MEM Trabalhar Por Projetos
MEM Trabalhar Por Projetos
MEM Trabalhar Por Projetos
Trabalho
em
projectos
Odete Xarepe
Trabalho em projectos – Odete Xarepe 2
Índice
1 – Introdução
3 – Avaliação de Projectos
5 – Bibliografia
Trabalho em projectos – Odete Xarepe 3
Trabalho em Projectos
1. Introdução
Com efeito, no MEM estimula-se uma cultura de projecto, sendo este entendido
como um compromisso social, numa lógica e numa praxis comprometida com a vida
e o mundo, para lhes acrescentar sentido e, nessa viagem a fazer com muitos,
acrescentarmo-nos em humanidade (Peças, 1999).
Pensar e dizer projecto pode não ter o mesmo significado semântico e até pode
ter práticas de certo modo antagónicas. É que, como instrumento, serve para
tudo: de um lado podemos perceber projectos retóricos, projectos de poder,
projectos de manipulação sobre outros, até projectos inconfessáveis, como
Trabalho em projectos – Odete Xarepe 4
refere Américo Peças (1999). Mas por outro lado, podemos identificar projecto
como transparência, implicação social para o progresso, o bem-estar e o
desenvolvimento, projectos participados, estimulantes para os que neles
participam, com sentido, democráticos, construtores de mais e melhor cidadania.
Nas paredes, num local de fácil acesso e consulta, podem estar diferentes mapas
de registo para pilotagem de várias actividades como:
colas, fitas-cola…). Estes materiais são geridos pelos alunos que semanalmente se
revezam nesta e nas outras tarefas de manutenção.
O PIT é um instrumento
propiciador do trabalho
diferenciado e da autonomia do
aluno na medida em que permite que
cada um escolha as actividades que
prefere ou de que precisa, que as realize individualmente, a meias ou em grupo,
que as verifique, corrija e registe (ficheiros auto-correctivos), que seja Fig 5-
Plano Individual de Trabalho apoiado por um colega ou pela professora,
Trabalho em projectos – Odete Xarepe 10
inicial de comunicação das produções, como artigos para o jornal, pesquisas para
os projectos, cartas para os correspondentes ou para outros destinatários, etc.
No espaço da
correspondência escolar
expõe-se a última carta
colectiva, o plano do que
se recebeu e do que se
combinou fazer, os
trabalhos mais
significativos dos
correspondentes que
estão a ser analisados e o
que se vai terminando
para se enviar. É,
portanto, um expositor
que se vai renovando cada
vez que há uma troca. Há,
porém, um cartaz que se
mantém ara apoio à
correspondência individual: é a listagem dos nomes dos correspondentes das duas
turmas.
fig 8- Correspondência- fig 9- Nomes dos
carta colectiva correspondentes
É normal trabalhar-se com quem se quer desde que todos os alunos tenham
oportunidade de o fazer. Verificámos, ao longo do balanço dos projectos, que o
trabalho era mais produtivo e agradável quando os participantes se escolhiam
tendo em conta as suas preferências afectivas e também as suas características
pessoais. Esta liberdade de escolha só tinha uma condição: que nenhum colega
ficasse sem grupo para trabalhar. Daí a regra de serem os projectos propostos
em Conselho no tempo de planificação semanal.
Nem sempre é pacífico este processo. Há que apoiar os alunos até ganharem
autonomia e aqui também eu, ao longo dos anos de escolaridade e das várias
turmas, fui ganhando autonomia para os deixar ser autónomos. É muito
gratificante tomar consciência da apropriação que os alunos fazem do processo
quando recusam apoios e sugestões que antecipadamente não pediram. Também é
frequente a turma e a professora serem surpreendidas com a comunicação, na
apresentação de produções, de projectos individuais elaborados livremente em
tempo fora da aula, alguns com a estrutura e o desenvolvimento dos trabalhos
feitos em grupo na sala.
Todas estas fases contêm aspectos de avaliação quer do projecto quer dos
alunos, sendo que a avaliação é parte intrínseca deste processo e ela própria
também um processo.
Avaliar pode significar (…) verificar, julgar, situar, representar, determinar, dar
um conselho…” (Hadji, 1994). Ainda na acepção deste autor, avaliar é “o acto pelo
qual se formula um juízo de valor incidindo num objecto determinado (indivíduo,
situação, acção, projecto, etc.) por meio de um confronto entre duas séries de
dados que são postos em relação”
Noutro contexto, segundo Weiss, citado por Hadji, (2001,), pode ser um
problema de comunicação, na medida em que há uma interacção, uma troca, uma
negociação entre um avaliador e um avaliado, sobre um objecto e num ambiente
social dado, o que pode provocar alteração no desempenho do aluno,
independentemente do seu nível de aprendizagem, consoante o contexto social e
o seu relacionamento com o professor.
