As coisas erradas
 
 
 
written by
 
 
Livia Correia
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
(28) 998844719
liviacorreia330@gmail.com
IN:

INT. CASA. INTERIOR DE RECIFE - MANHÃ

No quarto está DIANA sentada em sua cama, de frente para a janela, observando o nascer do
sol. Sua cama está feita, como se ninguém a tivesse usado durante a noite. Diana se levanta,
vemos seu rosto com os olhos um pouco inchados e leves olheiras ao redor. No canto do
quarto proximo a cama, vemos uma tela de pintura com uma obra incompleta em um suporte
com pínceis em um banquinho na frente da tela. Diana passa pela tela, boceja e vai até uma
mesa do quarto. Nesta mesa há um tablet médio de desenho, com uma caneta ao lado. Diana
pega a caneta e faz mais alguns traços no desenho, que está quase completo e se parece com
um templo chinês.

Diana permanece sentada. Vemos outras partes do quarto de Diana. Um grande espelho na
parede que reflete o guarda roupa com alguns pisca-piscas pendurados. Ao lado do guarda
roupa tem uma pintura de parede feito a mão, que pode ser facilmente coberto pela porta ao
ser aberta. Vemos novamente Diana, que se levanta da cadeira, vai até seu ármario de roupas e
abre duas portas dele, pega um vestido de tecido fino, tira a camisola e coloca seu vestido. Ela
dobra a camisola e a coloca em cima da cama. Ao observamos o guarda roupa ele está vazio.
Diana olha ao redor do quarto. O local está praticamente vazio, exceto pelos utensílios de
pintura e a tela de pintura anterior. Diana olha para seu espaço de pintura com tristeza. Ela
pega uma mochila que está proxima a mesa, abre, põe seu tablet e a caneta e fecha a mochila.
CORTA PARA:
Diana desce as escadas da casa e caminha por entre o corredor que leva até a cozinha onde
encontra seus pais. ANA e MICAIAS estão em pé próximos a pia.
ANA
Preciso te lembrar que não vamos usar mais isso?
MICAIAS
Mas Ana, ele ainda é bem útil.
Micaias estava com um ralador em mãos, de aparência velha.
ANA
Ah, que seja! Faz o que tu quiser, eu hein!
Ana seca as mãos em uma toalha de pano e se vira, seu olhar encontra Diana parada na
entrada da cozinha.
DIANA
Se puder, quero ficar com ele. Será bastante útil.
 2.

Micaias olha para a filha com um sorrisso no rosto e vai até ela.
MICAIAS
Vou colocar agora na caixa
Diana sorri de volta para o pai que passa apressado por ela.
ANA
Não vai por essa porcaria lá não!
Ana olha séria para a filha e aponta o dedo indicador.
ANA (CONT'D)
Você não vai levar aquela coisa velha, Diana.
DIANA
Porque não mamãe, vou precisar agora que vou
morar sozinha.
Ana põe as mãos na cintura.
ANA
Temos pelo menos uns seis raladores diferentes,
posso até comprar qualquer outro para você, mas
você quer aquele? Fala sério né Diana!
Diana encara sua mãe e da de ombros. Ana revira os olhos e a jovem abre um leve sorriso
enquanto se senta na mesa.
A sua frente tem um bulê, torradas, ovos mechidos, uma jarra de suco, uma garrafa de café,
facas, queijo e geleia de morango. Diana serve um pouco de leite do bulê e um pouco de café
em sua xícara e pega três torradas. Então encara a geleia e seus ombros relaxam, sua
expressão é quase triste. Ela então olha para a mãe, que está em um raivoso silêncio. Diana
forma uma linha com a boca, se levanta e vai até a geladeira.
ANA (CONT'D)
Nem pense em pegar a manteiga.
Diana trava sua mão enquanto toca a manteiga. Pega o produto, fecha a geladeira e encara a
mãe.
ANA (CONT'D)
Essa porcaria é péssimo pra saúde, a geleia é natural.
Nem sei porque seu pai comprou essa manteiga.
DIANA
Sabe que eu não gosto do sabor da geleia de
morango.
 3.

