Admin, Document
Admin, Document
Admin, Document
Abstract: This paper discusses the coming of the logic of the capitalism in
indigenous villages, especially with repercussions on fishing, hunting and
feeding of the Baniwa people in São Gabriel da Cachoeira, Amazonas. The
objective is to present contemporary situations related to technical preferences
and industrialized materials of fishing and hunting, management of areas and
consumption of processed foods in villages. The study was stimulated by the
hypothesis that in the last decades Baniwa communities have been facing strong
and inevitable growth and expansion of capitalism associated with the
intensification of interethnic relations. Its impacts on traditional modes of
livelihoods and territorial management are equally strong and increasing. The
discussion of these subjects is divided in three parts: the first deals with the
presentation of the traditional ways of life of the ancestors, the changes caused
and the tendencies; the second part presents the learning process in fishing and
hunting, comparisons of fish in different decades and Baniwa participations in
the labor market and in the income transfer programs; the third discusses
current situations of fishing, hunting, feeding and trends for the future. And
finally, the conclusion, which is opinionated about what must be done to
prevent critical situations in these areas from advancing wildly. So the topic of
this article is being discussed.
Keywords: Baniwa. Indigenous. Food. Fishing and Hunting. Amazon.
Introdução
Das florestas retiravam madeiras para construção de casas, canoa, remo (meio
de transporte), coletavam frutas: açaí, patauá, bacaba, buriti, ukuki e outras
frutas das florestas. “Existen más de 160 espécies de palmeras en Amazonia y,
entre ellas, menos de 30 tienen usos alimentarios” (KAHN, 1996 apud ROBERT
& KATZ, 2010, p. 373). Retiravam também plantas medicinais, remédios para
ser bom pescador, bom caçador e outros medicamentos, além das folhas de
palmeiras (caranã, piaçava) para fazer cobertura de suas casas. Da mesma
forma que cuidavam dos rios, lagos e igarapé, cuidavam das florestas pelas
plantas e madeiras.
Em solos faziam suas roças para plantar diferentes tipos de plantas cultiváveis.
Suas atividades agrícolas se baseavam, principalmente, no cultivo da
diversidade da mandioca brava, banana, pimenta, cará, batata-doce. “[...]. La
yuca, de la cual existen numerosas variedades, es el ejemplo más conocido de
las plantas domesticadas em Amazonia” (KATZ, et al, 2009, p.98) Sua
alimentação se baseava em produtos da roça, principalmente, da mandioca da
qual se produzem farinha, beiju, goma, farinha de tapioca e outros produtos
derivados da mandioca.
Lima da Costa e Luís Mauro Santos Silva (ROCHE et. al., 2011apud COSTA;
SILVA, 2017, p.2),
Essa situação indica que no futuro próximo pode haver desequilíbrio ambiental,
social e da cultura alimentar. Nesse sentido, percebe-se que há necessidade de
conscientização em educação alimentar, uso moderado de tecnologias de pesca e
caça. São os assuntos de suma importância, porque a cada dia aumenta a
situação crítica e fica cada vez mais difícil de ser controlada. É importante que
os estudantes, pesquisadores e profissionais indígenas e não-indígenas
(apoiadores das causas indígenas) intensifiquem suas pesquisas e estudos
desses temas. Quanto mais estudos e discussões dos assuntos a consciência se
evolui e facilita desenvolver ações voltadas para soluções.
Não sou de muitas gerações depois que os colonizadores chegaram à região dos
Baniwa, no rio Içana. O meu avô (Eduardo da Silva) foi um daqueles que, nas
histórias, fugia da presença dos brancos, das epidemias de sarampo e das
caçadas dos comerciantes espanhóis e portugueses. Segundo a Federação das
Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN); Instituto Socioambiental
(ISA,1998, p.64), “Até os dias de hoje, os Baniwa apontam antigos lugares de
moradia atualmente desabitados; muitos dos velhos dizem que ainda
chegaram a ver esteios em pé em alguns desses lugares, restos das velhas
malocas dos antigos”. Ele foi justamente do período aqui afirmado pelos
pesquisadores. Ele também foi um daqueles que viajavam do rio Içana para
Manaus a remo. Apesar de tudo isso, ele foi protagonista da introdução de
produtos industrializados à região do alto rio Içana, em especial, acima da foz
do rio Ayari. Ele viajava para Manaus levando sua produção como borracha,
látex, breus, farinha e voltava com variados produtos industrializados: agulha,
anzol, linha de pesca, sabão, sal, roupas e utensílios de cozinha, munições, etc.
