Pen Pal WL
Pen Pal WL
Pen Pal WL
A resposta dele?
Você.
Ele disse que não. Eu disse que nunca nos conhecemos, mas ele
disse que eu estava errada.
~ A Divina Comédia
Está chovendo enquanto o caixão do meu marido está
descendo num buraco no chão. Chovendo forte, como se o próprio
céu estivesse prestes a se rasgar ao meio como o meu coração.
Deve ser por isso que me sinto tão entorpecida. Estou vazia. A
dor me despedaçou, espalhando meus ossos em um deserto, onde
eles vão assar em silêncio sob um sol impiedoso por mil anos.
Preciso ficar sozinha com a minha dor. Não sou uma daquelas
pessoas que gostam de lamentar uma tragédia. Especialmente
quando a tragédia é minha.
Dante.
Mas Michael não queria uma casa nova. Ele preferia casas
mais antigas com “caráter”. Quando nos mudamos para o Queen
Anne Victorian há seis anos, éramos recém-casados com mais
energia do que dinheiro. Passamos fins de semana pintando e
martelando, tirando carpetes velhos e remendando buracos em
drywall.
1
Analgésico opioide;
Substituíamos um cano de água quebrado, então o aquecedor
se desligava. Renovávamos os antigos eletrodomésticos da
cozinha, depois encontraríamos mofo tóxico no porão. Foi um
carrossel interminável de reparos e substituições que drenaram
nossas economias e nossa paciência.
Uma prova de como estou exausta é que nem pulo com o som.
Eu não consigo dizer o que me leva a fazer isso, mas antes que
eu perceba, estou sentada escrevendo uma resposta. Rabisco no
verso da carta que Dante me enviou.
Você.
Não sei por que, mas estou esperando um homem mais velho
com a cabeça careca e barriga de cerveja usando um cinto de
ferramentas pendurado nos quadris. Em vez disso, o que recebo
quando abro a porta da frente é um jovem sorridente e esbelto,
com longos cabelos castanhos afastados do seu rosto por uma
faixa de couro trançada. Ele está vestindo uma camiseta de John
Lennon, calça boca de sino desbotada e sandálias, e segura uma
caixa de ferramentas de metal enferrujada em uma das mãos.
— Legal.
— Grite se você precisar de mim. Estarei por perto.
— Certo.
Sou muito reservada para viver tão perto de pessoas com quem
não faço sexo, mas não julgo as escolhas de vida de ninguém.
De pé, ele se vira para olhar para mim. — Posso te dar o nome
do meu médico se você quiser. A menos que você não ache que o
estresse possa ser um problema para você.
2
Uma commune tende a ser autogerida, mais como uma co-op. Mas ao contrário das co-op, que pelo
menos em Nova York possui termos imobiliários, descreve um grupo que co-gerencia um prédio de
apartamentos mas que vive em grande parte vidas separadas, nas commune os moradores compartilham a
maioria de seu espaço e recursos;
— Perder meu marido conta como estresse?
Eu não sei por que disse isso. Ou por que disse ironicamente.
Normalmente não uso meu coração na manga, e não sou
sarcástica como Michael era. Ele lidava com coisas depressivas ou
mórbidas com humor negro que às vezes parecia insensibilidade,
mas eu sabia que era apenas um mecanismo de enfrentamento. O
homem era um marshmallow.
— Obrigada.
— Foi recente?
Ele ri, balançando a cabeça. — Sim, não sei por que, mas os
reparadores de telhados são notoriamente esquisitos. Eu te faria
uma recomendação, mas não conheço ninguém em quem confie
com um trabalho como esse.
— Isso é muito gentil da sua parte, Eddie. Mas posso lidar com
isso. Eu venho de uma longa linhagem de garotas de Jersey
arrasadoras.
— Isso é verdade.
— Não, isso não está certo. Você deve ser recompensado pelo
seu tempo.
Ele sai. Quando ouço a porta da frente abrir e fechar, vou atrás
dele para ter certeza de que está trancada. Depois vou até a
cozinha pegar um copo de água, mas paro quando vejo o envelope
sobre a mesa.
Dante
Fico ao lado da janela da cozinha com a carta nas mãos e a
leio novamente à luz cinzenta da tarde. Então novamente. Então,
mais uma vez, porque é tão bizarro, meu cérebro se recusa a
apresentar qualquer explicação plausível para isso.
POSSÍVEIS EXPLICAÇÕES
Ele está na prisão, afinal. Para chegar lá, ele teve que fazer
algo ruim. Assim, o homem tem o que poderia ser educadamente
chamado de moral comprometida. Ele provavelmente vasculha a
seção de obituário dos jornais e envia essas cartas para novas
viúvas em todo o lugar, esperando que uma delas morda a isca e
escreva de volta para que ele possa iniciar um relacionamento e
seduzi-la a enviar grandes somas de dinheiro.
Não que ele tivesse uma razão para enviar uma ameaça.
Michael não tinha nenhum inimigo, e nem eu. Nós somos um casal
comum de classe média, ao mesmo tempo sobrecarregados e
cansados, então nossa ideia de diversão é aconchegar-se no sofá
para assistir a um filme nas noites de sexta-feira.
Por outro lado, ele fez algo para se colocar na prisão. E se fosse
algo violento?
Ou um animal.
Há.
Ele fica na porta olhando para mim em silêncio intenso até que
eu digo: — Posso ajudá-lo?
— Aidan.
Quando fica claro que é tudo o que ele vai dizer, presumo que
esteja procurando por alguém chamado Aidan que ele acha que
mora nesta casa.
— Desculpe, não há nenhum Aidan aqui.
— Você imita uma pessoa que sabe ser educada? Isso pode ser
útil de vez em quando. Como agora, por exemplo.
Seu tom rude faz meus pelos arrepiarem. — Eu não faço festas
do chá com animais selvagens. E sim, eu gostaria que minha casa
fosse consertada, mas não pago as pessoas para serem más
comigo. Além disso, meu nome é Kayla. Caso você não tenha
notado, as mulheres são indivíduos reais. Então você vai agir como
um ser humano agora ou vai embora?
Eu sorrio e solto sua mão. — Ok. Agora que tudo isso está fora
do caminho, você pode me ajudar com meu telhado? Estou
desesperada.
Quem é você? O que você quer? Por que você entrou em contato
comigo? Você disse que me conhece, mas está errado. Não conheço
ninguém com o seu nome, muito menos alguém na prisão.
Sinceramente,
Kayla
Demoro um pouco para me recompor, jogo água da torneira
do banheiro no rosto e enxugo os olhos. Coloco um selo em um
envelope, coloco a carta dentro, fecho-a e levo-a para a caixa de
correio.
Se ele for como a maioria dos homens que conheço, ele prefere
mastigar o próprio braço a ouvir os detalhes, então mudo de
assunto. — Ficarei melhor se você me disser que pode consertar
meu telhado.
— Oh. Sério?
Nós nos encaramos em silêncio até que ele diz: — Você vai ficar
menos feliz quando eu lhe disser quanto vai custar.
— Fora que acabei de fazer você rir, então talvez eu seja hilário
e você esteja feliz.