ANA (GRITA)
Sabe que não gosto quando me desobedece!
Ana puxa a manteiga da mão da filha.
Diana arregala os olhos mediante a alteração de voz de sua mãe. Ana encara a filha e,
percebendo o que fez, massageia as tâmporas e suspira pesadamente.
ANA (CONT'D)
Se não quiser a geleia, coma do requeijão light.
Ana joga a toalha de prato, que estava em seu ombro em cima da mesa e sai da cozinha.
Diana permanece parada no mesmo lugar.
Na sala, Micaias olha para o corredor que vem da direção da cozinha e vê Ana andando
apressada, ela sobe as escadas. Micaias olha na direção da cozinha onde consegue ver sua
filha. Diana se senta na cadeira e parece paralizada.
Micaias torna a olhar para as várias caixas que estão no chão, todas fechadas, faltava apenas
uma e ele segue para lacrar a caixa com uma fita grossa. Vemos todas as caixas espalhadas e
duas malas médias ao canto da sala.

INT. CARRO. AVENIDA AGAMENON. - MAIS TARDE

Diana está no banco de trás do carro e seus pais na frente. No rádio está tocando uma rádio
aleatoria. Diana está com seus fones de ouvido e encara seus pais.
(no fone older - Sasha Sloan)
I USED TO WONDER WHY
WHY THEY COULD NEVER BE HAPPY
I USED TO CLOSE MY EYES
AND PRAY FOR A WHOLE 'NOTHER FAMILY
WHERE EVERYTHING WAS FINE
ONE THAT FELT LIKE MINE
Diana desvia o olhar para fora da janela. Percebe um movimento na banco a sua frente, onde
está sua mãe, e fecha os olhos fingindo estar dormindo. Diana pega no sono.
Partes da avenida são mostradas ao longo do trajeto.
CORTA PARA:
 4.

EXT. APARTAMENTO-PRÉDIO. RECIFE. - TARDE

O carro da familia está estacionado em frente a um prédio médio. Ana sai do carro, tira seus
óculos de sol e olha ao redor, ela faz uma careta e poe os óculos de novo. Diana sai, olha para
o prédio e ao seu redor e sorri.
MICAIAS
Vamos que temos boas caixas para carregar.
Micaias olha para a esposa que o olha com desdem e ele da de ombros enquanto pegava uma
caixa e caminha até a entrada do prédio.
Diana e a mãe se encaram e vão até o porta malas.
CORTE DIRETO PARA:

INT. APARTAMENTO. RECIFE. - MOMENTOS MAIS TARDE

A porta está fechada, uma placa de número 204 está pendurada na porta. Dentro, na sala, está
Diana sentada no sofá e seus pais em pé.
ANA
Acha mesmo que a nossa filha ficará segura nesse
lugar?
MICAIAS
Presta atenção mulher, esta rua não é tão perigosa.
Ana está de frente para Micaias, com as mãos na cintura.
ANA
Ta, mas e o porteiro? Prometeram um porteiro 24
horas, mas onde ele estava quando chegamos?
DIANA
Mãe talvez ele só estivesse fazendo um lanche.
Ana olha furiosa para Diana, seus olhos estão grandes.
ANA
Perfeito, ele pode estar fazendo um lanche e alguém
entrar e assaltar o local. Ou até pior!
MICAIAS
Não é assim, Ana, temos as câmeras e travas de
segurança.
Ana bufa mechendo nos cabelos soltos.
 5.

ANA
Que seja! Não confio nem naquele elevador, ou vão
me dizer que não repararam no quão velho aquilo
está?

