Apostila Teologia Catequética APOSTILA Aperfeiçoada 2023
Apostila Teologia Catequética APOSTILA Aperfeiçoada 2023
Apostila Teologia Catequética APOSTILA Aperfeiçoada 2023
TEOLOGIA CATEQUÉTICA
ÍNDICE
I. INTRODUÇÃO........................................................................................................... 3
1. Missão de Cristo e missão da Igreja ................................................................ 3
2. Dimensão profética do mistério da Igreja ...................................................... 5
3. Evangelização e catequese ................................................................................ 6
4. Teologia Catequética: descrição, fontes e metodologia................................ 8
5. História da catequese ...................................................................................... 9
6. Importância da Teologia Catequética ........................................................... 11
II. MENSAGEM DO EVANGELHO ......................................................................... 13
1. Depósito da fé e transmissão da fé ................................................................ 13
2. Kerigma-Catequese-Teologia ......................................................................... 18
3. Fé professada, celebrada, vivida ................................................................... 19
4. Evangelização e Sacramentos da Iniciação Cristã ....................................... 23
5. Finalidade e tarefas da catequese ................................................................. 23
II. PEDAGOGIA E METODOLOGIA CATEQUÉTICA ......................................... 27
1. Pedagogia de Deus .......................................................................................... 27
2. Inspiração catecumenal e Catequese de adultos ......................................... 30
3. Questão da linguagem .................................................................................... 31
4. Psicopedagogia das idades............................................................................. 31
III. CATEQUESE NA IGREJA PARTICULAR ........................................................ 35
1. Carismas e ministérios .................................................................................... 35
2. Catequese na Diocese ...................................................................................... 36
3. Importância da Paróquia na ação catequética ............................................. 38
2
3
I. INTRODUÇÃO
A missão da Igreja é uma só: ser sinal e instrumento da salvação que Cristo
realizou, isto é, a Igreja deve tornar Cristo acessível a todos os homens. Essa única
missão é realizada por cada um dos seus membros (leigos, ministros ordenados,
membros da vida consagrada) de acordo com a variedade de cada um deles e nas
mais diversas formas de evangelização, como, por exemplo, a catequese. Não
obstante, qualquer que seja a modalidade de tal evangelização, é muito
importante ter em conta as pessoas às quais nos dirigimos. A Igreja olha
constantemente ao ser humano procurando descobrir como ele se encontra, quais
as suas necessidades concretas e como anunciar-lhe Cristo, tendo em conta as
diversas mudanças que influenciam nos seus hábitos e costumes. A Igreja que se
dirige ao homem é mestra em humanidade e sabe muito bem o que convém ao
ser humano em cada momento. Cabe a cada cristão, em sua tarefa apostólica, e
mais concretamente na catequese, descobrir os anseios mais profundos das
pessoas às quais se dirige e encontrar novas maneiras de anunciar a verdade que
não muda.
Nós cremos no amor de Deus — deste modo pode o cristão exprimir a opção fundamental da sua
vida. Ao início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com
5
um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo
decisivo (BENTO XVI, Encíclica Deus caritas est, n. 1).
O que foi dito até agora sobre a vertente antropológica da missão da Igreja,
levará tanto o catequeta quanto o catequista a trabalhar de olho nas ciências
humanas que o ajudam a descobrir realidades próprias da cultura do momento
e que têm influência nos seus contemporâneos como a história, a psicologia e a
pedagogia.
Cristo é sacerdote, profeta e rei. Essas três funções de Cristo (tria munera
Christi), unificadas pela sua mediação sacerdotal, encontram-se também na sua
Igreja. Ela é também um povo sacerdotal, profético e régio. Cada pessoa, ao fazer
parte da Igreja, Corpo místico de Cristo, participa também dessas três funções de
Cristo. Cada cristão é sacerdote, profeta e rei. Alguns o são tão somente pelo
sacramento do Batismo, por meio do qual passa-se a ser um fiel de Cristo. É o que
a Igreja chama sacerdócio comum dos batizados, que inclui também as dimensões
profética e régia. Outros membros do Povo de Deus, além do sacerdócio comum,
participam da missão de Cristo Cabeça por meio do sacerdócio ministerial. Nesse
nível, essencialmente distinto do anterior, também se encontram as funções
profética e régia. Os fiéis de Cristo, que participam da dimensão ministerial do
sacerdócio de Cristo, estão a serviço do sacerdócio comum dos demais batizados.
em suas vidas e, com essa visão clara das coisas, procuram compartilhar com seus
irmãos as maravilhas contempladas em Deus1. Os catequistas exercem o múnus
profético e, devem, portanto, estar imbuídos da realidade de Deus em suas vidas.
Uma das coisas importantes no anúncio da fé na catequese é a vida espiritual dos
catequistas. Os catequistas devem ser testemunhas do que viram e ouviram (cfr.
At 4,20), testemunhas que sabem quanto vale a amizade com Cristo e a salvação
que Ele por nós realizou no seu mistério de morte e glorificação.
3. Evangelização e catequese
Ali onde se levanta a cruz aparece o sinal de que já lá chegou a Boa Nova da salvação do homem
mediante o Amor. Ali onde se levanta a cruz, está o sinal de que teve início a evangelização. Outrora,
os nossos pais levantavam, em vários lugares da terra polaca, a cruz como sinal de que já ali tinha
chegado o Evangelho, que se tinha iniciado a evangelização, a qual devia continuar
ininterruptamente até hoje. Com este pensamento foi também levantada a primeira cruz em
Mogila, nas vizinhanças de Cracóvia, nas proximidades de Stara Huta.
A nova cruz de madeira foi erguida não longe daqui, precisamente durante as celebrações do
Milénio. Com ela recebemos um sinal, isto é que nas vésperas do novo milénio — nestes novos
tempos, nestas novas condições de vida — volta a ser anunciado o Evangelho. Iniciou uma nova
evangelização, quase como se se tratasse de um segundo anúncio, embora na realidade seja sempre
o mesmo. A cruz está erguida sobre o mundo que gira (JOÃO PAULO II, Homilia no Santuário da
Santa Cruz, Nowa Huta - Polônia, 9 de junho de 1979).
