UFRGS-Iniciação À Docência - Espaços Conexões
UFRGS-Iniciação À Docência - Espaços Conexões
UFRGS-Iniciação À Docência - Espaços Conexões
espaços, conexões
e processos no
PIBID/UFRGS
Luciane Uberti
Roselane Zordan Costella
Andrea Hofstaetter
Organizadoras
Iniciação à docência:
espaços, conexões
e processos no
PIBID/UFRGS
OI OS
EDITORA
2017
© Dos autores – 2017
luciane.uberti@gmail.com
Editoração: Oikos
Capa: Umbelina Barreto
Revisão: Carlos A. Dreher
Arte-final: Jair de Oliveira Carlos
Impressão: Rotermund
Apresentação ............................................................................................. 7
Andrea Hofstaetter
Luciane Uberti
Roselane Zordan Costella
Dos embates às potencialidades do PIBID: um olhar retrospectivo ........... 11
Andrea Hofstaetter
Luciane Uberti
Roselane Zordan Costella
Analisando o movimento “Escola sem Partido”, seus problemas
e concepções: um relato do PIBID História/UFRGS ................................ 21
Gabriel dos Santos Giacomazzi
Carolina Boschi Monteiro
Feminismo, Gênero & Super-heróis: temas contemporâneos
no ensino de filosofia ............................................................................... 37
Inara Zanuzzi, Leonardo Porto, Rúbia Vogt, Fábio Goulart,
Alexandre Hidalgo Nicolini, Dominique da Silveira Quevedo,
Eduardo Teles, Gianluca Ravasio Focchesatto,
Márcia Gabrielle Rodrigues Laux, Maria Carolina Gurgacz,
Marina Silveira da Silva, Rafaela Antunes Nunes,
Ronald Augusto da Costa e Tabaré José Reynoso.
Registros pibidianos sobre uma tentativa de democratização
no espaço escolar ..................................................................................... 49
Gabriel Schenkmann Arnt
Rosimeri Aquino da Silva
Projeto Dom Quixote no cotidiano – uma experiência de leitura
e produção textual em língua estrangeira no Ensino Fundamental
em escola estadual .................................................................................... 60
Giovana Oliveira
Kimberling Schaun
Monica Mariño Rodriguez
Do Haiti ao Brasil e vice-versa: a prática da pedagogia
de projeto no PIBID/Francês ................................................................... 68
Sandra Dias Loguercio
Daniela Paulina Führ
Jéssica Pozzi
Júlia Hartmann das Chagas.
Fazendo e acontecendo no espaço geográfico – nosso lugar ...................... 82
Antonio Carlos Castrogiovanni
Estudo acerca das motivações para o ingresso no PIBID da Educação Física . 96
Eduardo Rodrigues Oliveira
Rogério da Cunha Voser
Dia do Lazer PIBID-UFRGS-Educação Física: desenvolvendo
competências através do lúdico e da tecnologia ....................................... 112
Clézio Gonçalves
Os processos de criação em dança em aulas de Educação Artística
na rede pública ....................................................................................... 123
Ana Paula Silva dos Reis
Flavia Pilla do Valle
As moscas pibidianas na sopa da educação ............................................. 137
Paula Mastroberti
Como fazer um texto a seis mãos? .......................................................... 156
Umbelina Barreto
Lia Regina Roveda Tassi
Juliana Gonzalez
Eliana Uczak
Eduardo Turski
Ário Gonçalves
Ressonâncias do aprender em uma prática docente no ensino da Geometria... 176
Lisete Regina Bampi
Letícia Diello
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Iniciação à docência: espaços, conexões e processos no PIBID/UFRGS
Apresentação
7
Apresentação
exemplo, sem pressupor ser neutro, nem mesmo doutrinador. Para fugir de tal
binarismo, os autores afirmam que, ao longo da organização curricular, o do-
cente deve procurar favorecer a capacidade de refletir e avaliar, investindo na
autonomia intelectual e de pensamento dos alunos.
Em “Registros Pibidianos sobre uma tentativa de democratização no
espaço escolar”, Gabriel Schenkmann Arnt e Rosimeri Aquino da Silva anali-
sam como a inserção de estudantes de licenciatura na Educação Básica tem
contribuído para a compreensão da sociologia na educação contemporânea.
Os autores destacam as aprendizagens feitas no que se refere à compreensão
sociológica das experiências de gestão democrática e de experimentação da
autonomia na escola e, especialmente, a necessidade de compreender o campo
em permanente construção e desconstrução, sujeito às alterações propostas
pelos diferentes projetos de governo.
Giovana Oliveira, Kimberling Schaun e Monica Mariño Rodriguez apre-
sentam, no capítulo intitulado “Projeto Dom Quixote no cotidiano – uma
experiência de leitura e produção textual em língua estrangeira no Ensino Fun-
damental em Escola Estadual”, uma experiência de apropriação de leitura e
de produção de escrita em espanhol. Partindo de um clássico da literatura, os
alunos se envolveram com um projeto de escrita de contos autorais, em que
contextualizam Dom Quixote no mundo contemporâneo. O percurso foi mar-
cado por descobertas e surpresas a respeito das próprias habilidades de ler e
escrever em espanhol, a partir do que foi sendo construído e proposto pelas
bolsistas de iniciação à docência.
“Do Haiti ao Brasil e vice-versa: a prática da pedagogia de projeto no
PIBID/Francês” constitui-se de uma contribuição de Sandra Dias Loguercio,
Daniela Paulina Führ, Jéssica Pozzi e Júlia Hartmann das Chagas. A partir da
análise de suas experiências no subprojeto Francês, em especial, de uma pro-
posta que os aproximou de imigrantes haitianos, as autoras destacam a rele-
vância do ensino do francês como língua estrangeira para a realidade da esco-
la pública brasileira. Para as autoras, um ensino que aborde a francofonia, as
diferenças culturais e a variação linguística da língua é tão importante quanto
desafiador, tendo em vista, entre outras dimensões, as características das socie-
dades contemporâneas.
O artigo de Antonio Carlos Castrogiovanni, intitulado “Fazendo e acon-
tecendo no espaço geográfico – nosso lugar”, demonstra uma preocupação
com a possibilidade de a Geografia distanciar-se do currículo escolar e descre-
ve a importância do conhecimento geográfico na composição curricular. O
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Iniciação à docência: espaços, conexões e processos no PIBID/UFRGS
9
Apresentação
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Iniciação à docência: espaços, conexões e processos no PIBID/UFRGS
Dos embates às
potencialidades do PIBID:
um olhar retrospectivo
Andrea Hofstaetter1
Luciane Uberti2
Roselane Zordan Costella3
1
Professora Adjunta do Instituto de Artes da UFRGS, da área de Ensino de Arte e Coordenado-
ra de Gestão de Processos Educacionais do PIBID-UFRGS.
2
Professora Adjunta da Faculdade de Educação da UFRGS, da área de Didática, Currículo e
Formação de Professores e Coordenadora de Gestão de Processos Educacionais do PIBID-
UFRGS
3
Professora Adjunta da Faculdade de Educação da UFRGS, da área de Ensino de Geografia e
Coordenadora Institucional do PIBID-UFRGS.
11
HOFSTAETTER, A.; UBERTI, L.; COSTELLA, R. Z. • Dos embates às potencialidades do PIBID
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Iniciação à docência: espaços, conexões e processos no PIBID/UFRGS
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HOFSTAETTER, A.; UBERTI, L.; COSTELLA, R. Z. • Dos embates às potencialidades do PIBID
O embate
Profissionais da educação, de todo o país, comprometidos com o for-
talecimento do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência
(PIBID e PIBID Diversidade) marcaram posição em defesa do importante
trabalho realizado pela parceria entre universidades e escolas públicas. Inte-
grante desse movimento, o FORPIBID também manifestou-se contrário à
Portaria n. 046/2016 da CAPES, publicada no DOU de 15 de abril de 2016,
pedindo sua revogação. A Portaria n. 046/2016 da CAPES exigiu que as IES
assinassem um termo de adesão, renunciando aos projetos institucionais em
andamento (Editais 061 e 066/2013 regidos pela Portaria 046/2013), rompen-
do com a vigência programada até dezembro de 2017.
Na UFRGS, tal como no FORPIBID, entendemos que “a Portaria n.
046/2016 muda o enfoque do PIBID, deslocando a natureza do Programa da
formação inicial de professores para atender à demanda por reforço escolar,
tida como solução para melhoria nos índices de aprendizagem. O documen-
to: 1) determina o fim dos subprojetos organizados por cursos de licenciaturas;
2) não menciona áreas de conhecimento do PIBID, tais como Licenciatura em
Educação Física, Artes Plásticas e Visuais, Ciências Agrárias, Música, Dança,
Ciência da Informática/Computação, Teatro, Psicologia, Enfermagem, Teo-
logia, Línguas Estrangeiras, dentre outras; 3) é omisso quanto à formação de
professores para a etapa da Educação Infantil, bem como para as modalidades
da Educação Especial, Profissional e Educação de Jovens e Adultos, desconsi-
derando as determinações das Diretrizes Curriculares Nacionais para a For-
mação Inicial e Continuada dos Profissionais do Magistério da Educação Bá-
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Iniciação à docência: espaços, conexões e processos no PIBID/UFRGS
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HOFSTAETTER, A.; UBERTI, L.; COSTELLA, R. Z. • Dos embates às potencialidades do PIBID
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Iniciação à docência: espaços, conexões e processos no PIBID/UFRGS
Das potencialidades
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HOFSTAETTER, A.; UBERTI, L.; COSTELLA, R. Z. • Dos embates às potencialidades do PIBID
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Iniciação à docência: espaços, conexões e processos no PIBID/UFRGS
cada reunião que estes professores têm na universidade, a cada troca de ideias
com os pibidianos, a cada sensação de poder e reconhecimento em diferentes
formas de autoria das suas ideias.
É importante ressaltar que fica evidente o papel do professor como um
estimulador permanente de ideias, postas à prova em cada aula, em cada des-
construção e em cada tensão que propicia ao apresentar o desconhecido de
uma forma mágica, provocando encantamento aos seus alunos. O encanta-
mento dos alunos da Educação Básica não é o mesmo encantamento destes
professores pelas suas aulas na universidade. Trata-se aqui de outras memórias,
de outras gerações, de outras inúmeras sombras desconhecidas que permeiam
cada sala, cada configuração.
As memórias computadas dos bancos escolares, na troca entre os pro-
fessores universitários e seus alunos, não são necessariamente utilizadas na
troca que ocorre nas escolas. A função soberana do professor na escola está
em reconhecer na relação entre ele e seus alunos como se processa o entendi-
mento ou a compreensão do que está sendo ensinado e aprendido. Sabe-se
que, no decorrer da vida, esquecemos como aprendemos e temos, como pro-
fessores, que ensinar o que aprendemos. Neste sentido, o professor necessita
continuamente estudar e reestudar os processos de ensino e de aprendizagem.
Reativar memórias, reformular com autoria, sentir-se representado pe-
las idéias, faz do professor, que tem o papel de supervisor das escolas ou aque-
le que convive com este e não tem este papel definido, ativar possibilidades de
sínteses autorais, ofertadas por pensamentos que refletem suas práticas.
Importa destacar a importância deste programa para os professores uni-
versitários. Inúmeros depoimentos dos coordenadores de área poderiam pre-
encher laudas e mais laudas sobre o significado do PIBID em suas práticas.
Uma de nossas coordenadoras de área mais antigas do PIBID/UFRGS costu-
ma nos dizer que o PIBID mudou a universidade, que o seu curso não é mais
o mesmo, que a licenciatura passou a ser valorizada e que seus alunos persisti-
ram em ser professores graças a este desenho possibilitado pelo PIBID (RE-
LATÓRIO PIBID, 2016).
O professor da escola, a própria escola e os bolsistas de iniciação à do-
cência estão modificando a forma de pensar das universidades. A singularida-
de peculiar proposta nas experiências que acontecem nas escolas, vem mudan-
do, de alguma forma, a compreensão do papel da universidade na formação
de professores.
Como um caminho nebuloso de uma fumaça em direção ao infinito,
suas inúmeras e mutáveis silhuetas, interpretadas com um bom teor subjetivo,
as licenciaturas começam a ser vistas de outra forma. Verdades postas e crista-
19
HOFSTAETTER, A.; UBERTI, L.; COSTELLA, R. Z. • Dos embates às potencialidades do PIBID
Referências
COSTELLA, R. Z.; UBERTI, L.; HOFSTAETER, A.; STURM, I. Iniciação à Docên-
cia: reflexões interdisciplinares. São Leopoldo: Oikos, 2015.
COSTELLA, R. Z.; UBERTI, L.; HOFSTAETER, A.; STURM, I. Percursos da prática
de sala de aula. São Leopoldo: Oikos, 2016.
FÓRUM EM DEFESA DO PIBID. FORPIBID. Carta de apoio ao PIBID. 2016.
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. CAPES. Edital 061/2013 – Programa Institucional
de Bolsa de Iniciação à Docência.
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. CAPES. Edital 066/2013 – Programa Institucional
de Bolsa de Iniciação à Docência – Diversidade.
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. CAPES. Portaria 046/2016 Regulamenta o Progra-
ma Institucional de Bolsa de Inicição à Docência.
RELATÓRIO parcial do PIBID-UFRGS 2016. Porto Alegre: UFRGS, 2016.
PEREIRA, Marcos Villela. A pesquisa em Educação e Arte: a consolidação de um
campo interminável. Revista Iberoamericana de Educación. n. 52. Madrid: CAEU – OEI,
2010, p. 61-80.
20
Iniciação à docência: espaços, conexões e processos no PIBID/UFRGS
Analisando o movimento
“Escola sem Partido”, seus problemas
e concepções: um relato do
PIBID História/UFRGS
Gabriel dos Santos Giacomazzi1
Carolina Boschi Monteiro2
1 Introdução
1
Gabriel dos Santos Giacomazzi. E-mail: giaco.acad@gmail.com.
2
Carolina Boschi Monteiro. E-mail: monteiro-carolina@hotmail.com.
3
O Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID) foi implementado no ano
de 2007 através de edital MEC/Capes/FNDE, visando “antecipar o vínculo entre os futuros
mestres e as salas de aula da rede pública. Com essa iniciativa, o PIBID faz uma articulação
entre a educação superior (por meio das licenciaturas), a escola e os sistemas estaduais e
municipais.” Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/pibid>. Acesso em: 02 dez. 2016.
4
A saber: a Escola Técnica Estadual Irmão Pedro, o Colégio Estadual Júlio de Castilhos, o
Colégio de Aplicação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e o Colégio Estadual
Emílio Massot.
21
GIACOMAZZI, G. dos S.; MONTEIRO, C. B. • Analisando o movimento “Escola sem Partido”, ...
5
Para uma análise mais completa e totalizante do Movimento Escola Sem Partido, cf. PENNA,
Fernando. “Programa ‘Escola Sem Partido’: uma ameaça à educação emancipadora”. In:
GABRIEL, Carmen Teresa; MONTEIRO, Ana Maria; MARTINS, Marcus Leonardo Bomfim
(Orgs.). Narrativas do Rio de Janeiro nas aulas de história. Rio de Janeiro: Mauad X, 2016, texto
que norteia, de maneira geral, este trabalho.
6
Utilizaremos esta sigla para nos referirmos de forma genérica, neste trabalho, ao Movimento
Escola Sem Partido.
22
Iniciação à docência: espaços, conexões e processos no PIBID/UFRGS
7
PL n. 2794/2014. Disponível em: <http://aler jln1.alerj.rj.gov.br/scpro1115.nsf/
e4bb858a5b3d42e383256cee006ab66a/45741a7e2ccdc50a83257c980062a2c2?OpenDocument>.
Acesso em: 20 nov. 2016.
8
Lei n. 7.800, de 05 de maio de 2016, que instituiu o Programa “Escola Livre” no Estado de
Alagoas, tendo sido posteriormente vetada por inconstitucionalidade. Disponível em: <http://
sapl.al.al.leg.br/sapl_documentos/norma_juridica/1195_texto_integral>. Acesso em: 23 nov.
2016.
9
Vide Medida Cautelar expedida em 21/03/2017. Disponível em: <http://www.cp2.g12.br/
images/comunicacao/2017/Mar/ADI%205537.pdf>. Acesso em: 30 mar. 2017. O Ministro
do Supremo faz, em seu relatório, importantes colocações. Ver também o parecer da
Procuradoria-Geral da República (PGR) sobre as Ações Diretas de Inconstitucionalidade 5.537/
AL e 5.580/AL. Disponível em: <http://www.mpf.mp.br/pgr/documentos/adi-5580-e-adi-
5537-escola-livre.pdf>. Acesso em: 06 dez. 2016.
