E5M3SP4
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E5M3SP4
Objetivos específicos:
01. Diferenciar as dispepsias funcionais da doença ulcerosa do tubo digestório (quadro clínico e
mecanismo de lesão).
DISPEPSIAS FUNCIONAIS
Embora várias definições sejam usadas para descrever dispepsia funcional, a mais comum, de acordo
com os consensos Roma II e Roma III, é aquela de dor, queimação ou desconforto crônico ou recorrente
com sensação subjetiva desagradável, que pode estar associada à saciedade precoce, empachamento pós-
prandial, náuseas, vômitos, timpanismo, distensão abdominal, localizados no abdômen superior, com a
ausência de provável doença orgânica que justifique os sintomas e ausência de evidências de que os
sintomas melhorem ou estejam associados a alterações no ritmo ou nas características das evacuações
intestinais. Além disso, os sintomas apresentam duração mínima de 3 meses (12 semanas), sendo contínuos
ou intermitentes, com no mínimo 6 a 12 meses anteriores de história de acordo com os consensos Roma II e
III. (BLUM, 2012)
Muitos mecanismos fisiopatológicos vêm sendo atribuídos aos quadros de dispepsia funcional como
distúrbios na acomodação gástrica ou relaxamento receptivo, hipersensibilidade à distensão gástrica,
sensibilidade duodenal alterada a lipídios ou ácidos, motilidade duodenojenunal anormal, suscetibilidade
familiar, alterações da função neuro-hormonal, disfunção autonômica, hipersensibilidade visceral a ácido ou
distensão mecânica, infecção por Helicobacter pylori, infecções do trato gastrointestinal, comorbidade
psicossocial e estresse. (BLUM, 2012)
O papel da infecção do trato gastrointestinal por H. pylori na fisiopatologia dos sintomas na dispepsia
funcional ainda não está bem esclarecido. Apesar de controverso, alguns autores têm recomendado
prescrever medicamentos para a erradicação do H. pylori em pacientes com dispepsia mesmo na ausência de
sintomas de alarme. (BLUM, 2012)
Úlcera péptica é uma lesão resultante de perda circunscrita de tecido em regiões do trato digestivo
capazes de entrar em contato com a secreção cloridropéptica do estômago. Essa lesão é comumente causada
por Helicobacter pylori (HP). A infecção gástrica pelo HP é hoje responsável por mais de 95% dos casos de
úlcera duodenal e 80% dos portadores de úlcera gástrica. O uso de anti-inflamatórios constitui a segunda
causa, especialmente na população mais idosa e, mais raramente, outras etiologias podem estar associadas
como gastrinoma (Síndrome de Zollinger-Ellisson) e forma duodenal de doença de Crohn. (COELHO,
2003)
Em relação à sintomatologia da úlcera péptica, o conceito tradicional do padrão doloroso baseia-se
na assertiva de que a acidez gástrica produz dor e sua neutralização a alivia. É por todos conhecida a dor
epigástrica, tipo queimação, com ritmicidade, ou seja, com horário certo para seu aparecimento, guardando
íntima relação com o ritmo alimentar, ocorrendo 2 a 3 horas após a alimentação ou à noite, e cedendo com o
uso de alimentos ou alcalinos. (COELHO, 2003)
Um fator discriminante importante é a ocorrência de dor noturna, acordando o paciente à noite, entre
meia-noite e 3 horas da manhã. Tal sintoma aparece em aproximadamente 2/3 dos ulcerosos duodenais, mas
é também encontrado em pacientes dispépticos funcionais. Importante salientar ainda o caráter periódico da
dor epigástrica, durando vários dias ou semanas, desaparecendo a seguir por semanas ou meses, para
reaparecer meses ou anos depois, com as mesmas características anteriores. (COELHO, 2003)
Em relação a fisiopatologia, considera-se HP responsável por 70% a 80% das ulcerações gástricas.
Está menor prevalência da bactéria na úlcera gástrica em relação à duodenal está relacionada à maior
frequência de úlceras associadas ao uso de anti-inflamatórios não-esteroides (AINEs). (COELHO, 2003)
As úlceras gástricas tendem a ocorrer em mucosa não secretora de ácido ou próximas à junção com a
mucosa não secretora. Mesmo quando ocorrem na região alta da pequena curvatura, elas incidem em
mucosa não secretora. Nesta circunstância, a pangastrite induzida pelo HP é a responsável pelas alterações
metaplásicas que transformam a mucosa secretora em não secretora. (COELHO, 2003)
02. Caracterizar a epidemiologia, o quadro clínico e a fisiopatologia da doença ulcerosa gástrica e
duodenal, correlacionando-a com a presença de H. pylori.
A gastrite induzida pelo H. pylori é uma das infecções mais comuns na espécie humana, comprometendo
cerca de metade da população mundial. Ela apresenta distribuição cosmopolita, sendo encontrada em
habitantes dos cinco continentes. Estudos sorológicos demonstraram que a prevalência de infecção por H.