Ana olha para a filha e para o marido. Revira seus olhos e sai caminhando para a cozinha.
ANA(V.O.
Não confio nesse lugarzinho. Sabia, Micaias, que o
filho do Sr Ernandes mora em um dos condominios
mais seguros da cidade?
Micaias se escora na parede da sala e olha para a filha que está no sofá. Diana encolhe as
pernas e as poe para cima.
Abraça as pernas e não expressa tranquilidade.
DIANA
Está tudo bem, mãe. Ficarei bem, apesar do curso de
direito...
MICAIAS
Não, Diana! Já falamos sobre isso. Você irá se formar
em direito e ponto final.
Micaias dá dois passos até a filha, Diana o olha com os olhos arregalados e se encolhe entre
as pernas.
ANA
Você não entende agora, filha. Mas isso é o melhor
para você.
Ana adentra na sala e se senta no braço do sofá.
DIANA
Um curso que não quero?
ANA
Presta bastante atenção.
Ela se ajoelha na frente de Diana e encara firme seu rosto.
ANA (CONT'D)
Você não sabe o que você quer! E por isso o curso de
direito bastará.
Ana toca a cabeça de Diana, se levanta e vai até Micais.
ANA(V.O.)
Querido venha aqui, acho que tem um vazamento.
 6.

Diana permanece olhando para frente onde estava a mãe, paralizada vendo o vazio a sua
frente. Agarra o tecido de sua calça firme. Abaixa sua cabeça entre suas pernas.

INT. APARTAMENTO. RECIFE. DIA SEGUINTE

No quarto de Diana vemos uma cama de casal arrumada, um pequeno guarda roupa, uma
penteadeira com lampâdas apagadas, um puff com uma almofada proximo da janela. Diana
está em frente ao guarda roupa, dobrando e guardando suas roupas e coisas. Blusas, calças,
vestidos, sapatos, bolsas pequenas, caixinhas, jóias e casacos.
Na janela mostra a cidade escura, a lua e o movimento dos carros. Luzes acessas e agitações.
Diana agora está sentada na penteadeira onde está colocando seu aparelho de desenho. O
monta ali e se senta no puff para desenhar.
Ela pega na caneta, faz um traço e encara a tela por minutos. Até começar a traçar o que se
parece com uma grade, que se torna uma gaiola. Dentro da gaiola tem um pássaro. Diana olha
para o desenho feito e olha para a janela, o sol está prestes a nascer.
DIANA
Merda! Tenho aula as oito e ainda nem dormi.
Se levanta preguiçosamente e se senta em sua cama. Pega seu telefone e põe para despertar as
sete horas, duas horas depois. Ela se deita na cama e apaga.

INT./EXT. FACULDADE - MAIS TARDE

Diana desce do taxi correndo e caminha rápido até a entrada do prédio universitário.
DIANA
Que coisa! Eu tinha mesmo que me atrassar para o
meu primeiro dia?! Se meu pai descobrir eu estou...
Diana esbarra em uma outra universitária que a olha brava.
DIANA (CONT'D)
Perdão.
Permanece correndo. Sobe pequenas escadas e adentra o prédio da faculdade de direito. Olha
para todos os lados, vê alunos em grupo estudando, outros rindo, alguns isloados com livros e
fones de ouvido. Ela pega seu celular do bolso de sua calça e o desbloqueia
DIANA(V.O.
Onde será que fica a secretária?
 7.

Diana está andando quando esbarra novamente em alguém, desta vez em uma jovem garota
como ela, AMANDA.
AMANDA
Fica no final do corredor, a esquerda. Verá a placa
'secretaria'.
Diana a olha assustada e percebe o sorriso da garota.
AMANDA (CONT'D)
É nova aqui né?
DIANA
Mais do que imagina...
Diana encolhe os ombros, timidamente. Amanda encara Diana e após alguns segundos toca
seu ombro.
AMANDA
Vou ajudar você.
Diana a encara pronta para dizer não.
AMANDA (CONT'D)
Sou Amanda, estudante de Artes Visuais.
Diana sorri para Amanda e elas caminham pelo o corredor, na direção dita anteriormente por
Amanda.
DIANA
O que faz na área de direito? Se estuda Artes Visuais
Amanda ajeita sua bolsa de lado e olha rapidamente para Diana.
AMANDA
Tenho aula de Sociologia agora e é por aqui. Todas os
cursos obrigatóriamente tem que pagar essa matéria
em algum momento. Mas só para você saber, aqui
não é a área de direito, colega.
DIANA
Ah, não? E onde é?
AMANDA
Do outro lado da cidade, no forúm
Amanda rir e Diana a olha seria.
AMANDA (CONT'D)
Não temos essa divisão toda, confia em mim. Você
pode se misturar e ser que curso quiser aqui.
 8.