Quando apenas olho para ele, ele diz: — Você foi por um
segundo, de qualquer maneira.
— Sim.
— Dólares?
Ele é tão grande que faz com que a mesa e as cadeiras pareçam
pertencer a uma classe de jardim de infância.
Quando ele rasga o pedaço de papel do bloco e o estende para
mim, eu pego e olho. — A mão de obra é oito mil, mas os materiais
são apenas dois?
— Não estou mentindo para você, Sr. Leighrite. Não tenho dez
mil dólares.
— É.
— Nós estamos.
— Quem disse?
— Eu!
Seu olhar está reto e sua voz fria. — Você tem outro lugar para
estar, Kayla?
Ele caminha até onde estou e olha para mim. — Sou eu. Eu
sou o cara. Estarei de volta na primeira hora da manhã. Dinheiro
ou cheque, não aceito cartão de crédito.
Abro a porta e olho para ele. — Bom dia, Sr. Leighrite. Qual é
a emergência?
— Pareço que não estou bem? Não, não responda isso. Por que
você estava tentando arrombar minha porta?
— Vejo que seu senso de tempo é tão bom quanto seu senso
de humor.
Ele levanta o braço. Enrolado em seu pulso grosso está um
relógio preto grosso. Algum tipo de coisa esportiva que rastreia
seus passos e espiona você enquanto dorme. Ele bate no cristal. A
leitura mostra dez depois das oito.
Até que ele exige: — Olha, você vai me deixar entrar ou não?
Quantos anos ele tem? Trinta? Trinta e cinco? Difícil dizer. Ele
está em ótima forma, qualquer que seja a idade. Deus, esses bíceps
são enormes. E essas coxas poderiam esmagar um Volkswagen.
— Sabe, acho que você mentiu quando disse que não tem
senso de humor. Acho que você é um grande comediante.
— Oh não.
Mas seu olhar não é tão tranquilo quanto sua voz. Seus olhos
são como seu punho batendo na minha porta da frente, exigindo
uma resposta em voz alta.
Estou aliviada até que ele se vira e olha para mim. Seus olhos
estão escuros e penetrantes. Parece que eles podem ver direto até
o fundo da minha alma.
— Sim. Você?
Quero perguntar por que ela está aqui, mas não pergunto.
Ainda não conheço as regras. E não quero ofender alguém tão legal
que provavelmente pode dizer que estou em pânico.
Como se pudesse ler minha mente, ela diz: — Minha filha foi
sequestrada quando tinha quatro anos. A polícia nunca a
encontrou.
Quase derrubo meu café. Em vez disso, cubro minha boca com
a mão e sussurro: — Oh, meu Deus. Eu sinto muito.
— Olivia faria dez anos agora. Não consigo dizer quantas horas
passei pesquisando sites de pornografia infantil na dark web,
procurando por ela. A única coisa que me impede de me matar é a
esperança de que um dia eu veja uma garota em um daqueles
vídeos horríveis com um olho azul e um castanho, e eu possa
abraçá-la novamente.
Com lágrimas surgindo em seus olhos, ela diz com voz rouca:
— Você acha que ela poderia me perdoar?
É tarde demais para fingir que não o vi. Então faço um aceno
curto e vou até o bar. Deslizo para um banquinho e olho na direção
oposta, examinando a decoração.
— Peço desculpas.
Ele olha para o meu perfil com um foco tão inabalável que eu
quero perguntar se ele está tentando memorizá-lo para que ele
possa reconhecer de uma lista de polícia.
Merda.
Olho para ele com o canto do olho. Ele está de camiseta preta
e jaqueta de couro preta esta noite, com jeans para combinar. Até
suas botas são pretas. Ele se parece mais com o fundador de um
clube de luta subterrâneo do que nunca.
Eu sei o que ele quer dizer com “ele”, e quase rio com isso.
Michael era a pessoa menos agressiva do planeta. Ele não podia
nem assistir a uma luta de boxe porque a violência o incomodava
muito.
— Não.
Sei que não devo nenhuma explicação a esse cara, mas ele
está sendo gentil comigo, e ele está obviamente preocupado, então,
relutantemente digo a ele uma meia verdade.
— Ele... me deixou.
— Não.
Ele solta um suspiro pelo nariz que pode ser uma risada. —
Ok. Vou acreditar em sua palavra.
— Aidan...
Ele não sorri. Ele não responde. Ele simplesmente olha direto
nos meus olhos e espera.
Ele pega meu queixo em sua mão e vira minha cabeça para
que eu esteja olhando em seus olhos.
Meu rosto está tão quente que parece queimado de sol. Meus
ouvidos também. — Eu deveria ir.
— Não fuja.
— Eu sei o suficiente.
Ele puxa minha mão do meu rosto e não à solta. Ele coloca a
outra mão em volta da minha bochecha e gentilmente vira minha
cabeça em direção a ele.
Quando estou olhando para ele, ele diz: — Você disse que era
uma boa observadora para besteira. Então me diga se você acha
que isso é besteira. Quero você. Você também me quer. Você está
triste. Eu quero fazer você se sentir melhor, mesmo que isso
signifique apenas esta noite. Você não tem medo de mim. Você
sabe que não vou te machucar. Você está um pouco fodida agora,
você não está acostumada com as pessoas dizendo exatamente o
que elas querem dizer, e você não tem certeza de como lidar com
isso.
Seu olhar cai para minha boca novamente. Sua voz sai rouca.
— E você quer que eu te beije.
— Senhor...
— Mas eu não quero você bêbada. Quero que você se lembre
de tudo para que volte para mais.
— De nada.
Mas ele está certo sobre uma coisa. Eu não tenho medo dele.
Ele não é o que você chamaria de normal, pelo menos em relação
a minha experiência com os homens, mas ele só me deixa nervosa,
não com medo.
Ele ri. — Vou trocar de lugar, mas vou te avisar que ainda
estarei dominando a mesa.
Minha boca fica seca. Tenho que tomar outro gole de uísque
antes que possa falar novamente. — Não que eu esteja dizendo que
vou dormir com você, porque eu não vou, mas apenas por uma
questão de conversa, você deveria saber que sou o tipo de garota
sem luz acesa.
— Por quê?
— Só porque você não as teve antes, não significa que elas não
aconteçam.
— O quê?
— Cegos?
— Ok.
— Estou falando sério, Aidan. Eu não estou com a cabeça no
lugar certo para ficar com alguém agora.
— Eu te escutei.
Nós nos encaramos por um momento, até que ele diz baixinho:
— Mas espero que não. Eu realmente quero fazer você gozar.
— Ok.
— Por favor, pare de dizer isso. Você faz com que a palavra não
pareça nada com o que ela significa.
Seus lábios se curvam para cima. Seus olhos escuros dançam
com uma luz travessa. Ele murmura: — Tudo o que você disser
chefe, — e parece que ele acha que me conhece melhor do que eu.
— Isso é ridículo.
Ele olha de um lado para o outro entre nós, então se vira e sai
novamente.
— Adeus, Aidan.
Dante
Desta vez, encontrei a carta na caixa de correio. Sem aparições
misteriosas na mesa da cozinha, mas ainda um grande mistério
sobre por que veio em primeiro lugar.
