PARTE QUATRO - A ADORAÇÃO NOS SALMOS 61
a fim de nos oferecer palavras poéticas para adoração que são tão
poderosas, relevantes e memoráveis nos dias de hoje como eram
três mil anos atrás, quando foram escritas pela primeira vez em
louvor a Deus.
Hinos de louvor
Embora possamos dizer que todo Salmo é um poema para ado-
ração, há três formas comuns: hinos, lamentações e ações de
graças.
Os Salmos 8, 19, 29, 33, 46–48, 76, 84, 87, 93, 96–100,
103–106, 113–114, 117, 122, 135–136 e 145–150 são exata-
mente hinos de louvor, bem semelhantes aos que ainda cantamos
hoje.
Normalmente, os Salmos que são hinos começam com um
convite para louvar a Deus. O corpo do hino sugere alguns mo-
tivos para louvar e também algumas das maravilhas de Deus na
criação e/ou história (especialmente em Sua obra de salvação para
o povo). Um hino normalmente termina repetindo-se o convite
aberto ou encerrando-se com uma breve oração.
Alguns hinos (por exemplo, 46, 48, 76, 84, 87 e 122) focam
as glórias da cidade santa, Sião ou Jerusalém, e a apresentam
profeticamente como o lugar da habitação de Deus e o objetivo da
peregrinação. Outros hinos (por exemplo, 47, 93 e 96 a 98) usam
linguagem profética para celebrar a soberania universal e reinado
absoluto de Deus.
Salmos proféticos
O texto de 1Crônicas 25:1–3 mostra que a música profética, o
louvor profético, a ação de graças profética e os Salmos proféticos
eram parte integrante da adoração durante o reinado do rei Davi.
Alguns Salmos incluem ditados proféticos enquanto outros
são profecias ampliadas em forma de música – por exemplo, 2,
50, 75, 81–82, 85, 95 e 110. Parece provável que esses Sal-
mos eram profecias entregues durante um culto no templo, por
um profeta, e depois usadas regularmente na adoração.
Os Salmos que são hinos de louvor referentes à cidade santa
e ao reino de Deus são claramente proféticos, pois remetem a
um tempo de renovo futuro – o qual veio a ser chamado de ‘era
messiânica’.
Os Salmos proféticos mais importantes, contudo, são os ‘Sal-
mos reais (do rei), que estão espalhados pelos cinco livros. Estes
incluem:
• Pronunciamentos dirigidos ao rei – 2 e 110
• Orações pelo rei – 20, 61 e 72
• Ações de graças pelo rei – 21
• Orações do rei – 18, 28, 63 e 101
• Uma canção da procissão real – 132
• Um hino do rei – 144
• Um cântico do casamento real – 45
Por um lado, estes Salmos simplesmente se referem a um rei
específico de Israel ou Judá, da época dos reis, e os Salmos 2,
72 e 110 poderiam até ter sido compostos como hinos para se-
rem cantados em uma coroação. Contudo, eles também apontam
para além do rei daqueles dias, pois alegam que este rei é um
filho de Deus, que o seu reino é eterno e alcança até os confins
da terra, que ele estabelecerá paz e justiça permanentes e que
será o salvador de seu povo.
Cantar esses cânticos regularmente mantinha a esperança
viva de que as promessas feitas a Davi seriam cumpridas – ana-
lisamos este aspecto nos volumes Salvação pela Graça e Co-
nhecendo o Filho. O fato de eles ainda serem cantados muito
tempo depois do fim da monarquia mostra que Israel esperava
64 ADORAÇÃO EM ESPÍRITO E EM VERDADE
tam que os Salmos 8, 16, 22, 35, 40, 41, 68, 69, 97, 102,
118 e 119 antecipam Cristo de algum modo; e defendem que
todos os Salmos acerca da cidade santa e do reino de Deus se
aplicam à mente e missão de Cristo.
Autojustificação
Precisamos perceber que os autores dos Salmos faziam alega-
ções comparativas e não absolutas à retidão: Eles se compa-
ravam com as pessoas em redor em vez de se comparar com
Deus. Ao assim fazer, eles reconheciam a diferença essencial
entre pessoas que tentam obedecer a Lei e fazer a vontade de
Deus e aqueles que ignoram Sua Lei e vontade.
Os autores, contudo, estavam bem conscientes de seu pecado
pessoal quando se comparavam aos padrões de Deus: Vemos
isso principalmente nos sete Salmos ‘penitenciais’ – 6, 32, 38,
51, 102, 130 e 143. O arrependimento profundo existe em pa-
ralelo à autojustificação nos Salmos tanto quanto nesses crentes
modernos, que fitam o mundo com horror e fitam Deus com uma
mescla de reverência, temor e maravilhamento.
66 ADORAÇÃO EM ESPÍRITO E EM VERDADE
Vingança
Diversos Salmos amaldiçoam o perverso e reivindicam vingan-
ça contra ele, e a reação de alguns crentes a esses Salmos
é condená-los como totalmente ‘não cristãos’. Precisamos re-
conhecer, contudo, que os autores conheciam Deus como um
ser perfeitamente santo, que não podia olhar para o mal e não
podia tolerar nenhum delito. Seus pleitos por vingança se ba-
seavam no entendimento que possuíam do nome e caráter de
Deus: Eles pensavam corretamente que Sua natureza demanda-
va uma resposta vigorosa, punitiva ao pecado.
Os autores não queriam que Deus matasse o perverso por-
que este os tinha perturbado; eles queriam que Deus os ma-
tasse porque tinha de agir de modo coerente com a própria
santidade – analisamos esse aspecto plenamente nos volumes
Conhecendo o Pai e Salvação pela Graça.
Também precisamos reconhecer que os autores eram realis-
tas em reconhecer que o certo não pode triunfar sem a derrota
verdadeira do mal e a punição enérgica do erro. Se nos senti-
mos à vontade para orar ‘venha o Teu reino’, não deveríamos
nos sentir incomodados de cantar um Salmo que explica o que
isso significa na prática! Muitas dessas passagens intituladas
‘difíceis’ simplesmente prefiguram profeticamente o livro de
Apocalipse.
A adoração e os Salmos
Vimos que o livro de Salmos é o hinário do Antigo Testamento.
Está repleto de cânticos espirituais que o povo de Deus usou em
oração, adoração e ação de graças por mais de mil anos.
Todas as festas importantes de Javé eram celebradas com
cânticos e dança, como em Juízes 21:19–21 e 2Samuel 6:5–
PARTE QUATRO - A ADORAÇÃO NOS SALMOS 67
16. Ainda, Amós 5:23 registra que até os sacrifícios eram ofe-
recidos com cântico.
Temos visto que muitos dos Salmos apresentam instruções
musicais ou litúrgicas nos títulos, e que a palavra misteriosa,
selá, direcionava claramente o modo que o Salmo era usado
na adoração pública. Ninguém sabe o que significa selá, por
exemplo, no Salmo 66:4, 7, 15; 68:7, 19, 32; 89:4, 37, 45,
48; 140:3, 5 e 8.
Alguns argumentam que ela incentivava a congregação a
cantar mais alto, enquanto outros sustentam que a direcionava
a parar de cantar por um momento enquanto os músicos toca-
vam uma música ‘tema’.
Os Salmos 20, 26, 27, 66, 81, 107, 116, 134 e 135 re-
ferem-se diretamente à adoração pública. Está claro que esses
Salmos – e o 48, 65, 95, 96 e 118 – eram cantados nos pátios
do templo, e que o 84 e 120 a 134 têm grandes chances de
terem sido cantados por adoradores a caminho das reuniões no
templo.
Alguns Salmos (como os 125, 128,129) foram claramen-
te adaptados para a adoração pública pela adição de bênçãos,
enquanto outros são designados ao uso em ocasiões específi-
cas – por exemplo, Salmo 92 no Sabat e Salmo 30 na festa da
dedicação.
A Adoração no Novo
Testamento
Os quatro Evangelhos mostram que Jesus e os Seus discípulos
continuaram o padrão de adoração do Antigo Testamento ao ob-
servarem o Sabat, celebrarem as festas, cantarem os Salmos e
adorarem no Templo em Jerusalém e nas sinagogas locais.
Mateus 4:23; 9:35 e Marcos 1:21 relatam que Jesus ensina-
va nas sinagogas de todas as cidades e vilarejos da região.
Lucas começa e encerra o seu Evangelho no templo – Lucas
1:5–1 e 24:5–53. Ele mostra como Deus revelou a Sua Palavra
e vontade no templo quando Jesus foi apresentado – 2:22–38;
e enfatiza o envolvimento de Jesus com a adoração na sinagoga
e no templo – 4:1–38, 44; 6:6; 13:10 e 20:1.
João fundamenta todo o seu Evangelho em torno das festas
judaicas e divide a vida de Jesus em períodos definidos. Após
descrever a primeira semana do ministério de Jesus, João co-
menta os eventos associados à Páscoa (2:13–4:54), uma festa
não especificada, mas provavelmente o Purim (5:1–47), uma
segunda Páscoa (6:1–71), uma festa dos Tabernáculos (7:1–
10:21), uma festa da dedicação (10:22–11:57) e uma terceira
Páscoa (13:1–19:4). Vimos no volume Conhecendo o Filho que
o Evangelho de João se esforça muito em apresentar Jesus como
o cumprimento de todas essas festas importantes.
72 ADORAÇÃO EM ESPÍRITO E EM VERDADE
O ministério da Palavra
Embora as cartas de Paulo tenham sido escritas basicamente aos
crentes não judeus, aos ‘gentios’, elas contêm muitas alusões às
Escrituras judaicas, ao Antigo Testamento.
Por causa disso, parece sensato presumir que a leitura regular
das Escrituras (somente o Antigo Testamento na época) era par-
te crucial da adoração na igreja primitiva. De fato, em 1Timóteo
4:13, Paulo instrui Timóteo a participar da leitura pública das Es-
crituras, bem como do ensino e pregação.
74 ADORAÇÃO EM ESPÍRITO E EM VERDADE
Orações
Nós estudamos as orações do apóstolo Paulo – por ele e pelos
outros – com certo detalhe no volume Oração Eficaz, e vemos a
importância das diferentes formas de oração (petição, interces-
são, batalha etc.) na vida de Jesus e na igreja primitiva. Também
as analisamos no volume Glória na Igreja.
