Trabalho de Didacticas de Linguas Bantu
Trabalho de Didacticas de Linguas Bantu
Trabalho de Didacticas de Linguas Bantu
Universidade Rovuma
Extensão de Cabo Delgado
2023
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Universidade Rovuma
Extensão de Cabo Delgado
2023
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Índice
1. Introdução..................................................................................................................3
2. Revisão da Literatura.................................................................................................4
3. Conclusão.................................................................................................................19
4. Referencia Bibliográfica..........................................................................................20
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1. Introdução
O presente trabalho tem como tema Currículo de língua Bantu no Ensino Básico. A
Política Nacional de Educação tem, entre outras atribuições, a missão de avaliar,
monitorar e supervisionar os projectos políticos-pedagógicos e gerir as instituições
educacionais, também procura adequar o sistema educativo às mudanças sociais,
económicas, políticas e culturais.
2. Revisão da Literatura
Por isso que no Relatório da BIE – UNESCO (2006:3) é vincada a ideia de que um
processo sistemático do desenvolvimento/melhoria do currículo pode ser concebido
para o sistema de ensino no seu conjunto ou para ciclos de aprendizagem e/ou para
campos curriculares específicos.
Por seu turno, SACRISTÁN (2000:15) define currículo como uma praxis antes que um
objecto estático emanado de um modelo coerente de pensar a educação ou as
aprendizagens necessárias dos aprendentes, que tão pouco se esgota na parte explícita
do projecto de socialização cultural nas escolas. Desta feita, ao se definir o currículo
repara-se para a concretização das funções da própria escola e a forma particular de
enfocá-las num momento histórico e social determinado, para um nível ou modalidade
de educação, numa trama institucional.
d) O currículo escolar – no sentido daquilo que à escola cabe fazer aprender a todos –
atravessa uma mudança decorrente das anteriores.
Avança-se na acepção acima que o que se ensina e aprende na escola vai para além do
que vem plasmado nos planos curriculares, como afirma SANTOMÉ (1993:126) "o que
se ensina e o que se aprende na instituição escolar não se torna imediatamente evidente
quando examinamos o fluxo diário de acontecimentos nas salas de aula. Os rapazes e
raparigas que procedem de diferentes contextos culturais e económicos respondem de
maneira diferente aos pedidos de trabalho das professoras e professores. Também estes
trazem concepções culturais e sociais que influem na rotina diária e nas práticas de
ensino".
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Por conseguinte, BASÍLIO (2006:71) advoga que "a diversidade cultural é fundamental
para que aconteça a prática pedagógica. O respeito à diversidade cultural é bem
sublinhado no currículo do ensino básico". Como se observa, a introdução das línguas
nacionais no Novo Currículo, surge mesmo para responder a diversidade cultural e
linguística que caracteriza o nosso país.
Assim, relativamente a este assunto, BASÍLIO (2006:80) diz que duas razões estão na
origem da introdução das línguas moçambicanas, a primeira justifica-se pelo facto de
muitas crianças usarem o Português como segunda língua e, a outra no facto de as
crianças não saberem ler e escrever as línguas moçambicanas. Esta inovação é
importante porque as línguas assumem duas tarefas: comunicação e de transformação de
aspectos culturais a que pertence. Por isso, os sistemas educacionais privilegiam, no
ensino, as línguas maternas pois elas são patrimónios culturais da comunidade, e
Moçambique não é excepção.
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Entretanto, o recurso à educação bilingue vai transportar consigo vários desafios para o
Sistema Nacional de Educação como por exemplo a formação de professores
capacitados para trabalhar nesta modalidade, também o facto de Moçambique ter zonas
linguisticamente heterogéneas, o que condiciona a actividade do professor, porque a sua
língua materna pode não coincidir com a de muitos alunos dentro de uma mesma sala de
aulas.
Pese embora a introdução das línguas moçambicanas apareça como inovação no PCEB
(2004), a discussão para a sua materialização começou a ser feita há muito tempo, como
comprovam as seguintes informações que constam do Programa do Ensino Básico – 1º
Ciclo (2003:109), em 1997 o INDE promoveu um debate sobre a introdução de línguas
moçambicanas no Ensino Básico, oficialmente, que envolveu entidades de diversas
proveniências (educação, confissões religiosas, universidades, ONG’s) tendo-se
proposto, durante o debate, várias línguas de experimentação como por exemplo
cinyanja, emakhuwa, cinyungue, cisena, cindau, entre outras.
Entretanto, esta inovação, a introdução das línguas moçambicanas no Ensino Básico não
é consensual, apesar de para a sua introdução, formalmente no ensino, ter contado a
pressão da sociedade civil nacional, que foi manifestada, principalmente, durante o 1º
Fórum Nacional de Consulta da Transformação Curricular, realizado em 1996, em
Maputo. Muita gente afirma que o SNE não está preparado para a materialização desta
inovação em virtude de se ter no país zonas linguisticamente muito heterogéneas e o
facto da língua materna do professor não coincidir, em muitos casos, com a dos alunos.