Eu não cheguei a vê-lo, mas ouvi muitas histórias dele que minha avó contava,
meus tios, meu pai e da minha mãe (ambos já falecidos). Meu pai foi o caçula de
três irmãos, por isso, ele viveu poucas histórias que seu pai viveu. Mas os seus
irmãos mais velhos (os meus tios) viveram grande parte destas histórias. A fase
da juventude dos meus tios foi no período final do auge da borracha. Deles que
ouvia as narrativas de trabalhar em seringais e nos piaçabais. Eles contavam
como os patrões os tratavam, quanto os patrões os pagavam, o que eles
compravam etc. Assim como as narrativas sobre os perigos que corriam nos
Assim que aprendi a prestar atenção nas ocorrências na região do rio Içana.
Meu tio José foi bom narrador e costumava contar sobre sua pescaria, a
quantidade e os tipos de peixes e caças que pescava e caçava em um dia, assim
como costumava contar dos colegas e amigos que participavam da pescaria ou
caçaria juntos. Segundo o Instituto Socioambiental (2008), “Diariamente, a
maioria dos homens no Alto Rio Negro ou está caçando ou está pescando. E
essa rotina começa bem cedo na vida dos Baniwa. […]” (https://site-
antigo.socioambiental.org/nsa/detalhe?id=2721). Através das narrativas de
experiências como essa que fui aprendendo e notando a quantidade de peixes
que um pescador matava em um dia de pescaria tradicional, materiais
tradicionais de pescas e caças que utilizavam, os rituais e as técnicas e outras
informações. Nesse sentido, observei que se compararmos as pescarias narradas
pelo meu tio José com a pescaria de quaisquer Baniwa hoje em dia, é possível
observar as diferenças de quantidade de peixes pescados e animais caçados em
um dia. A seguir, apresento a estimativa de quantidade de peixes pescados em
um dia de pesca na modalidade e técnica tradicional (caniço e linha de pesca) na
região do médio rio Içana.
Vivendo e participando das pescarias e caçarias, que aprendi com meu pai as
técnicas de pescas tradicionais Baniwa, a fabricação de materiais de pesca (arcos
e flechas), armadilhas (matapi e cacuri), assim como conhecer plantas utilizadas
para pesca como: timbó; piquiá (cariocaráceas); cunabi nativa e cultivada.
Aprendi sobre as épocas do ano e níveis dos rios ideais para pescar certos
peixes, identificar locais para pesca.
Eu fui criado no período em que ainda não havia muitos materiais e produtos
industrializados de pesca e caça. Período em que a forma de vida exigia
conhecimento e aprendizagem para fabricar e utilizar materiais e técnicas
tradicionais. Cronologicamente, essa fase, considerada como período de
transição, foi entre os anos oitenta, noventa e dois mil. De lá pra cá muitas
coisas mudaram entre os Baniwa, como por exemplo: aumento de relações com
os não-indígenas e suas culturas, como; criação de organizações das
comunidades em associações comunitárias e de categorias; implantação de
escolas de ensino fundamental em todas as comunidades, principalmente, de
séries iniciais e do ensino médio em comunidades estratégicas;
profissionalização na área de educação (professor, pedagogo etc.), saúde (agente
de saúde, técnico de enfermagem, enfermeiro, etc.) e outras áreas. Segundo
Milena Estorniolo,
A pesca contemporânea
arrastões (rede de pescar) nas praias e lagos. Segundo Thiago Lopes da Costa
Oliveira (2016, p.218), “Aqueles que não dispõem de conhecimento
especializado [...], recorrem, hoje em dia, a algumas tecnologias alienígenas,
como a pesca de arrastão com redes – as chamadas malhadeiras –, ou o
mergulho com as máscaras – as chamadas “careta” – munidos de arpão. [...]”.
No começo de uso deste material, os pescadores pecavam bastante peixes, mas
conforme avançam e expandem o uso, diminui também a quantidade de
pescados. Consequência de devastação das áreas de reprodução dos peixes
próximas das aldeias e uso excessivo de malhadeira.
para regiões de outras comunidades, como, por exemplo, para rio Cuiarí até a
igarapé, manetsiali (afluente do rio Cuiarí) e no Içana chegavam às regiões de
lagos, próximos da comunidade de Juivitera. Assim, “essas formas de
apropriação do espaço e do recurso são definidas muitas vezes a partir da
organização cultural que, por sua vez, estabelece sistemas de relações sociais e
ecológicas”. (BERKES, 1996 apud SOBREIRO, 2007, p.80).