1Segundo o teólogo francês Jean Daniélou, o profeta é alguém que, pela graça de Deus, penetrou
nos desígnios de Deus e recebeu a missão de comunicá-los (cfr. DANIÉLOU Jean, Dieu et nous,
Grasset, Paris 1956, p. 103).
7
Nossa realidade pede uma nova evangelização. A catequese coloca-se dentro desta perspectiva
evangelizadora, mostrando uma grande paixão pelo anúncio do Evangelho (DNC 29).
Para que possamos afirmar que uma pastoral catequética se encontra na linha
da nova evangelização, devemos detectar nela três elementos:
2 Sobre a nova evangelização, veja-se: PELLITERO Ramiro, Teología pastoral – Introducción a una
teología de la acción eclesial. Pro manuscrito. Pamplona 2003, p. 83-85.
8
Mas há que ter em conta que tais momentos “não são etapas concluídas:
reiteram-se, se necessário, uma vez que darão o alimento evangélico mais
adequado ao crescimento espiritual de cada pessoa ou da própria comunidade”
(DGC 49).
3SOTOMAYOR Emilio A., Catequética, em: PEDROSA V. Mª; NAVARRO Mª; LÁZARO R.; SASTRE J. (dir.),
Dicionário de Catequética, Paulus, São Paulo 2004, p. 190.
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5. História da catequese 5 6
a) IDADE ANTIGA
- Hb 5,12-13: leite, alimento sólido.
- NT: “Didaskein” (95x) = ensinar; “katekein” (17x) = ressoar, instruir de viva voz.
Catequese é instrução, isto é, “a iniciação à vida de comunhão com Cristo”. O NT
não é o Catecismo da Igreja primitiva, mas nele há esquemas.
- Didaqué 1-6
- Carta a Barnabé 18-20
- Séc. III: catecumenato
* Roma: “Traditio apostolica” (Hipólito):
4SOTOMAYOR Emilio A., Catequética, em: PEDROSA V. Mª; NAVARRO Mª; LÁZARO R.; SASTRE J. (dir.),
Dicionário de Catequética, Paulus, São Paulo 2004, p. 191.
5 RODRIGO Angel M., História da Catequese, em: PEDROSA V. Mª; NAVARRO Mª; LÁZARO R.; SASTRE
J. (dir.), Dicionário de Catequética, Paulus, São Paulo 2004, p. 564-73.
6NERY Israel J., História da Catequese no Brasil, em: PEDROSA V. Mª; NAVARRO Mª; LÁZARO R.;
SASTRE J. (dir.), Dicionário de Catequética, Paulus, São Paulo 2004, p. 573-85.
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+ interrogatório;
+ duração do catecumenato: 3 anos dedicados à doutrina e à vida;
+ o catequista (clérigo ou leigo) orava pelos catecúmenos e lhes
impunha as mãos;
+ exame;
+ eleitos: preparação imediata:
- escuta do Evangelho;
- imposição das mãos;
- exorcismos;
- jejum na Sexta-Feira Santa e no sábado;
- batizados no domingo, recebiam também a
confirmação e a eucaristia.
- Até aqui, vemos uma grande seriedade nas exigências de conversão. Quem não
estava disposto a viver conforme o Evangelho, era dissuadido de seguir em
frente.
- Séc. IV: o cristianismo passa a ser uma religião lícita. As conversões são
numerosas. Na Páscoa, realizavam-se as chamadas “catequeses mistagógicas”,
nas quais se saboreavam os mistérios celebrados.
- Séc. VI: praticamente desapareceu o catecumenato. Começa o regime de
cristandade.
b) IDADE MÉDIA
- No regime de cristandade, o cristianismo é a religião oficial do Estado. Os
batismos acontecem em grande número. Desaparece até mesmo o termo
“catequese”. Aparece o “cathechismus” que significa “instituição catequizadora”,
não o livro, e com ele se designava o ensinamento anterior ao batismo conferido
às crianças.
- São Tomás de Aquino fala da “instructio” (cf. S.Th. III,71,4; 71,1,ad.2) e diz que
ela serve para converter à fé, trata sobre os fundamentos da fé para receber os
sacramentos e para alimentar a vida cristã; aplica-se também ao mistério
profundo da fé e da perfeição da vida cristã.
d) ÉPOCA CONTEMPORÂNEA
- Necessidade de catequese, também os adultos, CIC 1917.
- A partir dos anos 1950, recuperou-se o catecumenato com a consciência de que
todo cristão necessita de catequese; de que ela deve abarcar não somente o ensino
da doutrina, mas todo a existência cristã (iniciação, instrução, educação); de que
ela deve ter duas atitudes: olhar os primeiros séculos do cristianismo e olhar o
catequizando e seu clima sociocultural.
- Os impulsos do Vaticano II.
- O Magistério de Paulo VI e o de João Paulo II.
- RICA: Ritual de Iniciação Cristã de Adultos.
1. Depósito da fé e transmissão da fé
O Papa São João XXIII, na abertura do Concílio Vaticano II, deixou bem clara
a diferença entre o depósito da fé e a evangelização de acordo com os nossos
tempos. Será interessante reler as palavras do Papa Roncalli:
1. O que mais importa ao Concílio Ecumênico é o seguinte: que o depósito sagrado da doutrina
cristã seja guardado e ensinado de forma mais eficaz.
2. Essa doutrina abarca o homem inteiro, composto de alma e corpo, e a nós, peregrinos nesta
terra, manda-nos tender para a pátria celeste.
3. Isto mostra como é preciso ordenar a nossa vida mortal, de maneira que cumpramos os nossos
deveres de cidadãos da terra e do céu, e consigamos deste modo o fim estabelecido por Deus.
Quer dizer que todos os homens, tanto individualmente quanto reunidos em sociedade, têm o
dever de tender, sem descanso e durante toda a vida, para a consecução dos bens celestiais, e de
usar só para este fim os bens terrenos sem que seu uso prejudique a eterna felicidade.