10
Parágrafo inicial da justificativa do PL 2974/2014 (RJ). Note-se como a retórica do movimento
apela ao senso-comum e aos fatos dados como “notórios”.
23
GIACOMAZZI, G. dos S.; MONTEIRO, C. B. • Analisando o movimento “Escola sem Partido”, ...
11
“Anteprojeto de Lei Estadual e minuta de justificativa”. Disponível em: <http://
escolasempartido.org/component/content/article/2-uncategorised/484-anteprojeto-de-lei-
estadual-e-minuta-de-justificativa>. Acesso em: 25 nov. 2016.
12
Ambos tais como quando acessados em 25 de nov. 2016, com nova visita em 30 de mar. 2017.
24
Iniciação à docência: espaços, conexões e processos no PIBID/UFRGS
zes incompatíveis com os que lhes são ensinados por seus pais”, o que seria
uma afronta, uma vez que, para o ESP, os docentes não devem ensinar senão
aquilo que, agora retomando o teor do PL, não estiver em conflito com “as
convicções religiosas ou morais dos pais ou responsáveis pelos estudantes”.
Para justificar essa subordinação dos professores e do currículo ao arbítrio da família
do estudante, recorrem à Convenção Americana de Direitos Humanos, um do-
cumento de 1969 ratificado no Brasil em 1992, o qual, em seu Artigo 12, inci-
so IV, diz que “os pais, e quando for o caso os tutores, têm direito a que seus
filhos ou pupilos recebam a educação religiosa e moral que esteja acorde com
suas próprias convicções.”13 Ora, trata-se de um consenso em que inexiste o
direito a se forçar alguém a aderir a certa moral ou credo, e esta é a intenção da
convenção; entretanto, a interpretação do ESP desconsidera o fato de que sa-
las de aula são ambientes diversos e plurais, em que o exercício da cidadania e
da democracia também passa pelo conhecimento do outro, da diversidade; e
isto é muito diferente de obrigar estudantes a isto ou aquilo. Os PLs expressam,
quase que literalmente, que, caso os pais de alunos se sintam desconfortáveis
com qualquer coisa que lhes ofenda em sentido moral ou religioso, o docente
que as ministrar deverá ser submetido a medidas legais.
Curiosamente, as justificativas dos PLs deixam de mencionar o Artigo
13 da mesma convenção, que trata especificamente das liberdades de pensa-
mento e de expressão, em seus incisos I e II:
I - Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento e de expressão. Esse
direito compreende a liberdade de buscar, receber e difundir informações
e ideias de toda natureza, sem consideração de fronteiras, verbalmente ou
por escrito, ou em forma impressa ou artística, ou por qualquer outro pro-
cesso de sua escolha.
II - O exercício do direito previsto no inciso precedente não pode estar su-
jeito à censura prévia, mas a responsabilidades ulteriores, que devem ser
expressamente fixadas pela lei e ser necessárias para assegurar:
a. o respeito aos direitos ou à reputação das demais pessoas; ou
b. a proteção da segurança nacional, da ordem pública, ou da saúde ou da
moral públicas (Convenção Americana de Direitos Humanos) (grifos nos-
sos).
13
“Convenção Americana sobre Direitos Humanos”. Disponível em: <https://
www.cidh.oas.org/basicos/portugues/c.convencao_americana.htm>. Acesso em: 22 nov. 2016.
25
GIACOMAZZI, G. dos S.; MONTEIRO, C. B. • Analisando o movimento “Escola sem Partido”, ...
14
Artigo 5º, IV – É livre a expressão do pensamento, sendo vedado o anonimato. [...] IX – é livre
a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente
de censura ou licença. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/
constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 27 nov. 2016.
15
Art. 206, II – II – liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o
saber.
16
LDB, Art. 3º, II – liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento,
a arte e o saber. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/
lei9394_ldbn1.pdf>. Acesso em: 27 nov. 2016.
17
Excerto da Justificativa do PL 867/2015.
18
Esta definição de liberdade de expressão se encontra em: <http://www.escolasempartido.org/
faq>. Acesso em: 27 nov. 2016.
26
Iniciação à docência: espaços, conexões e processos no PIBID/UFRGS
19
“Professor não tem direito de ‘fazer a cabeça’ de aluno”. Disponível em: <http://
www.conjur.com.br/2013-out-03/miguel-nagib-professor-nao-direito-cabeca-aluno>. Acesso
em: 07 dez. 2016.
20
Disponível em: <http://escolasempartido.org/flagrando-o-doutrinador>. Acesso em: 04 dez.
2016.
27
GIACOMAZZI, G. dos S.; MONTEIRO, C. B. • Analisando o movimento “Escola sem Partido”, ...
Você pode estar sendo vítima de doutrinação ideológica quando seu profes-
sor:
– se desvia frequentemente da matéria objeto da disciplina para assuntos
relacionados ao noticiário político ou internacional;
– adota ou indica livros, publicações e autores identificados com determina-
da corrente ideológica; [...]
– não admite a mera possibilidade de que o “outro lado” possa ter alguma
razão (Website Escola sem Partido).
21
Uma imagem com a capa do livro está presente no canto inferior esquerdo do website do
Movimento (www.escolasempartido.org). Acesso em: 07 dez. 2016.
22
“FAQ”. Disponível em: <http://www.escolasempartido.org/faq>. Acesso em: 23 nov. 2016.
28
Iniciação à docência: espaços, conexões e processos no PIBID/UFRGS
29
GIACOMAZZI, G. dos S.; MONTEIRO, C. B. • Analisando o movimento “Escola sem Partido”, ...
23
Ver novamente o “FAQ” do website do ESP. Disponível em: <http://
www.escolasempartido.org/faq>. Acesso em: 23 nov. 2016.
24
“IV – ao tratar de questões políticas, sócio-culturais e econômicas, apresentará aos alunos, de
forma justa, as principais versões, teorias, opiniões e perspectivas concorrentes a respeito;”
(PL 867/2015, Art. 4º, IV). Este inciso inibe a liberdade metodológica dos docentes, por um
lado; por outro, é contraditório no sentido de obrigar os professores a apresentarem “todos os
lados” e, ao mesmo tempo, vetá-los do ensino dos “lados” que estejam em conflito com a
moral dos pais ou responsáveis.
30
Iniciação à docência: espaços, conexões e processos no PIBID/UFRGS
que você terá algum tipo de liberdade para escolher ou não – pois isso seria
irrefletidamente liberal. No discurso liberal, em algum lugar e de alguma
maneira, sempre existe uma espécie de campo neutro de onde parece mes-
mo que podemos escolher ou não. Esse campo neutro não é considerado
uma posição que a pessoa já ocupa. Em vez disso, é tido como um ponto de
vista desapaixonado, de onde podemos relaxar e fazer objetivamente esco-
lhas e juízos imparciais. [...] não é possível haver um lugar não posicionado.
A única escolha é entre uma história que está consciente do que faz e uma
história que não está (JENKINS, 2007, p. 106).
25
“Lei n. 10.965, de 18 de outubro de 2010”. Disponível em: <http://www2.portoalegre.rs.gov.br/
cgi-bin/nph-brs?s1=000031310.DOCN.&l=20&u=%2Fnetahtml%2Fsirel%2Fsimples.html&p
=1&r=1&f=G&d=atos&SECT1=TEXT>. Acesso em: 06 dez. 2016.
26
“Projeto de Lei do Legislativo – 124/2016”. Disponível em: <http://www.camarapoa.rs.gov.br/
processos/128712>. Acesso em: 06 dez. 2016.
31
GIACOMAZZI, G. dos S.; MONTEIRO, C. B. • Analisando o movimento “Escola sem Partido”, ...
32
Iniciação à docência: espaços, conexões e processos no PIBID/UFRGS
27
Coletada na página do ESP no Facebook, onde muito mais material de semelhante teor pode
ser encontrado. Disponível em: <https://www.facebook.com/escolasempartidooficial/photos/
a.346888065462191.1073741829.336441753173489/703760683108259/?type=3&theater>.
Acesso em: 08 dez. 2016.
33
GIACOMAZZI, G. dos S.; MONTEIRO, C. B. • Analisando o movimento “Escola sem Partido”, ...
3.1 Panfleto
A estratégia pensada para ser empregada dentro das escolas foi a produ-
ção de um panfleto que pudesse apresentar alguns aspectos relativos ao debate
educacional acerca das propostas do ESP. Desta maneira, teríamos como atin-
gir de maneira rápida os alunos da escola e até mesmo levar o material para
dentro de suas casas, para que pudessem inserir as famílias na discussão. O
caráter da produção, então, deveria ser introdutório, sem deixar de ser comple-
xo, promovendo algumas reflexões sobre a educação e os modelos desejados
para essa, com base nas críticas de Paulo Freire à educação bancária. Deveria
ainda ter caráter instigante e convidativo.
Realizou-se uma extensiva busca de imagens que pudessem ser utiliza-
das na confecção do material, de maneira que fosse possível criar um recurso
visual que chamasse a atenção e fosse, ao mesmo tempo, potencialmente ade-
quado à nossa perspectiva de educação e de ciência. Optamos por recursos
que criassem uma visão da escola enquanto um ambiente positivo e plural,
sendo o professor um mediador das diferenças. Eis o resultado:
34
Iniciação à docência: espaços, conexões e processos no PIBID/UFRGS
3.2 Vídeo
Sabendo que a internet é um catalisador da difusão e adesão do projeto
ESP, buscou-se veicular por esse mesmo meio um material que pudesse ser
direto e de fácil compreensão, trazendo questionamentos sobre as intenções e
implicações de uma educação dita “sem partido”. Este foi elaborado a partir
de uma série de entrevistas com estudantes, professores e outras pessoas liga-
das à área da educação. Antes da publicação destas entrevistas sob a forma de
uma multiplicidade de vídeos a serem amplamente divulgados na internet, foi
produzido um material mais introdutório, com apenas dois minutos de dura-
ção, no intuito de ser um convite ao debate e à problematização do ESP.28
Posteriormente, por conta da participação de membros do subprojeto
História na Frente Gaúcha Escola Sem Mordaça (FGESM), foi firmado um
acordo de cooperação entre nosso grupo de trabalho e a Organização Não-
Governamental “Minha Porto Alegre”, também membro da FGESM. A ONG
28
“PIBID História UFRGS Por Uma Escola Sem Mordaças!” Disponível em: <https://
www.youtube.com/watch?v=DPRpkD0xFYw>. Acesso em: 09 dez. 2016.
35
GIACOMAZZI, G. dos S.; MONTEIRO, C. B. • Analisando o movimento “Escola sem Partido”, ...
4 Conclusão
Referências
CARR, Edward Hallett. Que é História?. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978.
JENKINS, Keith. A História Repensada. São Paulo: Contexto, 2007.
PENNA, Fernando. Programa ‘Escola Sem Partido’: uma ameaça à educação emanci-
padora. In: GABRIEL, Carmen Teresa; MONTEIRO, Ana Maria; MARTINS, Mar-
cus Leonardo Bomfim (Orgs.). Narrativas do Rio de Janeiro nas aulas de história. Rio de
Janeiro: Mauad X, 2016.
29
“Fala, Professor!”. Canal da Frente Gaúcha Escola Sem Mordaça no YouTube. Disponível
em: <https://www.youtube.com/channel/UCiKBZ6kEIAMfWFCPsIbEJUA>. Acesso em:
09 dez. 2016.
36
Iniciação à docência: espaços, conexões e processos no PIBID/UFRGS
* ??????????????????????????????????????????????????????????????????????
37
ZANUZZI, I. et al. • Feminismo, Gênero & Super-heróis: temas contemporâneos...
Aujaleu (1997) escreve que o ensino filosófico recai sobre três objetos:
“as obras e os textos filosóficos, o pensamento e a prática humana e o pensa-
mento dos próprios alunos (p. 37)”. O autor deixa claro que esses objetos de
ensino não são excludentes: “com relação as obras, trata-se de resgatar os
modelos de racionalidade e totalização que elas propõem; com relação aos
outros dois casos, convém aplicar as normas assim resgatadas aos dados reais
que constituem o ambiente cultural, social e existencial dos alunos (AUJA-
LEU, 1997, p. 37).
Nossa proposta é realizar as três etapas mencionadas por Aujaleu: usa-
mos as teorias e o método filosófico para abordar temas contemporâneos e,
ao fazer isso, pretendemos tornar mais acessíveis o conteúdo e o método
filosófico.
Em nossa atuação na Escola Estadual Padre Reus e no Colégio de Apli-
cação da UFRGS, utilizamos o conteúdo filosófico para analisar e discutir
assuntos contemporâneos, o “feminismo” e “questões de gênero”, mas tam-
bém fizemos o inverso: usamos a cultura contemporânea, os super-heróis das
estórias em quadrinhos, para estudar a filosofia da Grécia Clássica.
Abordar o feminismo nos permitiu uma aproximação com a área de His-
tória, e as questões de gênero, com a da Sociologia. Mas além da aproximação
com outras áreas, é preciso também estabelecer uma conexão com o interesse
dos alunos. No caso do feminismo, fomos ao encontro das aspirações de várias
alunas da Escola Padre Reus, que se mobilizaram contra a postura sexista de
alguns professores. Durante a ocupação da escola por parte dos alunos no ano
de 2016, foi manifestado o interesse destes com relação ao tema dos vários
tipos de sexualidade, o que nos levou a criar a oficina sobre questões de gênero.
Utilizar estórias em quadrinho é uma forma de aproximar a filosofia da cultu-
ra popular.
Seguindo os passos de nossa proposta curricular, iniciamos o estudo do
feminismo e das questões de gênero com uma noção básica de ética, pois em
ambos os casos estamos tratando de preconceitos sociais e morais.
Surge, entretanto, uma tensão: como ensinar o respeito à mulher e à
diversidade de comportamento sexual sem incorrer em proselitismo moral?
Ambos são temas polêmicos, e a neutralidade do professor diante destes será
falsa. Porém, ao assumir uma posição, não estará doutrinando os alunos? Para
evitar este resultado, o professor deve desenvolver nos alunos a capacidade de
avaliarem por si mesmos o que está em jogo nestes temas, ou seja, deve desen-
volver a autonomia intelectual dos alunos. Este objetivo, aliás, deve percorrer
todo currículo, pois, sem autonomia de pensamento, os alunos serão meros
repetidores daquilo que “assistem” em aula.
38
Iniciação à docência: espaços, conexões e processos no PIBID/UFRGS
Introdução à ética
Etapas da atividade:
1) Iniciar apresentando como se divide a ética, segundo Fábio Gai Pereira.
(Ética: perspectivas sobre o seu ensino, 2013, p. 15-20):
a) Consequencialismo (citar o Utilitarismo, que foi exemplificado pelo autor)
b) Ética do dever (citar Kant e religiões que têm regras morais fixas)
c) Ética das Virtudes (citar Aristóteles)
39
ZANUZZI, I. et al. • Feminismo, Gênero & Super-heróis: temas contemporâneos...
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Iniciação à docência: espaços, conexões e processos no PIBID/UFRGS
41
ZANUZZI, I. et al. • Feminismo, Gênero & Super-heróis: temas contemporâneos...
1 Primeiro Encontro:
1.1 Apresentação da proposta do grupo de estudos.
1.2 Abertura do tema através da dinâmica proposta com a pergunta “O que
é ser mulher?”, escrevendo as respostas das alunas no quadro de forma
anônima.
1.3 Leitura e discussão de um trecho da introdução do livro “O Segundo
Sexo”, de 1949, de Simone de Beauvoir, no qual ela questiona o que é
ser mulher.
2 Segundo Encontro:
2.1 Exposição do contexto histórico do surgimento do feminismo, com foco
em alguns acontecimentos marcantes na Europa e no Brasil.
2.2 Com relação ao feminismo no cenário internacional, focou-se a Revo-
lução Francesa e sua influência no pensamento de Olympe de Gouges
(1748-1793), que, desencantada com o fato de os revolucionários não
incluírem as liberdade para as mulheres no ideário da Revolução, escre-
veu a “Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã”.
2.3 Também foi abordado o movimento sufragista no século XIX, que ori-
ginou o movimento feminista na Inglaterra, o qual, por sua vez, inspi-
rou o movimento feminista no Brasil. Deste, foi abordado o papel pre-
cursor de Nísia Floresta Brasileira Augusta, que em 1832 publicou o
livro “Direitos das mulheres e injustiça dos homens”. Existe um vídeo
sobre esta feminista brasileira no youtube neste endereço: https://
www.youtube.com/watch?v=-fqz5fsFssE.
