AvPsi No Adulto
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No decorrer dos últimos anos observa-se que psicológicos, direcionado a pessoas ou grupos,
a saúde mental vem sendo tratada com cuidado feito exclusivamente pelo psicólogo, através de
não só pelos especialistas da área da saúde como instrumentos e técnicas que foram prévia e cui-
pelo público em geraL A ciência psicológica vem dadosamente desenvolvidas e validadas (C0nse.
ganhando espaço nas mídias e outros meios de lho Federal de Psicologia - CFP, 2013). Logo,
divulgação e cada vez mais pesquísas e discussões a AP parte de uma coleta de informações apro-
ampliam o debate acerca da importância do cui- fundada acerca do histórico dos sujeitos, buscan-
dado com as questões internas. Atrelado a isso, os do explicar como os fenômenos psicológicos se
consultórios psicológicos e psiquiátricos recebem constituem (Borsa 8c Muniz, 2016).
um público cada vez mais diversificado, tanto em Por intermédio da AP, os profissionais tentam
termos de características sociais e econômicas entender questões acerca do funcionamento psi-
quanto no que se refere as” demandas apresenta- cológico e as implicações que um determinado
das, o mesmo acontecendo com áreas como tra- modo de funcionar têm na vída das pessoas. Este
balho e educação, onde a demanda pela inserção processo, portanto, é capaz de fornecer informa-
da psicologia tem se intensificado. Tendo isso em ções relevantes para 0 desenvolvimento de hi-
vista, o presente texto visa contribuir com a área, póteses sobre as características psicológicas, que
apresentando algumas questões referentes à Ava- podem se referir a como determinadas pessoas
líação Psicológica (AP), especialmente direciona~ realizam atividades, à qualidade das relações in-
da para o público adulto. Essa discussão faz~se terpessoais que estabelecem, dentre outras.
importante, pois o processo de diagnóstico e
A AP pode ser realizada em qualquer con-
intervenção, nos mais variados contextos, é per-
texto de atuação do psicólogo (Lins, Muniz, &
meado pela avaliação, sendo condição sine qua
Uehara, 2018), demonstrando que os profissio-
non para uma atuaçâo profissional efetiva, ética
nais, independente da área de atuação, preci-
e respeitosa, uma vez que esta tem se mostrado
sam estar capacitados para realizá-la com proc-
uma área sensível da atuação profissional (Zaia,
minência, garantindo que sejam respeitados os
Oliveira, õc Nakano, 2018).
aspectos éticos e técnicos preconizados pelo
A AP consiste em um processo técnico e CF,P especificados principalmente na Resolu-
científico de levantamento de dados sobre ca- ção n° 9, de 25 de abril de 2018 (CFP, 2018)-
racterísticas psíquicas e o estado e/0u processos Dentre esses contextos, pode-se citar 0 clínico,
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da saúde e hospitalar, escolar e educacional, fo- devem ser utilizados de forma isolada, tendo em
rense, do trabalho e organizações, esporte, so- vista que fornecem informações parciais. Quanto
cial/comunitário, trânsito, orientação e aconse- mais fontes de informaçào o psicólogo utilizar,
lhamento vocacional e/0u profissional e outros maior será a segurança de que suas conclusões
(Noronha 8C Reppold, 2010). se aproximam da realidade. Para Nunes, Lou-
A AP também pode ser desenvolvida junto renço e Teixeira (2017) a escolha dos instrumen-
aos mais variados públicos, desde crianças e ado- tos a serem utilizados depende do objetiv0, do
lescentes, até adultos e idosos. No que concerne referencial teórico e da finalidade da avaliaçãa
especificamente aos adultos, foco do presente Dentre as ferramentas/instrumentos mais comu-
capítulo, Oliveira e Silva (2017) afirmam que mente utilizados, pode-se citar a observação, a
os motivos que levam esse público a buscar uma entrevista e 0 teste psicológic0.