Todas essas coisas fazem todo o sentido até que o piso range
novamente e tenho que abafar um grito.
Não sei quanto tempo fico assim antes de decidir que estou
sendo boba.
Saia de casa!
Ou roupa de baixo.
Com a voz rouca, ele diz: — Vamos te aquecer. Então você pode
me dizer o que aconteceu.
Ele volta com uma toalha branca fofa nas mãos e ordena: —
Levante-se.
Embora eu geralmente fique rabugenta quando alguém me dá
ordens, obedeço sem protestar. Ele envolve a toalha em volta das
minhas costas e ombros e começa a esfregar meus braços com ela.
Sem olhar para o meu rosto, ele diz: — Não tenha vergonha.
— Não.
— Venha comigo.
Ele leva-me pela mão para fora da cozinha e pelo corredor até
seu quarto. Enquanto ele entra em seu armário e acende a luz,
olho para sua cama, que se resume a um travesseiro e um cobertor
em cima de um colchão estendido no chão. As únicas outras coisas
no quarto são uma cômoda de madeira simples em uma parede, e
uma estante cheia de livros na outra.
— Aidan?
— Sim, Kayla?
— Eu sei, mas…
— Mas o quê?
— Oh. Oh.
— Sim. Então...
— Oh.
— Por quê?
E tão. Bom.
Ele beija meu queixo, meu pescoço, meu peito. Meus seios
também, bruscamente e avidamente. Arqueio minhas costas e
fecho meus olhos, amando a sensação de sua barba contra a
minha pele. Como ele está respirando forte. Não como se estivesse
me tratando como uma coisa frágil e quebrável, mas como se ele
pensasse que sou forte o suficiente para lidar com o que ele quer
me dar.
Ele beija e lambe meu estômago até o cós do meu jeans, então
desliza a ponta de sua língua por baixo. Quando estremeço,
gemendo, ele ri.
Ele continua chupando até que imploro para ele parar porque
está muito sensível. Então, ele se levanta, tira meu jeans pelo resto
das minhas pernas, abre os botões de sua braguilha e tira seu
próprio jeans.
— Sim!
Ele estende a mão e aperta meu peito com força. — Tão bom
pra caralho, — ele sibila. — Jesus Cristo. Kayla. Porra. Estou...
Essa sensação de euforia volta. Sem saber que vou fazer isso,
começo a rir.
Respirando com dificuldade, Aidan abre os olhos e olha para
mim.
— Fez sexo?
— Besteira.
— Acabei de dizer que você vai passar a noite. Você pode sair
de manhã e ter o resto de sua vida para se preocupar se isso foi
um erro, mas, por esta noite, você vai ficar aqui.
Ele flexiona os quadris quando diz “aqui”, deixando-me saber
que ele ainda não terminou de fazer sexo comigo.
— E se eu quiser ir embora?
— Sua boca fica toda franzida e seu nariz enruga. Você parece
uma velhinha certinha.
— E daí?
— Sim, senhora.
Com a boca perto do meu ouvido, ele diz com uma voz rouca:
— É disso que você precisa, baby? Você gosta de bruto? Ou você
quer que eu recite um pouco de poesia e faça uma porra de uma
xícara de chá?
— Isso! Isso!
Eu gosto dele.
— Sim.
— Sério?
Seu corpo inteiro fica tenso. Seus olhos, já tão escuros, ficam
pretos. Suas narinas se dilatam, e juro por Deus, Aidan
desaparece, substituído em um instante por um predador.
Ele puxa minha cabeça pelo meu cabelo, esmaga sua boca na
minha e me beija vorazmente.
— Ai!
Eu sei que tudo isso faz parte do jogo. Eu sou o rato e ele é o
gato, e ele quer que eu lhe dê permissão para arrancar minhas
tripas e me comer. Mas os ratos não dão permissão aos gatos para
comê-los, e eu também não.
— Não!
Com a voz baixa e sombria, Aidan diz: — Oh, eu não vou soltar
você, minha coelhinha doce. Você nunca vai ficar longe de mim.
Mas não há como eu ganhar este jogo pela força bruta. Ele me
venceu nesse departamento. Então este coelhinho vai ter que usar
seu cérebro.
— Sim!
Sua risada sem fôlego soa triunfante. — Eu sei que você gosta,
querida. Essa é a minha boa coelhinha.
Não. Posso não ser a maior faladora do mundo, mas até eu sei
que isso não é nada bom.
Ele murmura: — Nunca conheci uma mulher que pensa mais
alto do que você.
Seu marido morreu não faz um mês inteiro e você já fez sexo
com outro homem! Como você pôde?
Quão carente.
Levanto a cabeça e olho para ele. Ele olha para mim com um
leve sorriso, seus olhos quentes.
— Não é ruim.
— Que cara?
— Foda?
Eu quase rio alto. — Não existe tal coisa. Eu amo o quão bruto
você é.
Uma, porque o que quer que ele tenha feito, foi obviamente
ruim. E por ruim quero dizer violento. E dois, ele está disposto a
me contar, mas tem medo das consequências. Ele está com medo
que eu enlouqueça e saia correndo pela porta.
O que significa que três, ele está tão envolvido nessa situação
inesperada entre nós quanto eu.
Não, passado. O que sugere que seu pai não está mais na terra
dos vivos.
— Ei.
— Excelente. Obrigada.
— Sem problemas.
— Sim.
— O que é isso?
— Não, eu entendo.
Ele concorda.
— Sim e sim.
— Por quê?
Digo com altivez: — Não concordo com uma surra por causa
de dinheiro.
3
O smart hub é o hub central que conecta todos os dispositivos inteligentes dentro de uma residência;
— Eu não tenho ideia do que é isso.
— Eu entendo.
— O quê?
— Bom.
— E agora?
— Não.
— Ok, olhe. Eu vou ser direto com você. Aidan não se aproxima
das pessoas. Não confia nelas.
Sua pausa parece significativa. Eu digo: — E...?
Quando ele para e estala o chiclete, acho que sei aonde ele
quer chegar, e minhas bochechas ficam quentes de novo.
— Ai.
— Eu sou.
Ele faz uma pausa para sorrir para mim. — Espero vê-la
novamente, Kayla. Seria muito bom se Aidan tivesse uma garota
com quem eu e minha esposa pudéssemos sair para um encontro
duplo. Eu sei que ele se sente como uma terceira roda às vezes.
— É claro.
4
Aquele que odeia a humanidade ou sente aversão às pessoas;
Olhando nos meus olhos e olhando como se quisesse me
agarrar e me devorar, ele diz rispidamente: — Sim? Mais alguma
coisa que você admira, coelhinha?
— E?
Ele olha fixamente para mim, seu olhar afiado. — Duas coisas.
— Oh não. Por que tenho a sensação de que isso vai acabar
mal para mim?
Ele está muito sério agora, olhando para mim com uma
intensidade ardente, uma luz estranha atrás de seus olhos. Não
sei por que, mas meu pulso dispara.
Deixo cair meus braços ao meu lado e digo: — Por favor, não
me faça responder isso.
— Que conversa?
