Equipamentos de Ultrasom

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

FACULDADE DE ENGENHARIA ELÉTRICA E DE COMPUTAÇÃO


DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA BIOMÉDICA
CENTRO DE ENGENHARIA BIOMÉDICA

EQUIPAMENTOS DE AUXÍLIO AO DIAGNÓSTICO POR ULTRA-SOM

Prof.Dr. Eduardo Tavares Costa

Texto elaborado com a colaboração do Engenheiro Eletricista Joaquim Miguel Maia,


Doutor em Engenharia Elétrica, área de concentração Engenharia Biomédica.
ÍNDICE
1. INTRODUÇÃO....................................................................................................................................2
2. TEORIA BÁSICA................................................................................................................................3

2.1. Ondas Acústicas .......................................................................................................................................................................3

2.2. O Campo Acústico....................................................................................................................................................................6

3. PRINCÍPIO DE FUNCIONAMENTO DOS EQUIPAMENTOS DE ULTRA-SOM ....................7

3.1. Equipamentos Funcionando no Modo A .....................................................................................................................12


3.1.1. Aplicações do Modo A ...................................................................................................................................................14

3.2. Equipamentos Funcionando no Modo B .....................................................................................................................15


3.2.1. Aplicações do modo B ...................................................................................................................................................21

3.3. Equipamentos Funcionando no Modo M .....................................................................................................................22

3.4. Equipamentos Funcionando no Modo Doppler ........................................................................................................23

4. PRINCIPAIS FALHAS, ASPECTOS DE MANUTENÇÃO, OPERAÇÃO E


CALIBRAÇÃO DOS EQUIPAMENTOS DE ULTRA-SOM............................................................29
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................................32

1
1. INTRODUÇÃO

A utilização do ultra-som em medicina tem crescido continuamente devido ao seu


baixo custo, à possibilidade de se conseguir imagens em tempo real e prover informações
das propriedades elásticas dos tecidos, ser um método não-invasivo e principalmente
devido à sua característica não-ionizante. Ele tem sido largamente empregado como
auxiliar no diagnóstico médico dentro da obstetrícia e ginecologia, oftalmologia, neurologia
e cardiologia além de sua utilização como ferramenta comum em procedimentos
terapêuticos.

O ultra-som utilizado na área médica para obtenção de imagens e caracterização


de tecidos situa-se na faixa de 300kHz a 20MHz, podendo chegar a 100MHz, e tem
normalmente baixa intensidade, entre 10mW/cm2 e 1W/cm 2, podendo chegar a 10W/cm2
para curtos períodos de exposição da ordem de milésimos de segundo. Na fisioterapia,
são utilizadas freqüências na faixa entre 1MHz e 3MHz, com intensidade entre 0,25W/cm2
e 3W/cm2 (WELLS, 1977). O ultra-som de alta intensidade, na faixa entre 10W/cm2 e
50W/cm 2, com freqüências entre 20kHz e 50kHz é utilizado em procedimentos
terapêuticos como raspagem, corte, fragmentação e emulsificação (HADJICOSTIS et al,
1984; HEKKENBERG et al, 1994).

O desenvolvimento de instrumentação biomédica específica para tratar da radiação


ultra-sônica tem experimentado grandes progressos nos últimos anos. Os equipamentos
de imagem associam diferentes técnicas e provêm informações não só das estruturas
anatômicas como do estado funcional dos diversos sistemas, com excelente qualidade de
imagem. Isto se deve ao desenvolvimento de transdutores cada vez mais aprimorados e
principalmente à utilização de eletrônica digital e de microprocessadores cada vez mais
rápidos e potentes e da utilização de técnicas de processamento digital de sinais e de
imagens, o que tem permitido um avanço sem precedentes nas técnicas de diagnóstico
por ultra-som.

Este texto aborda os aspectos básicos relacionados à teoria do ultra-som,


transdutores e à instrumentação biomédica a eles associada.

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2. TEORIA BÁSICA

2.1. ONDAS ACÚSTICAS

Ultra-som pode ser definido como ondas acústicas imperceptíveis ao ouvido


humano, ou seja, aquelas cujas freqüências são superiores a 20kHz. São vibrações
mecânicas que se propagam em um determinado meio (ar, água, sangue, tecido
biológico, materiais sólidos etc.), sendo que cada material apresenta propriedades
acústicas características como impedância, velocidade de propagação e atenuação, por
exemplo.

De forma semelhante aos efeitos que ocorrem com radiações eletromagnéticas, as


ondas sonoras sofrem reflexão, refração e absorção causadas pelo meio onde se
propagam. A velocidade de propagação de uma onda sonora em um determinado meio é
função de seu comprimento de onda:

c =λ⋅ f (1),

onde:

c é a velocidade do som no meio (m/s);

λ é o comprimento de onda (m);

f é a freqüência sonora (Hz).

Outro importante parâmetro que caracteriza um determinado material é sua


impedância acústica, definida por:

Z = ρ ⋅c (2),

onde:

Z é a impedância acústica (kg⋅m/l⋅s ou 10-3⋅kg/m2⋅s);

ρ é a densidade do material (g/ml);

c é a velocidade do som no meio (m/s).

Estes dois parâmetros (velocidade de propagação e impedância acústica) são


muito importantes no estudo do comportamento de uma onda sonora na interface entre
dois meios, compostos por materiais distintos. A Figura 1 ilustra uma onda, que se
propaga no meio 1, atingindo o meio 2, resultando numa parcela refletida e outra

3
transmitida, ambas sofrendo desvio de direção (BRONZINO, 1986; CHRISTENSEN,
1988, WELLS, 1977).

Figura 1 – Comportamento de uma onda acústica na interface de dois meios distintos.