avaliação são diversos como, por exemplo, “se- No que concerne a observação, pode-se di-
leção para um emprego, candidatura para obter zer que se trata de um monítoramento de ações
a carteira nacional de habilitação para dirigir os por meios visuais ou eletrônicos (C0hen, Swer-
mais variados tipos de automóveis, obtenção de dlik, 8C Sturman, 2014). Esse monitoramento no
permissão para porte de armas, para auxílio em âmbito científico, contudo, difere do realizado
processos judiciais, para diagnóstico de quadros cotidianamente por todas as pessoas. Precisa ser
clínicos etc.” (p. 319). realizado de maneira sistemática e objetiva, com
Independente do público-alvo, para atender registros detalhados e cuidadosos dos compor-
as mais Variadas demandas, esse processo contém tamentos tais como se apresentam (Nunes, Lou-
determinados passos fundamentaís para sua efeti- renço, 8C Teixeira, 2017). Para tanto, podem ser
vidade, tais como levantar os objetivos da avalia- utilizados roteiros ou protocolos de avaliaçã0, os
ção, estabelecer os instrumentos e estratégias mais quais podem ser estruturados e rígidos ou mais
adequadas para o caso, coletar informações com flexíveis. O uso desse materíal de registro ajuda
o auxílio das ferramentas selecionadas, integrar a minimizar a tendenciosidade do observador,
os dados coletados e comunicar os resultados de segundo essas últimas autoras.
forma cuidadosa e eticamente determinada (CFP, Essa técnica, em geral, é utilizada em conjun-
2013; Cunha, 2003; Rigoni &', Sá, 2016). to com outros instrumentos (entrevistas, testes,
Visando cumprir esses passos de forma ética dinâmicas), mostrando-se relevante por permi-
e responsável, 0 psicólogo deve utilizar as técni- tir 0 acesso direto a comportamentos observá-
cas e ferramentas disponíveis considerando não veis. Isso significa, de acordo com Lins e Barros
apenas que sejam pautadas em critérios científi- (no prelo), que é possível avaliar como o sujeito
cos, com dados empíricos que comprovem sua se comporta em uma determinada situação no
efica'cia, mas os contextos em que cada uma momento em que ela ocorre ao invés de avaliar
pode ser usada (CFP, 2013; 2018). Lins, Muniz seu relato posteri0r, o qual pode vir deturpado
e Uehara (2018) afirmam que os instrumentos por diversos fatores (percepção, tempo trans-
psicológicos são fundamentais para o trabalho corrid0, esquecimento, dentre 0utros). Sendo
avaliativo e que cabe ao profissional conhecê-los assim, a observação fornece dados ao psicólogo
e utilizá~los de forma adequada. Ademais, não acerca dos comportamentos observados e como
Manuela Ramos Caldas Lins. Carlos Manoel Lopes Rodrigues e Mirela Dantas Ricarte
eles ocorrcm, além de informações sobre as in- Nas entrevistas clínicas, especifícamente, d¡.
terações estabelecidas e as variáveis individuais e versas informações devem ser coletadas para que
situacionais (Souza õc Aiello, 2018). o profissional possa não apenas compreender
0 motivo da procura pelo atendimento, mas as
Já no que se refere a entrevista, pode-se dizer
condições históricas, sociais, culturais, físicas e
que se trata de “um conjunto de técnicas de in-
emocionais que permeiam essa busca. Logo, du-
vestigação, de tempo delimitado, dirigido por um
entrevistador treinado, que utiliza conhecimen- rante as primeiras entrevistas deve buscar com-
tos psicológicos em uma relação profissional...” preender a história de vida do cliente, bem como
(Tavares, 2000, p. 45). Entrevista psicológica não a história de sua sintomatologia. No caso especí-
deve ser confundida com uma mera conversação fico do adulto, devem ser investigados aspectos
entre duas ou mais pessoas, pois envolve objetivos reIacionados aos relacionamentos românticos, a
a serem alcançados. Sendo assim, 0 psicólogo pre- vida familiar, profissional, social e alteraçóes físi-
cisa saber o que investigar para poder conduzir o cas (Hutteman et al., 2014). Na Tabela 1 épossí~
processo, permitindo obviamente que o cliente se vel identificar algumas informações importantes
posicione e tenha espaço para expressão. de serem aprofundadas.