pylori aumenta com a idade e é maior nos países em desenvolvimento. Em países desenvolvidos, ela ocorre
após os três ou cinco anos de idade; já em países em desenvolvimento, crianças com menos de um ano
podem estar contaminadas. A colonização por esta bactéria é virtualmente sempre associada à gastrite ativa
crônica, a qual persiste enquanto o indivíduo permanecer colonizado e apenas desaparece lentamente dentro
de 6 a 24 meses após a erradicação do H. pylori. Em países em desenvolvimento e entre a primeira geração
dos imigrantes destes países ao mundo ocidental, a prevalência da gastrite causada por H. pylori é muito alta
(geralmente> 80%) em todos os grupos etários, incluindo crianças. A incidência de admissões hospitalares
para complicações de úlceras e para mortalidade a partir de doença ulcerosa tem permanecido relativamente
estável durante as últimas décadas tanto nos Estados Unidos quanto em outros países. (GOLDMAN, 2012)
A infecção pelo H pylori é assintomática ou com manifestações clínicas inespecíficas, em sua maioria. Após
a infecção primária, os indivíduos infectados poderão apresentar gastrite aguda com náuseas, vômitos pirose
e má digestão, que evoluem para a gastrite crônica, com sensação de estufamento, dor no estômago,
queimação, enjoo, vomito e fezes com sangue. Seguem-se períodos de acloridria ou hipocloridria e
hipercloridria, dando origem à gastrite crônica ativa, que pode evoluir para gastrite atrófica, atrofia gástrica,
metaplasia e neoplasia. (GOLDMAN, 2012)
Quanto a fisiopatologia são vários os mecanismos através dos quais a H. pylori (HP) contribui para a
formação das úlceras. Entre eles estão, por exemplo, o aumento da secreção ácida, metaplasia gástrica, tipo
de estirpe bacteriana, resposta imune e mecanismos de defesa do hospedeiro. A infeção aguda pela HP induz
um curto período de hipocloridria, porém, com a cronicidade, observa-se uma hipo ou hipercloridria,
dependendo da severidade e distribuição da gastrite. Nos casos de hipercloridria, há um aumento da
produção basal e estimulada de ácido. Isto acontece porque a concentração basal e estimulada pela gastrina,
que tem uma ação trófica nas células parietais e nas células tipo enterocromafins produtoras de histamina,
aumenta. A própria inflamação da gastrite leva a uma diminuição da atividade das células parietais, o que
resulta no aumento compensatório de gastrina. Por sua vez, os níveis de somatostatina, inibidor potente da
síntese e libertação de gastrina e secreção de ácido gástrico, diminuem. Não se sabe ao certo como a
secreção de somatostatina é afetada, mas pensa-se estarem envolvidas citocinas induzidas pela inflamação
(IL-1β) e/ou a produção de N-metil-histamina, agonista seletivo dos receptores H3 de histamina, por parte
da HP. (BRASILEIRO FILHO, 2011).
Foi também observado que o número de células D, produtoras desta hormona, está reduzido nos pacientes
com Úlcera Duodenal (UD). A redução de somatostatina parece ser o mecanismo inicial que conduz à
hipergastrinemia (por feedback), e não o aumento direto da secreção de gastrina pelas células G14. A intensa
resposta inflamatória desencadeada pela HP desempenha um papel importante na formação das ulceras.
(BRASILEIRO FILHO, 2011).
Quanto à metaplasia gástrica, está surge como resposta à persistência da hiperacidez e apenas quando o pH é
inferior a 2,5. Também contribuindo para a acidez, está a diminuição da secreção de bicarbonato pela
mucosa duodenal proximal. Recentemente descobriu-se que a infeção por HP prejudica a expressão e
atividade das proteínas de transporte de bicarbonato, como CFTR e SLC26A6, o que contribui para a
formação da UD. (KUMAR, V, 2008).
A HP também atua na função do fator de crescimento epidérmico (EGF) e do TGFα, os quais são potentes
inibidores da secreção de ácido e estimuladores do crescimento da mucosa. O aumento da sua
expressão/ativação deve-se à ação da gastrina e citocinas inflamatórias. Além disso, a HP liberta proteases
que degradam glicoproteínas do muco, desprotegendo mais a mucosa. Tal como no caso do bicarbonato, a
erradicação da bactéria contraria todos estes mecanismos, normalizando os níveis de EGF, TGFα e
proteases. Apenas cerca de 15% dos indivíduos infetados pela HP desenvolvem ulceras ao longo da sua
vida, o que sugere que, além dos referidos, outros fatores estarão presentes para determinar essa evolução.
(KUMAR, V, 2008)
Um fator bastante relevante é a CagA com 85% a 100% dos pacientes com UD infetados por estirpes
CagA+. A VacA também contribui para um maior dano. Por outro lado, como fator genético de
suscetibilidade individual, foi sugerido que os doentes infetados que desenvolvem ulceras têm uma massa de
células parietais intrinsecamente superior (pela ação trófica da gastrina) e maior sensibilidade à gastrina,
comparando com os que não desenvolvem. (KUMAR, V, 2008)
Por fim, fatores associados ao hospedeiro podem determinar a resposta à infeção e influenciar a evolução da
doença. O gene HLA-DQA1 está relacionado com genes do MHC classe II e codifica proteínas importantes
na resposta imune. Um estudo verificou que o alelo DQA1, seria responsável pela resistência à gastrite
atrófica e adenocarcinoma gástrico. A sua presença parece proteger contra estas condições, enquanto a sua
ausência é um fator de risco para o seu desenvolvimento. (GOLDMAN, 2012).
Outro mecanismo proposto para a formação das ulceras por H pylori é através da complexa interação entre
fatores do hospedeiro e da bactéria. Enquanto os fatores do hospedeiro permanecem desconhecidos, a
identificação dos da bactéria avança continuamente. A resistência ao ácido clorídrico é de vital importância
na patogênese do H. pylori, visto que, sem este atributo biológico, a bactéria não teria condições de
colonizar a mucosa gástrica. A enzima urease, que é uma proteína de alto peso molecular (500 a 600KDa),
atua promovendo a hidrólise da uréia, presente em condições fisiológicas no suco gástrico, levando à
produção de amônia. Esta atua como receptor de íons H+, gerando pH neutro no interior da bactéria, o que
confere ao H. pylori resistência à acidez gástrica. Desta maneira, a bactéria fica protegida dos efeitos
deletérios do pH ácido do estômago. A urease compreende 6% do total de proteínas sintetizadas pela
bactéria, o que representa grande investimento energético motivado pela sua ação essencial como fator de
colonização. A maior parte da urease sintetizada pela bactéria situa-se em seu citoplasma. A produção de
amônia depende da entrada de uréia na bactéria, que é controlada por uma proteína de membrana sensível ao
pH. Esta proteína é codificada por um gene da família urease, conhecido como ureI. Cepas do H. pylori com
deleção de ureI não sobrevivem em pH ácido. Isso demonstrara que a entrada de uréia na bactéria é
acelerada em pH 5 e diminuída em pH 7. A entrada de uréia é altamente específica, não sendo facilmente
saturada, e independe de temperatura e energia (76,79). (GOLDMAN, 2012).