Por isso, FIRMINO (1998) considera que dada a diversidade linguística e a história do
uso oficial das diferentes línguas em Moçambique, acrescidos à natureza das pessoas
disponíveis para a cooptação em tornar as instituições estatais operativas, a oficialização
do Português, à custa das línguas indígenas, apesar das questões que se possam levantar,
surge como um desfecho natural e lógico, mas o que acabou por criar seus
condicionalismos na educação com a problemática de reprovações em massa derivadas,
muitas vezes, da dificuldade de leitura em Português.
Mesmo com ideias divergentes, pensa-se que a educação bilingue, apesar de alguns
equívocos na sua implementação, é um grande ganho para o SNE, pois o grau de
abandono escolar nas classes iniciais diminui sobremaneira, em virtude de os alunos
sentirem-se identificados com a língua de ensino, e o Português vai sendo introduzido
paulatinamente. O governo moçambicano não pode recuar, antes pelo contrário deve
potenciar e maximizar o ensino das línguas moçambicanas nas escolas, desenhando
políticas claras para a sua execução plena.
como a língua que a pessoa mais usa; e (d) atitudes, cuja perspectiva estabelece a LM
como a língua com qual a pessoa se identifica e por meio da qual ela é identificada.
Jokinen (2013) escrevendo sobre a educação de surdos nos países nórdicos, aplicou os
critérios de Skutnabb-Kangas (1981) às crianças surdas e concluiu que a língua de sinais
é sua primeira língua, uma vez que “[…] é a língua que elas adquirem
espontaneamente sem ensino, conhecem na melhor, usam mais e com a qual
são identificados pelos outros e por si mesmos […]” (p. 119). Svartholm (2014), acerca
da educação de surdos na Suécia, afirma que os termos “primeira língua”, “segunda
língua” e “língua estrangeira” quando aplicados ao quadro da surdez podem suscitar
mal-entendidos. A autora define L1 a partir do papel que uma dada língua representa no
desenvolvimento da criança surda e não da ordem em que a língua foi apreendida:
Essa autora assume ainda que a língua de sinais seja a L1 dos surdos e evidencia,
também, que a expressão “língua materna” é preterida por muitas pessoas na área da
surdez, já que somente em carácter de excepcionalidade a língua de sinais é transferida
dos pais para as crianças.
qual a LM está ligada à mãe. De acordo com a autora, esse critério pode se mostrar
bastante discutível em alguns contextos sociais e sociolinguísticos, já que em algumas
sociedades não é a mãe que passa a maior parte do tempo com os filhos; em outras a
mãe é obrigada a falar com seus filhos em uma língua que não é a sua; e (2)
de anterioridade da apropriação ligado ao modo de aquisição, que considera a LM
como a língua interiorizada “[…] por primeiro, de maneira natural e desde a mais tenra
idade”3 (p. 21). A autora enfatiza que esse critério leva à pressuposição da existência de
uma série de qualidades advindas desse processo, tais como o de ser a língua do locutor
cujo domínio permite “[…] o mais alto nível de competência e de exprimir seu
pensamento da forma mais precisa possível” 4 (p. 22). A esse respeito, Castellotti (2001)
frisa que vários exemplos mostram que isso é questionável, já que o domínio da L1
pode baixar consideravelmente se o falante perder o contacto com essa língua por
muitos anos.
No que concerne aos critérios menos disseminados, Castellotti (2001) considera: (1)
de ordem funcional, ou seja, a LM seria a língua mais usada pelo locutor; e (2)
de ordem identitária, em que a LM seria a língua com a qual o locutor se identifica de
maneira privilegiada “[…] porque é a língua emblemática do grupo ou da comunidade
às quais ele adere”5 (p.22). Segundo a autora, de qualquer forma, a categorização das
línguas por meio desses critérios é ambígua, porque eles “[…] envolvem domínios de
referência distintos mas cujos elementos, muitas vezes, se misturam, em função de se
privilegiar o que suscita condições de apropriação ou o que suscita o status
sociolinguístico e categorizações sociais […] da língua considerada”6 (p. 22). Por isso,
de acordo com a autora, emergiu uma tendência de contornar o uso da expressão
“língua materna” por meio da criação de termos como “língua fonte”, “língua nativa” e
“língua de referência”.