Em 1Coríntios 1:2, Paulo mostra que ‘invocar o nome do Se-
nhor’ em oração é um dos símbolos-chave de crentes cristãos
verdadeiros, e ele encoraja as pessoas a continuar persistindo
em oração em Colossenses 4:2 e 1Tessalonicenses 5:25.
O apóstolo Paulo enfatiza notadamente a importância da ação
de graças. Vemos isso, por exemplo, em 1Coríntios 14:16; Fili-
penses 4:6 e Colossenses 4:2. Isso sugere que a oração na ado-
ração realizada na igreja se caracterizava por uma gratidão alegre
perante a maravilhosa graça e bondade de Deus em Cristo.
Em passagens como Romanos 8:15; 1Coríntios 16:22; 2Co-
ríntios 1:20 e Gálatas 4:6, Paulo parece mostrar que essas pa-
lavras não gregas eram amplamente utilizadas na adoração da
igreja primitiva (o grego era a língua comum):
• Amen – ‘assim seja’ – afirma a confiabilidade das promes-
sas de Deus
• Maranatha – ‘ó, vem Senhor’ – afirma a confiança na volta
do Senhor
• Abba – ‘paizinho’ – afirma a natureza de Deus, o Pai.
76 ADORAÇÃO EM ESPÍRITO E EM VERDADE
Liberdade na adoração
O ensinamento mais completo no Novo Testamento acerca da
adoração encontra-se na primeira carta de Paulo à igreja em
Corinto. Em 1Coríntios 11:2–14:40, Paulo trata de um conjunto
de questões que surgiram na igreja que crescia rapidamente, e
se localizava na cidade grega chamada Corinto.
Parece que a igreja estivera tentando colocar os ensinamentos
de Paulo em prática, mas três dificuldades práticas tinham sur-
gido – dificuldades que haviam perturbado as congregações por
diversas vezes ao longo do tempo:
• Liberdade e adoração
• Princípios morais e adoração
• Dons espirituais e adoração
Liberdade
Parece que o apóstolo Paulo havia ensinado aos crentes da cida-
de de Corinto as mesmas coisas que ensinara às igrejas na área
rural da Galácia. Dois dos argumentos mais básicos de Paulo
eram que:
PARTE CINCO - A ADORAÇÃO NO NOVO TESTAMENTO 77
Princípios morais
O apóstolo Paulo se preocupava claramente com o modo que
a igreja de Corinto estava observando a Ceia do Senhor. Em
vez de executar as instruções que Jesus dera, e que Paulo lhes
havia transmitido, parece que os crentes de Corinto transfor-
maram o culto em uma ocasião para festejo e diversão. Eles
estavam trazendo a própria comida para a Ceia do Senhor, e
estavam fazendo festas particulares na reunião em vez de faze-
rem-nas em suas casas.
PARTE CINCO - A ADORAÇÃO NO NOVO TESTAMENTO 79
Dons espirituais
A terceira dificuldade prática que os coríntios estavam enca-
rando na adoração pública dizia respeito aos dons espirituais.
Esses eram parte fundamental da igreja primitiva: eles sa-
biam que tinham sido ungidos com o Espírito Santo e que o
Espírito Santo os inspirara e capacitara a orar em línguas, inter-
pretar línguas, profetizar, operar milagres, discernir espíritos e
assim por diante. Analisamos esses dons nos volumes Conhe-
cendo o Espírito, Ouvindo Deus e Ministério no Espírito.
Parece que os crentes de Corinto estavam experimentando
todos esses dons do Espírito e estavam tão ansiosos para usá-
-los que diversas pessoas estavam manifestando-os pública e
simultaneamente nos cultos da igreja.
O apóstolo Paulo lembrou a eles que Deus traz paz e não
confusão. Isso quer dizer que Deus garante que – ao serem ma-
nifestados na adoração pública – os dons espirituais ocorram
de maneira a edificar todo o corpo da igreja.
Paulo reconhecia a legitimidade de todos os dons que esta-
vam sendo manifestados nos cultos de Corinto. Ele enfatizava
que cada um era dado por Deus, e tinha um lugar na adoração
pública da igreja. Ele explicou que assim como o corpo humano
tem partes diferentes, e que todas contribuem para o funcio-
namento eficaz do corpo, assim os diferentes dons e membros
contribuem todos para a adoração/culto da igreja.
A questão-chave em todos os problemas práticos de Corinto
era liberdade e adoração. As mulheres eram livres para desfilar
o pacto social vigente durante os cultos da igreja? Os diferentes
grupos eram livres para celebrar nos cultos apenas com o pró-
prio grupo de amigos? As pessoas eram livres para manifestar
dons espirituais simultaneamente?
A resposta de Paulo foi para endossar a liberdade legítima
que tinham em Cristo, mas também foi para enfatizar a respon-
82 ADORAÇÃO EM ESPÍRITO E EM VERDADE
Adoração sacrifical
Ao lermos os Evangelhos e o livro de Atos, fica claro que eles
ecoam alegria e prazer. Quando, por exemplo, o Espírito Santo
foi derramado sobre os discípulos no Pentecoste, eles se deslum-
braram tanto com o amor de Deus que O adoraram em línguas
novas, dadas a eles pelo Espírito.
Na realidade, Romanos 8:15,16 mostra que toda vez que o
Espírito entra na vida de um indivíduo, a resposta natural é cho-
rar de alegria, ‘Abba, Pai’; e Efésios 5:18–20 mostra que toda
vez que o Espírito enche a vida de uma igreja local, sua resposta
natural é o louvor animado e ação de graças.
A verdade, entretanto, é que nem sempre nos sentimos as-
sim. Se adorássemos a Deus apenas quando nos sentimos as-
sim, poderíamos não adorá-Lo com muita frequência! O Novo
Testamento reconhece essa verdade ao reinterpretar a ideia do
Antigo Testamento, de que a adoração verdadeira sempre inclui
sacrifício. Sugere que nossa adoração em espírito e em verdade
deveria caracterizar-se por três sacrifícios principais, e nós os ana-
lisaremos com mais detalhe nos três capítulos seguintes.
PARTE CINCO - A ADORAÇÃO NO NOVO TESTAMENTO 83
Serviço e Adoração
Vimos que a Bíblia não faz distinção entre ‘adoração espiritual’
e ‘serviço prático’, e que ela apresenta a nossa adoração a Deus
como o nosso serviço, e o nosso serviço a Deus como a nossa
adoração. Resumindo, a maneira que servimos a Ele é a ma-
neira que O adoramos.
Observamos que a palavra hebraica abodah e a palavra
grega latreia significam originalmente o trabalho prático de um
escravo ou servo, mas que também são usadas nas Escrituras
para descrever serviço ou adoração a Deus: Nosso serviço é a
nossa adoração, e a adoração é o nosso serviço.
E definimos que todos os mandamentos de Deus podem ser
consubstanciados na adoração e serviço. A primeira prioridade
de Deus para as nossas vidas é que O adoremos com todo o
nosso ser; a segunda é que sirvamos a outros com a paixão que
temos por nós mesmos.
O maior e o menor
Toda vez que estão lutando para serem as mais importantes,
as pessoas também estão lutando para não serem as menos
importantes. Embora a maioria de nós saiba que nunca vai ser o
maior, alguns crentes ainda lutam para não serem os menores.
Segundo os Evangelhos, esse era um dos problemas principais
dos apóstolos.
Quando se reuniram com Jesus para celebrar a Páscoa, em
João 13:1–17, os apóstolos sabiam que um deles teria de lavar
os pés dos outros. (Naquela época, as pessoas se reclinavam de
lado sobre almofadas em vez de se sentarem em cadeiras; por
isso, ter os pés limpos na hora das refeições era muito impor-
tante.) O problema é que a lavação dos pés era um serviço para
o servo mais inferior, e nenhum dos apóstolos queria ser tão
inferior assim.
João 13:2 sugere que todos eles preferiam participar da refei-
ção com os pés sujos a serem considerados como o menor dos
apóstolos. Então Jesus tomou uma toalha, redefiniu a grandeza,
o serviço importante, e ainda revelou outra faceta crucial da na-
tureza divina.
O contexto da adoração
É importante reconhecermos que tudo isso ocorreu no contexto
do ato de adoração mais importante do ano judaico. Embora
fosse comida nos lares, a refeição de Páscoa ocorria em meio
a um serviço de adoração que incluía hinos, leituras, orações
e louvor. O ato de serviço prático de Jesus fluía dessa adoração
espiritual e fazia parte dela: verdadeiramente, o Seu serviço era
PARTE SEIS - CULTO E ADORAÇÃO 89
Liderança e autoridade
Em diversos volumes desta Série A Espada do Espírito, especial-
mente em Conhecendo o Filho, vemos como os quatro Evange-
lhos se complementam focando aspectos diferentes da natureza
e missão de Jesus. Vimos, por exemplo, que Mateus enfatiza a
autoridade de Jesus, Marcos enfatiza o Seu serviço, Lucas enfa-
tiza a Sua humanidade e João, a Sua divindade.
Então, chama muito mais atenção o fato de ser o Evangelho
de João – e não Marcos ou Lucas– que registra esse episódio.
Em todo o seu Evangelho, João se esforça para apresentar Jesus
como plenamente divino, como a revelação completa de Deus,
como um em natureza e pessoa com o Pai, como o ‘Eu sou’ que
se revelou a Moisés no deserto, e assim por diante.
Isso significa que o ato servil de Jesus com a toalha não é
apenas um exemplo do comportamento humano ideal; mais im-
portante que isso, é também uma revelação dinâmica da maneira
de Deus se comportar: Mostra-nos como ‘o Senhor e Mestre’, o
‘Eu O sou’, exerce Sua liderança soberana e autoridade absoluta.
Ao pegar a toalha e lavar os pés de Seus discípulos, Jesus
não estava abolindo a liderança e autoridade, Ele as estava rede-
finindo. Estava mostrando que o serviço é para os mestres tanto
quanto é para os servos. Jesus sempre ensinou e revelou uma
autoridade que se baseava na função mais do que no status, e
uma liderança que servia às pessoas em vez de manipulá-las e
controlá-las. Vemos isso, por exemplo, em Mateus 20:25–28.