Portanto o H. pylori possui um mecanismo que permite a liberação do substrato uréia sobre a urease em
condições em que é necessária a alcalinização local do meio ambiente. A proteína ureI atua como portão de
um canal, que também permite o refluxo de urease, aumentando o pH periplasmático e do microambiente
próximo, prevenindo acúmulo tóxico de uréia dentro da bactéria. A bactéria, na fase precoce de colonização,
necessita atravessar a camada de muco que protege o epitélio gástrico. Tal camada é formada por um gel
viscoelástico que confere proteção química e mecânica ao revestimento epitelial, inclusive contra bactérias.
No entanto lipases e proteases sintetizadas pelo H. pylori degradam a camada de muco, facilitando a
progressão da bactéria. Além disso, o H. pylori move-se facilmente devido à morfologia em espiral e aos
flagelos e, assim, atravessa a camada de muco, estabelecendo íntimo contato com as células epiteliais de
revestimento. Outras enzimas, sintetizadas pela bactéria, tais como superóxido dismutase, catalase e
arginase, conferem proteção contra a atividade lítica de macrófagos e neutrófilos, impedindo uma resposta
eficaz do hospedeiro. (KUMAR, 2008)
Enquanto a maioria dos indivíduos infectados pela H. pylori permanecem assintomáticos, entre 10 a 20%
vão desenvolver úlcera péptica e 1% evoluirão para o câncer gástrico (ERNST; PEURA; CROWE, 2006).
Após a infecção, a H. pylori ativa múltiplas vias intracelulares em células epiteliais, tais como MAPK, NF-
kB, ativador de proteína (AP) -1, Wnt/â-catenina, PI3K, transdutores de sinal e ativadores de transcrição 3
(STAT3), ciclooxigenase2, que afetam as funções celulares tendo como consequência a produção elevada de
citocinas inflamatórias, alteração das taxas de apoptose, proliferação e diferenciação de células epiteliais, e
mais importante, resultam na transformação oncogênica de células epiteliais.
Modelos animais têm sido utilizados para uma melhor compreensão do papel dos fatores de virulência da H.
pylori possibilitando observar os mecanismos de indução da oncogênese. Em um modelo de camundongo
transgênico, demonstrou-se que a expressão de CagA em camundongos induziram vários tumores,
hiperplasia epitelial gástrica, pólipos hiperplásicos, carcinomas gastrointestinais e doenças hematológicas
malignas, como leucemia mielóide e Linfoma de célula B. Observação importante foi a ausência de sinais de
gastrite ou inflamação sistêmica e identificação de câncer em células autônomas (OHNISHI et al., 2008).
Este estudo demonstrou que a proteína CagA isolada é capaz de induzir o câncer, sem processo inflamatório,
identificando o papel da CagA na tumorigênese como sendo uma oncoproteína. Com uma amostra de 436
pacientes brasileiros infectados com cepas cagA-positivas, Batista e colaboradores (2011) verificaram que a
infecção com cepas de H. pylori com mais de um sitio cagA EPIYA C, sítios de fosforilação, estava
claramente associada ao câncer gástrico, mas não havia associação com úlcera duodenal.
O maior número de segmentos EPIYA C também foi associado a lesões gástricas pré-cancerosas. A bactéria
H. pylori também aumenta a expressão de CXCR4 no câncer gástrico através do TNF-a. CXCR4 é o
receptor de quimosinas mais comumente super expresso em muitos tipos de cânceres, entre eles o gástrico.
O TNF-a é um dos principais mediadores químicos implicados na inflamação associada a cânceres e está
envolvido na promoção e progressão de cânceres humanos e experimentais. Os produtos da cag PAI podem
estar envolvidos nesta indução. O polimorfismo de interleucinas influencia no desenvolvimento de úlcera
péptica e câncer gástrico. Enquanto o polimorfismo das interleucinas (IL)-1B, IL1RN e TNF-A estão
claramente relacionados com o risco de desenvolvimento das doenças acima citadas, o mesmo não ocorre
com os genes IL-2 , IL-4 , IL-6 e IL-8. As citocinas são produzidas pelas células inflamatórias ativadas pela
infecção crônica pela H. pylori.
A associação da H. pylori ao linfoma MALT encontra-se bem estabelecida. A confirmada relação entre a
erradicação da H. pylori e a remissão completa ou parcial do linfoma MALT, torna a associação entre a H.
pylori e o linfoma MALT muito importante e peculiar. Esta associação levou à hipótese de que a bactéria é
responsável por um estímulo antigênico que sustenta o crescimento do linfoma MALT no estômago. O
prognóstico dos pacientes tratados com antibióticos não parece ser inferior ao tratamento com cirurgia,
radioterapia ou quimioterapia.
Com isto, hoje é aceito mundialmente que o tratamento preconizado para pacientes com linfoma MALT H.
pylori-positivos seja a terapia que associa antibióticos com inibidores de bomba de prótons. Pacientes com
linfoma MALT H. pylori negativos são encaminhados para tratamento oncológico. Pacientes com linfomas
MALT que possuem a fusão API2-MALT1 geralmente são resistentes à terapia de erradicação da H. pylori,
porém um estudo recente demonstrou que o tratamento com rituximabe (anticorpo monoclonal para CD20)
foi responsável por remissão completa em 46% e remissão parcial em 31% dos pacientes com linfoma
MALT com API2-MALT1 (SUZUKI; SAITO; HIBI, 2009). Lin e colaboradores (2010) sugerem que a H.
pylori através da translocação de sua oncoproteína cagA para dentro dos linfócitos B provocam a sua
ativação.