4. O Senhor disse: « Procurai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça » (Mt 6, 33). Esta palavra
«primeiro» exprime, antes de mais, em que direção devem mover-se os nossos pensamentos e as
nossas forças; não devemos esquecer, porém, as outras palavras desta exortação do Senhor, isto
é: «e todas estas coisas vos serão dadas por acréscimo» (Mt 6, 33). Na realidade, sempre existiram
e existem ainda, na Igreja, os que, embora procurem com todas as forças praticar a perfeição
evangélica, não se esquecem de ser úteis à sociedade. De fato, do seu exemplo de vida,
constantemente praticado, e das suas iniciativas de caridade, toma vigor e incremento o que há
de mais alto e mais nobre na sociedade humana.
5. Mas, para que esta doutrina atinja os múltiplos níveis da atividade humana, que se referem aos
indivíduos, às famílias e à vida social, é necessário primeiramente que a Igreja não se aparte do
patrimônio sagrado da verdade, recebido dos seus maiores; e, ao mesmo tempo, deve também
olhar para o presente, para as novas condições e formas de vida introduzidas no mundo hodierno,
que abriram novos caminhos ao apostolado católico.
6. Por esta razão, a Igreja não assistiu indiferente ao admirável progresso das descobertas do
gênero humano, e não lhes negou o justo apreço, mas, seguindo esses progressos, não deixa de
avisar os homens para que, bem acima das coisas sensíveis, elevem os olhares para Deus, fonte
de toda a sabedoria e beleza; e eles, aos quais foi dito: «Submetei a terra e dominai-a» (Gn 1, 28),
não esqueçam o mandamento gravíssimo: «Adorarás o Senhor teu Deus, e só a ele servirás» (Mt
4, 10; Lc 4, 8), para que não suceda que a fascinação efêmera das coisas visíveis impeça o
verdadeiro progresso.
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1. Isto posto, veneráveis irmãos, vê-se claramente tudo o que se espera do Concílio quanto à
doutrina.
2. O XXI Concílio Ecumênico, que se aproveitará da eficaz e importante soma de experiências
jurídicas, litúrgicas, apostólicas e administrativas, quer transmitir pura e íntegra a doutrina, sem
atenuações nem subterfúgios, que por vinte séculos, apesar das dificuldades e das oposições, se
tornou patrimônio comum dos homens. Patrimônio não recebido por todos, mas, assim mesmo,
riqueza sempre ao dispor dos homens de boa vontade.
3. É nosso dever não só conservar este tesouro precioso, como se nos preocupássemos unicamente
da antiguidade, mas também dedicar-nos com vontade pronta e sem temor àquele trabalho hoje
exigido, prosseguindo assim o caminho que a Igreja percorre há vinte séculos.
4. A finalidade principal deste Concílio não é, portanto, a discussão de um ou outro tema da
doutrina fundamental da Igreja, repetindo e proclamando o ensino dos Padres e dos Teólogos
antigos e modernos, que se supõe sempre bem presente e familiar ao nosso espírito.
5. Para isto, não havia necessidade de um Concílio. Mas da renovada, serena e tranquila adesão
a todo o ensino da Igreja, na sua integridade e exatidão, como ainda brilha nas Atas Conciliares
desde Trento até ao Vaticano I, o espírito cristão, católico e apostólico do mundo inteiro espera
um progresso na penetração doutrinal e na formação das consciências; é necessário que esta
doutrina certa e imutável, que deve ser fielmente respeitada, seja aprofundada e exposta de forma
a responder às exigências do nosso tempo. Uma coisa é a substância do « depositum fidei », isto é,
as verdades contidas na nossa doutrina, e outra é a formulação com que são enunciadas,
conservando-lhes, contudo, o mesmo sentido e alcance. Será preciso atribuir muita importância
a esta forma e, se necessário, insistir com paciência, na sua elaboração; e dever-se-á usar a maneira
de apresentar as coisas que mais corresponda ao magistério, cujo caráter é prevalentemente
pastoral7.
significa mais voltar atrás, à antiga aliança e à observância da lei, mas significa dar
um salto adiante e entrar no Reino, abraçar a salvação que veio aos homens
gratuitamente, por livre e soberana iniciativa de Deus.
“Convertei-vos e crede” não significam duas coisas diversas e sucessivas, mas a
mesma ação fundamental: convertei-vos, isto é, crede! «Prima conversio fit per
fidem», escreveu S. Tomás de Aquino: a primeira conversão consiste em crer (cf.
S.Th, I-IIae, q. 113, a. 4). Tudo isso requer uma verdadeira “conversão”, uma
mudança profunda no modo de conceber as nossas relações com Deus. Exige
passar da ideia de um Deus que pede, que ordena, que ameaça, à ideia de um
Deus que vem com as mãos cheias para se entregar totalmente a nós. É a
conversão da “lei” à “graça”, tão querida a São Paulo.
sem invejas, sem rivalidades. Ricos apenas de uma promessa (“Farei de vós
pescadores de homens”) e de uma presença, a de Jesus; voltar a quando eram
ainda companheiros de aventura, não concorrentes pelo primeiro lugar. Também
para nós, tornar-se criança significa voltar ao momento em que descobrimos
sermos chamados, ao momento da ordenação sacerdotal, da profissão religiosa,
ou do primeiro verdadeiro encontro pessoal com Jesus. Quando dizíamos: “Só
Deus basta!”, e acreditávamos.
me fazia transcorrê-los com pena; e quando estava com Deus, vinham-me distrair os afetos do
mundo” (cf. Teresa d’Ávila, Livro da Vida, cc. 7-8).
