Carto Tatil
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RESUMO
Abstract
INTRODUÇÃO
Por mais populares que sejam os mapas nos dias atuais, e que possam
ser acessados e vistos pela maioria da sociedade, existe uma camada minoritária de-
sprovida do sentido da visão, que não pode ver e usar esses mapas. Assim como o
sentido da visão é reconhecidamente o mais importante canal para a aquisição da infor-
mação espacial e geográfica, reconhece-se que os mapas são veículos de informação
visual dessas informações. Então, como seria possível tornar os mapas “visíveis” para
as pessoas com deficiência visual? Por que precisam de mapas? Ora, as informações
cartográficas para essas pessoas, assim como para as que enxergam, são extrema-
mente importantes para uma compreensão geográfica do mundo; eles possibilitam a
ampliação da percepção espacial e facilitam a mobilidade.
no Brasil.
Vasconcellos faz parte dessa galeria de expoentes em cartografia tátil por ser
precursora de pesquisas nessa área do conhecimento no Brasil. No entanto, esse recon-
hecimento parece ter sido mais em nível internacional, onde se encontram seus artigos
publicados em congressos e em um capítulo de livro, nos anos 1990. Na última década,
a pesquisadora arrefeceu seus trabalhos e publicações nessa área, e quase nada se tem
encontrado em anais de eventos científicos que tratem deste tipo de cartografia.
cegas (IBGE, 2000). Segundo a Organização Mundial para a Saúde, 90% das pessoas
cegas ou com baixa visão vivem em países subdesenvolvidos. Essas cifras mostram
a necessidade de socorro tecnológico, científico, educacional e profissional para essa
população. Porém, para fazer a inclusão social, não basta existir leis específicas; a
academia, através da pesquisa, o governo, com o apoio financeiro para promover pes-
quisas e preparar profissionais aptos para a educação especial, e as organizações sem
fins lucrativos precisam trabalhar em conjunto.
Com base na citação de Mary Pat Radabaugh que diz que, se a tecnologia para
as pessoas torna as coisas mais fáceis, para os deficientes ela torna as coisas possíveis,
raciocinamos da seguinte maneira em relação à Cartografia: para as pessoas, os mapas
reduzem o mundo, auxiliando-as na sua compreensão; para as pessoas com deficiência
visual, os mapas ampliam sua concepção de mundo, auxiliando-as na sua autonomia.
Nos últimos três anos, Ventorini e Freitas (2004) vêm desenvolvendo pesqui-
Os mapas táteis no estado de Santa Catarina são produzidos pela FCEE, or-
ganismo do governo estadual que, entre tantas atividades de apoio à educação de pessoas
com necessidades especiais, tem se esforçado para atender às escolas da rede pública
estadual no que concerne aos mapas para o ensino de História e Geografia. Porém,
não existe nenhum especialista em cartografia que oriente a produção desses materiais,
que são feitos de forma artesanal e sem padronização. Foi justamente a necessidade de
preencher essa lacuna que conduziu os técnicos da Fundação a procurar profissionais
da cartografia dentro do curso de Geografia da Universidade Federal de Santa Catarina –
UFSC para apoiar seus trabalhos com mapas. A FCEE faz a transformação dos mapas de
livros didáticos para mapas táteis dos livros didáticos em braile. Foi essa assessoria que
deu origem aos projetos de mapas táteis e ao Laboratório de Cartografia Tátil e Escolar
da UFSC – LabTATE, criado em 2006 no Departamento de Geociências.
Os mapas para “ver” foram uma das preocupações de Bertin (1986), que
deixou como maior legado a sistematização das Variáveis Visuais ou Variáveis Gráficas,
as quais foram identificadas como modulações visuais no plano das primitivas gráficas:
ponto, linha e área. Essa abordagem é utilizada na construção de mapas temáticos
ainda hoje, ampliada pela introdução dos computadores toda vez que se quer construir,
principalmente, mapas socioeconômicos. No entanto, para outros ramos da Cartografia
que se ocupam da elaboração dos mapas de referência geral, dos mapas topográficos
e dos mapas de uso especial, ainda que se utilizem das primitivas gráficas para a sua
elaboração, utilizam outros conceitos para a sua construção, que não os das variáveis
visuais. Esses mapas são para análise, e, por mais que a visualização dos elementos
a serem representados deva ser uma preocupação do cartógrafo, eles utilizam uma
variada gama de simbologia que se faz cada vez mais presente quanto menor for a
escala do mapa. Contudo, num processo de mapeamento, o mapa é um mero estágio
no processo, que é completado pelo seu uso quando ocorre o entendimento do seu
conteúdo.
Os mapas para a educação, na sua grande maioria, são mapas que devem
localizar fenômenos geográficos e lugares, para o ensino das disciplinas de Geografia e
História. No entanto, a Educação Básica atinge faixa etária entre 6 e 17 anos aproxima-
damente. É certo que uma criança de 8 ou 9 anos, mesmo que enxergue, dificilmente se
apropriará do conteúdo de um mapa para a construção do saber, mesmo com a interme-
diação do professor. Portanto, o primeiro cuidado na confecção de mapas táteis reside
na definição de o quê traduzir e como fazê-lo (generalização) para diferentes faixas
etárias, face ao grau de desenvolvimento cognitivo e espacial da criança, considerando
especialmente, aquela com cegueira. O cartógrafo deve ainda estar ciente da tecnolo-
gia disponível para tal tarefa (criação e reprodução) e da necessidade de realizar testes
cognitivos com os DVs, pois na maioria das vezes aquilo que ele considera bom para a
tradução gráfica tátil, pode não dar a leitura esperada quando o mapa é examinado pelo
seu usuário em potencial.