Diana e Amanda chegam em frente a secretária e ficam de frente uma para a outra.
DIANA
Como assim?
AMANDA
Você não parece uma estudante de direito, desculpa.
Amanda olha para frente e Diana permanece encarando a garota.
AMANDA(V.O.)
Bom dia, pode me dizer o horário do primeiro
período do curso de direito?!

INT. FACULDADE. - DOIS DIAS DEPOIS

Na escada da faculdade próximo as grandes janelas estão Diana e Amanda, sentadas nas
escadas. Cada uma com um livro.
AMANDA
Namoral Diana, porque escolheu esse curso? Está na
cara que não é pra você
Diana bufa e encara a garota.
DIANA
Não te disse, mas meus pais insistiram para que fosse
direito.
Amanda encara o rosto agora triste de Diana e fica assim por minutos.
AMANDA
Porque permite que eles façam isso? Sei que são seus
pais, mas ei você que terá que viver com tudo isso. Já
percebi que eles são a razão até mesmo de você usar
essas roupas tão formais.
Diana olha para si mesma. E balança a cabeça negativamente para Amanda.
AMANDA (CONT'D)
Não mente, te vi olhando roupas totalemte diferentes
desse estilo luxo formal na shein ontem a tarde.
Diana morde os lábios e olha para o resto das escadas abaixo.
 9.

DIANA
Não sei, eles parecem estar sempre tão certos. Eu até
tento me opor, porque eles nunca sabem o que gosto e
o que quero. Mas quanto ao curso, os dois tentaram
cursar direito e nenhum dos dois conseguiu se formar.
Diana se levanta, desce dois degraus e se senta ao lado de Amanda.
DIANA (CONT'D)
Meu pai escolheu medicina por causa da minha avó e
minha mãe engravidou de mim quando estava na
metade do curso. Então ela preferiu trancar.
Diana apoia a cabeça no ombro de Amanda.
AMANDA
Eu entendo tudo isso mais do que pode imaginar,
Diana.
Amanda olha nos olhos de Diana. Ela se levanta desce um degrau e fica de frente para a
garota.
AMANDA (CONT'D)
Não prenda quem você realmente é!
Vemos toda a escada, a janela e o arredor da faculdade. Ao longe, Diana sentada e Amanda
em pé a encarando.

INT. APARTAMENTO. RECIFE. 1 MÊS DEPOIS

Vemos a porta de entrada do apartamento 204 do qual Diana mora, diferente de um mês atrás,
a porta possui um tapete de boas vindas pintado a mão e um vaso de planta ao lado da porta.
Diana está no seu quarto que agora possui diversos desenhos por toda a parede. Ela está
sentada na sua mesinha desenhando no seu tablet quando recebe uma ligação de Amanda.
AMANDA
Diana?
DIANA
Oi, Amanda. Está tudo bem?
AMANDA
Amiga eu tó um caos, tô com zero inspiração pra
fazer esse trabalho de amanhã. Me manda uma foto
do teu trabalho pra eu ver como ta ficando pra eu ter
uma inspiraçãozinha pelo amor de Deus!
 10.

DIANA
Mas você é muito mais criativa que eu pra fazer os
trabalhos da faculdade.
Diana dá risada da situação de Amanda.
AMANDA
Mas fazer uma versão realista de um desenho de
palitinho não é pra qualquer um não...
Observamos a janela de Diana que possui vários cactos e uma flor num vazo, além de um
belo pôr do sol.
FIM.