42
Iniciação à docência: espaços, conexões e processos no PIBID/UFRGS
4 O ensino de lógica:
4.1 Inferências
4.1.1 Elementos da inferência:
a) sentença ou proposição: expressão linguística que pode ser ver-
dadeira ou falsa;
b) valor de verdade: dizer que uma sentença ou proposição é algo
verdadeiro ou falso é dizer que ela tem valor de verdade;
c) argumento: um argumento é um conjunto de pelo menos duas
proposições, tais que algumas (eventualmente, uma) – as pre-
missas – pretendem levar à aceitação da verdade de outra – a
conclusão;
d) argumento válido: um argumento é válido se o conjunto das
suas premissas tem como consequência a conclusão;
e) argumento inválido: um argumento é inválido se o conjunto
das suas premissas não tem como consequência a conclusão.
4.2 Raciocínio Dedutivo: é uma inferência na qual se afirma que a conclu-
são é necessariamente verdadeira se as premissas também o forem. Portan-
to, não há qualquer possibilidade de as premissas serem verdadeiras
4.3 Raciocínio Indutivo: É uma inferência na qual se afirma que a conclusão
tem alta probabilidade de ser verdadeira se as premissas também o forem.
4.5 Analogia: Um raciocínio análogo é uma relação de semelhança entre
duas coisas ou mais.
4.6 Condições Suficientes: Condição Suficiente é aquela que satisfaz o re-
quisito mínimo para assegurar a ocorrência efetiva de outro evento.
4.7 Condições Necessárias: são aquelas que devem ser satisfeitas antes que
outro evento possa ocorrer.
Exemplo de análise de um argumento usando o conteúdo feminista:
Premissa 1: Se uma sociedade é justa e equitativa para as mulheres, então
homens e mulheres terão iguais direitos sociais, políticos e econômicos, assim
como liberdades e oportunidades iguais.
Premissa 2: Mas, em muitas sociedades ocidentais, homens e mulheres
não têm iguais direitos sociais, políticos e econômicos, assim como não têm
liberdades e oportunidades iguais.
43
ZANUZZI, I. et al. • Feminismo, Gênero & Super-heróis: temas contemporâneos...
Etapas da atividade:
1) Dividir o quadro em 3 colunas e perguntar às/aos participantes o que vem
imediatamente à cabeça quando escutam a palavra “sexo”.
2) Escrever a palavra “sexo” na primeira coluna do quadro e, conforme forem
falando, anotar as respostas fazendo uma lista.
3) Na sequência, solicitar que façam o mesmo com as palavras: “sexualidade”
e “gênero”.
44
Iniciação à docência: espaços, conexões e processos no PIBID/UFRGS
4) Ao final, ler todas as definições que surgiram para cada uma das palavras
propostas e pedir que façam comentários sobre as respostas que surgiram.
Que ideias aparecem em mais de um conceito? Como podemos definir me-
lhor cada conceito para torná-los mais precisos?
5) Iniciar a discussão, utilizando as seguintes perguntas: Qual a diferença en-
tre sexo e sexualidade? Qual a diferença entre sexo e gênero? O que é diver-
sidade sexual e identidade de gênero? E como a orientação sexual se relaci-
ona com tudo isso?
Exemplo de atividade:
45
ZANUZZI, I. et al. • Feminismo, Gênero & Super-heróis: temas contemporâneos...
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Iniciação à docência: espaços, conexões e processos no PIBID/UFRGS
Super-Heróis e a Filosofia
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ZANUZZI, I. et al. • Feminismo, Gênero & Super-heróis: temas contemporâneos...
2 Platão e a justiça:
Platão questiona se as pessoas amam a justiça ou o bem, porque é certo,
ou porque sabem que, se forem injustas ou imorais, sofrerão consequências
negativas. Para que a justiça tenha alguma validade, ela deverá ser uma virtu-
de e, portanto, deve contribuir de modo constitutivo para a boa vida de quem
é justo. Platão argumenta que nossa natureza é tal que, no fim, apesar de nos-
sos desejos presentes, seremos mais felizes tanto nessa vida quanto após a morte,
se vivermos em harmonia com a justiça, voltando nossa atenção para o bem.
Referências
ALMEIDA, A; MURCHO, D.; TEIXEIRA, C. 50 Lições de Filosofia, 10. ano. Lisboa:
Didática, 2013.
AUJALEU, Edouard. “Philosophie et Histoire de la Philosophie en Classe Termina-
le”. In: “L’Étude de Philosophie”, Academie de Montpellier, 1997.
GALLO, S. Filosofia: experiência do pensamento. Volume único. São Paulo: Scipione, 2014.
[Unidade 2, capítulo 3: Corporeidade, gênero e sexualidade].
MORRIS, M.; MORRIS, T. Super-Heróis e a Filosofia – Verdade, justiça e o caminho
Socrático. São Paulo: Madras, 2009.
NAGEL, Thomas. Visão a partir de lugar nenhum. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
PEREIRA, Fábio. Ética: perspectivas sobre o seu ensino. In: SPINELLI, Priscilla Tes-
ch; PORTO, Leonardo Sartori; ZANUZZI, Inara; SANTOS, Rafael Bittencourt (Orgs.).
Diálogos com a escola: experiências em formação continuada em Filosofia na UFRGS.
Porto Alegre: Evangraf, 2013, v. 1, p. 171-196.
RACHELS, James. Elementos de Filosofia Moral. Porto Alegre: AMGH, 2013.
SALIH, Sara. Judith Butler e a Teoria Queer. São Paulo: Autêntica, 2012.
48
Iniciação à docência: espaços, conexões e processos no PIBID/UFRGS
1
Licenciado em Ciências Sociais (UFRGS). Bolsista PIBID – Subprojeto Ciências Sociais de
2012 a 2015. Estagiário de Sociologia de 2014 I/II.
2
Coordenadora do PIBID-Ciências Sociais. Professora DEC/UFRGS. E-mail:
rosimeriaquinodasilva@gmail.com.
49
ARNT, G. S.; SILVA, R. A. da • Registros pibidianos sobre uma tentativa de democratização...
3
Estagiária Lizey Silveira da Silva. Relatório de Estágio de Docência em Ciências Sociais I,
2015, p. 24.
50
Iniciação à docência: espaços, conexões e processos no PIBID/UFRGS
4
ARNT, Gabriel Schenkmann. Conselho de classe participativo: possibilidades e limitações à democracia.
Trabalho de Conclusão de Curso – Licenciatura em Ciências Sociais, UFRGS, 2015.
51
ARNT, G. S.; SILVA, R. A. da • Registros pibidianos sobre uma tentativa de democratização...
52
Iniciação à docência: espaços, conexões e processos no PIBID/UFRGS
5
Regimento Padrão do Ensino Médio Politécnico – Parecer CEED n. 310/2012 (1ª parte).
53
ARNT, G. S.; SILVA, R. A. da • Registros pibidianos sobre uma tentativa de democratização...
Cenas escolares
54
Iniciação à docência: espaços, conexões e processos no PIBID/UFRGS
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ARNT, G. S.; SILVA, R. A. da • Registros pibidianos sobre uma tentativa de democratização...
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Iniciação à docência: espaços, conexões e processos no PIBID/UFRGS
Conclusão
57
ARNT, G. S.; SILVA, R. A. da • Registros pibidianos sobre uma tentativa de democratização...
Referências
AZEVEDO, José Clovis; REIS, Jonas Tarcísio (Orgs.). Reestruturação do Ensino Médio:
pressupostos teóricos e desafios da prática. São Paulo: Fundação Santillana, 2013,
p. 187-206
DOS SANTOS, Almir Paulo. Aluno sujeito da avaliação: conselho de classe participa-
tivo como instância de reflexão. Roteiro, [S.l.], v. 35, n. 2, p. 299-318, ago. 2010. ISSN
2177-6059. Disponível em: <http://editora.unoesc.edu.br/index.php/roteiro/article/
view/235>. Acesso em: 17 set. 2013.
DUBET, F. A escola e a exclusão. In: Cadernos de Pesquisa, n. 119, São Paulo, julho/
2003.
FERREIRA, Vera Maria. Ensino Médio Politécnico: mudança de paradigmas. In:
MILLS, C. W. A imaginação sociológica. Rio de Janeiro: Zahar, 1972.
MOSNA, Rosa Maria Pinheiro. Avaliação: paradigmas e paradoxos no âmbito do
Ensino Médio. In: AZEVEDO, José Clovis; REIS, Jonas Tarcísio (Orgs.). Reestrutura-
ção do Ensino Médio: pressupostos teóricos e desafios da prática. São Paulo: Fundação
Santillana, 2013, p. 219-239.
PARO, Vitor Henrique. Crítica da estrutura da escola. São Paulo: Cortez, 2011.
PORCHEDDU, A. Zygmunt Bauman: Entrevista sobre a Educação. Desafios Pedagógi-
cos e Modernidade Líquida. Os Desafios da Educação: Aprender a caminhar sobre arei-
as movediças. In: Cadernos de Pesquisa. V. 39, n. 137, p. 661-684, maio/ago. 2009.
SECRETARIA DA EDUCAÇÃO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL.
Proposta Pedagógica para o Ensino Médio Politécnico e Educação Profissional Integrada ao
Ensino Médio – 2011-2014. Out./nov. de 2011. Disponível em: <http://
www.educacao.rs.gov.br/pse/html/ens_medio.jsp?ACAO=acao1>. Acesso em: 30 nov.
2014.
58
Iniciação à docência: espaços, conexões e processos no PIBID/UFRGS
59
Projeto Dom Quixote no cotidiano
– uma experiência de leitura e
produção textual em língua estrangeira
no Ensino Fundamental em escola estadual
Giovana Oliveira1
Kimberling Schaun2
Monica Mariño Rodriguez3
Introdução
1
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2
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3
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60
Iniciação à docência: espaços, conexões e processos no PIBID/UFRGS
Objetivos
61
OLIVEIRA, G.; SCHAUN, K.; RODRIGUEZ, M. M. • Projeto Dom Quixote no cotidiano...
Metodologia
4
Disponível em: <http://w0ww.scielo.br/pdf/ep/v31n3/a09v31n3.pdf>. Acesso em: 1o maio
2017.
62
Iniciação à docência: espaços, conexões e processos no PIBID/UFRGS
63
OLIVEIRA, G.; SCHAUN, K.; RODRIGUEZ, M. M. • Projeto Dom Quixote no cotidiano...
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Iniciação à docência: espaços, conexões e processos no PIBID/UFRGS
postas pelas bolsistas, permitindo que o conteúdo das leituras individuais fos-
se discutido em aula pelo grande grupo.
Terminado o livro, foi apresentada aos alunos a proposta de produção
final: a escrita de um conto retratando Dom Quixote, com todas as caracterís-
ticas assinaladas durante o semestre, nos dias atuais, em situações contempo-
râneas. Para que isso pudesse ser realizado, como foi mencionado antes, du-
rante a aplicação do projeto foram trabalhados os verbos no presente do indi-
cativo e nos pretéritos perfeito e imperfeito do indicativo, características físi-
cas e psicológicas, estabelecimentos comerciais, cidades e meios de transporte,
todos esses temas contextualizados na narrativa da obra literária.
Para que se familiarizassem com o gênero literário conto, uma aula foi
dedicada especialmente a observar a estudar as características estruturais e
literárias do conto. Foi mostrado que seu tamanho era menor que o de um
romance, e até mesmo do livro adaptado que estavam lendo; que era uma
história completa por si só, ainda que pequena, que costuma envolver um con-
flito principal, que pode ser resolvido ou não. Para ilustrar tudo isso, foi leva-
do um conto para sala de aula, distribuído para todos os alunos. Seguindo a
prática de leitura, eles foram convidados a ler em voz alta para seus colegas.
Além do conhecimento linguístico, foi de extrema importância realizar ativi-
dades de interpretação de texto, mostrando que, por se tratar de literatura, o
autor do conto tinha mais liberdade para “jogar” com a linguagem. O conto
foi muito bem recebido pelas turmas, que entenderam como o gênero funcio-
na e já puderam ir pensando em como elaborar a história em que estavam
pensando para este formato.
Uma vez que os alunos tinham as ferramentas necessárias para a cons-
trução de sua própria história, as turmas foram divididas em duplas e cada
uma delas criou o primeiro rascunho, que foi lido e devolvido com correções
gramaticais e sugestões. As duplas trabalharam sem maiores problemas; cada
uma possuía um dicionário, oferecido pela escola, onde podiam consultar pa-
lavras das quais não soubessem o significado ou a ortografia. As histórias fo-
ram criadas em conversas pelos próprios alunos, e muitas duplas auxiliaram
umas às outras na hora da escrita. Houve uma aula dedicada exclusivamente
para a reescrita dos contos, quando os alunos puderam ler as sugestões feitas
pelas bolsistas, debatê-las entre si e novamente com as bolsistas. Ao final, to-
das as duplas conseguiram fazer tanto o rascunho quanto a reescrita de seus
contos, com todas as dúvidas eliminadas, sentindo-se bastante seguras com o
seu trabalho. Nos quesitos gramatical e linguístico, a escrita do rascunho e de
uma versão final também possibilitou, tanto aos alunos quanto às bolsistas,
perceber quais eram as maiores dificuldades de escrita da turma, informação
65
OLIVEIRA, G.; SCHAUN, K.; RODRIGUEZ, M. M. • Projeto Dom Quixote no cotidiano...
Conclusão do projeto
66
Iniciação à docência: espaços, conexões e processos no PIBID/UFRGS
Considerações finais
Referências
SANCHEZ, T. Quijote de la Mancha (versão adaptada). Editorial Weeble, 2016. Dispo-
nível em: <http://www.weeblebooks.com/es/don-quijote-de-la-mancha/>. Acesso em:
1o maio 2017.
TIPP, D. Pesquisa-ação: uma introdução metodológica. 2005. Disponível em: <http://
w0ww.scielo.br/pdf/ep/v31n3/a09v31n3.pdf>. Acesso em: 1o maio 2017.
67
Do Haiti ao Brasil e vice-versa:
a prática da pedagogia de projeto
no PIBID/Francês
Sandra Dias Loguercio1
Daniela Paulina Führ2
Jéssica Pozzi3
Júlia Hartmann das Chagas4
Introdução
1
PIBID/Francês, Departamento de Línguas Modernas. E-mail: sandra.loguercio@hotmail.com.
2
Ex-bolsista PIBID/Francês, licencianda em Letras – Português e Francês. E-mail:
dani_fuhr@yahoo.com.br.
3
Ex-bolsista PIBID/Francês, licencianda em Letras – Português e Francês. E-mail:
jessica.pozzi@hotmail.com.
4
Ex-bolsista PIBID/Francês, licencianda em Letras – Português e Francês. E-mail:
juliahchagas@gmail.com.
5
Os objetivos gerais de nosso subprojeto são a iniciação à docência de licenciandos em Letras
(com ênfase em Francês ou em Francês/Português) e a formação continuada de professores de
Francês (coordenador e supervisor), o que se dá pela aproximação entre escola e universidade,
pela troca de experiências entre os diversos atores e pela valorização de diferentes competênci-
as no trabalho em equipe.
6
Com a Lei n.13.415, de fevereiro de 2017, a oferta do ensino de Espanhol se torna facultativa
no Ensino Médio, retrocedendo à situação anterior.
68
Iniciação à docência: espaços, conexões e processos no PIBID/UFRGS
7
Segundo Schlatter e Garcez (2009), o termo língua adicional enfatiza o caráter de acréscimo a
outras línguas que já fazem parte do repertório linguístico dos sujeitos, além de sugerir que, em
comunicações transnacionais, a distinção entre nativo/estrangeiro deixa de ser relevante ou
mesmo não se verifica, uma vez que uma determinada língua (o Inglês ou o Espanhol, por
exemplo) pode servir como meio de comunicação entre indivíduos de formações socioculturais
e nacionalidades distintas.
69
LOGUERCIO, S. D.; FÜHR, D. P.; POZZI, J.; CHAGAS, J. H. das • Do Haiti ao Brasil e vice-versa
8
Todas as citações escritas originalmente em francês são de responsabilidade das autoras.
70
Iniciação à docência: espaços, conexões e processos no PIBID/UFRGS
71
LOGUERCIO, S. D.; FÜHR, D. P.; POZZI, J.; CHAGAS, J. H. das • Do Haiti ao Brasil e vice-versa
cais da cidade: ruas, mercados, postos de gasolina, entre outros tantos. A par-
tir dessa mudança na cidade, que se fez sentir não somente por sua presença,
mas também pela discussão nos jornais, noticiários, entre outros meios, e pas-
sou a ser reconhecida pelos cidadãos de maneira geral, percebemos que havia
um campo importante a ser explorado por nós em sala de aula: quem são os
haitianos? Qual sua história? Que língua(s) eles falam? Como podemos inte-
grá-los socialmente? Enfim, de que modo podemos intervir em uma realidade
que passa a ser nossa também?