Tabela 1 Exemplo de itens que podem ser investigados durante as entrevistas clínicas
Tópicos Exemplos
Nome, sexo, data de nascimento, idade, estado civil, naturalidade. número de fIIhos (nome e idade),
Dados pessoais
com quem reside, nome dos pais e irmãos (genograma)
Descrição dos sintomas, considerando a evolução ao Iongo do tempo, efeitos da queixa (incluir
Queixa
efeitos fIsiológicos), tratamentos anteriores, sentimentos despertados
História de vida: Eventos marcantes reIacionados à socialização, aspectos escolares. condições de saúde e
adolescéncia características emocionais
Ocupação atuaI, relação com colegas, número de empregos e duração. satisfação com o trabalho
EstudolTrabtho atual
atua|. situação ñnanceira
Em geraL 0 adulto é capaz de fornecer in- processo avaliativo, fornecendo informaçóes rele-
formaçóes sobre si, exceto em casos de acidente, vantes para o entendimento do psicólogo. Em si-
intoxicações ou transtornos que afetam suas fun~ tuações clínicas, caso existam outros profissionais
çóes cognitivas. Apesar disso, recomenda-se cau- (psiquiatras, neurologistas, dentre outros) atuan-
tela na coleta de dados e na verificação de sua ve- do junto ao caso, também podem ser ouvidos.
racidade. Sendo assim, quando necessário, outros A forma e estrutura das entrevistas deve ser
informantes (cônjuges, irmãos, amigos, dentre analisada em função dos objetivos da A,P d35
outros) podem ser convidados a participarem do características dos avaliandos e do contexw
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de atuação. A utilização de roteiros de entre- Destaca-se que não se deve aplicar apenas um
vistas estruturadas ou semiestruturadas podem único teste e que o número de testes pode ser al-
ser úteis em vários contextos como, por exem- terado conforme a demanda para corroborar ou
plo, a Entrevista de Formulação Cultural (EFC) descartar alguma conjectura. Além disso, devem
sugerida no Manual Diagnóstico e Estatístico ser contextualizados com os demais instrumen-
de Transtomos Mentais - DSM-5 (American tos da A,P observando e investigando a singulari-
Psychiatric Association, 2014) que tem por fi- dade do sujeito diante do cenário sócio-histórico
nalidade contextualizar os comportamentos que está inserido, para compor os resultados de
observados na vivência dos indivíduos dentro forma global, compreendendo os fenômenos so-
de sua realidade socioculturaL Já a Composite ciais, cognitivos e emocionais (Muniz, 2017).
International Diagnostic Interuiew (Cidi) tem Para garantir a qualidade e eficácia de um
sc mostrado aplicável em serviços de tríagem teste é preciso se ater às condições de elabora-
em saúde mental (Viana, 2016), sendo uma en- ção e análise de itens, validade, precisão e pa-
trevista estruturada com finalidade de identifí- dronização, como quais as questões 0 teste se
cação de sintomas e comportamentos caracte- propõe a avaliar, se são eficazes em identificar os
rísticos de transtornos mentaís. fenômenos investigados de forma consistente, se
A decisão de uso de roteiros de entrevistas es- possuem normas para a aplicação com o manual
truturadas ou semiestruturadas, entrevistas livres de instrução, que deve conter todos os requisi-
ou mesmo a combínação das estratégias depende tos para a utilização (Alchieri, 2003). Ademais,
também da familiaridade e habilidade do pr0- Rígoni e Sá (2016) afirmam que 0 psicólogo, na
fissional em empregar essas técnicas e conduzi- escolha dos testes psicológicos, deve se atentar
-las de forma a obter as informações necessárias às características do cliente (idade, sexo, esco-
para o processo da AP (Silva õc Bandeira, 2016). laridade, 0cupação/pr0fissão, condições físicas
Questões teórico-metodológicas perpassam o etc.), à ordem de aplicação dos instrumentos e
status que as entrevistas assumem no processo ao ritmo empregado.