— Sim. Você. Duas vezes. Você não quis dizer isso nenhuma
vez. Volte aos trilhos e me diga o que preciso ouvir.
Faço uma pausa por um instante, mas ele não nega, então
continuo.
Ele sai!
Grito atrás dele: — Quer saber? Eu só estava brincando! Eu
inventei tudo isso!
Ok, isso é muito, mas você entendeu meu ponto. Todos nós já
ouvimos sobre o romance do amigo da prisão que deu errado. Não
que eu esteja sugerindo que haja algo romântico aqui, veja bem! Só
que vou parecer muito estúpida se você escapar da prisão e me
matar.
Por enquanto é isso. Duvido que você leia esta carta, porque
tenho noventa por cento de certeza de que vou rasgá-la, mas se não,
bem...
Atenciosamente,
Kayla
São três horas da manhã quando termino a carta. Estou
acordada desde a uma, andando pelo meu escritório, incapaz de
dormir. Minha mente gira como um carrossel frenético de
perguntas.
Porra.
Comigo mesma.
Armada com minha nova raiva, respiro fundo e vou até a porta.
Coloco minhas mãos sobre minha boca para abafar meu grito
aterrorizado.
É totalmente decepcionante.
Debato se devo ou não ligar para Aidan, mas decido que não.
Não sei sobre o que foi sua estranha reação ontem, mas sei que
não vou recompensá-lo por fugir depois de insistir que eu lhe
mostrasse todas as minhas cartas.
Não sei exatamente o que estou esperando, mas seja o que for,
já estou com medo.
Até agora.
Ou de debaixo d'água.
Vou agora.
Antes que eu possa bater, Aidan abre a porta.
Ele não está vestindo uma camisa, então meus seios estão
pressionados contra seu peito nu. Sua pele está lisa e quente, e ele
parece maravilhoso.
— Acho que você deveria estar dizendo o porquê você saiu sem
se despedir ontem, — provoco.
Ele ri.
Olhando para mim com aqueles olhos escuros acesos, ele diz:
— Precisamos ter uma palavra de segurança, apenas no caso.
— É uma palavra que faz com que tudo pare quando você a
diz.
— Porque é brega.
Faço uma careta para ele. — Sério? Como você ainda é dono
de um negócio? Você conhece a linguagem de sinais ou algo assim?
— Aidan?
— Sim, baby?
— Preciso de mais.
— Por favor?
Seu gemido é suave. Ele puxa meu clitóris, beliscando-o
suavemente entre dois dedos para provocar um suspiro, junto com
mais necessidade e remexer de bunda.
Eu sussurro: — O quê?
— Eu sim!
— Tempo.
— E prática.
— Muita prática.
— Brega.
— Boa menina.
Como ele, sem dúvida, sabia que aconteceria, isso me faz ter
um orgasmo instantaneamente.
Não sei. Tentei ser. Mais do que tudo, eu queria fazê-lo feliz.
Ele queria que eu fosse feliz também, e eu achava que éramos
perfeitos um para o outro. Todos os nossos pedacinhos irregulares
combinaram. Nós nos encaixamos.
Eu vi acontecer.
Ele ri. — Você não pode culpá-lo. Ele tem uma linda mulher
nua em sua cama.
— Estou obcecado por esse som, — diz ele, sua voz mais
sombria. — Com todos os sons que você faz. Não me canso de você,
Kayla.
— Não é de frio.
— O quê?
— Defina excêntrico.
Sorrio para ele. — Você diz isso como se já não soubesse que
adoro quando você me dá uma surra.
Quando ele exala com o mais fraco dos gemidos, sei que o
agradei.
— Ainda não.
Agarro sua ereção com uma mão e abaixo minha cabeça para
lamber a coroa. Aidan cantarola de prazer, um som que vibra
deliciosamente pela minha pélvis. Então ele achata a mão na parte
inferior das minhas costas e me força a deitar de bruços, pele com
pele, enquanto ele chupa minha boceta com a língua e eu chupo
seu pau.
— Boa menina.
Ele me elogia com palavras que ouço, mas não entendo. Estou
em algum lugar distante, voando pelo espaço, minha mente em
chamas com fogos de artifício, meu corpo totalmente fora do meu
controle.
Ele puxou uma corda que eu não sabia que estava escondida
e me desvendou de dentro para fora.
— Sim?
— Sim.
— Sim e não.
Ele não se explica mais. Tenho a sensação de que ele está
esperando que eu diga alguma coisa, mas não posso ter certeza.
— Posso fazer uma pergunta?
— Sério?
— Nem eu.
— Isso. Nós. Você e eu. Como é tão fácil. Como é tão simples.
Como parece certo. Mas você ainda está usando seu anel de
casamento e não se sente confortável em me beijar em sua casa, e
isso me diz tudo que preciso saber sobre onde está sua cabeça. Eu
entendo, realmente entendo. Toda a sua vida foi virada de cabeça
para baixo. É compreensível que você não esteja pronta para isso.
Mas tenho que ser honesto. Não serei um rebote. Não vou ser o
cara com quem você se distrai por um tempo para se sentir melhor
e depois se afasta quando quiser. Então, acho que devo diminuir
meus danos agora antes que meu coração seja despedaçado,
porque já posso dizer que você vai me destruir se isso continuar
por muito mais tempo e você for embora.
Isso me tira o fôlego. Fico ali deitada olhando para ele com os
olhos arregalados e o coração acelerado, chocada com sua
honestidade.
— Você não pode decidir como isso vai acontecer antes mesmo
de ir a qualquer lugar, Aidan. Entendo não querer ser um rebote,
mas você pode apenas dizer: 'Ei, vamos devagar' ou 'Vamos falar
sobre suas expectativas aqui', mas em vez disso, você decide
unilateralmente que está terminando comigo? Antes mesmo de
sermos oficialmente algo? Ah, foda-se. Não é assim que funciona.
Você pode mandar em mim na cama o quanto quiser, mas quando
se trata de tomar decisões sobre nosso relacionamento, estamos
fazendo essa merda juntos. Eu me recuso a ser um caso de uma
noite.
Então me lembro que não tenho uma única maldita perna para
me apoiar. Minha raiva está fora de lugar.
— Rainha do drama.
— Tirano.
— Pode apostar sua bunda doce que sou. E você gosta disso
em mim.
Ele espera a confirmação enquanto encaro seu queixo.
— Kayla.
Ele balança a cabeça, o que acho que significa que não vou
conseguir uma explicação.
— E qual é?
Meu olhar é afiado. Seu olhar é escuro. Então sorrio para ele,
porque ele obviamente entendeu meu ponto de vista, e eu
realmente não estou com disposição para mais discussões.
— Tenho certeza.
— Que casa?
— Minha casa.
— Posso ver?
— Eu quis te assustar.
Nós nos encaramos do outro lado da mesa até que ele empurra
o prato e se senta na cadeira. Sua voz baixa e seu olhar ardente,
ele diz: — Venha aqui.
Ele lambe os lábios. Seu olhar cai para minha boca. — O que
mais?
— Eu sei.
— Sim, senhor?