Por outro lado, nosso público secundarista9 já estava atento, de alguma
forma, à presença cada vez mais visível e constante dos haitianos na cidade e
às informações dos noticiários, o que facilitou a abordagem do tema. Antes de
sua chegada ao nosso país e, mais especificamente, à nossa cidade, a referên-
cia que os alunos tinham de falantes francófonos limitava-se quase exclusiva-
mente aos franceses. A presença de imigrantes na cidade colaborou para que o
horizonte dos alunos começasse se alargar. Significou, de fato, um convite
para o novo: a descoberta de horizontes que ultrapassavam os limites dos ter-
ritórios europeus.
Já em nossa primeira intervenção, que tinha como objetivo discutir a
origem da língua francesa, quem são seus falantes, onde estão, entre outros
aspectos, o Haiti surgiu na fala dos alunos que, segundo eles, era conhecido,
“também falavam francês”. Nesse espaço de discussão que propusemos na
primeira aula, o Haiti e os haitianos passaram a ser o centro do interesse dos
alunos. Curiosos e instigados por aprenderem uma língua que era falada por
pessoas que viviam no continente americano, a apenas alguns quilômetros de
distância (e não a centenas de quilômetros, como é o caso daqueles que habi-
tam o território francês, por exemplo), o desejo de conhecer um pouco mais
sobre esse país surgiu de forma natural.
Trabalhar essa temática pareceu-nos, dessa forma, especialmente opor-
tuno por duas razões principais: por um lado, seria uma forma de fornecer
subsídios para que os alunos pudessem fazer uso da língua francesa de forma
concreta para intervir socialmente, buscando conhecer e aproximar-se desses
indivíduos recém-chegados; por outro, poderíamos sensibilizar a sala de aula
e, através de nossos alunos, a escola para a situação dessas pessoas, que se
encontram, na maioria das vezes, além de fragilizadas pela imigração imposta
pelas circunstâncias de seu país de origem, distantes muitas vezes de seus fami-
liares, em situação de desamparo e de exclusão no país que as recebe. Gostaría-
9
Alunos do turno da tarde, do 3° ano do Ensino Médio, na faixa etária dos 17 aos 20 anos de idade.
72
Iniciação à docência: espaços, conexões e processos no PIBID/UFRGS
10
Gostaríamos de registrar nosso mais sincero agradecimento a Júlia de Campos Lucena, gra-
duanda em Licenciatura em Letras, ex-bolsista do PIBID/Francês, que, atuante como volun-
tária junto a um projeto de atendimento a imigrantes refugiados em Porto Alegre, possibilitou
nosso contato com a comunidade haitiana, e a Joseph Presnor, que gentilmente aceitou o
convite para colaborar com o projeto, sendo o nosso entrevistado.
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LOGUERCIO, S. D.; FÜHR, D. P.; POZZI, J.; CHAGAS, J. H. das • Do Haiti ao Brasil e vice-versa
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Iniciação à docência: espaços, conexões e processos no PIBID/UFRGS
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LOGUERCIO, S. D.; FÜHR, D. P.; POZZI, J.; CHAGAS, J. H. das • Do Haiti ao Brasil e vice-versa
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LOGUERCIO, S. D.; FÜHR, D. P.; POZZI, J.; CHAGAS, J. H. das • Do Haiti ao Brasil e vice-versa
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Iniciação à docência: espaços, conexões e processos no PIBID/UFRGS
4 Considerações finais
11
Centro cedido pelo Governo do Estado, em 2015, para o acolhimento provisório de imi-
grantes refugiados (haitianos e senegaleses em sua maioria), com o apoio da Secretaria
Estadual do Trabalho e da Secretaria Estadual dos Direitos Humanos. Entre outros servi-
ços, o Centro Vida oferece acolhimento noturno, alojamento, avaliação de saúde e media-
ção para inserção no mercado de trabalho (conforme informações coletadas no site http://
www2.portoalegre.rs.gov.br).
79
LOGUERCIO, S. D.; FÜHR, D. P.; POZZI, J.; CHAGAS, J. H. das • Do Haiti ao Brasil e vice-versa
Referências
BRASIL, Ministério da Educação, Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Parâ-
metros curriculares nacionais, códigos e suas tecnologias. Língua estrangeira moderna. Brasí-
lia: MEC, 2000, p. 49-63.
CUQ, Jean-Pierre. Dictionnaire de didactique du français. Langue étrangère et seconde.
Paris: CLE International, 2003.
80
Iniciação à docência: espaços, conexões e processos no PIBID/UFRGS
81
Fazendo e acontecendo no
espaço geográfico – nosso lugar
Antonio Carlos Castrogiovanni1
1
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82
Iniciação à docência: espaços, conexões e processos no PIBID/UFRGS
campo de forças, tensões e (re)ações cuja aceleração é desigual. Daí porque a evolu-
ção social não se faz de forma idêntica em todos os locais, favorecendo a for-
mação dos particulares lugares. A escola, que também compõe o espaço geo-
gráfico, é um todo social repleto de campos de forças, tensões e (re)ações. Por-
tanto, ela não pode ficar no tratamento das informações. Precisa, sim, dar
conta de problematizações que encaminhem para constituir sentido às infor-
mações e, assim, tecer o conhecimento. Morin (1999) colabora dimensionan-
do o conhecimento a partir da complexidade, observando no próprio sujeito
que nascer é conhecer, pontua:
[...] o conhecimento é, necessariamente, uma tradução de signos/símbolos
e um sistema de signos/símbolos; (...), ou seja, tradução construtora a partir
de princípios/regras, que permitem construir sistemas cognitivos, articulan-
do informações/signos e símbolos; solução de problemas, a começar pelo
problema cognitivo da construção tradutora à realidade, que se trata de co-
nhecer (MORIN, 1999, p.64-65).
83
CASTROGIOVANNI, A. C. • Fazendo e acontecendo no espaço geográfico – nosso lugar
Fonte: MENEGAT, Rualdo (Coord.). Atlas Ambiental de Porto Alegre. 3. ed. Porto Alegre:
Ed. Universidade/UFRGS, 2006
84
Iniciação à docência: espaços, conexões e processos no PIBID/UFRGS
Problematizações:
A nucleação inicial sofrerá uma expansão. Qual é a provável área desta ex-
pansão? Por quê?
Para boa parte, a expansão se dará em função do curso de água. Alguns
traçam o trajeto em direção à nascente do riacho (Riacho Dilúvio). São feitos
comentários interessantes a respeito das áreas mais baixas, como a planície à
esquerda do promontório que hoje é o 4° Distrito de Porto Alegre. Os alunos
trazem, geralmente, a necessidade em permanecerem próximos à água.
Considerando que esta área está situada no Hemisfério Sul, que vertentes
(encostas dos morros) seriam mais propícias para as atividades agrícolas?
Por quê?
Fazendo uso da Geografia Física, debate-se a posição aparente do sol
ao longo do dia, bem como a quantidade de insolação. Fala-se da vegetação de
áreas úmidas e áreas secas, comparando com a vertente do morro voltada para
o norte e outra voltada ao sul. Através de diálogo, fica entendido que o melhor
local para cultivar é na vertente voltada ao norte.
85
CASTROGIOVANNI, A. C. • Fazendo e acontecendo no espaço geográfico – nosso lugar
Sabendo que aos poucos vai ocorrendo um aumento populacional, que local
seria mais propício para novas nucleações?
Novamente focam nas planícies do mapa e nas dificuldades de ser ocu-
pada a área sul do mapa, por exemplo. Conclui-se que seria melhor ao longo
da costa e ao longo dos cursos d’água.
Conclusões temporárias:
Após estas interrogações e conclusões, foi realizada a problematiza-
ção: A área trazida por esta imagem apresenta alguma semelhança com qual
cidade do Brasil? Por quê?
Alguns dizem Rio de Janeiro, outros com algum lugar qualquer, como
áreas que constituem parte do litoral, e poucos conseguem reconhecer como
sendo a área natural da situação e construção do sítio de Porto Alegre.
Quando descobrem tratar-se de Porto Alegre, analisa-se o sítio urbano
através da existência de morros e cursos de água. Resgata-se a própria história
do povoamento da cidade. É importante falar sobre a questão de que o centro
histórico não está no centro do tecido urbano e é um braço adentrando o Gua-
íba. Por fim, verifica-se que o povoamento sugerido ocorreu parecido com o
que de fato aconteceu com o Porto dos Açorianos e a importância do Lago
Guaíba para a localização e o crescimento da cidade.
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Iniciação à docência: espaços, conexões e processos no PIBID/UFRGS
Fonte: MENEGAT, Rualdo (Coord.). Atlas Ambiental de Porto Alegre. 3. ed. Porto Alegre:
Ed. Universidade/UFRGS, 2006
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CASTROGIOVANNI, A. C. • Fazendo e acontecendo no espaço geográfico – nosso lugar
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Iniciação à docência: espaços, conexões e processos no PIBID/UFRGS
rentemente rígido cenário urbano. Na maioria das vezes, nossa percepção não
é total, mas parcial no tempo e no espaço. A cidade não é apenas um conjunto
de elementos observados (fixos), mas o produto de muitos construtores. Al-
guns construtores parecem ter mais direitos no processo de elaboração do de-
sign das cidades. Ela até pode ser estável por algum tempo em linhas gerais,
inclusive ocupando limitantes territoriais, mas, pela própria dinâmica do capi-
talismo, dificilmente deixa de modificar alguns detalhes, detalhes estes que
para o professor de Geografia podem ser fundamentais no processo de capita-
lização da paisagem enquanto instância de investigação pedagógica. Com isso,
define-se o espaço urbano sempre como dinâmico.
Olhar para as cidades é sempre um prazer especial, por mais comum
que possa ser o panorama urbano. A cidade é uma construção física e imagi-
nária, compreende um lugar e faz parte do todo geográfico. O tecido urbano é
dinâmico e está inserido no processo histórico de uma sociedade. O traçado
de uma cidade é uma arte processual e representa uma leitura temporal. A
cada instante, há mais do que os olhos podem ver, do que o olfato pode sentir
ou do que os ouvidos podem escutar. Cada momento é repleto de sentimentos
e associações a significados. Portanto, há uma constante construção de signi-
ficações. A cidade é o que é visto, mas, mais ainda, o que pode ser sentido. É
com este olhar que devem agir os profissionais para serem especulativos e,
com isto, mais criativos. Sendo assim, é possível sempre descobrir novas paisa-
gens e elaborar problematizações criativas (CASTROGIOVANNI, 2011a).
Objetivo: Construir o conceito de cidade e a sua complexidade a partir
dos questionamentos: O que é uma cidade? De quem são as cidades? Elas têm
dono(s) ou não? Quem é/são o(s) dono(s) da cidade? Desenvolver a habilida-
de da observação para um olhar investigativo e qualificado, provocando a aná-
lise das tensões, forças e reações que ocorrem no espaço urbano.
Conforme Carlos (2005), quando nos questionamos sobre o que é a ci-
dade, essa pergunta fica no ar, e qualquer sujeito que vive na cidade sabe o que
ela é, mas desconhece a sua complexidade. A cidade é um substantivo vivo e
repleto de subjetividades. É preciso enxergá-la com desconfiança e, ao mesmo
tempo, com poesia.
Material: computador conectado a um projetor e folhas e lápis. O com-
putador pode ser substituído por celular conectado à internet.
Interdisciplinaridade: É possível trabalhar com Língua Portuguesa,
Artes Visuais, História, Literatura e Ciências Sociais.
Dinâmica: Esta atividade visa provocar os alunos a questionarem a res-
peito dos seus próprios direitos em relação às “suas” cidades. O professor pode
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CASTROGIOVANNI, A. C. • Fazendo e acontecendo no espaço geográfico – nosso lugar
Primeiro momento
Segundo Momento
O Mapa
Olho o mapa da cidade
Como quem examinasse
A anatomia de um corpo...
(E nem que fosse o meu corpo!)
90
Iniciação à docência: espaços, conexões e processos no PIBID/UFRGS
Novamente, deve-se provocar uma reflexão, desta vez com o foco sendo
a opinião do poeta, o que era a cidade para ele. Tecer considerações no qua-
dro. O professor pode pontuar outras manifestações sobre a cidade e agregar
esta de Mario Quintana.
Depois de lido novamente o poema, trazer alguns questionamentos numa
folha fotocopiada, a respeito da sua mensagem, e possibilitar aos alunos que
respondam por escrito às problematizações seguintes:
1) Por que o autor expressa que o mapa pode ser a anatomia de um
corpo? A cidade possui corpo ou não?
2) É possível dizer que o Planisfério é a anatomia do Planeta Terra? Por quê?
3) Por que o autor expressa que sente uma dor infinita por onde jamais
passará?
4) Ao ler o Planisfério, por que países você sente uma dor infinita? Por
quê?
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CASTROGIOVANNI, A. C. • Fazendo e acontecendo no espaço geográfico – nosso lugar
5) Em seus sonhos, como seria essa rua encantada de Porto Alegre ma-
nifestada por Mário Quintana?
6) O que falta na sua rua para ela ser uma rua encantada?
7) É possível construir a leitura de uma cidade só com o andar ou não?
Por quê?
Solicitar a leitura das respostas e associar os depoimentos dos alunos ao
do poeta. Assim, o professor pode ir pontuando no quadro as ideias que possi-
bilitam o entendimento da complexidade que encerra uma cidade. É impor-
tante o professor ter a clareza de que cabe a ele a geografização do poema.
Apresentar um mapa da cidade (planta urbana) e perguntar aos alunos
quais são as diferenças entre os “dois mapas”. Questionar: – qual dos dois
mapas é o mais correto? Por quê?
Como fechamento para a atividade, o professor pode propor que os alu-
nos que façam um poema ou outra manifestação textual sobre as reflexões que
tiveram durante as discussões. É importante orientar esta nova produção lite-
rária, como, por exemplo, dando cinco palavras que deverão fazer parte da
produção.
Terceiro Momento
A seguir, oferecemos aos alunos a letra da música Cidade Vazia. Ela traz
outra dimensão geográfica de uma cidade. Entregamos uma folha fotocopia-
da com oito retângulos e solicitamos a construção de uma história em quadri-
nhos na qual terão que representar os versos da letra. Criar no mínimo três
personagens e um título para a história.
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Iniciação à docência: espaços, conexões e processos no PIBID/UFRGS
[Refrão]
Nos arranha-céus, as estrelas têm preço
Enquanto nas favelas, ruas sem endereço
Realidade da cidade de calamidades, onde eu suponho
Enquanto não houver a igualdade, a paz será um sonho
Problematizamos:
1) Por que as estrelas nos arranhas-céus têm preço? E nas favelas?
2) Como conseguir paz nas cidades?
3) Como pode ser feita a maquiagem numa cidade, para esconder as
maldades?
4) Pagar imposto é uma necessidade para mantermos as instituições e
vivermos em comunidade. Por que o autor fala “exposto, imposto de ser enga-
nado”?
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CASTROGIOVANNI, A. C. • Fazendo e acontecendo no espaço geográfico – nosso lugar
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Iniciação à docência: espaços, conexões e processos no PIBID/UFRGS
Referências
CARLOS, Ana Fani Alessandri. A Cidade. 8. ed. São Paulo: Contexto, 2005.
CASTROGIOVANNI, Antonio Carlos; COSTELLA, Roselane Zordan. Brincar e car-
tografar com os diferentes mundos geográficos: a alfabetização espacial. Porto Alegre: EDI-
PUCRS, 2006.
CASTROGIOVANNI, Antonio Carlos (Org.). Ensino de Geografia: caminhos e encan-
tos. 2. ed. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2011a.
CASTROGIOVANNI, Antonio Carlos. Geografia. In: CASTROGIOVANNI, Anto-
nio Carlos; MEINEREZ, Carla Beatriz; MORITZ, Maria Lúcia de Freitas; HICK-
MANN, Roseli Inês (Orgs.). Iniciação à docência em Ciências Sociais, Geografia e História –
(re)inventando saberes e fazeres. São Leopoldo: Oikos, 2011b.
CASTROGIOVANNI, Antonio Carlos; BATISTA, Bruno Nunes. Geografia na esco-
la: lugar para estudar, entrelugar para encontrar, espaço para... Traduzir! In: Revista
Didáctica Geográfica, Associación de Geógrafos Españoles, Madrid, n. 17, 2016.
MORIN, Edgar. Amor, poesia, sabedoria. Lisboa: Instituto Piaget, 1997.
