História Foguetes 2
História Foguetes 2
História Foguetes 2
Satélite arti-
ficial: todo e qual-
Corrida pela supremacia mundial quer objeto colocado
em órbita de um
corpo celeste, in-
Entre 1957 e 1958, ocorreu o chamado Ano Geofísico Internacional cluindo a Terra, por
– um grande evento temático que se propôs a reunir cientis- ação de uma civili-
zação espacial.
tas de todas as partes do mundo em atividades voltadas para
o estudo da Terra. Quando os americanos especularam sobre a
possibilidade de lançar um satélite artificial, surgiu a desculpa
perfeita para Sergei Korolev voltar suas atividades para a ex-
ploração espacial: embora o R-7 fosse originalmente um míssil
balístico intercontinental, seus potenciais usos desde o início
incluíam o lançamento de satélites em órbita. Com o anúncio
público dos americanos, Korolev conseguiu autorização do
Partido Comunista soviético para perseguir a meta de lançar
um satélite artificial antes dos Estados Unidos. Ironicamente, a
despeito da promessa, poucos recursos estavam sendo devota-
dos pelos americanos para de fato realizar este feito.
Tudo foi resolvido muito rapidamente e o lançamento do Sputnik 1
veio como uma surpresa. O primeiro satélite artificial terrestre se
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resumia a uma esfera com quatro antenas de rádio, que transmitia
um sinal na forma de bipes. Com cerca de 50 cm de diâmetro e
pesando 80 quilogramas, o efeito psicológico do lançamento foi
avassalador. Mas não na União Soviética.
Lá, no dia após o lançamento, ou seja, 5 de outubro de 1957, o
jornal russo Pravda deu a notícia no pé da primeira página, com
pouco destaque. Mesmo o governo soviético não estava ligan-
do muito para o sucesso. O líder comunista Nikita Khruschev
(1894-1971), sucessor de Stalin (1878-1953), relembrou o episó-
dio da seguinte maneira:
Quando o satélite foi lançado, eles me telefonaram dizendo
que o foguete tinha tomado o curso correto e que o satélite
já estava girando em torno da Terra. Eu parabenizei o grupo
inteiro de engenheiros e técnicos nesse feito impressionante e
calmamente fui para a cama.
O furor aconteceu mesmo no Ocidente. Nos Estados Unidos,
o jornal The New York Times julgou o fato merecedor de uma
manchete de três linhas na primeira página:
Soviéticos disparam satélite terrestre para o espaço;
Está circulando o globo a 18 mil milhas por hora;
Esfera é rastreada em quatro passagens sobre os EUA.
Ao ver a reação dos adversários, os sovi-
éticos perceberam o poder de propaganda
University of Maryland / University Honors
Nasa. www.nasa.gov/
bro de 1957. Diante das câmeras de televi-
são do mundo todo, o foguete americano
levaria ao espaço um “satélite” de massa
ridiculamente pequena, mesmo se compa-
rado ao também pequeno Sputnik 1. Mas o Figura 4.12. Tentativa malograda de lançar satélite
americano em 1957.
lançador subiu por apenas dois segundos
antes de despencar e explodir a plataforma
de lançamento, num acidente espetacular
– e embaraçoso.
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Era um pequeno dispositivo
Guerra Fria foi o continua-
do conflito dissimulado entre com apenas 14 quilogramas, mas
americanos e soviéticos ini- colocava os Estados Unidos na
ciado após a Segunda Guerra corrida espacial.
Mundial. Ele não envolvia com-
bate direto entre as duas su- O mundo inteiro acompanhava
perpotências; em vez disso, os com grande interesse (e muitas
dois lados manipulavam outras
vezes preocupação) esta cor-
nações numa disputa bipolari-
zada pela supremacia mundial. rida. Embora fosse mascarada
A Guerra Fria só terminou com como o sonho humano de atin-
o fim da União Soviética, no gir as estrelas, todos sabiam que
início dos anos 1990.
na verdade se tratava de uma
disputa para mostrar qual das
duas superpotências – e qual sistema político-econômico – tinha
o desenvolvimento científico e bélico mais pujante. Era a Guerra
Fria alimentando a Corrida Espacial. E, no início, os soviéticos
abriram uma enorme dianteira.
Korolev, encorajado pelos sucessos iniciais, conseguiu conven-
cer seu governo a perseguir um programa tripulado.
Em 12 de abril de 1961, o sonho se tor-
nava realidade, com a viagem de Yuri
Yuri Gagarin (1934- Gagarin (1934-1968) à órbita terrestre.
1968) foi o primeiro
homem a atingir o Ele deu apenas uma volta ao redor da
espaço, em 12 de abril
Terra, percurso coberto em 108 minutos,
Nasa. www.nasa.gov/
de 1961. Filho de uma
família humilde e com e retornou ao ponto de partida.
formação de piloto
militar de aviões, tinha A nave que levou o primeiro cosmonauta
o perfil ideal para ser
convertido em herói (modo como os russos chamam seus as-
mundial pelo governo tronautas) da história, a Vostok 1, era to- Figura 4.14. Yuri Gagarin,
comunista da União
Soviética. talmente automatizada. A Gagarin coube primeiro viajante espacial da
história, em seu traje de vôo.
apenas o papel de assistir sentado ao es-
petáculo e contar a novidade à equipe de controle: “A Terra é azul”.