Um pequeno e delicado estremecimento percorre seu peito
quando o chamo assim. Ele murmura: — Cristo. Você vai ser a
minha morte, não vai?
— Ah, vamos lá, Clube da Luta. Você é forte. Pode lidar com
isso.
— Posso, por favor, ter permissão para lhe dizer que você é um
pé no saco?
No meu carro.
Mas por que a mãe dele acharia uma boa ideia levar esse
garoto para brincar no meu gramado? A casa fica no meio de dois
hectares arborizados. Você tem que fazer um esforço para chegar
aqui. A menos que eles andassem pela praia? E onde está a mãe
dele, afinal? Não há nenhum adulto à vista. Apenas este pequeno
pré-escolar alegre rolando na minha grama.
— Porque há. E quero que você lembre que isso vem de uma
preocupação com você e seu bem-estar.
Quando ela faz uma pausa muito longa, olho para ela,
nervosa. Em seu rosto há uma expressão curiosa. É parte
preocupação, mas principalmente antecipação. Pelo menos acho
que é isso. Ela está olhando para mim com uma luz estranha em
seus olhos, como uma pessoa viciada em jogos de azar olha para
uma máquina caça-níqueis.
— O quê?
Ela diz ameaçadoramente: — Acho que algo está incomodando
você.
Com minha voz fraca, digo — Um pote de mel voou para fora
do armário por conta própria. Uma moeda que coloquei em um
lugar apareceu em outro. E todas as gavetas e armários da cozinha
estavam escancarados de manhã quando desci.
— O quê?
— Sim está certo. E até que eles consigam, eles estão presos
aqui, vagando pela terra, na miséria.
Nós olhamos uma para a outra do outro lado da sala, até que
eu finalmente desisto.
— Correto.
— Quem é ela?
— Exatamente.
Seus olhos azuis brilham. Sua voz cai. — Isso não é uma
piada, minha querida. Deve-se ter extrema cautela ao lidar com
seres de outro reino. Eles são muito imprevisíveis. Se provocados
à raiva, eles são bem capazes de violência.
5
Department of Motor Vehicles, a versão estadunidense do Detran no Brasil;
— Não entendo.
Fiona olha para a mesa. Ela estende as mãos por cima. Parece
estar calculando alguma coisa.
— O que há de errado?
— Excelente.
— Bom.
Tudo o que o amor pede de você deve ser dado, não importa o
preço.
Dante
É sábado. A chuva caiu continuamente dia e noite esta
semana, diminuindo para uma garoa apenas para ganhar força e
bater no solo saturado mais uma vez.
Sei que são apenas meus nervos esgotados que fazem parecer
que o barco está me observando.
Trabalho o resto do dia com a carta de Dante fervendo na
minha mente até que uma mensagem chega.
O que eu ganhei?
— Eu sei. Agora venha aqui. Você tem dez minutos. Mais tarde
do que isso, você será punida. — Ele desliga.
Decido que ainda não sou tão corajosa. Estou fora da porta em
menos de um minuto. E mais uma vez, Aidan abre a porta de seu
apartamento antes mesmo que eu tenha a chance de bater.
Parando o beijo, ele puxa minha blusa, joga de lado. Meu jeans
é puxado em seguida. Ele rosna em desaprovação quando me vê
usando calcinha e a tira impacientemente. Quando estou de pé na
frente dele totalmente nua, ele abre a braguilha de sua calça jeans
e ordena rispidamente: — De joelhos.
— Tão doce pra caralho. Tudo sobre você. Amo sua boca doce,
minha boa menina.
— Acalme-se, baby. Você vai ter meu esperma, mas ainda não.
Ele sabe. Claro que ele sabe. Sua risada é suave e intensa.
— Você precisa abrir suas pernas para mim e levar fundo esse
pau, não é, baby? Você precisa que seu mestre te foda.
Aceno freneticamente.
— Não!
— Liberdade!
Eu grito, estremecendo.
Seu domínio total sobre meu corpo faz algo frágil dentro do
meu peito se partir como um galho.
Ele geme. Com uma voz fraca e sem fôlego, ele diz: — Doce
menina. Minha boa menina. Implore por mim.
Fecho os olhos e obedeço. — Por favor, mestre. Por favor, foda-
me. Foda-me com força.
Soltando meus pulsos, ele agarra meu quadril com uma mão
e empurra o sofá com a outra. Ele fica de joelhos, mantendo seu
pau dentro da minha bunda e me trazendo com ele. Ele me
estabiliza e apoia um pé contra o chão, então agarra meus quadris
com as duas mãos enquanto se ajoelha atrás de mim.
Por “vivendo” ele quer dizer “nós”. Essa coisa que estamos
fazendo juntos, seja o que for. E ele está certo, de certa forma.
Estou levando um dia de cada vez. Não há outra maneira de dizer.
Ele caiu na minha vida como um meteoro caindo na terra, bem
quando eu estava mais quebrada do que já estive.
— Sim.
— Obrigada.
— Sei que você pensa que sou forte. Mas o problema com
coisas fortes é que elas são quebráveis. Elas não podem ceder sob
estresse. Elas simplesmente quebram.
Acho que não estou pronta para isso. Parece que ele também
não. Somos ímãs que não querem ser ímãs, reunidos por
elementos invisíveis além do nosso controle.
Não tenho palavras nem vontade de dizer a ele que seria mais
sensato diminuir a velocidade desse trem desgovernado antes que
ele saísse dos trilhos e matasse todos os passageiros. Além disso,
não passamos desse ponto, afinal?
A resposta óbvia é sim. Nós passamos. Nós pulamos os
jantares e conversas educadas e pulamos direto para sacanagem
pervertida.
Diga a ele. Apenas conte a ele sobre Michael. Diga a ele o que
aconteceu. Ele merece saber.
— Tenho trinta.
Engulo. Meu pulso começa a acelerar. Não sei por que isso
deveria ser tão difícil. Eu disse a Eddie, o faz-tudo, que meu marido
estava morto e que ele nunca me fodeu na bunda e me chamou de
coelhinha.
Finalmente, digo: — Foi isso que você fez com seu pai?
Com sua voz mais baixa, ele diz: — Você não precisa ter medo
de mim.
— Eu não tenho.
— Eu sei.
Ele diz com urgência: — Estou mais velho agora. Mais esperto.
Tive muito tempo para pensar sobre o que fiz. E se acontecer de
novo, estarei mais bem preparado.
Meu coração martela contra meu peito. — Vou fingir que você
não acabou de me dizer que sabe como se safar de um assassinato.
Ele chupa meu clitóris até que eu fique mole, então se levanta
e tira o jeans. Ele se abaixa em cima do meu corpo e entra em mim.
— Bom. — Sua voz cai. — Mas você sabe, você não tem muito
tempo.
— Aidan...
— Silêncio agora.
Ele faz amor comigo com uma ternura cuidadosa que nunca
demonstrou antes, me tratando como se eu fosse feita de
porcelana. Quando ele chega ao clímax, é com um suave gemido
de desespero, como se ele soubesse que essa coisa que estamos
fazendo é grande e perigosa, capaz de aniquilar nós dois.