MORIN, Edgar. O Método 3 – O conhecimento do Conhecimento. Porto Alegre: Suli-
na, 1999.
RAMOS, Roberto José. A Educação e o Conhecimento: uma abordagem complexa.
In: CASTROGIOVANNI; TONINI; KAERCHER; COSTELLA (Orgs.). Movimentos
Para Ensinar Geografia – Oscilações. Porto Alegre: Letra1, 2016.
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Estudo acerca das motivações para
o ingresso no PIBID da Educação Física
Eduardo Rodrigues Oliveira1
Rogério da Cunha Voser2
1 Introdução
1
Egresso do PIBID no subprojeto da Educação Física/Esporte. Departamento de Educação
Física. E-mail: eduardo.kyle@gmail.com.
2
Coordenador do PIBID no subprojeto da Educação Física/Esporte. Departamento de Educação
Física. E-mail: rogerio.voser@ufrgs.br.
96
Iniciação à docência: espaços, conexões e processos no PIBID/UFRGS
Acreditamos que esse estudo se justifica pelo grande impacto que tem
na formação de novos professores de Educação Física. A atuação como bol-
sista no PIBID é um diferencial na trajetória dos alunos de graduação, possibi-
lita-lhes encarar a realidade de trabalhar em escolas públicas de Educação Básica
e perceber como é de fato uma aula de Educação Física, podendo aliar a teoria
que é passada em sala de aula com a prática. Pensamos que, tendo essa expe-
riência o bolsista tem uma contribuição fantástica em sua formação como fu-
turo professor de Educação Física, ganhando a chance de problematizar as
questões da área já antes de concluir o curso, aprendendo como lidar com as
situações que irão ocorrer durante as aulas e superar os desafios que apareçam
no seu desenvolvimento.
Baseado no acima exposto, tem-se a seguinte problemática deste estudo:
Quais são as motivações iniciais que levam os acadêmicos da Educação
Física a se inscreverem para participar do processo seletivo para o ingresso no
subprojeto esporte da escola do PIBID?
Como objetivo geral, propôs-se apresentar e analisar as motivações cita-
das pelos ingressantes no subprojeto esporte da escola do PIBID.
2 Referencial teórico
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Iniciação à docência: espaços, conexões e processos no PIBID/UFRGS
Médio. Mais tarde, em 2014, uma nova proposta foi idealizada, e daí surgiu o
subprojeto Esporte na Escola, também atuando junto ao Ensino Fundamen-
tal e Médio.
A apresentação de todo este caminho percorrido até aqui pelo PIBID
dentro da UFRGS nos mostra a evolução deste programa ao longo dos anos,
de modo a estar totalmente inserido em nossa instituição atualmente. Graças
a ele, é possível esse enlace entre os conhecimentos adquiridos na faculdade e
os saberes produzidos na escola. O estudante de graduação tem a oportunida-
de de se aproximar da docência logo cedo e ainda proporciona ao supervisor
uma reflexão sobre sua prática, ao mesmo tempo em que este acompanha o
desenvolvimento das atividades.
O docente da escola que monitora o trabalho pode agregar conhecimen-
tos novos, muitos dos quais pode não ter visto em sua graduação, o que possi-
bilita o surgimento de novas estratégias de ensino de sua parte, inovando a sua
prática, apresentando outros conteúdos aos alunos e por consequência, tor-
nando suas aulas mais atrativas. Já para o graduando, ter a chance de vivenciar
à docência durante a sua formação é um diferencial enorme.
Os bolsistas, sendo inseridos no ambiente escolar, conseguem ter uma
ideia clara do que é ser professor, visto que existe a convivência com os educado-
res das outras disciplinas, o trato com os funcionários da instituição e as rotinas
a serem cumpridas (reuniões, avaliações, planejamento). Além disso, possibilita
uma melhora substancial nas aulas de Educação Física, pois, os licenciandos
trazem consigo novos saberes que elevam a qualidade das atividades desenvolvi-
das, aumentando o número de práticas ofertadas aos estudantes.
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3 Considerações finais
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OLIVEIRA, E. R.; VOSER, R. da C. • Estudo acerca das motivações para o ingresso no PIBID...
Referências
BARROSO, A. L.; DARIDO, S. Escola, educação física e esporte: possibilidades peda-
gógicas. Revista Brasileira de Educação Física, Esporte, Lazer e Dança, São Paulo, v. 1, n. 4,
p. 101-114, dez. 2006.
BETTI, I. C. R.; BETTI, M. Novas perspectivas na formação profissional em educa-
ção física. Revista Motriz, São Paulo, v. 2, n. 1, p. 10-15, jun. 1996.
CALDEIRA, A. M. S. A formação de professores de Educação Física: Quais saberes e
quais habilidades? Revista Brasileira de Ciência do Esporte, v. 22, n. 3, p. 87-103, maio
2001.
CLATES, D. M.; LEÃES, C. N.; GUNTHER, M. C. C. A participação no PIBID e o
percurso formativo de professores de educação física – um estudo a partir dos egressos
do CEFD/UFSM. In: 10º Congreso Argentino y 5º Latinoamericano de Educación
Física y Ciencias, 2013, La Plata. Anais do 10º Congreso Argentino y 5º Latinoamericano de
Educación Física y Ciencias, 2013, p. 1-9.
DARIDO, S. C. Teoria, prática e reflexão na formação profissional em educação física.
Revista Motriz, São Paulo, v. 1, n. 2, p. 124-128, dez. 1995.
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Dia do Lazer PIBID/UFRGS-Educação Física:
desenvolvendo competências
através do lúdico e da tecnologia
Clézio Gonçalves1
1
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Iniciação à docência: espaços, conexões e processos no PIBID/UFRGS
lúdica aliviava este tensionamento, mas não retirava o paradoxo com que en-
saiaram exaustivamente disciplinados, para vivenciarem momentos com o ob-
jetivo de promover humor inteligente. A satisfação de cada um quando recebia
o merecido aplauso depois das risadas provocadas pela atuação, mostrava um
sorriso de satisfação recompensador pela tarefa cumprida e da percepção da
capacidade de fazer algo numa perspectiva distinta.
É possível perceber-se tal reação no seguinte link:
https://www.youtube.com/watch?v=bvFBfTSc70w
Pode-se chegar neste vídeo buscando pelas palavras “Santa Ceia” e
UFRGS.
b) Produção de vídeos e apresentações ao vivo: As atividades se alter-
nam entre apresentações ao vivo e produções em vídeo. Com isto, cria-se a
possibilidade daquele que, porventura, se entende como muito tímido para
subir ao palco ter a oportunidade de demonstrar sua criatividade através da
produção e da edição de material em vídeo. Em muitas situações a partir das
produções do vídeo, motivam-se a ir para o palco e ter a oportunidade da
experiência ao vivo. Tanto as experiências ao vivo como as produções em ví-
deo precisam respeitar uma regra: são de tempo curto e utiliza-se dotação or-
çamentária restrita... ou seja... fazer muito... com pouco.
Neste link, um exemplo da capacidade criativa na resolução de um de-
safio de produção de um filme
https://www.youtube.com/watch?v=i6F7KkHbWG8
Palavras-chave Power Rangers Esef
c) Utilização e exploração da tecnologia como elemento criativo: A
tecnologia como forma de integração entre diferentes faixas etárias e geração
de pais e filhos aproxima as famílias através da música. Pela primeira vez na
história, a tecnologia permite o resgate musical das gerações pré-internet, e os
nativos digitais podem conhecer de fato que estilo de canções seus pais viven-
ciaram e resgatar enquanto experiência atualizada o que fora aquele momento.
Este momento fica nítido no link abaixo
https://www.youtube.com/watch?v=5DhkzzjUT9A
Sobre isto, merece atenção a citação de Lanier quando questionado so-
bre as razões pelas quais as pessoas têm necessidade de criar realidades. Suas
palavras servem para a devida percepção de suas possibilidades:
Por causa das nossas limitações, somos criaturas muito estranhas. Cresce-
mos com nossos cérebros e corações capazes de imaginar qualquer univer-
so, mas nosso corpo pode ser somente humano. Queremos nos conectar
mutuamente, mas nossos meios para fazer isso são muito limitados. So-
mos separados uns dos outros por inúmeras circunstâncias. Podemos tro-
117
GONÇALVES, C. • Dia do Lazer PIBID/UFRGS-Educação Física: desenvolvendo competências...
car palavras uns com os outros, tocar uns aos outros e fazer muitas coisas
mais, mas queremos estar mais ligados. Queremos ser capazes de criar
qualquer universo em nossa cabeça de que nosso coração goste. Lutamos
sempre contra as limitações da realidade física [...] (p. 95-97).
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Iniciação à docência: espaços, conexões e processos no PIBID/UFRGS
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GONÇALVES, C. • Dia do Lazer PIBID/UFRGS-Educação Física: desenvolvendo competências...
cal recreare (recrear), mais o sufixo ção (criação), significando aquilo que causa
prazer, alegria, e satisfação, envolvendo de alguma forma o querer da pessoa
no desenvolvimento de sua espontaneidade. Conforme diz o autor “a expres-
são recreatio-onis também origina a palavra recriação, ou seja, ato ou efeito de
recriar” (GONÇALVES JUNIOR, 2004, p. 130).
Nesta perspectiva, um professor-lúdico é aquele capaz de estimular e
também acolher as diferentes produções lúdicas de seus educandos, reconhe-
cendo nelas a conexão com o aprender significativo enquanto processo de de-
senvolvimento pessoal. No jogo compartilhado, na produção tecnológica pro-
duzida, o aluno acolhe fantasias, provoca o despertar da criatividade e do de-
sejo de saber.
Não se trata de conduzir uma brincadeira ou deixar que os alunos brin-
quem livremente, mas de provocar um “brincar com”, no uso responsável da
tecnologia com um olhar de humor saudável. Assim, compartilhar suas pro-
duções – brinquedos, personagens, enredos –, de instigar a curiosidade deste
aluno, estimulando-o a descobrir e a descobrir-se, a criar e a criar-se. Dito de
outra forma, de tomar em consideração o desejo de conhecer, o que implica
conhecer-se. Ao compartilhar as brincadeiras, o professor compartilha tam-
bém a imaginação colocada em cena pelos alunos de uma forma lúdica e sau-
davelmente elaborada. Segundo Oliveira (2006a), o humor, o entusiasmo e a
alegria são elementos fundamentais à educação. Com certeza, possibilitam a
constituição de ambiente acolhedor, que convida os alunos ao desejo de apren-
der de outras formas, a fazer de sua imaginação criativa um alimento para a
construção de conhecimentos de forma autoral e produtiva.
Isso implica ir além de propor apenas brincadeiras ou jogos para os alu-
nos. Exige do professor/bolsista uma disponibilidade para viver (grifo nosso)
o lúdico, fazendo do lúdico um recurso efetivamente educativo. Isso represen-
ta disponibilidade para acolher todo um universo subjetivo circulante no cená-
rio ficcional constituído pela atividade lúdica. Porém, parece existir um dis-
tanciamento entre o conhecimento do funcionamento do psiquismo e desen-
volvimento cerebral dos alunos e suas implicações para o aprendizado e a for-
mação do professor. Este é um fato que questiona a formação do professor
longe de possibilitar um acolhimento diferenciado e efetivo, se, desde a forma-
ção inicial, na graduação, até a formação continuada, pouco se aborda o fun-
cionamento e o desenvolvimento do humano na perspectiva lúdica, privile-
giando apenas os aspectos formais conteudistas mais comuns em muitos mo-
delos de aprendizagem.
120
Iniciação à docência: espaços, conexões e processos no PIBID/UFRGS
Referências
ATA 1194-14. Conselho Universitário UFRGS, linhas 375 a 380.
BOURG, D. O Homem Artifício. Lisboa: Instituto Piaget, 1996.
CUNHA, A. G. Dicionário Etimológico Nova Fronteira da Língua Portuguesa. Rio de Janei-
ro: Nova Fronteira, 1997.
DIAMOND M. C.; Krech D.; ROSENZWEIG, M. R. Os Efeitos de um Ambiente
Enriquecido na Histologia do Córtex Cerebral do Rato, J Comp Neurol, n. 123, p. 111-
120, 1964.
FERREIRA, A. B. H. Dicionário da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
2004.
HUMPREY, N. Uma história da Mente. São Paulo: Campus, 1995.
GONÇALVES JUNIOR, L. Atividade recreativa na escola: uma educação fundamen-
tal (de prazer). In: SCHWARTZ, G. M. (Org.). Atividades recreativas. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2004, p. 130-136.
121
GONÇALVES, C. • Dia do Lazer PIBID/UFRGS-Educação Física: desenvolvendo competências...
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Iniciação à docência: espaços, conexões e processos no PIBID/UFRGS
Introdução
Este texto pretende expor algumas reflexões sobre metodologias e técni-
cas de ensino através dos processos de criação em dança que são utilizados no
decorrer dos anos na disciplina de Educação Artística dos anos finais, na Es-
cola Estadual de Ensino Fundamental Fabíola Pinto Dornelles, na cidade de
Porto Alegre, ministrada pela supervisora e o bolsista do Programa Institucio-
nal de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID). Pretende, assim, relatar uma
experiência de docência em dança, articulando-a com saberes da criação e do
ensino de dança. Isso envolve: definir o entendimento de criação em dança
neste trabalho e os conceitos de metodologias e técnicas de ensino na dança;
narrar as escolhas pedagógicas (objetivos, metodologia, avaliação) e o desen-
rolar das 20 aulas do assunto (estrutura geral das aulas); e, por fim, refletir
sobre as escolhas docentes, suas mudanças de rumo e as próprias concepções
pedagógicas que subsidiam o fazer.
A dança no RS é ainda recente no currículo, e discutir seus encaminha-
mentos é um importante instrumento de formação em todos os níveis, seja dos
futuros professores seja de educação continuada. Desta forma, este trabalho
se justifica por compartilhar experiências artístico-educacionais. Opta-se por
observar e refletir as aulas em questão, narrando-as na pesquisa. Contá-las
pode ajudar futuros professores a pensar a docência e a abrir caminhos para
trocas entre os pares.
São levantados os seguintes questionamentos: Como se dão as cria-
ções no contexto escolar? De que modos os alunos produzem suas sequências
1
Supervisora, PIBID/UFRGS.
2
Coordenadora, PIBID/UFRGS.
123
REIS, A. P. S. dos; VALLE, F. P. do • Os processos de criação em dança em aulas de Educação Artística...
de dança? Que técnicas de aula são utilizadas pela professora e pelo bolsista
do PIBID?
Abordagens metodológicas
124
Iniciação à docência: espaços, conexões e processos no PIBID/UFRGS
Embasamento teórico
Mostrar para estes alunos, pais e professores que a arte na escola pode
ter um papel tão importante quanto qualquer outra disciplina não é uma tare-
fa fácil para o professor. De qualquer forma, é fundamental que ele assuma
uma função de articulador, mostrando para estes jovens que as linguagens
artísticas possibilitam formas diferentes de ler e vivenciar o mundo, tornando-
os seres mais múltiplos, pelo fato de vivenciarem esses saberes, conforme elen-
ca Marques, na citação acima.
Existem hoje, diversas teses, livros e artigos que argumentam em favor
da arte na escola; inclusive mudanças na legislação1 que incluem habilitações
artísticas como: a dança, a música e o teatro no currículo escolar. Mas ainda
3
A Lei 13.278/2016 inclui as artes visuais, a dança, a música e o teatro nos currículos dos
diversos níveis da Educação Básica. A nova lei altera a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (LDB – Lei 9.394/1996), estabelecendo prazo de cinco anos para que os sistemas de
ensino promovam a formação de professores para implantar esses componentes curriculares
no Ensino Infantil, Fundamental e Médio.
125
REIS, A. P. S. dos; VALLE, F. P. do • Os processos de criação em dança em aulas de Educação Artística...
Outra forma de aproximar estes alunos da arte e fazer com que eles se
sintam inseridos neste “mundo” é fazê-los perceber que as linguagens artísti-
cas buscam inspiração em diversos elementos, como por exemplo: diferentes
culturas, questões políticas, nos sentimentos ou emoções, na natureza e até
mesmo no cotidiano. Este último é um dos motes utilizados nesta experiência
em sala de aula para propor tarefas de criação.