de AP e a forma que serão utilizadas e devem ser Visando melhorar a qualidade da prátíca pro-
consideradas a fim de se manter a coerência de fissional, 0 CFP criou o Sistema de Avaliação de
todo processo (Barbieri, 2010). Testes Psicológicos (Satepsi), no qual é possível
Por fim, tem-se os testes psicológicos. Estes consultar uma lista com os instrumentos que es-
podem ser definidos como instrumentos padro- tão aprovados para uso profissional, isto é, que
nizados que buscam fornecer amostras do com- apresentam critérios mínimos de qualidade téc-
portamento, com 0 objetivo de descrever e/ou nica e científica. Para Serafini, Budzyn e Fonseca
mensurar processos psicológicos (CF,P 2012). (2017), por mais que essa lista represente um guia
Eles são administrados em função do que se de orientação, apenas a aprovação do instrumento
pretende avaliar no comportamento humano, não indica que ele possa ser utilizado com qual-
através de procedimentos técnicos e metodolo- quer propósito ou contexto. É necessar'io, segun-
gias específicas, a fim de descartar variáveis que do as referidas autoras, que o profissional leia o
possam eventualmente interferir nos resultados manual e se atente às pesquisas realizadas duran-
(Bueno õc Ricarte, 2017). te a construção do instrumento para decidir se
_ Manuela Ramos Caldas Lins, Carlos Manoel Lopes Rodrígues e erela Dantas Ricane
pode ou não utilizá-lo em determinada situação. psicométricas fundamentaig 0 uso das tabelas
lsso indica que cabe ao psicólogo a responsabili- normativas e sua interpretação e a capacidade de
dade pelo uso do instrumento (CFP, 2018; Hutz, avaliar a adequação da fundamentação teórica
2011), inclusive no que concerne à avaliação do dos instrumentos para atendimento das diversas
potencial de uso, selecionando testes tecnicamente demandas da AP, são cruciais para a escolha e 0
confiáveis e considerando os vieses culturais (ITC, uso adequado por parte dos profissiona1'sdaps¡.
2003), bem como avaliando as Consequências po~ cologia. A seguir (Tabela 2) serão apresentados
tenciais de seu uso (Aera, APA, 8c NCME, 2014). alguns testes psicológicos que podem ser utiliza.
Tabela 2 Principais testes psicológicos aprovados para uso junto a adultos pelo CFP
Construto Nome Editora Faixa etária
Teste Não Verbal de Inteligência Geral Beta III Casa do Psicólogo 14 a 83 anos
Bateria de Funções Mentais para Motorista -
Vetor A partir de 18 anos
Teste de Memória (BFM-2)
Fonte: Elaborada pelos autores com base nas informações disponíveis no Satepsi (busca realizada em
janeiro de 2019).
Esses testes avaliam características psicoló- resultados (índices estatísticos mais robustos)
gicas em adultos pertencentes a diferentes fases para um público e não 0utr0. Ademais, os pró-
do ciclo vital (j0vens adultos, médios adultos e prios construtos podem configurar-se diferente
velhos adultos) e é preciso cautela na escolha dependendo da idade e características sociais e
do instrumento e interpretação de seus resulta~ culturais apresentadas. Por exemplo, pode ser
dos. Pode ser que um deles apresente melhores identificado um decréscimo na atenção e me-
19 Avaliação psicológica no adulto -
7
EntreVIStas
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Reccbimenlo e análisc da dcmanda, . Escolha dasfontesfundamentaise com_ . Estabelecmento de rappomapresema_
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Ídentíñcação dos OleeÚVOS da AR idcn- plemenlares de informação (Res. CFP ção do trabalho e aprofundamento da
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tiñcação d° conteXtO (Cl¡niC0› 0rb'an1" _›.\ 09/2018). Levantamento de hipóteses __›: demanda. Anamnese, descrição e ana-'
zacíonaL educacionaL forense etc.), diagnósticas. Previsão de número de lise dos aspectos pessoais,re1acionals'c“.;
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identificação dos interessados e demais sessões, recursos materíais e de mfta'. s¡-stêm¡cos.
questões pertínentes. estrutura para AP. _ ,..:«_'3.°
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ses. Correção e sm'tese dos resultados _._›$ teórico-metodológica entre resultados _› CFP 07/2003.
relevante para o atendimento da econfrontaçãocomhipo'tesesd1a'gn,os-'lr
x
'
4 ;'._.
Encerramento do Processo
' Entrevísta devolutíva, relato dos resul-
tados, diagnóstico e progno'stico.
Arquivamento e guarda da documen~
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