Modulo 1
Modulo 1
Modulo 1
Apresentação dos dados biográficos de Edmund Husserl
Bibliografia Básica: FEIJOÓ, A. (2011) “Husserl e a Fenomenologia” A existê
ncia para além do sujeito. Rio de Janeiro: Via Verita, pg. 25-34.
Edmund Husserl nasce em Prossnitz, na Morávia; atual Prostejov, República T
checa, em 8 de abril de 1859, filho de comerciantes judeus. Em 1876, inicia se
us estudos universitários em Leipzig. Concentra-se na matemática, mas estuda
também física, astronomia, filosofia e psicologia com W. Wundt. Em 1882, dout
ora-se na Universidade de Viena com a tese O Cálculo das Variações. Em 188
7, pouco antes de casar-se, defende a tese de habilitação Sobre o Conceito d
e Número: análise psicológica, na cidade de Halle.
Essa trajetória culmina na Psicologia. Nessa época, a Psicologia era o estudo d
as faculdades mentais do homem. Até bem pouco tempo, era disciplina especul
ativa, filosófica. Quando Wundt funda o laboratório de psicologia científica em 1
879, começa sua trajetória de ciência aplicada. Husserl acompanhou de perto e
ssa transformação.
A filosofia do fim do século XIX dividia-se entre duas vertentes: aqueles que def
endiam uma base objetiva para o conhecimento e aqueles que o fundamentava
m nas faculdades mentais.
Os Naturalistas defendiam que a objetividade do conhecimento está na
realidade objetiva, externa, “fora” do sujeito. Conhecer a natureza significa sab
er mensurá-la, a fim de revelar suas leis universais. Essas leis universais, as ve
rdades universais, só são acessíveis através de hipóteses. Para isso, esse mod
elo de conhecimento dispõe da metodologia de observação, mensuração e clas
sificação.
Como toda a realidade é objetiva, física, também a consciência, da qual
fala a Psicologia, deve ser física. Husserl, como grande pensador, leva ao limit
e as bases desse pensamento para expor sua contradição: se tudo pode ser re
duzido à natureza física, também a concepção de que tudo pode ser reduzido à
natureza física é apenas mais um processo físico, incapaz de sustentar-se com
o verdade universal.
Do outro lado, os Psicologistas defendiam a mente como fundamento último d
e todo conhecimento. Para eles, a objetividade é dada pelo sujeito “puro” abstr
ato. As leis objetivas, o real, são convenções subjetivas explicáveis pelo psicólo
go. Levando às últimas consequências essa fundamentação, também a Psicolo
gia mina o conhecimento objetivo e científico-natural, pois, para ela, tudo é pro
cesso psicológico. As ciências, como a matemática, tornam-se relativas.
O pensamento de Husserl recebe impulso dessa “crise” insuperável, na
tentativa de encontrar solução. Para fundamentar o conhecimento verdadeiro –
tarefa da filosofia – Husserl não poderá se apoiar nem no Naturalismo, nem no
Psicologismo. A Fenomenologia surge como crítica à pretensão de cientificidad
e plena das ciências, ao recurso à dedução e à inferência como método de con
hecimento (modelo hipotético) e à determinação psicofísica atribuída ao seu suj
eito do conhecimento. (Feijoó, 2011)
Introdução ao método fenomenológico e à consciência intencional
Bibliografia Básica: FEIJOÓ, A. (2011) “Husserl e a Fenomenologia” A existê
ncia para além do sujeito. Rio de Janeiro: Via Verita, pg. 25-34.
A ascensão das Ciências Humanas amplia a crise das ciências. Qual se
ria a validade (verdade universal) das descobertas da antropologia, da sociolog
ia ou mesmo da psicologia? A psicologia, num esforço para assegurar a verdad
e de suas afirmações, recorre ao método científico-natural de investigação. O t
este de medição de inteligência desenvolvido por Alfred Binet (1857 -1911) é u
m exemplo disso; determina-se a inteligência como mensurável e cria-se um in
strumento para a medir.