Como o tempo está bom, ele sugere que façamos a viagem até
a casa de moto. Quando concordo e digo a ele que costumava
andar de motocross quando era criança, ele me encara incrédulo,
me olhando de cima a baixo.
— Você?
6
Titulo no Brasil: Millennium: Os Homens que Não Amavam as Mulheres;
— Certo? — Concordo, fingindo que isso não me fez brilhar
como o sol.
— Sim. Vamos ver se tenho uma jaqueta que você pode usar,
coelhinha.
Ou apagado completamente.
Procuro algo mais, mas nada vem. Bati em uma parede de
tijolos.
Sua voz fica firme. — Diga que você não vai mentir para mim
novamente, Kayla.
Rindo, ele grita atrás de mim: — Você tem dez segundos antes
que eu vá atrás de você, coelhinha! — Então ele começa a contar
em voz alta.
— Coelha má.
— Solte-me!
Ele desliza a mão sob meu torso e aperta meu seio com força.
No meu ouvido, ele diz com veemência: — Eu vou te foder com
tanta força, coelhinha. Você vai pegar o pau do seu mestre em suas
mãos e joelhos, totalmente nua, no meio da floresta.
Eu quase desmaio de desejo e desisto imediatamente. Mas
como este jogo tem tudo a ver com a perseguição, não seria muito
divertido se eu o deixasse vencer tão facilmente.
— Eu não vou!
Eu soluço.
Ele enfia dois dedos dentro de mim e o dedo me fode por trás
enquanto grito e luto.
— Ah, Deus, baby, você é perfeita pra caralho. Meu pau está
tão duro para você. Eu preciso gozar dentro dessa boceta perfeita
enquanto você grita meu nome.
Ele puxa meu jeans rudemente pelas minhas coxas. Sem tirá-
los completamente, ele me joga por cima do ombro e começa a
andar, seu braço em volta da minha cintura, uma mão estendida
sobre a parte de trás da minha coxa, seus dedos cavando
possessivamente em minha carne.
— Argh!
Ele geme. — Você está tão molhada, baby. Deus, você está
molhada pra caralho, está em toda a sua coxa. Minha linda
putinha está tão pronta para mim.
— Aidan! Aidan!
Ele também sente. Posso dizer por que seus olhos se enchem
de angústia.
Olhando para o céu azul sem fim, coloco meus braços em volta
de seus ombros, sabendo instintivamente que desta vez, é ele
quem está desmoronando.
— Shh.
— Merda. Desculpe.
— Kayla!
— Você disse?
— Não?
Fiona se ilumina. — Sim, eu falei com minha irmã! Ela diz que
devemos realizar na próxima lua cheia, que é em três semanas.
Ah, e ela também disse que você não deveria usar perfume ou joias.
Nenhum outro acessório, especialmente telefones celulares.
Aparentemente, eles incomodam os espíritos. — Ela ri. — Como o
resto de nós.
— É. Obrigada, Fiona.
Ela passa por mim, evitando meus olhos. Enquanto seus
passos se afastam na direção da cozinha, preocupo-me por tê-la
insultado. Eu me viro para ir atrás dela, mas algo que vislumbro
na mesa de Michael chama minha atenção, e eu me viro.
Tenho certeza que não vi este artigo antes. Tenho certeza que
não coloquei este jornal na mesa de Michael. O que eu não tenho
certeza é como ele chegou aqui.
Fiona trouxe?
Eu sei disso.
Ou não estou?
O lado de Miguel.
— Alô?
— Olá Eddie. É Kayla. Lembra-se de mim? Com o telhado com
goteiras e os problemas elétricos?
Aidan.
Eu congelo. Meu coração para. Sentindo como se tivesse
levado um chute no estômago, inclino-me contra a porta do carro
para me equilibrar. Então fico lá em choque, tentando decidir o
que fazer.
Merda.
Sei o que ele quer dizer, e ele não está falando sobre meu
colapso mental iminente. — Estou sozinha.
— Sim.
Ele dá um passo para trás e cruza os braços sobre o peito,
esperando.
Considero ligar o motor e sair, mas decido não fazer isso. Ele
provavelmente correria atrás de mim e me pegaria no próximo
semáforo. Então me preparo para uma conversa desconfortável e
saio do carro.
Digo: — Ok, tudo bem. Vou começar. Olá, Aidan. Como você
está?
Ele fica com esse olhar em seu rosto, esse olhar irritado, como
se estivesse pensando seriamente em me colocar sobre o joelho
bem aqui na calçada e bater na minha bunda. Um aviso em sua
voz, ele exige: — O que há de errado, coelhinha?
Ele pisca. Ele bufa uma risada curta. Ele olha por cima do
ombro em direção ao restaurante, então se vira e fixa em um olhar
tão intenso em mim, que dou um passo para trás.
Então ele pega meu braço e me leva para o outro lado da rua.
Ignorando meus protestos, ele abre a porta do restaurante e me
guia pelo balcão da recepcionista e pela sala de jantar principal até
uma mesa perto dos fundos.
Uma mesa onde a morena com quem ele entrou está sentada.
Meu rosto fica mais quente quando Deb salta em sua cadeira
e bate palmas de emoção.
— Jake.
Jake bufa. — Não sei disso, não. Você cria algumas histórias
bem criativas todos os meses quando a fatura do cartão de crédito
chega e você precisa explicar por que gastou tanto na Amazon.
Ele sorri para ela. — Eu prefiro que você faça tudo nua.
Ela se vira para mim com os lábios franzidos. — Dez anos de
casamento e ele ainda é o Energizer Bunny7.
7
O Energizer Bunny é o mascote de marketing das baterias Energizer na América do Norte. É um coelho
de brinquedo mecânico rosa usando óculos escuros e chinelos listrados em azul e preto que bate um bumbo
com o logotipo da Energizer;
— Você não acha, Kayla?
É óbvio que não era isso que ela estava dizendo. Ela está sendo
gentil, deixando-me saber que ela pode dizer que sou uma grande
bagunça, mas que ela está torcendo por mim.
Jake, por outro lado, está me dando um olhar de aço. Ele não
está me dando nenhuma folga. Ele se vira para Aidan e pergunta
como está à construção da casa, uma manobra óbvia para levar a
conversa em uma direção diferente.
Eles falam sobre o projeto enquanto sento e escuto em um
silêncio desconfortável, de vez em quando oferecendo um sorriso
tenso em resposta a um olhar preocupado de Deb.
Ela joga o papel amassado no lixo, então passa por mim e abre
a porta do banheiro. — Vamos, namorada. Se ficarmos aqui muito
mais tempo, eles vão começar a se preocupar e vir nos procurar. E
confie em mim quando digo que não é algo que queremos que
aconteça.
Quando Jake faz uma careta para minha mão esquerda, tenho
a sensação de que sei sobre o que era a discussão.
— Quero dizer, o que você está fazendo com ele, — ele faz uma
pausa para enviar um olhar aguçado para o meu dedo anelar, —
quando você está obviamente comprometida de outra forma?
Ele pega meu rosto em suas mãos. — Mas você não precisa ter
medo. Eu vou te pegar quando você cair. Eu sempre vou te pegar.
Depois de muito tempo, ele diz com voz rouca: — Você está
pronta para receber sua punição?