90 ADORAÇÃO EM ESPÍRITO E EM VERDADE
Serviço farisaico
Se quisermos entender e praticar o ‘serviço em espírito e em
verdade’, temos de distingui-lo do ‘serviço farisaico’.
Esforço humano
O serviço farisaico sempre vem por meio de esforço humano:
Calcula e planeja como e a quem servir. Em contrapartida, o
serviço verdadeiro flui da adoração, das sugestões de Deus, que
são ouvidas quando nos inclinamos em Sua presença. Analisa-
mos esse aspecto com mais detalhe nos volumes O Governo de
Deus e Ouvindo Deus.
Servimos em espírito e em verdade somente porque ouvimos
a Deus e fomos direcionados e equipados por Ele.
Seletivo e temporário
O serviço farisaico se preocupa com resultados e é seletivo
quanto a quem é servido, ao passo que o serviço verdadeiro se
regozija em servir e serve aos inimigos com a mesma disposi-
ção que aos amigos, o pequeno e o grande, o mal agradecido
tanto quanto o generoso. Não somente por sentimentos e dese-
PARTE SEIS - CULTO E ADORAÇÃO 91
Autogratificação
Em última análise, o serviço farisaico é uma forma de autogra-
tificação e autoglorificação. Ele manipula e controla as pessoas
e traz dano à comunidade.
O serviço verdadeiro, entretanto, cuida das necessidades dos
outros com a paixão que temos por nós mesmos. Ele não obriga
ninguém a retribuir o serviço, edifica o corpo de Cristo e traz
grande glória a Deus.
Expressões de Serviço
Do mesmo modo que podemos ser tentados a entender adora-
ção em termos daquilo ‘que fazemos na igreja aos domingos’,
também é fácil pensar em serviço simplesmente como uma lis-
ta de coisas que poderíamos ou deveríamos fazer.
Porém, assim como nossa adoração é mais do que nosso
cantar, orar e ouvir, assim o nosso serviço é mais do que nosso
limpar, cuidar e cozinhar. Vimos que ‘adoração em espírito e em
verdade’ é uma maneira contínua de viver perante Deus, vimos
que é uma atitude interior permanente de adoração amorosa
e admiração santa. Então, ‘servir em espírito e em verdade’ é
mais uma maneira de viver do que um código de ética ou uma
lista de atitudes. Jamais deveríamos esquecer de que uma coisa
é agir como um servo, quando assim desejamos, e outra bem
diferente é ser um servo o tempo todo.
Não basta, porém, enfatizar somente a natureza interior do
serviço. Pois assim como a nossa atitude de adoração precisa
expressar-se em música, movimento, ruído, oração e ação de
graças, assim também a nossa atitude de servir precisa expres-
sar-se na igreja e no mundo ao nosso redor.
As Escrituras não contêm o serviço equivalente ao livro de
Salmos, em vez disso, estão continuamente permeadas de
exemplos de serviço que praticamente passam despercebidos.
92 ADORAÇÃO EM ESPÍRITO E EM VERDADE
Tarefas simples
Quando, por exemplo, pensamos naqueles que Deus usou para
nos trazer o Novo Testamento, normalmente nos lembramos do
apóstolo Paulo. Seus textos mudaram literalmente o mundo e
transformaram milhões e milhões de vidas. Quantos de nós pa-
ram para agradecer a Deus pelo serviço silencioso de Tíquico?
Parece que Paulo escreveu a maioria de suas cartas quando
estava na prisão e não as podia entregar pessoalmente. E como
não havia serviço de correio naquela época, Paulo muitas vezes
pedia ao seu amigo Tíquico que viajasse centenas de milhas a
pé para entregá-las. Vemos isso, por exemplo, em Efésios 6:21;
Colossenses 4:7; 2Timóteo 4:12 e Tito 3:12.
Muitos estudiosos acham que Efésios foi escrita como uma
carta ‘circular’ que foi enviada a muitas igrejas, e é possível que
Tíquico tenha perambulado por toda a Ásia Menor entregando
uma pilha de cópias de ‘Efésios’ a todas as diversas igrejas da
região.
O ato de serviço dele foi anônimo, secreto, solitário e simples
e teria parecido mundano e insignificante na época – literal-
mente, ninguém poderia ter feito isso. Contudo, não teríamos
o Novo Testamento hoje se Tíquico não tivesse servido com tal
fidelidade.
Prestatividade rigorosa
É claro, a maioria dos serviços não tem consequências tão gran-
des assim. Atos 9:39, por exemplo, registra como Dorcas serviu
de maneira tão modesta que impactou apenas algumas pessoas
necessitadas que moravam perto de sua casa. Porém, pareceu
adequado ao Espírito Santo destacar o seu serviço nas Escritu-
ras como um exemplo para todos nós seguirmos.
Devemos aprender com o próprio Espírito Santo. Ele é o Es-
pírito humilde e modesto que existe para focar a atenção no
Filho em vez de em Si mesmo. Quando vivemos no reino do
Espírito, logo descobrimos que os verdadeiros problemas se
encontram nos cantinhos das vidas das pessoas, onde coisas
pequenas são fundamentais e o eu é secundário.
PARTE SEIS - CULTO E ADORAÇÃO 93
Aceitar o serviço
Em outro nível, o serviço tem a ver com ser servido e aceitar o
serviço. Pedro não queria que Jesus lavasse os seus pés, não
porque ele fosse humilde, mas porque era orgulhoso, pois o ser-
viço de Jesus era uma afronta à ideia de autoridade e liderança
que Pedro tinha. Se estivesse no comando, Pedro não teria de
modo algum lavado os pés de alguém!
Quando permitimos que os outros nos sirvam, estamos re-
conhecendo a autoridade deles sobre nós, e a recebemos sem
sentir necessidade de retribuir.
Prover hospitalidade
A hospitalidade é praticamente a única expressão de serviço à
qual somos expressamente conclamados nas Escrituras. 1Pedro
4.9 estimula a hospitalidade em todos os crentes e Romanos
12:13; 1Timóteo 3:2 e Tito 1:8 a tornam uma pré-condição da
liderança da igreja.
As Escrituras estão repletas de exemplos de hospitalidade,
desde a proteção de Raabe aos espias, a provisão de Boaz
para Rute e Noemi, o tratamento dado pela viúva a Elias e
Eliseu, até as boas-vindas de Marta e Maria a Jesus e Seus
discípulos.
Ao enviar os doze e os setenta a pregar o Evangelho, Jesus
os ordenou que dependessem da hospitalidade, e vemos que
essa instrução foi obedecida em todo o livro de Atos. Pode ser
que a cultura empresarial moderna de ficar em hotéis e comer
em restaurantes tenha nos roubado muito da alegria bíblica que
se encontrava na hospitalidade do dar e receber.
94 ADORAÇÃO EM ESPÍRITO E EM VERDADE
Desenvolver a humildade
Pode parecer difícil desenvolver humildade. Na verdade, pode-
mos parecer praticamente ‘não humildes’ se buscarmos humil-
dade conscientemente. Contudo, quando entrarmos num curso
de ação que enfatize a ocultação e foque o bem dos outros,
poderemos ter expectativa de que o Espírito Santo opere a Sua
humildade em nossas vidas.
A humanidade carnal e caída rejeita o serviço e a ocultação
desejando, em vez disso, o benefício e o reconhecimento. Po-
rém, esses são desejos que devemos ‘crucificar’ com a mesma
veemência e persistência que crucificamos os desejos sexuais
ilícitos. Passagens como 1João 2:16 não se referem somente à
sexualidade, mas a toda emoção e atividade humana que não
esteja sob o pleno controle de Deus.
Muitas pessoas lutam contra desejos fortes e não sabem como
lidar com eles. Em toda a história da igreja, diferentes e diversos
grupos de crentes descobriram que uma mistura equilibrada de
adoração espiritual e serviço ‘em secreto’ é a melhor maneira de
controlar os desejos carnais e desenvolver uma atitude piedosa
de humildade saudável.
Essa foi a mola propulsora de todos os movimentos monás-
ticos dos primórdios que Deus usou para espalhar o Evangelho
por toda a Europa e plantar as primeiras igrejas na Grã-Bretanha
e Irlanda.
Durante o século 18, quando enviou novamente o avivamen-
to à Inglaterra, por meio de homens como Wesley e Whitfield,
Deus inspirou um homem de uma tradição eclesiástica muito
diferente a escrever um dos livros cristãos mais influentes de to-
PARTE SEIS - CULTO E ADORAÇÃO 95
Oferta e Adoração
Vimos que o Novo Testamento nos impele a oferecer a Deus três
sacrifícios na adoração:
• O sacrifício de nossos corpos
• O sacrifício de nossas posses
• O sacrifício do nosso louvor
Embora estejamos analisando esses aspectos da adoração
separadamente – aqui e nas Partes Oito e Dez – precisamos per-
ceber que eles são três aspectos da adoração/serviço em espírito
e em verdade que se complementam e sobrepõem.
Deus não está nos chamando a escolher entre atos de serviço
em secreto e o dar generoso, ou entre o louvor alegre e a presta-
tividade prática; Ele está nos chamando a adorá-Lo/servi-Lo com
todas as partes de nosso ser – e isso envolve servir, dar e orar. Se
negligenciarmos qualquer um desses aspectos, não estaremos
adorando-O em espírito e em verdade.
Também vimos que a adoração é a nossa resposta huma-
na à iniciativa reveladora de Deus, e que a nossa resposta é
determinada por Sua natureza. Por exemplo, respondemos com
adoração santa porque Deus mostrou que Ele é santo; respon-
demos com autossacrifício porque Deus se revelou como o Deus
de autossacrificio; respondemos com louvor porque Deus tem se
revelado como repleto de alegria e louvor; respondemos com o
serviço de lavar pés porque Ele se revelou como o Deus que lava
pés sujos; e Lhe respondemos com o dar porque tudo quer Deus
faz revela que Ele é o Deus doador.
98 ADORAÇÃO EM ESPÍRITO E EM VERDADE
Sacrifícios
Sacrifícios eram doações que eram dadas diretamente a Deus:
Nós os analisamos na Parte Três e os estudamos com mais de-
talhe no volume Salvação pela Graça. Vimos que toda vez que
se voltava a Deus, o povo de Israel O adorava oferecendo-Lhe
sacrifícios.
