Resenha TX 7 - P.Petit

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS


FACULDADE DE HISTÓRIA (BACHARELADO)

NATHÁLIA RODRIGUES DE LIMA

ANÁLISE CRÍTICA DO TEXTO “A QUESTÃO RACIAL E O PRECONCEITO


DE COR EM SÃO DOMINGOS-HAITI” (TEXTO 7)

PROF. PERE PETIT

BELÉM
2023
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Berno Logis. A questão racial e o preconceito de cor em São Domingos-Haiti (1789-


1794). Revista Eletrônica da ANPHLAC, nº 33, 2022, pp. 257-292.
Berno Logis é mestre e doutor em História pela Universidade Estadual Paulista
(UNESP). É bacharel licenciado em História e bacharel em Ciências Sociais pela
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Atualmente, desenvolve pesquisa
sobre os conflitos napoleônicos, a escravidão e o colonialismo nas Américas, com foco
nas antigas colônias francesas.

Em seu artigo A questão racial e o preconceito de cor em São Domingos-Haiti


(1789-1794), Logis tem por objetivo analisar como o preconceito racial construído na
Europa influenciou na hierarquia social e nos acontecimentos ocorridos em São
Domingos, Haiti.

A princípio, o autor destaca a estratégia de causar intrigas entre líderes negros e


mulatos que foi usada pela metrópole, e para isso, ele utiliza Dominique Rogers, com a
afirmação de que a questão da desigualdade racial é um ponto constante na história do
Haiti, assim como foi além da questão social, e atingiu âmbitos políticos e econômicos.

    A Europa estabeleceu uma sociedade colonial racista, mantendo os brancos


sempre superiores aos negros e mestiços, não só no Haiti, mas como em outras colônias
da América do Sul. Dessa forma, por meio da análise da historiografia escrita sobre o
assunto, Berno Logis vai buscar as origens do preconceito de raça e desigualdade de
direitos em São Domingos. 

    É importante assimilar que o autor compreende que o sistema de escravidão


irradia o preconceito racial. Para se ter a exclusão da escravidão, é preciso sanar o
preconceito racial (P. 260). Nesse sentido, o historiador se debruça sobre os escritos
conflitantes de Linstant de Pradine, que afirmava que não existia a desigualdade racial
na colônia haitiana por conta da pequena população presente na época, e também pela
lei que vigorava — já que seria com o intuito de proteger o escravo e regularizar seu
trabalho. Assim, para Pradine, o início do preconceito vem com a restrição de
casamentos interraciais, trazendo diversas consequências para aqueles que
desobedecessem. Dessa forma, pode se notar a construção da hierarquia racial no
decorrer dos séculos XVII e XVIII e seus desdobramentos. 

Também vale citar a liderança de Julien Raymond, frente de várias ocorrências


de resistência e luta contra desigualdade racial na ilha. O grupo sob a liderança de
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Raymond tinha o foco igualar os direitos civis e políticos entre a classe dominante e os
negros e mestiços, assim como, abolir a escravidão. Entre pequenas vitórias e derrotas, é
importante notar a relevância de Julien Raymond e alguns outros nomes que Logis cita
durante o seu artigo. 
   Raymond argumentava que a intolerância racial foi o mecanismo político
utilizado para desestabilizar a luta que estava correndo pela igualdade dos direitos das
pessoas de cor, portanto o fato de uma pessoa ser “não branca”, impediria a admissão de
seu valor e potencial. 
Porém, Raymond negligenciou os pedidos de seus companheiros escravizados,
colocando em primeiro lugar os homens livres e proprietário de terras. A partir desse
momento, o autor irá discutir diferentes visões de Hannibal Price, Thomas Madiou,
Beaubrum Ardouin, Pierre Pluchon, Luc Nemours, Yvan Debbasch e de John Garrigus
acerca do assunto.

Em suma, o autor afirma que a escravidão em São Domingos teve sua estrutura
alicerçada em três pontos, sendo eles: o aspecto social — vendo as duas raças como
interdependentes e fadadas ao sistema opressor-oprimido pela economia; a ótica jurídica
— já que era a base do sistema escravocrata, e validava a escravidão, incluindo O
Código Negro e a Declaração Dos Direitos Do Homem E Do Cidadão; e a perspectiva
racial — ligada ao discurso de supremacia branca (P.279).

Na terceira parte de seu artigo, intitulado “uma sociedade racializada” Logis


aprofunda seu debate na historiografia haitiana e, pondo em explanação o que a maior
parte dos autores que o historiador menciona acreditam, chega a uma conclusão de que
os problemas raciais foram definitivos para entender os acontecimentos da colônia de
São Domingos. 

    Por fim, após reconhecer a personalidade anticolonialista e antiescravista da


revolução, o autor reconhece que a revolução de 1791 errou quando não conseguiu
alcançar a extinção do preconceito de cor, apenas da escravidão. Além disso, reconhece
também o aspecto do período colonial de que pessoas de pele retinta na liderança
política influenciam os rumos da economia e da política. Ainda há preconceito racial no
Haiti, como em diversos outros países da América Latina, entretanto, pode-se dizer que
“a cor da pele não determina seu lugar na hierarquia social” (p.287). Portanto, Bento
Logis faz um apelo de que população negra — pretos, mestiços, pardos, mulatos —
permaneça unida para a extinção do racismo. 
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