Pode ser observado que, para uma interface plana, o ângulo de reflexão é igual ao
de incidência: θi = θr. Já o ângulo de transmissão relaciona-se com o de incidência em
função das velocidades de propagação dos meios 1 e 2 (c1 e c2) pela seguinte fórmula:

sen θ i c1
= (3).
sen θ t c 2

A parcela da pressão da onda incidente (pi ) que é refletida (pr) é dada pelo
coeficiente R, segundo a seguinte relação:

pi Z cos θi − Z 1 cos θt
R= = 2 (4),
p r Z 2 cos θi + Z 1 cos θt

ou para incidência normal em relação à interface (θi = θr = θt = 0):

p i Z 2 − Z1
R= = (5).
pr Z 2 + Z1

A atenuação é outro parâmetro importante, pois trata do decaimento exponencial


da amplitude de uma onda acústica que se propaga através de um material. Vários
fatores contribuem para este decaimento, entre eles:

4
• Divergência do feixe em relação ao eixo central (o que provoca uma diminuição da
energia por unidade de área);

• Espalhamento devido à não homogeneidade do meio (uma parcela da energia se desvia


da direção de propagação inicial);

• Conversão em outros modos de vibração resultando no compartilhamento da energia


com duas ou mais ondas propagando-se com velocidades e sentidos diferentes;

• Absorção pelo meio, onde parte da energia é convertida em calor, principalmente devido
às forças de atrito que agem em oposição ao movimento das partículas;

O coeficiente de atenuação é dado por:

α = af b (6),

onde:

α é o coeficiente de atenuação (dB/cm);

f é a freqüência (MHz);

a é o coeficiente de atenuação para 1MHz (ver Tabela 1);

b é o parâmetro correspondente à dependência de atenuação com a freqüência.

A Tabela 1, a seguir, apresenta as propriedades acústicas de alguns materiais.


Pode ser observado que a velocidade e a impedância da água e do sangue são bem
próximos uns dos outros.

Tabela 1 - Características ultra-sônicas de alguns materiais (Modificado de BRONZINO,


1986).
Material Velocidade Densidade Impedância Coeficiente α para Dependência com
b
C ρ Z
2
1MHz a freqüência (f )
(m/s) (g/ml) (kg/m .s) (dB/cm)

Ar 340 0,0012 0,0004 1,2 2

Água 1500 1,00 1,5 0,002 2

Sangue 1540 1,06 1,6 0,1 1,3

Pulmão 650 0,40 0,26 40 0,6

Gordura 1460-1470 0,92 1,4 0,6 1

Músculo 1540-1630 1,07 1,7 1,5-2,5 1

Osso 2700-4100 1,38-1,81 3,7-7,4 10 1,5

Alumínio 6300 2,7 17 0,018 1

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2.2. O CAMPO ACÚSTICO

A descrição do campo acústico produzido por um transdutor é geralmente dividida em


duas regiões ao longo do eixo de propagação da onda. Uma fica limitada às vizinhanças do
transdutor, denominada região de campo próximo ("nearfield region") ou região de difração
de Fresnel. A outra é conhecida como região de campo distante ("farfield region") ou região
de Fraunhofer. A região de campo próximo caracteriza-se pela ocorrência de superposição
entre as ondas de borda (geradas na periferia do transdutor) e as ondas diretas ou “planas”
(geradas a partir de toda a face do transdutor). Como estas ondas podem ter amplitude e
fase diferentes, as mesmas interferem-se construtivamente e destrutivamente provocando
máximos e mínimos na intensidade do campo acústico. Nesta região concentra-se a maior
parte da energia e não há divergência do feixe ultra-sônico. Na região de campo distante, a
diferença de fase entre as ondas de borda e a plana não são tão evidentes e elas interferem -
se construtivamente de maneira a formar uma frente de onda quase plana que atenua à
medida que se propaga no meio, distanciando-se da fonte. Nesta região o campo é
divergente (HAYMAN & WEIGHT, 1979; FISH, 1990). A Figura 2 mostra a propagação de
uma onda acústica gerada por um transdutor, onde pode-se observar que à medida em que
a mesma distancia-se da fonte, as ondas de borda tendem a se propagar em fase com a
onda direta.

t = 1µs t = 10 µs t = 35 µs

Figura 2 – Propagação de ondas acústicas geradas a partir de um transdutor circular,


mostrando a interação entre as ondas de borda (geradas na periferia do mesmo) e a onda
direta. À medida que o tempo passa (aumenta a distância da fonte geradora) as ondas de
borda tendem a se propagar em fase com a onda direta.

A Figura 3 mostra a separação entre as regiões de campo próximo e de campo


distante ao longo do eixo axial de um transdutor circular de raio a, onde o ângulo de

6
divergência do feixe na região de campo distante é dado aproximadamente por: θ = sin-
(0,61 λ/a). A maioria dos autores considera o ponto de separação entre as duas regiões
1

(último máximo na intensidade da pressão) como ocorrendo a uma distância axial z = a2/λ,
porém ZEMANEK (1970) mostrou que esta transição ocorre a uma distância menor (z =
0.75a2/λ).

Figura 3 - (a) Seção longitudinal através do feixe ultra-sônico gerado por um transdutor
circular de raio a. (b) Variação da intensidade de pressão ao longo do eixo axial do
transdutor.

3. PRINCÍPIO DE FUNCIONAMENTO DOS EQUIPAMENTOS DE ULTRA-


SOM

Para aplicações biomédicas, a radiação ultra-sônica (ou campo ultra-sônico) é


gerada pela aplicação de um sinal elétrico (pulso de curta duração ou salva de senóides
ou ondas retangulares) a um dispositivo transdutor com características piezoelétricas, ou
seja, que converte a energia elétrica em energia mecânica (vibrações) e vice-versa (o
efeito piezoelétrico aparece em alguns cristais e cerâmicas sinterizadas, como o Quartzo,
Sal de Rochelle, Titanato de Bário, Titanato de Zirconato de Chumbo – PZT-4 e PZT-5). O
transdutor, geralmente, fica em contato com a pele do paciente, utilizando-se um gel para
acoplamento. As ondas geradas pelo transdutor propagam-se para o interior do corpo e
interagem com os diferentes tecidos, o que faz gerar ondas (ecos) que são espalhados
devido à não homogeneidade dos tecidos e propagam-se em todas as direções e também
na direção do transdutor emissor. Estes ecos são detectados por este transdutor (que age
7
como receptor) e, considerando-se conhecida a velocidade de propagação do ultra-som
nos tecidos, busca-se interpretar os sinais recebidos a diferentes profundidades
(distâncias da face do transdutor). Dependendo da informação requerida é possível, por
exemplo, visualizar estruturas internas ou estimar o fluxo sangüíneo ou a atenuação das
ondas devido às diferenças de densidades entre os diversos tecidos, podendo permitir
sua caracterização.