Alguns crentes parecem pensar que os judeus ofereciam
sacrifícios a Deus apenas para tratar o pecado. Porém, o Anti-
go Testamento mostra que eles davam sacrificialmente a Deus
quando estavam em regozijo e quando estavam em pranto – eles
Lhe davam o melhor em ação de graças, dedicação, intercessão,
louvor e adoração – bem como em arrependimento e com súpli-
cas por perdão.
Dízimos
O dízimo era um valor anual de 10% da renda familiar que era
dado para prover uma receita ao pobre e aos líderes religiosos.
O Antigo Testamento não descreve os métodos exatos de coleta
dos dízimos, e a prática parece ter mudado com o passar dos
séculos. Levítico 27:30–32, entretanto, deixa claro que tinha de
dar–se o dízimo de todas as colheitas e animais.
Toda vez que as pessoas faziam a colheita de suas planta-
ções, um décimo tinha de ser doado. E, uma vez ao ano, as
famílias contavam seus animais ao andarem pelo pasto. Todo
décimo animal era doado para garantir a realização de uma se-
PARTE SETE - OFERTA E ADORAÇÃO 99
leção justa: Eles não podiam usar o dízimo para dispor de seus
animais inferiores, porém, não tinham de selecionar o melhor –
como faziam para o sacrifício.
É importante compreendermos que o valor que as famílias
ofereciam em sacrifício durante o ano não era deduzido do dízi-
mo. Elas davam os seus sacrifícios dos nove décimos que resta-
vam de sua renda após terem dado o dízimo.
Levítico 27:30 e Malaquias 3:6–12 mostram que o dízimo
pertencia a Deus e era dado a Ele. Diferente dos sacrifícios, en-
tretanto, os dízimos eram a provisão especial de Deus a grupos
específicos de pessoas.
Durante dois anos, de um total de três, as famílias davam os
seus dízimos aos levitas e sacerdotes que eram responsáveis pela
adoração da nação; e no terceiro ano, o davam ao pobre que mo-
rava na região. Números 18:21–32 e Deuteronômio 14:29 expli-
cam por que os dízimos eram dados a esses grupos de pessoas.
É importante observar que os dízimos do Antigo Testamento
não eram usados para pagar prédios ou projetos especiais – es-
tes eram financiados por ofertas voluntárias. Em vez disso, os
dízimos eram usados inteiramente para oferecer uma renda para
pessoas envolvidas no ministério e para os que estavam deses-
peradamente necessitados.
Ofertas voluntárias
As ofertas voluntárias eram normalmente dadas para projetos
especiais – especialmente para levantar e manter prédios espe-
ciais. Por exemplo:
• A oferta aos tabernáculos – Êxodo 25:1–4; 35:1–29 e
36:2–7
• A primeira oferta do templo – 1Crônicas 28–29
• A segunda oferta do templo – Esdras 1:2–6; 2:68,69; 3:5;
7:16 e Neemias 7:70–72
Essas ofertas não eram dízimos, pois as pessoas não tinham
de dar porcentagens fixas de sua renda. Eram ‘voluntárias’, por
isso as pessoas não tinham de contribuir: Os que tinham cora-
ções dispostos eram solicitados a dar o pouco ou o muito que de-
100 ADORAÇÃO EM ESPÍRITO E EM VERDADE
A oferta e Jesus
Observamos muitas vezes nesta Série A Espada do Espírito
que Jesus ensinou mais acerca de assuntos financeiros do que
qualquer outro no reino de Deus. Jesus usou grande parte do
tempo tratando do assunto dinheiro, e Marcos 12:41 relata
que Ele observava o que as pessoas davam quando vinham
adorar, que Ele discernia o espírito em que elas davam, e que
comentava sobre o nível de suas ofertas.
Mateus 6:24 é a base de todo o ensinamento de Jesus
acerca do dinheiro: Ele insiste que é um poder – um Deus
falso– que busca dominar e escravizar as pessoas. Isso explica
porque temos tanta dificuldade de doar dinheiro, e por que
grande parte do ensinamento de Jesus se dá em um cenário
evangelístico.
Ananias e Safira
Lucas – o autor de Atos – parece apresentar diversos contras-
tes intencionais nos seus dois livros. Vimos que ele comparou o
jovem juiz rico com Zaqueu, e em Atos 4:36–5:11 ele parece
comparar Barnabé com Ananias e Safira.
Barnabé vendeu um campo e deu todo o rendimento para
o fundo comum da igreja. Ananias e Safira também venderam
algumas posses, mas deram apenas uma parte ao fundo. Eles
queriam o apreço público do dar generosamente, mas não su-
portavam compartilhar todo o seu dinheiro.
Pedro deixa claro, em Atos 5:4, que Ananias e Safira não ti-
nham obrigação de vender as suas posses, e que seria para eles
darem apenas parte dos rendimentos. Porém, eles mentiram –
porque não podiam admitir que não dariam tudo.
As mortes de Ananias e Safira, em Atos 5:5–11, são um lem-
brete terrível acerca do ofertar. Do mesmo modo que a história
de Israel começa com Deus rejeitando a oferta de Caim, também
106 ADORAÇÃO EM ESPÍRITO E EM VERDADE
Os problemas da oferta
Atos 6:1–7 descreve um dos primeiros problemas da igreja pri-
mitiva. O número de convertidos crescera tão rápido que, apesar
do fundo comum, um grupo de viúvas estava sendo ignorado na
distribuição diária de comida. Havia tanto a fazer que os após-
tolos não conseguiam pregar e distribuir os fundos de modo efi-
ciente.
Eles resolveram o problema delegando tarefas. Escolheram
sete homens cheios do Espírito para serem conjuntamente res-
ponsáveis pelas finanças e por garantir que as doações das pes-
soas fossem administradas corretamente. E como consequência
de levar a doação tão a sério, a Palavra de Deus cresceu e o
número de discípulos multiplicou enormemente em Jerusalém.
Crentes doadores
Parece que, para Lucas, a generosidade é a característica bási-
ca do crente cristão. Em seu Evangelho, ele comenta repetidas
vezes acerca da oferta de uma pessoa – por exemplo, o centu-
rião de Cafarnaum, em Lucas 7:5,6, Joana e Susana, em Lucas
8:1–3, Zaqueu, em 19:8–10, a viúva, em 21:1–4, eJosé, em
Lucas 23:50–54.
Acontece algo bem semelhante em seu segundo livro – por
exemplo, Barnabé, em Atos 4:36,37, Dorcas, em Atos 9:36–39,
e Cornélio, em Atos 10:1,2.
Dízimos e sacrifícios
Vimos que os primeiros crentes ainda pagavam dízimos aos lí-
deres religiosos judeus e faziam os seus sacrifícios no templo de
Jerusalém. Faziam isso porque eram judeus.
Entretanto, quando os gentios foram aceitos como crentes,
houve certa disputa quanto a quais regras judaicas eles deveriam
observar. Após uma reunião em Jerusalém, os apóstolos decidi-
ram que os crentes gentios precisavam se abster apenas de ca-
samentos ilícitos, de qualquer coisa contaminada por ídolos, e
da carne de animais estrangulados. Eles não tinham de oferecer
sacrifícios ou ser circuncidados, ou ainda dar o dízimo segundo a
Lei de Moisés.
Porém, muito embora não tivesse um sistema legalista de dízi-
mo, a igreja primitiva ainda reconhecia que as pessoas que minis-
travam deveriam receber uma renda apropriada. Paulo deixa isso
claro em 1Timóteo 5:17. E quando parou de oferecer sacrifícios
a Deus no templo, a igreja passou a ofertar-Lhe outras formas de
sacrifício. Vemos isso, por exemplo, em Romanos 12:1; Efésios
5:1–2; Filipenses 4:15–20 e Hebreus 13:16.
Alguns mestres rejeitam o dízimo como um princípio do Novo
Testamento. Claramente não se trata de uma lei do Novo Testa-
mento. Contudo, ofertar é uma parte importante de nossa adora-
ção e dar o dízimo, especificamente, é uma resposta adequada ao
reconhecimento do ministério sumo sacerdotal de Jesus.
Nesse sentido, podemos analisar a epístola aos Hebreus, um
livro que exalta a pessoa e obra de Jesus como nenhum outro e
que está interessado em mostrar o quanto a nova aliança de Jesus
é melhor que a antiga aliança de Moisés. O autor se esforça cons-
tantemente para mostrar como a nova aliança suplanta a antiga,
contudo, é válido observar o modo que ele trata a ‘velha’ questão
do dízimo.
No capítulo 7, o autor de Hebreus oferece uma comparação
entre dar o dízimo sob a Lei e dar o dízimo sob a graça. Ele faz
distinção entre as duas alianças (a antiga e a nova), os dois sa-
cerdócios (o de Levi e o de Melquisedeque) e os dois dízimos (o
de Abraão e o da Lei). É interessante que o autor honra o dízimo
PARTE SETE - OFERTA E ADORAÇÃO 109
Falsos mestres
É evidente que havia o perigo de que alguns líderes abusassem do
ensinamento de Paulo acerca da ‘dupla honra’ e pressionassem os
crentes a ofertar a eles pessoalmente. O Novo Testamento aponta
para esse perigo, e chama tais homens de falsos mestres– por
exemplo, em 1Timóteo 6 2–13 e 2Pedro 2:3.
Cristãos ricos
Há alguns crentes que – como Barnabé, Zaqueu, Maria e Marta –
são prósperos. Deus os abençoou financeiramente.
O texto de 1Timóteo 6:17–19 contém as instruções de Paulo
a eles. Ele não os orienta a dar todo o seu dinheiro e empobrecer;
em vez disso, Paulo os faz lembrar-se de sua responsabilidade es-
pecial de serem generosos, e o perigo de depender do tipo errado
de riquezas.
Apocalipse 3:15–22 relata que a igreja em Laodiceia era rica,
mas estava condenada por confiar nos tipos errados de riquezas
– não por ser abastada.