A oncoproteína cagA seria também diretamente responsável pela indução a formação dos linfomas MALT.
O papel da cagA foi visto na análise dos principais “fatores de virulência”. Em termos de perspectivas,
investigações com células-tronco podem esclarecer muitos dos mecanismos ainda incompreendidos
utilizados pela bactéria H. pylori que terminam por induzir a carcinogênese.
TRATAMENTO HP
INDICAÇÕES
• Úlcera gastroduodenal, ativa ou cicatrizada.
• Linfoma MALT de baixo grau.
• Pós-cirurgia para câncer gástrico avançado, em pacientes submetidos a gastrectomia parcial.
• Pós-ressecção de câncer gástrico precoce (endoscópica ou cirúrgica).
• Gastrite histológica intensa. Outras situações
• Pacientes de risco para úlcera/complicações que utilizarão AINEs.
• Pacientes com história prévia de úlcera ou hemorragia digestiva alta (HDA) que deverão usar
AINEs inibidores específicos ou não da COX-2.
• Indivíduos de risco para câncer gástrico.
• Pacientes de risco para úlcera ou complicações que deverão usar cronicamente derivados do ácido
acetil salicílico (AAS), mesmo em doses baixas.
ESQUEMAS DE TRATAMENTO
1) Inibidor de bomba protônica (IBP) em dose padrão + amoxicilina 1,0 g + claritromicina 500 mg,
duas vezes ao dia, durante 7 dias.
2) IBP em dose padrão, uma vez ao dia + claritromicina 500 mg duas vezes ao dia + furazolidona
200 mg duas vezes ao dia, durante 7 dias.
3) IBP em dose padrão, uma vez ao dia + furazolidona 200 mg três vezes ao dia + cloridrato de
tetraciclina 500 mg quatro vezes ao dia, durante 7 dias.
CONTROLE DA ERRADICAÇÃO DEVERÁ SER VERIFICADO
• Úlcera duodenal.
• Úlcera gástrica.
• Linfoma MALT de baixo grau.
CONTROLE DA ERRADICAÇÃO
• Oito semanas, no mínimo, após o final da medicação anti-H. pylori. Através do teste respiratório
com uréia marcada, quando não houver indicação para endoscopia. Na eventualidade do exame
endoscópico, através de teste da urease e histologia. Anti-secretores deverão ser suspensos 7 a 10 dias antes
do exame de controle da erradicação.
COMENTÁRIOS
Os participantes optaram por recomendar, além do regime mundialmente recomendado (inibidor de
bomba protônica, amoxicilina e claritromicina) e também já validado entre nós em adultos e, com resultados
algo inferiores, em crianças e adolescentes, dois outros regimes contendo furazolidona, medicação muito
empregada entre nós e de custo bastante accessível. A associação de furazolidona, claritromicina e IBP é
particularmente útil para pacientes com impedimento para o uso de amoxicilina, com trabalhos nacionais
evidenciando excelente índice de erradicação do microrganismo, embora curse com número algo maior de
efeitos adversos. A associação de tetraciclina, furazolidona e IBP foi incluída como forma de oferecer opção
terapêutica envolvendo antimicrobianos que hoje acham-se disponíveis para a população na rede do Sistema
Único de Saúde. Tal associação foi alvo de apenas um estudo nacional, onde atingiu aproximadamente, 70%
de erradicação com 15% dos pacientes apresentando efeitos adversos. Os participantes do Consenso
sugeriram, ainda, às entidades promotoras, a realização de estudos objetivando analisar novos esquemas
terapêuticos. Foi ainda sugerida a realização de estudos para melhor definir o papel da erradicação do
microrganismo em portadores de obesidade mórbida, candidatos à cirurgia bariátrica.
Os participantes do Consenso sugeriram, ainda, às entidades promotoras, a realização de estudos
objetivando analisar novos esquemas terapêuticos. Foi ainda sugerida a realização de estudos para melhor
definir o papel da erradicação do microrganismo em portadores de obesidade mórbida, candidatos à cirurgia
bariátrica.
RETRATAMENTO HP
Após a falência de um dos tratamentos iniciais propostos pelo Consenso, recomenda-se mais duas
tentativas de tratamento, com duração, de 10 a 14 dias, não se repetindo ou estendendo o esquema inicial.
Os esquemas a serem utilizados dependem do tratamento inicial. Se foi utilizado IBP +
amoxicilina + claritromicina ou IBP + furazolidona + claritromicina:
Primeira opção IBP em dose plena + sal de bismuto 240 mg + furazolidona 200 mg + amoxicilina 1,0
g (podendo ser substituída pela doxiciclina 100 mg), administrados duas vezes ao dia, durante 10 ou 14 dias.
Segunda opção IBP (dose plena) bid + levofloxacina 500 mg uid + amoxicilina 1,0 g bid por 10 dias,
ou IBP em dose plena + levofloxacina 500mg + furazolidona 400 mg, administrados em dose única diária,
durante 10 dias
Se o esquema inicial foi IBP + furazolidona + tetraciclina:
Primeira opção IBP em dose plena + amoxicilina 1,0 g + claritromicina 500 mg, administrados duas
vezes ao dia, durante 7 dias.
Segunda opção IBP em dose plena + sal de bismuto 240 mg + furazolidona 200 mg + amoxicilina 1,0
g (podendo ser substituída pela doxiciclina 100 mg), administrados duas vezes ao dia, durante 10 ou 14 dias.
COMENTÁRIOS
Embora a maior parte dos estudos terapêuticos para HP empregando sais de bismuto recomendem
seu uso 3 ou 4 vezes ao dia, o Consenso, baseado em observações recentes, optou por regimes utilizando-o
apenas 2 vezes ao dia, de forma a simplificar o esquema terapêutico e aumentar a aderência ao tratamento.
