Lélia Gonzalez e A Articulação de Gênero, Raça e Classe
Lélia Gonzalez e A Articulação de Gênero, Raça e Classe
Lélia Gonzalez e A Articulação de Gênero, Raça e Classe
Renata Gonçalves1
Resumo
Nesta comunicação, apresentarei uma das maiores intelectuais que o Brasil já
teve Lélia Gonzalez, mulher, feminista, negra. Em 2018, a União dos Coletivos
Pan-Africanistas (UCPA), reuniu cuidadosamente a maioria dos textos da
autora no livro Lélia Gonzalez: primavera para as rosas negras e, finalmente, o
grande público brasileiro, em especial feministas e ativistas do movimento
negro, começa a ter contato com a autora, que recupera termos “embolados”
da psicanálise freudiana e lacaniana, do diálogo com Althusser, das críticas ao
pensamento social (racista) brasileiro e dos embates com o movimento
feminista, com reivindicações que escamoteiam a dominação e a exploração
presentes na relação entre mulheres brancas e negras no Brasil.
Palavras-chave: Lélia Gonzalez; feminismo negro; racismo; sexismo.
with the feminist movement, with claims that conceal domination and
exploitation present in the relationship between white and black women in
Brazil.
Keywords: Lélia Gonzalez; black feminism; racism; sexism.
Introdução
A trajetória intelectual e política de Lélia Gonzalez nos permite
conhecer um pouco mais da própria condição das mulheres
intelectuais negras no Brasil, pois é impossível separar a vida pessoal
da militância acadêmica e política da intelectual negra. Lélia, assim
como a maior parte das mulheres negras brasileiras, passou por um
processo violento de busca pela brancura, negando a si mesma.
Somente após um episódio traumático em sua vida amorosa, a
antropóloga se voltou para sua ancestralidade africana. Em referência
oposta à violência do racismo no processo de construção do ser negro,
como apontado no livro Tornar-se negro, de Neusa Santos Souza (1983),
Lélia fez o caminho de volta às origens até definitivamente enegrecer.
Quem foi Lélia Gonzalez? Questão que, infelizmente, precisa
ser feita com frequência, pois como observou Sueli Carneiro, embora o
movimento negro tenha produzido grandes intelectuais, a academia
convencional nunca reconheceu suas contribuições ao pensamento
social brasileiro. Lélia, apesar de sua farta produção teórica,
permanecia uma desconhecida no ambiente letrado da intelligensia
brasileira.
No coração de suas inquietações teóricas e práticas, está o
racismo que, ao lado do sexismo, é considerado uma verdadeira
neurose da cultura brasileira. Ao questionar os alicerces do
pensamento social brasileiro, principalmente o mito da democracia
racial, Lélia nos presenteia com formulações teóricas como o
“pretuguês” e o “amefricanismo” etc., que fazem dela a pioneira de
um pensamento interseccional no Brasil, demonstrando que a
articulação de gênero, de raça e de classe produz efeitos violentos, em
particular, sobre as mulheres negras.
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DOI: 10.5433/SGPP.2020v6p108
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Referências
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narrativas de libertação em Ângela Davis e Lélia Gonzalez.
Dissertação (Mestrado em História). Pontifícia Universidade Católica
do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2005.
CARNEIRO, Sueli. Mulheres em movimento. Estudos Avançados, n. 17
(49), São Paulo, 2003.
CARNEIRO, Sueli; SANTOS, Thereza. Mulher Negra. São Paulo: Nobel,
1985.
DAVIS, Angela. Mulheres, Raça e Classe. São Paulo: Boitempo, 2016.
FREYRE, Gilberto. Casa-grande & senzala. São Paulo: Global, 1994.
GONÇALVES, Renata. Lélia Gonzalez: primavera para as rosas negras'
(resenha). Plural (USP), v. 26, n. 1, 2019.
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