Um equipamento básico de ultra-som é formado por uma unidade de geração e


transmissão dos pulsos elétricos para excitação dos transdutores, uma unidade de
recepção e amplificação dos sinais captados, uma unidade de controle e processamento
que é utilizada para configurar os parâmetros das unidades de transmissão e recepção e
uma unidade para visualização dos resultados do processamento. O tipo de análise e de
processamento efetuados nos sinais enviados e recebidos pelos transdutores depende
das informações requeridas pelo médico, que podem ser a apresentação de um órgão
interno em um monitor, a atenuação ou velocidade de propagação da onda ultra-sônica
em um determinado órgão, a estimação de fluxo sangüíneo ou o deslocamento de
determinadas estruturas em relação às suas posições normais (WEBSTER, 1992;
WELLS, 1977).

A pesquisa na área de transdutores de ultra-som (“probes”) está em constante


desenvolvimento e vários tipos têm sido utilizados em equipamentos de uso geral,
abdominal, obstétrico e ginecológico. A freqüência do sinal e largura do campo acústico
gerado pelos transdutores depende da espessura e diâmetro do cristal piezoelétrico,
respectivamente. Transdutores que gerem altas freqüências produzem comprimento de
ondas menores e campos acústicos mais estreitos, o que melhora a resolução mas, por
outro lado, como a atenuação é maior nas altas freqüências, a profundidade atingida é
menor. Para corrigir em parte este problema, os equipamentos apresentam um controle
de ganho que pode ser ajustado pelo operador para poder visualizar interfaces mais
distantes da face do transdutor (ECRI, 1999).

No início da utilização do ultra-som como ferramenta de auxílio ao diagnóstico


médico, era comum o uso de transdutores circulares que faziam varredura em uma
direção de uma área de interesse e as freqüências situavam-se entre 1MHz e 3,5MHz.
Com o advento de novas técnicas de fabricação e encapsulamento das cerâmicas
piezoelétricas, passou a ser comum o uso de transdutores do tipo matricial (array
transducers), e o acionamento de cada elemento do array passou a ser eletrônico

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(varredura eletrônica). Além do desenvolvimento da eletrônica analógica e digital, a
fabricação de transdutores de freqüência acima de 3,5MHz passou a ser comum. Isto
facilitou a utilização do ultra-som em diversas áreas da medicina sendo comum sua
utilização em oftalmologia com transdutores operando em freqüências entre 10MHz e
25MHz. Ultimamente, é grande a quantidade de pesquisadores que estão desenvolvendo
transdutores que chegam a operar entre 25MHz e 100MHz, com aplicação direta na
visualização de estruturas de artérias e vasos.

Um diagrama esquemático de um transdutor ultra-sônico de elemento único pode


ser visto na Figura 4. Os elementos básicos deste tipo de transdutor são: cerâmica
piezoelétrica (elemento transdutor), camada de retaguarda (para absorção da energia
acústica que se propaga no sentido contrário ao da face frontal), camada frontal (para
casamento de impedância acústica com o meio de propagação da onda acústica gerada
pela cerâmica), elementos de casamento de impedância elétrica, cabos e material de
encapsulamento da cerâmica.

Os transdutores de elemento único são ainda bastante utilizados com pequenas


variações de encapsulamento segundo suas diversas aplicações. Para imagem, podem
ser montados em estruturas móveis (por exemplo no eixo de motores) de forma a permitir
o direcionamento de sua face frontal em diversos ângulos, formando imagens setoriais.
Os transdutores do tipo matricial (Figura 4) podem ter diversos formatos e são
constituídos por diversos elementos (geralmente) cerâmicos com pequenas dimensões,
separados entre si e que podem ser excitados individualmente ou agrupados em
pequenas células.

O número de elementos pode variar significativamente, de 8 a até 1024. A grande


maioria dos “scanners” comerciais utiliza transdutores matriciais com 64 a 256 elementos
e comprimento entre 4 e 15 cm. Dependendo do modo como os elementos do transdutor
são excitados, pode-se conseguir focalizar ou dirigir o feixe ultra-sônico, permitindo a
varredura eletrônica do tecido (ou material) investigado. Os atrasadores permitem a
excitação individual ou de grupos de elementos do transdutor, gerando frentes de onda
adequadas para cada caso.

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Cerâmica Piezoelétrica
Invólucro de PVC

Conector BNC

Camada de Camada
Sinal Retaguarda Frontal

Sintonizador
Terra

(a) Transdutor com elemento cerâmico único

(b) Transdutor matricial 1D

Atrasadores

Cerâmicas
Piezoelétricas

(c) Transdutor Matricial 2D

Figura 4 - Diagramas esquemáticos de transdutores de ultra-som.

As técnicas de processamento de sinais e de imagens e os aperfeiçoamentos na


fabricação dos transdutores têm possibilitado a obtenção de imagens com excelente
qualidade e facilitando o diagnóstico médico. Como toda a superfície do transdutor ou
“probe” tem que estar em contato com a pele do paciente ou região a ser analisada, os
fabricantes têm desenvolvido equipamentos mais sofisticados e uma ampla gama de
transdutores (Figura 5), com tamanhos, formatos e características específicas como, por
exemplo, focalização eletrônica ou através de lentes colocadas na face dos mesmos.

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Figura 5 – Equipamento (“scanner”) e transdutores de ultra-som para aplicações na área
médica (Imagens cedidas pela ATL Ultrasound).

Alguns sistemas utilizam transdutores com banda de freqüências larga


(“broadband”). Estes apresentam maior sensibilidade, permitindo a operação em
freqüências mais altas para aumentar a resolução ou em freqüências mais baixas para
aumentar a profundidade de penetração do campo, de forma a obter imagens de melhor
qualidade, com mais informações para auxiliar no diagnóstico. O operador pode
selecionar mais facilmente a resolução e profundidade de penetração do campo em
diferentes procedimentos para obtenção da imagem.

Os equipamentos mais modernos (“scanners”) permitem o armazenamento das


imagens em disco rígido, unidades ópticas, cassetes ou outras mídias de forma a serem
processadas posteriormente ou serem impressas utilizando-se impressoras com alta
resolução e câmaras multiformato. Além disso, algumas unidades incluem programas
especiais que permitem a determinação de volume, área, diâmetro e circunferência de

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algumas estruturas. Na obstetrícia, por exemplo, essas informações são utilizadas para
determinar a idade gestacional do feto.