Muitos poderiam descobrir nesta análise o real motivo da própria insatisfação e
descontentamento.8
2. Kerigma-Catequese-Teologia
INTRODUÇÃO
GUARDAR O DEPÓSITO DA FÉ é a missão que o Senhor confiou à sua Igreja e que ela cumpre
em todos os tempos. O Concílio Ecumênico Vaticano II, aberto há trinta anos por meu predecessor
João XXIII, de feliz memória, tinha como intenção e como finalidade pôr em evidência a missão
apostólica e pastoral da Igreja e, fazendo resplandecer a verdade do Evangelho, levar todos os
homens a procurar e acolher o amor de Cristo, que excede toda a ciência (cf. Ef 3,19).
Ao Concílio, o Papa João XXIII tinha confiado como tarefa principal guardar e apresentar melhor
o precioso depósito da doutrina cristã, para o tomar mais acessível aos fiéis de Cristo e a todos os
homens de boa vontade. Portanto, o Concílio não devia, em primeiro lugar, condenar os erros da
época, mas sobretudo empenhar-se por mostrar serenamente a força e a beleza da doutrina da fé.
"Iluminada pela luz deste Concílio dizia o Papa a Igreja... crescerá em riquezas espirituais...e,
recebendo a força de novas energias, olhar intrépida para o futuro... E nosso dever... dedicar-nos,
com vontade pronta e sem temor, àquele trabalho que o nosso tempo exige, prosseguindo assim
o caminho que a Igreja percorre há vinte séculos."'
Com a ajuda de Deus, os Padres conciliares puderam elaborar, em quatro anos de trabalho, um
conjunto considerável de exposições doutrinais e de diretrizes pastorais oferecidas a toda a Igreja.
Pastores e fiéis encontram ali orientações para aquela "renovação de pensamentos, de atividades,
de costumes e de força moral, de alegria e de esperança, que foi o objetivo do Concílio".
Depois de sua conclusão, o Concílio não deixou de inspirar a vida da Igreja. Em 1985 pude
afirmar: "Para mim que tive a graça especial de nele participar e colaborar ativamente em seu
desenvolvimento o Vaticano II foi sempre, e é de modo particular nestes anos de meu Pontificado,
o constante ponto de referência de toda a minha ação pastoral, no consciente empenho de traduzir
suas diretrizes em aplicação concreta e fiel, no âmbito de cada Igreja e da Igreja inteira. E preciso
incessantemente recomeçar daquela fonte".
Nessa ocasião, os Padres sinodais manifestaram o desejo "de que seja composto um Catecismo
ou compêndio de toda a doutrina católica, tanto em matéria de fé como de moral, para que seja
como um texto de referência para os catecismos ou compêndios que venham a ser preparados
nas diversas regiões. A apresentação da doutrina deve ser bíblica e litúrgica, oferecendo ao
mesmo tempo uma doutrina sã e adaptada à vida atual dos cristãos". Depois do encerramento do
Sínodo, fiz meu este desejo, considerando que ele "corresponde à verdadeira necessidade da
Igreja universal e das Igrejas particulares".
Como não havemos de agradecer de todo o coração ao Senhor, neste dia em que podemos oferecer
a toda a Igreja, com o título de Catecismo da Igreja Católica, este "texto de referência" para uma
catequese renovada nas fontes vivas da fé?
Depois da renovação da Liturgia e da nova codificação do Direito Canônico da Igreja Latina e dos
cânones das Igrejas Orientais Católicas, este Catecismo trará um contributo muito importante
àquela obra de renovação da vida eclesial inteira, querida e iniciada pelo Concílio Vaticano II.
O Catecismo da Igreja Católica é fruto de uma vastíssima colaboração: foi elaborado em seis anos
de intenso trabalho, conduzido num espírito de atenta abertura e com apaixonado ardor.
21
Em 1986, confiei a uma Comissão de doze Cardeais e Bispos, presidida pelo senhor Cardeal
Joseph Ratzinger, o encargo de preparar um projeto para o Catecismo requerido pelos Padres do
Sínodo. Uma Comissão de redação, composta por sete Bispos diocesanos, peritos em teologia e
em catequese, coadjuvou a Comissão em seu trabalho.
O projeto tornou-se objeto de vasta consulta de todos os Bispos católicos, de suas Conferências
Episcopais ou de seus Sínodos, dos Institutos de teologia e de catequética. Em seu conjunto, ele
teve um acolhimento amplamente favorável da parte do Episcopado. E justo afirmar que este
Catecismo é fruto de uma colaboração de todo o Episcopado da Igreja Católica, o qual acolheu
com generosidade meu convite a assumir a própria parte de responsabilidade numa iniciativa
que diz respeito, intimamente, à vida eclesial. Tal resposta suscita em mim um profundo
sentimento de alegria, porque o concurso de tantas vozes exprime verdadeiramente aquela a que
se pode chamar a "sinfonia" da fé. A realização deste Catecismo reflete, deste modo, a natureza
colegial do Episcopado: e testemunha a catolicidade da Igreja.
DISTRIBUIÇÃO DA MATÉRIA
O Catecismo incluirá, portanto, coisas novas e velhas (cf. Mt 13,52), porque a fé é sempre a mesma
e simultaneamente é fonte de luzes sempre novas.
Para responder a esta dupla exigência, o Catecismo da Igreja Católica por um lado retoma a
"antiga" ordem, a tradicional, já seguida pelo Catecismo de São Pio V, articulando o conteúdo em
quatro partes: o Credo; a sagrada Liturgia, com os sacramentos em primeiro plano; o agir cristão,
exposto a partir dos mandamentos; e, por fim, a oração cristã. Mas, ao mesmo tempo, o conteúdo
é com frequência expresso de modo "novo", para responder às interrogações de nossa época.
As quatro partes estão ligadas entre si: o mistério cristão é o objeto da fé (primeira parte); é
celebrado e comunicado nos atos litúrgicos (segunda parte); está presente para iluminar e
amparar os filhos de Deus em seu agir (terceira parte); fundamenta nossa oração, cuja expressão
privilegiada é o "Pai-Nosso", e constitui o objeto de nossa súplica, de nosso louvor e de nossa
intercessão (quarta parte).
22
A Liturgia é ela própria oração; a confissão da fé encontra seu justo lugar na celebração do culto.