Husserl, por outro lado, identifica a carência de fundamentos das ciênci
as-naturais. É o Naturalismo, descrito anteriormente. Seu objetivo é, então, ina
ugurar um novo fundamento para a lógica, para a teoria do conhecimento e par
a a psicologia: uma ciência originária, primeira.
A chave para a fenomenologia vem dos estudos com Franz Brentano (
1838 – 1917). Opondo-se a Wundt, Brentano propõe que os atos mentais são e
xperienciáveis, de modo que a psicologia, através da intuição (observação), é c
iência empírica.
Brentano apresenta os atos psíquicos como intencionais. Resgata esse
conceito da filosofia de Aristóteles. Na tradução latina da filosofia aristotélica, in
tentio significa dirigir-se a... (Devemos tomar muito cuidado para não confundir
este conceito com a ideia comum de “intenção”, que significa desejo, motivação
, etc.) Desta ideia, Husserl desenvolve o a priori da correlação: consciência é c
onsciência de... e todo objeto só é enquanto visado por uma consciência. Inten
cionalidade significa que toda consciência é de algo e todo algo só é enquanto
referido à consciência que se tem dele.
Nessa formulação, Husserl lança mão de um aspecto da Psicologia de
Brentano que será característico da fenomenologia e de toda psicologia fenom
enológica que nela se inspira: consciência é ato, não é um receptáculo.
Com o conceito de intencionalidade, Husserl supera o Psicologismo, qu
e prioriza o Sujeito na relação Sujeito-Objeto, e o Logicismo e Naturalismo, que
priorizam o mundo objetivo e natural, o Objeto na relação Sujeito-Objeto. Para
a fenomenologia, Sujeito e Objeto são intimamente relacionados, indissolúveis.
Por isso, Feijoó (2011) afirma que
Com a noção de intencionalidade, portanto, escapa-se das articulações meta
físicas a partir da fenomenologia e encontram-se possibilidades outras de se
tratar o fenômeno psíquico, sem perder a possibilidade de se falar em sentid
os e significados psíquicos de maneira rigorosa. (p.33)
A Fenomenologia surge como tentativa de elaboração de uma ciência ri
gorosa, capaz de fundamentar as várias ciências. Por isso, Husserl a chama de
Ciência Primeira. O princípio de intencionalidade da consciência rege que toda
consciência é consciência de algo e que todo algo só é tal como aparece na co
nsciência. “Consciência”, entretanto, não é um recipiente vazio que se preench
e; é um ato. O objeto ao qual se dirige e que surge na relação intencional é se
mpre significativo.
Entretanto, nós não experienciamos essa relação íntima entre o nosso
ver e a coisa vista, entre nosso sentir e a coisa sentida, entre nosso perceber e
a coisa percebida. Husserl chama de atitude natural a nossa postura cotidiana
de encontrar objetos “fora”, no mundo, como se existissem em si mesmos. A ati
tude natural pode ser descrita como aquela que consiste em pensar que o sujei
to está no mundo como algo que o contém ou como uma coisa entre as demais
. As ciências naturais operam sobre essa crença de que existem objetos em si
no exterior, que podem ser observados, investigados e descritos a partir de sua
s propriedades imanentes. A atitude natural é a atitude ingênua.
A fenomenologia busca superar a atitude ingênua suspendendo a crenç
a na realidade da existência em si do mundo exterior, resgatando a consciência
como condição de aparição do mundo. Essa etapa do método fenomenológico
chama-se epoché e pode ser caracterizada como a colocação entre parênteses
da realidade independente da consciência, para que a investigação fenomenol
ógica se volte para a fenomenalização dos fenômenos, isto é, seu aparecer na
correlação intencional. Pela redução fenomenológica, a consciência se mostra
consciência constituinte de mundo.