Baseado em vários estudos internacionais e mesmo na ausência de estudos nacionais, o Consenso
recomenda o emprego da associação de levofloxacina, amoxicilina e IBP como terapêutica de retratamento
de segunda opção. A recomendação do emprego da associação de levofloxacina, furazolidona e IBP em dose
única diária baseou-se em estudo piloto nacional com excelentes resultados iniciais. O Consenso
recomendou também, a realização de estudo multicêntrico nacional para validação nacional dos esquemas
aqui sugeridos.
HP e DRGE
A pesquisa de HP não é, rotineiramente, recomendada na DRGE. HP não é causa de DRGE, nem
influencia a sua evolução. A indicação de erradicação da bactéria não depende da DRGE, mas basicamente
de condições de risco para o câncer de estômago. O uso crônico de IBP não implica na erradicação da
bactéria.
Comentários
O Consenso recomendou aos promotores da reunião a realização de estudos multicêntricos nacionais
para estudar os efeitos da erradicação do HP em portadores de DRGE. O Consenso, reconhecendo a
complexidade do tema, recomendou ainda a elaboração de documento com revisão da literatura que
contemple as interfaces possíveis entre variáveis de morbidade do H. pylori e aquelas relacionadas à
fisiopatologia da DRGE, a funcionar como balizador e estimulador para futuras investigações pelos
especialistas nacionais.
HP e AINEs
Todos os pacientes com queixas dispépticas devem ser inquiridos quanto ao uso de AINEs. HP e
AINEs/AAS são considerados fatores de risco independentes para o desenvolvimento de lesões
gastroduodenais que, quando associados, exibem sinergismo, ampliando significativamente a probabilidade
de ocorrência das mesmas, principalmente naqueles pacientes considerados de risco para o desenvolvimento
de lesões do trato digestivo superior. Foram considerados pacientes de risco: pacientes com história prévia
de úlcera péptica (complicada ou não); pacientes em uso de AINEs associado a derivados salicílicos;
pacientes em uso de AINEs associado a anticoagulantes ou corticosteróides e pacientes acima de 60 anos.
Pesquisa e, consequentemente, tratamento está indicado: Pacientes que vão iniciar tratamento
contínuo com AINEs não seletivo. Pacientes considerados de risco para o desenvolvimento de lesões do
trato digestivo superior, independentemente da fase ou período de tratamento, do tipo, dose ou indicação
terapêutica para utilização de AINEs e/ou AAS. Pacientes de risco para o desenvolvimento de lesões do
trato digestivo, a erradicação HP diminui, mas não impede o risco de úlcera e/ou complicações. O Consenso
recomenda, nesta situação, a utilização profilática de IBP.
Comentários Não foi alcançado consenso quanto à necessidade erradicação do microrganismo em
pacientes já em uso contínuo de AINEs e sem manifestações clínicas (48% a favor, 52% contra). O
Consenso recomenda a realização de estudo prospectivo, multicêntrico, nacional, para avaliar o papel da
infecção por HP em usuários crônicos de AAS como anti-agregante plaquetário.
05. Caracterizar a doença ulcerosa do tubo digestivo, sua fisiopatolgogia e os quadros clínicos mais
comuns.
A úlcera no estômago é formada quando ocorrem alterações dos mecanismos de defesa que protegem
as paredes do estômago ou do duodeno contra o ácido gástrico presente ali, e em geral esta é uma
complicação ou agravamento de uma gastrite previamente existente. (KUMAR, 2008)
Os ácidos estomacais, especialmente o clorídrico, são muito fortes. Num estômago normal e
saudável, sua ação restringe-se somente aos alimentos, mas, em determinadas situações, eles podem atacar o
revestimento do trato digestivo e provocar o aparecimento de uma úlcera que destrói a parede estomacal e
do duodeno. (KUMAR, 2008)
Fisiopatologia
Para que ocorra a digestão dos alimentos, o estômago precisa produzir ácido clorídrico e outras
substâncias que são responsáveis por iniciar o processo. Com isso, o conteúdo desse órgão fica bastante
ácido, o que poderia levar a lesão de suas paredes caso o organismo não tivesse desenvolvido mecanismos
de proteção. (KUMAR, 2008)
As células do estômago produzem muco, uma espécie de substância gelatinosa, que recobre sua
parede e é um dos principais mecanismos protetores. Outros fatores protetores são a secreção de bicarbonato
(que neutraliza o ácido) e a descamação constante da mucosa gástrica. Todos esses mecanismos protetores
são controlados pela produção de algumas substâncias chamadas genericamente de prostaglandinas. Isso é
importante, porque determinados medicamentos anti-inflamatórios inibem a produção das prostaglandinas,
comprometendo os fatores protetores do estômago e do duodeno. Por isso que sentimos dor de estômago
quando tomamos alguns desses medicamentos. (KUMAR, 2008)
Durante muito tempo se acreditou que a úlcera péptica resultava da ação do ácido nas paredes do
estômago e do duodeno, corroendo as mesmas e formando as feridas. Porém, hoje sabemos que a doença
surge quando há um desequilíbrio entre os fatores agressores e protetores da mucosa gástrica/duodenal. O
ácido gástrico passou a ser um co-ator na gênese dessa doença. (KUMAR, 2008)
Na ausência do uso de anti-inflamatórios (especialmente os chamados "não-esteroidais") e de
tumores que estimulam a produção de ácido, quase todas as úlceras de estômago e duodeno estão
relacionadas à infecção por uma bactéria: o Helicobacter pylori. Essa infecção é extremamente comum,
podendo acometer até 95% da população; a bactéria habita o estômago e é responsável pelo desequilíbrio
que leva à formação das úlceras. Os fatores que atuam em conjunto com essa bactéria, na lesão da mucosa,
são o uso de anti-inflamatórios e o tabagismo. (KUMAR, 2008)
Não existe comprovação científica de que os alimentos (café, refrigerantes, leite, álcool e
condimentos) favoreçam o desenvolvimento de úlcera péptica. Da mesma forma, as pessoas em geral
acreditam que exista um fator psicológico envolvido nessa doença, mas isso também não foi confirmado.