110 ADORAÇÃO EM ESPÍRITO E EM VERDADE
Oferta generosa
Já vimos que 2Coríntios 8–9 contém mais ensinamento acerca
da oferta do que outra parte do Novo Testamento. Nesses capí-
tulos importantes, o apóstolo Paulo insta os crentes de Corinto
a se equipararem à oferta dos crentes de Filipos, e oferece três
razões por que os coríntios deveriam ofertar com grande gene-
rosidade:
• Para provar que o seu amor é legítimo
• Para seguir o exemple de Cristo
• Para trazer igualdade entre os santos.
Paulo encerra esses dois capítulos sobre ofertar, em 9:6–15,
com uma série de súplicas e promessas importantes. O mais
relevante, ele conclui mostrando enfaticamente que o nosso
ofertar deveria ser uma resposta de ação de graças à oferta de
Deus, e que isso desencadeia o louvor, ação de graças e adora-
ção entre as pessoas.
Parte Oito
Regozijo e Adoração
Provérbios 8 e 9 são alguns dos capítulos proféticos mais notá-
veis da Bíblia. Como vemos no volume Ministério no Espírito, a
maioria dos profetas do Antigo Testamento fala a palavra de Javé e
anuncia os Seus pensamentos. Em contraste, Provérbios 8:4–36
e 9:4–12 relatam palavras de Sabedoria.
Ao inferir que a Sabedoria é um ser tanto ‘divino’ como ‘distin-
to’ de Deus’, Provérbios 8:22–30 é uma das poucas passagens do
Antigo Testamento que sugerem que Deus é ‘mais do que Um’ em
natureza. Analisamos esse aspecto com mais detalhe no volume
Conhecendo o Pai.
Vemos no volume Conhecendo o Filho que a maior parte das
profecias do Antigo Testamento aponta para o Messias, o servo
de Deus, o filho de Davi, Jesus. Provérbios 8 e 9 vão mais além
disso, pois reproduzem as palavras do próprio Jesus antes de Sua
encarnação. O estudo mais detalhado desses capítulos mostra
que as palavras de Sabedoria de Deus ecoam e se cumprem de
modo notável no ensinamento da Palavra de Deus no Evangelho
de João.
Provérbios 8:22–31 é a descrição bíblica mais clara da ativi-
dade de Deus antes da criação. O versículo 30 mostra que ‘rego-
zijar-se em um relacionamento’ estava no centro da vida de Deus
naquele tempo, portanto – por causa de Sua autocoerência – deve
estar no centro de Sua vida hoje e para sempre.
Deus não criou o mundo porque estava entediado, Ele o fez
porque estava se regozijando nos relacionamentos consigo mes-
mo. A variedade, a vida, a beleza da criação é simplesmente uma
114 ADORAÇÃO EM ESPÍRITO E EM VERDADE
A alegria do Senhor
Essa alegria divina está no centro da vida de Jesus. Lucas 2:10
relata que Ele veio ao mundo em novas de grande alegria; Lu-
cas 19:37 descreve a alegria das pessoas quando Ele entrou
em Jerusalém, e João 15:11 O mostra deixando a Sua paz aos
discípulos ao preparar-se para deixar o mundo.
Particularmente, os dois primeiros capítulos do Evangelho
de Lucas estão ligados a um cenário de regozijo intenso. Por
exemplo:
• O anjo diz a Zacarias que muitos se regozijarão no nasci-
mento de seu filho – 1:14
• As primeiras palavras do anjo a Maria foram ‘Salve agracia-
da (alegre-se)!’ – 1:28
• Isabel e a criancinha em seu ventre se regozijaram quan-
do viram Maria e perceberam quem ela estava carregando
– 1:44
• Maria se alegra – 1:47
• Os vizinhos se alegram – 1:58
• Zacarias se alegra – 1:64
• O anjo traz aos pastores novas de grande alegria – uma
alegria que deve ser compartilhada com todo o povo – 2:10
• Os exércitos celestiais se alegram – 2:13
• Os pastores se alegram – 2:20
• Ana se alegra – 2:38
O ano do Jubileu
Lucas usa essa atmosfera geral de alegria para preparar o cami-
nho para o anúncio de Jesus, em Lucas 4:18,19 – assunto que
analisamos no volume Alcançando o Perdido.
Muitos estudiosos estão convencidos de que a ‘declaração da
PARTE OITO - REGOZIJO E ADORAÇÃO 115
A alegria bíblica
Nas Escrituras, a alegria é sempre uma qualidade em vez de sim-
plesmente uma emoção. Baseia-se em Deus, é derivada dele, é
uma característica definidora de Seu povo, e é uma amostra da
alegria de estar com Deus para sempre no reino celeste. Vemos
isso, por exemplo, em Salmo16:11; Romanos 15:13; Filipenses
4:4; 1Pedro 1:8 e Apocalipse 19:7.
O sacrifício de louvor
Neemias 8:10 provavelmente seja o versículo mais conhecido
acerca da alegria, e mostra que a alegria de Deus é que nos faz
fortes. As pessoas não conseguem perseverar em muitas coisas
sem a alegria. Podemos começar praticamente qualquer coisa
pelo ato da vontade própria, mas não venceremos as dificuldades
e adversidades sem a experiência ou perspectiva da alegria real.
Nesta Série A Espada do Espírito, nós mencionamos com fre-
quência a ‘obediência ao evangelho’ e a contrastamos com a
obediência que Deus exigia na Antiga Aliança. Sem um espírito
de alegria, porém, a obediência ao evangelho pode tornar-se um
dispositivo sem vida, com pouca diferença da obediência legal
dos fariseus judeus.
Nossas palavras e ações devem caracterizar-se pela alegria
intensa e grande ação de graças, porque as nossas palavras e
ações devem ser uma resposta à iniciativa afável de Deus. Nós
falamos e fazemos somente o que O ouvimos dizer, e porque
vêm do Deus totalmente autocoerente, nossas palavras e atos
vêm envolvidas em Sua alegria pessoal.
Regozijo contínuo
Em Filipenses 4:4–20, o apóstolo Paulo ensina sobre o regozi-
jar-se. Ele:
• instrui-nos a regozijarmo-nos continuamente no Senhor –
versículo 4
• associa o regozijo com gentileza – versículo 5
• apresenta os dois aspectos do regozijar-se: Não estar an-
sioso por coisa alguma; e fazer petições a Deus com ação de
graças – versículo 6
PARTE OITO - REGOZIJO E ADORAÇÃO 121
Expressões de regozijo
Jesus se regozijava tão plenamente na vida que os líderes reli-
giosos de Seus dias O acusavam de ser um glutão e beberrão.
Infelizmente, sempre houve na igreja pessoas mais preocupa-
das com o que chamam de ‘reverência’ do que o que a Bíblia
chama de regozijo.
Os seguidores ‘relapsos’ de Cristo deveriam ser os homens e
mulheres mais livres, os mais animados, os mais interessantes
e os mais estimulantes. O regozijo agrega festividade ao nos-
so serviço para nos tornar pessoas verdadeiramente completas,
que estão de fato vivendo na imagem de nosso Deus, o qual se
regozija, e lava pés.
Vimos nas Partes Três e Quatro como o povo do Antigo Tes-
tamento O louvava com música e hinos, com gritos e danças,
com corais e músicas proféticas, com festivais e celebrações,
com o doar-se e a hospitalidade, no templo e na casa da família.
Temos muito que aprender com a variedade rica do seu
louvor. Porém, temos de reconhecer que se trata de exemplos
de regozijo, em vez de formas biblicamente exigidas. Na Parte
Nove, examinamos o uso da expressão criativa na adoração,
que pode incorporar toda a gama de emoções humanas e prati-
camente todas as artes criativas.
Precisamos aprender, como Pedro, em Atos 10, que nada
que vem da mão afável de Deus é impuro; e precisamos perce-
ber que somos livres para celebrar a graça e bondade de Deus
com todo tipo de arte e trabalhos manuais, com todo traço do
PARTE OITO - REGOZIJO E ADORAÇÃO 123
Adoração e Criatividade
Ao longo de todo este volume temos enfatizado que a verdadeira
adoração é a adoração em espírito e em verdade. O Pai busca
aqueles que O adorem na sinceridade de seus corações, como
são capacitados pelo Espírito Santo e iluminados pela revelação
da Palavra de Deus. Nas Partes Dois e Cinco, vimos que ado-
ração é mais do que os atos de adoração coletiva que ocorrem
nos cultos da igreja. Tem a ver com o todo da vida vivida perante
Deus. Os atos coletivos de adoração são insinceros e vazios se
não representarem o transbordar de vidas vividas na presença
de Deus por meio de atos de adoração e de um viver digno no
mundo. Uma vida verdadeiramente cheia com o Espírito não
demonstrará apenas a adoração alegre que Paulo descreve em
Efésios 5:18–21, mas também levará a uma vida cheia do Es-
pírito no casamento, em casa, na família e no local de trabalho,
conforme Paulo expõe em Efésios 5:22–6:9.
Em Mateus 15:8 e Marcos 7:6, Jesus aplicou a profecia de
Isaías 29:13 aos atos vazios de adoração, tão comuns em seus
dias. Todas as formas de expressão externa de adoração, que
não sejam a expressão legítima do coração, são vazias e ofen-
sivas a Deus. Contudo, faz parte da própria essência da adora-
ção expressar-se de formas externas, especialmente por meio
de palavras de adoração, confissão, contrição, ação de graças,
petição, louvor e alegria. As palavras não são a única maneira de
se comunicar com Deus e expressar a nossa adoração. Os atos
físicos de dar e servir também são uma parte inquestionável des-
sa adoração. De fato, como Paulo diz em Romanos 12:1,2, Deus
128 ADORAÇÃO EM ESPÍRITO E EM VERDADE
O dom da criatividade
A humanidade foi criada à imagem de Deus. Isso significa que
compartilhamos as habilidades de Deus de maneira limitada e
finita. Somos seres racionais capazes de pensar, escolher, sentir
e expressar-nos por meio da linguagem e atos físicos. A digni-
dade de nossa humanidade se encontra em quem Deus nos fez
para ser e em o que somos chamados a ser perante Ele. Somos
criados para adorá-Lo e glorificá-Lo e isso certamente significa
que devemos usar todas as nossas forças, todos os nossos dons
e capacidades para honrar o Seu nome neste mundo e em nosso
relacionamento com Ele.