Várias são as acepções destas designações, pelo que passarei a citar algumas das
definições de diferentes autores.
“É uma avaliação que tem por objectivo guiar o aluno no seu trabalho escolar. Ela
procura identificar as suas dificuldades para o ajudar a descobrir os processos
que lhe permitem progredir na sua aprendizagem” (Cardinet in Allal, 1986):
Nas palavras de Hadji (citado por Kirkby e Alaiz, 1995), «a avaliação formativa é
pensada como “pedra angular” de uma pedagogia diferenciada, que escolhe a
igualdade para seu objectivo. Com efeito, este não é um ponto de partida mas um
fim, que só pode ser atingido, idealmente, ao fim de um percurso».
Perrenoud (1992) entende a avaliação formativa como “uma avaliação que ajuda o
aluno a aprender e o professor a ensinar”. Nesta definição, estão presentes a
vertente da aprendizagem e a vertente do ensino, servindo a avaliação como
reguladora de ambas.
Nunziatti, no estudo que fez com Bonniol entre 1974 e 1977, enunciou três
objectivos fundamentais da avaliação formadora (Nunziatti, 1990, pp. 48):
- a apropriação, por parte do aluno, dos critérios de ensino;
- a autogestão dos erros;
- o domínio dos instrumentos de antecipação e planificação da acção.
Neste tipo de avaliação, segundo o seu criador, (Nunziatti, 1990) é essencial que
os alunos integrem “um bom sistema interno de pilotagem”, indispensável para o
bom desenvolvimento de todas as fases da sua acção de forma a desenvolver a
sua autonomia pela regulação sistemática do seu trabalho sem que precise ou
dependa da interferência do professor.
“Libertar a palavra dos alunos como ponto de partida para a vivência democrática
na sala de aula”
- A expressão livre foi uma constante nestas turmas num tempo diário que
possibilitou a formação transdisciplinar em Língua Portuguesa, a ligação ao meio
envolvente, a formação pessoal e social dos intervenientes. A planificação e
avaliação diárias em conselho, a reunião semanal do Conselho de Cooperação
Educativa foram tempos e instrumentos fortes de regulação das aprendizagens e
dos projectos, das responsabilidades e dos conflitos, da vida escolar por todos
partilhada.
mais orientada por mim), porque os assuntos que os alunos escolhem têm mais a
ver com temas de pesquisa.
No entanto, mesmo com estes estudos, têm aparecido formas de interagir com a
comunidade a partir das comunicações, o que, em si mesmo, já constitui uma
forma de intervenção social. Sobretudo, é de salientar o impacto que esta
dinâmica teve junto dos pais dos alunos, quer directamente através de projectos
comunicados em reuniões ou com a presença dos pais dos autores (convidados
especiais) ou passados em vídeo, quer indirectamente através de exposições na
escola ou pelas notícias do jornal da turma ou, muito simplesmente, pelo
testemunho mais ou menos entusiasmado dos filhos/educandos.
nesta metodologia com facilidade e integra os que levam mais tempo a ganhar
autonomia para o fazer sem apoio.
Trabalho em projectos – Odete Xarepe 28
Responsável - Simão
Grupo – Simão, Filipe F., David
Início – Janeiro 96
Ponto de partida
Plano de projecto
Pela observação
deste registo
verifica-se que,
após o balanço
crítico feito ao
Filipe na segunda
sessão, se passou
para um trabalho
mais conseguido
na terceira
sessão.
Interagiam com o
registo ao longo
do processo e isso
ajudava os
Fig. 21 - Registo das sessões de trabalho de grupo participantes mais
instáveis a
Trabalho em projectos – Odete Xarepe 30
Preparação da comunicação
Foi o Filipe que passou os diapositivos com uma correcta utilização do projector
porque para isso se preparou com a ajuda do Simão, que já o utilizara várias
vezes noutros contextos, com responsabilidade da requisição e da devolução.
Trabalho em projectos – Odete Xarepe 32
Fig. 25 - Diapositivos
elaborados para a
comunicação
Aprenderam ainda que a melhor forma de aprender é ensinar e daí que o trabalho
tenha ganho relevo e profundidade a partir da preparação da comunicação. Daí
terem também procurado formas motivadoras de passar os saberes que
ganharam consistência exactamente por serem motivo de comunicação e de os
alunos serem colocados na situação de “ensinantes”.
Quero ainda referir que no Ficheiro de Projectos consta uma ficha auto-
correctiva que elaborei com contributos do grupo, ficha que foi procurada e
realizada até mesmo no 4º ano.