(KUMAR, 2008)
As causas mais comuns do desenvolvimento de uma úlcera gástrica são: (KUMAR, 2008)
Medicamentos: Aspirina, Ibuprofeno e outros anti-inflamatórios causam erosões e úlceras
gástricas especialmente em idosos. Elas tendem a cicatrizar quando a toma dos medicamentos é
interrompida.
Bactéria H. Pylori: Presente no estômago da grande maioria das pessoas que desenvolvem a
úlcera péptica, ela pode interferir nas defesas normais contra o ácido gástrico e produzir uma toxina que
contribui para a formação das úlceras.
Estresse: Aumenta a secreção de ácido clorídrico no estômago e isto pode gerar uma úlcera.
Alteração genética: Indivíduos que possuem casos de gastrite e úlcera na família são mais
propensos a desenvolver esta doença.
Má alimentação: Comidas processadas e muito gordurosas, refrigerante, alimentos ácidos ou
picantes demoram mais tempo para serem digeridos e podem favorecer a formação da úlcera.
Excesso de bebidas alcoólicas: Quando o álcool chega ao estômago altera o pH da região e
faz o organismo produzir mais ácido clorídrico, que contribui para a formação da úlcera.
Fumo: Estudos sugerem que o cigarro aumenta a produção de ácido clorídrico no estômago,
favorecendo a úlcera.
Manifestações Clínicas
O sintoma mais comum é a dor, geralmente em queimação, não muito intensa, localizada na região
do estômago ("boca do estômago"). Os pacientes comumente relatam-na como ‘dor de fome’. A dor dura
semanas e apresenta uma ritmicidade, que não é exclusiva de cada tipo de úlcera: (KUMAR, 2008)
Dor que começa 2-3 horas após a alimentação, e à noite (podendo acordar o paciente de madrugada),
que melhora com o uso de antiácidos e com a ingestão de alimentos. Esse tipo de dor está mais associado à
úlcera de duodeno. Dor que piora ou é desencadeada quando o paciente se alimenta. Esse tipo é mais comum
na úlcera de estômago.
Uma outra característica importante é a presença de períodos de melhora e outros de piora da dor.
Outros sintomas que podem surgir são: náuseas, vômitos, eructação ("arrotos"), flatulência (eliminação de
gases), entre outros.
É importante ressaltar que alguns pacientes são completamente assintomáticos, tendo como primeira
manifestação uma das complicações da doença.
A) Sensação de dor e/ou queimação na área entre o esterno e o umbigo que se manifesta
especialmente com o estômago vazio, pois a ausência de alimentos para digerir permite que os ácidos irritem
a ferida;
B) Dor que desperta o paciente à noite e tende a desaparecer com a ingestão de alimentos ou
antiácidos;
C) Dor característica da úlcera do duodeno que desaparece com a alimentação reaparecendo
depois (ritmo dói-come-passa-dói-come-passa-dói);
D) Vômitos com sinais de sangue;
E) Fezes escurecidas ou avermelhadas que indicam a presença de sangue.
Diagnóstico
O médico, diante de um quadro sugestivo de úlcera péptica, pode ou não solicitar exames
complementares. Inicialmente ele pode apenas pedir um exame para avaliar se existe infecção pelo H.
pylori. Caso exista, outros exames não são necessários na maioria dos casos e o tratamento pode ser
iniciado. Porém, em alguns casos selecionados ou quando o tratamento não é eficaz, outros exames são
realizados. (KUMAR, 2008)
O principal exame é a endoscopia digestiva alta (EDA). Esse exame permite que o médico visualize
a úlcera, fechando o diagnóstico, e também que se faça a coleta de material de biopsia para análise. Outro
exame que pode ser realizado é a radiografia contrastada do tudo digestivo. (KUMAR, 2008)
A biopsia é importante, principalmente nos casos de úlcera gástrica, pois pode haver associação com
câncer. As úlceras duodenais, que são as mais comuns, raramente estão associadas a câncer. (KUMAR,
2008)
06. Citar as principais causas envolvidas com o abdome agudo perfurativo não traumático.
Dentre as urgências abdominais não traumáticas, o Abdome Agudo Perfurativo é uma das síndromes
mais frequentes. É a terceira causa de abdome agudo, depois do inflamatório e do obstrutivo. Sua etiologia é
variada e podem ser decorrentes de processos inflamatórios (úlcera péptica e diverticulite), neoplásicos,
infecciosos, ingestão de corpo estranho, traumatismos e iatrogênicas. A mortalidade pode chegar a 10%.
(UFMS, 2015)
Uma das principais características desta urgência médica é a dor de início súbito, intensa e difusa em
todo abdome, levando o paciente a procurar rapidamente os serviços de urgência/emergência.
Frequentemente a dor vem acompanhada de choque e sinais de septicemia (MENEGHELLI, 2003;
RASSLAN e MORICZ, 2007). O quadro abaixo mostra as principais causas de abdome perfurativo não
traumático.
Quadrante Superior Direito: hepatite aguda, pancreatite aguda, colangite, colecistite aguda,
colelitíase, úlcera duodenal, abscesso hepático, hepatopatia com ICC, herpes zoster, IAM, pericardite,
apendicite retrocecal e pneumonia (COOK, 2005).
Quadrante Superior Esquerdo: pancreatite aguda, úlcera duodenal, úlcera gástrica, IAM, pericardite,
pneumonia, abscesso esplênico, infarto esplênico e ruptura esplênico (COOK, 2005).