Os equipamentos (“scanners”) medem a amplitude dos ecos, o tempo entre eles e a


direção de propagação dos mesmos e estas informações são então processadas e
exibidas em diferentes modos: Modo A, Modo B, Modo M, Doppler Contínuo ou Pulsátil.
Equipamentos no Modo A e Modo B fornecem informações espaciais sobre a região que
está sendo mostrada, enquanto que no Modo M ou Doppler, fornecem informações sobre
movimento ou velocidade/fluxo sangüíneo. A técnica mais antiga é o Modo A (ou modo
amplitude), que fornece informações unidimensionais e a técnica de geração de imagens
em duas dimensões mais utilizada é o Modo B. Muitos equipamentos podem operar com
uma combinação dos modos, por exemplo, Modo M com Modo B, Doppler e Modo B, etc.
A seguir serão apresentados alguns detalhes e modo de operação dos equipamentos
funcionando com essas configurações

3.1. EQUIPAMENTOS FUNCIONANDO NO M ODO A

Este modo, como os demais, exceto o Doppler Contínuo, tem como base a técnica
pulso-eco, onde um pulso de ultra-som de curta duração é transmitido por um transdutor.
Este pulso viaja através do meio que está sendo investigado e toda vez que ocorre uma
mudança da impedância acústica neste meio, ocorrem reflexões e estas podem ser
captadas pelo mesmo transdutor. O tempo decorrido entre a transmissão do pulso e a
recepção do eco é proporcional à profundidade de penetração, o que possibilita o
mapeamento unidimensional das interfaces na direção de propagação do campo. A
Figura 6 mostra o diagrama em blocos de um equipamento no Modo A.

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Figura 6 – Elementos de um equipamento no modo A (Modificado de CHRISTENSEN,
1988).

O circuito de pulso aplica um pulso de curta duração (da ordem de 10 a 500 ns,
dependendo da freqüência do transdutor) e alta amplitude (da ordem de centenas de
volts) ao transdutor através do circuito de chaveamento T/R, que isola os circuitos de
recepção durante a aplicação do pulso de alta energia para evitar saturação, sobrecarga e
danos dos mesmos e, durante a recepção, deixa passar os ecos de baixa amplitude (da
ordem de 1 a 200 mV, dependendo da atenuação do meio e da energia inicial aplicada ao
transdutor). O transdutor gera uma onda ultra-sônica (pulso incidente) que se propaga no
tecido e sofre reflexões nas interfaces dos meios 1 e 2 (Z1/Z2 e Z2/Z1). Os ecos gerados
nessas interfaces são captados pelo transdutor (que passa a operar como receptor),
amplificados e condicionados nos circuitos de recepção (utilizando-se circuitos
demoduladores que geram a envoltória do sinal, controle de ganho variável com o tempo,
circuitos que realizam compressão logarítmica para permitir que ecos muito longos ou
muito curtos sejam mostrados na mesma escala, comparadores de limiar, filtros
analógicos, etc.) e depois são mostrados no “display” (TRC – Tubo de Raios Catódicos)
de forma semelhante ao que é feito em um osciloscópio, onde o eixo horizontal
representa a varredura ao longo do tempo e no eixo vertical do “display” são mostradas as
amplitudes dos sinais recebidos após terem sido amplificados e condicionados
adequadamente. A Figura 7 mostra a seqüência de passos normalmente implementada
no processamento do sinal recebido no Modo A.

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Figura 7 – Seqüência de passos normalmente implementada no processamento do sinal
recebido no Modo A.

3.1.1. Aplicações do Modo A

O Modo A tem sido utilizado na ecoencefalografia da linha média, onde a posição


desta é determinada em relação aos ecos das fronteiras mais próxima e mais distante do
crânio. A linha média do cérebro, sob condições normais, deve estar posicionada no
centro do crânio em um plano sagital do mesmo. Se houver o deslocamento das
estruturas para um dos lados, provocado por algum tipo de lesão, a assimetria poderá
facilmente ser identificada no Modo A.

Também na oftalmologia o Modo A é bastante empregado, podendo-se determinar


o tamanho e padrões de crescimento do olho, detectar a presença de tumores ou outras
patologias bem como a presença de objetos estranhos para remoção via cirurgia.

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3.2. EQUIPAMENTOS FUNCIONANDO NO M ODO B

O Modo B produz uma imagem bidimensional do meio sob estudo pela combinação
dos sinais do Modo A em várias direções, obtidos pelo deslocamento mecânico do
transdutor. A posição do transdutor é determinada medindo-se o ângulo entre a armação
que serve para sustentar e direcionar o mesmo e uma determinada referência. Este modo
pode ser melhor entendido considerando-se uma linha no Modo A, modificada de tal
forma que a amplitude do sinal recebido não cause um deslocamento vertical do feixe do
tubo de raios catódicos, mas sim aumento ou diminuição do brilho. O eixo na direção de
propagação do pulso, da mesma forma que no Modo A, representa a profundidade de
penetração ou distância. A Figura 8 mostra como uma linha do Modo B pode ser obtida a
partir do Modo A para o mesmo objeto e a Figura 9 mostra o diagrama em blocos de um
equipamento no Modo B com varredura manual. Os circuitos para geração do pulso de
excitação do transdutor, chaveamento, amplificação e condicionamento dos ecos
recebidos são semelhantes aos descritos anteriormente para os equipamentos no modo
A, sendo que a diferença está no fato que a saída do circuito de recepção, neste caso,
modula o brilho de cada linha no “display” (TRC). A direção de cada linha (dada pelo
ângulo θ) é determinada pelos transdutores de posição adaptados ao suporte para o
transdutor ultra-sônico. Após a varredura completa da região desejada, a imagem em
duas dimensões é atualizada no “display”.

Figura 8 – Obtenção de uma linha do Modo B a partir do sinal do Modo A.

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Figura 9 – Elementos de um equipamento no Modo B.

Uma das vantagens da varredura manual é que o médico pode movimentar o


transdutor de modo a dar ênfase às estruturas de seu interesse, todavia, este tipo de
varredura não é adequado para mostrar estruturas em movimento como, por exemplo, o
batimento cardíaco de um feto. Nestes casos faz-se necessária a utilização de outros
métodos de varredura para obter imagens em tempo real como a varredura mecânica ou
a varredura eletrônica.

A Figura 10 mostra alguns modos de varredura mecânica para obter setores no


Modo B e a Figura 11 mostra o mecanismo de funcionamento de um arranjo de 5
elementos em um transdutor matricial linear para realizar a varredura eletrônica, onde o
direcionamento do feixe é obtido por meio de atrasos na excitação dos transdutores.