Desta forma, os alunos são questionados sempre sobre o que costumam
fazer em casa com a família, o que gostam de fazer com os amigos, se praticam
alguma atividade física ou se já praticaram no passado, etc. Tenta-se fazer com
que eles busquem referências que já estão acostumados a vivenciar ou que
gostam de praticar no dia a dia e transformem isso em dança, mesmo que num
primeiro momento, sem perceber de fato que o estão fazendo. Faço dessa situ-
ação uma relação com a seguinte citação:
Em situações assim, no momento em que eles apresentam o resultado de
seus exercícios de composição, aparece a diversidade de referências (linha-
126
Iniciação à docência: espaços, conexões e processos no PIBID/UFRGS
gens claras) que operam nas pessoas que compõem o grupo. É com a baga-
gem que existe em cada corpo que cada tarefa se realiza. Isso no trabalho
individual, e especialmente no início do processo (PALUDO, 2015, p. 86).
Apesar de fazer com que o aluno busque subsídios mais próximos da sua
rotina e assim deixá-lo mais confortável na tarefa de criação, procura-se aos
poucos qualificar o seu movimento. Esse processo envolve a fluidez e a consciên-
cia do movimento no corpo e demanda tempo. Demanda também extrema aten-
ção por parte dos professores para compreender a proposta de criação do aluno
e orientar o que pode ser aproveitado dali e o que deve ser repensado.
Do estudante que acaba de ser introduzido a uma arte de fazer danças não
será esperado produzir uma obra de arte com o mesmo nível de sofisticação
que um estudante que tem dois ou três anos de treinamento. Através da
experiência e prática contínua, o compositor gradualmente adquire conhe-
cimento de material de movimento e métodos de se construir com o material.
O grau desse conhecimento afeta o nível resultante de sofisticação nas cria-
ções de dança (SMITH-AUTARD, 2000, p. 4).
Relato da experiência em si
127
REIS, A. P. S. dos; VALLE, F. P. do • Os processos de criação em dança em aulas de Educação Artística...
linóleo, espelho e barras de ballet, que foram cedidos por um grupo de dança
da capital. A proposta iniciou a partir de uma aula inspirada em poesias, na
qual cada um dos alunos deveria abrir uma página aleatória de um livro desse
assunto e ler para a turma. No final da aula, após alguns comentários sobre
interpretação e voz em leituras, pediu-se que os alunos escrevessem para o
próximo encontro um texto em forma de poesia que narrasse o modo como
eles se veem no mundo ou como eles acreditam que as pessoas os veem.
Denominou-se esta aula como o “estudo da poesia a partir de si”. Con-
versamos sobre a dificuldade que alguns relataram ter tido em escrever um
texto que lhes soasse em tom poético. Isso aconteceu por ser difícil falar de si?
Foi devido a ser a primeira vez que alguns leram poesias em uma aula? Foi
uma experiência prazerosa? Logo depois, as poesias foram recolhidas, emba-
ralhadas e entregues novamente, solicitando que cada aluno lesse para a tur-
ma o que estava escrito. Nenhum dos alunos leu a sua própria poesia, e, de-
pois que cada um deles lia, foi pedido que escrevessem num papel de qual
colega eles acreditavam ser aquelas palavras e por quê. No final da aula, dispu-
seram-se as poesias e o que eles tinham escrito sobre o que leram numa mesa,
para que cada um recolhesse, por vez, a sua poesia e a impressão do colega.
Na terceira aula, houve um laboratório de criação em que os alunos
deveriam criar uma dança composta de gestuais que expressassem o que ti-
nham escrito nas suas poesias, ou seja, gestuais que evidenciassem como eles
se enxergavam ou como eles achavam que os outros os enxergavam.
A experiência de si, historicamente constituída, é aquilo a respeito do qual o
sujeito se oferece seu próprio ser quando se observa, se decifra, se interpre-
ta, se descreve, se julga, se narra, se domina, quando faz determinadas coi-
sas consigo mesmo, etc. E esse ser próprio sempre se produz com relação a
certas problematizações e no interior de certas práticas (LARROSA, 1994,
p. 42).
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Iniciação à docência: espaços, conexões e processos no PIBID/UFRGS
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REIS, A. P. S. dos; VALLE, F. P. do • Os processos de criação em dança em aulas de Educação Artística...
130
Iniciação à docência: espaços, conexões e processos no PIBID/UFRGS
As quatro aulas seguintes foram dedicadas aos ensaios dos alunos para
o dia da apresentação da gestualidade. Durante esses ensaios, procurava-se
dar orientações, mas com o cuidado de não modificar muito o trabalho do
aluno, a fim de não interferir no seu produto final.
Na décima nona aula, realizamos as apresentações das gestualidades, e
os alunos entregaram os memoriais. Já na vigésima aula, fez-se uma roda de
comentários sobre a apresentação da gestualidade e os memoriais.
No dia da apresentação, os professores sentiram como se estivessem
conhecendo os alunos pela primeira vez, pois podia-se ver, em alguns, particu-
laridades, aspirações, características que antes ainda não se havia observado e
que provavelmente eles também ainda não haviam tido a oportunidade de des-
cobrir em si mesmos para revelar aos outros.
A unicidade do indivíduo, a busca pela singularidade de uma linguagem
própria são fatores que movem a criação em arte e é onde ocorrem inúmeras
transformações com o objetivo de dar vida a um produto cultural que pode,
ou não, pré-existir (ASSMANN, 2014, p. 2).
Uma das alunas inspirou-se na sua religião, pois acreditava que existia
muito tabu e preconceito e gostaria que as pessoas respeitassem. Um aluno
que costuma publicar vídeos na internet filmou o seu cotidiano, projetou o
vídeo e o reproduziu ao mesmo tempo. Outra aluna distribuiu balas aos cole-
gas e explicou que a escolha da bala “era porque era dura, mas ao mesmo
tempo doce”, e era assim que ela se enxergava. No final fez uma movimenta-
ção que, segundo ela, representava a dureza e a doçura da bala e dela mesma.
Uma terceira aluna gravou um áudio da sua poesia e reproduzia em movimen-
tação com o uso de alguns elementos cênicos, como cartas (que eram citadas
no áudio) e lenço, pois ela fazia dança do ventre.
Teve também dois alunos que fizeram a gestualidade em dupla. Ela lia
versos da poesia de ambos, enquanto ele, em outro ponto da sala a desenhava.
Em seguida os dois faziam uma movimentação juntos, caminhavam e saíam
da sala de mãos dadas. Relataram depois que quiseram representar coisas que
ambos gostam de fazer, como ler e desenhar, e o quanto a presença dele dava
suporte para ela.
Apesar da boa produção da maior parte da turma, dois alunos não conse-
guiram fazer a apresentação: um porque não conseguiu superar a timidez e no
momento da apresentação “improvisou qualquer coisa”, quando lhe dei a opor-
tunidade de tentar, e outro, porque não conseguiu desenvolver o trabalho, pois
brincou nas aulas dedicadas à criação. É fato também que a timidez esteve presen-
te na maioria dos alunos, mesmo os que apresentaram, pois nas aulas anterio-
res em que fizemos o ensaio final, exceto os dois alunos que não apresentaram,
131
REIS, A. P. S. dos; VALLE, F. P. do • Os processos de criação em dança em aulas de Educação Artística...
todos se saíram muito bem, gerando uma expectativa muito grande em mim e
no pibidiano, principalmente por tudo o que se produziu durante os dois meses
de aula. De qualquer forma, o motivo desta timidez pode ter sido a presença de
convidados que foram até a escola para assistir as apresentações.
Na aula seguinte, fizemos uma roda de conversa na qual cada um falava
sobre o seu trabalho, numa espécie de avaliação e discussão conjunta. O que
mais chamou atenção nas falas foi que a grande maioria dos alunos disse que
puderam “mostrar o que são”. Houve também alguns que disseram que gosta-
ram das aulas, acharam diferente de tudo que já tinham feito, pois nas aulas
dedicadas à criação “era livre, mas ao mesmo tempo não era. Já que a professo-
ra cobrava muito”. Também a maioria disse que achou muito difícil transpor
para o corpo o texto que tinham escrito no início do bimestre. Ainda um que
relatou que “antes das aulas não imaginava que isso podia ser arte”.
Essa experiência levou às seguintes reflexões: porque a escola até hoje
tende a padronizar estes alunos? É somente a escola que os padroniza? Por con-
ta desta “padronização”, estes alunos assumem características, gostos, pensa-
mentos ou ideais que não condizem com eles mesmos? Tal qual os pensadores
da dança colocam: “um único movimento, ou uma sequência de movimentos,
deve revelar, ao mesmo tempo, o caráter de quem o realiza, o fim pretendido, os
obstáculos exteriores e os conflitos interiores que nascem deste esforço” (LA-
BAN, apud GARAUDY, 1980, p. 113).
Durante o bimestre, apareceu o quanto de criatividade e potencial esses
alunos carregam dentro de si. Acredita-se que mesmo os que não conseguiram
produzir, independente do motivo, tinham muito a acrescentar para as aulas, e
que essa negação ao trabalho pode ser um reflexo do que esta ‘padronização’
oferece aos alunos, mas que a criação em dança na escola pode trabalhar e de-
senvolver desde o estímulo à reflexão, da fruição estética, ao exercício do corpo.
A criação se dá através de inimagináveis e incontáveis possibilidades de
resoluções/combinações com diferentes materiais que resultarão na obra de
arte como tal, e essas combinações dependem do envolvimento, da sensibi-
lidade de cada artista. Para que possamos ser criativos ou para desenvolver
a criatividade é necessário que o ambiente seja favorável, estimulador, ou
que pelo menos permita nossa manifestação de algum modo. Do contrário,
matam-se possibilidades de desenvolvimento da criatividade, pois é difícil
ser criativo num ambiente hostilizante, que não aceita idéias novas e/ou que
reprime o que é fora do comum (FIAMONCINI, 2003, p. 63).
132
Iniciação à docência: espaços, conexões e processos no PIBID/UFRGS
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REIS, A. P. S. dos; VALLE, F. P. do • Os processos de criação em dança em aulas de Educação Artística...
São inúmeras frases que os alunos dizem e que fazem refletir sobre as
aulas, mas uma que talvez melhor caracterize o que mais se ouve dos alunos nas
primeiras aulas de dança é: “Tá, mas e quando vai começar a dança de verdade
mesmo?”. Isso acontece, pois as aulas não se configuram em apenas levar coreo-
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Iniciação à docência: espaços, conexões e processos no PIBID/UFRGS
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REIS, A. P. S. dos; VALLE, F. P. do • Os processos de criação em dança em aulas de Educação Artística...
Referências
ASSMANN, André. A Criação de um Processo de Criação. Cena em Movimento, Porto
Alegre, n. 4, 2014.
DANTAS, Mônica. Dança: o enigma do movimento. Porto Alegre: Ed. Universidade/
UFRGS, 1999.
FIAMONCINI, Luciana. Dança na educação: a busca de elementos na arte e na esté-
tica. Pensar a Prática, Goiânia, v. 6, p. 59-72, 2006.
GARAUDY, Roger. Dançar a vida. 5. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980.
GAYA, Adroaldo. Ciências do movimento humano: introdução à metodologia da pesqui-
sa. Porto Alegre: Artmed, 2008.
GIL, José. Movimento total. São Paulo: Iluminuras Ltda., 2004.
LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 1994.
MARINHO, Nirvana. O gesto na dança contemporânea: que papel cumpre. In: SO-
TER; PEREIRA (Orgs.). Lições de Dança 5. Rio de Janeiro: UniverCidade, 2005.
MARQUES, Isabel A.; BRAZIL, Fábio. Arte em questões. São Paulo: Digitexto Edito-
ra, 2012.
NEGRINE, Airton. Instrumentos de coleta de informações na pesquisa qualitativa. A pes-
quisa qualitativa na educação física: alternativas metodológicas. Porto Alegre: Editora
Universidade/Sulina, 1999.
PALUDO, Luciana. O lugar da coreografia nos cursos de graduação em dança do Rio Grande
do Sul. Brasil. 2015. Disponível em: <http://hdl.handle.net/1 dêem 0183/114690>.
Acesso em: 37 mar. 2017.
SCARPATO, Marta Thiago. Dança educativa: um fato em escolas de São Paulo. Ca-
derno Cedes, São Paulo, v. 21, n. 53, p. 57-68, abril, 2001.
SMITH-AUTARD, Jacqueline. Dance Composition. 4. ed. Nova Iorque: Routledge, 2000.
136
Iniciação à docência: espaços, conexões e processos no PIBID/UFRGS
As moscas pibidianas
na sopa da educação
Paula Mastroberti1
1
Profa. do Departamento de Artes Visuais do Instituto de Artes da UFRGS e Coordenadora do
Subprojeto PIBID Artes Visuais. E-mail: paulamastroberti@gmail.com.
137
MASTROBERTI, P. • As moscas pibidianas na sopa da educação
Mosca tonta
2
CLIC era o nome do projeto vinculado ao Núcleo de Leitura Literária e Multimídia do Progra-
ma de Pós-Graduação da Faculdade de Letras da Pontifícia Universidade Católica do Rio
Grande do Sul, coordenado pela Profa. Dra. Vera Teixeira de Aguiar, e que atuou de 1996 a
138
Iniciação à docência: espaços, conexões e processos no PIBID/UFRGS
2010 no Campus Vila Nossa Senhora de Fátima, junto às crianças da comunidade, com idades
entre 7 a 14 anos, através de oficinas abertas que interligavam a literatura a outras linguagens,
como teatro, música e artes plásticas. Participei do projeto como mediadora de oficinas duran-
te os dois anos do mestrado e parte do doutorado, integrando a equipe que incluía bolsistas e
voluntários da graduação e da pós-graduação.
3
A Coordenadora Gisele Secco do PIBID Interdisciplinar Campus Vale promoveu uma ação
nesse sentido, criando um grupo de estudos sobre interdisciplinaridade, do qual infelizmente
não consegui participar.
4
Tanto a expressão atenção e consciencialização, quanto enação, partem dos cognitivistas Francis-
co Varela, Evan Thompson e Eleanor Rosch. Na obra Mente corpórea (conforme tradução para
o Instituto Piaget, 2001), eles preconizam a reeducação cognitiva de nossa mente corporalizada
139
MASTROBERTI, P. • As moscas pibidianas na sopa da educação
(a mente integrada ao corpo) de modo a torná-la atenta aos seus estados e ações, aceitando a
consciência como um processo de enação contínua. A adoção do termo consciencialização – ao
invés do usual conscientização –, implica imbuir a consciência de maior dinamicidade; já o
termo enação define, segundo os autores, os fenômenos cognitivos da mente corporalizada e
atuante em um mundo não previamente dado, mas resultantes de uma história de interações e
de conhecimentos adquiridos.
140
Iniciação à docência: espaços, conexões e processos no PIBID/UFRGS
5
COSTA, Luciano Bedin; MASTROBERTI, Paula (Orgs.). Super-herói universitário. Dicionário
Raciocinado de Licenciaturas, Tomo V. Porto Alegre, 2016.
6
Segundo dados fornecidos pelo FORPIBID em 2015, o programa fora ampliado desde o seu
primeiro edital em 2009 e instalava-se em 284 Instituições de Nível Superior (IES), 5.898 esco-
las, com 90.254 bolsas concedidas.
7
Os mapeamentos escolares, tal como constam no nosso subprojeto, consistem num relato ou
registro poético a partir das observações do ambiente escolar, sua comunidade e seu imaginá-
rio. O mapeamento já havia iniciado em 2014, constando como uma etapa inicial do nosso
cronograma; contudo, com a entrada de novos pibidianos e mesmo com as mudanças de escola
ao longo do percurso, a ação de mapeamento acabou por transbordar de diversas maneiras,
conforme o ponto de vista e as habilidades de cada estudante de licenciatura, ao assumir da
bolsa. A atividade de mapeamentos pode ser apreciada a partir do nosso site: http://
pibidufrgsartesvisuais.weebly.com/.
141
MASTROBERTI, P. • As moscas pibidianas na sopa da educação
8
Fórum Nacional dos Coordenadores Institucionais do Programa Institucional de Bolsa de Ini-
ciação à Docência.
142
Iniciação à docência: espaços, conexões e processos no PIBID/UFRGS
9
Conforme a carta afirma, textualmente: “Saímos do estado de mera constatação dos resultados
negativos da Educação Básica, mostrados pelos exames internacionais. Fomos além do registro
de que esses resultados vêm sendo produzidos pela má qualidade e até mesmo ausência de pro-
fessores com devida formação, por exemplo, nas disciplinas de física, química e matemática.
143
MASTROBERTI, P. • As moscas pibidianas na sopa da educação
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Iniciação à docência: espaços, conexões e processos no PIBID/UFRGS
12
Ambas as produções, assim como outros trabalhos apresentados no Seminário Institucional
PIBID/UFRGS de Verão em 2015, podem ser apreciadas em vídeos disponibilizados no
Canal PIBID Artes Visuais do YouTube: https://www.youtube.com/channel/
UC5HTWdyq9ozCREa4kqYczkQ .
