Coaching e Carreira
Coaching e Carreira
Coaching e Carreira
CARREIRA
Conceituar coaching.
Reconhecer os antecedentes históricos do coaching, da Idade Média
à contemporaneidade, e a evolução da sua base teórica.
Identificar as características fundamentais de um coach.
Introdução
O coaching, como prática de assessoramento, vem sendo difundido de
maneira exponencial em alguns países, incluindo o Brasil. Apesar de esse
termo ter alcançado bastante popularidade, inclusive tendo sido men-
cionado em uma novela de horário nobre no Brasil, muitas pessoas não
entendem o que é o coaching. A confusão sobre o termo se dá também
pela ausência de diretrizes, regulamentações e legislações claras, que
determinem como essa atividade vai se configurar, quais são os seus
pressupostos fundamentais e quem pode exercê-la.
Dessa forma, no processo de configuração conceitual do coaching,
alguns autores fazem reflexões sobre o seu formato enquanto metodo-
logia e sobre os elementos indispensáveis à prática. Algumas organiza-
ções que oferecem formações em coaching também participam desse
processo de conceituação. As características fundamentais de um coach
se desenvolvem na busca pelas melhores práticas e pela postura mais
adequada no exercício dessa atividade.
Neste capítulo, você vai estudar os fundamentos da conceituação de
coaching, verificando a origem do termo e seus antecedentes históricos
e teóricos. Você também vai identificar as características fundamentais
do profissional coach, possibilitando o melhor entendimento sobre a
prática do coaching.
2 Introdução ao coaching
Conceito de coaching
O coaching é uma metodologia que pode ser conceitualizada de diferentes ma-
neiras, conforme a abordagem que se dá. Entretanto, alguns elementos serão
recorrentes e fundamentais nesse processo de conceituação. Pode-se compreender
que coaching diz respeito a uma forma de estabelecer relações de potenciali-
zação, por meio das quais o coach — profissional que vai conduzir as sessões
— estimula o coachee — pessoa que contratou o serviço — a realizar profundas
reflexões, por meio das quais serão definidos objetivos, bem como as estratégias
para alcançá-los. O coaching se relaciona a um estilo de vida por meio do qual
se buscam caminhos novos ou renovados, que levem ao alcance de objetivos;
nesse processo, também se busca alcançar o autoconhecimento, conforme
leciona Whitmore (2012).
Conceituar coaching não consiste em apresentar uma sentença ou frase
pronta, fechada e inquestionável. Essa conceituação deve ter como premissa a
compreensão dos fundamentos e das particularidades da prática de coaching,
que a diferenciarão de práticas como mentoring, aconselhamento, consultoria,
entre outras.
Timothy Gallwey, um famoso treinador de golfe, foi um dos pioneiros na
adoção de técnicas diferenciadas de instrução, potencializando a consciência
e a responsabilidade de seus treinados por meio do “jogo interno”. As técnicas
incorporadas por Gallwey serviram de inspiração para que Whitmore (2012),
referência na teorização do coaching, pudesse desenvolver aspectos dessa prática
associados ao ambiente organizacional, levando em consideração elementos
significativos, como a representatividade do “significado” e do “propósito”.
Para além de um serviço, o coaching diz respeito a um estilo de vida adotado
pelo coach, que permite que ele estimule no coachee a adoção de um estilo de
vida que proporciona empoderamento. Esse empoderamento se dá por meio do
exercício de questionamentos efetivos e da identificação de informações potentes
e úteis, que levem ao alcance de objetivos.
No sentido de ilustrar como ocorre essa relação de estímulo do coach para
o coachee, podemos pensar em um objetivo declarado pelo coachee em uma
primeira sessão — por exemplo, “emagrecer”. Ao relatar esse objetivo, o coachee
será estimulado pelo coach a refletir sobre o motivo dessa demanda, como ela
se configurou ao longo do tempo, por que isso é importante, se existiram outros
momentos nos quais o coachee buscou atender a esse objetivo, por que não foi
possível, quais são as metas de perda de peso em volume e tempo e como se
pode começar a buscar isso ao longo da primeira semana após a sessão, por
exemplo. Questiona-se quais são as questões fundamentais que potencializam
Introdução ao coaching 3
Autor Definição
Antecedentes do coaching
Há diversas hipóteses sobre a origem do termo coaching. Uma dessas hipó-
teses associa o termo coach à palavra carruagem, veículo que passou a ser
utilizado na Europa por volta do século XV. Em português, emprega-se o
termo cocheiro para designar a pessoa que conduz ou guia a carruagem. Uma
segunda hipótese relaciona o termo coach ao esporte, já que esse termo, em
inglês, também significa técnico ou treinador, isto é, aquele que vai conduzir
os seus treinados ao alcance de um objetivo.
No processo de compreensão da origem do termo, pode-se entender o coa-
ching como uma metodologia por meio da qual o coach vai orientar o coachee,
utilizando diferentes técnicas, conforme lecionam Whitmore (2012) e Silva et
al. (2018). Partindo dessa associação com o treinamento, nos esportes, para
se chegar à noção contemporânea de facilitação, no ambiente organizacional,
o coaching passou por um processo de configuração. A prática manteve a
ideia original de direcionamento, mas passou a destacar, de maneira mais
assertiva, um estímulo ao desenvolvimento pessoal do indivíduo, por meio
da promoção da reflexividade do coachee.