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Figura 10 – Varredura mecânica no Modo B: (a) Rotação do transdutor; (b) Oscilação do
transdutor; (c) Oscilação do refletor.

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Figura 11 - Arranjo de 5 elementos de um transdutor matricial linear para varredura e
direcionamento do feixe eletronicamente: (a) paralelo; (b) inclinado; (c) focalizado (d)
focalizado e inclinado Modificado de BRONZINO (1986).

As imagens de ultra-som são geralmente bidimensionais (2D) como visto na Figura


12. No caso de imagens obtidas com outros tipos de radiação, como em tomografia
computadorizada por Raios-X, é comum buscar-se a visualização tridimensional (3D) das
estruturas e órgãos internos do corpo. No caso do ultra-som, a obtenção de imagens
tridimensionais é difícil e se encontra em estágio ainda inicial, embora muitas pesquisas e
desenvolvimento estejam sendo realizados com sucesso por pesquisadores e empresas.

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(a) Imagem obtida com transdutor matricial com varredura linear.

(b) Imagem obtida com transdutor matricial com varredura setorial.

Figura 12 - Imagens 2D obtidas com transdutores matriciais específicos para varredura


linear (a) e setorial (b). (Imagens cedidas pela ATL Ultrasound - © 2000 ATL Ultrasound).

Em geral, os sistemas que permitem a visualização tridimensional de órgãos e


vasos do corpo humano são adaptações dos sistemas tradicionalmente disponíveis no
mercado, usando transdutores 1D ou tipo matricial anular cuja posição espacial é
monitorada por dispositivos sensores. Os dados de posição espacial são obtidos por uma
grande variedade de mecanismos, incluindo motores de passo na cabeça de varredura do
transdutor, dispositivos de translação e rotação, e o dispositivo sensor de posição pode

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ser eletromagnético, acústico ou óptico. O principal problema é devido ao manuseio do
transdutor, que é movimentado livremente pelo médico tornando difícil manter conhecidas
as coordenadas espaciais que indicam a posição e ângulo do transdutor em relação ao
corpo do paciente. Inúmeros pesquisadores e empresas têm buscado obter sistemas
confiáveis e que permitam a mesma facilidade de movimento que os ultra-sonografistas
conseguem nos sistemas atuais.

Os transdutores para obtenção de imagens 3D podem ser os mesmos utilizados


para imagens 2D com algumas adaptações para permitir a localização tridimensional do
feixe ultra-sônico, ou podem ser construídos especialmente com este fim. Nos casos de
transdutores especiais, os elementos cerâmicos podem ser organizados em uma matriz
2D como visto na Figura 4. Entretanto, outras disposições dos elementos cerâmicos
podem ser utilizadas. A varredura continua sendo eletrônica e é associada uma
coordenada espacial a cada elemento da matriz de modo a permitir a visualização de uma
janela 3D de uma região do corpo do paciente.

As imagens 2D e os dados de posição devem ser armazenados em memória


durante a aquisição para subseqüente montagem da imagem 3D. A aquisição das fatias
pode ser feita como uma série de fatias paralelas, uma rotação ao redor de um eixo
central ou em orientações arbitrárias. Após o volume ser construído, algoritmos especiais
são usados para melhorar a imagem, visualizá-la e analisá-la. O tempo requerido para
este processo varia entre alguns segundos a vários minutos dependendo da capacidade
de processamento dos computadores (geralmente usando vários processadores e co-
processadores de sinais e de imagens) e dos displays utilizados. A quantidade de dados a
serem armazenados depende do tempo de aquisição e do número de imagens
necessárias para se formar a imagem. O tipo de estudo também pode afetar os requisitos
de armazenagem e processamento de dados e de imagens. Por exemplo, a varredura
estática da face de um feto pode requerer somente 5 segundos de dados adquiridos a 10
quadros por segundo, enquanto um exame cardíaco requer de 35 a 45 segundos de
dados adquiridos a 30 quadros por segundo.

Qualquer que seja a técnica empregada para a geração da imagem 3D, os


sistemas permitem a obtenção de dados quantitativos semelhantes aos dos
equipamentos de imagem 2D, tais como medições de distâncias e áreas e,
adicionalmente, permitem a quantificação de volume. Normalmente, os sistemas de
imagens volumétricas precisam empregar técnicas especiais e calcular funções

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matemáticas complexas em que são levados em consideração os dados dos sensores de
posição do transdutor, a largura do feixe ultra-sônico, entre outros dados importantes.
Segundo alguns autores, as medições de volume usando métodos convencionais têm
acurácia de ±5% para órgãos com forma regular e de ±20% para forma irregular. Na
Figura 13 são mostradas imagens de ultra-som 3D.

Figura 13 - Imagem de ultra-som tridimensional da face de um feto na 26a. semana de


gestação (esquerda) e imagem 3D da vasculatura renal (direita). (Imagens cedidas pela
ATL Ultrasound).

3.2.1. Aplicações do modo B

Os instrumentos no Modo B representam a grande maioria dos equipamentos de


ultra-som para diagnóstico atualmente, principalmente devido ao grande número de
regiões anatômicas que podem ser observadas com este modo (varredura manual ou
tempo real) e também a facilidade na interpretação de imagens em duas dimensões e
mais recentemente em 3 dimensões.

Uma das principais aplicações deste modo está na obstetrícia, onde a taxa de
crescimento, posição e anormalidades podem ser observadas sem o risco de submeter o
feto e a mãe à radiação X. A localização da placenta ou a presença de gêmeos podem
ser também verificadas facilmente. Na ginecologia este modo pode ser utilizado na
identificação de tumores malignos, cistos no ovário, etc.
21
Na região abdominal podem ser obtidas imagens do fígado, do baço, da vesícula
biliar e dos rins. As anormalidades causadas por tumores ou outras lesões nessa região
podem ser facilmente observadas neste modo.

Outras aplicações incluem a obtenção de imagens do seio para diagnosticar a


presença de tumores e também imagens de alguns pontos do coração. Imagens do
coração ficam bastante limitadas visto que o mesmo fica praticamente todo envolvido pelo
pulmão, onde a presença de ar nos alvéolos impede a passagem das ondas ultra-sônicas
através do mesmo e para solucionar este problema, são utilizados transdutores especiais
(trans-esofágicos) ou o acesso é feito pela região do abdome.