Os seres humanos são inerentemente criativos, e essa criati-
vidade é um dom de Deus. É uma expressão da capacidade que
se assemelha à dele, e que Ele nos deu. Deus cria do nada, con-
forme ensina Gênesis 1:1, João 1:1–3 e Hebreus 11:3. O uni-
verso que existe veio a existir pela Palavra que é Cristo, e é sus-
tentado por esse mesmo poder criativo. Colossenses 1:15–17
deixa isso claro e acrescenta que toda a ordem criada endossa
a preeminência de Cristo e existe para glorificá-Lo. Isso significa
que a nossa criatividade deveria ser usada para louvar a gran-
PARTE NOVE - ADORAÇÃO E CRIATIVIDADE 129
A arte na sociedade
A arte, de uma forma ou outra, entrelaçou-se no tecido da socie-
dade humana, desde o início até os dias atuais. As sociedades
primitivas tinham suas pinturas rupestres nas cavernas. Conta-
vam a história de suas tribos por meio de canções, sagas, poesia
e música. A sociedade medieval usava a arte para a contação
de histórias religiosas em pinturas, afrescos e vitrais. As socie-
dades orais contaram com esse meio para se comunicar com
as massas. A igreja foi um patrono das artes por muitos anos.
Podemos salientar a obra de destacados mestres, como Leonar-
do da Vinci, Michelangelo e Rembrandt. Grandes compositores,
130 ADORAÇÃO EM ESPÍRITO E EM VERDADE
como Handel que nos deu Messias, uma obra que foi escrita em
poucas semanas, porém, carrega o toque de inspiração divina.
Grandes poetas nos deram interpretações artísticas da verdade
bíblica, como Milton, em Paraiso Perdido. Arquitetos construí-
ram excelentes igrejas e catedrais para a glória de Deus. De fato,
quase todo segmento das artes foi usado numa época ou outra
para refletir a glória de Deus no mundo.
Até mesmo os artistas sem a fé consciente em Deus refletem
algo de Sua bondade quando se dedicam ao seu dom, criando
música inspirada e obras de talento artístico. Esses artistas têm
enriquecido a vida cultural e estética de bilhões de pessoas em
todas as eras. Arte tem a ver com visão. Ela é a capacidade de
perceber e comunicar essas percepções de vida e realidade a
outras pessoas utilizando um meio artístico específico. Os ro-
mances de Charles Dickens, como Oliver Twist, despertaram a
consciência social da Bretanha Vitoriana e ajudaram a trazer
mudanças na legislação em termos de ajuda ao pobre. Esse
elemento ‘profético’ pode ser visto em quase toda geração da
história da arte. Os filmes atualmente são as parábolas da épo-
ca, e com grande frequência, tratam de questões reais da vida
e do viver, fazendo perguntas pungentes e às vezes expondo as
fraquezas dos valores aceitos da época.
Tudo isso nos dá uma ideia do que a arte pode ser. A arte é
uma tragédia quando Deus não é reconhecido como a fonte de
talento artístico e quando os artistas usam os seus talentos para
glorificar a si mesmos ou para trabalhar contra os propósitos
de Deus. A arte é um meio poderoso de comunicação e pode
ser usada tanto para o bem quanto para o mal. Os governos, e
outros que buscam controlar a sociedade, usam a arte como um
meio de propaganda. O poder da arte é que ela expressa aquilo
que não pode ser reduzido a uma descrição simples dos fatos.
Ela comunica emoção e expressa o intangível de uma maneira
que a comunicação fria das informações jamais pode alcançar.
Não é de se admirar, então, que o diabo use a arte para pro-
mover os seus propósitos. A arte foi corrompida e mantida cativa
pelo pai da mentira, que espalha sua mensagem de pecado e
PARTE NOVE - ADORAÇÃO E CRIATIVIDADE 131
criação. Paulo diz que somos ‘feitura’ Sua, Sua ‘expressão cria-
tiva’ em Cristo. A palavra usada é poiema, da qual deriva a
palavra ‘poema’. É por isso que podemos ter certeza de que
Deus quer que usemos a arte na igreja como um meio pode-
roso de comunicar-se com Ele e com outros. A adoração deve
envolver toda expressão de criatividade que seja possível, em
submissão ao Espírito Santo.
Música
A beleza da música é a de uma ‘linguagem universal’ dando
plena expressão a toda gama de emoções humanas, como ale-
gria, tristeza, paz, tranquilidade e amor
Canção
Os autores de canções têm a aptidão de usar a linguagem que
expressa ideias, pensamentos e sentimentos na forma de pala-
PARTE NOVE - ADORAÇÃO E CRIATIVIDADE 135
Pintura
Quadros importantes capturam conceitos e temas do coração
humano na forma concreta. As imagens falam mais alto e qua-
se sempre de maneira mais eloquente do que a linguagem
prosaica e abrem o centro da revelação de Deus. Locutores
talentosos usaram a linguagem gráfica e pictórica para comu-
nicar a verdade, e as artes visuais a levam a outro patamar.
Dança
O corpo humano é um dom de Deus e é tremendamente adap-
tável a expressar-Lhe adoração. Atos físicos de movimento,
mudança de postura como ajoelhar-se e levantar as mãos são
todas expressões naturais e significativas do espírito humano
em uma gama de contextos humanos. A dança pode pegar
essa aptidão e transformá-la em expressão poderosa de adora-
ção e declaração profética.
Teatro
A representação de situações, cenários e histórias diminui a
distância da comunicação entre os atores e o público. O teatro
pode agregar uma dimensão significativa à adoração, já que
as pessoas podem se enxergar no teatro e, por meio dessa
percepção, responder a Deus de um modo mais profundo que
antes.
Poesia
A boa poesia evoca imagens e comunica ideias, pensamentos
e sentimentos de um modo refinado e estiloso. A expressão
poética pode ser rica e iluminadora. A adoração é enriquecida
na medida em que o racional e comum assumem novo signi-
ficado, apontando-nos para a presença e a atividade de Deus
no mundo.
136 ADORAÇÃO EM ESPÍRITO E EM VERDADE
Arquitetura
A arquitetura pode ajudar a promover o contexto para uma ex-
periência significativa de adoração. As sinagogas judaicas eram
projetadas com um pátio separando o burburinho da vida coti-
diana e a área principal destinada à adoração e ao ensino da
Palavra. Isso dava às pessoas uma oportunidade de sair do do-
mínio da vida diária, com os seus cuidados e distrações, e as
ajudava a prepararem-se para focar Deus. Prédios de igrejas
bem projetados ajudam a oferecer um espaço conducente à
adoração. Às vezes, significa ter um espaço amplo aprimora-
do pelo uso correto da iluminação e decoração, que atraem os
olhos e com eles o espírito humano em direção a Deus.
Filme
Os filmes são as parábolas da época e as técnicas cinemato-
gráficas podem tirar as pessoas de dentro de si e levá-las a
outro mundo, onde podem ver e viver uma experiência que as
enriquecem e transformam. Os vídeos ou o uso de multimídia
podem intensificar a adoração nessa era tecnológica e visual.
Decoração
A decoração bem pensada não apenas enfeita o edifício, mas
também pode ajudar a criar um ambiente conducente à adora-
ção. A decoração de um edifício pode expressar a natureza e ca-
ráter de Deus. Cores quentes falam da bondade de Deus, cores
vivas falam da glória e da vida de Deus, tons de verde falam do
descanso de Deus e de Seu mundo natural etc.
Púlpito
O modo que a plataforma é colocada pode ajudar ou atrapalhar
a experiência da adoração. A disposição dos assentos em forma
de teatro favorece a participação do público na pregação, ensino
e condução da adoração. Assentos flexíveis ajudam a adaptar
uma sala para a comunicação e comunhão uns com os outros.
Essas coisas devem ser pensadas com cuidado e criatividade, a
fim de enriquecer a experiência de adoração da igreja.
PARTE NOVE - ADORAÇÃO E CRIATIVIDADE 137
Evitando os perigos
A arte pode ser perigosa. Pode transtornar tanto quanto encorajar.
Pode advertir, bem como informar. Essas coisas são boas. Entre-
tanto, a arte também pode seduzir e enganar. Não é de surpreen-
der que o inimigo de nossas almas tenha se infiltrado nesse as-
pecto da cultura humana. Ele sabe que por meio da arte dá para
convencer o coração, cegar os olhos e persuadir a vontade das
pessoas. As mentiras travestidas em forma de arte são rotineiras
nas sociedades terrenas. A igreja deve estar consciente dos peri-
gos que parecem intrínsecos à adoção da arte no serviço de Deus.
Idolatria
A popularidade das formas de arte, em si e de si mesmas, e a
imensa popularidade dada a artistas de sucesso no mundo, às ve-
zes beira à idolatria. A arte na igreja não está imune a esse perigo.
Devemos nos guardar disso, não deixando jamais que os artistas
tomem o lugar do Espírito de Deus em nossas vidas ou nosso ser-
viço a Ele. Uma área particularmente difícil é a representação da
divindade. Deus é Espírito e não se pode fazer a imagem do Espí-
rito sem desvirtuar a Sua essência. Fazer e usar qualquer imagem
idólatra de Deus em nossa adoração, como vimos na Parte Três, é
contra o segundo mandamento. O rei Jeroboão fez dois bezerros
de ouro, colocando um em Dã e outro em Betel. Sua intenção foi
afastar do templo de Jerusalém o povo recém-instituído de seu
reino de Israel do Norte. Ele não pretendia necessariamente que
fossem ídolos ou representações de Deus, conforme sugerido em
1Reis 12:25–31, mas queria que as pessoas tivessem algum
símbolo físico com os quais prender a atenção de seus súditos.
Porém, isso foi uma pedra de tropeço pecaminosa para o povo de
Israel, e foi condenado pelos profetas do Senhor pelas gerações
vindouras, conforme se exemplifica em todo o livro de Oseias e
outras condenações proféticas em passagens como Isaías 2:8;
Jeremias 50:2; Ezequiel 6:4–6; Miqueias1:7; Habacuque 2:18
e Zacarias 13:2.