A graça, fruto dos sacramentos, é a condição insubstituível do agir cristão, tal como a participação
na liturgia da Igreja requer a fé. Se a fé não se desenvolve nas obras, está morta (cf. Tg 2,14-16) e
não pode dar frutos de vida eterna.
Lendo o Catecismo da Igreja Católica, pode-se captar a maravilhosa unidade do mistério de Deus,
de seu desígnio de salvação, bem como a centralidade de Jesus Cristo, o Filho Unigênito de Deus,
enviado pelo Pai, feito homem no seio da Santíssima Virgem Maria por obra do Espírito Santo,
para ser nosso Salvador. Morto e ressuscitado, ele está sempre presente em sua Igreja,
particularmente nos sacramentos; ele é a fonte da fé, o modelo do agir cristão e o Mestre de nossa
oração.
O Catecismo da Igreja Católica, que aprovei no passado dia 25 de o junho e cuja publicação hoje
ordeno em virtude da autoridade apostólica, é uma exposição da fé da Igreja e da doutrina
católica, testemunhadas ou iluminadas pela Sagrada Escritura, pela Tradição apostólica e pelo
Magistério da Igreja. Vejo-o como um instrumento válido e legítimo a serviço da comunhão
eclesial e como uma norma segura para o ensino da fé. Sirva ele para a renovação, à qual o Espírito
Santo chama incessantemente a Igreja de Deus, Corpo de Cristo, peregrina rumo à luz sem
sombras do Reino!
Peço, portanto, aos Pastores da Igreja e aos fiéis que acolham este Catecismo em espírito de
comunhão e que o usem assiduamente ao cumprir sua missão de anunciar a fé e de convocar para
a vida evangélica. Este Catecismo lhes é dado a fim de que sirva de texto de referência, seguro e
autêntico, para o ensino da doutrina católica e, de modo muito particular, para a elaboração dos
catecismos locais. E também e oferecido a todos os fiéis que desejam aprofundar o conhecimento
das riquezas inexauríveis da salvação (cf. Jo 8,32). Pretende dar um apoio aos esforços ecumênicos
animados pelo santo desejo da unidade de todos os cristãos, mostrando com exatidão o conteúdo
e a harmoniosa coerência da fé católica. O Catecismo da Igreja Católica, por fim, é oferecido a
todo o homem que nos pergunte a razão de nossa esperança (cf. lPd 3,15) e queira conhecer aquilo
em que a Igreja Católica crê.
Este Catecismo não se destina a substituir os Catecismos locais devidamente aprovados pelas
autoridades eclesiásticas, os Bispos diocesanos e as Conferências Episcopais, sobretudo se
receberam a aprovação da Sé Apostólica. Destina-se a encorajar e ajudar a redação de novos
catecismos locais, que tenham em conta as diversas situações e culturas, as que conservem
cuidadosamente a unidade da fé e a fidelidade à doutrina católica.
CONCLUSÃO
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No final deste documento que apresenta o Catecismo da Igreja Católica, peço à Santíssima
Virgem Maria, Mãe do Verbo Encarnado e Mãe da Igreja, que ampare com sua poderosa
intercessão o empenho catequético da Igreja inteira em todos os níveis, nestes tempos em que ela
é chamada a um novo esforço de evangelização. Possa a luz da verdadeira fé libertar a
humanidade da ignorância e da escravidão do pecado, para conduzi-la à única liberdade digna
deste nome (cf. JO 8,32): a da vida em Jesus Cristo sob a guia do Espírito Santo, na terra e no Reino
dos Céus, na plenitude da bem-aventurança da visão de Deus face a face (cf. 1 Cor 13,12; 2Cor
5,6-8)!
JOÃO PAULO II
“Cristo enviou seus apóstolos para que “em seu Nome fosse proclamado a todas as nações o
arrependimento para a remissão dos pecados” (Lc 24,47). “Fazei que todos os povos se tornem
discípulos, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28,19). A missão de
batizar, portanto, a missão sacramental, está implícita na missão de evangelizar, pois o
sacramento é preparado pela Palavra de Deus e pela fé, que é assentimento a esta Palavra:
“O povo de Deus congrega-se antes de mais nada pela Palavra do Deus vivo. (...) A proclamação da Palavra é
indispensável ao ministério sacramental, pois se trata dos sacramentos da fé, e esta nasce e se alimenta da Palavra” (PO
4)”.
11Cf. ZUGAZAGA MARTIKORENA L., Finalidade da Catequese, em: PEDROSA V. Mª; NAVARRO Mª;
LÁZARO R.; SASTRE J. (dir.), Dicionário de Catequética, Paulus, São Paulo 2004, p. 515-523.
24
80. « A finalidade definitiva da catequese é a de fazer com que alguém se ponha, não apenas em
contato, mas em comunhão, em intimidade com Jesus Cristo ».
Toda a ação evangelizadora tem o objetivo de favorecer a comunhão com Jesus Cristo. A partir
da conversão « inicial » de uma pessoa ao Senhor, suscitada pelo Espírito Santo, mediante o
primeiro anúncio, a catequese se propõe dar um fundamento e fazer amadurecer esta primeira
adesão. Trata-se, então, de ajudar aquele que acaba de ser converter a « ...melhor conhecer o
mesmo Jesus Cristo ao qual se entregou: conhecer o seu « mistério », o Reino de Deus que Ele
anunciou, as exigências e as promessas contidas na Sua mensagem evangélica e os caminhos que
Ele traçou para todos aqueles que O querem seguir ». O Batismo, sacramento mediante o qual «
configuramo-nos com Cristo », sustenta, com a sua graça, esta obra da catequese.
81. A comunhão com Jesus Cristo, por sua própria dinâmica, impulsiona o discípulo a se unir
com tudo aquilo com que o próprio Jesus Cristo sentiu-se profundamente unido: com Deus, seu
Pai, que o enviara ao mundo, e com o Espírito Santo, que lhe dava impulso para a missão; com a
Igreja, seu corpo, pela qual se doou, e com os homens, seus irmãos, cuja sorte quis compartilhar.