Isso posto, Castellotti (2001) afirma que o uso da expressão “primeira língua” é muito
mais difundido e apresenta a vantagem de englobar vários critérios. A autora enfatiza,
que, ainda que o critério relacionado à ordem de aquisição ocupe um lugar
fundamental na definição de L1, “[…] o adjectivo primeiro pode também ser
interpretado como testemunho de um grau de importância, seja para o próprio locutor,
seja para a sociedade, a escola ou o grupo no qual ele evolui”7 (p. 23). Para a autora, a
denominação de L1 também agrega uma dimensão psicoafetiva, sem, no entanto,
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No que concerne ao conceito “segunda língua”, por um longo período ele foi
considerado equivalente ao de “língua estrangeira” (doravante, LE). Actualmente, ainda
que haja autores, sobretudo os anglófonos, que continuam sem distingui-los, a noção de
L2 se constituiu em uma área de investigação independente. Cuq (1995) afirma que L2
é uma subcategorização do conceito de LE, isso porque “[…] é estrangeira para o
indivíduo toda língua outra que a sua língua de partida, mesmo se, tendo uma realidade
jurídica ou social no seu país, ela não seja sempre considerada como tal a nível
nacional”9 (p. 3). Destarte, esse autor entende L2 como uma língua de natureza
estrangeira, mas que em uma comunidade bilingue ou plurilingue, se distingue das
outras línguas estrangeiras pelos “[…] seus valores estatutários, seja juridicamente,
socialmente, ou pelos dois, e pelo nível de apropriação que a comunidade que a utiliza
se outorgou ou reivindicou”10 (p. 2), e que desempenha um papel privilegiado no
desenvolvimento psicológico, cognitivo e informativo dos membros dessa comunidade,
juntamente com a(s) outra(s) língua(s).
Para Cuq (1995), L2 é, na verdade, uma teorização construída a partir das intuições de
que existam semelhanças nas diferentes formas de apropriação de uma mesma língua.
Por isso, esse conceito é, necessariamente, “[…] um pouco reducionista, mas todas as
situações vislumbradas devem apresentar uma série de parâmetros estáveis, que ele
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descreve, e uma série de variáveis que ele não leva em conta” (p. 2). Esse autor destaca
que o status das línguas é decidido por seus utilizadores e, em um nível institucional,
pelo Estado, e enfatiza ainda que o status das línguas é evolutivo por natureza.
Jokinen (2013) também faz a distinção entre os conceitos de LE e L2: segundo ele, o
primeiro diz respeito à “uma língua que o aprendiz encontra em situações de ensino e
(praticamente) em nenhum outro lugar em sua vida diária” (p.119), o segundo à língua
utilizada em sua vida diária fora de casa e que ele vai aprender na escola. Para
Svartholm (2014), L2 diz respeito à uma língua que é ensinada dentro da sociedade em
que ela é usada e o termo “língua estrangeira” às línguas usadas em outros países. Em
Spinassé (2006, p. 6) “uma segunda língua é uma não-primeira-língua que é adquirida
sob a necessidade de comunicação e dentro de um processo de socialização”. Para essa
autora, a grande diferença entre LE e L2 reside no fato de que a primeira “[…] não
serve necessariamente à comunicação e, a partir disso, não é fundamental à integração”
(p. 6); já a segunda “desempenha até mesmo um papel vital numa sociedade” (Ibdem).
Castellotti (2001) define L2 como uma língua cuja presença é forte e/ou possui
um status específico em um dado ambiente.
primeiro, recorrendo a ideia de Bloomfield (1933) citado pelos autores, ocorre quando
um individuo comanda de igual forma, e como se fossem nativas, duas ou mais línguas;
o segundo, ocorre quando numa determinada sociedade duas ou mais línguas são
universal. Os problemas que surgem nestas sociedades têm a ver com a maneira como
respeito, Ferguson, 1989 (op.cit.p.24) avançou a noção de diglossia para explicar o que
está (ou pode estar) na origem das escolhas que os indivíduos fazem. Note-se, porém,
que este conceito, tal como alerta, Edwards, 1994: 83, fora introduzido na Grécia (nos
finais do século XIX) para descrever as funções dos dialectos na sociedade grega de
comunidade linguística, de duas variantes da mesma língua. Uma destas duas variantes
religiosas, literárias e institucionais; a outra, tida como baixa, representa a forma mais
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comunidade bilingue na qual uma grande parte dos falantes comanda as duas, e elas
Completando estas ideias, Edwards (1994) afirma que “(...) in fact, a ‘polyglossic
spectrum’ is the norm in many parts of the world”. É que, na verdade, retomando a ideia
realçar a ideia de que numa comunidade linguística, regra geral, existem mais do que
necessidades. Este autor vai mais longe ao demonstrar que, embora semelhantes,
diglossia e bilinguismo não são a mesma coisa. Há, portanto, (1) comunidades
bilinguismo. Neste caso, duas ou mais línguas, embora coabitem o mesmo espaço
falantes; (3) comunidades linguísticas onde não existe nem diglossia nem bilinguismo.