A noção contemporânea de coaching não possui uma definição clara, con-
forme destacado anteriormente. Isso porque, atualmente, há uma proliferação
de formações em coaching e um aumento contínuo no número de pessoas que
se declaram profissionais dessa área. Muitos indivíduos oferecem classificações
diversas e autorais do que vem a ser a atividade de coaching, promovendo-as
por meio de canais na internet. Em meio a essa diversidade de informações,
muitas vezes errôneas, os acadêmicos buscam melhor compreender a temática
e filtrar as informações propagadas nos diversos meios.
Além das dificuldades em definir as origens e conceituar de forma objetiva
a prática de coaching, há ainda a indefinição quanto às práticas, às habilidades,
Introdução ao coaching 7
(Continua)
8 Introdução ao coaching
(Continuação)
Para saber mais sobre como vem sendo construída a noção de coaching, ao buscar
o termo definições de coaching na internet, é possível ter uma noção de como as
empresas que oferecem formações buscam classificar essa atividade. Se for acrescentada
Introdução ao coaching 9
Ter paciência e ser um bom ouvinte são atributos que permitirão ao coach
ter a capacidade de acalmar o coachee, especialmente em momentos em que
surge a pressa para atingir algum objetivo. Nessas horas, o coachee deve
estar consciente e sereno quanto às etapas, às ações e ao tempo necessário. Na
manifestação de suas urgências, o coachee necessitará que o coach seja capaz
de ouvi-lo e de potencializar a sua fala ao interagir, e não apenas silenciar ou
concordar de maneira monossilábica com os seus relatos.
Os interesses do coachee devem ser respeitados pelo coach, e suas infor-
mações devem ser norteadoras das sessões e das decisões que venham a ser
tomadas em conjunto. O coach deve evocar no coachee criatividade e inovação,
para este pensar sobre as questões apresentadas. O respeito à diversidade é
também uma característica fundamental do coach, além da flexibilidade e da
capacidade de evitar ser assertivo e diretivo em suas orientações ao coachee.
O coach não precisa ser obrigatoriamente alguém da área em que o coachee
necessita de auxílio, mas deve ter uma noção geral, baseada na dedicação
e no estudo de variadas fontes, buscando compreender como se configura
o contexto da atuação do coachee, conforme sugere Whitmore (2012). Se
a orientação desejada é relacionada ao universo esportivo, por exemplo, é
fundamental que o coach busque informações para melhor compreender o
esporte praticado pelo coachee. Se a orientação é sobre uma carreira de alto
executivo em uma multinacional, por exemplo, o coach deverá se situar sobre
a configuração desse universo.
O coach deve atuar como um elevador de consciência do coachee, con-
forme leciona Whitmore (2012). Por isso, ele não precisa ter formação na área
atendida, mas necessitará de um conhecimento, adquirido em formação, a
respeito de como conduzir essa elevação de consciência. Se o coach não acredita
plenamente naquilo que defende, o coaching não deverá ser a sua atividade
profissional. É claro que ter uma formação na área a que o coachee deseja se
dedicar não é um fator prejudicial ao coach; tal formação poderá ajudar ou
prejudicar, dependendo da forma como esse conhecimento for abordado pelo
coach em sua relação com o coachee. O importante, acima de tudo, é que o
protagonismo e a responsabilidade do coachee sejam potencializados.
Nesse sentido, Batista e Cançado (2017), ao realizarem uma pesquisa
sobre as competências do coach, a partir da percepção de coaches no Brasil,
destacaram 14 competências fundamentais a esses profissionais, relacionadas
a conhecimentos (C), habilidades (H) e atitudes (A), conforme apresentado
no Quadro 3.
Introdução ao coaching 11
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O coach não deve ser uma pessoa convicta de que sabe tudo e que o seu
papel é apenas de ensinamento. Ao contrário, no processo de assessoramento, o
coach, sendo sensível à troca, vai crescer em conjunto com o coachee e apren-
der com essa interação. Sinalizar que estão ambos em construção e evolução
nesse processo é fundamental ao estabelecimento da confiança necessária.
No processo de conhecimento do coachee, o coach deve perceber até onde
a sua expertise pode contribuir para potencializar habilidades e reconhecer
que aquele que tem as informações fundamentais, que serão usadas para traçar
uma estratégia, é o coachee, e não ele próprio. O coach deve se perceber como
um facilitador e estimulador da autoconsciência do coachee.
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Leituras recomendadas
COSTA, E. S.; BRUM, V. Coaching e mentoring no processo de gestão de carreira: um
estudo sobre a ferramenta GROW e a sua aplicabilidade no contexto empresarial.
Revista da Carreiras e Pessoas, Porto Alegre, v. 9, n. 1, p. 46-62, jan./abr. 2019. Disponível
em: http://revistas.pucsp.br/ReCaPe/article/view/37233. Acesso em: 24 jun. 2019.
PIMENTA, F. F. A transformação através do processo de coaching. In: SPINK, M. J. P.;
FIGUEIREDO, P.; BRASILINO, J. (org.). Psicologia social e pessoalidade. Rio de Janeiro:
Centro Edelstein de Pesquisas Sociais; ABRAPSO, 2011.