Para pesca e caça diária não é necessário informar ninguém, pois deve-se estar
no trecho delimitado e reconhecido tradicionalmente como região de pesca
daquela comunidade. Mas com a chegada do motor-rabeta, essa organização
tradicional de convivência mudou. Os pescadores começaram a avançar fora das
áreas tradicionais de pesca e caça da sua comunidade, invadindo áreas que
pertencem as outras aldeias. Com isso a pesca com malhadeira e máscara de
mergulho também avançam em áreas de outras comunidades. Com esses
avanços descontrolados de pesca, caça e intensificação de usos desses materiais,
as áreas, onde se pescava para alimentação diária, ficaram ainda mais escassas.
Assim como os locais distantes que antes eram reservadas para reprodução e
estoques de peixes e caças.
Na figura 2: a cor rosada indica escassez de peixe e caça, o tamanho é maior que
a cor vermelha da figura 1; A cor vermelha representa intensificação da pesca e
caça, a mesma área representada pela cor laranja na figura 1, nos tempos
anteriores. É uma cor mais forte indicando a intensidade e avanço em direção à
cor verde-clara. Já a cor verde-clara está cada vez menor. A cor fraca demonstra
escassez em comparação com a cor verde da figura 1, indicando descontrole e
diminuição das áreas de reprodução.
Você deve estar se perguntando, mas o que cada questão tem a ver com a pesca
e caça? Deve ser difícil para quem não vive ou conhece essa realidade. Na busca
de melhorar esse entendimento, vou usar aqui como exemplo, a minha própria
família. Meu pai não tinha salário e nem aposentadoria pelo INSS. Vivia de seus
próprios esforços, produzindo artesanatos, trabalhando na agricultura,
pescando e caçando. Como ele não tinha dinheiro para adquirir materiais de
pesca e caça de alta tecnologia, ele comparava apenas os básicos: materiais de
pesca e caça tradicionais ou industrializados de poucos impactos, como: linha de
pesca, anzol, zagaia, arco e flecha, cacuri, matapi etc. “As técnicas de caça e
pesca empregadas tradicionalmente na região – a caça com arcos, flechas e
zarabatanas; a pesca com anzóis e armadilhas – são, no geral, consideradas
não intrusivas. Ou seja, elas não modificariam, segundo os índios, o
comportamento dos animais” (OLIVEIRA, 2016, p.219). Meu pai não tinha
motor de popa para ir pescar em lugares distantes da comunidade, pescava em
lugares próximos. Essa situação impôs a ele a obrigação de cuidar e respeitar os
locais de pesca, de piracema (reprodução de peixes), etc. Dizia que se não fizesse
isso não teria aonde pescar no próximo ano, ou melhor, não teria mais peixes
naquelas localidades.
Todos eles nas mesmas condições financeiras, por isso, não haviam ninguém
que tivesse materiais de pesca e caça avançados. Algumas pessoas tinham
espingarda (arma de caça), mas o uso era controlado. Por exemplo, quando aves
migratórias (carará) pernoitavam próximo da aldeia, eles combinavam para
todos os interessados irem a caçar durante a noite e aqueles que tem arma de
fogo para atirarem depois de amanhecer, poucas horas antes das aves seguirem
com suas migrações. Essa combinação era necessária porque sabiam que se
atirassem durante a noite as aves fugiriam e os que caçariam com zarabatana
não conseguiriam caçar. Os atiradores também não conseguiriam matar mais
que duas aves, por causa do barulho que espantaria as aves. Assim também eles
combinavam quando encontravam animais de caça, como queixadas, macacos e
outros animais. Segundo Thiago Lopes da Costa Oliveira (2016, p.218),
Conclusão
REFERÊNCIAS
COSTA, Richelly de Nazaré Lima da; SILVA, Luis Mauro Santos. “Soberania
alimentar e povos indígenas: a questão territorial e a insegurança alimentar e
nutricional”. VIII Joranada de Políticas públicas / Universidade Federal do
Maranhão, 2017. Disponível em <
http://www.joinpp.ufma.br/jornadas/joinpp2017/pdfs/eixo12/soberaniaalime
ntarepovosindigenasaquestaoterritorialeainsegurancaalimentarenutricional.pdf
>, acessado em 21/07/2018.