3.3. EQUIPAMENTOS FUNCIONANDO NO M ODO M

Esta configuração é utilizada para analisar qualitativamente e quantitativamente o


movimento de estruturas como válvulas cardíacas. Este modo possui algumas
características do Modo A e algumas do Modo B. Como no Modo B, o brilho da linha
mostrada é modulado de acordo com a amplitude do sinal recebido e ele é similar ao
Modo A porque os ecos são coletados em apenas uma direção e apresentados na direção
horizontal do monitor. A deflexão vertical no monitor é controlada por uma variação lenta
da tensão de rampa de tal forma que linhas sucessivas são apresentadas de cima para
baixo. Qualquer movimento da estrutura ao longo do campo ultra-sônico estará sendo
representado como um movimento horizontal. A Figura 14 mostra a configuração de um
equipamento neste modo.

Figura 14 – Elementos de um equipamento no Modo M.


22
O tempo de varredura horizontal do “display” é semelhante ao utilizado nos modos
A e B (da ordem de 13µs para cada centímetro na profundidade). Já o tempo de varredura
vertical é bem mais lento (de 2 a 3s) para permitir que vários ciclos cardíacos sejam
mostrados no “display”. Como o “display” é calibrado em termos de profundidade (tempo)
no eixo horizontal e também no eixo vertical, o deslocamento espacial (em cm) do objeto
em movimento e a velocidade (em cm/s) podem ser medidos. Geralmente, as imagens
geradas por este modo são mostradas rotacionadas de 90 o com relação à mostrada no
diagrama em blocos anterior (Figura 14). Na Figura 15 é mostrada uma imagem no Modo
M, onde são mensuradas as dimensões da câmara ventricular esquerda utilizando-se um
paquímetro digital duplo, sendo que a linha selecionada para mostrar a imagem em Modo
M é marcada na imagem em Modo B mostrada na parte superior esquerda da figura.

Figura 15 – Imagem em Modo M, onde são mensuradas as dimensões da câmara


ventricular esquerda. A linha selecionada para mostrar a imagem em Modo M é marcada
na imagem em Modo B mostrada na parte superior esquerda da figura. (Scientific Medical
Systems – SMS).

3.4. EQUIPAMENTOS FUNCIONANDO NO M ODO DOPPLER

O efeito Doppler pode ser definido como o desvio em freqüência que ocorre com
um sinal sonoro ou eletromagnético quando há movimento relativo entre a fonte emissora
e o receptor, tendo recebido esta denominação em homenagem a Christian Doppler
(1803-1853), um físico matemático austríaco que foi o primeiro a estudar este efeito.

23
Conforme já mencionado, na interface entre dois materiais com impedâncias
acústicas diferentes, parte da potência ultra-sônica emitida é refletida, e parte transmitida
ao meio seguinte. Se a interface for estacionária, o feixe refletido retorna ao transdutor
com a mesma freqüência do sinal emitido. No caso de estruturas móveis (por exemplo, as
hemácias em uma artéria), o sinal que retorna ao transdutor sofre dois desvios em
freqüência: primeiramente o alvo atua como um receptor móvel, de forma que o sinal por
ele recebido apresenta um comprimento de onda diferente do emitido. A seguir ele passa
a atuar como uma fonte emissora móvel, enviando sinais com este mesmo comprimento
de onda, mas que em função de seu movimento são captados pelo transdutor com outro
comprimento de onda (WELLS, 1977). O desvio Doppler, do ponto de vista do transdutor,
é a diferença entre as freqüências por ele emitida e recebida, e conforme mostrado mais
adiante, é proporcional à velocidade relativa entre a fonte e o observador.

A Figura 16 exemplifica este efeito aplicado à medição de velocidades de uma


partícula em movimento. São mostrados três pares de transdutores ultra-sônicos (a, b e
c), cada um com um transmissor (Tx) e um receptor (Rx). Todos os transmissores emitem
ondas acústicas de mesmo comprimento de onda (λT ) e, portanto, mesma freqüência.
Estas ondas são refletidas pela partícula, sendo captadas pelo receptor. No caso “a”, o
objeto refletor encontra-se parado, percebendo um sinal com o mesmo comprimento de
onda do transmitido, e refletindo-o de volta também com o mesmo comprimento de onda.
Dessa forma a onda recebida por Rx apresenta o mesmo comprimento de onda da
transmitida por Tx (λa = λT) e, conseqüentemente, a mesma freqüência. No caso “b”, o
objeto refletor move-se em direção aos transdutores, recebendo as frentes de onda com
maior velocidade, ou seja, percebendo um sinal com comprimento de onda menor
(freqüência maior) que o transmitido por Tx. Ao refletir este sinal, que já apresenta uma
freqüência maior que a original, ocorre um segundo efeito Doppler, pois o movimento da
partícula faz com que o transdutor receptor (Rx) receba as frentes de onda com uma
velocidade relativa ainda maior, resultando num comprimento de onda ainda menor (λb <
λT ). Portanto a freqüência recebida por Rx é maior que a transmitida por Tx. Já no caso
“c” ocorre o inverso do caso “b”. O movimento da partícula afastando-se dos transdutores
faz com que ela perceba frentes de onda com menores velocidades, resultando num
comprimento de onda maior (freqüência menor). Ao refletir este sinal, em função do
movimento relativo entre a partícula e os transdutores, o sinal percebido por Rx apresenta

24
um comprimento ainda maior (λc > λT ), resultando numa freqüência ainda menor que a
emitida originalmente por Tx.

Figura 16 - O efeito Doppler: a) o objeto refletor está parado; b) movendo-se para


esquerda; c) movendo-se para direita

Existem várias configurações possíveis baseadas no efeito Doppler, mas todas


elas seguem princípios físicos semelhantes. Em geral, os sistemas ultra-sônicos
baseados no efeito Doppler podem ser enquadrados no diagrama de blocos apresentado
na Figura 17.

Figura 17 - Diagrama de blocos de um sistema ultra-sônico Doppler genérico.