Quadrante Inferior Direito: apendicite aguda, obstrução intestinal, diverticulite, gravidez ectópica,
endometriose, hérnia, doença intestinal inflamatória, síndrome do cólon irritável, litíase renal, adenite
mesentérica, diverticulite de Merckel, torsão de ovário, doença inflamatória pélvica, abscesso tubo-ovariano
e abscesso de psoas (COOK, 2005).
Quadrante Inferior Esquerdo: obstrução intestinal, diverticulite, gravidez ectópica, endometriose,
hérnia, adenite mesentérica, litíase renal, doença intestinal inflamatória, torsão de ovário, doença
inflamatória pélvica, abscesso tubo-ovariano e abscesso de psoas (COOK, 2005).
Difusa: pancreatite aguda, obstrução intestinal, dissecção da aorta, apendicite aguda, infarto
mesentérico, ruptura de aneurisma da aorta abdominal, crise falcêmica (COOK, 2005).
08. Discutir a ação farmacológica dos antiácidos (bicarbonato, hidróxidos de magnésio e alumínio) e
dos bloqueadores da produção de secreção gástrica (ranitidina/omeprazol e semelhantes).
A vagotomia total é um objetivo do tratamento da úlcera e consiste na inibição da secreção ácida que
realizada através do corte do nervo vago que diminui o ácido gástrico pela diminuição da estimulação
colinérgica das células parietais tornando-as menos responsáveis pela gastrina. Esse procedimento acarreta
mortalidade muito baixa e diminui a morbidade associada à ressecção.
A vagotomia total pode ser dividida em três partes:
A troncular consiste na denervação vagal da porção distal do esôfago e proximal do estomago.
A cirurgia das células parietais, que é a denervação somente da porção superior do estomago, mantendo a
região do antro intacta. (Não provoca: diarreia, gastroparesia, colelitíase ou dumping, que podem ocorrer
na vagotomia troncular).
A vagotomia seletiva é uma técnica de cirurgia para região gástrica em que corta parte da inervação
do estômago.
A vagotomia superseletiva videolaparoscópica é um procedimento para doença ulcerosa péptica.
Nela são seccionados por técnica minimamente invasiva apenas os nervos responsáveis pela secreção ácida
do estômago. Desta forma a motilidade e esvaziamento do órgão não são comprometidos, tendo como
resultado cirúrgico apenas a diminuição do ácido intra-gástrico.
Já a antrectomia consiste na extirpação do antro mastoideo e na excisão cirúrgica do antro (metade
distal) do estômago no tratamento da úlcera péptica, ou seja, se define em remover a porção antral do
estômago e uma pequena porção do duedeno e piloro. Ela ainda se divide em 2 tipos:
Billroth I - O segmento restante é anastomosado ao duodeno.
Billroth II - O segmento restante é anastomosado ao jejuno.
10. Discutir as complicações de tratamento clínico das úlceras (estenose e distúrbio de esvaziamento)
O omeprazol é um dos fármacos mais utilizados da classe dos IBPs e seu uso prolongado já foi
ligado ao desenvolvimento de uma hipersensibilidade ao fármaco, gerando uma doença rara nos rins
conhecida como nefrite intersticial. Essa ação conduz a uma inflamação dos túbulos renais, criando
alterações que vão desde disfunção moderada até falta renal aguda. Seus indícios prévios são: perda de peso,
erupção cutânea, náuseas, febre e mal-estar (SAVAGE, 2000).
Estudos recentes têm analisado a relação entre o uso crônicos dos IBP com alterações proliferativas
gástricas. Ainda há muitas controvérsias sobre esta relação, sendo que o tempo de tratamento com estas
drogas para provocar alterações proliferativas gástricas ainda não foi determinado por ser bastante variável
na literatura (MENEGASSI et al., 2010). A infecção pelo Helicobacter pylori juntamente com a utilização
de IBP pode causar progressão ou aceleração da gastrite crônica do antro gástrico para uma gastrite crônica
predominante no corpo gástrico, e esta mudança pode ser um fator de risco para o câncer gástrico
(UEMURA et al., 2000 apud THOMSON, 2010). Entretanto, pelos estudos de THOMSON et al. (2010), a
utilização a longo prazo de IBP não está comprovada ser a causadora ou aceleradora da progressão de
gastrites crônicas pré-existentes, atrofia de corpo gástrico ou metaplasia intestinal. O risco de câncer gástrico
com a terapia a longo prazo com IBP são largamente relacionados com a interação destas drogas com o
Helicobacter pylori. Em pacientes infectados por H. pylori, os IBP induzem gastrite e progressão para
gastrite atrófica, porém não há provas que isto pode aumentar a incidência de câncer gástrico (SOHAILY;
DUGGAN, 2008).
Os IBP diminuem a absorção de vitamina B12 ao reduzirem a acidez gástrica. Esta ação se deve a
uma alteração no ciclo do pepsinogênio, o qual necessita de certa acidez gástrica para ser transformado em
pepsina retirando, assim, a vitamina B12 contida nos alimentos ingeridos por pacientes idosos que já
possuem atrofia gástrica, possivelmente por infecção de H. pylori, o uso crônico de IBP pode reduzir a
concentração sérica de vitamina B12 (THOMSON et al., 2010). Outra reação complicada vinculada ao uso
prolongando e regular (neste caso um ano ou mais) dos IBPs é a redução nos níveis de magnésio no fluxo
sanguíneo (hipomagnesia), podendo provocar expansão da ocorrência de espasmos (contração involuntária
do músculo) nas pernas, arritmias cardíacas, convulsões e mudanças de entusiasmo. Pacientes que fazem uso
de outros fármacos que enfraquecem a concentração do magnésio plasmático, como os diuréticos e a
digoxina, têm grandes riscos de distinguirem hipomagnesia ao utilizarem IBPs. A absorção duodenal de
ferro orgânico e não orgânico também pode ser afeta do com o tratamento crônico destes medicamentos
(SHARMA et al., 2004 apud THOMSON, 2010). Entretanto, este efeito é pequeno, não estando associados
com um aumento no risco de deficiência de ferro.