145
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Iniciação à docência: espaços, conexões e processos no PIBID/UFRGS
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Iniciação à docência: espaços, conexões e processos no PIBID/UFRGS
A Portaria 4613 caiu como uma chuva de granizo sobre os ainda ensola-
rados dias do mês de abril de 2016. Além de revogar a Portaria 96 de 2013, sob
cujo edital inscrevemos nossos subprojetos, ela estabelecia normas absurdas,
impossíveis de serem cumpridas, como o que se observa, por exemplo, no Ar-
tigo 10, parágrafos 1o e 2o:
§1º Cada coordenador de área deve orientar no mínimo 20 (vinte) e no má-
ximo 30 (trinta) bolsistas de iniciação à docência.
§2º Cada supervisor deve acompanhar no mínimo 10 (dez) e no máximo 15
(quinze) bolsistas de iniciação à docência (PORTARIA 46, p. 5).
13
O teor completo da Portaria 46 pode ser acessado em: <https://www.capes.gov.br/images/
stories/download/legislacao/15042016-Portaria-46-Regulamento-PIBID-completa.pdf>. Úl-
timo acesso em janeiro de 2017.
149
MASTROBERTI, P. • As moscas pibidianas na sopa da educação
14
Utilizamos uma sala desocupada para expor os trabalhos de “Do autorretrato a selfie” e reali-
zamos um sarau musical na abertura, que foi um grande sucesso entre a comunidade escolar.
A biblioteca da escola também foi utilizada inúmeras vezes para o desenvolvimento de ativi-
dades e reuniões da equipe. Nada disso interferia na rotina escolar. Contudo, sabíamos que a
direção costumava alugar os espaços vagos para atividades externas; sobre a biblioteca, sua
administração estava a cargo de nossa supervisora, e nós a utilizávamos apenas durante o
horário por ela cumprido quando nessa função.
150
Iniciação à docência: espaços, conexões e processos no PIBID/UFRGS
[...]
Esta nova Portaria vai propor um abandono dos nossos bolsistas nas esco-
las, vai retirar o que temos de mais significativo que é a relação do professor
de sala de aula com nossos licenciandos, vai reforçar uma concepção que
tentamos muito descaracterizar, que somos responsáveis pelo fracasso da
escola pública e por isso, nossos bolsistas e coordenadores precisam intensi-
ficar seus esforços acompanhando no mínimo três escolas no ensino médio
e 7 nos anos iniciais semanalmente, sendo que semanalmente ainda preci-
sam fazer reuniões com supervisores e com licenciandos. Os supervisores
terão que acompanhar um número igual de escolas, sendo assim, por mais
cálculos que façamos não há possibilidade de realizarmos um trabalho de
qualidade. Não teremos mais coordenação de gestão, talvez porque tenha-
mos muito menos o que pensar de processos.
Neste momento, a minha preocupação está centrada na qualidade e para
mim qualidade também é dizer NÃO a uma proposta que não tem como ser
realizada.
Quero dizer que, se algum projeto for postado pela UFRGS, eu estarei acompa-
nhando e cobrando a qualidade que imprimimos no PIBID desde a sua origem.
Estamos assumindo, ao enviarmos propostas, que a escola pública não pre-
cisa de Educação Física (que hoje temos 42 bolsistas), de Artes Visuais, Mú-
sica, Francês, Espanhol, Teatro, Dança, entre outros.[...] (Email encami-
nhado pela Coordenadora Institucional Roselane Zordan Costella em 26 de
maio de 2016 a todos os coordenadores do PIBID/UFRGS.)
15
A PEC 241 pode ser lida, na íntegra neste link: http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/
prop_mostrarintegra?codteor=1468431&filename=PEC241/2016. Já a MP 746 encontra-se
acessível aqui: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2016/mpv/mpv746.htm
(Dados registrados em 2016).
151
MASTROBERTI, P. • As moscas pibidianas na sopa da educação
Mas eu não quero encerrar este discurso com mais críticas ou queixas.
Vamos concluir com alegria e amor: o meu amor é incondicional aos estudan-
tes e aos professores escolares em geral, sobretudo àqueles unidos pela rede
pibidiana. Depois de quase abandonar o navio ao naufrágio que, por força da
nossa luta, não aconteceu, voltei-me com fome e sede para a minha desorien-
tada equipe, disposta a recuperar o entusiasmo perdido. Não foi, ou melhor,
não está sendo fácil. Uma boa notícia: a escola onde se encontra atualmente
nossa supervisora expulsa, depois de alguma desconfiança com relação ao pro-
jeto, decidiu nos acolher e agora maravilha-se com nossa atuação. Uma notí-
cia triste: depois de dois anos atuando no Colégio Aplicação, saímos em busca
de outra escola em 2017.16
Sou uma docente que gosta de estar entre os estudantes, mesmo que eu
tenha que encarar, por vezes, algumas teimosias ou, pior, apatias ou distra-
ções, até mesmo uma eventual indolência. E gosto, como já disse, do ambiente
escolar – e vou menos às escolas do que deveria, reconheço – mas quando em
visita, meu entusiasmo não me permite registrar suas deficiências, indigências,
má vontade ou irritação, mas reconhecer as promessas, as riquezas, os desafios
que excitam e energizam a minha subjetividade docente de licenciatura.
Procuro promover a leveza e a risada nas reuniões – será que eu consi-
go? O PIBID pode proporcionar, através da relação entre coordenador e equi-
pe, algo que dificilmente se obtém em cargos cuja gestão encontra-se eventual-
mente contaminada por ambição, inveja, intrigas e outras malícias: o estar e
atuar junto ao grupo, em regime de co-laboração, co-operação. O PIBID, na
dimensão das equipes que atuam no subprojeto, potencializa, para quem as-
sim o quiser, a horizontalidade e o diálogo; ele promove a convivência e o
respeito mútuo, onde o licenciando não é mais nem menos que o supervisor,
onde todos podem aprender e ensinar, agir e sonhar em nome de uma educa-
ção de maior qualidade. Licenciandos, supervisores, escola e universidade:
para que a receita pibidiana resulte numa deliciosa refeição, esses ingredientes
devem ser dosados de modo a respeitar cada sabor. Tais afetos e valores, infe-
16
A retirada da equipe do Col. Aplicação visa, principalmente, obedecer a uma solicitação da
CAPES para que o programa atenda prioritariamente escolas públicas cujo resultado da ava-
liação pelo cálculo do Índice de Desenvolvimento da Educação Básico – IDEB, em uma esca-
la de 0 a10, seja abaixo de 6. Em Porto Alegre, a média de avaliação das escolas federais, caso
do Aplicação, no ano de 2015, ficou entre 6,9 e 7,3, enquanto que a média do índice das
estaduais ficou, no mesmo ano, entre 3,5 e 4,9 e a das escolas municipais, entre 3,8 e 4,6. Ou
seja, a própria CAPES reconhece os benefícios do PIBID no sentido de contribuir qualitativa-
mente com a educação escolar.
152
Iniciação à docência: espaços, conexões e processos no PIBID/UFRGS
17
Tomo a liberdade de usar o verbo “aparatar”no sentido traduzido do inglês apparate, da obra
Harry Potter (feitiço que permite surgir em algum lugar após ter desaparecido em outro), um
pouco para brincar com o espírito juvenil do grupo, um pouco para referir-me ao grupo que
surge na escola aparatado (agora sim, no sentido de estar vestido com as camisetas que nos
identificam, causando um efeito de “pompa” pibidiana).
153
MASTROBERTI, P. • As moscas pibidianas na sopa da educação
Referências
ARTOGRAFIAS PIBIDIANAS: rotinas e experiências dos grupos pibids artes visuais da
UFRGS. Website administrado por Paula Mastroberti. Disponível em: <http://
pibidufrgsartesvisuais.weebly.com/>. Último acesso: jan. 2017.
CALVINO, Ítalo. Se um viajante numa noite de inverno. São Paulo: Companhia das Le-
tras, 1990.
CAMPBELL, Joseph. O herói das mil faces. São Paulo: Pensamento, 1997.
COSTA, Luciano Bedin; MASTROBERTI, Paula (Orgs.). Super-herói universitário. Di-
cionário Raciocinado de Licenciaturas, Tomo V. Porto Alegre, 2016.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da esperança: um reencontro com a pedagogia do oprimido.
São Paulo: Paz e Terra, 2011.
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Iniciação à docência: espaços, conexões e processos no PIBID/UFRGS
MASTROBERTI, Paula. O que somos? De onde viemos? Para onde vamos? Disponível em:
<http://pibidufrgsartesvisuais.weebly.com>. Acesso em: jan. 2016.
MEDIDA PROVISÓRIA N. 746. Site do Planalto Federal. Disponível em: <https://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2016/mpv/mpv746.htm>. Último aces-
so: jan. 2017.
PORTARIA 46. Site da CAPES – Centro de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior. Disponível em: <https://www.capes.gov.br/images/stories/download/legis-
lacao/15042016-Portaria-46-Regulamento-PIBID-completa.pdf>. Último acesso: jan.
2017.
PROPOSTA DE EMENDA À CONSTITUIÇÃO (PEC 241/2016). Site da Câmara
de Deputados do Governo Federal do Brasil. Disponível em: <http://
www.camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1468431&
filename=PEC241/2016>. Último acesso: jan. 2016.
VARELA, Francisco; THOMPSON, Evan; ROSCH, Eleanor. A mente corpórea: ciência
cognitiva e experiência humana. Lisboa: Instituto Piaget, 2001.
155
Como fazer um texto a seis mãos?
Umbelina Barreto1
Lia Regina Roveda Tassi2
Juliana Gonzalez3
Eliana Uczak4
Eduardo Turski5
Ário Gonçalves6
1
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2
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3
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4
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5
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6
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BARRETO, U. et al. • Como fazer um texto a seis mãos?
Ao entrar na Escola Anne Frank com o PIBID Artes Visuais, fui recebi-
da de braços abertos e, então, já me pus a caminhar, e caminhando observei os
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Iniciação à docência: espaços, conexões e processos no PIBID/UFRGS
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BARRETO, U. et al. • Como fazer um texto a seis mãos?
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Iniciação à docência: espaços, conexões e processos no PIBID/UFRGS
Afinal, Goodman (1995) confirma que as artes não devem ser tomadas menos
a sério do que as ciências como meios de descoberta, criação e alargamento de
conhecimentos, no sentido geral do progresso da compreensão. E então, com
Manoel de Barros, fica-se a pensar: E agora que fazer com esta manhã desa-
brochada a pássaros?
Da experiência da escola, volta-se para a experiência do sujeito em que
se pode vivenciar a paixão que pode nos levar pela mão ao início de um per-
curso de arte de educadora. Eduardo Turski está há mais tempo atuando como
bolsista no PIBID Artes Visuais e já realizou um projeto com alunos/as de
Ensino Médio. Também já apresentou o trabalho realizado com esses/as alu-
nos/as em dois seminários nacionais. Tendo trabalhado em um suporte de
tela, talvez ainda fosse necessário envolver-se em uma proposta em que o su-
porte fosse diretamente o muro, o muro da escola. E é isso mesmo que Turski
traz nessa experiência na Escola Anne Frank. Em ambas as escolas em que
atuou, ele apresentou para os/as alunos/as o seu processo de iniciação à arte
ocorrido ainda no seio familiar, e, mostrou como, de certa forma, é esse prin-
cípio que o fez apaixonar-se pelo graffiti. A paixão de Turski ainda é a mesma,
mas a operacionalização do graffiti vai mudando, conforme ele vai desenvol-
vendo uma linguagem artística e um caminho como arte-educador, onde a
pintura começa a ser processada em camadas e conversas entre procedimen-
tos, materiais e instrumentos, principalmente quando ele consegue ver-se como
arte-educador. É muito significativo que Turski retome os processos de auto-
organização para abordar a proposta processual de construção de um graffiti –
com características muralísticas.
É no Projeto de Trabalho de Fernando Hernandez, 2000, que Turski
verifica o diálogo entre a arte e a cultura visual, talvez realizando um caminho
inverso, ao compreender a arte e construir esta compreensão da arte através da
cultura visual que corresponde ao seu universo, pois ainda é um licenciando, e
não o inverso, como preconiza o percurso do pesquisador.
O quarto exercício de fazer/viver experiências de iniciação à docência
pode ser apontado como o terceiro exercício mais um, pois ele vem no sentido
contrário das experiências com o espaço de recreação da escola, ou seja, o
quarto pibidiano presente neste texto optou por trabalhar a ressignificação do
espaço da sala de aula, transformando-a em uma grande câmara obscura, ou
câmera escura. Mas, as semelhanças também existem, e pode-se pensar que
todos os quatro pibidianos trazem algo em comum, ou seja, realizaram exercí-
cios simultâneos de fazer/ver, uns/umas se aproximando da imaginação, ou-
tros/as da memória, outros/as da audição, outros/as da fala, enfim, todos/as
transformando a cultura da escola, ampliando o universo pedagógico que tem
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BARRETO, U. et al. • Como fazer um texto a seis mãos?
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Iniciação à docência: espaços, conexões e processos no PIBID/UFRGS
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BARRETO, U. et al. • Como fazer um texto a seis mãos?
algo novo sem a perda do que já havia sido apreendido. Dessa forma, na ter-
ceira etapa trabalhamos com uma coisa que muitos deles nunca tinham visto:
o cartão postal, ou o que, no universo da Arte nós podemos chamar de arte
postal, surgida nos anos 60, e que, de certa forma, antecipou as redes de rela-
ções formadas hoje pela internet. No Brasil, foi Paulo Bruscky (1949), um ar-
tista de Pernambuco, o pioneiro a trabalhar com multimídia, e, entre as mídias,
a arte postal foi uma de suas preferidas. Depois de uma breve explicação de
como iria funcionar a proposta, gerando nova incredulidade ao tomarem co-
nhecimento de que eu sabia os seus endereços e que ficaria encarregada de
enviar para cada um/a o cartão-arte-postal do seu colega, retomamos o bichi-
nho fantástico e, dessa vez, ao invés dos/as alunos/as fazerem a montagem
com cola e papel, eles/as desenhariam esse mesmo bichinho direto no cartão
postal realizando a sua própria arte postal.
A princípio, uma dificuldade de “copiar” fazendo um desenho com uma
imagem exatamente igual a das figurinhas construídas, gerou um coro de re-
clamações e descontentamento com a sua própria forma individual de dese-
nhar, em que os alunos buscavam uma reprodução idêntica à montagem reali-
zada, mesmo vendo que era um bicho fantástico e inexistente, e que, em sendo
assim, poderia ser realizado de uma forma inventiva, e não repetitiva. Depois
de me recuperar de minha própria surpresa em verificar como os limites “rea-
listas” impediam a ação de desenhar naquelas crianças, sentei-me com cada
uma e fomos encontrando formas e estratégias de ultrapassar esses limites,
quebrando as barreiras, para, enfim, desenvolver os desenhos nos cartões, os
quais puderam finalmente ser realizados de forma agradável e prazerosa.
Na continuidade do trabalho, encaminhei um futuro diálogo com o pro-
cesso de pintura mural que já estava em desenvolvimento por Turski, outro
pibidiano do grupo de Artes Visuais. Então, eu levei os/as alunos/as para fora
da sala de aula para realizarem um novo desenho a partir, novamente, da ima-
gem criada de seu bichinho de estimação. Com carvão vegetal, material tradi-
cionalmente utilizado por artistas para desenho, colocados em extensores fei-
tos de canos de PVC, ampliando a distância de seu braço e a ponta do material,
pedi que eles aumentassem seu desenho em uma folha de papel A2, refazendo
o seu bichinho fantástico. Nisso, outra barreira precisou ser quebrada. O car-
vão colocado em uma ponta de um cano estendendo o seu braço dificultava a
firmeza no traço do desenho e obrigava que todo e qualquer risco dado por
eles fosse bem mais gestual e despreocupado. Utilizei esta estratégia, pois, como
eu já havia observado que eles acabam buscando criar imagens “idênticas”,
com essa forma de propor o desenho, isso se tornava bem mais difícil. Além
do carvão disposto desse jeito não dar a precisão que os alunos procuram,
164
Iniciação à docência: espaços, conexões e processos no PIBID/UFRGS
ninguém poderia sentar-se para realizar a atividade. Todos eles deveriam dese-
nhar em pé e com o papel no chão, o que para eles foi uma experiência de
desenho única.