A essa altura, os soviéticos já haviam desenvolvido tecnologias
para que a cápsula fizesse a reentrada na atmosfera e sobrevives-
se a esse processo violento, mas ainda não havia meio de realizar
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um pouso suave – Gagarin teve de ser ejetado
da Vostok 1 quando a cápsula estava a cerca
de quatro quilômetros do chão.
A escotilha da nave se abriu, seus cintos de
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segurança foram automaticamente arrebenta-
AeroSpaceGuide’s.
dos. Dois segundos depois, Gagarin foi atira-
do para fora da espaçonave realizando uma
descida suave de pára-quedas até o chão.
Figura 4.15. Modelo da nave Vostok 1, que levou
Após seu retorno, o cosmonauta foi ovacio- Yuri Gagarin ao espaço.
nado mundialmente. Fez viagens pelos quatro
cantos do mundo, a convite de vários países,
como Finlândia e Inglaterra. Na América, ele passou por Cuba e
pelo Brasil, onde esteve no Rio de Janeiro, em São Paulo e em
Brasília. Sua estada em terras brasileiras começou no dia 29 de
julho de 1961 e terminou em 5 de agosto. No dia 2 de agosto, o
presidente Jânio Quadros (1917-1992) condecorou Gagarin com
a Ordem do Cruzeiro do Sul e, um dia depois, criou o Grupo
de Organização da Comissão Nacional de Atividades Espaciais
(Gocnae), funcionando em São José dos Campos, SP. Era o início
do Programa Espacial Brasileiro.
A missão de Gagarin também enfatizou, mais uma vez, que os
americanos estavam atrás dos soviéticos na corrida espacial. O
presidente dos Estados Unidos, John F. Kennedy (1917-1963),
não gostava nada desta situação. Em reunião com as lideranças
da nova agência espacial americana, Nasa, perguntou qual projeto
poderia colocar, a médio prazo, os ianques à frente dos soviéticos.
A resposta era propor uma missão tripulada à Lua. Em 25 de maio
de 1961, Kennedy, diante do Congresso Americano, profetiza:
Penso que esta nação deve empenhar-se para que o objetivo
de pousar um homem na Lua e trazê-lo de volta à Terra
a salvo seja atingido antes do fim desta década. Nenhum
outro projeto será mais importante para a humanidade,
mais difícil ou mais caro de ser alcançado. (Disponível em:
http://www.hq.nasa.gov/office/pao/History/moondec.html/.
Acesso em: 29 jan. 2009.)
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Entre 1961 e 1969, russos e americanos empreenderam uma fan-
tástica corrida pela Lua. Os americanos dividiram seu pla-
no lunar em três etapas: Programa Mercury (1961-1963);
Programa Gemini (1965-1966); e Programa Apollo (1967-1972).
Com o Programa Mercury, os americanos repetiram o feito sovi-
ético e colocaram John Glenn (1921-) em órbita da Terra, em 20
de fevereiro de 1962.
Posteriormente, com as Gemini, os americanos aprende-
ram o verdadeiro significado das leis de Newton e con-
seguiram efetuar o acoplamento de duas espaçonaves
movendo-se a 28.000 km/h cada. Realizaram também a
Nasa. www.nasa.gov/
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Os russos também mantiveram um ritmo
acelerado, com dezenas de lançamentos. Em
3 de agosto de 1964, o Partido Comunista
havia autorizado o esforço para a realização
de vôos circunlunares (em volta da Lua) e,
finalmente, uma alunissagem (pouso lunar).
Conhecido pela estranha sigla “N-1/L-3”, o
Aerospaceweb. http://www.aerospaceweb.org/
programa previa a construção de três veícu-
los. Em janeiro de 1966, antes que qualquer
uma dessas naves pudesse sair do chão,
Korolev morre – segundo as fontes oficiais,
vitimado por um câncer, após uma cirurgia
fracassada. Sem sua mais forte liderança, o
projeto começa a perder o rumo e não con-
segue realizar sequer um vôo bem-sucedido.
O primeiro teste só pôde ocorrer em 20 de
Figura 4.18. O N-1, foguete russo para a ida à Lua.
fevereiro de 1969 e terminou rapidamen-
te, com um defeito no primeiro estágio do foguete. Outros três testes
foram realizados (3 de julho de 1969, 27 de junho de 1971 e 23 de
novembro de 1972), todos com falhas, também no primeiro es-
tágio. O quinto e o sexto testes foram agendados para 1974, mas
acabaram adiados. O programa foi cancelado em 1976.