25
Como pode ser visto na Figura 17, este diagrama contém um transdutor
transmissor que é o responsável pela emissão de ondas ultra-sônicas, e que são
refletidas pelas partículas em movimento. Estas ondas refletidas, que com o movimento
das partículas sofreram o efeito Doppler, são então captadas pelo transdutor receptor.
Pode-se dizer, portanto, que o sinal refletido consiste no sinal transmitido (portadora),
modulado em freqüência pela velocidade das partículas (modulante). Um circuito
demodulador FM realiza a multiplicação (batimento em freqüência) do sinal captado pelo
receptor, utilizando como portadora o sinal vindo do oscilador. Esse sinal demodulado
corresponde então à soma e à diferença em freqüência dos dois sinais originais. Essa
diferença de freqüências, denominada desvio Doppler, geralmente é um sinal audível (20
a 20kHz), podendo ser ouvido em um alto-falante.

Dentre as configurações possíveis para equipamentos operando no modo Doppler,


pode-se destacar dois modos de operação: O Doppler contínuo e o Doppler pulsátil. No
sistema Doppler de ondas contínuas existe a necessidade de utilização de dois
transdutores, um transmissor e um receptor (Figura 18), geralmente montados em um
único encapsulamento. Já o sistema Doppler pulsátil pode utilizar configurações com dois
transdutores ou apenas um (Figura 19).

Figura 18 – Configuração para medições do desvio Doppler de ondas contínuas com dois
transdutores (transmissor e receptor), sendo fR e fT as freqüências recebida e transmitida
respectivamente; V é a velocidade de escoamento do fluido e θ o ângulo de incidência do
feixe na partícula em movimento.

26
Figura 19 - Configuração para medições do desvio Doppler pulsátil com apenas um
transdutor, sendo fR e fT as freqüências recebida e transmitida respectivamente; V é a
velocidade de escoamento do fluido e θ o ângulo de incidência do feixe na partícula em
movimento.

O desvio Doppler pode ser calculado utilizando-se a Equação 7, onde o sinal (±)
indica o sentido da velocidade. Se a velocidade for no sentido mostrado nas Figuras 18 e
19 (da esquerda para a direita), o sinal é negativo e positivo no caso contrário. A Equação
7 mostra que o desvio Doppler é diretamente proporcional à velocidade do sangue e,
conseqüentemente, ao fluxo volumétrico.

2Vf T cos θ
fD ≈ ± (7),
c

onde:

fT é a freqüência do sinal transmitido;

V é a velocidade de escoamento do fluido;

c é a velocidade de propagação do som meio (1540m/s para o sangue).

θ o ângulo de incidência do feixe

A maioria dos “scanners”, atualmente, inclui sistemas Doppler para determinar a


direção e a velocidade do fluxo sangüíneo. Alguns destes incluem no mesmo
equipamento o Doppler de ondas contínuas (CW) e o pulsátil (PW). O modo contínuo CW,
método de operação mais simples, é utilizado para análises de fluxo onde não há
necessidade de selecionar a profundidade, ou seja, ele recebe informações de todos os
refletores em movimento no caminho do feixe e determina a velocidade máxima do fluxo
na área analisada. Já os equipamentos com o Doppler pulsátil permitem ao operador

27
selecionar a área de interesse para as análises de fluxo utilizando cursores superpostos
na imagem 2D (Modo Duplex) e alguns destes representam o fluxo no monitor como uma
imagem colorida (CFM – Doppler Color Flow Mapping), onde eles acessam
simultaneamente a direção e a velocidade relativa do fluxo sangüíneo em vários pontos
ao longo do caminho do feixe. O resultado é uma imagem hemodinâmica do coração ou
de grandes vasos útil para que sejam detectadas estenoses e defeitos nas válvulas
cardíacas (ECRI, 1999).

Os sistemas CFM utilizam combinações do vermelho, verde e azul (RGB) para


mostrar as cores nas imagens 2D. Geralmente, nos estudos cardíacos, o vermelho indica
fluxo na direção do transdutor e o azul no sentido contrário. Em estudos vasculares, as
cores são invertidas. Tons de branco ou amarelo são adicionados ao fundo colorido para
indicar fluxos mais intensos e o verde para indicar áreas de turbulência.

Outra técnica que vem sendo utilizada recentemente nos equipamentos é a


determinação da potência espectral do desvio Doppler (“Power Doppler”), que pode ser
utilizada como uma característica a mais na técnica CFM. Ela aumenta a sensibilidade às
variações do fluxo e apresenta bons resultados mesmo quando o transdutor é
posicionado em ângulos perpendiculares à direção do fluxo, que não pode ser visualizado
nos sistemas de Doppler padrão. Esta técnica pode produzir imagens sonográficas que
não são obtidas utilizando-se outras técnicas e também mostra sinais de doenças
congenitais no coração de fetos. Alguns sistemas apresentam o modo Triplex (mostram
imagens 2D em tons de cinza, a potência espectral do desvio Doppler e o mapa do fluxo
em cores) que é utilizado para quantificar o fluxo e anomalias em pequenos vasos (ECRI,
1999).

Na Figura 20 é mostrada a imagem de fluxo sangüíneo com potência espectral


variável com o ciclo cardíaco.

28
Figura 20 – Fluxo sangüíneo na carótida mostrando potência espectral variável com o
ciclo cardíaco (Imagem cedida pela ATL Ultrasound).

4. PRINCIPAIS FALHAS, ASPECTOS DE MANUTENÇÃO, OPERAÇÃO E


CALIBRAÇÃO DOS EQUIPAMENTOS DE ULTRA-SOM

As principais falhas nos equipamentos de ultra-som estão relacionadas aos danos


nos transdutores, impressoras, drivers para leitura ou armazenamento dos dados e vídeo
cassetes.

Para evitar danos aos transdutores (cristais ou cabos para conexão), estes devem
ser manuseados cuidadosamente e armazenados no seu suporte, evitando-se quedas,
extensão excessiva dos cabos, contato com líquidos corrosivos, exposição dos mesmos à
temperaturas elevadas. Problemas eletromecânicos, como rachaduras nos cristais
piezoelétricos, podem reduzir a largura de banda de passagem de freqüências e
conseqüentemente aumentar a largura dos pulsos, afetando tanto a resolução axial
quanto a lateral. Neste caso pode haver erros na medição das distâncias, áreas, volumes,
etc. Na obstetrícia estes problemas podem levar a erros na determinação da idade
gestacional do feto, por exemplo.