A facilidade com que a idolatria se apega ao coração huma-
no pode ser vista em Juízes 8:27; 17:5 e 2Reis 18:4. Jeremias
138 ADORAÇÃO EM ESPÍRITO E EM VERDADE
Gueto cultural
Outro perigo a ser evitado é o de usar a arte para produzir um
gueto cristão, ou uma subcultura cristã isolada. Em outras pala-
vras, não deveríamos abandonar a arte ao diabo neste imenso
mundo. Além de promover a arte na igreja, também deveríamos
usá-la fora dela e envolvermo-nos plenamente com a cultura
que nos cerca. Na Parte Dois, discutimos o fato de a adoração
bíblica autêntica englobar a totalidade da vida – Jesus é Senhor
sobre todas as áreas da vida, não apenas as chamadas ‘áreas
religiosas’. De modo semelhante, não deveríamos desenvolver o
conceito de arte ‘sagrada’ versus arte ‘secular’. Isso não apenas
entrega o ‘secular’ nas mãos das forças malignas, mas se apro-
xima perigosamente de negligenciar nossa tarefa de agir como
sal e luz no mundo. Deveríamos conceder aos nossos artistas
cristãos a liberdade de desenvolver a sua arte no mundo e não
esperar que eles sempre a busquem de maneiras que seriam
aceitáveis somente nos cultos da igreja. Trata-se, de outro modo,
de dizer que a adoração é para a vida como um todo e não ape-
nas para os cultos da igreja! O romancista cristão ou músico é
um servo de Deus quando a sua arte fala de situações cotidia-
nas da vida tanto quanto quando conta histórias do evangelho
ou canta música gospel – contanto, é claro, que esteja sendo fiel
à sua fé cristã ao fazê-lo!
Sensualidade
Por geralmente envolver o uso dos sentidos físicos, a arte pode
ser usada para promover um tipo equivocado de sensualidade.
A sensualidade é um atributo de humanidade dado por Deus.
Ele nos deu nossos cinco sentidos e, com isso, a capacidade de
reconhecer a beleza e apreciar a estética. Entretanto, a atração
PARTE NOVE - ADORAÇÃO E CRIATIVIDADE 139
pode ser tão forte que desperte uma resposta errada no coração
das pessoas. O corpo humano usado na dança, por exemplo, é
uma criação esteticamente bela de Deus. Porém, a sensualida-
de no coração dos dançarinos e no coração da plateia deve ser
freada, a ponto de crucificar a carne e dar plena liberdade ao Es-
pírito Santo. A arte verdadeiramente inspirada pelo Espírito não
terá os efeitos sensuais que a arte carnal produzirá. A submissão
total a Deus é o único caminho à frente.
Encenação
Tem a ver com a motivação do coração. As ‘artes cênicas’ sem-
pre terão um elemento de atuação. Porém, se o motivo for
somente representar, então a arte se torna simplesmente um
show, um espetáculo. Isso incentiva uma resposta errada e in-
terfere na experiência da adoração. A forma de arte – quer seja
canto, dança, música ou teatro – sempre deve ser submetida ao
Espírito Santo, e oferecida como um ato de adoração a Deus.
Isso mata o ‘espírito de encenação, representação’ e dá espaço
para Deus trabalhar nas vidas, tanto do artista como daqueles
que apreciam a obra de arte. Como vimos no volume O Governo
de Deus, temos de nos lembrar de que o problema da encena-
ção não tem a ver apenas com a arte ou os artistas. Toda vez
que oramos, jejuamos ou damos nossa oferta a Deus, temos de
tomar cuidado de não o fazermos num espírito de encenação
para ganhar a atenção ou aprovação dos outros. É para Deus e
somente para Ele.
Entretenimento
Ligado intimamente ao risco da encenação está o risco da arte
da adoração se tornar um simples entretenimento. Mais uma
vez, o motivo é tudo. Se estiverem atrás de atenção ou reco-
nhecimento para si, os artistas encenarão para as multidões
e estas responderão, tratando a arte como entretenimento. Há
lugar para isso, mas não na adoração. A adoração em espírito
e em verdade é sempre para o Pai. Queremos glorificar ao Pai e
não nós mesmos.
140 ADORAÇÃO EM ESPÍRITO E EM VERDADE
Distração
Este realmente é um resumo de todos os perigos da arte na
adoração. Se a arte for superestimada na adoração criativa, ela
nos desvia de Deus. A arte tem de complementar a pregação e o
ensino da Palavra e não substituí-la. Deveria nos levar à presen-
ça de Deus e não para longe dela. A tradição da igreja sempre
teve dificuldade em aceitar novas formas de adoração, e quase
toda iniciativa nova sofre sua resistência no início. Então, a ino-
vação se torna a nova tradição e o processo começa novamente.
O órgão, na época, foi uma introdução escandalosa na vida de
adoração da Igreja. Agora é considerado parte de sua adoração
tradicional. A distração, então, não tem a ver com reagir negati-
vamente às novas formas de adoração, mas sim com a forma de
arte que vai assumindo o comando como um fim em si mesma.
Hoje, o Espírito Santo está usando a dança, teatro, estilos mu-
sicais modernos e toda uma gama de formas de arte diferentes
para nos ajudar a adorar a Deus com mais beleza, paixão e po-
der. A arte realmente submetida a Deus jamais é uma distração,
e não devemos ter medo de deixar Deus usar tudo que podemos
oferecer-Lhe em nossa adoração em espírito e em verdade.
Um presente ao mundo
Na Parte Dois, consideramos o papel que a adoração representa
em nossas vidas fora dos cultos da igreja. Vimos que a adoração
é para a vida como um todo. Em certo sentido, tudo que faze-
mos ‘como se fosse para o Senhor’ é adoração. Isso também é
verdade para a arte cristã. À medida que submetermos a nossa
forma de arte ao Senhor, não apenas conseguiremos aprimorar
a adoração na igreja, mas também oferecer nossa arte como
presente de Deus ao mundo. Por meio de nossa arte, podemos
comunicar a paixão de Deus pelo perdido, Sua compaixão pelo
sofrimento, Sua aversão pela injustiça e Seu desejo de que a hu-
manidade O encontre e cumpra o propósito que lhe é designado
por Ele no planeta. Desse modo, podemos ter um impacto ver-
dadeiro no mundo. Na Parte Seis do volume Alcançando o Per-
dido, falamos dessa necessidade de se envolver na sociedade.
PARTE NOVE - ADORAÇÃO E CRIATIVIDADE 141
Parte Dez
O Espírito Santo e a
Adoração
No volume Glória na Igreja, vemos que a adoração é o cha-
mado supremo e abrangente de toda a igreja. Antes de todas
as demais coisas, a igreja universal (e cada expressão local) é
chamada a ser uma comunidade de adoração. Se a adoração
em espírito e em verdade não for crucial para cada congregação,
todas as outras atividades estarão fadadas ao desalinhamento.
Em Filipenses 3:3, o apóstolo Paulo ensina que adoramos
Deus ‘pelo Espírito de Deus’. Poucas versões da Bíblia traduzem
isso como ‘em o Espírito’, mas faz pouca diferença – as duas
preposições mostram que a verdadeira adoração depende intei-
ramente do Espírito Santo.
Sem a ajuda do Espírito, não podemos oferecer uma palavra
ou ato de adoração aceitável ao Pai. Como vemos no volume
Conhecendo o Espírito, é Ele que inspira nosso louvor e orações,
nos conduz à verdade, convence-nos de nosso pecado e nos dá
dons para ajudar-nos a adorar e a servir a Deus.
Os capítulos mais excelentes de Paulo acerca da adoração
pública, 1Coríntios 11–14, são repletos do verbo grego oikodo-
meo. Seu significado literal é ‘construir uma casa’, mas geral-
mente é traduzido como ‘edificar’. O texto de 1Coríntios 14:26
144 ADORAÇÃO EM ESPÍRITO E EM VERDADE
Unidade em Antioquia
A Igreja em Antioquia é um exemplo brilhante da unidade criada
pelo Espírito. Atos 13:1,2 mostra que a liderança era coletiva,
que incluía profetas e mestres, e que era composta de uma mes-
cla notável de homens. Por exemplo:
• Barnabé era rico, um levita de Chipre, que possuía terras
• Simeão era um africano negro
• Lúcio era um judeu da dispersão na África do Norte
• Manaém foi educado na corte do rei Herodes
• Saulo/Paulo era um fariseu que estudara com Gamaliel
Esse grupo de líderes demonstra o tipo de unidade que o
Espírito cria. A vontade de Cristo para a Sua Igreja, em João
17:21, estava sendo cumprida e desenvolvida de modo tão evi-
dente nessa comunidade mesclada de crentes que eles foram as
primeiras pessoas a receberem o nome de ‘cristãos’.
Antioquia foi a primeira experiência de Paulo como líder cris-
tão, e parece ter moldado e previsto suas ideias acerca da unida-
de. Explica porque ele ficou tão irado e angustiado quando ouviu
sobre as divisões na igreja em Corinto – ele sabia que deveria ser
diferente e que poderia ser diferente.
Desunião em Corinto
Os três primeiros capítulos da primeira carta de Paulo à Igreja de
Corinto estão repletos do problema prático da unidade. Parece
que os crentes em Corinto estavam considerando a fé principal-
mente de maneira intelectual, e que se viam como juízes entre
as várias ênfases dos líderes da igreja.
Em 1Coríntios 1–3, Paulo insiste que o Evangelho não é como
a sabedoria filosófica, e que os seus mestres não são intelectuais
viajantes; antes são trabalhadores que cooperam na vinha de
Deus – um planta, outro rega, mas somente Deus faz crescer.
Nestes capítulos, Paulo defende ideias importantes que en-
fatizam o relacionamento entre a unidade que o Espírito cria e
a igreja essencialmente como uma comunidade de adoração.
• A igreja não pode permitir mais divisão do que Cristo –
1:13
PARTE DEZ - O ESPÍRITO SANTO E A ADORAÇÃO 147
1Coríntios 12
Primeiro, Paulo os lembra de que o discurso extático não é
cristão na origem. Eles foram ‘levados embora’ antes de sua
conversão quando adoravam deuses falsos e participavam de
festas pagãs. É possível que o uso que Paulo faz da palavra
apagomenoi em 1Coríntios 12:2 signifique que eles tivessem
experimentado a possessão demoníaca e tivessem ‘perdido a
consciência ou saído de si’ em discurso extático, enquanto ado-
ravam ídolos que eram mudos.