Ponto de partida
Tudo começou quando o João Pedro, no momento da leitura dos textos, logo de
manhã a seguir às tarefas iniciais, leu o seu texto, juntamente com os outros
colegas que se inscreveram para o efeito. No debate crítico que cada texto
sempre suscita e que constitui, por si só, uma modalidade de trabalho de texto,
este do João Pedro sobre toxicodependência foi motivo de muitas e variadas
questões a que ele, na altura, não conseguiu responder integralmente. Então um
colega propôs que o texto fosse trabalhado (em cada semana planificam
normalmente dois textos livres para serem trabalhados de uma forma mais
aprofundada) em colectivo ou em grupo.
No Plano do projecto não conseguiram registar tudo o que sabiam mas definiram
algumas perguntas, embora a questão fundamental fosse saber por que se
drogam as pessoas e como se pode ajudá-las.
Recolha de informação
Inicialmente não encontraram fontes de informação, uma vez que não havia livros
na biblioteca sobre o assunto. Então como resolveram o problema? Recorreram
aos pais e à comunidade. Como?
Fizeram perguntas aos pais médicos (da Ana Maria e do Simão), trouxeram
folhetos e brochuras da Direcção de Saúde e da Associação Abraço, ouviram e
leram notícias nos meios de comunicação social, arranjaram uma cassete sobre o
tabagismo e o alcoolismo que o pai do André L. disponibilizou.
Trabalho em projectos – Odete Xarepe 36
A recolha de informação passa muitas vezes pela ajuda dos colegas, mas desta
vez o grupo foi auto-suficiente e não sentiu necessidade de outros recursos
neste primeiro
levantamento que fez.
O registo do
desenvolvimento do
projecto menciona seis
sessões de trabalho até
à comunicação final no
dia 12 de Dezembro, um
mês depois. Foi,
portanto, um dos
projectos de mais longa
duração. Uma das
razões foi o facto de
com este projecto ter
Fig. 28 - Registo das sessões de trabalho do grupo interagido um outro
projecto da escola a
propósito do “Dia do Não Fumador”, em que a turma foi convidada a participar
numa exposição no Instituto da Juventude e num desfile pela cidade, organizado
pela Associação Fórmula da Liberdade. Os alunos aderiram ao desfile e muitos
enviaram trabalhos para a exposição.
- apresentação
- assunto
-fim
- apresentação
- assunto
- objectivo - agradecimentos,
opiniões sobre o desfile, a
exposição
- mandamos textos
- fim
-fim
Fig. 39 - Cartas
Este projecto, tal como os outros, além da brochura elaborada pelo grupo e
distribuída por todos, tem fichas no ficheiro, só que estas já foram elaboradas
pelos alunos.
Trabalho em projectos – Odete Xarepe 39
Como atrás foi referido, esta estratégia constitui uma forma de generalizar e
sistematizar as aprendizagens.
Tem sido um assunto bastante procurado pelos alunos para resolução de fichas,
não só porque a comunicação social o traz muitas vezes à baila, como porque os
sinais de toxicodependentes no pátio do recreio da escola se tem repetido.
Houve ainda nova abordagem a esta temática, também vinda do exterior, a
propósito do chamado “Dia D”. Como a mãe do Simão trabalha numa equipa de
apoio a toxicodependentes, foi proposta, na planificação dessa semana, que a
convidássemos para uma conferência sobre os problemas da toxicodependência.
O Simão ficou encarregado de ser o porta-voz junto da mãe e a outra turma do
núcleo foi convidada a participar.
5. Referências bibliográficas
ABRECHT, (1991)
DEWEY, John (1968). O sentido do projecto in Experience et éducation, trad. Luísa Dacosta
CARDINET, (1986)
GLOTON, Robert (1982). Agir ensemble à l´École Aujourd´hui… la padagogie du Project – Paris:
G.F.E.N. Casterman
HADJI, (1994)
HADJI, (2001)
NIZA, Sérgio (1991). O Diário de Turma e o Conselho, in Escola Moderna, nº 1, 3ª série, Lisboa:
MEM
NIZA, Sérgio (1995). A Área-Escola, um debate necessário, in Noesis, nº 33, pp. 16-25, Lisboa:
IIE
NUNZIATTI (1990)
PEÇAS,A, (1999)
PIRES, Júlio (1994). Área-Escola, concepções e práticas – Alguns pontos críticos, in O Professor
XAREPE, Odete (1994). Área-Escola – antes de ser já o era – trabalho fotocopiado de um C.E.S.E.
de Supervisão Pedagógica – Universidade do Algarve
XAREPE, Odete (1996). Projectos? Quantos mais, melhor! – relatório final apresentado ao IIE.