– Favorecer o conhecimento da fé
Aquele que encontrou Cristo deseja conhecê-Lo o mais possível, assim como deseja conhecer o
desígnio do Pai, que Ele revelou. O conhecimento da fé (fides quae) é exigência da adesão à fé (fides
qua). Já na ordem humana, o amor por uma pessoa leva a desejar conhecê-la sempre mais. A
catequese deve levar, portanto, a « compreender progressivamente toda a verdade do projeto
divino », (253) introduzindo os discípulos de Jesus Cristo no conhecimento da Tradição e da
Escritura, a qual é a « eminente ciência de Jesus Cristo » (Fil 3,8).
– A educação litúrgica
De fato, « Cristo está sempre presente em Sua Igreja, sobretudo nas ações litúrgicas ». A
comunhão com Jesus Cristo leva a celebrar a sua presença salvífica nos sacramentos e,
particularmente, na Eucaristia. A Igreja deseja ardentemente que todos os fiéis cristãos sejam
levados àquela participação plena, consciente e ativa, que exigem a própria natureza da Liturgia
e a dignidade do seu sacerdócio batismal. Por isso, a catequese, além de favorecer o conhecimento
do significado da liturgia e dos sacramentos, deve educar os discípulos de Jesus Cristo « à oração,
à gratidão, à penitência, à solicitação confiante, ao sentido comunitário, à linguagem simbólica...
», uma vez que tudo isso é necessário, a fim de que exista uma verdadeira vida litúrgica.
– A formação moral
A conversão a Jesus Cristo implica o caminhar no seu seguimento. A catequese deve, portanto,
transmitir aos discípulos as atitudes próprias do Mestre. Eles empreendem assim, um caminho
de transformação interior, no qual, participando do mistério pascal do Senhor, « passam do velho
para o novo homem aperfeiçoado em Cristo ». O Sermão da Montanha, no qual Jesus retoma o
25
– Ensinar a rezar
A comunhão com Jesus Cristo conduz os discípulos a assumirem a atitude orante e contemplativa
que adotou o Mestre. Aprender a rezar com Jesus é rezar com os mesmos sentimentos com os
quais Ele se dirigia ao Pai: a adoração, o louvor, o agradecimento, a confiança filial, a súplica e a
contemplação da sua glória. Estes sentimentos se refletem no Pai Nosso, a oração que Jesus
ensinou aos discípulos e que é modelo de toda oração cristã. A «entrega do Pai Nosso », resumo de
todo o Evangelho, é, portanto, verdadeira expressão da realização desta tarefa. Quando a
catequese é permeada por um clima de oração, o aprendizado de toda a vida cristã alcança a sua
profundidade. Este clima se faz particularmente necessário quando o catecúmeno e os
catequizandos encontram-se diante dos aspectos mais exigentes do Evangelho e se sentem fracos,
ou quando descobrem, admirados, a ação de Deus na sua vida.
27
1. Pedagogia de Deus
Talvez Irineu de Lião seja o Padre da Igreja que mais tenha falado sobre a
pedagogia divina. Segundo essa pedagogia, Deus habitua o homem a acostumar-
se com Ele12. Deus age de maneira semelhante nas diversas fases da história da
salvação fazendo, dessa maneira, com que o homem se acostume à sua maneira
de atuar. Então, o homem se habitua a Deus e Deus “acostuma-se” a habitar entre
os homens. A consideração dos “costumes de Deus” deve ser feita, portanto, bem
unida à questão dos costumes dos homens.
12«Verbum Dei quod habitauit in homine et filius hominis factus est, ut adsuesceret hominem percipere
Deum et adsuesceret Deum habitare in homine secundum placitum Patris [O Verbo de Deus que habitou
no homem e se tornou Filho do homem a fim de acostumar o homem a perceber a Deus e
acostumar a Deus a habitar no homem, conforme o agrado do Pai]» (IRINEU DE LIÃO, Contre les
hérésies, III, 20, 2, SC 211, Cerf, Paris 1974, p. 392).
13 Sobre as controvérsias gnósticas e antimarcionitas, afimava Jean Daniélou: «A l’occasion de ces
controverses, les auteurs chrétiens sont amenés à définir l’attitude de l’Église à l’égard de la Loi ancienne
et à poser les fondements à la fois de l’exégèse et de la théologie chrétienne de l’histoire. C’est la gloire
d’Irénée d’avoir dégagé le premier dans toute sa rigueur cette théologie [No decurso destas
controvérsias, os autores cristãos foram levados a definir a atitude da Igreja em relação à Lei
Antiga e a lançar as bases tanto da exegese como da teologia cristã da história. É a glória de Ireneu
ter sido ele o primeiro a expor esta teologia em todo o seu rigor]» (DANIELOU J., Saint Irénée et les
origines de la théologie de l’histoire, « Recherches de Science Religieuse » 34 [1947], p. 228).
14Cfr. DANIELOU J., Message évangélique et culture hellénistique, Desclée et Cie, Paris-Tournai 1961,
p. 205.
15O Papa Francisco declarou Santo Irineu de Lião como Doutor da Igreja, em 21 de janeiro de
2022, atribuindo-lhe o título de Doctor unitatis (Doutor da Unidade):
28
do poder da tradição manifesta, por exemplo, no fato de ela não mudar em meio
a tantas línguas diferentes16.
https://www.vatican.va/content/francesco/pt/events/event.dir.html/content/vaticanevents/pt/20
22/1/21/decreto-santireneo.html (Acesso em: 13 de fevereiro de 2023).
Sobre o conceito de Tradição em Irineu, veja IZQUIERDO C., Parádosis – Estudios sobre la Tradición,
16
universalité plus grande [em uma maior abundância de graça e uma maior universalidade]»
(Message évangélique et culture hellénistique, op. cit., p. 160).