— Aidan?
Ele se inclina, pega meu rosto entre as mãos e olha direto nos
meus olhos.
— Eu sei.
— Eu não acho.
Ele está fazendo isso por mim, por nós, mas caramba, isso dói.
Ou talvez nunca.
Ela torce o nariz. — Oh, querida, você não tem que desenhar
as figuras na parede para mim. Eu sei que você está aqui para uma
leitura! Minha pergunta é por que você precisa de uma leitura?
Diga-me o que está acontecendo em sua vida.
— Sim.
— Pergunte ao Tarô.
Sua voz está abafada agora. Seu nível de excitação parece ter
aumentado. Mesmo na escuridão, posso ver as gotas de suor
acumuladas em seu lábio superior.
Pelo menos eu acho que ela está satisfeita. Ela também pode
estar tendo um ataque cardíaco.
Sua única reação visível são os olhos arregalados, mas há algo
de arrepiante em seu olhar. A maneira como ela passou de
animada para congelada no espaço de apenas alguns segundos é
enervante.
Sua voz silenciosa, ela diz: — Você tem duas cartas de arcanos
maiores, o que por si só é significativo. — Ela aponta para o
esqueleto assustador e o casal nu. — Os arcanos maiores
representam as influências cármicas e o que está acontecendo na
jornada da alma em direção à iluminação. Estas são lições
importantes que você precisa processar. Mas quando invertido,
significa que você não está prestando atenção suficiente. E aqui,
ambos os arcanos maiores estão invertidos. Este é um sorteio
muito complexo.
— Claro que é.
— Tem certeza?
Espero que esta carta te encontre bem. Eu mesma não estou tão
bem.. Na verdade, acho que passei mal e aterrissei em Crazytown,
EUA, onde atualmente estou concorrendo a prefeita.
Sinceramente,
Kayla
Prezada Kayla,
Dante
Digo irritada para a carta na minha mão: — Se eu soubesse o
que todos os meus trovões e relâmpagos estão dizendo, não teria
pedido um conselho a você!
Outro dia, quando visitei o prédio onde Eddie disse que o Dr.
Letterman tem seu consultório, não havia nenhum Dr. Letterman
listado no diretório.
Sei que não faz sentido. Meu filho nem tinha nascido ainda,
muito menos crescido e virado uma criança. Mas o que eu sei sobre
fantasmas? Talvez eles continuem a se desenvolver na pessoa que
teriam sido se tivessem vivido?
Mas onde eles conseguiriam roupas? Esse garoto visitou
alguma loja infantil de outro mundo para escolher sua pequena
capa de chuva e botas amarelas?
Bato a mão sobre meus olhos e gemo. — Pare com isso, Kayla!
Isso não é um fantasma! Agora vá lá fora e encontre a mãe dele!
Não há sinal dele do outro lado da casa. Ele não está no jardim
da frente quando procuro. Ele não está se escondendo nos
arbustos ou correndo pela rua.
Está vazio.
Estou tão nervosa e tensa que grito quando uma mosca pousa
no meu braço.
Ele fica sem responder por um longo tempo, acho que não vai
responder. Mas então sua mensagem vem com um pequeno toque
que faz meu coração pular na minha garganta.
Não.
Desculpe, coelha.
Olho para a tela, mordendo meus lábios. Ele não parece muito
arrependido. Talvez eu precise adoçar a oferta.
— Meu, — diz ela, rindo. — Você parece uma visão. Teve uma
bebedeira no fim de semana, não é, querida?
— Tudo bem?
— Você quer dizer que eles fecharam uma porta, mas você quer
que ela abra?
— Bem, você estava certa. Não havia ninguém lá. — Ela faz
uma pausa, olhando para mim significativamente. — Isso eu podia
ver, de qualquer maneira.
E a propósito, o que foi aquela coisa toda sobre o amor que virou
as estrelas e as rodas? Isso foi confuso como o inferno. Na verdade,
todas as suas cartas foram confusas. Eu ainda não sei o que você
quer de mim ou por que você decidiu que deveríamos ser amigos por
correspondência ou como você me encontrou em primeiro lugar.
Eu mal sei o que é real e o que não é mais. Eu nem sei se essas
cartas são reais. Talvez eu esteja olhando para a parede do meu
quarto trancado em uma instituição mental, inventando tudo isso na
minha cabeça? É assim que parece, de qualquer maneira. Sinto
como se tivesse soltado a corda que me prendia a uma doca, e agora
estou à deriva sozinha no mar em uma jangada com vazamento que
está sendo cercada por tubarões famintos. E o vento está
aumentando. E está começando a chover.
Kayla
Fiona me informa que a lua cheia é amanhã à noite, para que
possamos realizar a sessão imediatamente. Ela me diz que tenho
sorte de poder fazer isso tão rapidamente.
Esta casa tem pulso, e seu coração escuro bate por mim.
Acho que quer alguma coisa.
A menos que esteja morto, nesse caso significa que você está
fugindo de seus problemas.
Não sei como responder a isso, mas sinto que merece uma
resposta educada, mesmo que seja maluca. — Fico feliz em saber
que os negócios estão crescendo.
— Prossiga.
— Por quê?
— Sim?
— Isso é besteira?
— Ah, mas o espírito não sabe que não tem boca de verdade,
sabe?
— Querida?
— Sim?
Não sei por que deveria ser algo de tanta importância, mas não
quero estragar a possibilidade de descobrir o que o fantasma que
não existe e não está me assombrando quer, então pego minha
aliança de casamento do meu bolso e coloco no mouse pad de
Michael.
Claire fecha os olhos. Com o rosto inclinado para o teto, ela diz
em voz baixa: — Nós nos reunimos esta noite sob a lua cheia para
buscar orientação do mundo espiritual. Congratulamo-nos com
quaisquer espíritos próximos para se juntar ao nosso círculo. Por
favor, faça sua presença conhecida.
Sua voz diminuiu, junto com sua respiração. Ela parece estar
entrando em algum tipo de transe.
Batida.
Batida.
— Sou eu?
Batida. Batida.
— É Fiona?
Batida. Batida.
— É Kayla?
BATIDA!
VINGANÇA
Ou dedos fantasmagóricos.
Fiona diz: — Sim, mas olhe pelo lado positivo. Pelo menos há
apenas um.
Ser possuída por uma pessoa morta deve realmente tirar o seu
fôlego.
Fiona diz: — Acho que você está perdendo a visão geral aqui,
querida.
Ela fica de pé. Fiona se levanta com ela. Não posso deixá-las
sair sem agradecê-las, então me levanto e sigo Claire até o saguão
enquanto Fiona pega seus casacos no armário do corredor.
Ela sorri para mim, o que não ajuda em nada. Abro a porta
para elas. Claire está prestes a cruzar a soleira, mas para.
— Não pode. — Ela olha para mim. — Mas pode ser o sangue
de outra pessoa.
Faço uma careta. — Isso é doentio. Por que diabos ele enviaria
uma carta manchada de sangue animal?
— Talvez ele tenha uma queda por mim. Sou muito fofa.