Um programa de controle de qualidade deve ser implementado para testar a


qualidade dos transdutores e o desempenho dos equipamentos utilizando-se “phantoms”
para avaliar a resolução lateral, axial, exatidão na determinação das distâncias,
sensibilidade dos cristais, uniformidade, qualidade da impressão, etc. Erros de 2% ou

29
menos na medição de distâncias são considerados aceitáveis para muitos sistemas ultra-
sônicos. Os “phantoms” (ver exemplos na Figura 21), geralmente, apresentam custos
relativamente altos que podem variar de US$ 200.00 a US$ 10,000.00 e, portanto, devem
ser negociados previamente em contratos realizados com os fornecedores dos
equipamento para não elevar os custos operacionais.

(a) (b)

Figura 21 – Exemplos de “phantoms” utilizados na calibração de sistemas ultra-sônicos


para (a) calibração de contraste e detalhes e (b) uso geral na caracterização de tecidos e
cistos. Imagens da Nuclear Associates (http://www.nucl.com)

Algumas normas técnicas especificam as grandezas a serem medidas e calibradas


com os “phantoms”, outras especificam as grandezas que os fabricantes devem informar
nos manuais dos equipamentos, catálogos, etc., as quais devem ser observadas
atentamente durante a especificação e aquisição de um equipamento, e outras indicam as
prescrições gerais de segurança e instalação destes. Entre as normas existentes para
essas finalidades, pode-se destacar algumas:

• A.I.U.M., Acoustic output measurement and labeling standard for diagnostic ultrasound
equipment, Americam Institute of Ultrasound in Medicine, 1992.

• IEC 150, Testing and calibration of ultrasonic therapeutic equipment, CEI, 1963.

• IEC-854, Methods of measuring the performance of ultrasonic pulse-echo diagnostic


equipment, CEI, 1986.

• IEC-1161, Ultrasonic power measurement in liquids in the frequency range 0,5MHz to


25MHz, CEI, 1992.

30
• IEC-1689, Ultrasonics physiotherapy systems – Performance requirements and
methods of measuring in the frequency range 0,5MHz to 5MHz, CEI, 1996.

• NBR IEC 60601-1, Equipamento eletromédico – Parte 2: Prescrições gerais para


segurança., ABNT, 1997.

• NBR IEC 601-2-5, Equipamento eletromédico – Parte 2: Prescrições particulares para


segurança de equipamentos por ultra-som para terapia., ABNT, 1997

A qualidade das imagens impressas ou armazenadas deve ser a mesma das


apresentadas nos monitores no instante da realização do exame. Alguns fabricantes
podem fornecer programas com padrões para avaliação da qualidade das mesmas.

Outro aspecto importante que deve ser levado em consideração na aquisição de


um equipamento está relacionado ao suporte técnico e treinamento dos usuários,
oferecido pela empresa fabricante ou representante. Alguns artefatos na imagem podem
aparecer devido ao manuseio de forma inadequada do equipamento por parte do
operador e em alguns casos, em que os artefatos são decorrentes da técnica ultra-
sonográfica empregada, ou anomalias no meio que está sendo investigado, o treinamento
adequado pode minimizar ou eliminar os efeitos dos mesmos, melhorando a qualidade da
imagem final e auxiliando de forma mais adequada o diagnóstico.

Durante a especificação e aquisição de um equipamento, o usuário deve levar em


consideração outros fatores, além dos já citados anteriormente como, por exemplo, a
aplicação desejada, custos dos acessórios, disponibilidade dos mesmos no mercado,
suporte à manutenção local por parte da empresa, descontos ou benefícios oferecidos
pelos fabricantes e a padronização com equipamentos já existentes no hospital ou clínica,
se for o caso, para diminuição dos custos dos suprimentos e também para
compatibilização com os protocolos de comunicações, sistemas de informatização e
interfaceamento com computadores centrais existentes com a finalidade de disponibilizar
os resultados para outros setores do hospital/clínica e também outros centros via rede.

Uma configuração típica de um sistema ultra-sônico para uso geral inclui o


“scanner”, transdutores de dupla freqüência ou multi-freqüências de 3,5MHz e 5MHz, um
vídeo cassete para gravar as imagens, uma impressora colorida, Doppler colorido, Modo
M e aplicativos que facilitam a visualização e manipulação das imagens, bem como
pacotes para utilização na obstetrícia e ginecologia. Outras opções podem inclui
transdutores adicionais (“probes”) para aplicações específicas, pacotes de análise e

31
periféricos para armazenamento das imagens. O custo de uma configuração como a
especificada acima pode ficar em torno de US$ 200,000.00, sendo que grande parte do
custo do equipamento está no transdutor (cerca de 12 % no caso acima, podendo atingir
cifras maiores no caso de elementos adicionais).

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
A.I.U.M., Acoustic output measurement and labeling standard for diagnostic ultrasound
equipment, Americam Institute of Ultrasound in Medicine, 1992.

BRONZINO, J. D. – Biomedical engineering and instrumentation: Basic concepts


and application. BWS- Kent, 1986.

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1988.

ECRI – Scanning systems, ultrasonic, general-purpose; Abdominal; Obstetric-


Gynecologic. –Healthcare Product Comparison System – HPCS, 1999.

HADJICOSTIS, A.N.; HOTTINGER, C.F.; ROSEN, J.J.; WELLS, P.N.T. - Ultrasonic


transducer materials for medical applications. Ferroelectrics, 60: 107-126, 1984.

HAYMAN, A.J. & WEIGHT, J.P. - Transmission and reception of short ultrasonic pulses by
circular and square transducers. J. Acoust. Soc. Am. 66(4): 945-951, 1979.

HEKKENBERG, R.T.; REIBOLD, R.; ZEQIRI, B. - Development of standard measurement


methods for essential properties of ultrasound therapy equipment. Ultrasound in
Med. & Biol., 20(1): 83-98, 1994.

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IEC-854, Methods of measuring the performance of ultrasonic pulse-echo diagnostic


equipment, CEI, 1986.

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25MHz, CEI, 1992.

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of measuring in the frequency range 0,5MHz to 5MHz, CEI, 1996.

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NBR IEC 601-2-5, Equipamento eletromédico – Parte 2: Prescrições particulares para
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NBR IEC 60601-1, Equipamento eletromédico – Parte 2: Prescrições gerais para


segurança., ABNT, 1997.

WEBSTER, J.G. - Medical instrumentation: Application and design. 2nd. ed.,


Houghton Mifflin, 1992.

WELLS, P.N.T., Biomedical ultrasonics. London, Academic Press Inc, 1977

ZEMANEK, J. Beam behavior within the nearfield of a vibrating piston. J. Acoust. Soc.
Am., 49(1), 181-191, 1971

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