A última etapa de trabalho referiu-se à introdução dos animais fantásti-
cos em um mural no pátio da Escola Anne Frank, realizado com ajuda do
pibidiano Eduardo Turski, em continuidade ao mural que estava sendo cons-
truído por outras turmas. Depois que os desenhos dos animais fantásticos fo-
ram transferidos para o muro, as crianças voltaram a eles com pincéis e rolos
com tintas de várias cores, transformando as suas criações e produzindo mais
desenhos para ampliar o espaço dos bichos e complementar o espaço muralís-
tico em uma composição conjunta.
Quando delineei o projeto, a minha intenção foi tirar as crianças do
entorpecimento criativo que encontrei dentro da escola. E, com o conceito de
entorpecimento, eu me refiro àquele tipo de desenho em que a imaginação e a
construção de um imaginário ficam de fora, em que não há mais inventividade
– justamente o que procurei levar para a sala de aula, ao propor uma nova
relação com animais conhecidos, relacionando a natureza e a imaginação. Com
as partes dos animais conhecidos, eles puderam misturar e criar algo inexis-
tente no mundo real, mas que ainda poderia ser narrado e contado e apropria-
do cognitivamente, sendo que o processo criativo entorpecido, para mim, é
exatamente a pura reprodução daquilo que é factível, tangível e que faz parte
do cotidiano, da repetição e do conhecimento comum. Ao por em prática com
os estudantes a ideia dos animais fantásticos compostos com imagens de par-
tes de animais conhecidos, eles exercitaram o poder da imaginação, construin-
do um novo repertório imaginário ao produzir trabalhos fantásticos, mas cheios
de histórias para contar, em um exercício espontâneo envolvendo formas de
vida, hábitats e novos contextos.
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BARRETO, U. et al. • Como fazer um texto a seis mãos?
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Iniciação à docência: espaços, conexões e processos no PIBID/UFRGS
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Iniciação à docência: espaços, conexões e processos no PIBID/UFRGS
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BARRETO, U. et al. • Como fazer um texto a seis mãos?
sa construção que vinha sendo elaborada por muitos indivíduos com o intuito
de gerar um trabalho final valioso e instigante ao olhar da própria comunidade
escolar.
A proposta de criação consistiu em uma trama de ideias criada de forma
coletiva, fomentando a auto-organização como um dos principais conceitos
para essa ação. Tendo iniciado na primavera, essa ideia foi a primeira que
congregou os participantes. Nas etapas de trabalho, houve momentos em que
os/as alunos/as trabalharam dobraduras para realizar formas em estêncil (mo-
delo vazado para a colocação da tinta no suporte, que fica limitada à forma
que foi recortada) para a pintura do muro. Com as tintas em spray foram utili-
zadas formas naturais, como folhas e galhos, que foram utilizados como mo-
delos a orientar e limitar o jato de tinta, dando uma forma à colocação da tinta
em spray, fazendo aparecer figuras em positivo e em negativo, ampliando o
escopo da imagem.
Em um primeiro momento, com uma base branca no muro, a proposta
apresentada para os/as alunos/as foi que iniciassem uma composição de li-
nhas gerando desenhos, e, para isso, foram usadas fitas adesivas pretas (fita
crepe) para que, de imediato, pudesse ser gerada uma visualidade com a oposi-
ção das linhas pretas sobre o muro branco, definindo um impacto visual forte.
Conforme os/as alunos/as começaram a enxergar as figuras surgidas, suas
próprias e de seus colegas, eles/as começam a se empolgar e adensar ainda
mais esse muro branco com os desenhos realizados com as fitas. Nesse mo-
mento, já é visível o processo que vai ocorrendo de auto-organização se forma-
lizando naturalmente entre todos/as os/as participantes, na qual alguns, indi-
vidualmente, compõem alguns desenhos, e entre si vão se espalhando e com-
pondo o todo, enquanto outros formam grupos e compõem figuras de modo
coletivo, e também vão se integrando nesse processo de uma organização na-
tural que flui subjetivamente e que se mostra de uma forma instigante.
Após a etapa das fitas, na sequência, na semana seguinte, os/as alunos/
as passam a compor o plano com cores suaves e aguadas, tintas fluidas feitas
com pigmento, resina acrílica e água, gerando uma visualidade que parece o
resultado de uma grande aquarela. Iniciam a composição com algumas cores,
usando rolinhos e pincéis largos e chatos. Os procedimentos são distintos, pois,
enquanto alguns alunos/as jogam as cores de forma abstrata, outros colorem os
desenhos compostos pelas fitas pretas, sem que, necessariamente, tenham sido
feitos por eles/as. Conforme as aguadas vão se misturando no muro, novos tons
surgem, e o mural vai se transformando de forma constante. O muro então se
tornava um grande arco-íris com cores em sobreposição, mas todas cores dei-
xando ver o desenho anterior pela transparência do material utilizado.
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Iniciação à docência: espaços, conexões e processos no PIBID/UFRGS
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BARRETO, U. et al. • Como fazer um texto a seis mãos?
O projeto que eu, Ário Gonçalves, realizei na Escola Anne Frank den-
tro da proposta do PIBID Artes Visuais chama-se “A câmera escura na esco-
la”, a sala de aula como um espaço performado de aprendizagem e convivên-
cia, e foi desenvolvido com uma turma de sexto ano, durante o segundo se-
mestre de 2016. A escola está localizada em um bairro de classe média de
Porto Alegre, mas, apesar da localização centralizada, atende também mora-
dores da periferia da cidade. A faixa etária dos alunos da turma em que atuei
tinha uma variação dos 11 aos 14 anos de idade.
O trabalho que desenvolvi consistiu em transformar a sala de aula em
uma grande câmera escura, ressignificando o espaço da própria sala ao trazer
para o seu interior imagens externas à escola. Nessa sala de aula transforma-
da, os alunos foram solicitados a fazer um desenho coletivo sobre um suporte
colocado na parede. O desenho foi definido pela captura de uma imagem exte-
rior à sala de aula e que estava projetada no suporte. A projeção se dava atra-
vés da entrada de luz por um orifício feito em grandes banners colocados nas
janelas vedando a entrada da luz externa. O tamanho e a posição do orifício
precisaram ser calculados para que a imagem externa se projetasse nas paredes
e no teto da sala, possibilitando o reconhecimento das figuras ali definidas.
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Iniciação à docência: espaços, conexões e processos no PIBID/UFRGS
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BARRETO, U. et al. • Como fazer um texto a seis mãos?
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Iniciação à docência: espaços, conexões e processos no PIBID/UFRGS
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175
Ressonâncias do aprender
em uma prática docente
no ensino da Geometria...
Lisete Regina Bampi1
Letícia Diello2
Da metodologia
Dizem que aprender não ocupa lugar. Bem sei que
ocupa tempo. Mas tempo bem empregado costuma
dar juros, e os juros vêm em forma de tempo.
(Lispector, 2006)
Comecei com uma questão e, com ela, gostaria de fazer uma outra, de
ordem mais geral: como mostrar, concretamente, ressonâncias do aprender
(DELEUZE, 2003) em conexão com uma empiria? Parece-me que esta ques-
tão se conecta com o nosso grande desafio enquanto educadores que querem
realizar pesquisas empíricas em educação, especialmente, inspiradas no pen-
samento de Gilles Deleuze. Aqui que se encontra (a meu ver) a principal difi-
culdade dos trabalhos inspirados em Deleuze e, particularmente, no aprender
enquanto tradução de signos.
1
Professora do Departamento de Ensino e Currículo. Coordenadora do Subprojeto Matemáti-
ca. E-mail: lisete.bampi@ufrgs.br.
2
Bolsista do Subprojeto Matemática, atuando na Escola Estadual Anne Frank. E-mail:
leticiadiello@gmail.com.
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Iniciação à docência: espaços, conexões e processos no PIBID/UFRGS
Dar conta das abstrações que Deleuze realiza com a literatura, a pintu-
ra, a música, o cinema, a matemática, entre outros saberes (dados para os
outros), em conexão com uma empiria, não é coisa que se resolveria sem uma
intensa alegria. Distinguindo os signos sensíveis dos demais, surge uma espé-
cie de sentimento de obrigação. A conexão exige um trabalho de criação como
gênese do ato de pensar no próprio pensamento que surgirá nos encontros
com os signos: necessidade de procurar o sentimento do signo (DELEUZE,
2003).
Neste capítulo, vislumbramos certo estilo ignorante (RANCIÉRE, 2007).
Queremos nos tornar poetas, ao mesmo tempo, superficiais e profundos (BAM-
PI; CAMARGO, 2016b). O aprender, desde então, pode manifestar-se na vi-
vacidade do mundo, onde a explicação como tradução de signos torna-se “exemplo
didático de criação”, revelando-se em práticas de iniciação (BAMPI; CAMAR-
GO, 2016c). Nossas experiências com a docência, e as de outros docentes,
estão contidas naquilo que fazemos na escola contemporânea. A pergunta Que
fazer? instalou-se no início das nossas experiências: já visando a um fim? (BAM-
PI; CAMARGO, 2016c). Ora, quando pensamos na tradução de signos como
método, temos todo o direito de perguntar como fazer? enquanto metodologia que
pode surgir no dia dia. E esse como fazer? tem, também, o objetivo de desenvol-
ver sentidos e decifrar signos do aprender, tornando-se meio (CAMARGO;
BAMPI, 2013).
Não se trata de arquivar dados sobre educação, guardando em um espa-
ço a memória de uma dada instituição, ou da identidade da sociedade ou de
uma realidade estudada, até então. Tampouco, estou respondendo à intrigan-
te pergunta “como ensinar tudo a todos?”, formulada por Comênio em sua
Didática Magna (1957), muito antes dela incomodar tantos profissionais da edu-
cação, preocupados com a referida questão. Trata-se de pensar no aprender como
um acontecimento que não se contenta com uma associação de ideias, nem
com uma grande caixa de conhecimentos (DELEUZE, 2011; BAMPI; TELI-
CHEVESKY, 2012).
Talvez possamos recriar os signos da vida real naquilo que aprendemos
e ensinamos, dentro e fora da sala de aula, em qualquer instituição onde circu-
lam conhecimentos. Afinal, o que é mais convincente do que os fatos da vida
real? Meu objetivo principal, neste texto, consiste em reconhecer a produtivi-
dade das práticas que saltam do cotidiano em meio aos dados necessários à
vida real. E, por sua vez, o criador, o decifrador de hieróglifos (pode ser um
professor), uma aluna, um profissional, um homem sensível preocupado com
a educação do filho (ou da filha), dentre outros, que se preocupam gentilmen-
te com pequenos gestos que podem render muito mais, funcionará como o
177
BAMPI, L. R.; DIELLO, L. • Rossonâncias do aprender em uma prática docente no ensino de Geometria..
3
Esta questão foi desenvolvida em uma comunicação apresentada no VIII CIFE – VIII COLÓ-
QUIO INTERNACIONAL DE FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO (BAMPI et al., 2016a).
178
Iniciação à docência: espaços, conexões e processos no PIBID/UFRGS
uma prática docente) consiste numa relação de invenção, onde todo o conteúdo
é perdido (como se nunca tivesse sido possuído), restando-nos a obra como tra-
dução, decifração de signos. Ou seja, a arte faz com que o nosso mundo se
desdobre no outro de todos os mundos, é o mesmo mundo, mas com outros
signos. O aprender, assim como a experiência, torna-se demasiadamente trans-
gressor para relatá-lo. O pensamento com palavras tem cores outras, tornam-se
imagens, como acontece nos sonhos (LISPECTOR, 2006; BAMPI; TELICHE-
VESKY, 2012).
Larrosa (2011), quando questionado sobre uma formação de professo-
res que aproxime o par experiência/sentido, sugere uma leitura do Kamasutra,
ou A arte de amar de Ovídio, livros que lê como sendo sobre viagens. Ele suge-
re, com eles, refletir sobre o que significa ensinar a outros a amar, ou a viajar.
E, com as reflexões originadas desse ato, sacar conclusões sobre o que signifi-
ca ensinar os outros a ensinar, ou a deixar aprender, ou viver, quando o ensi-
nar deixar de ser somente uma técnica ou uma prática, mas, também, uma
experiência. Não que a experiência prescinda de técnicas (mesmo que isto não
se torne um caso, neste momento).
Enfim, Larrosa (2011) traduz tais obras como relatos de uma iniciação:
esta é a minha experiência... eu fiz assim... se ela te servir de algo, faz a tua
própria experiência. De uma experiência, podemos extrair seu surpreendente
pluralismo e dar vivacidade, por exemplo, a um relato de atividades desenvol-
vidas em um programa de iniciação à docência. O relato pode ser pensado
como um “texto-imagem” a ser recriado com os signos do próprio aprendiza-
do (BAMPI; TELICHEVESKY, 2012). Afinal, uma experiência pode surgir
com o tocar, o pôr a mão, o apalpar, conduzindo-nos a criar caminhos, onde
podemos nos encontrar com os signos da arte de amar, por exemplo, no ensi-
no da geometria (ou observando uma fotografia).
Aqui não é necessário que tenha havido uma experiência real, mas uma
exaustiva demonstração de força (alegria ou vontade de viver) (BAMPI; TE-
LICHEVESKY, 2012). Entregando-nos a ela, talvez possamos reconhecê-la
deveras. Neste momento fecundo, diversos caminhos se abrem, permitindo a
inteligência surgir em toda a sua vivacidade, nunca mostrando toda a sua for-
ça. Porém, deixando-se dobrar (ad infinitun) em meio à velocidade de um apren-
der que pode surgir em uma oportunidade: num tempo oportuno, em que a
verdade tem uma relação essencial com a novidade (BAMPI; CAMARGO,
2016c). Avançar lentamente, tateando, é a única possibilidade em que a dor de
um aprofundamento lateja como num ferimento.
É como se algo estivesse em curso e tivéssemos que permanecer firmes
sem saber do que se trata: mas o que acontecerá na próxima aula? Conteúdos,
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BAMPI, L. R.; DIELLO, L. • Rossonâncias do aprender em uma prática docente no ensino de Geometria..
Do relato
A linguagem é o meu esforço humano. Por
destino tenho que ir buscar e por destino volto com as
mãos vazias. Mas – volto com o indizível. O indizível só
me poderá ser dado através do fracasso de minha
linguagem.
(Lispector, 1964)
Este relato já não é o mesmo relato das atividades que foram desenvol-
vidas pelos bolsistas do PIBID (Programa Institucional de Bolsa de Iniciação
à Docência), Subprojeto Matemática, na Escola Estadual Anne Frank, duran-
te os anos de 2015 e 2016, com uma turma de oitavo ano. No entanto, mesmo
sempre sendo um novo relato, com outro foco, ainda é quase a mesma: a expe-
riência, ainda não foi esgotada e, num cansaço interior, se “reconstrói a cada
dizer, a cada palavra que insiste em ser escrita, num aprender que se renova e
sempre tem algo a dizer, ainda que indizível” (BAMPI et al., 2014).
No ano de 2015, participaram do projeto vinte e dois alunos, e dezesse-
te em 2016. Cada um desses trinta e nove alunos desenvolveu, durante sua
vida escolar, diferentes formas de aprender. Como deixaríamos de lado muitas
outras formas tão importantes quanto as elencadas nos currículos escolares?
Foi com essa afirmação que o projeto elaborado pelos bolsistas focalizou-se
em quatro recursos para ensinar um mesmo conteúdo, ou seja, a matemática
escolar a ser ensinada seria viabilizada por meio de quatro oficinas, quais se-
jam: a) matemática no cotidiano, que foi desenvolvida com exemplos que repre-
sentam uma dada realidade, abordando diversas formas em que a matemática
escolar se apresenta nas vivências dos estudantes; b) jogos, que utilizou dife-
rentes jogos, lúdicos ou não, para apresentar os conteúdos matemáticos; c)
resolução de problemas, que permitiu aos alunos perceberem situações em que a
matemática foi utilizada na solução de problemas; d) mídias, que utilizou dife-
rentes recursos tecnológicos (softwares, aplicativos, filmes, fotos, dentre outros).
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Da palavra... Conclusão
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Iniciação à docência: espaços, conexões e processos no PIBID/UFRGS
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4
Interessa-me, aqui, observar uma relação com o paradoxo implícito que a “explicação” (RAN-
CIÈRE, 2007) desenvolve: o da subdivisão ao infinito sempre passado-futuro e jamais presente
(DELEUZE, 2011, p. 78). No contexto desta associação, ela funciona como o hífen necessário
às formas da expressão ensino-aprendizagem, criando uma espécie de ponte que pode ofuscar
“o que acontece no meio” (CAMARGO; BAMPI, 2013).
185
BAMPI, L. R.; DIELLO, L. • Rossonâncias do aprender em uma prática docente no ensino de Geometria..
BAMPI, Lisete et al. Numa brincadeira de aprendiz de feiticeira... Surge algo. Revista
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