Embora sejam raros, estes casos acontecem em tribos onde uma única língua pode ser
usada em todos os domínios sociais. A nossa análise, no entanto, vai orientar-se pelo
"As razões que justificam a utilização de línguas moçambicanas no Ensino Básico são
as de natureza:
2.5.1. Ensino da L1
A L1 deve ser desenvolvida com métodos apropriados, tanto como meio de ensino, bem
como quando ela é usada como meio auxiliar do processo de ensino-aprendizagem. A
L1 deve ser usada para explicar conceitos difíceis em disciplinas como Matemática,
Ciências Naturais e Ciências Sociais, em contextos em que a L1 é usada como recurso.
Mas a L1 não deve servir a todo o momento para traduzir conceitos que os alunos estão
a ter dificuldades de compreender em L2. Há outros métodos para conseguir isso,
porque deve haver uma clara delimitação dos momentos em que se usa uma língua ou
outra. Num contexto em que o meio de ensino é a língua portuguesa, a L1 também pode
ser usada para avaliar o nível do conhecimento dos alunos no início ou no fim da aula.
Uma das formas para se avaliar os conhecimentos dos alunos é através de perguntas. Se
estas forem feitas na L1, os alunos vão entendê-las e responderão com facilidade. Que
tipo de perguntas é que se deve fazer aos alunos na L1? O professor deve fazer
perguntas abertas, isto é, as perguntas devem provocar respostas elaboradas e
completas. O contrário, o uso de perguntas fechadas, (perguntas com respostas de sim
ou não, ou de poucas palavras, ou de repetição), não desenvolve as capacidades e
habilidades linguísticas das crianças. Isto não significa que o professor não possa
recorrer a este tipo de perguntas quando for necessário. Há vários tipos de perguntas
abertas. Vejamos algumas delas:
I. Opinião/Comentário
Os alunos dão a sua opinião ou fazem um comentário sobre um texto, parte de um texto,
comportamento de personagens, sobre o conteúdo de uma aula de Ciências Sociais,
Moral e Cívica, etc
III. Prognóstico
IV. Reconto
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Os alunos contam por suas palavras, de uma forma criativa, partes de um texto ou todo
o texto.
V. Descrição
2.5.2. Ensino na L2
A L2 deve ser desenvolvida com métodos apropriados, tanto como disciplina, assim
como quando é usada como meio de ensino. Se o professor encontra dificuldades no
ensino da L2, porque os alunos não entendem as suas explicações, ele não deve, por
exemplo, traduzir a matéria da L2 para a L1, porque os alunos prestarão mais atenção à
tradução não permitindo, assim, o desenvolvimento da L2. Há outros métodos para
conseguir essa compreensão. Os alunos não aprendem facilmente o Português pela
tradução como referimos acima. De facto, se os alunos sabem que o professor vai dizer
a mesma coisa duas vezes, a primeira vez em Português e a segunda vez na língua
materna- (moçambicana) - não vão prestar atenção à língua que não conhecem. Os
métodos mais aconselháveis para o ensino da L2 (Português) são os métodos que usam
exclusivamente o Português durante uma certa aula, mas que esclarecem o contexto do
tópico (das matérias) pelo uso de objectos, desenhos, gestos e acções, ou dramatização.
Em princípio, as aulas iniciais abordam temas familiares com o próprio aluno, os
membros da família, o vestuário, as partes do corpo, como cumprimentar, como
apresentar-se, como pedir informação, como descrever coisas, como descrever pessoas,
etc. Cada aula de língua segunda desenvolve a comunicação oral em Português. Quando
os alunos tiverem algum domínio da oralidade, estarão prontos a começar a
aprendizagem da leitura/escrita em Português.
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3. Conclusão
A diferenciação entre os termos língua materna (L1), segunda língua (L2) e língua
estrangeira (LE) quanto ao ensino de Português. Para os envolvidos no ensino de
línguas professores, aprendentes, produtores de materiais entender a abordagem de
como a língua é ensinada torna-se um aspecto importante tanto para o enfoque em sala
de aula, como para a elaboração de materiais didácticos, métodos e técnicas quanto para
a abordagem linguística, linguageira, cultural, intercultural, sociodiscursiva, entre
outras. Compreendemos que a formação do professor, a abordagem utilizada em sala de
aula de língua, os materiais, a avaliação e o método traduzem o processo de ensino e
aprendizagem. E esse é o primeiro passo para que o ensino de línguas (L2 ou LE)
inspire políticas promissoras de ensino de Português.
4. Referencia Bibliográfica
BASÍLIO, Guilherme, Os Saberes Locais e o Novo Currículo do Ensino Básico (Tese
de Mestrado – Educação e Currículo), PUCSP/UP, 2006.
Universitária, 1979.
SANTOMÉ, Jurjo Torres, O Currículo Oculto, 3ª ed, Porto, Porto Editora, 1993.