Além disso, Os osteoclastos são células que participam do processo de absorção e remodelação do
tecido ósseo. Assim como a mucosa gástrica, possuem bombas de prótons os quais são utilizados para a
excreção de íons H+, produzindo um meio ácido, auxiliando na descalcificação da matriz óssea. Os IBP, ao
inibirem a bomba de prótons da mucosa gástrica também inibem a bomba de prótons dos osteoclastos,
interferindo no metabolismo ósseo podendo ocasionar riscos de fraturas.
De acordo com THOMSON et al. (2010), a utilização de IBP é associada com um aumento de risco
de osteoporose, osteopenia e fraturas ósseas, podendo este aumento depender da duração de tratamento e da
dose utilizada. Nos estudos de HO et al. (2009) descobriram que a chance de uma pessoa ter uma fratura de
bacia era de 44% maior se fazia uso de um IBP por mais de um ano. Com base nos dados disponíveis, o
FDA recomenda que os profissionais considerem a possibilidade de prescrever doses baixas e/ou
tratamentos de curta duração com os IBP. Os pacientes devem ser orientados a não suspender o tratamento,
a menos que sejam orientados desta forma pelo médico.
Os leucócitos são encaminhados ao sítio de infecção por um processo bem regulado e de várias
etapas, governados por expressão de moléculas adesivas na superfície do endotélio e dos leucócitos. Estudos
têm demonstrado que os IBP causam uma diminuição na expressão das moléculas de adesão intercelulares
1e nas moléculas de adesão de células vasculares 1 que aparecem no endotélio e nas integrinas b2 da
superfície das células brancas, resultando em decaimento da adesividade em resposta à ativação das células
endoteliais.
12. Discutir as consequências da automedicação, do abandono ao tratamento e riscos envolvidos na
visita tardia ao médico.
No Brasil, dados recentes revelam que cerca de 76,4% da população pratica cotidianamente a
automedicação, principalmente a partir de indicação de familiares e amigos, mas também a partir de
informações encontradas na internet e em anúncios publicitários. Uma das primeiras consequências dessa
taxa elevada é o fato de que, no Brasil, a farmácia é vista como uma loja e não como um estabelecimento de
promoção à saúde. Prova disso é a proporção de uma farmácia para cada 3 mil habitantes em nosso país,
enquanto que a taxa recomendada pela OMS é de uma farmácia para cada 8 mil habitantes. Dessa forma, o
medicamento torna-se mercadoria comum, o que estimula a cultura da automedicação. (UFRGS, 2018)
Um dos perigos da automedicação é a prática comum de aumentar a dose do fármaco por conta
própria, ou misturar diversos medicamentos com a intenção de aumentar seus efeitos. É a partir de hábitos
como esses que surgem os problemas mais conhecidos e notórios da automedicação. (UFRGS, 2018)
Em países como o Brasil, em que a população se encontra em níveis sociais e educacionais muito
distantes, a prática da automedicação pode ser perigosa, já que faltam conhecimentos sobre as indicações de
uso, o armazenamento e a forma correta de utilizar os medicamentos. Tais informações podem ser
fornecidas pelo profissional farmacêutico que, de acordo com a legislação, deve sempre estar presente.
(UFRGS, 2018)
Seguem abaixo algumas das possíveis consequências da automedicação:
– O uso de doses inadequadas pode resultar tanto em ineficácia quanto em overdose de fármacos,
essa última representando grave risco à saúde; (UFRGS, 2018)
– Muitas vezes a automedicação pode mascarar sintomas de condições mais sérias que necessitam do
diagnóstico correto para serem tratadas adequadamente; (UFRGS, 2018)
– O uso concomitante de mais de um fármaco pode resultar em interações medicamentosas e,
portanto, deve sempre ser orientado por um profissional capacitado; (UFRGS, 2018)
– O uso indiscriminado de antibióticos pode acarretar no desenvolvimento de resistência por parte
dos patógenos, o que aumenta o risco de ineficácia do tratamento em infecções futuras. (UFRGS, 2018)
Nesse sentido, é de fundamental importância que os órgãos governamentais de saúde pública, os
profissionais de saúde e estabelecimentos farmacêuticos se unam no sentido de educar e informar a
população sobre quando é seguro ou não se automedicar. (UFRGS, 2018)
E existe, ainda, um último tópico a ser discutido: o papel da publicidade. A publicidade tem um
grande impacto para a indústria farmacêutica, que investe muito em anúncios na televisão, revistas e jornais.
Porém, diferentemente de uma roupa ou de um brinquedo, o produto deste anunciante tem impacto direto
sobre a saúde das pessoas e, mais do que isso, sobre o que as pessoas sabem e pensam sobre medicamentos.
Já ficam, assim, evidentes os conflitos éticos dessa prática. (UFRGS, 2018)
Somado a isso, alguns pacientes abandonam o tratamento quando apresentam melhora em seu quadro
clinico, no entanto quando fazem isso sem a orientação médica podem se prejudicar, pois essa melhora
imediata não significa melhora definitiva de sua alteração, nesse sentido acabam colocando novamente sua
saúde em risco, pois como o quadro não foi totalmente revertido, mas apenas controlado, ao parar o
tratamento os sintomas podem voltar com a mesma ou maior intensidade que antes.
Tão importante quanto à aderência ao tratamento é a busca por atendimento médico assim que os
sintomas tiverem início, pois a avaliação médica adequada conseguirá diagnosticar o problema e trata-la de
forma assertiva desde o início. Quando o tratamento é feito de forma correta evitamos que o problema se
agrave e junto com isso as condições clinicas e a qualidade de vida do paciente também. Sabe-se que
quadros iniciais são mais facilmente resolvidos se comparados com quadros tardios, pois com a evolução da
doença outros órgãos e sistemas podem ser atingidos e por tanto, dificultam seu tratamento e controle.