Fatores conceituais
A variável gráfica tátil tamanho nas implantações pontual e linear pode ser
utilizada em até três tamanhos bem distintos ─ mais que isso, os DVs apresentam di-
ficuldades para fazer associações ou detectar diferenças. O menor tamanho de ponto
é de 0,2 centímetros e o maior é em torno de 1,2 centímetros de diâmetro; a partir daí
ele pode ser confundido como sendo área. Para um DV distinguir uma feição linear (rio
ou estrada), o menor tamanho é em torno de 1,3 centímetros; menor que isso pode ser
interpretada como símbolo pontual.
A variável gráfica tátil forma precisa ser concebida das mais variadas manei-
ras, quando se referir a um ponto no mapa; deve ir além daquelas geométricas, como
círculo, quadrado e triângulo. Verificou-se que alguns símbolos do zodíaco e letras do
alfabeto grego são alternativas interpretadas pelos DVs como variações na forma. Ao
serem utilizadas em um mesmo mapa junto às formas geométricas, facilitam a dis-
criminação de pontos diferentes ou mesmo aludem a diferentes áreas. Exemplos serão
mostrados no item que tratará da padronização de mapas táteis.
Foi verificado nos testes táteis que os DVs entendem mais facilmente um
mapa, ou seja, fazem a discriminação das diferentes classes (ou atributos) apresenta-
das em áreas, se em vez de texturas for utilizada linha delimitadora e o braile (como
letras ou números) para identificar cada uma delas, fazendo uso da legenda para decod-
ificá-las. Compare na Figura 2 um mapa tátil elaborado com variáveis táteis, e o mesmo
construído somente com limites de áreas e identificador em braile.
Para quem enxerga, parece ser mais fácil identificar variações no mapa com
texturas táteis, porque elas são mais visíveis; mas, para os DVs, a segunda opção foi
mais cognoscível. Mesmo assim, a quantidade de atributos ou classes para represen-
tações zonais ─ com áreas delimitadas e identificadas por letra ou número em braile,
decodificado na legenda do mapa tátil ─ não deve ser maior que sete.
Nos mapas táteis de uso mais geral, como os mapas políticos, e para os ma-
pas temáticos físicos, como das bacias hidrográficas, dos tipos de clima etc., construí-
dos em escala muito pequena, a solução apresentada acima pareceu ser mais eficiente
para a leitura tátil, que utilizando variáveis gráficas para preencher áreas.
diz respeito à quantidade de atributos ou classes que um mapa pode conter, quando
elaborado com as variáveis táteis. Verificou-se nos testes táteis efetuados, que, para ser
entendido pelo DV, não deve haver mais de dois atributos em cada mapa temático físico.
Uma coleção de mapas seria uma solução para o problema de muitos atributos, mas
constatou-se que os cegos têm dificuldades em “juntá-los” mentalmente para entender
sua distribuição espacial e compor o todo em análise.
Figura 2 – Um mesmo mapa tátil elaborado com variáveis táteis e sem estas.
Limitações técnicas
vencionais, há mais de vinte e cinco anos utilizam-se softwares específicos para sua
produção, mas no que tange à cartografia tátil, isso ainda não é comum em todos os
países. A tecnologia para a confecção e uso de mapas táteis pode ser sofisticada e cara
ou muito simples e ainda artesanal.
Também é importante dizer que existem vários tipos de baixa visão, o que
torna complicado fazer mapas para atender a esse público; por isso, os mapas com
texturas em alto relevo que têm como público-alvo as pessoas cegas podem ser uma
solução genérica para a maioria dos DVs.
a) Produção artesanal
em uma chapa de acrílico que serve como substrato para a matriz. As texturas e for-
mas do mapa são reproduzidas por uma ponteira que faz a raspagem do acrílico. A
reprodução dos mapas continua sendo feita com tecnologia manual idêntica aos casos
anteriores. Esse método é utilizado na ONCE, que vê como principal a vantagem desse
tipo de reprodução, a possibilidade de confeccionar mapas coloridos, por serigrafia so-
bre o plástico, e dessa forma facilitar sua leitura por pessoas com baixa visão.
A proposição de padrões para mapas táteis deve, antes de tudo, ser vista
a partir de três perspectivas principais: a) dos recursos disponíveis para a produção de
mapas e dos recursos financeiros dos Dvs para adquirirem os mapas; b) da portabilidade
dos mapas e, c) da popularização dos mapas, isto é, as possibilidades de reprodução
desses em qualquer lugar do país.
mas até o final desse ano padrões estarão definidos e, junto com aqueles dos mapas
em escala pequena, serão disponibilizados no endereço eletrônico do LabTATE.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
É importante sublinhar que existem vários tipos de baixa visão, o que torna
complicado fazer mapas para atender a esse público; por isso, os mapas com texturas
em alto relevo que têm como público-alvo as pessoas cegas, podem ser apresentados
como uma solução genérica para a maioria dos DVs.
REFERÊNCIAS
Notas
1
Agradecimentos: Ao FINEP e CNPq pelo financiamento do projeto “Mapas Táteis como
instrumento de inclusão social de deficientes visuais”.
2
Mapas convencionais serão considerados nesse texto, aqueles criados para serem
observados em diferentes mídias utilizando o sentido da visão.
3
Papel microcapsulado é um tipo de papel que, ao ser aquecido em certa temperatura,
faz com que a tinta de impressão (de impressoras a jato de tinta) expanda-se formando
textura; assim, o mapa impresso a tinta torna-se um mapa tátil.