20 Cfr. DANIELOU J., Sacramentum futuri, Beauchesne, Paris 1950, p. 23-24.
21 Cfr. Sacramentum futuri, op. cit., p. 24.
29
22 «L’Incarnation est au cœur de cette vision de l’histoire du salut, dont elle représente le sommet. Irénée
l’exprime dans la doctrine de l’ἀνακεφαλαίωσις, de la récapitulation [A Encarnação está no centro
desta visão da história da salvação, cujo cume ela representa. Irineu o exprime na doutrina da
anakephalaiôsis, da recapitulação]» (Message évangélique et culture hellénistique, op. cit., p. 161).
23 Cfr. Message évangélique et culture hellénistique, op. cit., p. 165-166.
30
diferença num mundo marcado por tanta coisa contrária ao projeto de Deus”
(DNC, 146).
- RICA;
31
- DNC 147-148.
3. Questão da linguagem
Introdução
24Texto preparado pelas Irmãs de Belém, Paróquia Nossa Senhora Aparecida – Anápolis-GO e
adaptado pelo autor desta apostila.
32
0 – 6 anos
– apaixonado por tudo que o cerca;
– voltado para si mesmo;
– aprende de forma concreta (vendo, apalpando, ouvindo...)
7 – 9 anos
– abertura para o grupo;
– relacionamento pessoal mais amplo;
– idade propícia para a recepção dos sacramentos da Reconciliação e
Eucaristia.
9 – 12 anos
– volta-se para o mundo exterior;
– mundo da lei;
– pressão do grupo;
– pedagogia do herói.
Adolescência
– passagem do pensamento lógico-concreto para o abstrato;
– alargamento dos interesses;
33
Juventude
– fase de grandes opções;
– muitas vezes excluída da participação social e eclesial;
– diversificada;
– em busca da maturidade.
Adultos
– maior conhecimento de si mesmo;
– maior enfrentamento da realidade;
– relacionamento estável com os outros;
– integração da personalidade;
– busca de unidade interior.
Catequese ambiental
“O serviço à fé, atualmente, tem grande consideração pelos ambientes ou
contextos de vida” (DGC 192).
Importância da formação
– formação na fé;
– formação da consciência;
– formação para a vida de oração;
– formação para o apostolado.
35
1. Carismas e ministérios
“Jesus revela o Espírito Santo que, com o Pai, envia à sua Igreja. O Espírito nos une a Jesus Cristo,
formando um único Corpo, a Igreja, Povo santo de Deus. Jesus de Nazaré, Filho Unigênito do
Pai, e de Maria sempre Virgem, é a Palavra encarnada do Pai: Palavra única e definitiva que fala
ao mundo em todas as línguas, com o seu Espírito, no seu Corpo eclesial e católico (cf. Ap 2,11).
Particularmente na Confirmação, a catequese aprofunda mais a presença e a ação do Espírito com
seus dons e carismas e seu impulso para a missão” (DNC 99).
25PELLITERO R., El Espíritu Santo y la misión de los cristianos, unidad y diversidad, XIX Simposio de
Teología de la Universidad de Navarra: “El Espíritu Santo y la Iglesia”, Pamplona 1999.
36
2. Catequese na Diocese
DNC, 219
ainda que não todos desempenhem os mesmos papéis, e nem o façam sob o
mesmo título.
Na diocese de Anápolis26
A formação dos catequistas é, atualmente, uma das tarefas mais urgentes
de nossas comunidades, pois, “o catequista é de certo modo, o intérprete da Igreja
junto aos catequizandos” (DGC, 35).
A catequese, que tem como finalidade “fazer com que alguém se ponha,
não apenas em contato, mas em comunhão, em intimidade com Jesus Cristo”
(Catechesi tradendae [CT], 5), está ao serviço da Palavra, da transmissão da fé.
Está é sempre um dom gratuito de Deus, no qual Ele se dá a conhecer à
humanidade, mostra-lhe Seu mistério, convidando cada pessoa a uma relação
pessoal de amizade com Deus, que quer salvar a todos. Este desígnio salvífico de
Deus é dado a conhecer por palavras e gestos, que têm o seu ponto culminante
em Jesus Cristo: mediador e plenitude da Revelação.
A catequese, como serviço eclesial de transmissão de fé, tem como missão
dar a conhecer Jesus Cristo: sua vida, palavras, milagres e gestos. Aliás, é Cristo
o centro da catequese. “Tem que se dizer, portanto, que na catequese é Cristo,
Verbo Encarnado e Filho de Deus, que é ensinado — e tudo o resto sempre em
relação com Ele; e que somente Cristo ensina; qualquer outro que ensine, fá-lo na
medida em que é seu porta-voz, permitindo a Cristo ensinar pela sua boca”(CT
6).
A mensagem de Cristo está presente na Igreja, que a guarda e transmite
a cada geração, por meio da Sagrada Escritura e da Tradição; por essa razão, a
transmissão da fé é um ato essencialmente eclesial. É a Igreja que guarda os
documentos da fé, e todos eles são parte integrante das fontes da catequese, a
saber: textos bíblicos, textos litúrgicos, escritos dos Padres da Igreja, formulações
do Magistério, símbolos da fé, testemunhos dos santos e reflexões teológicas (cf.
DGC 96).
Esta transmissão de fé há de possibilitar o acesso e a assimilação da
linguagem própria da fé, de dialogar com a cultura, dizendo qual é a fé em que
se acredita, mas há de ser capaz, sobretudo, de gerar uma nova cultura: uma
cultura cristã.
O catequista precisa estar em contínua formação humana e cristã. Por
isso, não bastam os cursinhos de início de ano. Estes são momentos de
sensibilização para o trabalho catequético e não indicadores de que, ao participar
deles, o catequista esteja em condições de realizar bem sua tarefa pastoral. Assim,
a diocese de Anápolis, juntamente com a Faculdade Católica de Anápolis, oferece
a Escola Catequética que se realiza uma vez ao mês, no sábado, de 8 às 17 horas.
Cada escola tem a duração de 12 meses (conferir a atualização desses dados).