Quando olho para ela com surpresa, Claire diz: — Estar presa
no limbo é terrivelmente confuso. Na verdade, esse seu fantasma
provavelmente nem sabe que está morto.
Dante.
— Kayla, concentre-se.
Pulo e suspiro.
— Avanço?
— Ajudando o espírito.
Do outro bolso, Claire tira meu celular. Ela deve ter pego na
minha mesa. Ela o empurra para mim, insistindo: — Faça a
ligação!
— Por quê?
8
Departamento de Polícia;
Desligo, sentindo-me estranhamente entorpecida.
— Quando?
— O que é isso?
É pena.
— Por quê?
— Para quê?
— Como o quê?
— Me dê o telefone.
Um sentimento avassalador de injustiça toma conta de mim.
Dou uma passo para trás. Meu sangue se transforma em gelo.
Todos os pelos dos meus braços se arrepiam e começo a
hiperventilar.
Há uma pausa.
— Oh. Entendo. Bem, temo que seja tarde demais para flores.
Já se passaram seis meses desde que ele faleceu, quase no mesmo
dia.
Minha voz sobe. — O que você está dizendo? O que isso tem a
ver com alguma coisa?
— Eu diria que o espírito que vive nesta casa está muito furioso.
A maneira como ela olhou para mim quando disse isso, era
quase como se...
Como, quando Claire chegou pela primeira vez esta noite, ela
se referiu ao espírito que entrou em contato como “ela” antes de se
corrigir.
Ele retruca: — Sim, bem, isso vai ser meio difícil, senhora,
porque meu avô morreu em 1974.
— Kayla.
Aidan Leighrite.
Era meu.
Eu grito.
Aidan morreu.
Michael o matou.
Ela o pega nos braços, o abraça com força contra o peito e olha
horrorizada para a sala. Sobre o rugido do vento, ela grita: — Ele
escapou da cama. Meu Deus, o que está acontecendo?
Sandy corre de volta por onde veio, correndo pelo corredor com
Bennett em seus braços. Eles vão voltar para David no andar de
cima e esperar que Claire e eu os avisemos se o espírito de Kayla
Reece finalmente deixou sua casa.
Eu sabia quase desde o início que Kayla era para mim. Esses
olhos, sabe? Tão bonito, mas tão tristes.
Levaria um tempo para descobrir por que ela estava tão triste.
Até então, eu tinha contado a ela sobre meu pai, sobre como ele
era abusivo. Sobre o que eu fiz para proteger minha mãe de suas
raivas violentas.
Olhando para trás, ela disse, esse foi o primeiro sinal de que
algo em seu cérebro estava mudando. A pista inicial de que tudo
acabaria dando terrivelmente errado.
Fazer um funeral.
Minha voz falha quando digo: — Você me disse para ligar para
você quando tivesse clareza. Pensei em bater em vez disso.
Ele olha para o meu dedo anelar nu. — Obrigado porra, — diz
ele fracamente, exalando. — Não consigo respirar sem você,
coelhinha.
Ele me abraça, seus braços trêmulos, e sou grata por tudo que
me trouxe até este momento, porque eu nunca encontrei nada
melhor do que isso.
— Pelo quê?
— Por me dar o espaço que eu precisava, mesmo que eu não
quisesse. Mas se você tentar me dar mais, vou chutar sua bunda.
Sua risada é baixa e sem fôlego. Ele se afasta e olha para mim
com olhos brilhantes.
— O que há de errado?
— A Divina Comédia.
Ele tenta pegar minha boca, mas não consegue porque ainda
estou falando. — O que é a Divina Comédia? Isso parece
interessante.
Ele olha para mim com olhos sorridentes, embora seu rosto
esteja tentando parecer severo. Ele quer que eu pense que está
desapontado por eu não estar nua ainda, mas sei que ele está feliz
só por me ter aqui.
Abro os olhos e olho para ele. Ele olha para mim com um
sorriso suave. Sei que ele está falando sobre o tempo que passou
na prisão pelo que fez com seu pai, mas ainda não discutimos isso,
então hesito em pedir detalhes. Como, por exemplo, quanto tempo
ele ficou lá.
Ele concorda.
Depois de uma pausa, ele diz: — Você realmente não foi para
a faculdade, foi?
9
Verso da música Green Eggs & Ham;
Sorrindo de volta para ele, digo: — Então é isso que é o céu,
hein? Rodas e estrelas girando?
Olhando para mim com olhos suaves, ele diz: — Não sou. Você
está apenas bêbada com o brilho.
— Claramente.
Acho que ele vai empurrar dentro de mim, mas ele rola de
costas em vez disso, me levando junto, então estou deitada em
cima dele. Segurando meu cabelo para trás do meu rosto, ele diz
casualmente: — Deve haver fogos de artifício à meia-noite esta
noite.
— Uau.
— O quê?
É Michael.
Onde ele conseguiu uma arma? Ele sabe atirar? Está mesmo
carregada? Ele parece um sem-teto – onde ele está morando? Oh,
Deus, ele tem dormido no barco?
A saliva voa de seus lábios quando ele grita: — Ele está com a
CIA! Ele está tentando roubar minhas equações!
Michael olha para trás e para frente entre nós, então empurra
a arma na direção de Aidan.
— Mentindo?
Aidan olha para mim. O que vejo em seus olhos me faz querer
gritar, é tão estúpido. Tão estúpido e imprudente e tão fodido como
ele, o tolo abnegado.
Não, Deus, não, isso não está acontecendo, isso não pode estar
acontecendo.
— Michael?
Aidan olha para mim. Seu coração brilha em seus olhos. Ele
diz baixinho: — Eu te amo, coelhinha. Vou te amar até o fim dos
tempos.
Então ele olha de volta para Michael e diz palavras que eu
nunca serei capaz de deixar de ouvir. Elas vão ecoar na minha
cabeça por toda a eternidade.
Aidan se lança.
Ele cai para trás, seus olhos abertos e sua boca frouxa.
Ele não olha para mim. Ele não responde a nenhuma das
minhas súplicas desesperadas ou aos beijos que despejo em suas
bochechas e lábios.
Ele se foi.
Líquido quente escorre pelo meu pescoço. Sangue. Ele deve ter
me acertado com algo pesado.
Aidan.
Aidan.
~Rabindranath Tagore
Kayla
Ela não é tão talentosa quanto sua irmã, Claire, mas o dom é
de família.
Caio em seus braços. Seu abraço é mais doce que mil beijos,
melhor que um milhão de desejos, mais perfeito do que qualquer
sonho jamais poderia ser.
A luz dourada que nos cerca fica mais brilhante. Então ele
pega meu rosto em suas mãos e me beija. Em seus lábios, sento o
gosto do para sempre.
Vingança.
Transcrito das notas e gravações da sessão de 16 de março
conduzida pelo Dr. Patrick Templeman, psiquiatra forense, com
Michael Reece, atualmente aguardando julgamento por acusações
de assassinato em primeiro grau.
Michael Reece: Ela está bem aí, seu idiota! Olha! Olha!
Dr. Templeman: Sr. Reece, pode se acalmar? Vou ter que lhe
dar um tranquilizante se você não conseguir se controlar.
Fim...