Enquanto isso, os americanos continuavam no caminho certo para
a Lua. O esquema da missão era simples. Um foguete Saturno V
(obra-prima de Wernher von Braun) levava até a órbita terrestre
um conjunto de três módulos, um de serviço, um de comando
e um lunar. O primeiro serviria para abrigar os sistemas de su-
porte e manobra do veículo que entraria em órbita da Lua, além
dos propulsores que trariam a nave de volta depois da viagem ao
satélite natural da Terra. O segundo era o local de habitação dos
astronautas durante todo o percurso. O terceiro servia para o pou-
so na Lua. Três astronautas fariam a viagem, dos quais um ficaria
a bordo do módulo de comando numa órbita lunar, enquanto os dois
outros iriam à superfície. O trajeto de cerca de 384 mil quilômetros
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exigia três dias e meio na ida e outros três
dias e meio na volta.
Lançada 24 anos após o primeiro teste de
uma bomba nuclear, 16 de julho de 1969, a
Apollo 11 também marcaria, para sem-
pre, a história da humanidade. No dia
20 de julho, às 21h56, horário de Houston,
EUA, 23h56 no horário brasileiro, Neil
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Assinavam a placa Neil Armstrong, Michael Collins, Buzz
Aldrin e Richard Nixon (1913-1994), então presidente dos
Estados Unidos.
Os três chegaram à Terra no dia 24 de julho, trazendo várias ro-
chas lunares.
A chegada do homem à Lua mostrou as enormes possibilidades
do ser humano e uma visão otimista da tecnologia.
E os russos? Bem, a corrida foi disputada cabeça a cabeça.
Três dias antes do lançamento da Apollo 11, os russos lança-
ram a Luna 15, uma nave não-tripulada cujo objetivo era atingir
a superfície lunar, coletar amostras do seu solo e trazê-las de volta à
Terra, antes que os astronautas da Apollo 11 o fizessem. A Luna 15
jamais regressou; somente em 12 de setembro de 1970 é que os
soviéticos lançaram a primeira missão robótica capaz de pousar
na Lua, recolher amostras do seu solo e trazê-las de volta à Terra.
Àquelas alturas, a Apollo 12 já havia chegado ao satélite natural.
Por anos a fio, os soviéticos negaram ter tido um programa tripu-
lado de ida à Lua. Só quando a Guerra Fria terminou, os detalhes
do projeto (assim como suas deficiências) vieram à tona.
No dia 7 de dezembro de 1972, a Apollo 17 parte na última mis-
são do programa. O vôo marcou a primeira visita de um cientista,
mais especificamente um geólogo, Harrison Schmitt (1935-), à
superfície da Lua. Acompanhado por Eugene Cernan (1934-),
ele realizou o último pouso lunar do século 20 a bordo do mó-
dulo lunar Challenger, enquanto Ronald Evans (1933-1990) os
esperava no módulo de comando América. O retorno ocorreu
em 19 de dezembro.
Se americanos e russos tivessem mantido o ritmo de desenvol-
vimento e investimentos da época da corrida espacial, é quase
certo que o ser humano já teria pousado em Marte. Entretanto,
os elevados custos dessas missões levaram ao arrefecimento
dos ânimos, de ambos os lados. A partir de então, os russos ca-
minharam em direção ao desenvolvimento de estações espaciais,
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da qual a Mir [que significa paz em rus-
so] foi a grande vedete. Ela ficou em ór-
bita de 1986 a 2001.
Os americanos, por outro lado, partiram
para o desenvolvimento dos ônibus es-
paciais e, numa homenagem ao vôo de
Gagarin, lançaram o seu primeiro ônibus
espacial, o Columbia, em 12 de abril de
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de uma nova fase. Os investimentos dos diferentes países respon-
dem por cerca de 100 bilhões de dólares – o maior projeto de
cooperação internacional da história da humanidade.
Embora seja um excelente laboratório de pesquisa, a ISS não
vai a lugar algum – apenas gira em torno da Terra. Portanto,
ela não responde por nossos anseios de exploração. Após a
corrida para a Lua, o lado exploratório ficou apenas por conta
de sondas automáticas.
Robôs no espaço
Pegando carona na disputa pela supremacia político-econômica
no planeta Terra, cientistas soviéticos e americanos desenvolve-
ram espaçonaves capazes de pesquisar outros planetas do Sistema
Solar. Desde então, quase 200 sondas deixaram a Terra com des-
tino aos planetas e luas do nosso sistema planetário. Foi a corrida
espacial fomentando a pesquisa espacial.
As primeiras tentativas de enviar espaçonaves não-tripuladas
para explorar o espaço ocorreram no final dos anos 1950 e início
dos anos 1960. Os alvos iniciais foram primeiro a Lua e, pouco
depois, os planetas vizinhos: Vênus e Marte.
Até hoje, o satélite natural da Terra foi o
único corpo celeste a passar pelas quatro
fases possíveis de excursão não-tripulada.
Num primeiro momento, ocorrem os so-
brevôos – a sonda apenas faz uma visita
rápida, tira umas fotos e toma algumas lei-
turas enquanto passa pelo objeto-alvo. As
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