Não é fácil entender o que Paulo quer dizer em 1Coríntios
12:3. Ele poderia estar contrastando o louvor inspirado pelo Es-
pírito nos cultos da igreja com os gritos inspirados pelo demô-
nio nos altares pagãos. Ou ele poderia querer dizer que alguém
teria gritado ‘Jesus é anátema’ em um culto na igreja de Corin-
to, e que isso fora aceito como sendo inspirado pelo Espírito.
Independente de onde ocorreu tal grito, Paulo usa o fato para
ensinar uma lição importante.
152 ADORAÇÃO EM ESPÍRITO E EM VERDADE
O corpo
Do versículo 12 ao fim do capítulo, Paulo usa a metáfora da
igreja como ‘Corpo de Cristo’ para elaborar o propósito dos dons
do Espírito.
É Deus, o Pai, que nos aponta para o nosso lugar no corpo de
Cristo, e nos dá os dons que precisamos para executar a função
a nós designada – versículos 18, 24 e 28. E é o Espírito Santo
que nos torna de fato membros do corpo – versículo 13.
154 ADORAÇÃO EM ESPÍRITO E EM VERDADE
Amor
É nesse ponto que Paulo escreve a respeito de um caminho
mais excelente, sobre o amor ágape. Segundo Paulo, o amor é
o maior dom que o Espírito pode dar para aprimorar a adoração
da igreja e edificá-la, e todos os outros dons valiosos – línguas,
profecia, milagres e assim por diante – podem funcionar eficaz-
mente apenas por meio do amor.
O amor que Paulo descreve em 1Coríntios 13 não pode ser
acionado pelo esforço humano, pode vir apenas do Espírito
Santo. Essa é a ênfase de Paulo também em Romanos 5:5.
Todo dom do Espírito é importante para a adoração e servi-
ço, mas não pode haver maior dom para a adoração e serviço
do que o amor que Paulo descreve em 1Coríntios 13 – é por
isso que vem no meio de seu ensinamento sobre os dons do
Espírito Santo. A menos que as pessoas encontrem o Cristo vivo
e amoroso por meio de um crente, não faz diferença elas terem
revelação profética, poder de milagres ou orarem em línguas.
Nós podemos adorar regularmente, celebrar com criativida-
de, sacrificar as nossas posses, servir humildemente e louvar
com entusiasmo, mas não alcançaremos nada de valor eterno a
menos que o amor altruísta ágape de Jesus nos motive e encha,
além de direcionar a nossa adoração/serviço.
Nesse belo capítulo, Paulo contrasta o amor de Jesus com
as deficiências da igreja em Corinto. Ele mostra que o amor de
Jesus é o oposto daquele demonstrado pelos coríntios:
• Orgulho da experiência espiritual que os envaideceu – ver-
sículo 4
• Ênfase nos dons específicos que os fez sentirem-se orgu-
lhosos ou ciumentos – versículo 4
• Exercício egoísta dos dons especiais para gratificação pes-
soal que Paulo chama de ‘buscar o próprio interesse’ – ver-
sículo 5
Os coríntios estavam buscando o que pensavam ser a ma-
neira mais elevada da experiência espiritual, mas Paulo lhes
apresenta uma maneira ainda melhor – o amor de Jesus, o
Servo que nunca se envaideceu e que nunca foi egoísta no
156 ADORAÇÃO EM ESPÍRITO E EM VERDADE
Adoração celestial
Vimos em todo este livro que a adoração verdadeira é o de-
sejo eterno de Deus para todos os pecadores. Desde o início
dos tempos, o Pai tem buscado ativamente pecadores e pe-
cadoras que serão o Seu povo e O adorarão em espírito e em
verdade.
Mesmo neste momento, Ele está reunindo crentes basica-
mente para adorá-Lo e está nos convencendo gentilmente de
que esta é Sua vontade boa e perfeita para as nossas vidas.
Analisamos as revelações de Provérbios 8, que parecem
mostrar que Deus tem se alegrado nele e com Ele por toda a
eternidade – mesmo antes de Sua adoração transbordar para
a criação. Isso parece sugerir que toda criação foi feita pri-
meiramente para juntar-se à adoração celestial preexistente, e
também desfrutar Deus em Sua presença para sempre.
As Escrituras incluem diversas outras revelações que tam-
bém parecem mostrar que o céu se caracteriza pela adoração
verdadeira e grande regozijo. Por exemplo:
• Isaías 6:1–3 descreve o regozijo angelical que acontece
no céu
• Ezequiel 40–47 sugere que a adoração celestial é o desti-
no do povo de Deus
PARTE DEZ - O ESPÍRITO SANTO E A ADORAÇÃO 157
A adoração em Apocalipse
A adoração celestial é o cenário e o contexto para todas as
visões do livro de Apocalipse. Devemos cuidar para não nos
preocupar tanto em entender corretamente as visões do apósto-
lo João, que negligenciemos o que ele revela acerca do lugar e
prioridade da adoração celestial.
Apocalipse 4 é a primeira das descrições que João faz da
adoração celestial: O versículo 2 mostra que esse reconheci-
mento e compreensão da adoração podem vir somente no Es-
pírito e por meio dele, e os versículos 8–11 revelam que tudo
no céu vive para adorar a Deus. É bastante semelhante em
5:8–14; 7:9–17; 11:15–19 e 15:3–5.
Essas passagens importantes mostram que a adoração ce-
lestial inclui hinos antigos (15:3) e cânticos bem novos (5:9);
que foca totalmente a pessoa de Deus (4:8, 11; 5:9, 13; 7:12;
11:17; 15:3 e 16:5); e que celebra o que Ele tem feito, o que
está fazendo e o que prometeu fazer (4:11; 5:9,10, 12, 13;
11:17,18 e 15:4).
Particularmente, o livro de Apocalipse revela que a adoração
celestial gira em torno de dois grandes temas:
• O cântico da criação – Apocalipse 4:11
• O cântico da salvação – Apocalipse 5:9
Esses dois temas aparecem constantemente por toda a Es-
critura, e ambos revelam tudo acerca da pessoa e do caráter
158 ADORAÇÃO EM ESPÍRITO E EM VERDADE
de Deus – Seu poder e Seu amor, Sua graça e Sua pureza etc.
Porque Ele se revela por meio de Seus atos poderosos, nós O
experimentamos por quem Ele é quando O adoramos em Sua
presença como Criador e Salvador.
Visto que a criação é o transbordar essencial da própria ado-
ração de Deus, Sua adoração como criador sempre esteve no
centro da adoração. A criação é uma evidência visível da força
e do poder de Deus, e uma prova de Sua singularidade e supre-
macia. Por intermédio da criação, o povo do Antigo Testamento
foi capaz de reconhecer que Deus era o único Deus, e que ou-
tros deuses eram simplesmente ídolos impotentes.
Os judeus foram chamados a adorar a um único Deus porque
sabiam, pela criação, que havia apenas um Deus e que isso
deveria determinar o modo que eles viviam e serviam. Muitos
Salmos celebram Deus como criador, além de Sua obra de cria-
ção e criatividade divina – vista novamente no novo céu e nova
terra - ser um tema importante da adoração celestial.
Muitos crentes modernos deixam de cantar o cântico da cria-
ção e falham em adorar a Deus como criador. Em sua adoração,
eles focam quase que inteiramente na obra salvífica de Deus.
Porém, a obra de redenção do Pai está inseparavelmente ligada
à Sua obra de criação (Ele tem o direito de redimir somente
porque é Sua criação) e não podemos compreender a redenção
corretamente sem reconhecer sua ligação vital com a criação.
Analisamos esse aspecto no volume Conhecendo o Pai.
No Antigo Testamento, o povo de Israel sabia que Deus agia
continuamente para salvá-los de seus inimigos, da fome, da
doença etc. Eles sabiam que Javé era seu Salvador, e que sua
existência como nação dependia de Seus atos poderosos de li-
vramento. Particularmente, o livramento da escravidão no Egito
foi essencial para compreenderem Deus, e o ‘cântico de Moises’,
em Êxodo 15:1–21 foi sua expressão definitiva da adoração a
Deus como Salvador – esse é o hino que o Apocalipse mostra
que ainda é cantado no céu.
Sabemos, contudo, que Deus realizou um ato salvífico ainda
maior para o Seu povo do que o milagre da Páscoa. Na cruz,
PARTE DEZ - O ESPÍRITO SANTO E A ADORAÇÃO 159
Pessoal e coletivo
A revelação mais expressiva do Apocalipse sobre a adoração ce-
lestial é a apresentação coerente de adoradores celestiais como
sendo tanto plenamente individual como plenamente coletiva.
Apocalipse 5:11–13, por exemplo, relata que ‘milhões de
milhões e milhares de milhares’ e ‘toda criatura no céu e na terra
e embaixo da terra’ estão unidos em uma expressão de adora-
ção. Eles retêm sua personalidade distinta, mas, pelo Espírito,
foram trazidos a um clímax de unidade na adoração.
O mesmo ocorre em Apocalipse 7:9,10, que registra como
‘uma grande multidão, a qual ninguém podia contar, de todas
as nações, e tribos, e povos, e línguas’ estava diante do trono
e dava louvor a Deus. Suas diferenças individuais, nacionais,
tribais e linguísticas ainda estão evidentes, mas eles estão uni-
dos no louvor e adoração a Deus. Eles estão oferecendo louvor
e adoração que lhes são específicos, mas expressados por meio
da unidade coletiva criada pelo Espírito.
Este, então, é o nosso destino – ser um eterno adorador que
é totalmente individual, porém totalmente unido a todos os de-
mais adoradores. Como as pessoas de Israel nos dias do pri-
meiro templo, fomos atraídos a Ele pela graça de Deus. Em fé,
partimos para uma peregrinação pessoal em direção a Ele, e
então descobrimos que Deus está edificando-nos com outros
cristãos em nossa área.
Com eles, estamos indo em Sua direção, aprendendo a ado-
rar e servir juntos, começando a entender a nossa interdepen-
dência no corpo, lutando, às vezes, com as tensões, mas traba-
lhando para manter a unidade do Espírito.
E o grande objetivo da adoração eterna e celestial na pre-
sença íntima de Deus está sempre diante de nós. Sempre foi
160 ADORAÇÃO EM ESPÍRITO E EM VERDADE