Além da Escola Catequética, a pastoral da Catequese na diocese busca
oferecer a todas as paróquias subsídios para que o catequista consiga transmitir
a mensagem de Cristo, por meio de congressos que acontecem de dois em dois
anos, formação regionais e paroquiais. Quando solicitada, a equipe da pastoral
vai até as paróquias para formar o catequista dentro de um conteúdo específico:
montagem de encontros, espiritualidade catequética etc.
27 O que aqui escrevemos é praticamente a tradução de textos dos seguintes livros: LLORCA B.,
Historia de la Iglesia Católica I – Edad Antigua – La Iglesia en el mundo grecorromano, BAC, Madri 1996,
p. 800; GARCIA-VILLOSLADA R., Historia de la Iglesia Católica II - La cristiandad en el mundo europeo y
feudal, BAC, Madri 1988, p. 222-23.
39
1032 por ocasião do Concilio de Limoges, houve protestos do cabido contra certas
igrejas nas quais se administrava o sacramento do Batismo.
A Exortação apostólica Christifideles laici [CL] diz que “embora, por vezes,
pobre em pessoas e em meios e, outras vezes, dispersa em territórios vastíssimos
ou quase desaparecidos no meio de bairros modernos populosos e caóticos, a
paróquia não é principalmente uma estrutura, um edifício, mas é sobretudo ‘a
família de Deus, como uma fraternidade animada pelo espírito de unidade’, é
‘uma casa de família, fraterna e acolhedora’, é a comunidade de fiéis.” (CL 26).
Já que a paróquia é uma comunidade eucarística, ela é uma realidade que cai
sob o prisma da teologia. Não importa tanto o edifício feito de pedras, mas as
pedras vivas, os fiéis de Cristo que se reúnem para celebrar a Eucaristia. Por isso
não é possível que exista uma paróquia, uma verdadeira comunidade de fiéis
chamada Igreja, sem que haja também um sacerdote. Se pensamos na paróquia
O que faz que sejamos tão unidos, tão próximos uns dos outros, ainda que
muitas vezes tão distantes uns dos outros é a comunhão no Corpo e Sangue do
Senhor. A Igreja vive da Eucaristia; é a Eucaristia quem faz a Igreja.30 “Nestas
comunidades (...) está presente Cristo, por cuja virtude se consocia a Igreja uma,
santa, católica e apostólica”.
Com relação aos párocos, o Concílio Vaticano II diz que devem cuidar para
que “a celebração do Sacrifício Eucarístico seja o centro e cume de toda a vida da
comunidade cristã” (Decreto Christus Dominus, 30).
A Igreja faz a Eucaristia. Seu sacerdócio foi instituído principalmente para este fim. “Fazei isto
em memória de mim” (Lc 22,19. Cf. 1Cor 11,25).
Sem dúvida, em um primeiro sentido e muito profundo, todo cristão é sacerdote, embora, para
evitar uma confusão muito séria, isso deve ser explicado imediatamente. Todo cristão participa
do único Sacerdócio de Jesus Cristo. “Assim como chamamos de cristãos todos os que receberam
CONGREGAÇÃO PARA O CLERO, Instrução Presbítero – Pastor e Guia da Comunidade Paroquial, nº 20,
29
no batismo a unção mística, também devemos chamar de sacerdotes todos os que são membros
do único Sacerdote”. “Na unidade da fé e do batismo, toda dignidade é comum; ...o sinal da cruz
torna reis a todos os que foram regenerados em Cristo, e a unção do Espírito Santo consagra a
todos como sacerdotes” (Leão Magno, Sermo 4). Israel era “um reino de sacerdotes e uma nação
santa”. O mesmo vale para toda a Igreja, porque todo Israel está concentrado em Cristo, único
verdadeiro Sacerdote, com o qual todo cristão está identificado. O “sacerdócio régio” que São
Pedro e São João atribuem a todos nós, não é uma espécie de metáfora: não se poderia sequer
dizer que não é mais do que um “suposto sacerdócio”: somos justamente chamados sacerdotes porque
fomos ungidos com o crisma do Espírito Santo; é uma realidade “mística”, realidade que em sua
ordem não pode ser superada ou intensificada por qualquer instituição ou consagração
acrescentada, por nenhum outro sacerdócio. Porque é Ele que faz do cristão membro do Rei e
Sacerdote universal, um Cristo. Para confirmar sua dignidade, basta recordar que é Aquele com
o qual a Virgem Maria foi eminentemente revestida.
(DE LUBAC H., Méditation sur l’Église, Cerf, Paris 2012, p. 113-15)
A Igreja é comunhão com Deus e comunhão dos homens entre si, ela
sempre manterá essa comunhão. Ela, em seus três estados (triunfante, padecente
e militante), encontra-se unida na caridade. No nosso caso, Igreja militante, a
união precisa ser invisível, através da graça, e visível, na Fé, nos Sacramentos, no
Governo. A Paróquia, como expressão mais imediata e visível da comunhão
eclesial vive esta grande realidade que é a Igreja: comunhão.
“Abraça, cuidadoso, unicamente a fé que agora a Igreja te entrega para aprendê-la e confessá-la,
protegida pelos muros de toda a Escritura. Já que nem todos podem ler as Escrituras, uns por
falta de preparo, outros por qualquer ocupação que os impede de conhecê-la, para que não
pereçam por ignorância, encerramos nos poucos versículos do Símbolo todo o dogma da fé.
Exorto-te a tê-lo como viático durante a vida inteira e não admitir nenhum outro mais”
(Catequeses de S. Cirilo de Jerusalém, PG 33,519-523 De Fide et Symbolo).
42
“Acreditamos simplesmente que esta antiga e venerada estrutura da paróquia tem uma missão
indispensável de grande atualidade: pertence-lhe criar a primeira comunidade do povo cristão,
iniciar e reunir o povo na expressão normal da vida litúrgica, conservar e reanimar a fé nas
pessoas de hoje, dar-lhe a escola da doutrina salvadora de Cristo, praticar no sentir e na ação a
humilde caridade das obras boas e fraternas”.31